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DOENÇAS RESPIRATÓRIAS RELACIONADAS AO

TRABALHO
PNEUMOCONIOSES

Prof. Joaquim Marques


PNEUMOCONIOSES
Pneumoconiose  (conio=poeira) são as doenças originadas pela inalação de pó
principalmente no ambiente de trabalho.

Termo foi criado por Zenker, em 1866, para designar um grupo de doenças crônicas
do parênquima pulmonar que se originam da exposição a poeiras fibrosantes.

Em 1971, este termo foi redefinido como sendo acúmulo de poeiras nos pulmões
associado a reação tecidual a sua presença

São excluídas dessa denominação as alterações neoplásicas, as reações de vias aéreas,


como asma, a bronquite, e o enfisema (inclui-se também as alveolites alérgicas por
exposição a poeiras orgânicas e outros agentes, a doença pulmonar pelo berílio, ou a
pneumopatia pelo cobalto, por exemplo).

Para fins práticos, no entanto, o termo pneumoconiose será utilizado para designar
genericamente todas as doenças pulmonares parenquimatosas causadas por inalação
de poeiras independente do processo fisiopatogênico envolvido.
PARTICULADOS
Partículas geradas por ruptura mecânica de
NÉVOAS líquidos
PNEUMONEFELOSE
LÍQUIDOS
Partículas geradas pela condenação de vapores
formas de aerossois NEBLINAS de substâncias líquidas a temperatura normal

Longo e fino filamento de determinado material


FIBRAS (conforme NHO-04)
AERODISPERSOIDES
Partículas formadas pela condensação/oxidação de
FUMOS vapor de substâncias sólidas a temperatura normal
SÓLIDOS

PNEUMOCONIOSES Partículas formadas pela ruptura mecânica de


POEIRAS sólidos

forma de poeiras ORGÂNICOS Aqueles que contem Carbono em sua estrutura. Ex: metano, etileno,
acetona, xileno, benzeno

Aqueles que já são ácidos ou que se tornam ácidos ao reagir com a água.
GASES E VAPORES ÁCIDOS Ex: ácido cianídrico, ácido sulfídrico

ALCALINOS Aqueles que, quando reagem com a água, formam uma solução
básica. Ex: fosfina, arsina, amônia

PNEUMOATMOSE
INERTES Aqueles que, nas CNTP, não reagem com outras substâncias químicas.
Ex: nitrogênio, CO2, metano
forma de gases
Classificação Física dos Agentes Químicos
O primeiro grande grupo é o dos materiais particulados, ou aerodispersóides. Nesse
grupo, os contaminantes são partículas sólidas ou líquidas dispersas no ar.

Particulado Líquido: Névoas e Neblinas


A névoa é uma suspensão de partículas líquidas formadas pela ruptura mecânica
de líquidos. O exemplo mais comum de névoa é aquele formado nas operações
de pintura com pistola.

Já a neblina é a suspensão de partículas líquidas formadas pela condensação do


vapor de uma substância que é líquida na temperatura normal.

É muito comum a confusão de névoa e neblina com vapor. Mesmo que o vapor


acompanhe a névoa, são distintos. Isso será fundamental quando da seleção de
filtros para os respiradores.

Fumaças são produtos complexos de materiais orgânicos carbonáceos, sendo


constituídas de gases, fumos, vapores e poeiras
Particulado Sólido: Poeiras, Fumos e Fibras
As poeiras são partículas sólidas criadas através de quebra mecânica de um
elemento sólido. Esta quebra pode ser feita de várias formas, desde uma operação
que envolva trituração ou polimento, até mesmo em cenários onde esta ruptura é
feita de forma manual. Como exemplo de atividade onde há exposição a poeiras,
podemos citar o corte de pedras (como nas marmorarias), o corte de madeira etc.
Diversas são as doenças provocadas pela exposição a poeiras. Uma das mais
conhecidas é a silicose, provocada pela exposição a sílica livre cristalina.

As fibras tem a mesma origem das partículas de poeira, diferenciando-se apenas


pelo fato de ter um formato diferente. O comprimento (L) da fibra deve ser no
mínimo 3 vezes maior que o diâmetro (d), conforme mostrado na figura abaixo:

Entre os exemplos que encontramos em nossa atividade, destaca-se a do amianto.


FUMOS

Fumos são partículas sólidas provenientes da condensação de vapores ou


resultantes de reações químicas, sendo geradas normalmente em atividades onde há a
volatização de metais fundidos, como a solda elétrica.                                                                

Os fumos, por sua vez, são partículas sólidas formadas pela condensação/oxidação


de vapores de substâncias sólidas a temperatura norma. As operações mais comuns onde
há a presença de fumos são as de soldagem e fundição. são óxidos metálicos formados a
partir do aquecimento e fusão do respectivo metal. Tamanho médio de 0,1 a 0,4 µm
Gases e Vapores
O vapor é um estado no qual a substância pode facilmente se liquefazer, ou seja,
voltar para o estado líquido, apenas se aumentarmos a pressão do sistema ou se
abaixarmos a temperatura, separadamente.
Já os gases estão em um estado fluido e para mudá-los de estado é necessário
usar esses dois processos simultaneamente (aumento da pressão e diminuição da
temperatura).
Temperatura crítica é a temperatura acima da qual a substância só pode existir na forma
de gás, pois é impossível mudar seu estado gasoso para o líquido apenas com o
aumento da pressão.
Se o contaminante, em condições normais, já estaria no estado
gasoso, estamos diante de um gás.

Se, no entanto, o contaminante é um líquido em condições


normais, sua fase gasosa será chamada de vapor.

De acordo com suas propriedades químicas, os gases e vapores


podem ser classificados, resumidamente, como orgânicos, ácidos,
alcalinos e inertes.
Por que preciso conhecer a classificação dos agentes
químicos?
Entender a classificação dos agentes químicos é fundamental
para elaborar um Programa de Proteção Respiratória adequado
e evitar erros básicos.
É muito comum encontrar um trabalhador exposto a vapores
orgânicos utilizando um respirador do tipo PFF2, por exemplo.
Deve-se sempre consultar o Certificado de Aprovação do EPI. O
equipamento aprovado apenas para proteção contra “poeiras,
névoas e fumos” (como costuma constar no CA)  não está
aprovado para proteção contra vapores orgânicos.   
     
Para isso, deve ser utilizado um filtro químico adequado. Se
houver também exposição a algum aerodispersoide, utiliza-se a
combinação de filtro químico com filtro para particulado (ou
“filtro mecânico”, como muitos chamam).
CLASSIFICAÇÃO DAS POEIRAS

FRAÇÃO INALÁVEL: diâmetro menor que 100 μm e maior que 25 μm


QUANTO AO
TAMANHO FRAÇÃO TORÁCICA: diâmetro menor do que 25 μm e maior que 10 μm

FRAÇÃO RESPIRÁVEL: diâmetro menor que 10 μm


CLASSIFICAÇÃO DAS POEIRAS

NÃO FIBRINOGÊNICA
QUANTO A REAÇÃO
TECIDUAL CAUSADA FIBRINOGÊNCIA

PATOLOGIAS RELACIONADAS COM TIPOS DE PARTÍCULAS


Particulado total – É o material particulado
PNEUMONEFELOSES – formas de aerosois suspenso no ar coletado em porta-filtro de
PNEUMOATMOSES – forma de gases poliestireno de 37 mm de diâmetro, de três
peças, com face fechada e orifício para a
PNEUMOCONIOSES – forma de poeiras Orgânica entrada do ar de 4 mm de diâmetro,
inorgânica conhecido como cassete.

Fatores que influenciam a reação pulmonar:


1.Tamanho da partícula para deposição alveolar entre 2 a 5µm;
2.Susceptibilidade individual;
3.Intensidade e duração da exposição;
4.Propriedade química da poeira e sua toxicidade.
Exemplo: siderose, baritose,
NÃO FRIBRINOGÊNICAS pneumoconiose por carvão vegeta e
rocha fosfáltica

PNEUMOCONIOSES

Exemplo: silicose e asbestose


FIBRINOGÊNICAS
Ocupações de risco:- Indústria extrativa mineral: mineração
subterrânea e de superfície;
- Beneficiamento de minerais: corte de
pedras, britagem, moagem e lapidação;
- Indústria de transformação:
cerâmicas, fundições ( que utilizam areia no processo ),
vidro, abrasivos, marmorarias, corte e polimento de granito,
cosméticos;
- Atividades mistas: protéticos,
cavadores de poços, jateadores de areia.
RESPOSTA PULMONAR A AGENTES AGRESSORES
HISTOLOGIA BRÔNQUICA
a) Células ciliadas – especializadas e encontrada em segmentos proximais
b) Células mucossecretoras – secreção de mucina com propriedade viscoelástica.
c) Células serosas – presentes na superfície epitelial quanto nas glândulas de lâmina própria –
IgA
d) Células Claras –frequente nos segmentos distais – ativação de vias inflamatórias
e) Células neuroendócrinas – engloba macromoléculas
f) Células do sistema imune

MECANISMOS DE DEFESA DAS VIAS AÉREAS


a) Tosse
b) Broncoconstrição
c) Secreção de muco e outras substâncias
d) Transporte mucociliar
e) Defesa imune
f) Ativação de células inflamatórias
SILICOSE
Trata-se de uma pneumoconiose (doenças pulmonares causadas pelo acúmulo de poeira
nos pulmões) causada pela inalação de partículas de sílica.

Espécies Espécies
reativas de reativas de
oxigênio - Nitrogênio -
ROS RNS
Note a endocitose da partícula de silica pelo macrófago, com consequente liberação de
metaloproteinases (MMPs), oxidantes, fator transformador de crescimento (TGF)-b,
interleucina (IL)-1b e fator de necrose tumoral (TNF)-a, que estão relacionados com a
ativação do fator nuclear (NF)-kB. IL-1b, TNF-a e TGF-b estão envolvidos no processo de
fibrose pulmonar. O macrófago também pode entrar em apoptose. Os linfócitos T podem
liberar IL-4 e IL-13, que atuam na ativação e proliferação de fibroblastos, contribuindo,
também, para a fibrose pulmonar. O interferon (IFN)-g inibe a proliferação de fibroblastos e
antagoniza a atividade fibrogênica.
SÍLICA E TUBERCULOSE
ASBESTOSE
O asbesto é o nome dado a uma família de
silicatos fibrosos hidratados de magnésio
flexível presente na natureza, conhecido há
milhares de anos. Tornou-se muito empregado
industrialmente, a partir da Revolução
Industrial (séc. XVIII) e, principalmente, no
início do século passado

Numerosos estudos do início do século


XXI, demonstraram a elevada toxicidade
do asbesto, tornando-a uma importante
doença ocupacional. Além da fibrose
pulmonar, a asbestose é a principal causa
ocupacional de câncer de pulmão e de
pleura (mesotelioma).
Existem três tipos principais de amianto:
Crocidolite – Amianto azul A forma mais utilizada no mundo é a crisotila (mais de
95% do consumo), extraída de rocha serpentina e, em
Amosita - amianto marrom menor proporção, aquelas classificadas como
anfibólios: crocidolita, amosita, antofilita e tremolita. 
Crisotila - amianto branco.
O tipo mais comum de amianto para uso industrial foi o amianto crisotila branco.
Amosite e crocidolita foram proibidos na década de 1980, apesar de proibições
voluntárias sobre o uso industrial de ambos os materiais, entrou em vigor mais
cedo do que isso. A crocidolita não foi importada para o Reino Unido depois de
1970. Crisotila não foi proibido até 1999. Há ainda grandes quantidades de todos
os tipos de amianto presentes em edifícios antigos.
Ocupações particularmente associados com a exposição ao amianto incluem:
Trabalhadores de isolamento
Caldeireiros
Encanadores, encanadores e steamfitters
Trabalhadores do estaleiro
Trabalhadores de metal de folha
Estucadores
Técnicos químicos 
Aquecimento, ar-condicionado e refrigeração mecânica.
A asbestose é comumente difusa e bilateral,
tendo início nos segmentos inferiores, dorsais e
periféricos dos pulmões. Pode ocorrer com ou
sem espessamento pleural associado. 

As manifestações clínicas podem estar ausentes na fase inicial (a maioria dos pacientes é
assintomática por 20 a 30 anos após exposição inicial), evoluindo para instalação insidiosa
de dispneia progressiva aos esforços.

Com a progressão da doença, o paciente pode apresentar tosse seca, estertores crepitantes
bibasais e alterações da função pulmonar, que podem ser restritivas, mistas ou, com
menor frequência, iniciadas com obstrução isolada, e pode apresentar diminuição da
capacidade de difusão. 

Nas fases finais do adoecimento, observa-se hipoxemia, baqueteamento digital, malignidade


e cor pulmonale, com evolução para o óbito. 
Diagnóstico de asbestose
O diagnóstico de asbestose varia em conformidade com os países, porém o maior consenso
da estreita literatura sobre o tema considera:
•Evidências de exposição ao asbesto: história de exposição ao asbesto com latência
plausível, e/ou marcadores de exposição (ex. placas pleurais), e/ou encontro de corpos de
asbesto ou fibras no tecido ou lavado broncoalveolar.
•Evidências de alterações estruturais demonstradas por um dos métodos: imagem
(radiografia de tórax ou TC de tórax) ou alterações histológicas.
•Ausência de outras causas de fibrose difusa: por exemplo, as colagenosas, pneumonite
por hipersensibilidade crônica.

A TC de tórax só é recomendada quando há


dúvida diagnóstica no exame radiográfico
inicial. 

Diagnóstico diferencial
A asbestose em um estágio evolutivo avançado é de difícil distinção da fibrose pulmonar
idiopática, seu principal diagnóstico diferencial. Todavia, a presença de placas pleurais
(em 80% dos casos de asbestose), linhas subpleurais, bandas parenquimatosas, pontilhado
intralobular subpleural e perfusão em mosaico são mais prevalentes na asbestose. 
ASBESTO
COMPLICAÇÕES PULMONARES
 PARÊNQUIMA
•Pesquisa de corpos de
fibrose asbestos
neoplasias
(CAbs): coletado em
 PLEURA escarro induzido ou
derrame lavado broncoalveolar,
espessamento
placas em que o encontro de
neoplasias mais de 1 CAbs/mL
espiculada sugere exposição elevada;
serpentínica

HISTOPATOLÓGICO
•Biópsia de pulmão: na qual o
achado de fibrose e a visualização
pela microscopia de fibras isoladas de
asbesto por campo, contribuem ao
diagnóstico.
ASBESTOSE
ASPECTOS RADIOGRÁFICOS

infiltrado placa

fibrose derrame
ASBESTOSE
PLACAS PLEURAIS
ASBESTOSE – PLACA HIALINA
ASBESTOSE – PLACA PLEURAL CALCIFICADA
MESOTELIOMA PLEURAL MALIGNO
Tratamento de asbestose
Não há tratamento específico para a asbestose, o que torna demasiadamente importante a
detecção precoce dos casos para que se possa recomendar o manejo com medidas preventivas
e de suporte, como:
•cessação ao tabagismo;
•evitar reexposição;
•oxigenoterapia, se necessário;
•tratamento adequado de infecções respiratórias;
•cartão vacinal atualizado: pneumococo e influenza (risco de descompensação da função
pulmonar limítrofe).

Prognóstico
Indivíduos com asbestose ou aqueles com exposição relevante ao asbesto devem ser
informados quanto à possibilidade de progressão ou manifestação da doença, sua interação
com o tabagismo e o aumento do risco de câncer de pulmão e de mesotelioma.
Além disso, recomenda-se o acompanhamento com radiografia de tórax e provas de função
respiratória a cada 3 a 5 anos ou antes, caso apareçam sintomas. 
PULMÃO DOS MINERADORES DE CARVÃO
NÓDULOS DE CAPLAN
PNEUMOCONIOSES NÃO FIBRINOGÊNICA
Doença pulmonar causada pela exposição de poeiras com baixo
potencial fibrinogênico ou inerte.

Acometidos por
História ocupacional a exposição
SIDEROSE a poeira não fibrinogênica
BARITOSE MÉTODO História clínica – sintomas
ESTANHOSE DIAGNÓSTICO geralmente ausentes
PNEUMOCONIOSE DO CARVÃO
Diagnóstico – radiografia de tórax
SINTOMAS –dispneia aos esforços
Acúmulo de macrófagos carregados de particulados
ACHADOS MICROSCÓPICOS E Opacidade nodulares
HISTOLÓGICOS Poucas fibras colágenas
Fibras de reticulina
BISSINOSE
Parte de grupode doenças (Schilling I) e ocorre devido à exposição a poeira orgânica do
algodão, linho, cânhamo ou siisal, comum nas indústria têxtil. Pode cursar com tose e
escarro quando associado ao um quadro de bronquite crônica. Não há tratamento
específico

BAGAÇOSE
Trabalhadores expostos à cana-de-açúcar podem desenvolver um tipo específico de
pneumonite de hipersensibilidade, denominada bagaçose, devido a exposição à
bactéria Thermopolyspora polyspora, presente no bagaço do vegetal.
Há dispnéia, sibilo, febre, tosse seca e mal-estar.
Tratamento – afastamento do trabalho e corticoterapia

SIDEROSE

Exposição ocupacional à poeira de ferro presente em minas de ferro. Pode se


manisfestar com alterações da função pulmonar. Não há tratamento específico
PNEUMOCONIOSE DOS MINEIROS DE CARVÃO

O carvão mineral é uma rocha sedimentar e, diferentemente do carvão vegetal, é


obtido do solo através da mineração. O particulado de sua extração pode provocar
pneumoconiose dos mineiros do carvão.

SÍNDROME DE CAPLAN
Ocorre em trabalhadores expostos a poeira de carvão mineral caracterizado
por acometimento pulmonar em portadores de artrite reumatóide,
manifestando radiologicamente como múltiplos nódulos grandes
MUITO OBRIGADO!

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