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auto da barca
do inferno
A estrutura narrativa e dramática
Cena I – Anjo, Diabo, Companheiro (vv. 1-22)
O Diabo dialoga com o Companheiro, ordenando-lhe que apronte a barca para a
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Cena VI – Os mesmos, Frade, Moça (vv. 370-485)
Surge um Frade, Frei Babriel, a bailar e a dançar, que traz a amante pela mão. O
Diabo convida-o a entrar na sua barca por viver amancebado, mas o Frade não se
convence, pois confia na sua condição sacerdotal. Seguidamente, para demonstrar
ao Diabo que é bom esgrimista, faz uma demonstração. Finda a lição de esgrima, o
Frade e a sua amásia Florença dirigem-se à embarcação angelical onde não são
admitidos. Convencem-se, finalmente, de que o lugar de ambos é na barca dos
danados.
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Cena I
Anjo, Diabo, Companheiro. (vv. 1-22)
Arrais do Inferno – Numa edição castelhana, traduzida, aumentada e refundida pelo próprio Gil Vicente, im-
pressa em Burgos, em 1539, o Companheiro do Diabo chama-se Caronte: "Entran el Diablo y el barquero del
infierno, llamado Caron" (Ed. cit. de Paulo Quintela, p. 203).
v. 2 – "porque temos boa maré" (Marques Braga).
v. 3 – Para a compreensão deste verso leia-se a seguinte explicação de Henrique Lopes de Mendonça: "Se são
caravelas portuguesas autênticas, devem ter velas triangulares envergadas numa antena, a qual tem movi-
mento em torno do ponto onde se achega ao mastro, como sobre um fulcro (evito quanto possível os termos
técnicos, para melhor compreensão dos profanos). A parte anterior e inferior desta antena mais curta e mais
grossa do que a parte posterior e superior é que se denomina o carro. Este carro desloca-se para ré, ou para
vante, conforme a inclinação que se deseja dar à antena. Vindo para ré, aproxima mais a antena da vertical do
mastro, e eleva por conseguinte a extremidade superior, o lais, onde se fixa o vértice da vela. É a manobra que
o arrais infernal manda fazer ao companheiro, e cuja execução completa ele próprio certifica mais abaixo (v.
22), exclamando: "Verga alta, âncora a pique" e indicando assim que a caravela fica pronta a sarpar." (Revista
Lusitana, vol. XV, 1912, p. 275). Mas a manobra de fazer vir o carro à ré não era só utilizada para virar o barco:
"Também conviria executar esta manobra de fazer o carro, como preparativo de viagem, estando o barco atra-
cado a terra, ou fundeado, caso se verificasse que o vento, na derrota a empreender, exigia a mareação da
verga noutra amurada, antes da vela ser caçada. É o que supôs Gil Vicente, estabelecendo, para melhor efeito
cénico, as manobras a executar, e fazendo que o Diabo enunciasse as respetivas ordens." (Quirino da Fonseca,
Gil Vicente, Vida e Obra, Lisboa, 1939, p. 510).
Variantes
v. 3 – “ora venha a caro a ré”, B, C.
v. 4 – “Feito, feito, bem está”, B, C.
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Dia. Bem está!
Vai tu, muitieramá, 5
atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
pera a gente que virá.
Variantes
v. 5 – “Vai ali muitieramá”, B, C.
v. 15 – “Em boa hora! Feito, feito!”, A.
v. 16 – “Abaxa má-hora esse cu!”, A.
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