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A memória da Ditadura

no Brasil e no Amapá
Algumas reflexões
Profª Maura Leal – Doutoranda em História (UNB)
Algumas reflexões sobre a historiografia
amapaense.
• A ideia de que o Amapá não viveu esse período autoritário da história brasileira,
e se viveu, não foi com a mesma intensidade que o resto do Brasil;
• A subordinação extrema da elite local e da sociedade amapaense ao centro do
poder nacional;
• A dissociação da Ditadura Militar da experiência de Território Federal;
• A ideia que já se estudou tudo sobre esse período;
• A ausência de documentos e fontes de pesquisa;
• Há necessidade de se investigar esse passado no Amapá?
• Por que se criar uma Comissão Estadual da Verdade?
A memória afetiva, como diz Paul Ricoeur,
não se deixa controlar, insiste sempre em
voltar
• Eu fui preso, mas os registros daqui foram queimados
[...] A gente ia preso sem comunicação [...]eu não
posso provar nem que eu fui preso, não existe arquivo
pra provar. [..] Em Macapá fui preso por
participação em movimentos estudantis de resistência
a repressão militar. Saia do colégio pela rua, vamos
assim dizer, aquela patotinha, e ai a gente gritava
uma mensagem louca: ‘Aô, aô, aô, abaixo a
repressão! .
José Ribamar. Depoimento concedido a CEV -AP, em 14 de agosto de
2014.
• Fui preso, porque o governador não gostava de mim,
sabe por quê? Porque eu era presidente do Sindicato
dos Estivadores, fundei o sindicato [...]. Naquele
tempo do partido comunista, se alguém falasse que
era comunista, era preso. Daí me tachou de
comunista. Aí fui preso pela “revolução” como
comunista. Fui para Belém preso, daí eu fui para 5ª
Companhia.
Raimundo Pereira Duarte (Periquito) Depoimento concedido à
CEV/AP, em 16 de março de 2013.
• Meu irmão foi preso e quem levava comida pra eles na Fortaleza, por
exemplo, o meu irmão era, era eu. [...] Porque era comunista (risos),
como eles diziam [...] Ele não era comunista, porque nem havia esse
partido comunista aqui, eu acho que nem havia isso. [...] O meu irmão
era agente de polícia. Ele perdeu o emprego. Também foi demitido. Na
época assim, foi um terror [...]. Meu irmão, com 25 anos, quando ele
surtou, não teve jeito. A coisa que ele se lembra era só da prisão.
Então ele teve um AVC, ele surtou, não teve psicólogo, não teve
neurológico, não teve nada, apagou toda a memória dele recente, o
“arquivo” dele apagou. Apagou e ele não conseguia mais constituir
um “arquivo” novo. Ele ficou só com o arquivo antigo.
Carmozina Tavares de Lima. Depoimento concedido a CEV/AP, em 20 de março de
2014.
• Aí em 73, no “Engasga-Engasga”, levaram todas as pessoas que
supostamente eram comunistas, que moravam aqui. Elas foram
presas. O filho do seu Jorge, o Alexandre, foi baleado, o rapaz
estava dormindo, aí quando vê aquela confusão todinha, “Engasga-
Engasga”. Correu para cá e ele se levantou e correu para o quintal
para ver o que era, aí atiraram na perna dele. Quando ele foi preso,
para Belém, que eles foram presos para lá, ele foi baleado, e só foi
socorrido da bala lá em Belém. Foram amarrados em 73, ao invés
de colocarem algemas, colocaram arames. Eles foram no avião
transportados com arames nos braços.
• Carmozina Tavares Lima. Depoimento concedido à CEV/AP, em 21 de fevereiro de 2014.
• Na época a vítima, era a sociedade em si. Todas aquelas pessoas
viviam aquele clima como se fosse uma guerra, na época, que
quando falavam seis horas da tarde todo mundo fechava as janelas e
portas, pregavam portas, pregavam janelas com medo da situação.
Então, não tinha uma pessoa assim para dizer: “ – hoje eu não
estou com medo das pessoas que engasgam”. Era a sociedade em si
que ficava temerosa, e até hoje as pessoas ainda tem como se fosse
um momento de pânico [...]. Ainda bem que tem a Comissão da
Verdade, que não buscaram muitas famílias, que estão morrendo,
estão mudando para outros Estados [...].
José Lúcio Pereira. Depoimento concedido a CEV/AP, em 12 de novembro de
2014.
• Na época a vítima, era a sociedade em si. Todas aquelas pessoas viviam aquele
clima como se fosse uma guerra, na época, que quando falavam seis horas da tarde
todo mundo fechava as janelas e portas, pregavam portas, pregavam janelas com
medo da situação. Então, não tinha uma pessoa assim para dizer: “ – hoje eu não
estou com medo das pessoas que engasgam”. Era a sociedade em si que ficava
temerosa, e até hoje as pessoas ainda tem como se fosse um momento de pânico [...].
Ainda bem que tem a Comissão da Verdade, que não buscaram muitas famílias, que
estão morrendo, estão mudando para outros Estados [...].
José Lúcio Pereira. Depoimento cedido a CEV/AP em 12 de novembro de 2014.
http://www.cnv.gov.br/

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