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Minicurso de Literatura Infantil

2017
Literatura Infantil Brasileira: conceitos,
características, origens e novas perspectivas
(ARROYO, 2011; COELHO, 2010; GREGORIN FILHO, 2009)
Grande questão-problema:
Literatura Infantil é apenas um
instrumento pedagógico ou é
literatura e, consequentemente,
arte?
A literatura infantil é, antes de tudo,
literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de
criatividade que representa o mundo, o
homem, a vida através da palavra. Funde
sonhos e a vida prática, o imaginário e o
real, os ideais e sua possível/impossível
realização...
Nelly Novaes Coelho
CONCEITOS:
1. Literatura Infantil é arte.
2. Literatura Infantil é subgênero literário.
3. “Não é mero entretenimento...É uma
aventura espiritual que engaja o eu em uma
experiência de vida, inteligência e emoções”.
(COELHO, 2010, p. 32)

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CARACTERÍSTICAS:
(GREGORIN FILHO, 2009)

1. As temáticas apresentam “valores humanos,


construídos através da longa caminhada humana
pela história, e não valores que circulam apenas no
universo infantil das sociedades contemporâneas”.
2. Autor apresenta o tema com uma “roupa” infantil,
de acordo com a faixa etária do leitor.
3. Dois planos de expressão (semióticas): texto visual
+ texto verbal.
4. Pressupõe leitor intersemioticamente competente.
5. Há um “cardápio” ao qual o autor recorre, de acordo
com a sociedade e/ou indicações da Pedagogia.
6. Temas recorrentes: folclórico, pedagógico, ficção.
“Geleia Geral” + Literatura Infantil + Formação de Nova
Mentalidade
(COELHO, 2010)

O TRADICIONAL O NOVO
1. Espírito solidário
1. Espírito individualista
2. Questionamento da autoridade
2. Obediência à autoridade
3. Valorização do fazer como
3. Valorização do ter e do
manifestação autêntica do ser
parecer, acima do ser
4. Moral da responsabilidade ética
4. Moral dogmática
5. Sociedade sexófila
5. Sociedade sexófoba
6. Redescoberta e reinvenção do passado
6. Reverência pelo passado
7. Visão cósmica/existencial/mutante da
7. Visão transcendental da
condição humana
condição humana
8. Fenomenologia
8. Racionalismo
9. Antirracismo
9. Racismo
10. Criança = “ser em formação”
10. Criança = “adulto em miniatura”
(mutantes do novo milênio)
Literatura Clássica Mundial
(ARROYO, 2011)
1. A tradição oral: mitos, lendas,contos 8. La Fontaine (1621-1695), Fábulas, retoma
exemplares. Esopo e Fedro.
2. Fábulas orientais (séc. V a.C.): Pantcha- 9. Charles Perrault (1623-1703), da tradição
Tantra, Ramayana, Hitopadexa, Calila oral, Contos da mamãe Ganso,
e Dimna, as Mil de uma noites aparecem Cinderela, Chapeuzinho
3. Homero (séc. VIII a.c.) com Odisseia e Vermelho, Gato de Botas, Barba Azul,
Ilíada. Fábulas de Esopo (séc. VII a.C.) e Bela Adormecida
Fedro (14 d.C.) 10. Madame D’Aulnoy (1650-1705), Contos de
fadas (1ª vez)
4. Della Croce (1550-1620) com Bertoldo
11. Comenius (1592-1670), Orbis Pictus
5. Straparola de Caravaggio (1557), As 13
(1658), 1º livro didático ilustrado
noites prazerosas, aparece o Gato de
12. Fénelon (1651-1715), Fábulas e
Botas.
Télémaque.
6. Giambattista Basile (1575-1632), Conti de
13. Mademoiselle De La Force (1654-1724),
conti, aparecem a Gata Borralheira,
As fadas (2ª vez)
Bela Adormecida, Branca de Neve, etc.
14. Daniel Defoe (1661-1731), Robinson
7. Gonçalo Trancoso (1575), Contos e
Crusoé
histórias de proveito, histórias colhidas
15. Jonathan Swift (1667-1745), As viagens de
da tradição portuguesa, árabe,
Gulliver
influencia de Caravaggio e Basile
16. Condessa de Murat (1670-1716), 22. Lewis Carroll (1832-1898), Alice no
Novos contos de fadas país das maravilhas
17. Dama de Villeneuve (1740), A Bela 23. Mark Twain (1834-1911), Tom Sawyer
e a Fera e Huckleberry Finn.
18. Irmãos Grimm (1785-1863), fábulas e 24. Edmundo Amicis (1846-1908), Coração
contos recolhidos da tradição 25. Stevenson (1850-1894), A Ilha do
folclórica alemã: Branca de Neve, Tesouro e Raptado
Cinderela, O Alfaiate Valente, O 26. James Barrie (1860-1937), Peter Pan
Flautista de Hamelin, Os músicos de
27. Edgar Rice Burroughs (1875-1950),
Bremen, Rapunzel, Chapeuzinho
Tarzan
Vermelho, A Bela Adormecida, João
e Maria, Rumpelstiltskin etc.
19. Condessa de Ségur (1799-1894),
Biblioteca cor de rosa
20. Hans Christian Andersen (1805-1875),
O patinho feio, Soldadinho de
chumbo, A pequena Sereia, O
rouxinol, A rainha da Neve etc.
21. Collodi (1826-1890), Pinóquio
Origens da Literatura Infantil no Brasil
Brasil Colônia 1500-1808

Educação Jesuítica (até 1759)


Tradição oral = literatura ágrafa.
Contribuição dos contadores de
histórias africanos: griôs, akpalôs,
arokins, dialis. Andavam pelos
engenhos contando histórias para
crianças. Na maioria, histórias de
amedrontar.
Período imperial: de D. João VI a D. Pedro II
•Permanência da literatura ágrafa e popular
(de cordel)
•Fundação de colégios, aulas e liceus
•A permanência do status religioso na
educação
•Falta de livros de textos
•Instalação da Imprensa Régia
•Criança: adulto em miniatura D. João VI
•Escola do castigo, textos adultos para
memorização
•Educação diferenciada para meninas e
meninos
•Destaque para professores/preceptores
franceses. Havia também ingleses e alemães
•Livros da literatura mundial traduzidos no
português de Portugal ou lidos no original
•Literatura escolar /ilustrações pobres D. Pedro I
•Leitura obrigatória: Os Lusíadas de Luiz de
Camões

D. Pedro II
Trecho de “Os Lusíadas”
Luiz de Camões

Eis presto as Nereidas, surgindo das furnas,


Rodeiam a frota, que oscila nas águas;
Tritão que, soberbo, levava Dione,
Da ardente petrina se abrasa nas fráguas.
......
De mui remotos séculos
De Lísias vem a origem;
Some-lhe o berço mítico
Do tempo atra caligem
.......

“Os Lusíadas” – poema épico que narra os feitos do povo Luso (português), de 1556. A
ação central é a decoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, à volta
da qual se vão descrevendo outros episódios da História de Portugal, glorificando o povo
português. Muitas referência à mitologia grega. Os pontinhos representam partes
“impróprias” censuradas pelo Barão de Paranapiacaba.

Imaginem crianças no Brasil decorando e declamando esse poema, certamente nada


entendiam. Como diziam críticos da época “estavam preparando crianças para falarem e
escreverem como pessoas de 500 anos atrás. Ninguém era capaz de escrever um
simples bilhete, se não fosse em um português rebuscado, complicado e antigo...”
República até Monteiro Lobato
•Leitura de livros para adultos: internacionais e
nacionais, exemplo: José de Alencar, Gonçalves Dias...
•Predomínio da literatura escolar (didatismo
moralizante): Coração (1886), de Amicis; Saudade (1919), de
Tales de Andrade; Cazuza (1938), de Viriato Correa
• Destaque para imprensa escolar e infantil: jornais
publicados por escolas e estudantes (séc. XVIII e XIX)
•Revista Tico-Tico (1905). 50 anos de existência.
Entretenimento, histórias em quadrinhos, literatura
infantil. Desaparece após surgimentos das histórias em
quadrinhos estrangeiras: Fantasma, Mandrake etc.
•Literatura reflete todas as principais tendências da
Europa: fábulas, contos de fada maravilhosos, novelas de
aventura e cavalaria
•Nacionalismo com ênfase na vida rural
•Culto da inteligência
• Moralismo e religiosidade
•Exemplaridade e doutrinação
Autores brasileiros da época da Literatura Escolar
(didatismo moralizante, nacionalista – realismo sem fantasia)

•José Saturnino da Costa Pereira, com Leitura para meninos (1818)


•Ildefonso Laura César, com Lições a meus filhos ( 1854)
•César Augusto Marques, com A meus filhos (1872)
•Gabriela de Jesus Ferreira França, com Contos Brasileiros (1881)
•Antônio Marques Rodrigues, com o Livro do Povo (1881)
•Adelina A. Lopes Vieira e Julia Lopes de Almeida, com Contos Infantis (1886)
•Olavo Bilac, com Através do Brasil, Contos Pátrios, Poesias, Livro de leitura,
Teatro infantil (1906 a 1910)
•Julia Lopes de Almeida, com Histórias da nossa terra (1907); Era uma vez... e
Jardim florido (1917)
•Tales de Andrade, com Saudade (1919)
Monteiro Lobato: gênio revolucionário/
divisor de águas/pai da literatura infantil brasileira

•Desvinculou a literatura infantil da literatura escolar/pedagógica/didática


•Deu voz à criança, por meio da boneca Emília.
•Narizinho Arrebitado (1921); O Saci (1921); Fábulas (1922); e mais 21 títulos com milhares e
milhares de exemplares publicados.
•Criou as bases da verdadeira literatura infantil brasileira: apelo à imaginação, o non-sense (o
absurdo), harmonia com o complexo ecológico brasileiro, movimentação dos diálogos, graça na
expressão, linguagem visual e concreta, o enredo...
•Muitos autores renomados da literatura para adultos escreveram livros para crianças, na mesma
época que Monteiro Lobato, no entanto, não na mesma quantidade.
Leitor infantil hoje (COELHO, 2010)
PRÉ-LEITOR LEITOR LEITOR EM LEITOR LEITOR CRÍTICO
INICIANTE PROCESSO FLUENTE

15 MESES AOS A PARTIR DOS 5 A PARTIR DOS 8 A PARTIR DOS A PARTIR DOS
5 ANOS OU 6 ANOS ANOS 10 ANOS 12 ANOS
APROXIMADA-
MENTE

EDUCAÇÃO ENSINO FUNDAMENTAL


INFANTIL

Criança: ser em processo de formação (mutantes do novo milênio)


A literatura Infantil na sala de aula
(GREGORIN FILHO, 2011)

LIVROS DIDÁTICOS DE APOIO DIDÁTICO DE LITERATURA INFANTIL

Usados para ensinar as Publicações para Livros de ficção,


disciplinas formadoras do aprofundar os Linguagem artística
currículo: Português, conhecimentos de cada
Matemática, Geografia, disciplina
História, Ciências...
LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
PÓS-LOBATO (1980/1990) (1990 até atualidade)

-”Boom” editorial; -LDBEN 9394/1996;


-influências da abertura política na -PCNs;
concepção de educação; -Temas transversais: Ética; Pluralidade
-literatura inquieta e questionadora; Cultural; Meio Ambiente; Saúde;
-questões cotidianas e mais realistas; Orientação Sexual; Temas locais.
-apelo à curiosidade do leitor; -movimentos sociais e de minorias
-diálogo entre autor e leitor; como reação à estereótipos negativos;
-computador passa a tomar seu lugar -Lei 11645/2008; “História e Cultura
nas casas e vida cotidiana; Afro-Brasileira e Indígena”
-apelo à visualidade. -tecnologias e múltilas linguagens;
-hipertextualidade.

EXPERIMENTALISMO MORAL RELATIVA E


DIÁLOGOS COM O LEITOR

(GREGORIN FILHO, 2011)


Abobrinhas
Carlos Queiroz Telles (1999)

Batatinhas, quando nascem,


esparramam pelo chão,
invadem as escolinhas,
entram em todas as festinhas
e viram, declamação:

- Que chateação!

Ao contrário das colegas


de terreiro e de pomar,
as alegres abobrinhas
crescem fortes e felizes,
sem nunca se perguntar
onde meninas dormindo
colocam os pés e as mãos.
Referências Bibliográficas:
ARROYO, Leonardo. Literatura infantil brasileira. 3. ed. São Paulo: Editora
UNESP, 2011.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. 7. ed.


São Paulo: Editora Moderna, 2010.

GREGORIN FILHO, José Nicolau. Literatura infantil: múltiplas linguagens na


formação de leitores. São Paulo: Melhoramentos, 2009.

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