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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Estrutura Interna E Composição Da Terra

Bernardete da Conceição Manuel Didana - 708241753

Curso: Ensino Geografia


Disciplina: Geologia Geral
Docente:
Ano de Frequência: 1o ano

Quelimane
Maio
2024
Índice
1. Introdução .............................................................................................................................. 4
1.1. Objectivos ........................................................................................................................... 4
1.1.1. Geral ................................................................................................................................ 4
1.1.2. Específicos ....................................................................................................................... 4
1.2. Metodologia ........................................................................................................................ 4
2. Fundamentação Teórica ........................................................................................................ 5
2.1. Estrutura interna e Composição da Terra ....................................................................... 5
2.2. Meteorítica .......................................................................................................................... 6
2.2.1. Classificação .................................................................................................................... 8
2.3. Sismologia ........................................................................................................................... 9
2.3.1. Classificação das Ondas ................................................................................................. 9
2.4. Estrutura geoquímica e geodinâmica do interior da Terra .............................................. 12
2.4.1. Crosta ............................................................................................................................ 14
2.4.1.1. A crosta oceânica....................................................................................................... 15
2.4.1.2. A crosta Continental ................................................................................................. 16
2.4.1.3. Manto ......................................................................................................................... 16
2.5. A Camada D...................................................................................................................... 17
2.6. Fluxo Térmico .................................................................................................................. 17
2.7. Isostasia ............................................................................................................................. 19
3. A origem da Terra ................................................................................................................ 22
3.1. A Teoria da Deriva Continental ...................................................................................... 23
3.2. A contestação da teoria .................................................................................................... 25
4. Conclusão .............................................................................................................................. 26
5. Referências Bibliográficas .................................................................................................. 27

Indice de Figuras
Figura 1- Concepções do século XVII sobre a estrutura da Terra. ................................................. 5
Figura 2 - Diferenciação interna da Terra após a acresção planetesimal. ....................................... 7
Figura 3 - Modelo para a origem dos meteoritos a partir da fragmentação de corpos ................... 7

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Figura 4 - Representação esquemática das deformações durante a propagação das ondas sísmicas
de corpo (P e S, utilizadas no estudo do interior da Terra). a. Onda P; b. Onda S........................ 10
Figura 5- Estrutura interna da Terra (a) definida pela trajetória e velocidade das ondas sísmicas e
exemplos de trajetórias de ondas (b), que são refletidas ou desviadas com as mudanças do meio
........................................................................................................................................................11
Figura 6 - Variação das velocidades sísmicas, da densidade, da temperatura e da pressão no
interior da Terra, rela- cionada com a sua compartimentação (crosta, manto e núcleo). .............. 12
Figura 7 - Divisão geoquímica (à esquerda) e divisão geodinâmica (à direita) da Terra. ................ 13
Figura 8 - Perfil esquemático da crosta terrestre, mostrando as diferenças morfológicas e de
composição e densidade entre os dois tipos: continental e oceânica. ........................................... 15
Figura 9 - Modelos de Pratt (à esquerda) e de Airy (à direita), para explicar a variação de atração
gravitacional próximo a grandes montanhas. O modelo de Pratt pressupõe que a densidade das
rochas das montanhas é menor que a das zonas mais baixas, todas menores ............................... 20
Figura 10 - Esquema do interior da Terra mostrando o zoneamento químico e sísmico, resultado
da diferenciação geoquímica, em associação com informações de composição mineral e química
e variação dos parâmetros temperatura e pressão. Vp= velocidade de ondas P; d= densidade. ... 21
Figura 12 - Composição química da Terra comparada com a da crosta, ilustrando a diferenciação
geoquímica. ................................................................................................................................... 22
Figura 11 - A figura representa o ajuste, atual, da linha de costa do continente de África. Com a
cor roxa representam-se as estruturas geológicas e rochas tipo perfeitamente idênticas. Repare-se
na continuidade, nos dois continentes, das manchas roxas. .......................................................... 24

Indice de Tabelas

Tabela 1- Tabela de Classificação simplificada dos meteoritos interpretados como proveneientes


do cinturão de asteroides, conforme sua proveniência de corpos diferenciados ou não
diferenciados. .................................................................................................................................. 8

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1. Introdução

A Terra, nosso planeta lar, é um mundo vasto e complexo, cuja estrutura interna e
composição desempenham papéis fundamentais na sustentação da vida como a conhecemos. Para
compreendermos melhor essa complexidade, é essencial explorar o sistema químico dinâmico que
constitui a Terra, desde suas origens até os processos geológicos que moldaram sua superfície ao
longo de bilhões de anos.

Desde tempos imemoriais, a humanidade tem se questionado sobre a origem e a natureza


da Terra. Através de observações, experimentos e teorias científicas, os pesquisadores têm buscado
desvendar os mistérios por trás da formação e evolução do nosso planeta. Duas teorias notáveis
que surgiram para explicar esses fenômenos são a Teoria da Deriva Continental e a Tectônica de
Placas, que revolucionaram nossa compreensão da dinâmica terrestre.

1.1.Objectivos
1.1.1. Geral
✓ Apresentar a estrutura interna e composição da terra.
1.1.2. Específicos
✓ Explicar o sistema químico dinâmico da Terra;
✓ Explicar a origem da Terra;
✓ Explicar a Teoria da Deriva continental a da Tectónica de Placas.
1.2.Metodologia

Para esse trabalho especificamente, foi realizado um levantamento de referenciais que


subsidiassem o tema a ser apresentado, sendo feita a coleta e busca em materiais impressos, livros,
periódicos (tanto impressos como eletrônicos). Essa fase permite que se construa, um marco
teórico para a pesquisa em desenvolvimento, traçando as linhas de pesquisa, abordagens e
principais referenciais teóricos utilizados.

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2. Fundamentação Teórica
2.1.Estrutura interna e Composição da Terra

Desde a década de 1950, a humanidade tem sido capaz de observar a Terra do espaço
através de fotografias obtidas durante viagens espaciais. Atualmente, as imagens dos satélites
permitem a caracterização das grandes feições da superfície terrestre, bem como estudos mais
detalhados das rochas e suas propriedades físicas e químicas. No entanto, a exploração do interior
do planeta é limitada devido à profundidade máxima alcançada em perfurações, que foi de apenas
12 km na península de Kola (Rússia), uma fração insignificante comparada ao raio da Terra.

Apesar disso, o conhecimento geológico das camadas mais profundas da Terra tem
evoluído consideravelmente ao longo do século XX, graças ao uso de evidências indiretas, como
dados geofísicos, e ao estudo de magmas e rochas geradas em profundidade, que hoje são expostas
na superfície ou observadas em minas profundas. As concepções mais antigas sobre o interior da
Terra eram baseadas em observações de fenômenos naturais, como o vulcanismo, mas também
incluíam modelos teóricos sem evidências observacionais. Por exemplo, Aristóteles, no século IV,
considerava a Terra como uma esfera sólida, enquanto no século XVII, Athanasius Kircher a via
como um corpo parcialmente fundido com canais alimentadores de vulcões.

(a) interior com bolsões de material


fluido (líquido e gás) interligados
em meio a material sólido; e (b)
modelo de Athanasius Kircher
(1678), com

o fogo central. Estes modelos já


mostravam a compreensão de que os
vulcões representavam conexões
Figura 1- Concepções do século XVII sobre a estrutura da Terra. com a subsuperfície do planeta.

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No século XVIII, após avanços importantes na Física por Isaac Newton, a densidade média
da Terra foi medida em 5,5 g/cm3, muito maior do que a densidade média das rochas superficiais.
No século XIX, medidas diretas de temperatura em minas indicaram um aumento de 1 °C a cada
32 m, levando à definição do grau geotérmico. Darwin propôs a existência de uma camada
superficial abaixo da qual estava o material expelido pelos vulcões, enquanto no início do século
XX, a Terra era vista como tendo uma zona sólida (barisfera) no centro, uma zona fundida
(pirosfera) acima dela, e uma crosta sólida na superfície.

Com avanços na Geofísica, um modelo de estrutura interna concêntrica foi estabelecido,


distinguindo núcleo, manto e crosta. Estudos sísmicos confirmaram a variação de velocidade e
direção de ondas no interior da Terra, levando à definição do modelo de estrutura interna atual:
crosta, manto e núcleo, sendo este último composto por uma parte externa líquida e uma interna
sólida. Grande parte do conhecimento sobre a estrutura interna da Terra vem de estudos indiretos,
principalmente na Geofísica, incluindo Sismologia, Gravimetria, Geomagnetismo,
Geotermometria e Meteorítica, sendo a Sismologia e a Meteorítica abordagens fundamentais para
o estudo dos processos geológicos.

2.2. Meteorítica

A Meteorítica é a ciência que estuda os meteoritos, corpos principalmente provenientes


do cinturão de asteroides, localizado entre Marte e Júpiter. Os meteoritos representam
fragmentos de corpos sólidos com a mesma origem dos planetas, particularmente dos planetas
internos, ou seja, da Terra (ver módulo Terra e Universo). Sendo fragmentos, representam ou
a totalidade de corpos homogêneos ou partes de corpos heterogêneos do sistema solar.
Partindo do princípio de que a acresção planetesimal ocorreu conforme a teoria atualmente
aceita, a Terra e os outros corpos do sistema solar formaram-se como corpos homogêneos, que sofreram
diferenciação após a acresção. No caso dos corpos de maior tamanho, o acúmulo de energia
proveniente de impactos de planetésimos, decaimento radioativo e contração gravitacional, levou ao
aumento de temperatura, à fusão parcial e à reorganização de seus materiais. O material mais denso (o
ferro) migrou das partes fundidas para as partes mais internas do planeta, formando o núcleo, como
ilustrado pela Figura 2; parte do Ni terrestre e também um pouco do S e de alguns outros elementos
acompanharam o ferro nessa migração. Ao mesmo tempo, o material menos denso se reorganizou como
manto e crosta. Assim, no cinturão de asteroides, formado por corpos de variados tamanhos, existem

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tanto corpos grandes, que passaram pela diferenciação inter-na, quanto corpos menores, que não tiveram
esse processo.

Em conclusão, os meteoritos são representantes de ambos os tipos de corpos,


conforme o esquema apresentado na
Figura 3, que ilustra a fragmentação tanto
de corpos diferenciados quanto de não-
diferenciados. Os fragmentos de corpos
não diferenciados são chamados de
meteoritos condríticos, pois contêm
côndrulos, estruturas arredondadas
originais. Os corpos diferenciados
Figura 2 - Diferenciação interna da Terra após a acresção planetesimal.
perderam esta estrutura original, e seus
fragmentos, quando constituem
meteoritos, são chamados acondritos.

Figura 3 - Modelo para a origem dos


meteoritos a partir da fragmentação de
corpos

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2.2.1. Classificação

A classificação dos meteoritos em diferenciados (acondritos) e não-diferenciados


(condritos) é útil para entender a estrutura e idade da Terra. Os condritos, caracterizados por
côndrulos silicáticos em matriz de mesma composição, representam corpos primitivos do Sistema
Solar e serviram de base para o "Modelo Condrítico" da Terra. Já os acondritos, que não possuem
essa estrutura, podem ser rochosos (pétreos) ou metálicos (sideritos), relacionando-se a corpos que
passaram por diferenciação interna, como a Terra. Os sideritos têm texturas compatíveis com altas
pressões e temperaturas, sugerindo origem nas partes mais internas dos corpos, enquanto os pétreos
representam materiais do manto terrestre. A maioria dos meteoritos estudados são condritos,
indicando origem em corpos menores não-diferenciados. A Sismologia pode ajudar a reconhecer
a estrutura diferenciada na Terra, similar à dos corpos maiores de onde se originaram esses
meteoritos.

Tabela 1- Tabela de Classificação simplificada dos meteoritos interpretados como proveneientes do cinturão de asteroides,
conforme sua proveniência de corpos diferenciados ou não diferenciados.

Condritos Pétreos Ordinários (idades entre 4,5 e4,6


Não- Diferenciados
(provenientes de corpos bilhões de anos)
(condritos) não-diferenciados, formados por
(86%) côndrulos silicáticos em matriz Carbonáceos (possuem material
metálica) carbonoso)

Diferenciados Constituídos por minerais silicáticos,


Pétreos
com idades entre 4,4 e4,6 bilhões de
(acondritos) (ou rochosos) (9%)
anos.
(14%)
(provenientes de corpos Ferropétreos Constituídos por minerais silicáticos e
(ou siderólitos) (1%) fases metálicas de Fe e Ni.

diferenciados)
Constituídos por minerais metálicosde Fe
Sideritos (4%)
e de Fe e Ni.

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2.3.Sismologia

A Sismologia pode ser definida como o estudo das ondas sísmicas (ondas elásticas), naturais
ou artificiais, em sua propagação no interior da Terra, passando por refrações, reflexões e mudanças
de velocidade, segundo as características do meio atravessado, principalmente a densidade e os
parâmetros que definem a compressibilidade e a rigidez dos materiais percorridos pelas ondas, além,
obviamente,de seu estado físico. A densidade, em particular, já era abordada em estudos anteriores ao
advento da sismologia, para estudo da sua distribuição em todo o globo, inclusive em profundidade.

Os sismos, ou terremotos, resultam das deformações causadas pela propagação de ondas


sísmicas naturais ou artificiais. A cada terremoto, observatórios sismográficos registram a chegada
das ondas, permitindo montar um quadro da variação de velocidade de propagação. As ondas
elásticas provocam deformações temporárias que se restabelecem, e a velocidade de propagação
depende do módulo elástico do material. A direção das ondas muda conforme as características do
meio, afastando-se ou aproximando-se da normal para a interface, dependendo da variação de
velocidade.

2.3.1. Classificação das Ondas

Há diferentes tipos de ondas sísmicas utilizadas para o estudo do planeta: as ondas de


corpo(P e S) e as ondas de superfície (R e L); como a própria classificação indica, somente as
ondasde corpo são utilizadas para o estudo do interior da Terra.

As ondas de corpo podem ser Primárias ou Secundárias (respectivamente P e S), assim


denominadas pela diferença de velocidade: as ondas P são mais rápidas, chegando antes que
as ondas S nos detectores sísmicos; por isso, utiliza-se a classificação primária e secundária,
respectivamente (Figura 4). Mas há outras diferenças: as ondas P são ondas compressivas
(comprimem e dilatam progressivamente o corpo ao se propagarem) e são ondas longitudinais,
ou seja, as vibrações são paralelas à direção de propagação como as ondas sonoras. Além disso,
propagam-se tanto em sólidos quanto em líquidos. As ondas S são cisalhantes (deformam progres-
sivamente os materiais pelos quais passam) e transversais (as vibrações são perpendiculares à
direção de propagação, como as ondas luminosas). As ondas S têm uma característica muito

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importante na definição do estado físico das partes internas da Terra. Como não se propagam
em meio líquido, são muito úteis para comprovar o estado sólido do manto, ao contrário do que
afirma o senso comum, e também para comprovar que o núcleo externo é líquido.
As fórmulas para cálculo da velocidade das ondas P e S em cada meio são, respectivamente:

VP = V (k +  )   e VS =   , sendo (k = módulo de compressibilidade (resistência à


compressão);  = módulo de rigidez (resistência à deformação, nula para líquidos);  = densidade.
No caso das ondas S, como o módulo de rigidez é nulo para líquidos, compreende-se quesua
velocidade em líquidos seja zero. As ondas de superfície também se classificam em doistipos
(Rayleigh e Love). A Figura 4 mostra os tipos de deformação causados pelas ondas sísmicas
de corpo P e S.

Ondas P: primárias, longitudinais,


compressivas (como as ondas
sonoras); propagam-se tanto em
sólidos como em líquidos.

Ondas S: secundárias, transversais


(como as ondas luminosas), distor-
sivas e cisalhantes; propagam-se
apenas em sólidos.

Figura 4 - Representação esquemática das deformações durante a propagação das ondas sísmicas de corpo (P e S,
utilizadas no estudo do interior da Terra). a. Onda P; b. Onda S.

A estrutura interna da Terra relacionada à diferenciação na trajetória e na velocidade das ondas


sísmicas está ilustrada na Figura 5, que mostra também exemplos de trajetórias de ondas sísmicas com
mudanças por reflexão ou difração, que ocorrem repentinamente, quando as características do meio
se modificam bruscamente, ou gradualmente, quando as mudanças entre os meios são transicionais. Na

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figura, são mostrados alguns exemplos de ondas P passando pelas várias camadas internas e refletindo
ou refratando em diferentes descontinuidades; cada trajetória de uma onda P é definida e representada
em sua denominação, conforme explicação na legenda desta figura.

Figura 5- Estrutura interna da


Terra (a) definida pela trajetória
e velocidade das ondas sísmicas
e exemplos de trajetórias de
ondas (b), que são refletidas ou
desviadas com as mudanças do
meio

É importante destacar que a trajetória e a velocidade das ondas P e S são as ferramentas


básicas da Geofísica para definir a estrutura interna da Terra. A variação tanto da velocidade quanto
da direção das ondas sísmicas ocorre devido às variações nas características dos meios atravessados;
variações bruscas nas características resultam em mudanças bruscas na velocidadee na direção das
ondas, que apresentam trajetórias com mudanças de direção também bruscas ou mesmo com
reflexões. Já variações gradacionais dos meios resultam em variações também gradacionais na
velocidade e direção das ondas sísmicas, e as trajetórias resultantes são curvas, sem descontinuidades
bruscas; os exemplos mostrados na Figura 3.5 retratam algumas trajetórias curvas, que ilustram a
variação progressiva das características do meio que determinam a velocidade e a direção de
propagação.

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2.4. Estrutura geoquímica e geodinâmica do interior da Terra
A análise dos dados sísmicos de observatórios sismográficos ao redor do mundo revelou padrões
na velocidade das ondas sísmicas. Em geral, a velocidade aumenta com a profundidade, evidenciando a
heterogeneidade do interior da Terra. Em algumas regiões, o aumento de velocidade é gradual, indicando
mudanças suaves nas características do meio, enquanto em outras ocorrem mudanças abruptas, sugerindo
a presença de descontinuidades. Esses padrões definem as três principais camadas da Terra: crosta, manto
e núcleo, sendo a crosta dividida em continental e oceânica, e o manto em superior, zona de transição e
inferior. e o núcleo, em núcleo externo e núcleo interno, como pode ser visto na Figura 6, que inclui a
variação com aprofundidade de outros parâmetros do interior da Terra (densidade, temperatura e pressão).

Figura 6 - Variação das velocidades


sísmicas, da densidade, da temperatura e
da pressão no interior da Terra, rela-
cionada com a sua compartimentação
(crosta, manto e núcleo).

A essas características físicas correspondem características químicas bem definidas, o que é


suge- rido pelos estudos de Meteorítica e, por isso, essa compartimentação do interior da Terra
também é conhecida como divisão Geoquímica. Foi também estabelecida outra divisão
interna terrestre, denominada divisão Geodinâmica ou sísmico-reológica, que enfatiza a
diferença de comportamento mecânico dos compartimentos internos. Esta última é muito útil para
os estudos dadinâmica interna terrestre (tópico Tectônica Global).

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No contexto geodinâmico, a crosta e a parte mais periférica (superior) do manto formam,
juntas, uma camada denominada litosfera (de comportamento rígido), que está sobreposta a outra
camada - a astenosfera; esta, é parte relativamente estreita do manto superior e apresenta baixas
velocidades de propagação das ondas sísmicas. O decréscimo de velocidade ocorre porque a
temperatura a cerca de 100 km de profundidade se aproxima da fusão das rochas do manto, fundindo
parcialmente alguns mi- nerais do peridotito, que é a principal rocha que lá ocorre. A pequena
quantidade de fusão (menos de 1% em estado líquido) diminui a rigidez da rocha, o que retarda a
propagação das ondas S que passam por ela. Essa particularidade torna esta parte do manto
mecanicamente plástica na escala do tempo geológico, mas seu estado físico é sólido (lembrar que
apenas o núcleo externo, dentro da Terra, temestado físico líquido, sendo o restante sólido). A zona de
baixa velocidade, ou seja, a parte superior daastenosfera, é a camada dúctil sobre a qual desliza a placa
litosférica rígida.
Abaixo da astenosfera encontra-se a mesosfera, que completa a parte silicática da Terra,
restando a parte central, metálica, dividida em núcleo externo e núcleo interno, da mesma
forma que na divisão Geoquímica.
Figura 7 - Divisão geoquímica(à
esquerda) e divisão

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A Figura 7 apresenta os dois modelos de estrutura interna da Terra usados para definir a
configuração do planeta: o modelo Geoquímico e o modelo Geodinâmico. A divisão Geoquímica
foi estabelecida antes da Geodinâmica e após pesquisas multidisciplinares sobre a tectônica de
placas. Essas divisões complementam-se, permitindo o estudo de diferentes aspectos da
composição e dinâmica da Terra. Os limites entre as camadas na divisão Geoquímica, chamados
de descontinuidades, caracterizam mudanças bruscas na composição química e no comportamento
das ondas sísmicas, refletindo o estado físico dos materiais submetidos a pressões e temperaturas
crescentes.
As principais descontinuidades são:
• Mohorovicic (Moho): Entre a crosta e o manto, variando de 5 a 10 km de profundidade
para a crosta oceânica e de 35 a 70 km para a crosta continental. Separa materiais silicáticos
ricos em Al na crosta dos silicáticos ricos em Fe e Mg no manto.
• Gutenberg: Entre o manto e o núcleo externo, a 2900 km de profundidade, separando
materiais silicáticos do manto dos materiais metálicos (Fe e Ni) do núcleo.
• Lehman: Entre o núcleo externo e o núcleo interno, a 5100 km de profundidade, marcando
a transição de estado físico de líquido (núcleo externo) para sólido (núcleo interno), ambos
compostos de Fe e Ni, mas com elementos mais leves presentes no núcleo externo.
A composição química, temperatura e pressão resultam em comportamentos dinâmicos
diferentes para os materiais sob esforços tectônicos. Apesar das altas temperaturas internas, a alta
pressão impede a fusão dos materiais, mantendo-os sólidos. Somente o núcleo externo é líquido,
pois a temperatura supera a pressão nesta região, ao contrário do núcleo interno, onde a pressão
mantém o material sólido.
2.4.1. Crosta

A crosta terrestre, a camada mais superficial da Terra sólida, possui uma espessura que
varia de 5 a 70 km e reveste todo o conteúdo sólido do planeta, que tem mais de 6.400 km de raio.
Existem duas formas distintas de crosta: a continental e a oceânica. A crosta continental é composta
por rochas menos densas, com uma média de 2,8 g/cm³, e relativamente mais ricas em sílica,
alumínio e outros elementos leves. Por outro lado, a crosta oceânica é formada por rochas mais
densas, com uma média de 3,0 g/cm³, e relativamente mais ricas em ferro e magnésio. Além disso,
a crosta continental é muito mais antiga, com rochas que remontam ao início da existência do
planeta, há cerca de 4 bilhões de anos, enquanto a crosta oceânica é relativamente jovem, com no
máximo 200 milhões de anos. A transição entre esses dois tipos de crosta ocorre nas áreas
litorâneas. Essas diferenças são fundamentais para entender a estrutura e a formação da crosta,
como será detalhado posteriormente.

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Figura 8 - Perfil esquemático da crosta terrestre,
mostrando as diferenças morfológicas e de composição e
densidade entre os dois tipos: continental e oceânica.

2.4.1.1.A crosta oceânica

A crosta oceânica, de origem vulcânica moderna (mais jovem que 200 milhões de anos,)
tem a peculiaridade de ser coberta por sedimentos geologicamente jovens, que são materiais
originados pela erosão na superfície dos continentes, transportados por vários agentes da super- fície
da Terra (rios, ventos, geleiras), e que terminam por se depositar no fundo dos oceanos. As bacias
oceânicas são consideradas as mais baixas depressões da superfície terrestre. Os furos mais profundos
que penetraram na crosta oceânica chegaram a 1,5 km. Os materiais coletados, bem como os estudos
geofísicos de detalhe nesta camada, mostraram alguma heterogenei- dade nos materiais. Contudo,
são formados essencialmente por rochas do tipo basalto e seus correspondentes rochosos gerados
em maior profundidade, todos rochas escuras que podem, em alguns casos, ser encontradas nos
continentes.

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2.4.1.2.A crosta Continental

A crosta continental é formada por rochas de origem diferenciada: as formadas diretamente da


consolidação do magma (ígneas), as oriundas da transformação de outras por ação da temperatura e pressão
(as metamórficas), e as originadas pela deposição de material inconsolidado posteriormente consolidado
(rocha sedimentar).A crosta é, em grande parte, recoberta por materiais não consolidados, formado pela
reação das rochas duras às condições da superfície (presença de água e organismos, e variações climáticas);
a formação deste material dá-se pelo intemperismo, juntamente com a formaçãodo solo, temas de um tópico
específico. Esse material é fácil e continuamente erodido pelos agentesde erosão já mencionados, que
transportam e depositam os materiais nas zonas mais baixas, tanto dos continentes (posição temporária, de
onde podem voltar a passar por erosão), quanto dos oceanos.

A espessura da crosta continental varia entre 35 e 70 km, aproximadamente, sendo suas porções mais
espessas relacionadas a zonas geologicamente ativas.

2.4.1.3.Manto

O manto apresenta marcante diferença composicional em relação à crosta, e também no que diz
respeito à velocidade das ondas sísmicas. Isto justifica a indicação do limite Crosta-Manto como uma
descontinuidade (Mohorovicic). O manto tem sido subdividido em três partes concêntricas: o manto
superior, a zona de transição e o manto inferior. Essa subdivisão coincide com irregularidades no
comportamento das ondas sísmicas ao se propagarem por seu interior, sempre com tendência a
crescimento da velocidade com a profundidade, mas com algumas importantes oscilações. A
variação rumo a maiores valores de velocidade reflete, sobretudo, a progressão da pressão, que
resulta em materiais mais compactos e numa densidade progressivamente maior.
A densidade, um dos principais parâmetros que determinam a velocidade das ondas sísmicas

(como mostram as fórmulas vistas anteriormente) varia, neste compartimento, de 3,2 g/cm3,

próximo à descontinuidade de Mohorovicic, a 3,7 g/cm3, já na base, no limite com a zona de


transição. Mas aumenta ainda mais nas rochas do manto inferior.

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2.5.A Camada D

Conforme mencionado mais acima, a camada “D” é uma particularidade da base do


manto, no limite com o núcleo externo, acima da descontinuidade de Gutenberg. Ocorreali
uma região de espessura variável, que pode chegar a alguns quilômetros, onde o material líquido
metálico do núcleo sobe por capilaridade, criando zonas de reação entre esse material e os silicatos
do manto. Esta região tem sido intensamente estudada por meio da sismologia, oque demonstrou sua
grande heterogeneidade e dinâmica. Supõe-se que as reações químicas ali existentes sejam muito
rápidas, misturando material silicático e metálico, mas não completa- mente, visto que pode haver
também a descida do material metálico que subiu após ter perdido calor, funcionando como mais uma
corrente de convecção nas profundezas da Terra.Além disso, supõe-se também que a movimentação
nessa camada “D” possa levar à ascensão de colunas de material superaquecido do manto inferior
(as chamadas plumas mantélicas, abordadas no tópico sobre Tectônica de Placas) para as zonas
superiores, o que caracterizaria, assim, fluxos térmicos peculiares em grande escala no manto. Outra
conclusão a que se chegou é a de queas variações no campo magnético terrestre podem ser causadas
em parte pela existência dessa camada, já que o manto não seria completamente isolante,
perturbando o campo magnético gerado pela convecção do líquido metálico no núcleo externo.

2.6.Fluxo Térmico

A temperatura é crucial no estudo da estrutura interna da Terra, pois influencia o estado


físico e outras características do interior terrestre. Embora o Sol seja a fonte de calor mais evidente,
sua influência se limita a poucos centímetros de profundidade. O calor interno, originado de
diversas fontes, gera um fluxo térmico contínuo do interior para a superfície, com variações
regionais. Historicamente, o aumento da temperatura nas profundezas foi observado em minas
subterrâneas, como nas pesquisas de Lord Kelvin. Este calor interno resulta do decaimento
radioativo de elementos, do calor residual da formação do planeta e do calor de solidificação do
núcleo externo.

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Principalmente dois processos atuam no fluxo térmico, ou seja, no transporte do calor
através da Terra até a superfície: condução e convecção. A convecção ocorre nos fluidos e nos
sólidos com propriedades plásticas, como parte do manto (correspondente à astenosfera, sólida,
mas comcomportamento plástico na escala do tempo geológico). O material aquecido torna-se
menos denso e se expande, tende a subir e tomar o lugar do material acima, não aquecido ou
menosaquecido, que desce e então se aquece na fonte de calor, subindo e trocando novamente de
lugar com o material que se havia aquecido antes e se esfriou na parte superior do volume
considerado.

Assim, formam-se correntes de convecção tridimensionais. Esse processo é fundamental


em vários movimentos do ciclo geológico, como no núcleo externo, cujo movimento participa
da origem do campo magnético terrestre, e também no ciclo das rochas, neste último por causa
da propriedade do manto, que, embora sólido, se pode comportar, na zona da astenosfera, como
um material plástico que consegue mover-se ao longo do tempo geológico. A condução é um
processo mais lento e ocorre em pequena escala, ou seja, cada molécula transfere sua energia
térmica para a seguinte; ocorre nos sólidos e, por isso, é muito importante em toda a Terra sólida.
O calor gerado na própria Terra é utilizado como fonte de energia para seus processos
dinâmicos, que serão vistos nos próximos tópicos, mas é, em parte, perdido na superfície,
emdireção à hidrosfera e atmosfera, onde acontecem outros processos circulatórios.

As temperaturas geradas pelo fluxo térmico podem ser medidas, assim como as propriedades
associadas, como a capacidade térmica e o calor específico.A determinação do fluxo térmico interno
da Terra é feita pelo gradiente geotérmico, definido como o produto da variação da temperatura
com a profundidade pela condutividade térmica daquele material ou daquela camada terrestre.
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Assim, o fluxo térmico total da Terra foi definido em joules por ano.
Comparado com valores de perda de energia terrestre em fenômenos específicos, esse valor é

bem maior; por exemplo, a perda de energia terrestre pelos terremotos pode chegar a 1019

joules por ano, enquanto a energia da desaceleração da rotação pela ação das marés atinge 1020
joules por ano.

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Dependendo das características geológicas de cada local, o fluxo térmico pode ser muito
dife- rente, já que o gradiente geotérmico muda. Por exemplo, em zonas sujeitas a terremotos e
vulca- nismo, o gradiente geotérmico, definido como a profundidade, em metros, em que há
aumento de1 °C na temperatura, é mais intenso do que a média da crosta, que é de 32 m para 1 °C.
O inverso ocorre nas regiões continentais antigas e geologicamente mais estáveis; há valores
registrados de 55 m/°C (na mina de Morro Velho, MG, que é um exemplo de baixo fluxo térmico),
e de valoresmuito menores, com altíssimo fluxo térmico, nas dorsais mesoceânicas.

Os estudos sobre o fluxo térmico terrestre, sua variação no tempo e sua distribuição hete-
rogênea no espaço, bem como os estudos sobre o magnetismo, que também varia, não apenas pela
evolução temporal das condições do núcleo externo terrestre onde se origina, mas também em
função das características magnéticas diferentes dos materiais geológicos heterogeneamente
distribuídos no planeta, são complementares ao estudo da estrutura interna da Terra. O estudo
da gravidade da Terra, também variável de ponto para ponto, pode associar-se aos estudos da
heterogeneidade interna, mas não será tratado aqui.

2.7.Isostasia

O conceito de isostasia é crucial para entender o equilíbrio das massas continentais e a evolução
dos relevos. No século XVIII, Bouguer observou que a atração gravitacional das montanhas dos
Andes era menor do que esperado, atribuindo isso à menor densidade de suas rochas.
Similarmente, Everest encontrou o mesmo no Himalaia. Estudos posteriores relacionaram a
densidade das rochas superficiais à movimentação vertical em função da densidade do material
subjacente. Em 1855, Pratt e Airy propuseram modelos explicando que altos relevos são formados
por materiais menos densos, resultando em menor aumento gravitacional. Em 1899, o termo
isostasia foi introduzido, explicando o equilíbrio entre massa e espessura da crosta sobre o manto,
semelhante ao princípio de Arquimedes.

As massas continentais, sendo menos densas que o material subjacente, são explicadas pelos
modelos de Pratt e Airy, que descrevem a crosta menos densa flutuando sobre o manto denso. A
litosfera, rígida, situa-se sobre a astenosfera, que, embora sólida, comporta-se como um fluido
deformável geologicamente. Uma região está em equilíbrio isostático quando não há movimentos
verticais causados por mudanças de massa. A subsidência ocorre, por exemplo, por derrame

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vulcânico ou formação de geleiras, enquanto o soerguimento é causado pelo derretimento de
geleiras ou erosão. Este processo é comparável ao funcionamento de uma balança: a retirada de
massa eleva o prato, enquanto a adição de massa o abaixa.

O modelo de Pratt (Figura 7) postula que a parte superior rígida é composta por blocos
de igual profundidade, mas de densidades diferentes (sobre o substrato de densidade maior que
todos eles), sendo as menores densidades as correspondentes aos blocos de relevo mais alto.

Figura 9 - Modelos de Pratt (à esquerda) e de Airy (à direita), para explicar a variação de atração
gravitacional próximo a grandes montanhas. O modelo de Pratt pressupõe que a densidade das
rochas das montanhas é menor que a das zonas mais baixas, todas menores

O modelo de Airy (Figura 7) propõe que a camada superior rígida tem a mesma densi- dade,
menor que a do substrato, que é plástico, e que a profundidade de cada bloco depende de sua espessura:
quanto mais espesso, mais alto o relevo, mas também mais profunda a “raiz” do bloco que adentra o
substrato.

Os dois modelos explicam as observações gravimétricas em cadeias de montanhas. Mas somente


o modelo de Airy explica a existência de porções mais profundas da crosta que penetram no manto,
fazendo com que o limite crosta-manto seja mais profundo nessas regiões. Também ofato de as
rochas da crosta continental terem menor densidade que as rochas da crosta oceânica faz com que a
crosta continental fique topograficamente acima da crosta oceânica, mesmo com a perda de massa
causada pela contínua erosão continental, já que o soerguimento compensaa perda de massa (para
buscar continuamente o equilíbrio isostático). Aliás, este é o motivopelo qual ocorrem, na superfície,
rochas formadas em profundidade: o soerguimento traz para profundidades menores rochas formadas

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em profundidades maiores e, com o tempo, a erosão retira o material intemperizado continuamente,
reforçando o soerguimento e fazendo aflorarrochas que não seriam observáveis na superfície, não
fosse por este processo.
Em conclusão, temos, hoje, um planeta diferenciado, cuja distribuição de composição química
está sumarizada na Figura 8, a partir das principais informações provenientes dos estudos sobre a
estrutura interna da Terra. O estudo dos meteoritos deu uma contribuição fundamental à
interpretação da composição das camadas internas da Terra.

Figura 10 - Esquema do interior da Terra mostrando o zoneamento químico e sísmico, resultado da diferenciação
geoquímica, em associação com informações de composição mineral e química e variação dos parâmetros temperatura e
pressão. Vp= velocidade de ondas P; d= densidade.

Finalmente, a Figura 9 mostra a comparação entre as composições químicas global daTerra e da crosta
(continental e oceânica), ilustrando seus contrastes.

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Figura 11 - Composição química da Terra comparada com a da crosta, ilustrando a diferenciação geoquímica.

3. A origem da Terra

A Terra provavelmente começou como poeira cósmica que manteve correntes de convecção em seu
interior. A cerca de 3000ºC, substâncias como ferro começaram a se liquefazer, formando o núcleo, seguido
por silício e óxidos metálicos que deram origem ao manto. Com o resfriamento da Terra, a crosta começou
a solidificar entre 1500ºC e 800ºC. A atmosfera inicial era composta de vapor de água, amoníaco e óxido
de carbono. A água dos oceanos estava tanto na atmosfera quanto no interior das rochas. Eventualmente, o
vapor condensou e formou chuvas, criando os primeiros mares e rochas sedimentares a partir do desgaste
das rochas ígneas. O manto continuou a esfriar, causando enrugamento da crosta, fraturas e vulcões.

A formação do Sistema Solar começou há cerca de 6 bilhões de anos com a contração de uma
nuvem de gás e poeira, que se aglomerou pela gravidade formando o Sol e os planetas, incluindo a Terra,
há aproximadamente 4,5 bilhões de anos. A Terra se formou a partir da agregação de silicatos e metais.
Inicialmente fria, a Terra aqueceu devido à gravidade e à desintegração de elementos radioativos, levando
à diferenciação interna, com elementos pesados como ferro e níquel formando o núcleo metálico, e silicatos
formando o manto. A crosta fina solidificou-se por último. O calor gerado pelo decaimento radioativo de
elementos como tório, urânio e potássio impulsiona os eventos tectônicos.

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Estudando a propagação de ondas sísmicas, inferiu-se que a Terra possui três camadas principais:
Crosta, Manto e Núcleo (externo e interno). As mudanças na velocidade e direção das ondas sísmicas
fornecem informações sobre essas camadas.

3.1. A Teoria da Deriva Continental

A teoria de que os continentes não estiveram sempre em suas posições atuais foi conjecturada muito
antes do século XX, inicialmente sugerida em 1596 por Abraham Ortelius. Ele propôs que as Américas
foram separadas da Europa e África por terremotos e inundações, observando a correspondência das costas
dos continentes. No século XIX, essa ideia foi retomada, mas só em 1912, com o meteorologista alemão
Alfred Lothar Wegener, a teoria do movimento dos continentes, conhecida como Deriva dos Continentes,
foi seriamente considerada. Wegener argumentou que, há cerca de 200 milhões de anos, havia um
supercontinente chamado Pangéia que começou a se fraturar.

Alexander Du Toit, um professor de geologia e defensor das ideias de Wegener, propôs que a
Pangéia se dividiu inicialmente em dois grandes continentes: Laurásia, no hemisfério norte, e Gondwana,
no hemisfério sul. Esses continentes continuaram a se fragmentar ao longo do tempo, originando os
continentes atuais.

A teoria de Wegener foi parcialmente apoiada pela correspondência notável entre as costas da
América do Sul e da África, um argumento também utilizado por Ortelius. Além disso, Wegener ficou
intrigado com as estruturas geológicas e fósseis de plantas e animais idênticos encontrados em ambos os
continentes, atualmente separados pelo Oceano Atlântico. Ele concluiu que era impossível para a maioria
desses organismos ter cruzado um oceano tão vasto, e a presença de fósseis idênticos ao longo das costas
litorâneas de África e América do Sul era uma evidência de que esses continentes já estiveram conectados.

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Figura 12 - A figura representa o ajuste, atual, da
linha de costa do continente de África. Com a cor
roxa representam-se as estruturas geológicas e
rochas tipo perfeitamente idênticas. Repare-se na
continuidade, nos dois continentes, das manchas
roxas.

Segundo Wegener, a Deriva dos Continentes, após a fratura da Pangéia, explicava não só as
ocorrências fósseis, mas também evidências de mudanças climáticas dramáticas. Por exemplo, a descoberta
de fósseis de plantas tropicais na Antártica sugeria que este continente, agora gelado, já esteve perto do
equador, possuindo um clima temperado adequado para vegetação luxuriante. Fósseis de fetos
(Glossopteris) em regiões polares e depósitos glaciários em áreas áridas da África, como o Vaal River
Valley, também apoiavam sua teoria.

Embora a Deriva Continental tenha revolucionado a comunidade científica ao apresentar uma nova
visão da Terra, a proposta de Wegener não foi amplamente aceita de imediato. A principal crítica era a falta
de uma explicação satisfatória para as forças capazes de mover grandes massas continentais. Wegener
sugeriu que os continentes se separavam pelo fundo oceânico, mas o geofísico Harold Jeffreys argumentou
que isso seria fisicamente impossível sem fragmentação total.

Após a morte de Wegener em 1930, novas evidências de exploração dos fundos oceânicos e outros
estudos geológicos e geofísicos reacenderam o interesse por sua teoria, culminando no desenvolvimento da
teoria da Tectônica de Placas. Esta teoria tornou-se tão fundamental para as ciências da Terra quanto a
estrutura do átomo para a Física e Química, e a Teoria da Evolução para as Ciências Biológicas. Apesar da
aceitação atual da Tectônica de Placas pela comunidade científica, diversas vertentes da teoria continuam
sendo debatidas.

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3.2. A contestação da teoria

A teoria de Wegener foi muito contestada nos anos seguintes à sua morte, com o principal ponto
negativo sendo o facto de que as massas continentais não poderiam se movimentar pelos oceanos da maneira
proposta sem se fragmentar inteiramente, o que foi argumentado por Harold Jeffreys, um renomado
sismólogo inglês. No início da década de 1950, porém, as idéias de Wegener foram retomadas, face a novas
observações e descobertas científicas, ligadas especialmente aos oceanos. Um novo debate surgiu sobre as
provocativas idéias de Wegener e suas implicações.

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4. Conclusão

Em suma, a estrutura interna e a composição da Terra são temas fascinantes que


continuam a desafiar e inspirar cientistas em todo o mundo. O sistema químico dinâmico que
caracteriza nosso planeta é resultado de bilhões de anos de processos geológicos, desde sua
formação até os fenômenos em curso nos dias de hoje.

Ao explorarmos a origem da Terra, desde sua criação até os eventos geológicos que a
moldaram ao longo do tempo, somos levados a considerar teorias como a Deriva Continental e a
Tectônica de Placas, que ampliaram significativamente nossa compreensão do funcionamento
interno e da dinâmica da superfície terrestre. Essas teorias não apenas nos fornecem um quadro
para explicar os fenômenos geológicos observados, mas também nos ajudam a antever os
processos futuros que moldarão nosso planeta em constante evolução.

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5. Referências Bibliográficas

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Pour la Science.

Caron, J. M., Gauthier, A., Lardeaux, J. M., Schaaf, A., Ulysse, J., & Wozniak, J. (2003).
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Teixeira, W., Fairchild, T. R., Toledo, M. C. M., & Taioli, F. (2009). Decifrando a Terra (2a ed.).
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Trompette, R. (2003). La Terre: Une planète singulière. Paris: Belin Pour la Science.

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