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CASO MARIA EDUARDA

Rodrigo Nikobin
Christina Fornazari
RESUMO DO CASO
• Em 16 de dezembro de 2019, o casal Wallace e Abgail Cypriano deu à luz a Maria Eduarda
Cypriano.

• Em 3 de fevereiro de 2020, Abgail Cypriano faleceu aos 32 anos, deixando marido e filha.

• Ainda em fevereiro de 2020, Wallace teria deixado o emprego e impedido o contato entre a avó
(mãe de sua falecida esposa) e Maria Eduarda por 6 meses. Nesse período, Wallace teria sido
“acolhido por um casal de pastores da igreja que frequentava”, com quem ele e Maria Eduarda
moraram “por três meses, até que alugasse um apartamento para que ele e a menina morassem.”

• Quando as visitas foram reestabelecidas (em torno de julho/agosto de 2020), Wallace passou a
permitir a visita da avó somente uma vez ao mês, sob a alegação de “que não tinha tempo”.
Durante essas visitas, a avó afirma que Maria Eduarda “estava bem vestida, de banho tomado,
bem nutrida e mostrava apreço pelo pai” e que a criança não aparentava “ hematomas ou qualquer
outro indício de violência.” Relata a avó que nessas ocasiões “levava roupa, comida, remédios e
outros mantimentos.”
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RESUMO DO CASO
• No final de abril de 2023, Wallace teria deixado de responder as mensagens da avó por
WhatsApp.

• No mês seguinte, “depois de 15 dias sem resposta e 2 meses sem ver a neta, a avó requereu a Vara
da Infância e Juventude de Rio Claro, SP a regulamentação da visita. Naquele mesmo mês, a
medida foi deferida, tendo sido expedido um mandado comunicando Wallace da decisão. O
mandado foi entregue por oficial de justiça a Wallace, que teria pedido para deixar a “intimação
embaixo da porta e [falado] com voz muito baixa.”

• A avó, então, requereu à Vara da Infância e Juventude que a sua visita fosse acompanhada de um
oficial de justiça e, se necessário, autorização para arrombamento do imóvel com auxílio de força
policial.

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RESUMO DO CASO
• Em 2 de junho de 2023, dia designado para a visita, a avó compareceu ao apartamento de Wallace
acompanhada de sua advogada, oficiais de justiça, conselheiros tutelares, e oficiais da Guarda
Municipal de Rio Claro.

• Wallace não atendeu a campainha, o que teria levado ao contato de outra unidade do condomínio
para que o portão fosse aberto e as autoridades ingressassem no prédio.

• Segundo o guarda municipal que atendeu a ocorrência:

“Maria Eduarda estava deitada na cama e sequer conseguia se comunicar. A criança estava desnutrida, com
ossos esqueléticos à mostra. O pai da criança, Wallace, também estava muito debilitado. No apartamento
não tinha qualquer alimentação. O próprio Wallace nos disse que ele e a criança não se alimentam há 40
dias e que não procurou ajuda, em virtude de não ter qualquer familiar próximo. Disse ainda que iria ficar
naquele local sem alimentação até ambos morrerem.”

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RESUMO DO CASO
• Segundo a oficial de justiça que acompanhou a diligência:

“Vimos Maria Eduarda saindo de um cobertor, em um colchão que estava no chão, engatinhando, de fralda
e com cabelo bem comprido sem corte e sem cuidado. Maria Eduarda estava extremamente magra. Neste
ato, o Conselheiro já pegou a criança e a embrulhou em um cobertor. WALLACE neste momento estava
sentado no sofá, verifiquei que ele andava devagar, parecia estar com fraqueza, mas não estava esquelético,
ele estava magro mas aparentava estar a menos dias sem comer, comparando com Maria Eduarda que
apresentava um estado de desnutrição. Verificamos que na cozinha não havia alimentos, nem água, era
água da torneira. Eu só verifiquei um pacote de sal. Notei uma coisa que achei bastante estranha, em cima
da mesa havia um caderno com uma lista de compras escrita de uma forma que considero anormal,
palavras uma atrás das outras, sem espaço, como se a pessoa tivesse escrito compulsivamente aquilo, com
a mesma letra e a mesma caneta, era uma lista de supermercado, escrito nomes de produtos, como por
exemplo, tomate, carne, fralda.”

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RESUMO DO CASO

[...]

“A casa estava extremamente mal cheirosa, eu não conseguia ficar dentro da residência, pois, o odor era
muito forte. Ele relatou que não tomava banho. O lixo do banheiro estava transbordando de fraldas sujas e
com cheiro muito forte. Questionamos sobre a alimentação deles e ele nos informou que não tinha dinheiro
para comprar comida. WALLACE só respondia o que a gente perguntava, não me pareceu estar fora de si.
Ele dizia coisas que faziam sentido, como por exemplo, "não comprei alimentos pois eu não tinha
dinheiro". Maria Eduarda estava deitada na cama e sequer conseguia se comunicar.”

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RESUMO DO CASO

A Polícia Técnico-Científica foi comunicada e se deslocou ao local para elaborar laudo pericial, teve
que teve por objetivo descrever e fotografar os indícios de maus-tratos.

“Na sala foi observado um colchão de casal ao solo, desprovido de lençol ou cobertor, e com duas
almofadas sobre o mesmo; um sofá; brinquedos ao solo; e uma mesa de jantar sobre a qual havia uma lista
de compras (anexos fotográficos 2 ao 4). A referida lista estava a manuscrito e continha descrição de itens
alimentícios, de higiene, de limpeza, de vestuário, aparelhos eletrônicos, automóvel, arma de fogo e
dinheiro (anexos fotográficos 29 ao 34). Na cozinha não havia geladeira. Os armários estavam com poucos
itens, dentre os quais: sal, café, óleo, vinagre, um pacote de fralda aberto, alguns produtos de limpeza e de
higiene – xampu, condicionador, desodorante, pasta de dente, absorvente íntimo e buchas (anexos
fotográficos 5 ao 12). No cômodo situado na região posterior esquerda havia uma geladeira vazia e
desligada, carrinho e cadeirinha infantis, uma cadeira, além de cama e armário de madeira que estavam
desmontados (anexos fotográficos 13 e 14). (...) Nas paredes do imóvel havia rabiscos e uma frase escrita
em três pontos diferentes do apartamento. Tal frase estava parcialmente legível, tendo sido escrita com tinta
de cor azul e parte riscada com tinta de cor preta. Utilizando métodos de edição de imagem (ampliação,
alteração de contraste e ocultação dos rabiscos com tinta de cor preta) pôde-se ler: “SER REVELADO E
NADA MAIS” (anexos fotográficos 27 e 28).”
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Frase parcialmente legível, escrita em três diferentes pontos da parede do
apartamento examinado. Após edição de imagem, foi possível ler a inscrição abaixo
dos rabiscos: “SER REVELADO E NADA MAIS!”. 8
RESUMO DO CASO

• Maria Eduarda foi socorrida e encaminhada para UPA do Bairro Cherveson. Wallace recebeu
atendimento e foi preso em flagrante delito indiciado por maus-tratos.

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OUTRAS INFORMAÇÕES RELEVANTES
• Natural de Rio Claro (SP), 36A, Pardo, Viúvo, 2º Grau Completo, Desempregado, Sem antecedentes.
• Descrito por amigos e familiares como um homem que desde criança teve dificuldades para socializar-se e
demonstrar seus sentimentos. Colegas da igreja e do trabalho afirmam que ele falava pouco e só se sentia à
vontade com sua esposa, com quem se casou em 2014*
• Abriu uma MEI em 2016 (objeto social: fabricação de artefatos têxteis para uso doméstico).*
• O contrato de aluguel do apartamento foi assinado em 10.02.2020, uma semana após a morte de Abgail
Cypriano (esposa falecida de Wallace e mãe de Maria Eduarda).*
• Mãe de Wallace faleceu em dezembro de 2021 vítima de um câncer. Ele não foi ao velório e se recusou a
participar do processo de inventário, a fim de repartir a herança entre ele e seus dois irmãos.*
• Passou num concurso público em 2019 (agente de telecomunicações) e foi convocado para assumir o cargo
em outubro de 2022.*
• Apartamento era composto por sala, cozinha, banheiro, lavanderia, e dois quartos. O valor do aluguel era de
aprox. R$ 750,00 e deixou de ser pago em novembro de 2022 (i.e., 7 meses antes da ocorrência).
• Trabalhava como vendedor em uma loja de aparelhos eletrônicos, conseguiu uma licença paternidade de 90
dias, mas nunca voltou ao serviço. Segundo seu ex-chefe, ele nem sequer foi ao estabelecimento para receber
o pagamento.

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INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

Avó: “Ele também estava bem desnutrido, mas não cheguei a ver. Nunca tive problemas com ele, mas ele entrou
numa depressão profunda depois que do falecimento da esposa e privou Maria Eduarda de contato até com os
familiares dele”.
Oficial de justiça: “Eu saí de lá com raiva, mas esse rapaz está doente, ele precisa de tratamento”.
Após a liberação da prisão cautelar, Wallace continua recusando o contato e a ajuda de amigos e familiares
“Não preciso de ajuda”. Pessoas próximas afirmam que ele tem problemas sérios de depressão e temem pela
vida dele.

20XX Apresentação 11
MAUS TRATOS

Código Penal - Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940

Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de
educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer
sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:

Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.

§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:


Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.

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HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS

• Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos (CID F32.3)


• Esquizofrenia ou outras Psicoses (CID 10 F20/F29)
• Ausência de transtorno mental

20XX Apresentação 13
DESDOBRAMENTO 1

IMPUTABILIDADE

Incidente de Insanidade Mental

Perícia Psiquiátrica:

• Diagnosticar doença mental e estabelecer nexo causal com a infração


• Verificar presença de entendimento: Capacidade do indivíduo de compreender/saber natureza e as
consequências do ato ilícito.
• Verificar autodeterminação: Componente volitivo (vontade) da ação. Possibilidade de decidir praticar ou
não determinado ato ilícito

20XX Apresentação 14
DESDOBRAMENTO 1

(INIMPUTÁVEIS)  Medida de Segurança

(SEMI-IMPUTÁVEIS)  Medida de Segurança ou redução da pena.

Art 96 (CP)- as medidas de segurança são:


I- internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou , à falta, em outro estabelecimento
adequado.
II- sujeição a tratamento ambulatorial.”

20XX Apresentação 15
DESDOBRAMENTO 2

GUARDA E TUTELA DA MENOR

Direito de família

Perícia Psiquiátrica
A existência de um transtorno mental priva a capacidade de Wallace de exercer a guarda, os cuidados
da filha, ou oferece risco a ela?

20XX Apresentação
DESDOBRAMENTO 3
INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA INVOLUNTÁRIA
Lei 10.216/2001

RESOLUÇÃO CFM nº 2.057/2013

Art. 31. O paciente com doença mental somente poderá ser internado involuntariamente se, em função
de sua doença, apresentar uma das seguintes condições, inclusive para aquelas situações definidas como
emergência médica:
I – Incapacidade grave de autocuidados. 
II – Risco de vida ou de prejuízos graves à saúde.
III – Risco de autoagressão ou de heteroagressão.
IV – Risco de prejuízo moral ou patrimonial.
V – Risco de agressão à ordem pública.

20XX Apresentação 17
DESDOBRAMENTO 3

INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA INVOLUNTÁRIA

Transtorno mental 
+
Risco decorrente
+
Prejuízo do discernimento sobre
a doença e suas consequências

 O comportamento deve ser claramente atribuível a um transtorno mental.


 Na presença de indicação e ausência de internação/tratamento psiquiátrico: vulnerabilidade social, exposição
a violência e prisão.
20XX Apresentação 18

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