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DESENVOLVIMENTO COMO LIBERDADE

AMARTYA SEN

CAPÍTULO 05: MERCADOS, ESTADO E OPORTUNIDADE SOCIAL


Considerações Iniciais

Sobre o Autor:
Amartya Sen: Nasceu na Índia em 1933; professor de
economia e filosofia; vencedor do Nobel de Economia de
1998;
Trabalhos voltados a problemas sociais, como a pobreza,
fome, subdesenvolvimento humano, desigualdade de
gênero: Teorias do Bem Estar social e da Escolha Social.
Conceito de “pobreza multidimensional”: PARA ALÉM DA
PRIVAÇÃO MATERIAL.
 1.2. Sobre a obra
Ano da Obra 1999
Objetivo: Priorizar a visão de justiça
social, e, por conseguinte, das liberdades
humanas à frente da economia.
Leitor do Adam Smith:”(...)pois este livro
serve-se intensamente das análises
smithianas”(p.10)
MERCADOS, ESTADO E OPORTUNIDADE SOCIAL
O capitulo destaca a evolução de perspectivas sobre
os mercados na vida econômica. No passado,
críticas eram comuns, propondo alternativas sem
avaliar completamente suas consequências.
Atualmente, há uma tendência a aceitar
incondicionalmente os mercados, considerando
qualquer crítica como antiquada. O autor defende a
necessidade de examinar criticamente os
preconceitos atuais, reconhecendo méritos nos
mercados, mas também alertando contra a
ressurreição de erros do passado, enfatizando a
importância de encontrar um equilíbrio sensato.
1 - MERCADO, LIBERDADE E TRABALHO
Neste tópico, o autor aborda a importância da liberdade
nos mercados, especialmente no contexto do trabalho.
Destaca que, embora os benefícios econômicos dos
mercados sejam reconhecidos, a ênfase recai na liberdade
fundamental de realizar transações e resultados que ele
produz. A negação dessa liberdade é considerada uma
falha social significativa. O autor destaca exemplos, como
a privação decorrente da escravidão e da adscrição de
trabalhadores, problemas relacionados ao trabalho infantil
e restrições à liberdade das mulheres para procurar
emprego. Enfatiza a necessidade de examinar essas
questões além dos resultados econômicos, reconhecendo a
complementaridade entre as liberdades de diferentes
instituições.
2 - MERCADOS E EFICIÊNCIA
Neste tópico, o autor explora a eficiência dos mercados
(Análise do resultado), destacando a importância de
considerar diferentes formas de mercado, como competitivos
ou monopolistas. Introduz o conceito de eficiência
econômica, definido tradicionalmente pela "optimalidade de
Pareto", onde a utilidade de uma pessoa não pode aumentar
sem reduzir a de outra. Aborda o teorema de Arrow-Debreu,
que destaca a eficiência do mecanismo de mercado na
ausência de imperfeições (Equilibrio Walsariano). O autor
questiona se a eficiência pode ser avaliada em termos de
liberdades individuais, destacando a complementaridade
entre liberdades e as limitações do modelo baseado no
egoísmo. Explora a viabilidade de estabelecer resultados de
eficiência focando nas liberdades substantivas das pessoas,
independentemente de suas motivações.
3 - ACOPLAMENTO DE DESVANTAGENS E
DESIGUALDADE DE LIBERDADE
O tópico explora a extensão do resultado de eficiência de mercado
para a perspectiva das liberdades substantivas. Destaca que,
embora a eficiência possa ser alcançada, os resultados não
abordam a equidade na distribuição de liberdades. Analisa a
ampliação do problema quando se considera o "acoplamento" entre
desigualdade de renda e desigualdade na conversão de renda em
capacidades. Exemplifica como as desvantagens podem impedir
não apenas a obtenção de renda, mas também a conversão eficaz
dessa renda em uma boa qualidade de vida. Propõe a necessidade
de lidar simultaneamente com eficiência e equidade,
especialmente ao abordar privações e pobreza, destacando o
papel da intervenção social e sistemas de seguridade social.
Sublinha a importância de considerar simultaneamente objetivos
distintos, como eficiência e equidade, para alcançar prioridades
sociais globais.
4. MERCADO E GRUPOS DE INTERESSE
Este tópico aborda o papel dos mercados, destacando que seu
funcionamento depende não apenas do que podem fazer, mas do
que é permitido. Examina a influência de interesses
estabelecidos, que podem buscar restringir os mercados se forem
politicamente poderosos. Alerta sobre o problema quando
unidades monopolistas prosperam, prejudicando a eficiência e
beneficiando grupos influentes. Adam Smith lamentava os
interesses que limitavam os mercados na Grã-Bretanha do século
XVIII. Discute como restrições pré-capitalistas prejudicam
economias em desenvolvimento e até mesmo países socialistas.
Destaca a importância de enfrentar criticamente argumentos
intelectuais que defendem restrições à concorrência, propondo a
análise imparcial dos interesses envolvidos. Conclui enfatizando
que a liberdade política, incluindo a liberdade de discussão
pública, é essencial para superar influências prejudiciais aos
mercados e promover o interesse público.
5 – NECESSIDADE DE EXAME CRITICO DO
PAPEL DOS MERCADOS
O tópico destaca a importância do exame crítico na formulação de
políticas públicas relacionadas ao papel dos mercados. Menciona a
postura de Adam Smith, que, apesar de defender os mercados,
reconhecia circunstâncias em que restrições específicas seriam
sensatas. Examina o exemplo da regulação das taxas de juros,
citando a visão de Smith sobre o impacto de "perdulários e
empresários imprudentes". Destaca a preocupação de Smith com o
desperdício social decorrente de empreendimentos mal orientados.
Observa que o temor de perda social nas buscas privadas do lucro
permanece relevante, especialmente em situações como poluição
ambiental. Conclui enfatizando a necessidade contínua de uma
avaliação crítica das consequências reais das transações de
mercado, considerando as circunstâncias contingentes e evitando
conclusões generalizadas.
6 – NECESSIDADE DE UMA ABORDAGEM MULTIPLA
O tópico destaca a necessidade de uma abordagem multifacetada
para o desenvolvimento, equilibrando o papel do governo e o
funcionamento dos mercados. Refere-se à importância de uma
"estrutura de desenvolvimento ampla", rejeitando soluções únicas e
destacando a complexidade do processo de desenvolvimento.
Aponta a dificuldade em promover abordagens mais amplas em
comparação com reformas focadas em objetivos específicos.
Exemplifica com a ênfase de Manmohan Singh na "liberalização" na
Índia em 1991, destacando a complementaridade entre reduzir a
atividade excessiva do Estado e expandir oportunidades sociais.
Salienta que a combinação do uso dos mercados com o
desenvolvimento de oportunidades sociais faz parte de uma
abordagem mais ampla que inclui diversas liberdades instrumentais,
como direitos democráticos e garantias de segurança. Conclui
ressaltando a importância de identificar e considerar as diversas
liberdades em contextos específicos.
7 – INTERDEPENDENCIA E BENS PUBLICOS
O texto aborda a limitação do mecanismo de mercado na provisão
de "bens públicos", destacando que nem tudo pode ser comprado e
vendido no mercado. Exemplifica com bens públicos como
proteção contra malária, educação básica e serviços de saúde, que
são consumidos coletivamente. Aponta que a base racional do
mecanismo de mercado está voltada para bens privados, não
considerando completamente os bens públicos. Argumenta que há
razões para a provisão de bens públicos além do que os mercados
privados promoveriam, citando exemplos como defesa,
policiamento e proteção ambiental. Destaca a necessidade de
atividades cooperativas e a provisão pelo Estado em áreas como
educação. Conclui que o argumento dos "bens públicos" suplementa
as razões para a provisão social, considerando eficiência e
equidade na oferta de serviços públicos.
8 – INCENTIVOS, CAPACIDADES E FUNCIONAMENTOS
O texto aborda os contra-argumentos relacionados aos gastos
públicos em áreas cruciais para o desenvolvimento econômico.
Destaca o ônus fiscal do dispêndio público, enfatizando
preocupações sobre déficits orçamentários e inflação. Aborda
também os desafios relacionados aos incentivos, discutindo como
transferências puras, como a redistribuição de renda ou serviços
públicos gratuitos, podem impactar os incentivos econômicos.
Examina o exemplo do seguro-desemprego, argumentando que,
apesar das preocupações sobre desincentivos, o efeito real pode
variar. Conclui que é essencial abordar essas questões para
equilibrar equidade e eficiência na formulação de políticas
públicas, reconhecendo a necessidade de lidar com problemas de
incentivo, especialmente em contextos de recursos econômicos
limitados.
9 – DIRECIONAMENTO PARA UM PÚBLICO ALVO
O tópico explora a decisão de direcionar políticas para combater
deficiências de capacidade em vez de renda. Destaca a
necessidade contínua de avaliar a pobreza econômica dos
beneficiários, abordando questões de distribuição e teste de
meios. Examina o desafio de testar com precisão os meios,
considerando a dificuldade de avaliar tanto a deficiência de
capacidades quanto as condições econômicas.
Discute as seguintes distorções potenciais:
- distorção de informação (falsa);
- Distorção de incentivo (seguro);
- desutilidade e estigma (respeito próprio – J. Rawls);
- custos administrativos, perda invasiva e corrupção;
- sustentabilidade política e qualidade (disputa).
Enfatiza que o direcionamento para um público-alvo, embora tenha
vantagens, apresenta desafios significativos que precisam ser
abordados para evitar confusão e efeitos de desincentivo.
10 – CONDIÇÃO DE AGENTE E BASE
INFORMACIONAL
O tópico destaca a necessidade de soluções conciliatórias ao
discutir o teste de meios, enfatizando a importância de
considerar as circunstâncias específicas. Aborda a condição de
agente, defendendo a visão das pessoas como agentes ativos, e
explora o enfoque informacional na privação de capacidades em
vez da pobreza de renda. Destaca a relevância da identificação
direta de deficiências de capacidades no direcionamento de
políticas para um público-alvo, facilitando a tarefa
informacional na provisão pública. O texto enfatiza a
necessidade de uma abordagem sensível às características da
sociedade e destaca como o enfoque informacional contribui
para essa abordagem.
11– PRUDÊNCIA FINANCEIRA E NECESSIDADE DE
INTEGRAÇÃO
O tópico aborda a questão da prudência financeira,
destacando a importância de comedimento nas finanças em
resposta aos efeitos danosos da inflação excessiva e
instabilidade econômica. Examina o papel do comedimento
financeiro, não apenas como "viver nos limites dos próprios
recursos", mas como uma resposta à necessidade de
estabilidade macroeconômica, particularmente a ausência
de pressão inflacionária grave. O texto destaca que o
verdadeiro problema não é se um Estado pode gastar mais
do que ganha, mas sim os efeitos do excesso de dispêndio
financeiro, especialmente relacionados à inflação.
Argumenta que a estabilidade de preços é crucial para
evitar impactos negativos sobre o crescimento econômico.
Michael Bruno é citado para fornecer evidências dos efeitos
perniciosos da inflação e ressalta a importância de manter a
inflação baixa. Além disso, o texto distingue entre a necessidade
de reduzir déficits orçamentários em países com grandes
problemas e o extremismo de eliminar totalmente os déficits,
enfatizando a importância de avaliar os custos sociais envolvidos.
Observa que a Europa pode priorizar a prevenção da inflação em
detrimento do desemprego, enquanto nos Estados Unidos e em
outros lugares, questões como seguro-saúde e analfabetismo
podem ter prioridade. Em última análise, o texto destaca que a
prudência financeira deve ser interpretada à luz dos objetivos
globais da política pública, que pode variar em contextos
específicos, enfatizando a necessidade de avaliação comparativa
de diferentes campos de dispêndio público.
OBSERVAÇÕES FINAIS
o texto destaca a importância das instituições na vida dos indivíduos, enfatizando que as
oportunidades e perspectivas dependem crucialmente de como essas instituições existem e
funcionam. Propõe uma avaliação institucional sistemática, considerando conjuntamente diferentes
instituições e examinando sua complementaridade. O mecanismo de mercado é reconhecido como
um sistema básico para interações mutuamente vantajosas, mas o texto destaca que seus problemas
geralmente derivam de outras fontes, como despreparo para transações de mercado ou uso não
regulamentado de atividades que beneficiam os poderosos. A solução proposta não é suprimir os
mercados, mas permitir que funcionem melhor com maior equidade. O texto ressalta a importância
da provisão de oportunidades sociais básicas, como educação e serviços de saúde, para possibilitar o
compartilhamento efetivo das oportunidades oferecidas pelo mercado. Destaca a necessidade de
ação pública cuidadosa e resoluta, especialmente nos países em desenvolvimento, para criar
oportunidades sociais e permitir que a população participe do processo de expansão econômica.
Além disso, o texto questiona a crença subjacente de que o desenvolvimento humano é um luxo que
apenas países mais ricos podem bancar, usando exemplos do sucesso econômico de economias do
Leste Asiático que priorizaram cedo a expansão da educação e serviços de saúde.
Ao abordar o desenvolvimento humano, destaca os benefícios além da melhora direta da qualidade
de vida, incluindo a influência positiva sobre as habilidades produtivas das pessoas e, portanto, sobre
o crescimento econômico compartilhado. Reforça a importância da educação, especialmente para as
mulheres, na redução das taxas de fecundidade, e questiona ceticismo em relação ao
desenvolvimento humano, destacando seus benefícios evidentes. Finalmente, conclui que o
comedimento financeiro deve questionar o uso de recursos públicos em finalidades com benefícios
sociais não claros, como os gastos excessivos com poderio bélico em detrimento de investimentos em
educação e saúde. O texto encoraja um exame pragmático e receptivo de reivindicações
concorrentes dos fundos sociais.

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