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O Pentágono e a NATO.

Gastos militares e armamentos

Sumário

1. Enquadramento da política belicista do Pentágono e do seu alter ego,


a NATO
2. O volume dos gastos militares
3. A dimensão das forças armadas
4. O armamento dos principais paises
5. Empresas produtoras de armamento
6. Países vendedores de armamento
7. Vendedores por tipo de armamento
8. Países compradores de armamento

1 - Enquadramento da política belicista do Pentágono e do seu alter ego, a


NATO

O volume dos gastos militares para a grande maioria dos países está
relacionado com o grau de conflitualidade regional, tendo em conta que,
nesses casos, não existem pretensões hegemónicas a nível global; ou com o
poder interno das castas militares, mais ou menos extensas ou influentes no
dimensionamento dos seus meios e mordomias. Em todos os países, por outro
lado, existem relações mais ou menos claras, demasiadas vezes corruptas,
entre os poderes civis, as castas militares, os fornecedores de armamento e
discretos intermediários, que recolhem avultadas comissões. Na base estão
as populações e nomeadamente a multidão de trabalhadores e ex-
trabalhadores, pouco ou nada beneficiados, com essas transações e cujo
papel se resume a arcar com os custos inerentes, que lhes reduz o
rendimento.

Em alguns casos, a pertença a coligações de Estados envolve relações


solidárias, em regra inseridas num quadro hierárquico, encimado por uma
potência dominante. Nesse contexto, países pequenos, sem capacidades
de desenvolverem pretensões hegemónicas a nível global ou, mesmo
regional, sem ameaças descortináveis à sua segurança, são envolvidos em
encargos, conflitos e guerras, resultantes dessa inserção hierárquica, por
conta da satisfação de interesses de terceiros, qual tributo senhorial,
injustificável para os cidadãos.

Naturalmente que a NATO é o exemplo mais completo de coligação, cuja


cabeça é o Pentágono e que abarca politicamente 28 Estados, em regra,
com o entusiasmo das respectivas castas militares, bem pagas e doutrinadas
ideologicamente para obedecer e que constituem, no seu conjunto, um
género de guarda pretoriana, com códigos de actuação e linguagem

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comuns. A NATO, por outro lado, é a única organização militar,
eufemisticamente designada como fornecedora de um serviço de
segurança colectiva e solidária entre os seus membros; e que se arroga
também a actuar sobre os países não membros e contra os seus povos, no
quadro de uma pretensão de intervenção planetária, perigosamente
susceptível de aplicação prática, dados os meios e grau de coesão que
detém. A NATO define mesmo uma escala com os vários graus de aplicação
da sua estratégia:

• Protecção preventiva (caso de sanções)


• Gestão pró-activa das crises (tipo intervenção no Haiti)
• Utilização da intervenção militar (Afeganistão)
• Estabilização post-intervenção (pretensamente, o Iraque actual)

Nenhuma outra coligação formal ou informal de Estados, tem o mesmo


poder de intervenção global, quer político, quer militar, alicerçado na
constante existência de um poder de destruição arrasador, por sua vez,
almofadado por uma apropriação francamente assimétrica dos recursos e
da riqueza criada pelo Homem.

Em 2001- e, sublinhe-se, muito antes do 11 de Setembro - sob a direcção do


então vice.presidente dos EUA, Dick Cheney, foi traçada a NPE – Nova
Política Energética, baseada nos seguintes pontos:

• A segurança nacional dos EUA tem de estar assegurada, como


axioma, como princípio inegociável e sagrado, devendo, para o
efeito, toda a restante Humanidade estar preparada para se
subordinar a tão alto desígnio;

• A manutenção da ordem capitalista mundial, actualmente vigorando


no âmbito do paradigma neoliberal (como antes sob o primado
keynesiano), exige um poder militar esmagador que retire veleidades a
qualquer Estado para se colocar em posição frontal de desafio face
aos EUA, por um lado, e aos povos, o direito de revolução social, por
outro;

• Para que a economia norte-americana funcione, necessita de um


intenso recurso a bens energéticos que, sendo essencialmente de
origem fóssil, são constituidos por reservas mundiais limitadas e,
portanto, objecto de disputas muito fortes;

• A própria manutenção do aparelho militar exige um fluxo garantido e


abundante de recursos energéticos que contribui, por si só, para uma
pressão para o controlo desses recursos. senão das suas fontes, pelo
menos dos seus canais de transporte – vias marítimas, oleodutos e
gasodutos;

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• Apesar de possuir grandes recursos e de ser grande produtor de
produtos energéticos, os EUA têm um volume de consumo muito
superior às suas próprias capacidades domésticas. De acordo com a
NPE, a situação a prazo, no capítulo do petróleo, é preocupante:

2002 Prev 2020


Produção 8.5 7.0
Consumo 19.5 25.5
Importação 11.0 18.5
Valores em milhões de barris por dia (Mb/d)

• Para se mover neste complexo cenário os EUA definiram as vantagens


para os seus interesses da desestabilização política e da fragmentação
de Estados, como as levadas a cabo na Jugoslávia, na antiga URSS,
com a autonomia curda no Iraque.

• Mais recentemente, James Jones, comandante supremo da NATO na


Europa, entre 2003 e 2006, foi designado como assessor de segurança
nacional de Obama, sabendo-se que é um firme defensor do
alargamento da NATO a leste e a sul, para controlo dos recursos
energéticos necessários aos EUA. Esta linha de continuidade face à
administração Bush e a actuação dos EUA no apoio ao golpe de
estado nas Honduras, revelam a grande unidade entre republicanos e
democratas, no que se refere à extensão geográfica do seu conceito
comum sobre a defesa dos interesses nacionais dos EUA. Por outro
lado, o Pentágono, em ligação com o sector do petróleo e as suas
multinacionais e com a indústria do armamento, goza de uma grande
autonomia face à presidência, é um estado dentro do Estado.
Condoleeza Rice e Dick Cheney, eram altos quadros do sector
petrolífero e Robert Gates, manteve-se como responsável máximo do
Pentágono, transitando do governo de Bush para o de Obama.

Para além deste painel sumário, desenham-se alguns desenvolvimentos e


opções que conduzem à promoção de conflitos e outras acções levadas a
cabo pelos EUA, com maior ou menor envolvimento dos seus aliados da
NATO ou terceiros, circunstanciais, como a Rússia, Israel e países do Maghreb
na operação Active Endeavour, os países do Golfo Pérsico do Conselho de
Cooperação do Golfo, ou a Índia no patrulhamento do estreito de Malaca.

• Para solucionar a questão energética, os EUA enquadraram a


necessidade do aumento do número de fornecedores, o surgimento
de novas jazidas, o recurso a fontes alternativas limpas (solar, eólica…)
ou poluentes (nuclear, carvão), sabendo-se que são parcos
contributos oara o problema. Existem outros grandes consumidores,
nomeadamente a China, ávidos de garantir abastecimentos,
imprescindíveis para o seu elevado crescimento económico e estão
activos, quer em contratos de exploração noutros países, como na
construção de novos canais de encaminhamento do petróleo e do

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gás. Por outro lado, o surgimento de grandes jazidas vai rareando e as
condições de exploração (por exemplo, no mar) são cada vez mais
caras. Finalmente, as renováveis têm ainda um longo caminho a
percorrer para substituirem o petróleo, nomeadamente nos transportes
enquanto que o nuclear não colhe grandes simpatias entre as
populações;

• As grandes reservas de petróleo e gás encontram-se na Rússia, na Ásia


Central, no Médio Oriente e na Venezuela e o grande consumo situa-
se nos EUA, na Europa, no Japão e na China; para além de uma longa
lista de outros produtores, mormente em África ou a Noruega e outros
consumidores de crescente importância como a Índia. Esta não
justaposição levanta pesados problemas técnicos de logística e
transporte que acentuam as disputas entre os diversos operadores
mas, que lhes servem também de instrumentos, num quadro
geopolítico mais alargado;

• O controlo dos fluidos saídos dos poços e do seu encaminhamento


exige o controlo político dos Estados produtores bem como de outros,
relevantes para a disponibilidade energética junto dos grandes
consumidores;

• Entre outros factores pouco favoráveis aos EUA, refere-se em primeiro


lugar a Rússia, que continua a ter um poder geoestratégico, não
ultrapassável com sanções ou políticas de canhoneira; que tem
enormes reservas; um poder político forte em torno do seu
emblemático Putin que domina os recursos energéticos do país e faz
deles a espinha dorsal da economia russa; que é o natural
abastecedor da Europa Ocidental, directamente ou como via de
passagem para as exportações do Turquemenistão e do Cazaquistão;
que tem a vantagem de ter como vizinhos próximos o Japão e a
China, grandes importadores;

• Essa ligação à UE processa-se através de várias condutas que


obrigatoriamente têm de atravessar a Ucrânia ou, menos
problematicamente, pela Biolorússia que é um estado vassalo de
Moscovo, ambos aptos a constituir matéria para dificuldades
provocadas pelas agências da CIA, como na “revolução laranja”
ucraniana, que parece já ter perdido a cor e o cheiro;

• Os grandes produtores da Ásia Central, para mais enquadrados com a


Rússia e a China na Organização de Cooperação de Xangai, tendem
a coordenar as suas economias com os seus gigantescos vizinhos,
passado um periodo de permeabilidade à adulação norte-americana
e de fraqueza da Rússia de Ieltsin;

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• A Sul, as reservas do Irão são incontornáveis pela sua dimensão, tal
como é intolerável o regime iraniano para qualquer administração
norte-americana, seja ela fundamentalista evangélica com os
republicanos, ou menos ideológica com Obama. Nesse contexto,
prometem durar as manobras de intimidação e cerco, com o
argumento do uso militar do nuclear; a aplicação de ineficazes
sanções sob o patrocínio dessa entidade difusa denominada
“comunidade internacional; e a contenção da agressividade israelita,
sempre disposta a aventuras guerreiras, embora não tenha ganho
nenhuma desde 1967;

• Ainda a Sul, coloca-se o Afeganistão onde os norte-americanos tinham


grandes esperanças de construir a saída do petróleo da Ásia Central
para o Índico – fora da intervenção russa ou iranuana - mas que nunca
se poderá realizar num quadro de guerra civil; seja como agora entre o
prefeito de Kabul (Karzai) e os talibans ou, em alternativa, entre os
senhores da guerra entre si pelo controlo do tráfego da droga;

• No Golfo Pérsico, os EUA construiram uma rede de protectorados


petrolíferos e bases militares – Iraque, Kuwait, Bahrein, Qatar, Oman –
confrontando-se, paralelamente com a eterna suspeita de infidelidade
por parte dos sauditas;

• No Cáspio, interesses ocidentais construiram o BTC oleoduto que liga a


margem oriental (Turquemenistão e Cazaquistão) à margem ocidental,
restrita ao Azerbaijão da família Aliev e que daí segue pela Geórgia e
pela Turauia até desembocar em Ceihan, no Mediterrâneo Oriental,
próximo da fronteira síria;

• Finalmente, a Venezuela, apesar de continuar a ser uma fonte


energética importante no abastecimento dos EUA, apresenta um
modelo social, cujo exemplo para outros países da América Latina é
intolerável para os EUA, habituados desde sempre a monitorar a
evolução das sociedades latino-americanas para que não ousem
arranhar o poder imperial. E daí o reforço da presença militar na
Colômbia, em Aruba e a reactivação da IV Esquadra no Atlântico sul,
coincidentes com novas descobertas petrolíferas nos mares do Brasil.

Actualmente, os EUA, apesar do seu incontestável poder militar, vêm


registando revezes estratégicos que se podem considerar como factores de
recuo e decadência, que os obrigam, a sucessivas intervenções em outros
Estados, em vez da utilização do chamado “soft power”, a um recurso
crescente à disseminação da sua presença militar e à diluição da sua
liderança em quadros formais e multilaterais de actução. Daí a importância
da NATO no dispositivo militar estratégico do capitalismo ocidental.

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• Os pontos fortes que os EUA têm neste largo tabuleiro são vários. Um é
a Turquia, que domina historicamente os estreitos entre o mar Negro e
o Egeu mas, que vem procurando manter uma grande autonomia
estratégia onde as relações e o armamento norte-americano ou a
amizade com Israel são temperados pela boa relação com o Irão e a
recusa no apoio aos EUA na invasão do Iraque;

• Outro é a fortaleza israelita cuja relevância no policiamento do Médio


Oriente obriga os EUA a tolerar o genocídio palestiniano, ganhando
em contrapartida, o anti-americanismo da “rua árabe”; a mostrar-se
distraido com a proliferação nuclear protagonizda por Israel; a
englobar este último em projectos alternativos de condução do
petróleo de Ceihan até Eilath, porto israelita no mar Vermelho,
evitando assim o Suez para a ligação entre o Índico e o Mediterrâneo;

• O poder militar dá aos EUA e à NATO grandes vantagens no domínio


aero-naval à escala global, com um sistema logístico em fase de
adaptação, no sentido da maior mobilidade, com a utilização de uma
vasta rede de bases, onde estacionam soldados e equipamentos em
estado de elevada prontidão e maleabilidade táctica;

• Do ponto de vista estritamente político-ideológico, a administração


Obama abandonou as teses xenófobas de Huntington sobre os
choques de civilizações, onde o inimigo se centrava no mundo
islâmico e nos países de cultura cristã ortodoxa. Vem-se assistindo, por
um lado, a tentativas várias de cooptação da Rússia para a estratégia
ocidental, com o abandono da construção do escudo de mísseis na
Europa de Leste, o envolvimento no isolamento do Irão, no
patrulhamento dos mares da Somália, o que é susceptível de agradar
à UE, pouco interessada em crispações com o seu grande fornecedor
de energia. E, simultaneamente, dividir a OCX que congrega a Rússia,
a China, os países da Ásia Central e que tem como observadores
interessados a Índia e o Irão. Por outro lado, procura-se estabelecer
uma dicotomia entre os muçulmanos moderados e os jihadistas, os
terroristas, os fundamentalistas, com óbvios propósitos de aliciamento
de uns contra os outros, mesmo que não sejam claras as fronteiras
entre ambos os segmentos;

• Grande parte do comércio mundial circula pelo Índico e liga a Ásia


Oriental (Japão, China…) à Europa – sem referir origens/destinos
intermédios como a África do Norte e a Oriental ou a Ásia do Sul -
através de um conjunto de fieiras ou, de modo mais explícito, por
estreitos. Do mesmo modo e apesar da crescente existência de
alternativas, o petróleo do Médio Oriente é encaminhado para o
Extremo Oriente e para a Europa através dos mesmos estreitos, que se
tornam portanto fulcrais, pontos de potenciais estrangulamentos.
Sucede, que essas vias são vitais para a Europa, para a Ásia Oriental e

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mesmo do Sul (caso da Índia), com fortes relações comerciais entre si e
como se disse, devido ao abastecimento de energia. Porém, não o
são tanto para os EUA que, assumindo o seu controlo, detêm em
permanência, instrumentos determinantes para a (des)estabilização
económica de aliados, amigos e menos amigos. O interesse nacional
dos EUA é quem mais ordena;

• De facto, as ligações entre os EUA e o Extremo Oriente, como com a


Europa, não passam pelo Índico e, por outro lado, o país, no capítulo
do petróleo tem vindo a aumentar a parcela de proveniências
situadas na costa atlântica de África para além da Venezuela e
México, no continente americano, reduzindo, portanto,a dependência
do Médio Oriente;

• O controlo do Índico e dos seus estreitos é vital para todo o sistema


global de transportes marítimos. Em 1510, Afonso de Albuquerque,
segundo vice-rei português da Índia, tentou controlar a navegação no
Índico – a expensas de turcos, persas e indianos - conquistando Ormuz
(entrada do Golfo Pérsico), Malaca (entrada no respectivo estreito)
faltando-lhe a tomada de Aden para dominar a entrada no mar
Vermelho (Bab el Mandeb). Mais tarde, os ingleses conseguiram esse
desiderato, que durou até à descolonização;

• Actualmente, o dispositivo militar norte-americano no que se refere ao


Bab el Mandeb, está presente no Djibouti podendo evoluir para uma
instalação no Yémen a partir do conflito interno existente neste país; e
patrulha o mar contíguo, a pretexto dos denominados “piratas
somalis”, em parceria com outros países, da NATO ou não. Nas
imediações do estreito de Ormuz, os EUA detêm o Kuwait onde
mantêm grande número de instalações, têm o exército fortemente
presente no Iraque e no Afeganistão, bases militares na Arábia Saudita
(Dharam, que, por coincidência se situa muito próxima do importante
terminal petrolífero de Ras Tanura), Bahrein, Qatar (al-Ubaid) e Oman.
Finalmente, o estreito de Malaca dada a vulnerabilidade morfológica
e a existência de piratas menos mediatizados é patrulhado pela
marinha americana em parceria com a Índia, e o forte apoio logístico
de Singapura. Para se aquilatar a fragilidade de todo este sistema,
poder-se-á imaginar o impacto no bloqueio do estreito de Malaca,
susceptivel de aumentar 10/12 dias a viagem de um navio vindo do
Índico para o Japão.

Quais cerejas a encimar este bolo, refiram-se a V Esquadra e a base


estratégica de Diego Garcia, bem plantada no centro do oceano
Índico e de onde foi expulsa a população, nos anos 70;

• Há, naturalmente e em crescimento, fraquezas estratégicas para o


Pentágono e os seus aliados da NATO. O objectivo de isolamento da

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Rússia, proposto durante a administração Bush, falhou, apesar da
absorção da Europa de Leste pela NATO, do desmembramento da
Jugoslávia, da “independência” do Kosovo (inventada para albergar
a grande base de Bolsdteel, a “pequena Guantanamo”, para controlo
dos Balcãs) e das “revoluções laranja” na Ucrânia e na Geórgia. A
Rússia continua a fornecer a Europa de energia, vem diversificando
esses canais com ligações directas através do Báltico e de Murmansk,
evitando a Ucrânia; garantiu a utilização dos seus oleodutos para os
hidrocarbonetos cazaques e turcomenos; participa numa aliança
económico-militar – a OCX – que engloba uma enorme massa
geográfica, rica em petróleo e gás, que inclui o dinamismo chinês, os
capitais chineses e russos, o maior exército do mundo e o arsenal
nuclear russo;

• As invasões do Iraque e do Afeganistão estão longe de serem casos de


sucesso para os EUA. No Iraque, a invasão, embora tenha facilitado a
entrega da exploração do petróleo iraquiano às multinacionais
ocidentais (1) não garantiu a estabilidade da região, aumentou as
tensões internas, no Iraque, entre curdos, sunitas e xiitas e o oráculo
parece pouco optimista quanto depois da saida do exército
americano e dos seus mercenários. A intervenção no Afeganistão, por
seu turno, não tem produzido impactos economicamente úteis para os
seus promotores, se se excluirem os fornecedores de armas; e a
construção de oleodutos através do território afegão para conduzir o
petróleo da Ásia central para o Índico, para a Índia e o Paquistão, sem
passagens por território iraniano é, cada vez mais uma miragem;

• Mantém-se a solidez e a estabilidade do Irão que, em vez de isolado,


intensifica relações de colaboração com os seus vizinhos. O Irão vai
construir um gazoduto para abastecer o Paquistão e porventura a
Índia (2) e estabeleceu recentemente uma ligação com o sistema de
transporte turcomeno(3). Em paralelo, importa gás turcomeno para
consumo próprio e para abastecimento da Turquia e tornou-se
importador de gás azeri, num jogo de compensações que minimiza o
transporte de um produto homogéneo, promovendo as suas
exportações por mar;

• A China estabeleceu ligações de abastecimento de gás e petróleo


com a Rússia, o Cazaquistão e o Turcomenistão, por via terrestre e vai
abrir-se uma nova oportunidade com a exportação russa pelo porto
de Nakhodka, no Extremo Oriente russo e da Sakalina que também
poderá tornar o Japão menos dependente dos petroleiros vindos do
sul. Por seu turno, o mesmo Turquemenistão, que detém as quartas
maiores reservas mundiais de gás dedicou as suas exportações à
Rússia, à China e ao Irão. Em contrapartida, os EUA dedicam à China a
atenção necessária para qualquer bloqueio naval, mantendo 100000
soldados no Japão e na Coreia do Sul, a VII Esquadra, Okinawa e

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Singapura, garantido que está o apoio de Taiwan, estudando ainda a
possibilidade de retornar a Cam Rahn, no Vietnam que tão más
recordações lhes trarão;

• Finalmente, o deficit orçamental norte-americano é enorme e redunda


num endividamento que, só perante a China e o Japão, orça os $1,5
biliões, a que se devem somar juros anuais de $ 250000 M. Para tal
contribui devidamente o orçamento militar que é de $ 1bilião onde
sobressaem $ 880000 M para o Pentágono mas, que exclui os
programas militares secretos ($ 70000 M), a ajuda militar ao estrangeiro,
nomeadamente ao Egipto, a Israel e ao Paquistão, a contratação de
225 000 elementos a empresas de serviços militares, os custos com os
veteranos e os $ 75000 M com os 16 serviços de informações. Só as
guerras no Iraque e no Afeganistão custarão em 2010 $ 200/250000 M,
enquanto o recente reforço de 30000 homens decretado por Obama
para o Afeganistão, constituirá um esforço financeiro superior a todo o
orçamento de defesa de um país como a Alemanha (4).

Um balanço entre esta síntese de pontos fortes e pontos fracos do


Pentágono, da NATO e da estratégia de domínio norte-americano no
mundo, centrado nos aspectos geopolíticos e militares não é nem nunca
seria satisfatório para os seus promotores. As dificuldades económicas e
financeiras dos EUA e dos países chamados desenvolvidos, a braços com
graves problemas de desemprego, incremento da pobreza, desvalorização
do trabalho, deficits e estagnação, aliados à ausência de credibilidade do
sistema político e dos seus mandarins, não favorecem a resolução dos
problemas globais de acordo com as suas messiânicas expectativas.

A substituição do postulado do choque de civilizações por um outro, mais


subtil “choque de valores” (5), não altera os objectivos de domínio da
Humanidade e de apropriação dos recursos do planeta. Julgavam os
ingénuos que a tecla dos direitos humanos tocada por Reagan tinha ficado
enferrujada com os escândalos de Abu Ghraib, Guantanamo, Kunduz, etc e
por isso, soa a falso e ofensivo que os governos dos EUA e dos seus ajudantes
falem ao mundo de valores.

As dificuldades estratégicas dos EUA, do Pentágono e da NATO não farão


recuar – antes pelo contrário - os seus responsáveis perante o recurso à
guerra, à tortura, à pulverização de cidades e aldeias, ao desalojamento de
populações, ao onerar inaudito dos cidadãos europeus e norte-americanos
com os custos e os riscos inerentes à tal guerra infinita, decretada por Bush,
qual animal enraivecido, perante os fumos das Torres Gêmeas. Somente a
luta dos trabalhadores, a sua interacção e organização contra a guerra, o
militarismo e os sistemas militares-industriais pode travar a deriva guerreira; e
isso só pode ser definido como um objectivo humanitário se enquadrado na
luta pela democracia e pelo extirpar do capitalismo.

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2 - O volume dos gastos militares

O volume dos gastos militares é um indicador elementar mas, bastante


esclarecedor dos ónus que os povos suportam com os respectivos dispositivos
militares. O Quadro I, adiante exposto, contempla o custo dos gastos militares
por habitante, em comparação com a contribuição média de cada
cidadão para a formação da riqueza, para os anos de 1998 e 2008. Essa
análise inclui todos os países da NATO, os países neutrais da Europa e Israel,
tendo em conta a total integração deste último no dispositivo militar-
estratégico ocidental.

Quadro I – Gastos per capita com a defesa e capitação do PIB ($ de 2005)


1998 2008 Defesa/PIB (%)
Defesa PIB Defesa PIB 1998 2008
Albânia 19 3.767 62 7.160 0,51 0,87
Alemanha 499 29.074 451 33.714 1,72 1,34
Áustria * 340 29.721 336 36.037 1,14 0,93
Belgica 447 28.411 415 33.605 1,57 1,23
Bulgária 65 6.319 93 11.239 1,02 0,83
Canadá 369 29.902 494 36.077 1,23 1,37
Chipre * 844 21.101 486 26.453 4,00 1,84
Croácia 411 11.951 204 17.520 3,44 1,16
Dinamarca 698 30.016 651 34.140 2,33 1,91
Eslováquia 138 12.538 168 20.518 1,10 0,82
Eslovénia 198 17.990 337 27.188 1,10 1,24
Espanha 263 23.148 332 28.313 1,13 1,17
Estonia 62 9.956 273 18.882 0,62 1,45
EUA 1.162 37.238 1.771 43.671 3,12 4,05
Finlândia * 472 25.073 527 33.596 1,88 1,57
França 833 26.704 827 30.624 3,12 2,70
Grã-Bretanha 813 27.714 941 34.061 2,93 2,76
Grécia 724 19.134 871 27.124 3,78 3,21
Holanda 576 31.402 601 38.078 1,84 1,58
Hungria 119 12.563 135 17.997 0,94 0,75
Irlanda * 283 27.354 275 39.115 1,03 0,70
Israel 1.543 21.535 1.752 25.353 7,17 6,91
Islândia 0 28.251 0 36.209 0,00 0,00
Italia 535 26.360 545 28.272 2,03 1,93
Letónia 23 7.607 176 15.597 0,31 1,13
Lituânia 59 9.188 153 17.571 0,65 0,87
Malta * 100 18.000 96 22.426 0,56 0,43
Noruega 1.010 41.979 1.026 49.072 2,41 2,09
Polónia 132 10.833 195 16.440 1,22 1,18
Portugal 317 19.086 355 21.194 1,66 1,67

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Rep Checa 182 16.042 199 23.211 1,13 0,86
Roménia 85 6.792 102 11.704 1,25 0,87
Suécia * 672 26.599 571 33.610 2,53 1,70
Turquia 225 9.702 156 12.408 2,32 1,26
Crescimento Decrescimento
* Paises da UE não pertencentes à NATO
Fonte: SIPRI - Stockholm International Peace Research Institute

Sublinhe-se, em primeiro lugar, que a Islândia é o único destes países sem


forças armadas formais, desde 1859, embora pertença à NATO e mantenha
acordos de segurança com países daquela organização, como os EUA, a
Dinamarca e a Noruega, entre outros. A base de Keflavik esteve na posse
dos EUA em 1951-2006 onde estava aquartelado o Icelandic Defense Force;
essa base é agora mantida pela Agência de Defesa Islandesa.

Os países onde os gastos militares por habitante são mais elevados – EUA,
Israel e Noruega - são os mesmos nos dois anos considerados. Os EUA, como
consequência do aumento de 52.3% relacionado com a ocupação do
Médio Oriente, ultrapassaram em 2008, Israel, no primeiro lugar, apesar de
este último ser, em permanência, uma entidade em guerra.

Outros casos de grande crescimento da capitação dos gastos militares são


os países do Báltico e do leste europeu, antes integrados no Pacto de
Varsóvia e que hoje, rearmam as suas forças armadas, nomeadamente,
substituindo armamento da antiga URSS, por armas fabricadas nos países
ocidentais, no âmbito da sua recente inserção no quadro da NATO.

Embora nenhum país tenha reduzido o valor da capitação do PIB – dados de


2009 retirarão cabimento a esta afirmação como resultado da crise – o
volume das despesas militares por habitante regrediu em onze países. São
eles – Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Croácia, Dinamarca, França,
Irlanda, Malta, Suécia e Turquia.

Para tal facto, contribuem distintos elementos justificativos. No Norte da


Europa, a deslocação do eixo de conflitualidade da NATO para sul, para o
Mediterrâneo e a contestação dos activos movimentos pacifistas e anti-
militaristas ali existentes motivaram essa evolução; no caso da Croácia trata-
se do fim da guerra nos Balcãs; na Turquia, as causas revelam-se na redução
do tradicional papel das forças armadas enquanto tutelares do poder, na
menor conflitualidade no Curdistão e na forte presença militar dos EUA que,
assim, substituem, parcialmente, o gasto turco com a defesa; finalmente, no
caso de Chipre, estando integrado na UE e embora não pertença à NATO,
sentir-se-á mais seguro, nomeadamente face a uma ameaça turca que, por
sua vez estará mitigada pelo desejo turco de integração na UE.

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A parcela do produto de cada país destinado à defesa é mais elevada em
Israel, com 7.17% em 1998, decaindo ligeiramente para 6.91% em 2008. Em
segundo lugar, posicionam-se os EUA cuja mobilização de recursos cresceu
em 2008, quase um ponto percentual relativamente a dez anos antes. E, em
terceiro lugar, posiciona-se a Grécia com 3.21% em 2008, o que,
legitimamente, coloca a questão do contributo de continuados e
astronómicos gastos militares, para as actuais dificuldades financeiras do
Estado grego.

Registou-se uma redução do peso dos gastos militares na capitação do PIB


em 24 países, sendo mais notáveis os decréscimos observados na Croácia,
em Chipre e na Turquia, pelas razões já atrás expressas. Desse total de 24
países existem 11 onde o facto é concomitante com a redução do próprio
gasto militar por habitante, independentemente da consideração do PIB.
Nos restantes, o peso da despesa militar no PIB reduz-se, a despeito do
aumento, em alguns casos substancial, da parcela que onera cada
cidadão.

Em nove paises – Albânia, Canadá, Eslovénia, Espanha, Estónia, EUA, Letónia,


Lituânia e Portugal – aumenta, no periodo, o encargo com a defesa no total
do PIB, ainda que marginalmente, no caso dos dois países ibéricos.

Se nos outros casos, as razões já foram referidas, em Portugal e Espanha,


tendo em conta a ausência de conflitos na sua zona geográfica, tudo indica
que se esteja em periodo de acréscimo de militarização da sociedade, de
recuperação do “prestígio” das forças armadas. De facto, após a queda das
ditaduras, ficou a nu a actuação criminosa das forças armadas peninsulares
no apoio ao fascismo e, no caso português, no envolvimento nas guerras
coloniais. Está-se actualmente, com a consolidação da direita no poder,
numa fase de relegitimação das forças armadas, aproveitando-se o final do
serviço militar obrigatório para reafirmar o seu carácter de casta e a postura
mais agressiva do Pentágono, em busca de aliados firmes e dóceis. Por outro
lado, a enorme taxa de desemprego entre os jovens, cria uma larga base
social de recrutamento para esse mercenariato que, contudo não deixa de
estar marcado pela precariedade. No caso da Espanha e, tendo em conta
a extensão da sua costa e águas territoriais no Mediterrâneo, a grande
proximidade física com a África e as fortes relações com o Magreb, a
questão do rearmamento e do reforço dos militares tem, no contexto
militarista, mais justificação do que no periférico Portugal.

Entre todos os países incluidos, existem seis em que o crescimento da


capitação dos gastos militares é superior à do aumento do PIB por habitante,
no periodo 1998/2008:

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variação em %
Gastos militares PIB
Canadá 33.8 20.7
Eslovénia 69.8 51.1
EUA 52.3 17.3
Letónia 654.8 105.0
Lituânia 157.2 91.2
Portugal 11.9 11.0

Os gastos militares globais dos EUA são da ordem de 1 bilião de dólares e


correspondem a metade da despesa mundial nessa área; se se juntarem os
seus aliados da NATO e o Japão, a participação no total, desse conjunto
aumenta para 75%. Somente as guerras no Iraque e no Afeganistão, no
tempo de Bush, para além do endividamento que as tornou possíveis,
envolveram um custo de $ 25000 a cada família norte-americana (4)(6).

3 - A dimensão das forças armadas

Nem sempre se conhecem com rigor os números dos elementos das forças
armadas, havendo várias razões para esse efeito. O primeiro é o sigilo que os
Estados gostam de manter sobre esse tema, bem no cerne do seu ADN,
considerado elemento garante da soberania. Em segundo lugar, há várias
concepções que podem ou não envolver os elementos na reserva, corpos
paramilitares, guardas pretorianas dos regimes, que podem volumes muito
significativos. Essas situações colocam várias reservas às comparações
internacionais, avolumadas com as diferenças, por vezes de vários anos, das
datas a que os dados se referem.

A título de exemplo, no que se refere a elementos paramilitares, cima dos 400


mil em 2008, registavam-se seis países, no caso do principal – o Irão – com
números impressionantes (7):
1000
Irão 11 390 Venezuela 600
China 3 969 EUA 453
Índia 1 293 Egipto 405

Cruzando várias fontes de informação (8), construiu-se o quadro II que inclui


o número de militares no activo, na generalidade, em 2008, indicadores
como o número de militares no activo por 1000 habitantes ou, o gasto por
cada militar no activo, no mesmo ano, com a comparação dos elementos
relativos aos países da NATO, aos da UE que não pertencem aquela
organização militar e um conjunto de outros países com forças armadas de
grande dimensão.

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Quadro II - Número de militares no activo (aprox. 2008)
Nº Gasto
Nº Militares
militares/1000 militar/militar ($
(1000)
hab 2005)
Mundo (estim) 19.669 - -
Albânia 10 3,1 20
Alemanha 285 3,4 131
Áustria 35 4,1 81
Bélgica 39 3,8 110
Bulgaria 39 5,1 18
Canadá 62 1,9 257
Chipre 10 11,7 42
Croácia 20 4,4 46
Dinamarca 23 4,2 155
Eslováquia 26 4,9 35
Eslovénia 9 4,5 75
Espanha 177 4,0 83
Estónia 5 3,7 73
EUA 1.474 4,8 372
Finlândia 32 6,0 87
França 225 3,5 234
GB 195 3,2 294
Grécia 177 15,9 55
Holanda 53 3,2 186
Hungria 33 3,3 41
Irlanda 10 2,4 113
Itália 240 4,1 134
Letónia 6 2,4 73
Lituânia 14 4,0 38
Luxemburgo 1 1,9 352
Malta 2 5,3 18
Noruega 28 5,9 175
Polónia 155 4,1 48
Portugal 45 4,2 84
Rep Checa 57 5,6 35
Roménia 90 4,2 24
Suécia 34 3,7 154
Turquia 514 6,9 23
Brasil 287 1,5 54
China 2.255 1,7 28
Coreia do Sul 687 14,2 35
Egipto 450 6,0 6
Índia 1.325 1,1 19
Irão 545 7,7 11
Israel 187 27,0 65
Japão 239 1,9 179
Paquistão 650 4,0 6
Russia 1.245 8,7 31
Ucrânia 149 3,2 22
Vietnam 484 5,5 3
Restantes (estim) 7.042 - -

Calcula-se que na totalidade, o número de militares das forças armadas no


activo se situe entre 19/20 milhões de elementos. Nesse total, os quatro países

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com mais de um milhão de soldados – China, EUA, Rússia e Índia –
representam perto de um terço (32%) dos efectivos.

Quanto às forças armadas dos EUA há a destacar que, além da natural


presença no seu próprio território, estão disseminadas por 750 bases militares
espalhadas por cinquenta países. Este aparelho logístico, esta rede integrada
e gerida pelo Pentágono, dota este de um poder estratégico e táctico que é
único no mundo e que torna todos os seres humanos e o ambiente global
dependentes da sua permanente ameaça de destruição.
O segundo corpo militar mais numeroso da NATO pertence à Turquia, cujo
efectivo apresenta uma dimensão que se situa num mesmo patamar da
Coreia do Sul e do Paquistão (quinto e sexto, respectivamente, na hierarquia
mundial) e do Irão, logo seguidos pelo Vietnam e pelo Egipto.

Nos restantes países da NATO a dimensão das forças armadas é muito


heterogénea, nem sempre apresentando uma grande proporcionalidade
com a população do país. Os casos mais assombrosos são Israel (aqui
equiparado a membro da NATO) e caso único de verdadeira ordem militar,
bem como a Grécia, com um enorme efectivo militar, cujo volume não
parece ter sido posto em causa pelos guardiães dos “mercados”, muito mais
motivados para sacrificar trabalhadores e pobres.

Quando se avalia o numero de militares por cada 1000 habitantes, para


além dos referidos atrás, Israel e Grécia, sobressaem ainda a Coreia do Sul e
Chipre, todos com mais de 1% da população nas fileiras. Em Israel chegam
mesmo a 2.7% o que, na realidade será mais se se atender a que a
população árabe, constitui um grande segmento populacional, afastado da
participação nas forças armadas da entidade sionista e de uma integral
cidadania.

Entre os países da NATO ou europeus neutrais destacam-se pelos seus


elevados ratios (> 5.0, isto é > 0.5% da população) - Turquia, Finlândia,
Noruega, República Checa, Malta e Bulgária. O mesmo sucedendo a outros,
como a Rússia (herdeira da superpotência URSS), o Irão e o Egipto, bem
inseridos no arco de instabilidade que atravessa o Médio Oriente, no centro
da encarniçada disputa pelo domínio dos combustíveis fósseis.

Entre os países da NATO ou neutrais da UE as situações de menor peso


relativo do corpo militar, no conjunto da população, registam-se no Canadá
e no Luxemburgo (1.9). Note-se que esses indicadores são mesmo menores
em países de grande população como a Índia (1.1), o Brasil, a China e o
Japão.

O custo unitário de cada militar é particularmente elevado nos EUA, que


possuem as forças militares mais poderosas do planeta, largamente munidas
de meios tecnológicos de fazer a guerra. Nesse capítulo da tecnologia, note-
se o papel que vai sendo atribuido aos “drones”, aviões sem piloto,

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telecomandados de terra, por civis contratados pelo Estado norte-
americano. Também o Luxemburgo, Estado minúsculo mas cofre-forte de
grande relevância para o sistema financeiro, apresenta um custo unitário de
cada militar.

Num segundo plano, posicionam-se a Grã-Bretanha e a França,


subimperialismos, ex-potências coloniais e detentoras de armas nucleares.
Todos os países mais desenvolvidos têm um custo elevado por militar superior
a $-100, exceptuando a Áustria e a Finlândia que não são membros da
NATO.

Entre os países com forças armadas acima dos 100 mil efectivos, somente os
EUA, a França, a Grã-Bretanha, a Itália e o Japão têm custos unitários por
militar acima dos $ 100. Por seu turno, fora do quadro da NATO, apenas o
Japão, a Suécia e a Irlanda ultrapassam aquele valor, sublinhando-se que, os
dois últimos são os únicos com menos de dez milhões de habitantes.

Inversamente, os mais baixos custos por militar observam-se particularmente


entre as forças armadas de grande dimensão e simultaneamente de menor
riqueza, indiciando a sua dificuldade em adquirir os caros equipamentos que
estão disponíveis para os países ricos. Por outro lado, sendo a mão de obra
abundante e barata e o subemprego elevado, é conveniente a
manutenção de grandes exércitos para ocupação de gente. Do ponto de
vista estritamente económico, tem mais impacto no PIB o incentivo ao
consumo interno com o pagamento de salários aos militares, do que importar
equipamentos caríssimos (com a saída de divisas) e fazer aumentar o
desemprego nem ganhar competências técnicas. O problema surge
quando existe um conflito aberto que obriga à aquisição desses
equipamentos sem a redução dois efectivos,

Quer nos países com forças armadas numerosas e baixo índice de


incorporação tecnológica, quer naqueles onde se observa a situação
inversa, há sempre uma casta militar que pode dominar a vida política ou
constituir-se como verdadeiro estado dentro do Estado, como nos casos do
Paquistão, de Israel ou dos EUA, onde a autonomia do Pentágono é tal que
impõe ao presidente as suas próprias escolhas na liderança.

A dimensão humana de um exército não é determinante numa época em


que a tecnologia aplicada ao armamento é, em regra, objecto de especiais
atenções no capítulo da inovação e para a qual os Estados não regateiam
financiamentos. São conhecidos os casos em que certas inovações
tecnológicas começaram por ter, na base e no objectivo, uma aplicação
militar, antes da sua utilização pelo mundo em geral, sendo a internet o caso
mais conhecido. Nesse contexto, a dimensão em termos humanos de umas
forças armadas, dentro de determinadas proporções, pouco informa sobre o
potencial destrutivo, a mobilidade e o grau de prontidão desse efectivo
militar. Como se sabe, o exercito iraquiano, quando da invasão norte-

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americana, em 2003, tinha um efectivo humano muito superior ao dos
“aliados” e isso foi manifestamente insuficiente para fazer frente ao poder de
fogo e de uso da tecnologia das hordas do Pentágono.

Se um efectivo militar pertence a um país desenvolvido, a priori estará


munido de equipamentos sofisticados e caros, com utilizadores bem
industriados e com elevada capacidade técnica para manejar
equipamentos complexos. Essa elevada componente técnica é uma das
razões para se irem extinguindo os regimes de recrutamento baseados no
serviço militar obrigatório (SMO), por lapsos de tempo curtos (até dois anos),
insusceptíveis de gerar experiências acumuladas no manejo desses
equipamentos. Aliás, mesmo no tempo do SMO, certas especialidades,
mormente na marinha e na aviação, eram objecto de um recrutamento
específico, com horizontes largos de permanência e por – entre outras -
razões técnicas. Por outro lado, é do interesse dos governos e do poder
capitalista, a existência de uma casta militar estável e fiável que, em
articulação com as polícias proceda à mescla de funções necessária ao
controlo biopolítico da multidão.

Essa fusão de funções militares e policiais está bem expressa na doutrina da


NATO, com a validação aprazada do seu novo catecismo – Novo Conceito
Estratégico – para Novembro próximo, em Lisboa. Quando se incluem nas
preocupações da NATO problemas de migrações clandestinas, exige-se uma
integração com as polícias de fronteira; quando a organização pretende
incluir nos seus objectivos o crime organizado, o narcotráfego ou a actuação
dos “hackers”, obriga-se a exercer actividades de polícia criminal.

Neste contexto, a defesa de um retorno ao SMO é uma sementeira de


ilusões. Primeiro, porque a actual forma de domínio biopolítico das
sociedades faz da integração entre polícias e militares uma das questões
essenciais para o prolongamento da vida do capitalismo e a defesa do SMO,
tem algo de paralelo, com a criação da Icaria, no século XIX. Por outro lado,
mesmo os exércitos baseados no SMO, só raras vezes foram protagonistas de
intervenções progressistas na vida dos povos; a estrutura hierárquica e o
autoritarismo existente nas fileiras não favorece a colocação dos soldados
ao lado do povo, sem um apoio significativo da oficialidade. Como se sabe,
o 25 de Abril português foi determinado pela baixa oficialidade,
naturalmente, com a adesão entusiástica dos soldados. Em regra, as
transformações sociais profundas passam pelo desmantelamento dos
exércitos; ainda que, lastimavelmente, com a edificação de outros, que se
lhe substituem, com o mesmo espírito e vícios de casta.

Por outro lado, em contexto de globalização, de fronteiras abertas, de


integração económica e política dos países em grupos geoestratégicos de
geometria variável, do domínio das multinacionais, de aposta deliberada no
“mercado global”, nas exportações, a defesa do mercado interno – a nação
- como coutada defendida por guerreiros devotados e patriotas, acabou. As

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burguesias nacionais acham-se desarmadas para a defesa da “coesão
nacional” como justificação para as suas forças armadas, uma vez que o
poder, no essencial, cabe a instituições regionalizadas ou mundializadas.

Nesse sentido, as forças armadas, como factores dessa coesão nacional já


não são necessárias, subalternizado que está o conceito de pátria perante a
integração regional ou dos mercados, se se preferir. Para as populações,
contudo, ainda se brande a carta nacionalista e uma tradição de defesa da
pátria, cada vez mais descabida e em contradição com a grande
interconectividade entre os povos, com as viagens frequentes, os fluxos
migratórios, as trocas de informação na internet, etc.

Mais do que nunca é clara a partição social entre uma classe mundial dos
capitalistas, com múltiplas instâncias de coordenação nos campos político,
económico, financeiro… e militar; e a esmagadora maioria da Humanidade
que é pretendida como laboriosa, qualificada e, através do controlo
biopolítico global, mansa e resignada, mesmo quando os níveis de
subsistência baixam ao ponto da inclusão em programas implícitos de
genocídio.

O capitalismo globalizado precisa, portanto, de uma força militar também


globalizada, hierarquizada e hierarquizante para estabelecer a autoridade
do capital perante os desmandos da sua existência – conflitos internacionais,
crises sociais, “terrorismo”, migrações clandestinas, cibercrime, “pirataria”,
problemas ambientais, segurança das vias de comunicação, crime
organizado, narcotráfego e outros negócios afins, defesa da “democracia”,
etc. Essa força, que está em edificação e reforço doutrinário, dos meios
disponíveis e de organização, está também em fase de construção de novas
formas de instalação e actuação a nivel territorial.

Esse poder militar global precisa de centuriões nas fronteiras e de agentes


regionais e locais, da mesma forma que a existência de um comando distrital
da polícia não dispensa a existência de esquadras de bairro para garantia
da lei e da ordem. Por isso, num plano global, o capitalismo exige a presença
de castas militares localizadas mas, integradas e mobilizáveis no seio de uma
NATO reformulada, às ordens de um poder unificador, o Pentágono; o Novo
Conceito Estratégico é a forma dessa reformulação.

4 - O armamento dos principais paises

Mantém-se neste capítulo a ausência de dados sistematizados sobre o


armamento das forças armadas, naturalmente, fazendo parte das políticas
de sigilo levadas a cabo pelos Estados. Esse sigilo, de facto, deve dirigir-se
aos povos, uma vez que os serviços secretos fornecerão aos estados-maiores
as informações necessárias sobre os potenciais inimigos e rivais, para efeito
de dimensionamento dos seus recursos humanos, materiais e logísticos, de

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planeamento operacional e de aquisições. Convém recordar que é
bastante comum, nas aquisições, a corrupção das altas patentes, a ligação
interessada destas aos grandes grupos fornecedores; e, estes, raramente
regateiam essas comissões dada a concorrência e o elevado valor das
encomendas. O episódio que relaciona a Ferrostaal, o cônsul de Portugal em
Munique e os submarinos é ilustrativo… e ainda se não conhecem muitos dos
pormenores e intervenientes.

O quadro seguinte (Quadro III) evidencia, quantificando, os principais


elementos dos arsenais guerreiros dos principais países do planeta e
apurando, em particular, o poder destrutivo da NATO. A especificação é
feita para aviões, helicópteros, tanques, navios e submarinos (9).

Quadro III - Meios militares dos principais países periodo 2001-2008


Aviões Helicópteros Tanques Navios Submarinos
Alemanha 350 748 5.699 130 13
Canadá 399 168 2.194 34 4
Dinamarca 161 40 nd 51 4
Espanha 691 311 2.869 90 8
EUA 18.169 4.593 29.920 1.559 75
França 1.023 892 8.536 134 10
Grã-Bretanha 1.891 779 5.121 139 17
Grécia 847 218 4.403 118 8
Italia 1.594 716 3.355 107 7
Noruega 141 66 nd 45 6
Polónia 807 291 nd 87 4
Suécia 744 150 540 77 9
Turquia 1.199 336 6.672 182 13
Brasil 1.272 372 1.676 89 5
China 1.900 491 31.300 760 68
Coreia do Sul 538 502 8.325 85 20
Egipto 1.230 243 9.357 93 4
Índia 1.007 240 10.340 143 18
Irão 84 84 5.449 65 3
Israel 1.230 386 14.200 18 3
Japão 1.957 745 2.040 147 18
Paquistão 710 198 3.919 33 11
Russia 3.888 2.625 79.985 526 61
Ucrânia 2.451 743 nd 46 1

NATO 27.272 9.158 68.769 2.676 169


Restantes 17.011 6.779 167.131 2.082 221

Entre as forças aéreas presentes no quadro a dimensão das flotilhas dos


países da NATO é muito superior à dos restantes países que, para mais não

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pertencem a um mesmo bloco militar, nem podem tirar as vantagens da
homogeneidade do equipamento. E, neste campo, essa supremacia
numérica é mais elevada do que nos outros tipos de máquinas de guerra.

A força aérea dos EUA, isolada, sem a consideração dos outros aliados da
NATO é superior à soma dos outros países considerados, não aderentes à
NATO. Essa superioridade aérea é possível por várias razões. Primeiro, pelo
domínio da tecnologia, mormente detida por três empresas – Boeing,
Lockheed-Martin e Northrop Grumman; depois, pela constante pesquisa e
inovação, sob encomenda do Pentágono, que tem uma imensa autonomia
no seio da administração norte-americana, a qual não lhe regateia verbas
orçamentais; pela existência de uma economia poderosa mantida pela
facilidade de recurso ao crédito (emissão de dólares) que mais nenhum país
detém; finalmente, pela determinação em manter uma hegemonia militar a
nível mundial que obriga os EUA a considerar o resto do planeta como
existentes para a satisfação “dos interesses nacionais dos EUA”,
nomeadamente no campo energético.

A força aérea dos EUA, pela sua dimensão, a sua mobilidade, os vários
pontos de apoio espalhados pelo mundo é o principal instrumento da
hegemonia norte-americana a nível planetário.

Nos outros lugares do pódio no que respeita à aviação situam-se a Rússia e a


Ucrânia, embora no caso desta última, o equipamento deva ser antigo e as
dificuldades económicas do país não permitirem a sua renovação.

Num mesmo patamar quantitativo, encontram-se o Japão, a China, a Grã-


Bretanha e a Itália, havendo ainda mais seis Estados com mais de mil aviões
de guerra. A frota israelita, enorme para a sua dimensão territorial e humana
revela o seu papel de fortaleza, de ameaça permanente a todos os povos
do Médio Oriente e do Mediterrâneo Oriental; e que lhe permite ter
bombardeado sem punição, nos anos 80, a central nuclear iraquiana de
Osirak e ansiar pela autorização dos EUA para fazer o mesmo no Irão, com
consequências desastrosas para a região e nos preços da energia… o que
não conviria em tempos de recessão.

No que se refere aos helicópteros, a superioridade dos países da NATO é


também elevada, embora menor do que nos aviões de combate. Sendo o
helicóptero uma arma táctica, desempenha uma função mais localizada e,
portanto, não é um elemento de domínio estratégico.

Note-se que os EUA, detendo de longe o principal efectivo de helicópteros,


detêm nos aviões uma superioridade que, em relação à Rússia é de 4.7/1, a
qual se reduz para 1.8/1 nos helicópteros. Num patamar bem mais baixo do
que o das superpotências militares, com 700/800 aparelhos, destacam-se a
Grã-Bretanha, a Alemanha, o Japão, a Ucrânia e a Itália. Provavelmente, a

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posição da Ucrânia tenderá a baixar, na hierarquia das máquinas de guerra,
à medida que se vá diluindo a herança soviética.

É bem patente nos dados apresentados, relativos a 2006, a relevância dos


meios aéreos do Irão, bem longe do que sobressai da propaganda norte-
americana que, perante os factos, revela que a “ameaça” iraniana dá pelo
nome de recursos energéticos, há mais de trinta anos cobiçados pelo
Pentágono.

Já no que se refere aos tanques, a NATO não dispõe da superioridade


observada atrás, detendo com os restantes países uma relação de 4/10,
devendo-se isso aos grandes parques que, particularmente, a Rússia e a
China detêm. Estes, tratando-se de países com carácter continental, com
longas e remotas fronteiras, e algumas disputas fronteiriças (caso da China
com a Índia e a questão de Taiwan), supostamente, tenderão a exigir um
elemento dissuassor adequado para os seus exércitos.

Também no âmbito da NATO, os EUA deixam de ter a maioria absoluta


destes veículos mas, mesmo assim, com um volume superior à soma dos
maiores detentores seguintes – França, Turquia, Alemanha e Grã-Bretanha.

Uma vez mais, Israel surge em grande destaque, situando-se no quarto posto
da hierarquia mundial, muito acima dos restantes países e, porventura
apresentando a maior densidade de tanques por quilómetro quadrado.

No quadro do latente conflito regional entre a Índia e o Paquistão, já


protagonistas de várias guerras, a superioridade indiana é patente.

A marinha de guerra, tal como a aviação, constitui um outro instrumento


essencial de domínio global, tendo em conta a sua mobilidade e
capacidade de destruição. E aí, de novo a NATO surge com uma evidente
superioridade relativamente ao conjunto dos restantes países do mundo,
embora o seu papel seja reduzido no apoio às tentativas de implantação
estratégica dos EUA na Ásia Central; ao contrário da aviação que pode
operar sem limitações geográficas, em terra e no mar.

A superioridade naval da NATO, não tendo em consideração a diversidade


da composição e a autonomia das frotas, pode aferir-se a partir do facto de
que o número de navios da organização superar os pertencentes ao resto do
mundo, em 29%.

Por outro lado, os meios navais dos EUA suplantam de modo esmagador os
detidos por qualquer outro país e mesmo, quer a soma dos navios russos e
chineses, ou o conjunto de todos os aliados da NATO; os EUA detêm 58% das
marinhas de guerra do total dos principais países da NATO.

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Note-se que marinhas de guerra, historicamente importantes e até
dominadoras – caso da Grã-Bretanha, da Alemanha, da França e do Japão
– não representam, cada uma delas 9% dos efectivos norte-americanos.

Convirá ainda sublinhar, neste contexto, a enorme concentração de meios


navais no Mediterrâneo/Egeu pertencentes à Turquia e à Grécia. Os turcos
detêm a quarta maior frota de guerra mundial e a Grécia a décima primeira,
estando, decerto, luxos desta natureza presentes nas dificuldades financeiras
deste país. Dentro da lógica prevalecente no jogo de espelhos constituido
pelo BCE, pelo FMI, pela Comissão Europeia e os obscuros “mercados”, para
o combate ao deficit grego, prefere-se reduzir salários e criminalizar os
funcionários públicos.

Acredita-se que os almirantes lusos se devem roer de inveja face aos seus
congéneres gregos e aguardam ansiosos os submarinos que os farão
ultrapassar o patamar de guardas costeiros onde o seu desempenho não
tem constituido um caso de sucesso. Ressalva-se o seu valente desempenho
no combate às pequenas lanchas, com meia dúzia de homens (“piratas”
somalis) para defesa do saque do atum por pesqueiros espanhóis, entre
outros. Recorde-se que o almirantado lusitano não frequentava águas do
Índico desde a gloriosa fuga, dentro do porto de Pangim, do “Afonso de
Albuquerque” - entre navios mercantes ancorados, até encalhar em terra –
perante a marinha indiana, no fim da colonização portuguesa de Goa
(1961).

Finalmente, o último vector de máquinas de guerra aqui considerado é o dos


submarinos. Aqui, a supremacia da NATO é relativa, uma vez que o conjunto
das outras frotas supera o total dos submersíveis pertencentes aos países da
organização.

Os EUA detêm o maior efectivo de submarinos, seguidos, relativamente de


perto, pela China e pela Rússia. No contexto da NATO, os EUA têm apenas
44% dos submersíveis.

Todos os outros Estados possuem 20 ou menos embarcações, com algum


destaque para a Coreia do Sul, a Índia, o Japão e a Grã-Bretanha. Uma vez
mais se destaca o relevo da Grécia, com um número de unidades pouco
consonante com a dimensão económica e populacional do país e cuja
integridade não é disputada por nenhum outro Estado.

5 - Empresas produtoras de armamento

O Quadro IV hierarquiza as dez principais empresas mundiais no âmbito do


armamento, de acordo com a dimensão das suas vendas nesse sector; e
evidencia também, o grau de dependência relativamente às encomendas

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militares, a rendabilidade do negócio, o volume do emprego e os tipos de
equipamentos que produzem.

Quadro – IV - As principais empresas produtoras de armamento (2007)*


Vendas de armas
Taxa de
% no Área de
Empresa País lucro Emprego
$ milhões total da produção
(%)
empresa

1 Boeing EUA 30.480 46 13,4 159.300 1,3,4,9


2 BAE Systems Grã-Bretanha 29.850 95 6,0 97.500 1,2,3,4,5,6,8
3 Lockheed Martin EUA 29.400 70 10,3 140.000 1,3,4,9
4 Northrop Grumman EUA 24.600 77 7,3 122.000 1,3,4,7,8,9
5 General Dynamics EUA 21.520 79 9,7 83.500 2,3,5,7
6 Raytheon EUA 19.540 92 7,5 72.100 3,4
7 BAE Systems ** EUA 14.910 100 9,9 51.300 2,3,5,6
8 EADS UE 13.100 24 (4,7) 116.490 1,3,4,9
9 L-3 Communications EUA 11.240 81 6,7 64.600 3,7
10 Finmeccanica Itália 9.850 54 7,2 60.750 1,2,3,4,5,6
11 Thales França 9.350 56 13,0 61.200 3,4,6
* Exclui China ** Subsidiária da BAE Systems (Grã-Bretanha) Fonte: SIPRI

1 – Aviões 4 – Mísseis 7 - Serviços


2 – Artilharia 5 - Veículos militares 8 - Navios
3 – Electronica 6 - Pequenas armas e munições 9 - Aerospacial

Como se pode verificar, os EUA detêm um grande domínio entre as principais


empresas produtoras. A procura de uma posição hegemónica no planeta
conduz à manutenção de umas forças armadas poderosíssimas, em regra
envolvidas directamente em guerras ou, promovendo-as através de
terceiros. Esse facto obriga à existência de um sector doméstico de
armamento, garantidamente viabilizado economicamente pelas
encomendas do Pentágono, de países subsidiários ou de gangs partidários
no poder; e, para o efeito, é alimentada uma vasta rede de recolha de
informações, de angariação de agentes, de promoção de actividades
corruptas de “procurement” ou “lobbying” no sentido da venda de
equipamentos ao exterior e assim garantir a rendabilidade dos capitais
investidos. Tudo isto, como exemplo típico do que é o capitalismo real, em
nada semelhante ao lirismo do mercado livre, cantado pelos menetréis do
neoliberalismo.

O volume de vendas, muito próximo, entre as três primeiras empresas,


distancia-se das distantes, apresentando-se a última empresa da lista incluida
no Quadro IV, com menos de um terço da facturação dos primeiros: o que
revela um elevado grau de concentração do sector a nível mundial.

Todas as empresas cimeiras têm um elevado número de trabalhadores e


uma taxa de lucro bastante aceitável. Como se trata de encomendas

www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 23
públicas, em grande parte provenientes dos próprios países em que estão
inseridas, a pressão para a baixa de preços não é a que se verifica em outros
sectores de actividade. Os Estados sempre foram menos exigentes nos
preços que pagam a empresas dos seus respectivos complexos militares-
industriais do que com os trabalhadores que nelas trabalham.

Quanto à diversidade da produção, a mais abrangente é a inglesa BAE


Systems, com mais uma valência que a norte–americana Northrop Grumman
ou a italiana Finmeccanica. Por seu turno, a Raytheon e a L-3
Communications, ambas dos EUA, têm uma actividade concentrada em
apenas dois segmentos.

Na lista divulgada pelo SIPRI (10), constam 117 empresas, cujo agrupamento
por nacionalidade produz o seguinte resultado:

Alemanha 5 Israel 3
Austrália 2 Itália 9
Canadá 1 Japão 4
Coreia do Sul 6 Noruega 1
Espanha 4 Rússia 7
EUA 48 Singapura 1
Finlândia 1 Suécia 1
França 8 Suiça 1
Grã-Bretanha 11 UE 1
Índia 3 Total 117

Nesse total, 75% estão localizadas em países da NATO e, entre estes, os EUA
contribuem com 41%, a que se seguem, a grande distância a Grã-Bretanha,
a Itália e a França. O domínio mundial dos EUA na produção de armamentos
mantém-se muito marcado, mesmo quando se alarga a listagem a empresas
com um volume de vendas na ordem dos $ 500 mil, em 2007.

Em Portugal também existe um conjunto de empresas vocacionadas para,


pelo menos parcialmente, exercerem actividade na área da defesa e que se
encontram-se englobadas numa sociedade holding denominada Empordef
– Empresa Portuguesa de Defesa, SGPS, SA. Esta empresa, com um capital
social de € 141.9 M tem prejuizos acumulados de € 66.2 M, em 2008.

As suas participadas constam do seguinte Quadro V (11):

Quadro V 2008
particip Resultados
Vendas
ação Actividade liquidos do
(M €)
(%) ano(M €)
Arsenal do Alfeite 100 reparação naval nd nd
Estal. Nav. Viana Castelo 100 construção naval 129,6 (12,100)
Navalrocha 45 reparação naval 6,2 0,700

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desmilitarização de
IDD 100 2,1 0,25
materiais de defesa
manutenção e reparação
OGMA 35 141,5 5,6
de aviões
Edisoft 30 software 6,1 0,300
EID 31,8 sistemas de comunicação 19,5 1,100
ETI 100 software de simulação 1,9 (0,170)
Portugal Space 83,75 tecnologia espacial 0 (0,010)
Defloc 81 locação 15,0 (0,050)
Defaerloc 100 locação de aviões 0 0,000
OGMA Imobiliária 100 imobiliária 0 (1,350)
Ribeira d'Atalaia 56,58 construção civil 0 (0,700)

Enquanto sector de defesa, este conjunto de empresas apresenta várias


características que o debilitam. Algumas das empresas relevantes estão
dominadas por interesses privados (e até estrangeiros como no caso da
OGMA) que dificilmente se integrarão numa lógica dominada por interesses
militares portugueses. Só de modo muito episódico poderão ser produzidos
equipamentos militares, não passando algumas empresas de actividades de
apoio ou de prestação de serviços. Por outro lado, engloba empresas
secundárias num complexo militar, nomeadamente as locadoras e as da
área imobiliária ou de construção. Finalmente, poucas valias têm oferecido
em fórmulas de contrapartidas na aquisição de equipamentos militares no
estrangeiro.

Neste contexto, não é estranho que nas vendas, as de carácter militar


apenas representem cerca de 1/3 da facturação global e que a
exportação, neste contexto, participe apenas com 54.5%, em 2008.

Facturação em 2008
M€ %
Militar 98,8 32,1
nacional 45,0 45,5
exportação 53,8 54,5
Civil 208,9 67,9
nacional 43,9 21,0
exportação 165,1 79,0
Total 307,7 100,0
nacional 88,9 28,9
exportação 218,9 71,1

E, para finalizar, torna-se compreensível que Portugal não tenha uma só


empresa na lista das 117 maiores empresas da área militar e que, portanto
seja um importador líquido de equipamentos, como adiante se verá.

www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 25
6 - Países vendedores de armamento

Segundo o SIPRI, as exportações de armamento acumuladas nos vinte anos


que terminaram em 2009 corresponderam a $ 468199 M, a preços constantes
de 1990, numa média anual de € 23410 M e que corresponde a cerca de $78
por ser humano actualmente existente.

Poderá parecer irrisório esse custo para a Humanidade. Porém, convirá


sublinhar que se trata de um cômputo que avalia apenas as transações
internacionais dos vários componentes dos arsenais dos países, não
considerando, portanto, a produção que se destina às forças armadas dos
próprios paises produtores. De facto, se os países pobres, desprovidos de
relevantes fábricas de armamento, recorrem essencialmente à importação
para equipar minimamente os seus muitos e mal pagos soldados, o mesmo
não se passa com os países ricos e poderosos que, têm os maiores
orçamentos militares, as grandes fábricas de equipamentos sofisticados,
como também apresentam forças armadas munidas com alta tecnologia e
quadros bem pagos.

Assim, uma enorme proporção da produção de armamento dos países


produtores não é objecto de inclusão no comércio internacional, porquanto
é absorvida pelos suas forças armadas domésticas, que contribuem
largamente para a sua viabilidade económica. Por outro lado, serão
consideradas nos valores das transações internacionais, as vendas de
equipamentos em segunda mão, que não são protagonizadas pelos
fabricantes mas, antes objecto de negócios envolvendo componentes
financeiras e políticas nem sempre claros. Para actualizarem e modernizarem
as suas forças armadas, os Estados procuram, ao procederem à encomenda
de novos equipamentos, colocar os meios obsoletos ao dispor de países com
menos suporte financeiro ou interesse em se posicionarem na vanguarda das
tecnologias existentes.

Poderá, contudo e para se aquilatar a distância que vai entre a produção


mundial de armas e a exportação de armamento, avaliar-se a fatia que é
absorvida pelos próprios países produtores. Um exercício aproximativo, dadas
as diversas unidades de medida, consegue-se comparando o comércio de
armamento em 2007 - $ 25443 M (preços de 1990) com os $ 213 840 M das
vendas das onze maiores aglomerados referidos acima (Quadro V) em 2007
(preços correntes).

Neste campo podem-se fazer algumas comparações interessantes com os $


213 840 M daquelas vendas:

• PIB em 2007: da Tailândia - $ 245384 M (população 63.9 M); da


Venezuela - $ 233450 M (população 27.7 M); de Portugal - $ 219499
(população 10.5 M)

www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 26
• Sensívelmente, aquele valor de vendas de armas teria permitido
duplicar o rendimento dos 320 M de habitantes de 25 países da África
oriental e central cujo PIB conjunto foi $ 244032 M em 2007

O imediato periodo que se seguiu ao final da guerra fria e o subsequente


desmembramento da URSS trouxe um periodo de redução das transacções
internacionais de equipamentos, com a geração de fundas preocupações
entre os fabricantes de armamento e os estados-maiores, por motivos
diferentes mas, coincidentes quanto à forma de superar essa crise da
procura.

Os produtores de armas queriam, naturalmente que houvesse mais guerras e


tensões para manter activas as suas linhas de produção e cheios os bolsos
dos seus accionistas. Os generais e almirantes, para justificar as suas profícuas
existências precisavam de ser criativos para justificar o rearmamento junto
dos governos e da população.

Essa criatividade é bem patente quando a NATO, depois de uma primeira


fase de confusão, perante a desaparição do inimigo que justificava a sua
existência, inventou uma vasta panóplia de ameaças, umas mais difusas ou
etéreas e outras, francamente perigosas, pois vieram a conduzir a teatros
reais de guerra - sem figurantes, como nas tradicionais manobras - com
destruição de vidas e bens, num contexto geograficamente alargado (6).

Essa falta de concretização das ameaças e dos inimigos não resulta da falta
de massa cinzenta dos militares e dos seus consultores mas, de um propósito
deliberado de deixar vago o campo de aplicação das intervenções
militares, contrariamente ao que sucedia no tempo da guerra fria, em que o
espaço e os motivos da guerra eram calculados ao milímetro.

As compras de armamento pelos países obedecem a planeamentos


efectuados a médio prazo, sobretudo quando se trata de aquisições de
equipamentos novos, em que é preciso considerar as disponibilidades das
linhas de montagem dos fabricantes, assegurar financiamentos e prazos de
pagamento . E cada país tem os seus próprios planos e calendários, pelo que
a soma das transações internacionais têm variações que não se justapõem
exactamente aos periodos de crises e guerras ou ausência delas. Por outro
lado, os prazos de validade dos equipamentos militares são limitados, como
acontece com qualquer outro equipamento, mesmo os socialmente úteis.

Depois da quebra observada no gráfico seguinte, para o primeiro lustro dos


anos 90, 1997/98 é um periodo de recrudescimento com responsabilidades
repartidas por vários compradores – Grécia, Israel, Japão, Malásia, Arábia
Saudita, e Turquia, casos em que o principal fornecedor foram os EUA; a
Índia, abastecida pela Rússia; e ainda Taiwan, pelos EUA e pela França.

www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 27
Vendas de armamento (1990/2009)
M$ de 1990
32.000

28.000

24.000

20.000

16.000

12.000

8.000

4.000

0
90

91

92

93

94

95

96

97

98

99

00

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03

04

05

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09
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19

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19

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20
O periodo 2000/2005 mostra-se relativamente pouco activo no que se refere
às transações internacionais de armamento. E isso, a despeito do medo
inculcado na multidão face à ameaça terrorista após o 11 de Setembro e as
invasões norte-americanas e seus sequazes, do Afeganistão e do Iraque.

Em 2006/2007 assiste-se a um novo aumento das compras de armamento,


sendo esse incremento resultante de um naipe de países compradores e
fornecedores mais alargado do que cerca de dez anos antes. Entre os
fornecidos pelos EUA salienta-se a Coreia do Sul, o Canadá, o Kuwait e o
Japão; os clientes da Rússia são a Índia e a Argélia; a Holanda abasteceu a
Noruega, o Chile e a Alemanha; e a Alemanha procedeu a grandes vendas
à Itália, posicionando-se como grande fornecedor da Grécia (em parceria
com a França) e da Malásia aqui, juntamente com a Rússia.

A distribuição das vendas de armamento no periodo 1990/2009 por grandes


grupos de fornecedores apresenta-se de acordo com o gráfico que abaixo
se segue.

Para todo o periodo considerado (1990/2009), em resumo, os países da NATO


procedem a cerca de 2/3 das vendas mundiais de armamento, contra 21.2%
do conjunto China-Rússia-Ucrânia, enquanto os paises neutros da Europa
(Suécia e Suiça) se quedam pelos 2.4% e o resto do mundo em 9.3%.

Nos dois primeiros anos utilizados existe um problema de classificação, uma


vez que não se conhecendo dados para a Rússia e a Ucrânia, não é possível

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separá-los dos restantes países do mundo, o que, envieza ligeiramente o
valor acumulado para as duas décadas.

Com a ressalva anterior, na década de 90, os países da NATO (onde se inclui


Israel, por motivos já referidos) ultrapassam sempre os 70% do total das
vendas, chegando mesmo a 84.6% em 2008, patamares que nunca mais
foram atingidos.

(% ) Vendas de armamento (1990/2009)


100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0
90

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l
ta
To
19

19

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19

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19

19

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

Membros da NATO - Europa EUA-Israel Países neutros da Europa


China-Rússia-Ucrânia Resto do mundo

O triângulo China-Rússia-Ucrânia estabelece, no periodo 1999/2004, uma


consolidação da sua posição num patamar bem mais elevado que
anteriormente e que chega aos 37.6% da procura mundial, em 2001,
parecendo vir a estabilizar para quotas de mercado entre 25 e 30%.

No que se refere aos países da UE que são da NATO, observa-se que no


periodo 1994/2000 o seu peso no total das vendas de armamento cifrou-se
um pouco acima de 1/4 do total e, nos últimos cinco anos mantém-se com
uma quota tendencialmente acima dos 30% atingindo 35.1% em 2007.

www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 29
Quanto aos países neutros da Europa, mantêm uma posição firme que subiu,
claramente, a partir de 1999, chegando ao máximo de 5.4% em 2001.

Em suma, estas tendências mostram uma repartição relativamente igualitária


entre a UE, o binómio EUA-Israel e o conjunto China-Rússia-Ucrânia.

Entre os principais países europeus, verifica-se uma tendência para o


crescimento da quota de mercado de todos eles, particularmente no último
lustro, com a excepção da Grã-Bretanha.

Quota média por periodo (%)


1990/1994 1995/1999 2000/2004 2005/2009 1990/2009
Alemanha 7,6 6,2 6,5 10,6 7,7
Espanha 0,5 0,8 0,4 2,5 1,1
França 3,9 8,4 7,4 8,0 6,9
GB 5,6 6,5 5,8 4,1 5,5
Holanda 1,8 1,9 1,4 3,6 2,2
Itália 1,0 1,6 1,4 2,6 1,6
Total 20,4 25,3 22,9 31,4 25,0

Os EUA, abarcando quase metade das vendas mundiais de armamento na


década de 90, recuam para menos de 1/3 na primeira década do século
XXI. Isto sucede, precisamente, quando após o bombardeamento da
Jugoslávia, os EUA acentuam a sua crispação, as suas pretensões a uma
hegemonia absoluta e marcam de acções guerreiras a sua intervenção,
com o tenebroso “diktat” vomitado por G W Bush “Quem não estiver
conosco, está com o terrorismo”, bem dentro do maniqueismo típico dos
fundamentalistas cristãos. Na realidade, os desejos de domínio planetário dos
EUA esbarram, para além das resistências mais explícitas ou mais surdas dos
povos e dos Estados, com uma fragilidade económica evidente que se
manifesta, neste caso concreto, na perda de importância relativa no
comércio de armamento.

Quota média por periodo (%)


1990/1994 1995/1999 2000/2004 2005/2009 1990/2009
49,2 49,5 32,1 29,8 40,9

Contudo, a grande valia dos EUA, no contexto mundial, no contexto


económico é essencialmente, a capacidade de emissão ilimitada de títulos
(moeda e dívida pública), transferindo para os seus credores a
responsabilidade pela sua potencial insolvência. Em termos da produção de
bens e serviços, estratégicamente e para além dos vectores ligados ao
complexo militar (aviação, comunicações, software…), são de nomear, a

www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 30
produção cinematográfica e de conteúdos (com o papel ideológico
inerente) e a produção (altamente subsidiada) de cereais.

No âmbito do conjunto China-Rússia-Ucrânia observa-se, no periodo


observado – do qual se excluiu o periodo 1990/94 por razões já expostas –
uma estabilização dos pesos relativos da China e da Ucrânia, com
representatividades globais modestas e evidenciando-se a Rússia, como a
segunda potência exportadora mundial, apesar da quebra na última
metade da última década.

Quota média por periodo (%)


1995/1999 2000/2004 2005/2009 1990/2009
China 2,4 2,3 2,4 2,8
Russia 13,3 28,7 23,6 16,8
Ucrania 1,9 1,9 1,8 1,5
total 17,6 33,0 27,7 21,2

Numa referência a Portugal, as exportações do país, reportadas na base de


dados do SIPRI situam-se apenas em 2008 e 2009 e computam-se em $ 87 M
e $ 40 M (preços de 1990), respectivamente (0.38% e 0.18% do comércio
mundial). Recorda-se que, no relatório da Empordef, atrás referido, as
exportações militares em 2008 se cifram em € 53.8 M, onde se incluirão,
porventura, exportações de serviços, que não estão contemplados nos
dados coligidos neste capítulo.

As exportações portuguesas de armamento em 2008 destinaram-se ao


Uruguai e ao Chile e, em 2009, à Bélgica.

7 – Vendedores por tipo de armamento

Viu-se no ponto anterior a distribuição das vendas de armamento por grupos


de países, procedendo-se agora à sua avaliação por tipo de equipamentos.

A preponderância do conjunto dos países da NATO (onde se inclui Israel)


observa-se em todos os segmentos de equipamentos, numa média global
que corresponde a cerca de 2/3 das vendas mundiais. Abaixo daquele
patamar somente se verifica o caso dos tanques (54.9%), sendo muito
superior a supremacia no que se refere ao fornecimento de satélites e
“outros”: quanto a máquinas e sensores, o peso das vendas dos países da
NATO situa-se em cerca 3/4 do total mundial.

No caso dos aviões, o binómio EUA-Israel, nomeadamente os EUA detêm a


maioria das vendas mundiais, seguindo-se o conjunto China-Rússia-Ucrânia a
grande distância, sendo modesta a participação dos países europeus da
NATO.

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Vendas de armamento por tipo de equipamento
(%)
(1990/2009)

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0
es

s
s

l
es
ia

s
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a

Ta

Sa
Ar

Se
ti-

M
an
as
em
st
Si

Membros da NATO - Europa EUA-Israel Países neutros da Europa


China-Rússia-Ucrânia Restantes

Quanto aos sistemas antiaéreos e tanques a participação da NATO-Europa e


da China-Rússia-Ucrânia aproxima-se de 1/4 das vendas mundiais, atrás da
posição de EUA-Israel, mais baixa no contexto dos tanques, ainda que em
ambos os casos detenham a maior fatia do mercado. No que se refere aos
tanques, observa-se a maior participação dos restantes países (18.2%).

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Nas vendas de artilharia, a posição dominante pertence à NATO-Europa,
seguida de muito perto pela participação dos EUA-Israel. Os restantes países
têm um peso superior ao do conjunto China-Rússia-Ucrânia.

No caso das máquinas, o predomínio dos EUA-Israel é elevado, ocupando a


NATO-Europa que responde por 1/3 das vendas, enquanto o conjunto China-
Rússia-Ucrânia e os restantes têm pesos aproximados.

No capítulo dos mísseis, de novo surge o domínio dos EUA-Israel, com a


China-Rússia-Ucrânia a ocupar perto de 1/4 do total, muito acima da
posição da NATO-Europa que, pelos dados do SIPRI, é o único vendedor de
satélites.

Nos “outros equipamentos” a parcela dos países da NATO é muito grande,


como aliás, nos sensores, onde é notória a relevância dos países neutrais da
Europa, a Suécia e a Suiça.

Quanto à venda de navios de guerra, a NATO-Europa domina as vendas


mundiais com 55.7% do total no conjunto das duas décadas, assinalando-se
o terceiro lugar dos EUA-Israel, atrás da China-Rússia-Ucrânia.

O perfil exportador de cada grupo de países, de acordo com o tipo de


equipamentos militares, consolidado nas últimas duas décadas, apresenta
diferenças claras, como se pode observar no quadro seguinte.

(%)
Paises China-
NATO- EUA-
neutrais - Rússia- Restantes Mundo
Europa Israel
Europa Ucrânia
Aviões 26,6 55,6 24,6 49,3 40,7 44,9
Sistemas anti-
3,7 3,6 7,2 4,3 0,7 3,6
aéreos
Tanques 10,9 9,2 11,7 14,0 23,6 12,1
Artilharia 2,7 1,5 1,7 1,2 3,3 1,9
Máquinas 3,4 2,7 0,4 1,4 2,8 2,6
Mísseis 9,8 15,8 9,0 15,3 12,8 13,8
Outros 0,7 0,6 0,0 0,0 0,7 0,5
Satélites 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Sensores 7,4 4,9 28,3 1,8 1,5 5,1
Navios 34,8 6,0 17,2 12,6 14,0 15,6
Fonte: SIPRI - Stockholm International Peace Research Institute

A exportação a nível mundial é dominada pelo elevado valor dos aviões,


seguidos num mesmo patamar pelos navios, os mísseis e os tanques.

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No que concerne aos países europeus da NATO, os dois principais vectores
são as vendas de navios e aviões. No âmbito de cada um dos países, há
diferenças assinaláveis de especalização; na Alemanha os navios e os
tanques têm um grande predomínio, a Espanha reparte as suas exportações
por navios e aviões, na França e na Grã-Bretanha preponderam as vendas
de aviões e navios, a Holanda centra-se em navios e sensores enquanto a
Itália fornece particularmente, navios, aviões e sensores.

Os EUA exportam essencialmente aviões, seguindo-se a grande distância a


venda de mísseis e, por seu turno, Israel centra as suas vendas em mísseis e
sensores.

Entre os países da Europa não integrantes da NATO – Suécia e Suiça - existem


diferenças nítidas. A Suécia tem um perfil variado das suas exportações de
armamento, com predomínio dos navios mas, com grande relevo para
sensores, aviões, mísseis e tanques. A Suiça, pelo seu lado, concentra-se na
venda de sensores e aviões.

O perfil exportador do conjunto China-Rússia-Ucrânia é muito semelhante ao


dos EUA mas, com um relevo um pouco inferior no caso dos aviões,
compensado pela maior relevância das vendas de navios e tanques. No
caso da Rússia, o perfil exportador é ainda mais próximo do dos EUA, com
maior afastamento quanto a navios, pouco representados nas exportações
norte-americanas. A China centra as suas vendas ao exterior em aviões e
navios, enquanto a Ucrânia baseia as suas exportações em aviões e tanques.

Para os restantes países do mundo, o maior valor exportado provém das


vendas de aviões e tanques.

Finalmente, no caso português, as exportações nas últimas duas décadas - $


128 M (valores de 1990) – sem qualquer relevância no contexto global,
repartem-se quase igualmente entre aviões e navios. Note-se que no que se
refere ao que jocosamente se poderá chamar de sector de defesa
português, as competências técnicas estão concentradas na OGMA e nos
estaleiros (EN Viana do Castelo e Navalrocha).

8 - Países compradores de armamento

Novamente segundo os dados do SIPRI, para o periodo 2005/2009, o


comércio mundial de armamento cifrou-se em $ 115934 M a preços
constantes de 1990.

Com importações superiores a $ 100 M, apuraram-se 65 países que


representam 96.3% do valor global referido no parágrafo anterior. Aqueles
que importaram mais de $ 3000 M são apenas 16, absorvem 53.2% do total
mundial e são os indicados no gráfico seguinte.

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Importadores com mais de $ 3000 M
(%) (2005/2009)
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
s

o
l

do

ia
a

lia

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to
ira
Em

Os dois principais importadores – China e Índia – detêm em conjunto perto


de 40% da população mundial, e não detêm empresas de armamento com
tecnologia suficiente para prescindirem de tão elevado volume de
importações. A Índia está representada na lista (10) com três empresas –
Hindustan Aeronautics (43ª da lista) com $ 1670 M de facturação em 2007, a
India Ordnance Factories (50ª) e a Bharat Electronics (63ª) – não estando a
China incluida na elaboração da lista do SIPRI.

A China vai-se assumindo como principal potência exportadora mundial e


como o mais importante Estado do Oriente, em concorrência com o Japão
e em tensão geoestratégica com os EUA. A China mantém áreas de
potencial conflito com Taiwan (que aliás é território chinês) e que funciona
como porta-aviões dos EUA; com os países ribeirinhos do mar da China do
Sul, pelo controlo das ilhas Spratley, Paracels e outras que, embora pequenas
permitem o controlo de enorme área de águas territoriais, com razoáveis
reservas de hidrocarbonetos nos fundos marinhos; com a Índia, em várias
zonas dos Himalaias, nomeadamente na região de Aksai Chin e na fronteira
entre o Tibete e o Assam. A China tem também um conflito interno com os
separatistas uighurs no Xinkiang, etnia que também está presente (cerca de
300 mil pessoas) nas repúblicas da Ásia Central. A Rússia é, de longe o
principal fornecedor da China com 88.6% das compras deste país, no

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periodo 2005/2009, no conjunto de um restrito grupo de seis países
fornecedores.

As importações indianas provêm de dez países, entre os quais domina a


Rússia com 76.9% no conjunto dos últimos cinco anos. Para além dos
diferendos com a China atrás referidos, a Índia tem um conflito com o
Paquistão a propósito de Caxemira que mobiliza também tensões por vezes
sangrentas entre muçulmanos e hindus, susceptíveis de provocar guerra com
o Paquistão. A Índia, para satisfazer as suas pretensões de hegemonia
regional, já interveio na guerra civil no Sri Lanka, participa com os EUA no
patrulhamento do estreito de Malaca e com outros países, no mar da
Somália.

A Coreia do Sul é o terceiro importador e faz parte do dispositivo norte-


americano no Oriente e que lá tem instaladas tropas e bases militares há
mais de cinquenta anos. Esse dispositivo participa no cerco e intimidação da
China e de vigilância da Coreia do Norte face a uma quimérica invasão
norte-coreana; e também visa o Extremo Oriente russo, onde se situa a base
naval e o terminal petrolífero de Nakhodka e a ilha Sakalina onde também se
extrai petróleo, bem perto de ávidos consumidores como a China, o Japão e
a própria Coreia do Sul.

A Coreia do Sul tem forças armadas poderosas e uma das economias mais
dinâmicas do planeta. Sendo militarmente tutelada pelos EUA é natural que
65.9% das suas importações de armamento em 2005/2009 venham da
superpotência, a grande distância do segundo fornecedor, a Alemanha
(19.6%), num total de seis fornecedores.

Em quarto lugar surgem os Emiratos Árabes Unidos pertencem ao Conselho


de Cooperação do Golfo, tendo como parceiros o Kuwait e os EUA que,
naturalmente, ao oferecer-lhes “protecção” (Saddam abriu essa
possibilidade quando invadiu o Kuwait) cobra, em contrapartida, o direito de
se instalar no seu território para controlar o Golfo Pérsico e o tráfego marítimo
que o envolve. Assim e apesar da presença militar dos EUA, os Emiratos ainda
importam armamento da França (40.5%) e dos EUA (27.6%), num total de
treze fornecedores no periodo 2005/2009.

A Grécia, de modo algo paranóico, é o quinto maior importador de


armamento no periodo 2005/2009. É certo que há um conflito latente com a
Turquia, na fronteira desenhada nas águas do Egeu e a propósito de Chipre,
onde a Turquia patrocina uma denominada República Turca do Norte de
Chipre. Porém, sendo a Turquia parceira da Grécia da NATO, não é crível um
conflito aberto, sobretudo quando a primeira se mantém interessada em
integrar a UE. Por outro lado, apesar da proximidade cultural grega com a
maioria da população cipriota, Chipre pertence à UE e ninguém acredita
que os turcos se metam em aventuras militares no sul da ilha de Chipre.

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A instabilidade e as guerras, do outro lado da fronteira grega no norte, não
parece venham a ameaçar verdadeiramente a Grécia. Os maníacos da
Grande Albânia não devem estar autorizados a desestabilizar o Epiro através
de uma pequena minoria albanesa (?100000 pessoas), como fizeram na
Macedónia. A presença dos destacamentos europeus no Kosovo e a
constituição deste como protetorado norte-americano, em torno da grande
base de Boldsteel, serve para manter uma certa ordem nos Balcãs.

Já se disse atrás que os “mercados” financeiros nunca investigaram o


desperdício grego com tão avultadas compras de equipamento militar pois
isso forneceria bons lucros aos produtores. Esses fornecedores, num total de
onze, são dominados pela Alemanha (34.9%), os EUA (26.3%) e a França
(23.1%) que se mostraram menos colaborantes e prestáveis quando a crise
financeira grega estalou.

Israel, já se referiu, é uma entidade militarizada, grande importador de


armamento, quase todo proveniente dos EUA (98.1% em 2005/2009), no
âmbito da relação privilegiada entre ambos os países e do apoio financeiro
e militar que os EUA fornecem há dezenas de anos.

Singapura é, desde a sua criação pelos ingleses, a chave da passagem entre


o Índico e o Oriente. Essa posição estratégica e a sua composição étnica e
linguística (3/4 da população é de origem chinesa) diferencia Singapura da
Malásia e da Indonésia. Durante a guerra do Vietnam estabeleceu uma
relação estreita com os EUA, procedendo à manutenção dos navios da
marinha dos EUA. Na região, é o principal interessado na segurança do
estreito de Malaca, cuja circulação marítima é a base da sua prosperidade,
que poderá sofrer um abalo se os interesses da China e do Japão impuzerem
a construção de um canal no istmo de Kra ou, mais inesperadamente, se
algum navio-tanque carregado sofrer um atentado que bloqueie a
circulação marítima. Os principais fornecedores de armamento a Singapura
em 2005/2009 são a França (51.3%) e os EUA (37.1%), num total de oito.

Os EUA estão em sétimo lugar na importação de armamentos, a despeito da


sua capacidade como produtor; as parcerias produtivas, a segmentação de
especializações, questões financeiras, como contrapartidas assim o exigem.
Num conjunto de treze fornecedores no periodo 2005/2009, destacam-se a
Grã-Bretanha (32.1%), o Canadá (21.1%) e a Suiça (18.4%).

A Argélia mantém no seu interior a insurreição salafita que desafia


directamente as forças armadas argelinas, numa guerra larvar e com
contornos pouco dignos no campo dos direitos humanos. No exterior há um
conflito latente com Marrocos, acentuado pela presença desde 1975, de
milhares de refugiados sahrauis no seu território. Tem, entre 2005 e 2009, oito
fornecedores de armamento, com especial relevo para a Rússia (91.9% do
total).

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O Paquistão, mantém, como se disse acima, uma conflitualidade acentuada
com a Índia que já conduziu a várias guerras entre os dois países. Mais
recentemente, o Paquistão viu-se envolvido na guerra do Afeganistão,
conduzida pelos EUA e pela NATO uma vez que o afluxo de refugiados
afegãos encontra no Paquistão um acolhimento solidário no Nordeste e no
Waziristão, onde preponderam tribos pashtun, tal como no Afeganistão. Por
outro lado, a miséria da população, contrastando com a forte corrupção e o
poder dos militares e do ISI, o tentacular serviço secreto, provoca
contestação social e política, nomeadamente alicerçada nas mesquitas. A
intervenção dos EUA na política interna paquistanesa, incentivando o
exército a exercer acções militares nas chamadas regiões tribais e a
intervenção directa dos meios bélicos norte-americanos tendem a integrar
numa guerra comum o Afeganistão e o Afeganistão.

A Turquia constitui a ligação entre a Europa, o Médio Oriente e a Ásia Central


e é uma peça essencial na estratégia do Pentágono no encapsulamento da
Rússia, tal como no século XIX. O país é atravessado pela ligação entre o
Mediterâneo e o Mar Negro, aloja as nascentes do Tigre e do Eufrates, rios
essenciais para a Síria e o Iraque, tem uma relação próxima com Israel e um
problema interno com a grande minoria curda. Com a Europa, mantém
pontos de tensão com a Grécia e em Chipre, para além de, sob o engodo
dos fundos comunitários, ter sido obrigada a aligeirar o autoritarismo do seu
poder político tradicional, centrado nas forças armadas. Representa também
um canal importante para a estratégia norte-americana de fazer correr o
petróleo da Ásia Central, sem a intervenção de russos e iranianos (o oleoduto
BTC), alberga importantes bases dos EUA perto da fronteira da Síria, deixando
este país entalado, com Israel do outro lado; e, em contrapartida, recusou a
utilização do seu espaço para os EUA invadirem o Iraque e tem boas
relações com o Irão.

A Turquia detém o segundo maior elenco de forças armadas da NATO e o


oitavo posto no mundo, enquanto a sua marinha é a quarta do planeta. As
suas aquisições de armamento repartem-se, nos últimos cinco anos, por dez
países, com a predominância da Alemanha (53.2%, Israel (16.1%) e os EUA
(12.6%).

A Malásia encontra-se na mesma região de Singapura e parcialmente o seu


enquadramento geoestratégico é semelhante. Porém, o país tem mais um
elemento de potencial conflito que é a disputada divisão de áreas do mar
da China Meridional, ricas em petróleo, com a China, a Indonésia e as
Filipinas. Entre os treze fornecedores de armamento à Malásia, em 2005/2009,
destacam-se a Rússia (43.1%) e a Alemanha (21.1%).

Finalmente e à margem do gráfico cujos significados se vêm descrevendo,


refere-se a situação para Portugal. Nos últimos vinte anos, Portugal importou $
3044 M (preços de 1990) em armamento, com $ 999 concentrados nos
últimos cinco anos, em contraste com um total de $ 165 M no conjunto dos

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anos 1995/2004, precisamente o periodo em que a conjuntura económica foi
mais favorável. Em franco contra-ciclo, os governos PS/PSD sobrecarregam o
orçamento com gastos militares, precisamente nos periodos de dificuldades
sociais e financeiras, evidenciando não só a sua incompetência técnica e
política de gestão dos gastos públicos, como também a sua insensibilidade
social.

1991/1994 1995/2004 2005/2009


Crescimento médio do PIB (%) 1.8 2.6 0.3
Gasto militar médio anual ($ 1990) 450 16.5 200
Fontes: Pordata (PIB) e SIPRI

Em todo o periodo observado registam-se onze fornecedores com maior


relevância para os EUA (37.5%), Alemanha (30.9%) e Holanda (14.4%). Se a
observação se centrar nos cinco anos mais recentes, os principais
fornecedores são a Holanda (35.6%), os EUA (32%) e a Espanha (11.8%).

Notas

(1) O jazigo de Rumaila foi entregue a um consórcio constituido pela BP e pela CNPC
(China) (Democracy Now 3/11/2009)

(2) http://translate.google.pt/translate?hl=pt-
PT&langpair=en|pt&u=http://news.yahoo.com/s/afp/20100317/wl_mideast_afp/pakistani
ranindiaenergygas);

(3) M. K. Bhadrakumar, “Le Turkménistan réserve ses fournitures de gaz à la Chine, la Russie
et l’Iran. La géopolitique des pipelines à un tournant capital”, Asia Times Online (Chine),
citado em Voltairenet

(4) Eric Margolis, Toronto Sun, citado em Esquerda.net 26/2/2010)

(5) Joe Biden, Fevereiro/2009

(6) “Um problema mundial chamado NATO”,


http://www.scribd.com/doc/20691174/Nato

(7) http://www.globalfirepower.com/active-paramilitary-manpower.asp

(8) http://www.nationmaster.com/
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_number_of_troops
http://www.globalfirepower.com/active-military-manpower.asp

(9) http://www.globalfirepower.com
http://www.nationmaster.com/

(10) The SIPRI top 100 arms-producing companies in the world excluding China
http://www.sipri.org/research/armaments/production/Top100/Top1002007/arms_prod
_companies

(11) Relatório de actividades em 2008

www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 39

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