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No cenário teriam de estar presentes duas barcas, um rio, um

cais.

Nos figurinos, a personagem que chega ao cais aparenta ser um


homem da nobreza, usa uma espada e um manto que outra
personagem, o seu criado, segura, para além de carregar uma
cadeira

A Rainha D. Leonor, viúva de D. João II, encomendou a peça


com a intenção de que fosse representada ao rei D. Manuel, na
câmara de sua mulher, D. Maria de Aragão, que tinha dado à luz
o seu décimo filho.
Pág. 70-71
2. O rio, as duas barcas, o cais, o arrais do Paraíso
(Anjo), o do Inferno (Diabo) e o seu Companheiro.

2.1. O espaço cénico é o espaço onde chegam as almas


após a vida terrena e onde aguardam o seu destino
final. É um espaço alegórico.

3. a. Terão de passar o rio.

b. Serão transportadas na barca, para o Paraíso ou


para o Inferno.

4. a. Anjo

b. Diabo

4.1. O espaço é uma alegoria porque representa o


espaço do julgamento final das almas (o Purgatório).
1. O Fidalgo, com o
Pajem que lhe
segura o manto e
carrega a cadeira.
3. “Ó
poderoso
dom Anrique”
Pág. 72-73
1. Modo imperativo: “Vai tu” (v.5); “Atesa aquele palanco/ e despeja aquele banco” (vv. 6-7);
“Abaxa má-hora esse cu!” (v. 16); “Faze aquela poja lesta / e alija aquela driça.” (vv. 17-18);
“Põe bandeiras” (v. 21)
Interjeições: “hu-u!” (v. 9) “Oh!” (v. 11, v. 20); “Ora sus!” (v. 14); “Ô-ô, caça! Ô-ô
iça!” (v.19)
1.1. a. Formas verbais como “atesa” (v.6) e “alija” (v. 18), assim como
expressões como “atesa aquele palanco”(v. 6), “Faze aquela poja lesta /e alija
aquela driça.” (vv. 17-18); “Âncora a pique!” (v.22).
b. “Vai tu muiteramá” (v. 5); “Abaxa má-hora esse cu!” (v.16)
2. Registo cuidado.
3. “sereníssima e muito católica”, “nossa senhora”.
3.1. valor restritivo
3.2. “primeiro de Portugal deste nome”
4. “o qual per força havemos de passar em um de dous batéis que naquele
porto estão”. Valor explicativo.
4.1. “que naquele porto estão” – oração Gramática e Escrita
“dous batéis” – referente a. onde estão duas barcas
b. cujo arrais é o Anjo
c. cujo arrais é o Diabo/ que é capitaneada pelo Diabo

Pág. 73
Cena do Fidalgo – pág. 74-77

A expressão “ilha perdida” é uma outra forma, mais longa


(perífrase) e mais suave (eufemismo) de referir o Inferno. O
a. o pajem Diabo quis suavizar o destino cruel do Fidalgo.
b. o manto
c. a cadeira
“Parece-me isso cortiço (v. 31)

“E passageiros achais / pera tal habitação? (vv. 37-38);


“Parece-te a ti assi” (v.41)

O Diabo acusa o Fidalgo de ter vivido uma vida de prazer


e de pecado: “E tu viveste a teu prazer” (v.47); “Do que vós
a. Junto da barca b. Junto da barca c. Junto da barca vos contentastes” (v. 65).
do Diabo do Anjo do Diabo
(vv. 25-65) (vv. 66-105) (vv. 106-180)
Pág. 78
Arrogância
A sua condição
O Fidalgo defende-se, alegando uma prática religiosa, social (vv. 80-81)
já que, segundo afirma, tem, na terra, quem reze pela
sua alma: “Que leixo na outra vida/ quem reze sempre
por mi” (vv. 43-44).
C. 1 (vv. 84-85)
B. 2 (vv. 88-91)
A. 3 (vv. 112-121)

Pág. 79

a. “cá”
b. “lá” O Diabo rejeita os pedidos do Fidalgo e aproveita-os
c. “em vida” para o humilhar, revelando-lhes as traições e as
d. “após a morte” falsidades daquelas mulheres.

Pág. 78
O autor critica a depravação nos costumes,
bem evidente nas relações conjugais.

O Pajem é inocente das acusações feitas ao Fidalgo,


não é ele que está a ser julgado. É apenas uma das
vítimas da tirania da nobreza.
A cadeira não entra na barca do inferno, porque é um
objeto que esteve na igreja.

a. “Ó poderoso dom Anrique” (v. 23)


b. “Oh da barca.” (v. 68)
c. “senhores” (v. 106)

copulativo
A ironia.

“Mandai meter a cadeira, / que assi passou


vosso pai.” (vv. 52-53) a. O Inferno b. a sua condição social
Pág. 79
1. Este texto confirma que características como a ostentação, o
privilégio e a vaidade, evidentes nos símbolos com que o Fidalgo
surge em cena, são comuns à nobreza do tempo de Gil Vicente.

2. Quer a imagem apresentada quer o texto evidenciam a


ostentação e a opulência que caracterizavam a vida da nobreza
naquela época.

Pág. 80
Pág. 81
Comentário

→ O comentário é um género textual de opinião em que o autor apresenta um conjunto de


considerações sobre algo: um acontecimento, um texto, uma imagem, uma música, as
declarações de alguém, etc.

→ É um género muito usado no contexto jornalístico, onde se podem ler ou ouvir


comentários feitos por especialistas de determinadas áreas.

→ A linguagem de um comentário pode alternar entre uma maior objetividade (nas


sequências descritivas ou explicativas) ou uma maior subjetividade (nas sequências
mais opinativas).
→ Na escola, pode ser-te solicitado um
comentário a um acontecimento ou a
um objeto artístico: um filme, uma
pintura, uma peça de teatro, um texto…
Ana Santiago | Sofia Diniz | Sofia Paixão
O Mundo em Palavras | Português | 9.º ano
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Comentário

Estrutura de um comentário de texto

Um comentário de texto deve integrar:

→ um título que identifique o texto a comentar e o seu autor.


→ uma introdução com características desse texto.
→ um desenvolvimento que responda às questões:

O que diz o texto? Como o diz? O que me diz?

→ uma conclusão que destaque o ponto de vista do autor do comentário sobre o texto.

Ana Santiago | Sofia Diniz | Sofia Paixão


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Comentário

Excerto do Auto da Barca do Inferno 1. Identificação do


excerto e do seu autor
Anjo Não se embarca tirania
neste batel divinal.
Fidalgo Não sei porque haveis por mal Excerto do texto dramático Auto da

que entre a minha senhoria. . . Barca do Inferno, escrito por Gil

Anjo Pera vossa fantesia Vicente, no século XVI.

mui estreita é esta barca.


Fidalgo Pera senhor de tal marca
nom há aqui mais cortesia?
Gil Vicente, vv. 82-89 Ana Santiago | Sofia Diniz | Sofia Paixão
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Excerto do Auto da Barca do Inferno 2. Características do


excerto
Anjo Não se embarca tirania
neste batel divinal.
Fidalgo Não sei porque haveis por mal
 Versos 82 a 89
que entre a minha senhoria. . .
 Diálogo entre o Fidalgo e o Anjo
Anjo Pera vossa fantesia
mui estreita é esta barca.
Fidalgo Pera senhor de tal marca
nom há aqui mais cortesia?
Gil Vicente, vv. 82-89 Ana Santiago | Sofia Diniz | Sofia Paixão
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Comentário

3. O que diz o texto? Como


Excerto do Auto da Barca do Inferno
o diz? O que me diz?

Anjo Não se embarca tirania  O Anjo apresenta os argumentos para


neste batel divinal. rejeitar o Fidalgo como passageiro e este

Fidalgo Não sei porque haveis por mal tenta apelar à sua condição social.

que entre a minha senhoria. . .  O Anjo recorre à alegoria, para mostrar


que o Fidalgo representa os pecados da
Anjo Pera vossa fantesia
tirania e da vaidade, que se opõem à
mui estreita é esta barca. retidão da sua barca.
Fidalgo Pera senhor de tal marca  O diálogo revela que a verdade é superior
nom há aqui mais cortesia? à condição social, no momento do Juízo

Gil Vicente, vv. 82-89 Final.


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Comentário

Exemplo
Excerto do Auto da Barca do Inferno
Este excerto do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente,
corresponde a um segmento do diálogo entre o Fidalgo, a
Anjo Não se embarca tirania primeira personagem a chegar ao cais, e o Anjo.
neste batel divinal. Nele, o Anjo apresenta como argumentos para rejeitar o
Fidalgo como passageiro a tirania e a vaidade que este
Fidalgo Não sei porque haveis por mal demonstrou em vida e continua a manifestar. Por sua vez, o
que entre a minha senhoria. . . Fidalgo tenta fazer valer à sua condição social para se salvar.

Anjo Pera vossa fantesia A linguagem do Anjo é marcada pela alegoria, já que
refere o Fidalgo como representação da tirania e da vaidade,
mui estreita é esta barca. pecados que se opõem à retidão da sua barca.
Fidalgo Pera senhor de tal marca Neste diálogo é evidente a intenção crítica do autor,
afirmando-se que, no momento do Juízo Final, a verdade é
nom há aqui mais cortesia? superior à condição social.
Gil Vicente, vv. 82-89
Ana Santiago | Sofia Diniz | Sofia Paixão
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A tira “A ilusão do Poder” de Bill Waterson relaciona-se com a cena
A ilusão do poder
A tira de Calvin & Hobbes intitulada «A ilusão do poder» e a cena do
Fidalgo do Auto da Barca do Inferno admitem o estabelecimento de uma
relação temática entre ambas.

Relaciona-se
Assemelha-se
Apresenta semelhanças
A ilusão do poder
A tira de Calvin & Hobbes intitulada «A ilusão do poder» e a cena do
Fidalgo do Auto da Barca do Inferno admitem o estabelecimento de uma relação
temática entre ambas.
Na verdade, ao longo da tira de BD, observamos que a personagem evolui
de um estado de confiança em relação ao poder que detém sobre a planta para
a constatação da ilusão desse poder, quando é surpreendida por um elemento
natural: a chuva. Ora, do mesmo modo, o Fidalgo do auto de Gil Vicente acaba
por perder a arrogância que mostra no primeiro contacto com o Diabo e ao
iniciar depois o seu diálogo com o Anjo, passando a admitir uma verdade
inquestionável: nada podem os seus poderes terrenos no momento do Juízo
Final.
Assim, em ambos os casos, está em causa a crença num poder ilusório
que as circunstâncias vêm desacreditar.
Comentário

Fim

Ana Santiago | Sofia Diniz | Sofia Paixão


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