Você está na página 1de 36

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNICURITIBA

FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA

ALESSA ROYER
AMANDA BISSONI
JULIANA JOAQUIM
LARISSA BRASIL

PROCESSOS DE MOSCOU E OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO RUSSO

CURITIBA
2010

3
ALESSA ROYER
AMANDA BISSONI
JULIANA JOAQUIM
LARISSA BRASIL

PROCESSOS DE MOSCOU E OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO RUSSO

Trabalho apresentado para a disciplina de


Direito e História, com orientação
do professor Marcelo Mendes.

CURITIBA
2010

4
RESUMO

Este trabalho objetiva analisar os principais processos de Moscou durante o


período do terror stalinista, bem como o funcionamento dos campos de
concentração e do sistema judiciário russo. A análise deste assunto é de
extrema importância porque assim conseguimos identificar até que ponto de
crueldade um homem pode chegar para atingir seus objetivos, escondendo-se
atrás de uma ideologia, assim como Stálin fez.

Palavras-chave: processos de Moscou, campos de concentração, crueldade,


Stálin.

5
SUMÁRIO

RESUMO ...................................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 5
2 PROCESSOS MAIS IMPORTANTES DE MOSCOU .................................10
3 PRINCIPAIS JULGAMENTOS ...................................................................19
3.1 SERGEI KIROV ........................................................................................19
3.2 GRIGORI ZINOVIEV .................................................................................20
3.2 LEON TROTSKY ...................................................................................... 21
3.3 LEON SEDOV ...........................................................................................21
3.4 LEV KAMENEV .........................................................................................22
3.5 MIKHAIL TUKHACHEVSKY ......................................................................22
3.6 NICOLAI BUKHARIN .................................................................................23
3.7 KARL RADEK ............................................................................................24
3.8 ALEXEI RYKOV .........................................................................................24
3.9 GERINKH YAGODO ................................................................................ .25
4 GULAG .........................................................................................................25
5 REFERÊNCIAS ............................................................................................36

6
INTRODUÇÃO HISTÓRICA

A Rússia do século XIX, mais conhecida como Rússia Czarista, era


caracterizada por possuir uma base econômica agrária e feudal, onde a maior
parte das relações de trabalho era de ordem servil. Essa monarquia autocrática
foi marcada pelo autoritarismo da direção de Czares, os quais possuíam poder
absoluto e ditatorial, além do auto índice de corrupção junto com uma enorme
incapacidade administrativa gerando um governo arcaico e repressor.
Em 1861, o Czar Alexandre II aboliu a servidão e abriu a possibilidade
de compra de terras por parte desses camponeses, estimulando a ocupação de
novas áreas. Contudo, nenhuma dessas reformas produziu os resultados
esperados. Foi apenas no final do século XIX em que a industrialização ocorreu
de fato na região. Com o intuito de reduzir a insatisfação social, o governo
promoveu incentivos à industrialização, mas mesmo atingindo altos níveis de
desenvolvimento industrial, não houve uma melhora significativa na condição
de vida dos operários1. Como o Estado, por seu regime autoritário, não permitia
a organização e participação de partidos políticos, eles começaram a se formar
2
aos poucos na clandestinidade. Entretanto, com o tempo acabaram se
formando alas terroristas dentro dessas organizações, o que mais tarde
resultou no assassinato do czar Alexandre II em 1881.
Aos poucos a corrente marxista acabou penetrando na Rússia, e no final
do século o movimento intelectual já exercia um papel significativo na vida do
país. Em 1898 surge o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR),
onde Jorge Plekhânov, Martov, Lênin e Leon Trotski eram os principais líderes
na época. Contudo, em 1903 o partido acabou se separando em duas alas
distintas devido a divergências internas com relação a alguns aspectos a serem
decididos. Criaram-se os bolcheviques, que eram compostos pela maioria e
liderados por Lênin, os quais acreditavam em um partido forte e unicamente
voltado para a revolução, acreditando na derrubada violenta da monarquia; e
os mencheviques, que eram a minoria e eram liderados por Martov,
acreditavam em um partido aberto voltado mais para o apoio intelectual,
1
FERREIRA, José Roberto Martins. História. Ed. Reform. São Paulo: FTD, 1997. p. 14.
2
NEVES, Joana. História geral: a construção de um mundo globalizado. 1.ed. São Paulo:
Saraiva,2002. p. 417.

7
propondo um caminho para o comunismo através de um lento processo de
reformas.
Em 1904, a Rússia acabou se envolvendo em uma guerra contra o
Japão pela disputa de terras no nordeste da China, a Manchúria. Após a
esmagadora derrota, com o fracasso militar e a humilhação que se originou, o
governo acabou acentuando ainda mais a oposição a seu governo, e com isso
os partidos de oposição acabaram ganhando cada vez mais força. Foi então
que em 9 de janeiro de 1905, a população se organizou em uma manifestação
pacífica para a reivindicação de direitos ao povo, em frente ao palácio onde se
encontrava o czar Nicolau II. Após receber ordens, um dos guardas do czar
atirou contra a população, deixando centenas de mortos, o que acabou
gerando indignação da população. Esse episódio é até hoje conhecido como
Domingo Sangrento.
Com isso, a crise social e política agravaram-se, e inúmeras greves se
iniciaram. A fim de ganhar tempo, o czar cria em agosto a Duma (Assembléia
Legislativa). Já os operários decidiram criar os sovietes (conselhos) onde eram
discutidas e votadas todas as ações políticas. Em 17 de outubro de 1905, o
czar divulgou o decreto no qual a Rússia se transformava em uma monarquia
constitucional, episódio mais conhecido como Manifesto de Outubro. 3
Mais tarde com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, a entrada do país
no conflito acarretou em insatisfação da população civil e dos militares.
Acredita-se que em dois anos e meio de guerra, aproximadamente quatro
milhões de soldados tenham morrido em combate, devido à subalimentação e
o fraco contingente de armas de fogo. Motins militares, falta de alimentos,
greves nas indústrias, queda da produção e baixos salários foram só alguns
dos motivos que levaram a estourar o movimento revolucionário. Com
esperança de salvar o trono, o czar abdica ao cargo em favor de seu irmão,
que acaba por recusar assumi-lo. A primeira fase conhecida como “Revolução
de Fevereiro”, ocorreu quando manifestantes e parte do exército invadiram
edifícios públicos. Com isso surgiram o Soviete de Deputados Operários e o
Comitê Provisório da Duma.

3
NEVES, Joana. História geral: a construção de um mundo globalizado. 1.ed. São Paulo:
Saraiva,2002. p. 419.

8
Entrou em cena um Governo Provisório, o qual decretou a prisão de
Nicolau II e anistia aos presos políticos que foram retornando ao país aos
poucos. Essa primeira fase ficou caracterizada pela dualidade do poder, o
soviete e a Duma, isto é, burguesia versus operariado.
Nessa época a força política russa estava dividida em três grandes
pólos: o Partido os Kadetes (que defendia a permanência do país na guerra), o
Partido Bolchevista (que era contrario à permanência do país na guerra e
queria uma profunda reforma social) e o Partido Menchevista (que eram
contrários à permanência na guerra, mas queria medidas reformistas ao invés
de mudanças drásticas).
Apenas atendendo aos interesses da burguesia, os membros do
governo provisório adotaram algumas medidas liberais onde nem operários,
nem camponeses ficaram satisfeitos. Assim, rapidamente os bolcheviques se
tornaram o principal porta-voz destas reivindicações. Em abril o partido
bolchevista aprovou as “Teses de Abril”, que eram defendidas por Lênin onde o
proletariado deveria tomar o poder, depondo o governo provisório e retirando o
país da guerra.

Na nossa atitude perante a guerra, que por parte da Rússia continua


a ser indiscutivelmente uma guerra imperialista, de rapina, também
sob o novo governo de Lvov e C., em virtude do carácter capitalista
deste governo, é intolerável a menor concessão ao «defensismo
revolucionário».4

Nessa época Trotski adere ao partido bolchevista e se elege presidente


do soviete de Petrogrado, um dos mais influentes na época. Percebendo que
um confronto armado se aproximava para a derrubada do governo, ele
organiza a Guarda Vermelha para enfrentar todos aqueles que eram favoráveis
à Duma. Então se inicia a segunda fase da Revolução, a Revolução de
Outubro.

4
LÊNIN, Vladimir Ilitch. Teses de abril. Petrogrado, 1917. Disponível em:
<http://www.dorl.pcp.pt/images/classicos/t24t001.pdf >. Acesso em: 02. nov. 2010.

9
A grande força dos grupos comunistas estava nos sovietes,
organizações que agrupavam e representavam os interesses dos
trabalhadores. [...] Lênin, apoiado pelos sovietes e por uma milícia
popular, conquistou a capital, obrigando o governo provisório a
renunciar. Em outubro de 1917, os bolcheviques assumiram o poder.5

Uma vez no poder, chefiado por Lênin, o grupo instalou o chamado


“comunismo de guerra”, visando acabar com a propriedade privada promoveu
mudanças como a desapropriação das terras da igreja, da nobreza e da
burguesia, além de tornar propriedade do Estado fábricas, lojas, bancos, etc.
Aos poucos, as forças que se opunham à revolução começaram a
formar guerrilhas fortemente armadas que eram sustentadas com o apoio
outros países como França e Inglaterra, originando uma Guerra Civil em 1918.
Trotski decide transformar a Guarda Vermelha em algo permanente, e por isso
criou o conhecido Exército Vermelho. Com a guerra, toda a atenção do Estado
estava voltada para ela, trazendo enormes conseqüências para a população,
que se viu no papel de apenas sustentar as tropas, fornecendo-lhes comida
que era confiscada a força. A desorganização da economia, o despreparo dos
trabalhadores frente à direção e organização das fábricas e a guerra civil
enfrentada resultaram no desmoronamento da economia comunista, e a
sociedade com a qual os revolucionários sonhavam estava cada vez mais
distante de ser atingida.
Em março de 1921, Lênin adota uma série de medidas conhecida como
NEP (Nova Política Econômica), a qual era composta por uma mistura entre
princípios capitalistas e comunistas, privatizando alguns setores e conseguindo
sutilmente restaurar a economia e a produção industrial. Um ano mais tarde é
instituída a União das Repúblicas Socialista Soviéticas, mais conhecida como
União Soviética (URSS). Infelizmente, o líder do governo e grande mentor de
toda a revolução não viveu tempo suficiente para melhor organizar a casa,
morrendo em 1924. Após o episódio, a disputa pelo poder se focaliza em dois
pólos: Trotski e Stálin (que era apoiado pelos velhos líderes bolchevistas),
sendo o segundo aquele que assumiu, e restando a Trotski o exílio.

5
FERREIRA, José Roberto Martins. História. Ed. Reform. São Paulo: FTD, 1997. p. 17.

10
Ao assumir, Stálin centralizou o poder rigidamente, suspendeu as
medidas da NEP, promoveu uma intensa industrialização e no setor agrícola
fez a coletivização das terras. Promovendo um sistema totalitário através de
um forte embasamento militar e de policiamento, fez a inversão da “ditadura do
proletariado” em a “ditadura sobre o proletariado”.
Com a criação de uma estrutura rígida, em meados de 1939 a URSS já
detinha a posição de terceiro lugar no ranking de pólos industriais no mundo, e
sem depender de empréstimos internacionais. Para quem observava de fora,
Stálin estava fazendo um milagre transformando a URSS daquela maneira, um
país que era economicamente um fracasso e onde a maioria da população era
analfabeta e vivia em condições mínimas, agora se tornando uma das
potências industriais da época. Porém, as medidas adotadas para se alcançar
tais fins é que foram muito questionadas.
Dono de um temperamento forte, Stalin acabou com qualquer oposição
em potencial ou não, indo muito além de apenas terras nacionais, com o
objetivo de consolidar sua autoridade, mandando eliminar todos aqueles que
eram contra seu governo e medidas, tendo como o caso mais marcante o
assassinato de Trótski em 1940 no México. Esse período de terror vivido pela
URSS de perseguição e repressão política, principalmente de 1934 à 1938, é
até hoje conhecido como o “Grande Expurgo”. A maioria dos acusados, os
quais quase que unanimente inocentes, após uma série de torturas sofridas
acabavam confessando crimes que jamais cometeram, apenas para cessar
com o horror. Algo que chama atenção com relação a essas medidas tomadas,
é que não só aqueles que faziam parte da oposição que acabaram sendo
perseguidos, mas até mesmo os membros do próprio partido de Stálin. Os
julgamentos de Moscou ocorreram em três fases distintas, e mais uma secreta,
conhecidas todas como ensaios.
A primeira fase de julgamento ocorreu em agosto de 1936, e teve 16
réus, dos quais estava presente dois dos mais importantes acusados, Grigori
Zinoviev e Lev Kamenev. Após confessarem culpa (por crime que jamais
vieram a cometer), todos foram condenados à morte e executados. Já em
janeiro de 1937 se deu inicio a segunda fase de julgamentos em Moscou, com
17 réus, sendo todos acusados de conspiração conjunta com Trótski. Nessa
fase, pode-se considerar de mais relevante o fato de 13 dos 17 terem sido

11
acusados e mortos, dentre eles Karl Radek. Ainda em junho do mesmo ano,
houve uma série de julgamentos secretos, os quais corresponder a prisão de
uma enorme quantia dos oficiais do Exército Vermelho, entre eles, 13 dos 15
generais do exército, entre eles Mikhail Tukachevski.
A terceira e ultima parte dos julgamentos aconteceu em março de 1938,
que acabou ficando mais conhecido como o “Julgamento dos vinte e um”.
Como o próprio nome já sugere, eram 21 réus, tendo como Genrikh Yagoda e
Alexei Rykov. Nessa fase todos os principais líderes que estavam presentes
foram executados.

PROCESSOS MAIS IMPORTANTES DE MOSCOU

Os grandes processos que o autor se refere não podem ser entendidos


de forma autônoma, mas sim no plural. Processos de Moscou eram realizados
em julgamentos públicos e as portas fechadas e são os símbolo da tirania de
Stálin. As sentenças eram previamente decididas e os julgamentos eram uma
espécie de teatro, em que os réus contribuíam com alegações e confissões que
os condenavam. Não havia investigação preliminar, essa era a instrução, que
era baseada na tortura.
Esses processos aconteceram durante o período do Grande Expurgo.
Expurgo época em que havia perseguição aos inimigos políticos, a
determinadas classes da sociedade. Baseado no marxismo, Stálin queria
instituir a ditadura do proletariado e Hitler foi aprender na União Soviética como
eliminar milhões de pessoas. A diferença dos dois regimes era, basicamente, o
nazismo pretendia exterminar uma nacionalidade e a URSS pretendia
exterminar classes.
Eram datilografados, o que agilizava, não havendo necessidade de ver o
acusado. OSO (Conferência Especial ligada a GPU, polícia secreta que fazia a
administração do Estado.) não tinha muito trabalho.

- Processo das Notícias Russas

12
O processo das Notícias Russas tratou da liberdade de expressão. O
jornal é condenado por tentativa de influir nos espíritos. O redator, Iégorov, é
condenado a três meses de prisão, incomunicável.

- Processo dos Três Comissários do Tribunal Revolucionário de Moscou


(abril de 1918)

Beridze foi preso e sua mulher começou a indagar quais os meios para
resgatar o marido, conseguiu uma ligação com um conhecido dos comissários.
Organizaram um encontro secreto, exigia da esposa 60 mil rubulos, metade
adiantado, pago através do advogado. Se a esposa não tivesse tanto apreço
ao dinheiro, pagando apenas 15 mil adiantados e se não tivesse decido que o
advogado não era boa gente, nunca teriam descoberto. Penas de seis meses
de prisão para cada um dos comissários e uma multa em dinheiro ao
advogado.

- Processo de Kossíriev (15 de fevereiro de 1919)

Kossíriev e seus amigos Libert, Rottenberg e Solóviov tinham trabalhado


na comissão de abastecimento da frente oriental. Foram convidados a
constituir o Colégio de Revisão e de Controle da Tcheká da União, que tinha
plenos poderes para verificar a conformidade com a lei dos atos da Tcheká.
Kossíriev concordou em receber pequena porcentagem pelos casos
descobertos. O réu foi pego em uma de suas conversas secretas para acertar o
preço do resgate do marido de uma moça. Iakúlov denunciou o caso ao
Tribunal Revolucionário. Isso mostra que também havia corrupção no uniforme
azul da Tcheká. Durante os depoimentos a figura de Kossiriev foi enaltecida,
como se fosse um tchekista de ferro. Kossiriev tinha sido julgado por fraude e
passado longos anos deportado. Tcheká foi privada de seus direitos judiciais,
mas não por muito tempo.
Kossíriev foi condenado ao fuzilamento.

13
- Processos dos clericais (11-16 de janeiro de 1920)

Krilenko era o acusador principal, em todos.


Primeira culpa: O Conselho Moscovita das Paróquias Unidas constituiu
uma guarda revolucionária para o patriarca, desarmada. O acusador indaga
que perigo sofre o patriarca.
Segunda culpa: em todo o país procedia-se à requisição dos bens da
igreja, confisco de terras.
Terceira culpa: envio de queixas ao Conselho de Comissários do Povo.
Contra os vexames que os funcionários locais faziam sofrer a igreja.
Tribunal condenou Samárin e Kúznetsov ao fuzilamento, embora os
fazendo beneficiar a anistia: internado em um campo de ocncentração até a
completa vitória sobre o imperialismo mundial.
Esses processos executam bispos, frades, freiras que nada são
culpados, simplesmente por acusações infundadas.

- O Processo do Centro Tático (16-20 de agosto de 1920)

Vinte e oito réus mais outros julgados a revelia.


A massa intelliguêntsia, referindo-se não ao cérebro da nação, mas ao
seu esgoto.
Em vários lugares emergem centros ora de engenheiros, ora de
mencheviques, ora de trotskistas. O centro tático desse processo não tinha
estatutos, nem membros que pagavam cotas, nem programa. Não podiam se
encontrar, não tinham como fazer isso. A conclusão das provas apresentou a
correspondência e a unidade de pontos de vista entre os presentes e Deníkin.
Acusados de traição para com o poder soviético. Em seus autos
constava: escreveram trabalhos, elaboraram notas, estabeleceram projetos.
Professor Kotliarévski sobre a organização federativa da Rússia, Stempkóvski
sobre o problema agrário, Muralévitch da instrução pública na futura Rússia e
Vinográdski da economia.
Krilenko queria inicialmente o fuzilamento, mas apena foi atenuada para
campo de concentração até o fim da guerra civil.

14
E ainda que, acusados aqui em Moscou, não tenham feito
absolutamente nada ( e parece que foi assim), de todos os modos...
no momento atual, o simples fato de conversar atrás de uma xícara
de chá sobre qual será o regime que deve substituir o soviético, que
irá pretensamente desmoronar-se, é um ato contra-
revolucionário...Durante a guerra civil não é só a atividade contra o
poder que é criminosa... é criminosa a própria inatividade.6

- O Processo da Direção Central dos Combustíveis (maio de 1921)

Esse processo englobava os engenheiros. Eram culpados de tudo, pela


situação caótica que não tinham como resolver. Entretanto o tribunal aplica-
lhes penas leves, pois dependem do trabalho desses engenheiros.

- O Processo sobre o Suicídio do Engenheiro Oldenborguer (fevereiro de


1922)

Oldenborguer mais dez pessoas formavam um centro. Tinha sido


engenheiro-chefe por dez anos no Serviço de Canalização de Água em
Moscou, dedicou toda sua vida a isso. Em 1905 não permitiu que as tropas
tivessem acesso as canalizações porque os soldados podiam estragar os
canos ou as máquinas. Queria continuar fazendo a água correr mesmo em
meio a revolução, não aderiu a greve que os outros funcionários estavam
fazendo contra o golpe dos bolcheviques. Por essa postura foi rotulado como
inimigo. Foi acusado de sabotador, o partido tomou suas medidas: destituir o
engenheiro-chefe e cria-lhe uma situação de vigilância permanente.
Oldenborguer refutou todas as acusações, denunciaram-no a Tcheká.
Decidiu suicidar-se.
O governo propõe que os padres alimentam a região do Voga: Se
recusam são acusados de toda a fome, se concordam o governo limpa os
templos. A verdadeira razão para a fome era o fato de uma política de Stálin
para acabar com as pessoas de determinadas regiões, enquanto a Rússia

6
SOLJENÍTSIN, O Arquipélago de Gulag. São Paulo: Difel, 1973. p. 321

15
exportava muitos de grãos, sua população definhava. Outro fato que contribuiu
para a fome Foi a diminuição da produtividade, pois as pessoas estavam com
as mãos ocupadas empunhando armas.

- Processo Clerical de Moscou (26 de abril-7 de maio de 1927)

Dezessete réus acusados de distribuir o apelo do patriarca. O tribunal decide


instaurar um processo contra o patriarca que era uma testemunha, que foi
preso logo depois.

- Processo Clerical de Petrogrado (9 de junho-5de julho de 1922)

Os réus são acusados de resistência à entrega dos valores da igreja, entre eles
estavam professores de teologia, sacerdotes, leigos.
De um processo ao outro fica cada vez, mais aparente a falta de liberdade dos
advogados, que eram ameaçados de prisão.
Metropolita Veniámin é acusado de ter chegado mal intencionadamente a um
acordo com o poder soviético pára conseguir uma atenuação no confisco dos
bens. Foram ouvidas unicamente testemunhas de acusação, ou seja, a defesa
não pode exercer seu papel.
Toda igreja era considerada uma organização contra-revolucionária,
portanto deveria prender toda a igreja. O Tribunal condenou dez à morte. O
Código Penal foi elabora as pressas para o processo dos socialistas-
revolucionários, foi ampliando o âmbito do fuzilamento, a pedido de Lênin.

- Processo dos Socialistas-Revolucionários (8 de julho-7 de agosto de


1922)

Não havia advogados, os réus se defendiam quando atacados.

Se eu e os leitores não soubéssemos que o essencial em qualquer


processo judicial, não é a acusação, a chamada culpa, mas sim a
conveniência, talvez não aceitássemos de ânimo tão fácil esse
processo. Mas a conveniência vai se delineando sem falhas

16
diferentemente dos mencheviques, os socialistas revolucionários
continuavam a ser considerados perigosos, não tendo ainda sido
dispersos ou liquidados, e para o fortalecimento da nova ditadura (a
do proletariado) era conveniente acabar com eles. 7

Os socialistas-revolucionários eram considerados um partido vizinho,


que lutava pela derrubada do czarismo.
Mas agora estavam sendo acusados de iniciarem a guerra civil, cavarem
o abismo da guerra civil. Realmente foram eles que iniciaram a guerra civil,
juntamente com os bolcheviques ofereceram resistência. Foram acusados
também de traição ao Estado e de arrastá-lo para a guerra e de formarem uma
organização criminosa de destruição da propriedade do povo. Dessas
acusações derivam outras, como, a de que eram espiões da Entente,
recebendo dinheiro da mesma, aliança com a burguesia, recebendo dinheiro.
Uma cadeia de acusações articuladas pelo governo. Foi-lhes concedida
anistia, perdoando as lutas travadas contra os bolcheviques, com a condição
de não reincidirem no delito. Mas nos próximos anos enfrentariam eleições
para os sovietes, com liberdade de propaganda para todos os partidos, o
Governo decidiu prender todos aqueles que poderiam fazer propaganda contra
o partido, todo o Comitê Central dos socialistas-revolucionários foi detido.
Foram acusados de incitar o exército vermelho a não participarem das
expedições punitivas contra os camponeses. Muitos dos que estavam sentados
no banco dos réus não estariam nessas condições se não fosse a acusação de
atos terroristas, que não é abrangida pela anistia.
Durante o julgamento Krilenko fazia comentários sobre os depoimentos
das pessoas, de tal forma que poderiam ser aplicados a qualquer depoimento,
existia um processo de falsificação do depoimento. Não eram culpados dessas
acusações, no momento em que ficavam fracas Krilenko tirava uma carta da
manga, acusando os réus de não-denúncia. O partido revolucionário era
culpado por não ter denunciado a si próprio, por isso tudo constituem uma
ameaça ao poder soviético e devem ser condenados.
O Tribunal condenou catorze pessoas ao fuzilamento, não todos. A
sentença é utilizada como diretriz seguida em outros tribunais. Não existia

7
SOLJENÍTSIN, 1973, p. 343.

17
justiça nos processos de Moscou, os depoimentos eram manipulados, os
tribunais eram de portas fechadas, as sentenças eram baseadas na
conveniência.

- O Processo das Minas (18 de maio-15 de julho de 1928)

Cinqüenta e três acusados e cinqüenta e seis testemunhas. Esse


processo tratava-se da indústria e da extração carbonífera, novamente pode-se
observar a perseguição aos engenheiros. Piotr Akimóvitch Paltchinski foi
apontado como principal réu desse processo, suportou todos os meios de
torturas aplicadas pela GPU e morreu sem assinar nada, mostrando que é
possível manter-se firme a seus ideais.

- Processo do Partido Industrial (25 de novembro-7 de dezembro de


1930)

Foi uma sessão extraordinária, em que o acusador foi Krilenko. Os réus


eram toda a indústria do país, e contra eles não havia um papel sequer, pois a
maior prova é a confissão de culpa por parte dos acusados. Seus supostos
crimes eram: planejavam a diminuição do ritmo de desenvolvimento,
retardavam o ritmo de extração de combustível, tinham um comportamento
anti-soviético nos curso que davam, instalavam máquinas antiquadas,
projetavam ações de sabotagem. É fato que os réus confessavam essas
acusações, mas qualquer um o faria depois de passar pelo calabouço, pela
caixa de percevejos, pela privação do sono, ou qualquer outro meio de tortura.
Porém os crimes mais importantes são: preparar uma intervenção
estrangeira, receber dinheiro dos imperialistas, exercerem espionagem, ter
distribuído as pastas do futuro governo. Ainda eram acusados de acabar com a
indústria têxtil, no entanto, nenhuma indústria foi realmente danificada. É
preciso retomar que era extremamente conveniente para o governo liquidar
com essa classe de intelectuais: os engenheiros, por isso foi preciso inventar
essas acusações. Como era uma classe bastante numerosa, a cada 7 prendia
1 e deixavam o restante assustados.

18
Esse partido industrial mobilizava a classe dos engenheiros a lutar pelo
poder, o total de membros desse partido era desconhecido, o que faz com que
no julgamento Krilenko humilhe os réus, metralha-os com perguntas
sugestivas.
Alguns nomes podem ser citados: Ramzin, Larítchev, Ôtchkin, Professor
Kalínnikov, Fiódotov, Tcharnóvski. O perfil dos engenheiros mostrava que não
tinha como eles prepararem a intervenção. Porém como os engenheiros não
querer a República democrática, como poderia querer a ditadura do operariado.
Mas essa classe não pode ter opinião política.
Os engenheiros não só eram vistos como uma camada socialmente
suspeita que não tinha sequer o direito de instruir seu filhos, não só eram
pagos com salários incomensuravelmente mais baixo do que a sua
contribuição para a produção, como também se exigia deles que
assegurassem o sucesso da produção e a disciplina da mesma.
A nova política econômica era uma farsa, não tinha como chegar a
esses números anunciados, era impossível, mas a culpa caia sobre os
engenheiros. Mas não podia dizer a verdade em 1930, era a certeza do
fuzilamento.
Mas por que eles confessavam tudo? O que mais eles poderiam fazer!
Krilenko poderia escolher entre milhares de engenheiros os que ele
acreditava que tinha mais apreço a vida e iria confessar tudo para preservá-la.
Paltchinski não se deixou dobrar e foi fuzilado, Khrênnikov também não
cedeu e morreu durante a instrução do processo. Tudo isso porque Stálin
estava convencido que entre a classe dos engenheiros estavam escondidos
anti-soviéticos, logo os funcionários do governo deveriam achá-los. Como?
Torturando os que eles acreditavam que cederia.

Foram alcançados todos os objetivos dos processos: Todas as


deficiências que existem no país, a fome, o frio, a falta de roupas, a
desorganização e as mais rematadas tontices – tudo isso foi atribuído
aos engenheiros sabotadores; O povo ficou assustado com a
iminente intervenção e disposto a novos sacrifícios; Os círculos de
esquerda do Ocidente ficaram advertidos quanto às máquinas dos
seus governos; A solidariedade dos engenheiros foi abalada, toda a
intelectualidade, assustada e dividida. E para que não restassem
dúvidas de que era este o objetivo do processo, uma vez mais ele foi
proclamado, com clareza por Ramzin: “ Eu queria que, como
resultado do atual processo do partido industrial, sobre o sombrio e

19
vergonhoso passado de toda a intelectualidade... fosse traçada uma
cruz para sempre.”8

Por isso que a classe da intelliguêntsia firmou-se como um insulto.

- Processo do Escritório Central dos Mencheviques (1-9 de março de


1931).

Sessão extraordinária do Supremo Tribunal com catorze réus. O


principal réu desse processo é Mikhail Petróvitch Iakubóvitch. A GPU tinha a
função de demonstrar que os mencheviques se infiltraram em muitos postos do
governo, o que não era verdade. Se eram espiões ou não isso não interessa a
GPU, ou seja as opiniões políticas não interessavam.
Vladimir Gustavovitch Groman foi um réu que ajudou a montar o
processo, pois foi-lhe oferecido uma anistia.
Iakubóvitch foi o mais novo membro do partido menchevique, mas no
golpe de outubro propôs que seu parido apoiasse os bolcheviques, ou seja,
não era propriamente um menchevique, mas foi preso. Durante a instrução
Krilenko fala para Iakubóvitch que acredita na sua inocência, mas é obrigado
pelo partido (e por Stálin) a continuar o processo e propôs que o réu o ajudasse
e ele aceitou.
Diante disso não seria necessário torturar Iakubóvitch, mas recebeu o
tratamento completo: calabouço gelado cela ardente, pancadas nos órgão
genitais. “Torturaram-no de tal maneira que Iakubóvitch e seu companheiro
Abram Guinzburg cortaram os pulsos de desespero”9. Depois de tudo isso o
deixaram sem dormir por duas semanas.
Será que Iakubóvitch iriam fazer um escândalo no processo, devido a
todas as torturas que sofrera e as coisas que teve que engolir, mas isso iria
contra o poder soviético e seria a negação do objetivo de sua vida, além de que
não o fuzilariam, mas iria torturá-lo até ficar louco.

8
SOLJENÍTSIN, 1973, p. 384.
9
SOLJENÍTSIN, 1973, p. 389.

20
Na falta de mencheviques a GPU recrutava pessoas voluntárias. Os
processos de Moscou eram uma “vergonhosa comédia judicial, estruturada
com depoimentos de provocadores e de infelizes réus, forçados pelo terror.”10
Krilenko pediu o fuzilamento de Iakubóvitch, o que gerou a felicidade do
condenado, pois não foi humilhado e o fuzilamento colocaria fim em todo o
sofrimento. Os principais inimigos de Stálin eram falsos.
As atas dos julgamentos mencionados não correspondiam com exatidão
ao que foi o julgamento. Os próprios integrantes do governo eram condenados
dessa maneira, um exemplo disso foi Bukharin, que redigiu a Constituição e
tinha uma relação boa com Stálin, mas conspiraram contra ele também. O
problema era que nessa Constituição suavizava a ditadura. Os mais
clarividentes suicidavam-se antes da detenção.
A imprensa publicava apenas o que a NKVD aprovava.

PRINCIPAIS JULGAMENTOS DE MOSCOU

SERGEI KIROV

Nasceu de uma família pobre em Urjum, ficando órfão muito cedo sendo
criado pela sua avó, e formado em engenharia na Escola Técnica de Kazan.
Com a crise vivida pela Rússia no inicio do século XX torna-se marxista e se
alia ao Partido Operário Social-democrata Russo (POSDR) em 1904.
Após ter se unido ao POSDR adquiriu maior conhecimento a respeito da
literatura revolucionária, sendo preso em 1906 por impressão ilegal de
literatura, diversos de seus amigos foram presos e executados, diferentemente
dele que passou três anos em cárcere privado onde encontrou um acervo
muito grande de livros que pode aprimorar seu conhecimento durante o período
de estadia forçada. Obteve grande participação na Revolução Russa de 1917,
lutando a favor do Exército Vermelho. Sendo explicito o seu apoio e lealdade a
Joseph Stalin, Kirov fora recompensado ao ser nomeado chefe da organização
do partido em Leningrado. Sua atuação era de tamanha significância que
muitos acreditavam que Kirov estava sendo preparado para liderar o partido
10
SOLJENÍTSIN, 1973, p. 391.

21
após a morte de Stalin. O líder comunista estava preocupado tentando prever
se seu fiel aliado esperaria a sua morte para substituí-lo no poder, sem mais
demora enviou Leon id Nikoalaev, a 01 de dezembro de 1934, para liquidar seu
futuro oponente com um tiro no pescoço, o qual nunca assumiu a autoria do
crime e segundo evidências começa os Expurgos de Moscou.

GRIGORI ZINOVIEV

Nasceu de uma família judia, filiou-se ao POSDR, como um importante


militante e grande colaborador de Lênin. Em 10 de outubro de 1917 ele e Liev
Kamenev foram os únicos que votaram contra a proposta de Lênin de iniciar
uma luta armada na Revolução de 1917. Zinoiev sempre se opondo a Lênin e
posteriormente a Stalin, não possuía muito prestigio, tendo que se desculpar
inúmeras vezes diante o público, humilhando-se para permanecer como um
bolchevique. Fora preso diversas vezes, expulso do partido, forçado a assumir
“culpa moral” sobre o assassinato de Kirov. Em 1936, contudo, Zinoviev foi
novamente julgado, desta vez em um dos julgamentos públicos que, durante o
stalinismo, foram usados como farsas espetaculares: os opositores de Stálin
eram obrigados a confessar os crimes mais absurdos, como por exemplo,
envenenamento, terrorismo, sabotagem. Zinoviev foi executado em 25 de
agosto de 1936.

LEON TROTSKY

Descendente de família judaica, com seus 18 anos, jovem ainda, fora


preso em virtude de seu envolvimento com líderes revolucionários. Depois de
ser deportado para vários países e às vezes até foragido, soube da notícia que
havia estourado uma revolução dos proletários na Rússia e tratou de retornar
ao seu país de origem para se unir a eles. Recém chegado à Rússia participou
do golpe de Estado e a instauração da “ditadura do proletariado” ao lado de
Lênin e Stalin. A morte de Lênin propiciou uma corrida pelo poder entre vários
aliados em vida a ele, dentre os concorrentes estavam Trotsky e Stalin. Stalin
impôs diversas difamações a respeito de Trotsky impedindo-o de falar em

22
público. Expulso da União Soviética, Trotsky transitou por inúmeros países, por
fim, fixou-se no México. Porém, Stalin sempre acreditou que ele seria sempre
uma ameaça ao seu governo, em virtude de seus atos de militância, então
decidiu enviar um agente, chamado Ramón Mercader, para o novo endereço
de Trotsky matando-o a golpes de picareta em 1940, mas Mercader nunca
assumiu que o matou a mando de Stalin.

Os julgamentos de Moscou são perpetuados sob a bandeira do


socialismo. Não vamos admitir este banner para os mestres da
mentira! Se a nossa geração passa a ser fraco demais para
estabelecer o socialismo, sobre a terra, que vai entregar a bandeira
imaculada para nossos filhos. A luta que se prevê para breve
transcende, de longe, a importância dos indivíduos, facções e
partidos. É a luta para o futuro da humanidade. 11

LEON SEDOV

Leon Sedov era filho de Leon Trotsky, e apoiou o pai em sua luta contra
Stálin, vindo se a tornar o principal líder do movimento Trotskista. Após o exílio
de seu pai, Sedov decide acompanhá-lo e deixar a Rússia. Muda-se para Paris
e lá, mesmo sem perceber passa um longo tempo sendo observado por
agentes secretos de Stálin. Alguns documentos afirmam que nos meados de
1936, ele marca uma viagem para Mulhouse, na qual era esperado por uma
emboscada logo na estação de trem, mas com muita sorte do destino acabou
nunca embarcando. 12
Infelizmente, em 16 de fevereiro de 1938, após um suposto ataque de
apendicite, Sedov foi internalizado em um hospital particular de Paris, o qual se
acredita não tendo fornecido o tratamento devido após o paciente apresentar
complicações ocorridas no pós-operatório, vindo a falecer.
Se a morte foi por causas naturais ou se ele foi envenenado para
apresentar tais aspectos, não se sabe ao certo, mas muitos historiadores
11
TRÓTSKY, Leon. Eu aposto a minha vida. Discurso de abertura da Comissão Dewey.
Fevereiro de 1937
12
SERGE, Victor. Obituary Leon Sedov. 21. fev. 1938. Disponível em:
<http://www.marxists.org/archive/serge/1938/02/sedov.htm>. Acesso em: 06. nov. 2010.

23
afirmam que não há dúvida quanto o envolvimento de agentes de Stálin para
garantir a sua morte.

LEV KAMENEV

Kamenev e seus colaboradores mais próximos foram expulsos do


Partido Comunista e presos em dezembro de 1934. Foram julgados em
Janeiro de 1935 e foram forçados a admitir "cumplicidade moral" no
assassinato de Kirov.
Em agosto de 1936, após meses de cuidadosa preparação e ensaios
em prisões da polícia secreta soviética, Kamenev e outras 14 pessoas, na sua
maioria velhos bolcheviques , foram levados a julgamento novamente. Desta
vez, em virtude das despesas na formação de uma organização terrorista que
supostamente matou Kirov e tentou matar Stalin e outros líderes do governo
soviético. Os bolcheviques confessaram a elaboração de monstruosos crimes,
envenenamento, espionagem, sabotagem. A execução de Zinoviev, Kamenev
e seus colaboradores foi um evento sensacional notícia na União Soviética e
no mundo, abrindo caminho para as prisões em massa e execuções de terror
de 1937-1938.

MIKHAIL TUKHACHEVSKY
Mikhail Nikolayevich Tukhachevsky foi um comandante militar soviético,
chefe do famoso Exército Vermelho criado por Trotsky, e uma das vítimas de
maior renome do Grande Expurgo de Stálin na década de 30. Nascido de
família nobre se formou na Academia Militar Alekzanderskoe tornando-se um
oficial do exército, incumbido de defender Moscou. Após ter lutado na Guerra
Civil (1918), Guerra Polaco-soviética, entre outras, acabou sendo promovido à
Marechal da União Soviética. Em janeiro de 1936, Tukhachevsky visitou a Grã-
Bretanha, França e Alemanha. Posteriormente, foi alegado que, durante estas
visitas ele contatou exilados russos anti-Stalin, e começou uma espécie de
conspiração contra ele.
Tukhachevsky foi preso em 22 de maio de 1937, e acusado de
organização de “conspiração militar-trotskista” e espionagem para a Alemanha
nazista. Ele foi morto pelo capitão da NKVD, Vassilly Blochin. Quando estava

24
em sua cela, Blochin gritou "camarada Tukhachevsky é procurado na sessão
plenária do birô político!", E depois atirou em Tukhachevsky nas vértebras
cervicais (estilo de execução), causando a morte imediata. 13

NICOLAI BUKHARIN

Nasceu em Moscou onde estudou economia. Em 1906 entrou para o


Partido Social-Democrata Russo onde se tornou dirigente dos bolcheviques.
Foi exilado, e em 1917 voltou à Rússia e liderou a ala dos Comunistas de
esquerda dentro do Partido Comunista.
Após a morte de Lênin, apoiou Stalin contra Trotski e a Oposição de
esquerda, mas Stalin a partir de 1928 o considerou possível rival e líder da
oposição. Com uma reconciliação foi nomeado redator-chefe, mesmo assim foi
preso em 1937 e um ano depois condenado a morte.
Bukharin era próximo de Stálin, sempre o escrevendo cartas, chamando-
o de “Querido Koba”. Foi o redator da Constituição “vigente” (para inglês ver)
da URSS. Pensava ter derrotado Stálin por ter colocado na Constituição
normas que suavizavam a ditadura. O maior medo dele era ser expulso do
partido. Quando seus amigos foram presos, Zinoivev, Kámeniev, Piátakov e
Smírnov, fizeram-lhes dizer que Bukharin estava contra o governo e forjaram
provas. As acusações eram publicadas nos jornais gerando a indignação das
pessoas, preparando-as para o julgamento público. Ao que consta em
documentos ele não chegou a ser torturado, porém, foi humilhado pelo partido
que dependeu a via inteira, se humilhou para Stálin para que não fosse tirado
do partido, seu trabalho durante todos os anos de luta não foi reconhecido,
assim, podendo considerar esse a maior tortura que poderia ter recebido.

KARL RADEK

Nasceu em Lemberg em uma família de judeus poloneses. Participou da


revolução de 1905 em Varsóvia como membro do Partido Social-Democrata
13
CONQUEST, Robert. O Grande Terror. 1. ed. 1968.

25
Trabalhador Russo. Durante a primeira guerra envolveu-se em negociações
secretas com o Estado-Maior alemão sobre o financiamento aos bolcheviques.
Acabou mediando, entre Lênin e os alemães, um acordo que autorizava a
passagem do líder revolucionário em um trem sob a promessa de tirar a Rússia
da guerra.
Entrou para o partido bolchevique em 1917 e dez anos depois foi
expulso. No Grande Expurgo foi acusado de traição, e mediante tortura acabou
confessando ser culpado pelos crimes.

ALEXEI RYKOV

De origem camponesa se tornou um importante revolucionário. Em 1898


entrou para o Partido Social-Democrata Russo. Participou da Revolução de
Outubro e posteriormente esteve exilado na Sibéria retornando em 1917.
Próximo de Lênin fez parte do Comitê Militar revolucionário que preparou a
tomada do poder em Moscou.
Após a morte de Lênin foi nomeado Primeiro Comissário do povo do
interior. Apoiou Stalin contra Trotski, mas em 1937 foi expulso do partido. Um
ano depois acusado de ser Trotskista, de traidor e terrorista foi executado.

GERINKH YOGODO

Nasceu em uma família judaica e aderiu aos bolcheviques em 1907. Há


indícios que sob ordens de Stalin assassinou o seu superior, na Tcheka (policia
secreta), Menjinsky, bem como Serguei Kirov. Supervisionou o primeiro dos
processos de Moscou e a execução dos líderes condenados como Gregory
Zinoviv. Em 1936 foi substituído por Nikolai Yajov na liderança da policia
secreta. Foi acusado de conspirar contra o governo no ultimo dos processos e
foi declarado culpado, vindo a ser fuzilado.
GULAG

26
A União Soviética, no período de 1918 a 1956, desenvolveu um sistema
prisional para abrigar os inimigos políticos, crimes comuns, todos aqueles
que podiam ou não conspirar contra o governo, até mesmo aqueles que
defendiam o governo. Gulag é uma sigla para Glávnoie Upravliênie Láguerei,
ou seja, Administração Geral dos Campos. Eram campos de trabalhos forçados
espalhados por toda a União Soviética, como um arquipélago, interligados.
“O que era esse campo não seria possível exprimi-lo com simples
palavras, nem analisá-lo com silogismos: era um campo aonde se ia para
morrer e quem não morria devia tirar certa conclusões”14
Lênin foi o primeiro a utilizar esse sistema, depois Hitler e depois Stálin.
As condições em que viviam os condenados eram desumanas, pois passavam
fome, adoeciam e algumas celas não passavam de quatro metros quadrados,
não podiam dormir e eram constantemente vigiados, como se fossem
escravos. Em um lugar como esse só triunfa aquele que renunciar a tudo,
família, bens, sem esperança de liberdade. Além de entrar em contato com
esse ambiente hostil, os condenados eram torturados para confessar as
acusações.
As pessoas chegam os Gulag por meio da MVD (Ministério do Interior),
depois pela GPU(Os órgãos unificados), NKVD(Comissariado do Povo do
Interior). São uma espécie de polícia secreta. A detenção é uma reviravolta em
sua vida, os presos são obrigados a ajudar a prender seus amigos e vizinhos.
Existem três tipos de detenção: noturnas ou diurnas, domiciliares ou no
lugar em que trabalham isoladas ou em grupo. Tudo depende do grau de
resistência que a pessoas possa oferecer. Geralmente ocorre durante a noite,
pois assim os guardas conseguem surpreender a vítima, longe dos olhos dos
vizinhos, por isso o relato de que muitas pessoas simplesmente “somem” de
um dia para o outro.

“A detenção é isto: o brusco som noturno da campainha ou a brutal


pancada na porta; a brava investida dos briosos agentes com as
botas sujas; a assustada testemunha que os segue[..] É preciso que
testemunha esteja sentada toda a noite e pela manhã ponha sua
assinatura”. 15

14
SOLJENÍTSIN, Alexsandr. Arquipélago Gulag. São Paulo: Difel, 1973. p. 216
15
SOLJENÍTSIN, 1973. p. 16.

27
A maioria das pessoas detidas são realmente inocentes, logo acreditam
que tudo será esclarecido e que a verdade aparecerá, por isso não oferecem
resistência, não gritavam, pelo contrário, tinham um comportamento nobre e
faziam tudo o que os guardas mandavam. Muitas vezes tratava-se apenas de
causalidade: Um simples colecionador tinha guardado uma lista de funcionários
do governo, quando isso foi descoberto, foi condenado ao fuzilamento. Os
guardas estavam disfarçados em todos os lugares: eletricistas, ciclistas,
motoristas de táxi, as pessoas se sentiam vigiadas todas as horas do dia.
No início havia repressão sem julgamento, com a finalidade da limpeza
da terra russa de toda e qualquer inseto nocivo. Com essa visão de profilaxia
social os Gulags começam a crescer. Quando Stálin percebeu que em muitos
lugares as pessoas iriam morrer de fome, o número de detenções diminuiu.
Eram feitas perseguições a vários setores da sociedade soviética, como
sacerdotes, mulheres nobres, pessoas com familiares no estrangeiro,
sociedade filosófica, professores que discordavam do método de ensino,
intelectuais,colaboradores da Cruz Vermelha, padres(segredos de confissão),
estrangeiros. Várias torrentes enviavam pessoas aos Gulags, em 1937
perseguiam os espalhadores de boatos, os alemães, traidores da pátria,
criminosos de guerra e dos verdadeiros inimigos do poder. Nos anos de 48 a
50 podem ser citadas: a dos espiões imaginários, dos crentes, simples
intelectuais e homens de pensamentos. A única diferença entre as torrentes
dos dois períodos é que a severidade e a pena aumentou.
A maioria das acusações era baseada no artigo 58 do Código Penal de
1924, pois seu texto foi formulado de uma maneira muito ampla e as
interpretações extensivas contribuíram para que cerca de 66 milhões de
pessoas tenham passado pelos Gulags. “Na realidade não existe debaixo dos
céus infração, intenção, ação ou inação, que não possa ser castigada pela mão
de ferro do artigo 58”.16 Esse artigo era composto por catorze parágrafos. Em
nenhum momento lê-se algo sobre delitos políticos, mas sim crimes contra o
Estado. O crime de traição à pátria e colaboração com o inimigo poderia
condenar quase toda a população, com uma interpretação extensiva, mas
bastava dez mil pessoas para sustentar os campos de concentração dando o
exemplo. Pode-se observar que “milhões de homens e o povoamento do Gulag
16
Ibid., p. 70.

28
obedeciam uma fria e premeditada lógica, bem como uma tenacidade
permanente.”17

O Tribunal não deve eliminar o terror. [...] Há que fundamentá-lo e


legalizá-lo, claramente, sem falsidades e sem adornos. A formulação
dever ser mais ampla possível, pois só a consciência e o sentido
revolucionário da justiça decidirão das condições de sua aplicação
prática mais ou menos ampla. 18

O primeiro parágrafo condenava qualquer ação que tendesse a debilitar


o poder como contra-revolucionária. Nele está contido traição a pátria que era
punida com fuzilamento, em casos atenuantes, dez anos.
O segundo parágrafo trata da insurreição armada, tomada do poder local
ou central e a separação das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a pena poderia
chegar ao fuzilamento.
O terceiro parágrafo refere-se a ajuda prestada por qualquer forma a um
Estado estrangeiro em guerra com a URSS.
O quarto parágrafo condenava a ajuda prestada à burguesia
internacional, fantasiosa na opinião do autor, com pena de dez anos ou
fuzilamento.
Quinto parágrafo referia-se incitação a que um Estado estrangeiro
declare guerra a URSS.
Parágrafo sexto tratava da espionagem, que se dividia em presunção de
espionagem e espionagem não demonstrada.
Parágrafo sétimo condenava as atividades nocivas à indústria, aos
transportes, ao comércio, à circulação fiduciária e às cooperativas.
O oitavo parágrafo tratava do terror, intenções terroristas.
O parágrafo nono condenava a destruição ou deteriorações causadas
por explosão ou incêndio devido ao objetivo contra-revolucionário, denominado
como diversionismo.
O décimo parágrafo referia-se a propaganda ou agitação contento um
apelo derrubamento, abalo ou enfraquecimento do poder soviético.

17
SOLJENÍTSIN, 1973, p. 101.
18
Ibid., p. 342

29
O parágrafo décimo primeiro referia-se a um agravante a qualquer um
dos parágrafos anteriormente mencionados, se a ação deu-se de forma
organizada.
Décimo segundo parágrafo condena a não denúncia de qualquer das
ações mencionadas nos parágrafos anteriores, a pena não tinha um limite
máximo.
O décimo terceiro parágrafo tratava dos que tinham pertencido a algum
serviço de informação, polícia secreta czarista.
Por fim, o décimo quarto parágrafo punia o não cumprimento consciente
de determinadas obrigações ou a negligência premeditada no seu
cumprimento, a punição estendia-se até o fuzilamento.
A lei concedia a pena de fuzilamento para: propaganda e agitação,
incitando a resistência contra o governo; não cumprimento das obrigações
militares; não pagamento de impostos; regresso do estrangeiro sem
autorização; deportação. Mais tarde Lênin propôs que essa pena se
estendesse para as ações em favor da burguesia internacional. Dá-se a
legalização do medo.
Podemos observar que havia uma ausência de justiça em todos os
processos de Moscou, existia uma repressão extrajudicial, a Tcheká e um
jovem código criado as pressas para o processo dos socialistas-
revolucionários, além dos processos precoces que muitas vezes acontecia de
portas fechadas e tinham seus depoimento manipulados e sentenças
previamente decididas.
“O próprio fato da detenção revela já uma culpabilidade! Se os réus não
são culpados, para que então prendê-los? Uma vez que foram presos, isso
significa que são culpados.”19 Isso justifica o fato de a pessoa ser presa
primeiro e depois ser instruído o processo
A instrução do processo não tinha a finalidade de revelar a verdade, mas
sim de esgotar o preso fisicamente, para que ele confesse qualquer coisa. Não
eram feitas investigações preliminares para ver se a pessoa é inocente, se
devem proceder com a instrução. O que interessava nas acusações não era a
chamada culpa, mas a conveniência, se é conveniente que uma pessoa seja
presa, ou até mesmo morta, assim será, independentemente se é realmente
19
SOLJENÍTSIN, 1973, p. 381.

30
culpada. “Dêem-nos um homem, o caso nós criaremos!”20Stálin não acreditava
que houvesse um bairro sem inimigos, logo,os oficiais eram obrigados a fazer
aparecer confissões, para não serem prejudicados e continuarem no poder.

E ainda que, acusados aqui em Moscou, não tenham feito


absolutamente nada ( e parece que foi assim), de todos os modos...
no momento atual, o simples fato de conversar atrás de uma xícara
de chá sobre qual será o regime que deve substituir o soviético, que
irá pretensamente desmoronar-se, é um ato contra-
revolucionário...Durante a guerra civil não é só a atividade contra o
poder que é criminosa... é criminosa a própria inatividade.21

Os oficiais faziam tudo isso devido ao poder e ao dinheiro, do contrário


poderiam passar para o lado dos réus. Tinham o poder de fazer a pena dos
acusados. O dinheiro faz sumir a noção de humanidade e igualdade de um
homem, além da ideologia, que fornece a justificação para maldade, assim foi
no nazismo, na inquisição.
As pessoas eram obrigadas, através de torturas, a assinar e confessar
coisas que nunca tinham feito, como participação de uma organização. “Quanto
mais fantasiosa uma acusação, mais cruel deve ser a investigação, para
22
obrigar as confissões.” Para os soviéticos duas pessoas já poderiam ser
enquadradas em uma organização contra-revolucionária. Milhares de inocentes
foram torturados, perderam dez ou vinte anos de suas vidas em campos de
trabalhos forçados e até mesmo foram fuzilados. Existiam 52 tipos diferentes
de torturas realizadas nessa faze dos processos.
Quando as pessoas eram tiradas de suas casas não sabiam que,

Durante a instrução do processo, lhes apertaria o crânio com um


anel de ferro, submergiriam uma pessoa num banho de ácidos, que
se ataria um homem nu para o expor às formigas e aos percevejos,
que lhes introduziriam uma baioneta em brasa pelo orifício anal (a
marca secreta), que se lhe comprimiriam lentamente com uma bota
os órgãos sexuais e que, como tratamento mais suave, se torturaria
alguém durante uma semana, sem o deixar dormir, sem lhe dar de
beber, espancando-o até deixar-lhe o corpo em carne viva – todos os
seus heróis teria ido parar no manicômio.23
20
SOLJENÍTSIN, 1973, p. 151
21
Ibid., p. 321.
22
Ibid., p 106.
23
SOLJENÍTSIN, 1973, p. 102.

31
Durante as torturas a pessoa controla a medida das torturas, se não tiver
alguma coisa a oferecer será torturado até a morte, do contrário não deve
entregar tão facilmente, pois podem pensar que tem mais alguma coisa e
continuaram a tortura. Não havia algo que regulamentasse os tipos de torturas,
usava-se a criatividade. Se resistir a tudo, pegam a família. Sistemas de ar
condicionado serviam para exalar um odor desagradável, as celas eram muito
quentes. Muitas pessoas não resistiam aos interrogatórios e nem ao regime de
trabalhos nos Gulags.
Existiam torturas pelo método psíquico e físico, normalmente
começavam com métodos leves para não deixar marcas, porém não eram
necessários mais métodos para levar a pessoa à loucura. A instrução do
processo dava-se durante a noite, justamente pelo fato de atrapalhar o sono
dos acusados, utilizavam a persuasão, insultos grosseiros, choques
provocados pelo contraste psicológico, humilhação, a mentira envolvendo os
familiares do preso, tortura de familiares, queimar com cigarros, método
luminoso, sonoro.
A prisão inicia-se em uma sala muito pequena, mais próximo de uma
caixa, muitas delas não têm espaço para sentar-se, obrigando o condenado a
permanecer em pé por horas, um turbilhão de sentimentos, uma reviravolta
psicológica antes de iniciar a instrução, bem como as torturas. Às vezes
colocavam nessas caixas percevejos ou formigas, outras deixavam a pessoa a
céu aberto por dias, obrigando-a a fazer suas necessidades ale mesmo. Existia
o calabouço agravado pela fome e pelo frio. Obrigavam os presos a ficarem de
joelhos ou então permanecer em pé por dias sem bebida.
Tudo está ligado a privação do sono, considerada uma forma superior de
tortura porque não deixa vestígios. Há ainda um espancamento sem deixar
vestígios, através do uso de cassetetes de borracha, malhetes e sacos de
areia. Havia ainda a fratura da espinha dorsal e pancada no nervo ciático, que
faz doer a cabeça. Injetavam água salgada em clisteres pela garganta e depois
o torturavam de sede, ou introduziam agulhas pelas unhas e injetavam água
até incharem, isso aconteceu com o Rúdolf Pintsov.“Irmão! Não censure
aqueles que caíram em tais situações, que lhes mostraram fracos e assinaram

32
o que não deviam...Não lhes atire pedras”24. Ninguém está preparado para a
detenção e instrução.
Era primordial o isolamento do acusado, a tortura começa antes da
instrução, quando se dá o isolamento do preso, depois era colocado em caixas
com percevejos ou em cela abarrotadas de presos. A superlotação era tão
intensa que o suor alheio causava eczema na pele, pois os corpos nus
apertavam-se. A chegada de uma pessoa do interrogatório, toda deformada e
machucada devido às torturas, isso já serve de exemplo, isso já faz parte da
tortura. Não há saída, a pessoa tem que confessar tudo. Comandando todas
essas torturas estava Abakúmov.
Esses processos de Moscou fundamentavam-se nas confissões
arrancadas através das torturas. Planificou-se a tortura pela primeira vez,
homens seguiam as ordens de Stálin, mas este não dava a última palavra, para
manter sua postura angelical. “Exigia que cada seção de instrução, num prazo
fixo, enviasse apo tribunal determina número fixo de infelizes que tivessem
confessado” 25, trabalhavam em um sistema de cotas.
O grande mistério dos processos de Moscou era a seguinte pergunta:
você deseja viver? Toda a seção no tribunal era um teatro, os réus deveriam
convencer as pessoas de que eram culpados para continuar vivendo, mas
muitas vezes confessavam e eram condenados ao fuzilamento.
Aqueles que não assinam eram fuzilados. O Grande expurgo trata-se de
uma cruel guerra secreta em que só triunfa aquele que renunciou a tudo ao
entrar na prisão, sem esperança de liberdade. Houve pessoas que se
recusaram a assinar algo que não fizeram, morreram na sala do interrogatório,
preferiram morrer ao denunciar um amigo ou vizinho.
Os Órgãos poupavam-se do trabalho de procurar provas para os delitos
que estavam acusando, o preso torturado é que deve expor provas de que
suas intenções eram as melhores, que não tem culpa, pois a instrução partia
do princípio de que as pessoas são verdadeiramente culpadas, logo devem
provar o contrário. Os presos torturados ao sair tinham que assinar uma
declaração de que não falariam o que aconteceu durante o processo de
instrução, nem como eram os campos de concentração.

24
SOLJENÍTSIN, 1973, p. 124
25
Ibid., p. 110.

33
Depois de todas essas torturas o encarceramento não era tão ruim, pois
na cela descobriam que não estavam sozinhos nessa situação. Nas celas as
pessoas voltavam a ver um olhar humano, o que era confortante, percebiam
que haviam outros na mesma situação.. No meio da cela havia uma mesa com
livros a disposição. Para fazer as necessidades os presos eram levados a
latrina. Comiam ração de pão, aproximadamente 450 gramas por dia, um pão
redondo, esponjoso, poroso, parte de cima gordurosa e a de baixo torrado. Em
cada cela existe um informante porque é muito caro colocar microfones em
todas as celas. Os presos tinham vinte minutos de passeio. Com o tempo as
pessoas acostumam com a pouca alimentação: no almoço uma colherada de
sopa e outra de papas aguadas sem gordura, na janta mais uma colherada de
papas.
Os presos eram transferidos, o maior medo era ser transferido para a
Sibéria e ser privado do sol por muito tempo. O transporte era ferroviário,
chamado de Stolípin e tinha cinco compartimentos destinados aos presos,
separados por grades de ferro. Parecia mais um transporte de animais, a única
diferença era que os animais não ficavam tão amontoados. Muitas vezes não
recebia nada para beber nem comer, com a finalidade de não precisar levá-los
a latrina no meio do caminho.
Houve um tempo em que os presos faziam grave de fome para
conseguir algum benefício, mas na época de Stálin isso não funcionava. Os
funcionários abriam os lábios dos detentos a força enfiando um tubo de
borracha com líquido nutritivo, foram elaborados outros métodos como:
clisteres colocados no ânus e gotas pelo nariz. A greve de fome era
considerada uma continuação das atividades contra-revolucionária que
implicava uma nova condenação, além de não ser contabilizado o tem em
greve da pena.
Artigo 136 do Código de Processo Penal: O investigador não tem o
direito de obter declarações ou a confissão do acusado por meio de violência
ou ameaça
Artigo111: O juiz da instrução é obrigado a esclarecer as circunstâncias
suscetíveis de conduzir à não culpabilidade, bem como as atenuantes de culpa.

34
Artigo 139: o acusado tem o direito de escrever declarações pelo seu
punho e pela sua letra e de exigir a introdução de emendas no auto escrito pelo
comissário de instrução.
Artigo 206: O acusado deve folhear seu processo antes de assinar. Tem
direito de se queixar por escrito em relação a qualquer irregularidade.
O tempo de instrução de qualquer processo deve acontecer em, no
máximo, dois meses, mas esse prazo sempre era prolongado.
Na tentativa de limpar esse passado o Supremo Tribunal condenou
apenas 10 pessoas. Na Alemanha foram condenados 86 mil, castigou seus
malfeitores, ao contrário da Rússia. O autor defende a reabertura desse
processos e a condenação dos responsáveis, não como vingança, mas como
um mínimo de consideração com os inocentes que foram mortos e suas
famílias.
Muitos foram considerados traidores da pátria, mas na verdade foram
traídos pela pátria.

(Nunca os governos de qualquer época foram de modo algum


moralistas. Eles nunca prenderam ou castigaram as pessoas por
algo. Eles prenderam e castigaram para que não fizesse algo! Se
todos esses prisioneiros foram presos não foi por traição à pátria, pois
até mesmo para um idiota se tornava claro que só os vlassovistas
podiam ser julgados por traição. Foi, sim, para que eles não falassem
da Europa entre os seus conterrâneos, na aldeia. Aquilo que não se
vê não dá volta à cabeça...)26

Os tribunais soviéticos tinham três características principais: eram de


portas fechadas, predeterminação das sentenças e a dialética, ou seja, se a
conduta do sujeito não se encaixa nos artigos do Código Penal faz-se uma
interpretação analógica e manda-o para os Gulags, ou pela sua origem ou por
ter relações com pessoas perigosas ( que pessoa pode ser perigosa? Só o
tribunal sabe). Quem julga são a instituições sociais.

Os julgamentos públicos são simples montes de toupeiras a


superfície, quando o essencial da pesquisa se passa
subterraneamente. Em tais processos só aparece uma pequena parte
dos detidos: apenas aqueles que estiveram de acordo, contra sua

26
SOLJENÍTSIN, 1973. p. 24

35
vontade, em se denunciarem a si e aos outros, esperançados numa
maior indulgência. 27

Existiam três tipos de tribunais: populares, distritais e revolucionários.


Os tribunais revolucionários levavam em conta os resultados mais desejáveis
para a classe operária, as pessoas só podem existir se for conveniente para a
classe operária. Existi também a Tcheká, uma milícia secreta que resolvia os
casos de forma extrajudicial, por meio desta muitos foram fuzilados.

O tribunal soviético era simultaneamente o criador do direito e o


instrumento da política. Criador do direito na medida em que durante
quatro anos não houve código algum: os códigos czaristas foram
atirados fora e não tínhamos elaborado ainda os nossos. 28

Grande parte dos processos de Moscou se perdeu, pois muitos não


estavam em ordem, estavam escritos apenas em estenogramas (anotações),
alguns de forma tão ilegível que foi necessário eliminar páginas inteiras, por
isso não dá para descrever em detalhes os processos daquela época. Os
antigos arquivos da Lubianka foram queimados, os grandes processos que o
autor se refere não podem ser entendidos de forma autônoma, mas sim no
plural.
Na atualidade existem sistemas prisionais que funcionam como os
Gulags da União Soviética, na Coréia do Norte, onde as pessoas vivem em
uma situação de escravatura. As punições estendem-se às outras gerações da
família.

Gwang Il Jung ficou preso durante três anos no campo de detenção de


Yodok, na Coreia do Norte. Ele foi acusado de espionar para a Coréia do Sul.
Segundo o ex-empresário, uma confissão falsa que teve que fazer depois de
ser torturado por vários meses. Quando foi libertado, sua casa e família
haviam desaparecido e ele decidiu fugir da Coréia do Norte, indo
primeiro para a China e depois para a Coréia do Sul, em 2004. Lá ele
criou, junto com outros ex-prisioneiros, uma organização que luta
contra a existência destes campos de detenção secretos. Estima-se
que 600 mil norte-coreanos sejam prisioneiros nestes gulags. 29

27
SOLJENÍTSIN, 1973, p. 290
28
Ibid., p. 300.
29
DETERS, Sigrid. Ex-prisioneiro luta contra Gulag da Coéia do Norte. RNW,
jul.2010.Dispovível em : http://www.rnw.nl/portugues/video/ex-prisioneiro-luta-contra-gulags-da-

36
REFERÊNCIAS

CONQUEST, Robert. O Grande Terror. 1. ed. 1968.

FERREIRA, José Roberto Martins. História. Ed. Reform. São Paulo: FTD,
1997.

coreia-do-norte. Acesso em 05.nov.2010.

37
HYLAND, William. Hitler and Stalin: “Parallel Lives”, by Allan Bullock. Nova
York, 1992. Disponível em: <http://www.commentarymagazine.com/viewarticle.
cfm/hitler-and-stalin--parallel-lives--by-alan-bullock-8005>. Acesso em 02. nov.
2010.

KOSHIBA, Luiz. História: Geral e Brasil. 1.ed. São Paulo: Atual, 2004.

LÊNIN, Vladimir Ilitch. Teses de abril. Petrogrado, 1917. Disponível em:


<http://www.dorl.pcp.pt/images/classicos/t24t001.pdf >. Acesso em: 02. nov.
2010.

NEVES, Joana. História geral: a construção de um mundo globalizado. 1.ed.


São Paulo: Saraiva,2002.

SERGE, Victor. Obituary Leon Sedov. 21. fev. 1938. Disponível em:
<http://www.marxists.org/archive/serge/1938/02/sedov.htm>. Acesso em: 06.
nov. 2010.

SOLJENÍTSIN, O Arquipélago de Gulag. São Paulo: Difel, 1973.

TRÓTSKY, Leon. Eu aposto a minha vida. Discurso de abertura da Comissão


Dewey. Fevereiro de 1937.

DETERS, Sigrid. Ex-prisioneiro luta contra Gulag da Coéia do Norte. RNW,


jul.2010.Dispovível em : http://www.rnw.nl/portugues/video/ex-prisioneiro-luta-
contra-gulags-da-coreia-do-norte. Acesso em 05. nov.2010.

38

Você também pode gostar