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Comunicação e Cidadania

A comunicação como um Direito Humano


 Origem da sociedade nas divisões entre público e
privado;
 Esfera pública como espaço do social, esfera
privada como espaço de igualdade.
 Reconhecimento da dimensão política do privado;
Recapitulando...  Declínio da esfera pública na modernidade;
 Com o debate sobre opinião pública e espaço
público, papel da comunicação surge como
importante instrumento político na formação da
opinião pública e nas fronteiras entre público e
privado.
 “Como salvar a dimensão humanista da comunicação, quando
triunfa sua dimensão instrumental? “ (Wolton).

 Qual a a evolução do conceito da comunicação no discurso dos


direitos humanos?
Comunicação
como direito  a construção teórica e prática dos direitos humanos é um
humano fundamental legado da humanidade;

 Construídos sobre pactos, guerras e consensos, chegam a uma


premissa: a pessoa humana é o fim de tudo.
 direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes
e correlacionados 2ª Conferência Mundial de Direitos
Humanos, Viena, 1993. Conquista da positivação, em
Constituições, Pactos, Convenções e Tratados, em âmbito
nacional, regional e global.

Direitos
humanos  Os principais momentos de elaboração desse discurso, até o
final da primeira metade do século XX, têm a ver com as lutas
universais por liberdades (religiosa, de pensamento, expressão, de
imprensa) junto aos Estados absolutista, liberal e socialista.

 Liberdades paradoxais: garantidos, mas não a todos os


humanos.
 Sociedade da informação X sociedade da comunicação e do
conhecimento;

 Em 1969, D´Arcy diz que “Virá o tempo em que a Declaração

Comunicação Universal dos Direitos Humanos terá de abarcar um direito


mais amplo que o direito humano à informação, estabelecido
como direito pela primeira vez vinte e um anos atrás no Artigo 19. Trata-se
do direito do homem de se comunicar”.
humano
 Conflito sobre status da informação.
 Paradigma informacional: emissor – mensagem – receptor
(SHANNON e WEAVER).
Diagrama de Shannon e Weaver
I - Idade Média, século XIII, até a sedimentação do Estado de direito
Burguês, final do século XVIII. Foram documentos fundadores do
discurso dos direitos humanos: a Magna Carta, de 1215, e a Declaração
de Direitos (Bill of Rights) Inglesa, em 1689; a Declaração de
Independência e a Constituição dos Estados Unidos da América do
Norte, em 1776; a Declaração de Direitos Norte Americano, de 1776; a
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789; e as
Compreensão da Constituições francesas de 1791, 1793 e 1795.

Comunicação
como DH II - No século XX , com o marco legal estabelecido sob a égide da
Organização das Nações Unidas (ONU). São os textos normativos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), dos Pactos
Internacionais de Direitos Humanos (1966), e da Declaração e
Programa de Ação de Viena (1993), pertencentes ao Sistema Global9; e
a Convenção Americana de Direitos Humanos – Pacto de San José da
Costa Rica (1969), referente ao Sistema Regional Interamericano10
Compreensão da
No âmbito nacional será analisada a Constituição Federal de
Comunicação 1988, o primeiro documento normativo brasileiro na era da
como DH democratização do país. Artigo V faz referência a temas ligados à
comunicação.
 Carta Magna das Liberdades ou Concórdia entre o rei João e os
Barões para a outorga das liberdades da igreja e do reino
inglês), em 1215.

 Em 1689, já mais ousada, é aprovada a Declaração de Direitos


Discurso (Bill of Rights). O marco desse documento foi ter acabado, 100
anos antes da revolução francesa, o regime de monarquia
normativo absoluta.

internacional  [...] Que a liberdade de palavra e debates ou procedimentos, no


Parlamento, não deve ser coarctada por processos de acusação
política ou investigação criminal (impeachment) em nenhum
tribunal ou local fora do Parlamento; [...] (BÉMONT, 1892,
apud COMPARATO, 2003, p.94, tradução do autor, grifo
nosso).
 1776 – Declaração de Independência do s EUA –
 É considerado como o “primeiro documento político que
reconhece, a par da legitimidade da soberania popular, a
existência de direitos inerentes a todo ser humano,
independente das diferenças de sexo, raça, religião, cultura ou
posição social” (COMPARATO, 2003, p. 101-102). Avanços
Discurso democráticos no reconhecimento da democracia, entretanto,

normativo marcada pela opressão das mulheres, genocídio da população


indígena e escravidão da população negra.
internacional  Nos parágrafos 12 e 16 da Declaração da Virgínia, são
declaradas a imprensa livre e a liberdade religiosa. Logo na
primeira emenda, a Declaração garante a liberdade de palavra
(opinião, pensamento, expressão) e de imprensa (informações).
 DECLARAÇÃO DE DIREITOS NORTE-AMERICANO, DE
1776 Artigo Primeiro12 O Congresso não editará lei instituindo

Discurso uma religião, ou proibindo o seu exercício; nem restringirá a


liberdade de palavra ou de imprensa; ou o direito de o povo
normativo reunir-se pacificamente, ou o de petição ao governo para a
correção de injustiças. (COMPARATO, 2003, p. 121, grifo
internacional nosso, tradução do autor)
 As Declarações de Direitos da Revolução
Francesa, em 1789, diferenciam-se das Norte
Americanas pelo conjunto de princípios e
Discurso valores dedicados a proteger direitos e
normativo liberdades que não estavam restritos aos
internacional indivíduos do país em questão. Os franceses
tiveram a pretensão de anunciar uma revolução
de direitos para o mundo.
 A concepção da comunicação, nos documentos de 1789,
1791 e 1793, está centrada na figura do emissor, o
homem que tem a liberdade de pensar e expressar suas

Discurso opiniões (1789); o homem que tem a liberdade de utilizar


meios diversos para disseminar seus pensamentos
normativo (1791); e o homem que pode, pela imprensa, manifestar

internacional seus pensamentos e opiniões (1793). O acesso à


informação, através da imprensa, livros, panfletos, enfim
dos meios impressos da época, não se faz presente em
nenhum dos documentos.
DECLARAÇÃO DE DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO DE 1789

Art. 10. Ninguém deve ser inquietado por suas opiniões, mesmo
religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública
estabelecida pela lei. Art. 11. A livre comunicação dos pensamentos e
opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo cidadão
pode pois falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia,
pelo abuso dessa liberdade nos casos determinados pela lei.
(COMPARATO, 2003, p. 155, grifo nosso, tradução do autor)
DECLARAÇÃO DE DIREITOS DA CONSTITUIÇÃO DE 1791

Título Primeiro – [...] A liberdade a todo homem de falar, escrever,


imprimir e publicar seus pensamentos, sem que os escritos possam
ser submetidos a censura ou inspeção antes de sua publicação, bem
como a liberdade de exercer o culto religioso ao qual esteja ligado; -
A liberdade aos cidadãos de se reunirem pacificamente e sem armas,
no respeito às leis de polícia; - A liberdade de dirigir, às autoridades
constituídas, petições subscritas individualmente. (COMPARATO,
2003, p. 156, grifo nosso, tradução do autor)
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO DA CONSTITUIÇÃO
DE 1793

(ANO I) Art. 7. O direito de manifestar seu pensamento e suas


opiniões, pela imprensa ou por qualquer outra via, o direito de se
reunir pacificamente e o livre exercício dos cultos não podem ser
proibidos. – A necessidade de enunciar tais direitos pressupõe a
presença ou a lembrança recente do despotismo. (COMPARATO,
2003, p. 158, grifo nosso, tradução do autor
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS E DEVERES DO HOMEM E DO CIDADÃO DA
CONSTITUIÇÃO DE 1795

(ANO III) Direitos Art. 2. A liberdade consiste em poder fazer o que


não prejudica os direitos alheios. (COMPARATO, 2003, p. 160, grifo
nosso, tradução do autor)
 (1948)13. Artigo XIX – Toda pessoa tem direito à liberdade de
Sistema Global opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem
interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
– DECLARAÇÃO informações e idéias por quaisquer meios e independente de

UNIVERSAL DOS fronteiras. (ONU, 1948 apud SÃO PAULO (Estado), 1997, p.
52, grifo nosso) Artigo XXVII – 1. Toda pessoa tem o direito
DIREITOS de participar livremente da vida cultural da comunidade, de
HUMANOS fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus
benefícios. (ONU, 1948 apud SÃO PAULO (Estado), 1997, p.
54, grifo nosso)
Sistema Global  Artigo 18

PACTO  1. Toda e qualquer pessoa tem direito à liberdade de


INTERNACIONAL pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a
liberdade de ter ou de adotar uma religião ou uma convicção da
SOBRE OS sua escolha, bem como a liberdade de manifestar a sua religião
DIREITOS CIVIS E ou a sua convicção, individualmente ou conjuntamente com
POLÍTICOS - 1966 outros, tanto em público como em privado, pelo culto,
cumprimento dos ritos, as práticas e o ensino. (ONU, 1966,
grifo nosso).
 Artigo 19 1. Ninguém pode ser inquietado pelas suas opiniões.
(ONU, 1966, grifo nosso) 2. Toda e qualquer pessoa tem direito
à liberdade de expressão; este direito compreende a liberdade
Sistema Global de procurar, receber e expandir informações e idéias de toda a
PACTO espécie, sem consideração de fronteiras, sob forma oral ou
INTERNACIONAL escrita, impressa ou artística, ou por qualquer outro meio à sua

SOBRE OS escolha. (ONU, 1966, grifo nosso) 3. O exercício das


liberdades previstas no parágrafo 2 do presente artigo comporta
DIREITOS CIVIS E deveres e responsabilidades especiais. Pode, em conseqüência,
POLÍTICOS - 1966 ser submetido a certas restrições, que devem, todavia, ser
expressamente fixadas na lei e que são necessárias: (ONU,
1966, grifo nosso) a) Ao respeito dos direitos ou da reputação
de outrem; b) À salvaguarda da segurança nacional, da ordem
pública, da saúde e da moralidade públicas.
Free flow
Tanto o Artigo XIX da Declaração de 1948, como os artigos 18 e 19
do Pacto de Direitos Civis e Políticos (1966) são usados pelas
empresas de mídia, quando existe o menor movimento no sentido de
propor regulamentações para as concessões públicas de rádio e TV,
ou mudanças na disposição dos monopólios e oligopólios de
comunicação. Esses artigos também têm sido o grande argumento
dos defensores do free flow, a livre circulação de informação, tão
aclamada pelos países desenvolvidos.
 As leis existentes de Direitos Humanos, asseguradas pelo artigo 19 da DUDH15 e
artigo 19 da Convenção (sic) Internacional sobre Direitos Civis e Políticos,
cobrem o direito fundamental à liberdade de opinião e de expressão. Isto é,
indubitavelmente, uma base essencial para o processo de diálogo entre as pessoas,
mas não se constitui como tráfego de mão dupla. É a liberdade de expressão do
mendigo que fala em uma esquina, e a quem ninguém tem que ouvir, e que pode
não estar se comunicando com ninguém. O artigo também se refere à liberdade de
ter opiniões: isto se refere às opiniões dentro da cabeça das pessoas, que podem
Leis de DUDH servir para a comunicação consigo mesmo, mas não necessariamente traz uma
obrigatoriedade de comunicação com outros. Menciona o direito de buscar
e liberdade informações e idéias: dispõe para o processo de consultar e reunir notícias, por
exemplo, o que é diferente de comunicar. Também há o direito a receber
política informação e idéias, o que é também, em princípio, um processo de mão única: o
fato de que eu possa receber quaisquer informações ou idéias que eu queira não
implica que eu esteja envolvido em um processo comunicacional. Finalmente, há
o direito a disseminar informações ou idéias: isso se refere à
disseminação/alocução que vai além da liberdade de expressão, mas os
dispositivos dos artigos tratam apenas de um processo de mão-única de transporte,
recepção, consulta e alocução, mas não do processo de mão dupla, que é a
conversação. (HAMELINK, 2005, p. 143)
 Há a possiblidade de quebras de bloqueio das super estruturas
comunicacionais na disseminação de conteúdos, entretanto, a
legislação não se ocupa disso.
Leis de DUDH
e liberdade  “Os direitos humanos não podem depender de acontecimentos
política fortuitos, não devem ficar a mercê de interpretações pessoais,
de condições naturalmente favoráveis para serem respeitados”.
(GOMES, p. 62).
 19º período de sessões (1983) Observação Peral Nº 10 Artigo
recomendação do
19 – Liberdade de opinião. 2. […] Nem todos os Estados Partes
Comitê de Direitos Humanos, têm proporcionado informação sobre todos os aspectos da
das Nações Unidas, sobre o liberdade de expressão. Por exemplo, até agora se presta pouca
artigo 19 do Pacto de Direitos atenção ao fato de que devido ao desenvolvimento dos
Civis e Políticos. modernos meios de informação pública, necessitam-se medidas
eficazes para impedir um controle de tais meios que lesione o
direito de toda pessoa a liberdade de expressão em uma forma
prevista no parágrafo 3. (ONU, 2004, p.150)
Limites nas convenções de DH
A convenção Americana, com foco na comunicação, não trouxeram maiores avanços em
relação ao seu conceito. O inciso 1, do artigo 13, é praticamente uma repetição do artigo
XIX da Declaração de 1948, apenas acrescentando exemplificações de alguns meios
possíveis de transmissão das informações. A novidade ficou por conta dos incisos 2, 4 e 5,
com relação aos conteúdos expressos nos meios e espaços de procura, recebimento e difusão
de informações e idéias. No inciso 3, há referência às restrições indiretas à liberdade de
expressão, mas que, no caso, destaca Fábio Comparato, “não se trata da liberdade de
expressão pessoal, mas sim da liberdade de atividade empresarial em matéria de imprensa,
rádio e televisão, o que é bem diferente” (COMPARATO, 2003, p. 364). Silenciou quanto
ao exercício da comunicação em uma sociedade midiática.
 18 . 39. Ao enfatizar a importância de se dispor de informações objetivas, responsáveis e
imparciais sobre questões humanitárias e de direitos humanos, a Conferência Mundial
sobre Direitos Humanos encoraja uma maior participação dos meios de comunicação de
massa nesse esforço, aos quais a legislação nacional deve garantir liberdade e proteção.

Sistema Global – (ONU, 1993 apud SÃO PAULO (Estado), 1997, p. 76, grifo nosso) II. A. 22 . A
Conferência Mundial sobre Direitos Humanos [...] para fazer frente à intolerância e
formas análogas de violência baseadas em posturas religiosas ou crenças, inclusive
práticas de discriminação contra as mulheres e a profanação de locais religiosos,

DECLARAÇÃO [...]reconhece que todos os indivíduos têm direito à liberdade de pensamento, de


consciência, de expressão e de religião [...] (ONU, 1993 apud SÃO PAULO (Estado),

E PROGRAMA 1997, p.82, grifo nosso) II. C. 67 – Deve-se enfatizar, particularmente, medidas para
estabelecer e fortalecer instituições de direitos humanos, promover uma sociedade civil
DE AÇÃO DE pluralista e proteger grupos vulneráveis [...] Igualmente importante é a assistência a ser
prestada no sentido de consolidar o Estado de Direito, promover a liberdade de expressão
VIENA (1993) e a administração da justiça e a verdadeira e efetiva participação do povo nos processos
decisórios. (ONU, 1993 apud SÃO PAULO (Estado), 1997, p. 92, grifo nosso)
 II. D. 78 – A Conferência Mundial sobre Direitos Humanos consideram a educação, o
treinamento e a informação pública na área dos direitos humanos como elementos
essenciais para promover e estabelecer relações estáveis e harmoniosas entre as
comunidades e para fomentar o entendimento mútuo, a tolerância e a paz. (SÃO PAULO
(Estado), 1997, p. 94, grifo nosso)
 Hamelink coloca que os documentos internacionais
positivaram três direitos humanos: liberdade de expressão,
acesso à informação e proteção da privacidade
Respectivamente a eles, correspondem três padrões pertinentes
aos desenvolvimentos informacionais: a disseminação, a
consulta e o registro. A ausência do quarto padrão, a
conversação, deixa excluído o direito à comunicação.
 Permitir que as pessoas falem livremente nas esquinas ameaça
menos um governo do que permitir que as pessoas se
comuniquem livremente umas com as outras. O direito à
liberdade de comunicação vai ao âmago do processo
democrático, e é muito mais radical do que o direito à liberdade
de expressão! A tentativa de ter um direito de comunicar
adotado pela comunidade internacional deverá, desta forma, ter
uma grande resistência. (HAMELINK, 2005, p. 148)

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