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Luiz Antonio
Marcuschi
ALVES, Virgínia Colares Soares Figueirêdo. A Decisão
interpretativa da fala em depoimentos judiciais. Dissertação
(Mestrado em Lingüística) - Programa de Pós-Graduação em
Letras e Lingüística da UFPE. Recife: UFPE, 1992.
(1)Projeto de Estudo da Norma Urbana Culta (NURC) que vem sendo realizado em cinco capitais do Brasil. Em Recife – Pernambuco, o NURC está sediado no
campus da UFPE, – Depto. de Letras – sob a coordenação da Profa. Dra. Maria da Piedade Moreira de Sá.
Antropologia
interpretativa -
perspectiva
fenomenológica -,
proposta por Geertz
(1973)
1. O juiz abre a sessão
2. O escrevente preenche o formulário
com os dados do processo
3. Documentação dos dados do
processo
4. O escrevente pergunta o nome
5. O depoente responde
6. O escrevente assenta
7. Documentação dos dados do
QUADRO 3 – Esquema interacional da depoente
pré-abertura: momentos (i) e (ii)
1. É parente ou inimigo de XXXX?
2. Não
3. Era parente ou inimigo de YYYY?
4. Não
5. Promete dizer a verdade do que souber ou lhe for perguntado
a respeito desse processo?
6. Prometo
7. Advirto a testemunha de que o depoimento falso prestado
perante a Justiça (.) é crime punível com reclusão de DOIS (.)
a seis anos (...) XXXX está sendo processado como autor de
homicídio simples (.) por ter no dia ((data)) por volta das vinte
e trinta horas (.) no ((nome do local)) no bairro ((nome do
bairro)) com emprego de um (..) gargalo de garrafa
assassinado YYYY o senhor assistiu a esse crime?
8. Nesse momento, o escrevente não espera que o juiz dite o
texto. O texto registrado é formulaico.
9. Aos costumes disse nada. Testemunha compromissada na
QUADRO 4– Esquema interacional dos
forma da lei, prometeu dizer a verdade do que souber e lhe for
momentos (iii) da pré-abertura (a), (b) e (c) perguntado, tendo o juiz advertido acerca dos efeitos penais
do testemunho falso. Inquirido disse:
e dos momentos (a), (b) e (c) da abertura.
1. O senhor assistiu a esse crime?
2. Não eu estava lá né (.) assisti ah: eh: só o tumulto
3. como é?
4. vi só a:: o tumulto
5. viu só o tumulto?
6. só
7. que o depoente estava nas proximidades do local da
ocorrência (( pausa, acompanhado com a vista o que
estava sendo datilografado)) mas não VIU (.) quando o
CRIme foi praticado (...) que o depoente (.) viu apenas
o tumulto (.)
8. que o DEPOENTE estava nas proximidades do local da
ocorrência, mas não viu quando o crime foi praticado;
QUADRO 5 – Esquema que o depoente viu apenas o tumulto;
Interacional da etapa II
construtiva do documento
1. Com a palavra a DEFESA ou acusação
2. A DEFESA ou acusação faz a pergunta na forma
condicional: Se o depoente...
Na estrutura P – P’ – R (A) → C, corresponde a P.
3. Caso a pergunta não seja interpretada como
impertinente, o juiz remete ao depoente. Corresponde a
P’.
4. O depoente responde. Corresponde a R.
5. O juiz dita ao escrevente o que deve ser consignado.
6. Há o registro do texto consignado.
QUADRO 6 – Esquema interacional da
etapa III
UC 1
1. -J- advirto a testemunha de que depoimento falso prestado perante a Justiça
2. (.) é crime punível com reclusão de DOIS (.) a seis anos (...) ((nome do
3. acusado)) está sendo processado como autor dce homicídio SIMples (.)
4. por ter no dia vinte e seis de setembro de mil novencentos e sessenta e
5. SEte por volta das vinte e três e trinta horas (.) no ((nome do clube) no
6. bairro((nome do bairro)) (...) com emprego de um (..)) um gargalo de
7. garrafa ASSAssinado ((nome da vítima)) (.) o sr. Assistiu a esse crime?
8. -D- não eu esta lá né (.) assisti ah: eh: só o tumulto
9. -J- como é?
10. -D- vi só a:: o tumulto
11. -J- viu só o/ tumulto?
12. -D- só
13. -J- ((CONSIGNANDO))
14. que o depoente estava nas proximidades
15. do local da ocorrência ((pausa,
16. acompanhando com a vista o que estava
17. sendo datilografado)) mas não VIU(.)
18. quando o CRIme foi praticado (...) que o
19. depoente (.) viu apenas o tumulto (.)
UC 1
TEXTO 1 TEXTO 2
1. – J – o senhor assistiu a esse crime?
2. – D – não
3. eu estava que o depoente
que o depoente estava estava
4. lá nas proximidades
nas proximidades do local dado local da ocorrência
ocorrência
5. né (.)?
6. mas não VIU (.) quando o CRIme foi
mas não
praticado (...)VIU (.) quando o CRIme foi
Informações
7. – D – assisti ah: eh: só o tumulto
praticado
((pigarro))
(...)
((pigarro))
8. -J – como é?
9. -D – vi só a::: o tumulto
10. -J – viu só o tumulto?
que o depoente (.) viu apenas o tumulto
11. -D – só * que o depoente (.) viu apenas o tumulto
UC 2
20. -J- ((virando-se para D)) depois do crime passado depois do crime quel foi o
21. comentário feito na localidade?
22. -D- bem assim me falaram que:/ eu nem sei eu tava lá né então bateram numa
23. garrafa ele ((olhando para o acusado presente)) e voltou e pediu desulpas/
24. então (.) três ou talvez até mais aí comecaram a espancar né
25. -J- espancar quem?
26. -D- ((nome do acusado))
27. -J- sim
28. -D- então ele tentou correr (.) mas só que muita gente
29. -J- sim
30. -D- aquela agitação toda (.) só/
31. -J- ((CONSIGNANDO))
32. que segundo informações dadas ao
33. depoente (.) através de terceiros (...)tu:do
34. coMEçou(.) por ter o acusado Fulano
35. ((nome)) (.) batido em uma garrafa //
36. -J- ((virando-se para D)) num é isso?
37. -D- foi sim
UC 3
38. -J- ((CONSIGNANDO))
39. o que desagradou (.)
40. -J- quem foi que achou ruim(.) a vítima o grupo que estava com a vítima ou
41. como foi? ((virando-se para D))
42. -D- como assim?
43. -J- quem foi que acou ruim tivesse que o Cicran / o Fulano ((acusado))
44. bateu com a/ bateu na garrafa?
45. -D- não assim o comentário surgiu que/
46. -J- sim sim
47. -D- aconteceu por causa dessa garrafa
48. -J- ele bateu na garrafa que estava / Fulano (acusado) estava(.) o Cicrano
49. ((vítima)) ou como é que estav isso?
50. -D- não a garrafa era do:do rapaz né então quando ele bateu ele voltou e
51. pediu desculpa (.) aí não aceitaram e começaram a espancar ele então/
52. -J- ((CONSIGNANDO)) ((vozes conversando enquanto o juizconsigna))
53. a vítima e o grupo de pessoas que com
54. ela estavam(.) que por isto(.) a vítima e
55. os demais acompanhantes da mesma(.)
56. Passaram a agredi-lo (.) a agredir
57. fisicamente Fulano ((acusado))
UC4
58. -J- Fulano ((acusado)) já estava armado com o gargalo de garrafa quando
59. começou a apanhar dos/ da vítima e dos companheiros dela?
60. -D- não (.) assim me falaram que ele não esta armado não
61. -J- sim
62. -D- justamente quando começaram a espancar a:: única coisa que ele tinha em
63. mãos foi o/ realmente foi uma garrafa que já tinha se quebrado
64. -J- ((CONSIGNANDO))
65. que(.) segundo informaram ainda ao
66. depoente(.) o acusado Fulano estava
67. deSARmado(.) quando foi espancado pela
68. Vítima e seus companheiros(...) que o
69. acusado(.) ante a ação dos seus agressores
70. (.) armou-se com um gargalo de garrafa e
71. feriu a vítima (...)
72. -J- quantos golpes Fulano deu na vítima(.) Cicrano?
73. -D- eu não cheguei a vê a cena não
UC 4
TEXTO 1 TEXTO 2
50. -J – Fulano ((acusado)) já estava armado
51. com o gargalo de garrafa quando
começou
52. a apanhar dos / da vítima e dos
companheiros dela?
que (.) segundo informaram ainda ao
53. -D – não (.) assim me falaram que (.) segundo informaram ainda ao
depoente(.)
odepoente(.)
acusado Fulano estava deSARmado
54. que ele não estava armado não (.)
o acusado Fulano esta deSARmado
(.)
55. - J – sim
56. - D- justamente quando começaram a quando foi esPANcado pela Vítima e seus companheiros (...)
espancar quando foi esPANcado pela VÍtima e seus companheiros
57. (...)
que o acusado (.) ante a ação dos seus agressores (.)
que o acusado (.) ante a ação dos seus agressores (.)
58. a::: única coisa que ele tinha em
mãos foi
armou—se com um gargalo de garrafa
59. o/ realmente foi a garrafa que já armou—se com um gargalo de garrafa
tinha se
60. quebrado *
61.
ee feriu
feriua vítima (...)
a vítima (...)
62. -J – quantos golpes Fulano deu na vítima (.)
Cicrano?
63. -D – eu não cheguei a vê a cena não
ALGUNS RESULTADOS
PRODUÇÕES VERBAIS RITUAIS constituem atos performativos na concepção de Austin
(1962). A natureza performativa é acentuada pela intensidade institucional da interação.
Portanto, advertir, impor regra discursiva, informar punição, punir estabelecer tópico
discursivo e referentes, iniciar diálogo, interromper diálogo, conceder a palavra, retirar a
palavra etc., são algumas das atividades executadas pelo juiz, em conformidade com os
códigos de processo civil e penal.
PRODUÇÕES VERBAIS CIRCUNSTANCIAIS permitem variação tópica. O processo
interativo que as propicia assemelha-se ora às circunstâncias conversacionais naturais, ora
às entrevistas (ou inquéritos).
Porém, a institucionalidade do evento na justiça intervém também nas produções
circunstanciais. As informações e episódios narrados recebem tratamento, por parte do
mediador (o juiz), que os distancia de seus conteúdos proposicionais originários. As
transformações são processadas em decorrência da rotulação, especificação e classificação
dos ‘fatos’ a partir de critérios inerentes à ideologia subjacente à instituição jurídica.
A distinção que Tannen (1989) estabelece entre ‘citação’ e ‘criação’, na pretensa ‘fala
reportada’, fundamenta a afirmação de que o registro do depoimento é fruto de decisão
interpretativa, ou seja, é uma ‘criação’.
Mesmo quando o mediador não produz inverdades, também não preserva o conteúdo do
texto-depoimento. O texto-documento provém de evento com estrutura discursiva onde há
autoria coletiva, é um texto ‘institucional’ autodirigido;
TRANSFORMAÇÕES
ORGANIZACIONAIS
(1) ESTILÍSTICAS
ESPECIFICAÇÃO DE REFERENTES
- dêiticos: - de lugar
- de tempo
DA FALA PARA A ESCRITA - Fenômenos que dizem respeito à passagem do estilo conversacional oral para
o estilo escrito (mudança na modalidade de língua), de um estilo informal passa a estilo formal, com
alyerações no léxico e na sintaxe.
(2) DIÁLOGO --> MONÓLOGO
(3) REORDENAÇÃO TÓPICA
AUSTIN, J. L. How to do things with words. Oxford: Oxford Uniyersity Press, 1962.
BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. The Social Construction of Reality: A Treatise in the Sociology of
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DANET, B. et al. An Etnography of Questioning in the Courtroom. In: SHUY R.S.; SHNUKAL A. (eds.) Language use
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DUCROT, O.; ANSCOMBRE, J. C. 1978. Leis lógicas e argumentativas. In:DUCROT, O. Provar e dizer: leis lógicas e
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HYMES, D.. The etnografs of speaking. In: GLADUIN, T. e STURTEVANT, W.C. (eds.) Anthropology and human
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Virgínia Colares
virginia.colares@unicap.br
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