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AMOR DE PERDIÇÃO,
de CAMILO CASTELO BRANCO

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Literatura Portuguesa II
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Escola Eb2,3/S do Cerco
11ºC
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Literatura Portuguesa II Amor de
Escola Eb2,3/S do Cerco Perdição

AMOR DE PERDIÇÃO,
de CAMILO CASTELO BRANCO

« Amor de Perdição é o Romeu e Julieta da nossa literatura.»

« Amor de Perdição é assim uma história de


constância amorosa em amores contrariados e uma
história de ódio e violência, contada como uma novela
o deve ser: em ritmo vivo, sem elementos descritivos,
sem longas divagações do autor, falando apenas o
essencial em linguagem sem pretensões de estilo.»

CARACTERÍSTICAS DA NOVELA :

• A concentração de episódios conducentes à acção principal e consequente ausência de


episódios colaterais;
• A rapidez do ritmo narrativo;
• O número reduzido de personagens;
• A quase inexistência de descrição;
• A ausência de digressões;
• A frequência do diálogo como expressão dos momentos de tensão dramática;
• A extensão (menor que a do romance).

INTRIGA
A intriga principal

1. A linearidade da intriga

Como sabemos, a intriga é uma sucessão de acontecimentos ligados por uma relação de
causalidade. Sendo a essência da intriga essa relação de causalidade, Amor de Perdição é,
efectivamente, uma verdadeira intriga, dado que a acção se inicia e segue em gradação crescente
sem pausas nem desvios, atinge o ponto máximo, e obriga à ruptura ou ao desenlace Não tem
interesse demorarmo-nos na análise da intriga secundária pela sua irrelevância.

A figura de Manuel Botelho só se justifica para contrastar com a de Simão.

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Na Introdução, o narrador resumiu lapidarmente a intriga principal desta forma: «Amou, perdeu-se
e morreu amando.» Cada oração aponta para os momentos essenciais de uma intriga. Podemos
fazer o levantamento dos momentos de avanço da acção ou das funções nucleares para verificar a
linearidade da intriga, onde não se encontram analepses, nem pausas significativas, com a única
excepção do capítulo VII em que o narrador pára a intriga para se demorar na análise da vida
corrupta do convento de Viseu. E só por esta finalidade realista é que se lhe perdoa este desvio.

2. Os elementos dramáticos da intriga

Os elementos dramáticos mais importantes são o ódio, o fatalismo e a morte. Tais elementos
conferem à intriga um clima de tragédia. Destaquemos algumas passagens da obra onde se revelam
esses elementos.

O ódio

O magistrado e sua família eram odiosos ao pai de Teresa, por motivos de litígios, em que Domingos
Botelho lhes deu sentença contra. Cap. II

Não era sobressalto do coração apaixonado: era a índole arrogante que lhe escaldava o sangue. Ir dali a
Castro Daire, e apunhalar o primo na sua própria casa, foi o primeiro conselho que lhe segredou a fúria do
ódio. Cap. IV

O fatalismo

Não sei o que me adivinha o coração a respeito de vossa senhoria. Alguma desgraça está para lhe
acontecer... Cap. V

Eu não sei o que se passa, mas há coisa misteriosa que eu não posso adivinhar. Cap. VI l
Mas já sabia que vinha para esta desgraça, porque tinha tido um sonho, em que via muito sangue, e eu
estava a chorar porque via uma pessoa muito minha amiga a cair numa cova muito funda... (...) - São
sonhos, são; mas eu nunca sonhei nada que não acontecesse. Cap. VIII

O destino há-de cumprir-se... O meu destino é o convento. Cap. X


... mas o teu fatal destino não quis largar a vítima. Cap. XI

A morte

As alusões ao destino são cada vez mais frequentes conforme avança a intriga.
- E o tiro acertou-lhe? - atalhou Simão.
- Acertou: mas saberá vossa senhoria que me não matou (...). E vou eu, entro em casa, (...) trago uma
clavina e desfecho-lha na tábua do peito. O almocreve caiu como um tordo, e não tugiu nem mugiu. Cap. V
- Atira ao da esquerda! - disse João da Cruz.
Mataram-me!... Mariana, não te vejo mais!... Cap. XVII
- Sim... No céu deve ela estar. (…)
~ Teresa!... Morreu? (…)- Morreu, além, no mirante, donde ela estava acenando. Cap. XX
- Está morto! - disse ele. Conclusão.

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Muitas outras citações se poderiam fazer, mas estas são Elementos estruturadores da
suficientes para evidenciar as três forças dominantes. tragédia clássica:
Sabendo-se que o drama é a oposição de caracteres
sem que se verifique a introdução de forças superiores Anankê – Simão é desde o seu
ao indivíduo e que a tragédia implica exactamente a nascimento marcado pelo destino.
introdução de forças transcendentes ao indivíduo, Teresa e Mariana cumprem os
vamos salientar o clima de tragédia que paira ao longo seus destinos trágicos ao
das páginas desta obra. Se o ódio e o amor brotam dos entregarem-se a um amor
corações, o fatalismo é um factor que está ligado a proibido;
entidades superiores. E se o ódio e o amor foram pontos
de partida, o fatalismo comandou a intriga, como Hybris- Teresa e Simão desafiam
mandavam as leis da tragédia: o destino os uniu ou a autoridade dos pais, negando-se
aproximou, o destino os separará e destruirá. a renunciar ao amor que sentem
um pelo outro. Mariana desafia a
mentalidade da época, assente
numa estrutura de classes
3. Os elementos trágicos da intriga hierarquizadas, ao apaixonar-se
por Simão, tendo esperança, aliás,
A novela apresenta uma dimensão trágica, que se traduz de que um dia o seu amor seja
na morte das personagens principais, que lutam, até ao recompensado;
fim, pelo único motivo pelo qual, para elas , vale a pena
viver. Findas as esperanças na vida terrena procuram na Pathos- sofrimento resultante da
morte o seu único consolo. consciência progressiva da
incapacidade de realizarem o seu
A tragédia implica, como já foi afirmado, a intervenção amor. Mariana sofre por intuir a
de forças que transcendem o indivíduo e que dominam. desgraça que afectará Simão e
pelo facto de a compartilhar;

Peripeteia – Simão e Teresa


A INTRIGA SECUNDARIA perdem a liberdade;

Articula-se por encaixe e é constituída pelos amores de Climax- o desenlace é o


Manuel Botelho e a açoriana. momento de maior sofrimento;

Justifica- se por duas razões: o carácter memorialista da Catastrophe- a morte dos três
obra e o contraste entre Simão e Manuel, salientando o jovens
herói.
Coro- as cartas, os comentários
do narrador e os presságios de
Mariana substituem o coro
propriamente dito.

Tal como na tragédia clássica,


faz-se apelo à compaixão dos
leitores . Esta é sugerida pela
inserção na narrativa de
determinados factores:
- Cartas de Simão a Teresa4
e vice-versa;
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PERSONAGENS
CARACTERIZAÇÃO

SIMÃO TERESA
Cap. I Nascimento em Lisboa, na freguesia de Ajuda,
em 1784. Génio sanguinário, bravura, rebeldia
—> características hereditárias. Belo, com as
feições da mãe.
Cap. II Inconformado política e socialmente: Indicadores sociais: 15 anos, rica herdeira,
adesão aos ideais da Revolução Francesa. bonita e bem-nascida. Excepcional no
Encarcerado em Coimbra durante 6 meses. amor.
Mudança extraordinária após a visão de Teresa: Nada é referido sobre a personalidade de
abandona a ralé de Viseu, recolhe--se em casa, Teresa. O leitor tem de esperar pela sua
torna-se um bom estudante. Mudança actuação para tirar conclusões. Reage de
superficial: o pólo da rebeldia natural e o pólo da
forma violenta à oposição do pai.
bondade adquirida deixam prever reacções Escreve um bilhete a Simão que mostra o
diferentes futuras. A rebeldia volta quando vê seu extremo de amar e é assim que abre
Teresa arrebatada da janela, à força, pelo pai. caminho para a sua perdição.
Cap. III Enfrenta a paixão de Baltasar com o
seu desamor.
Cap. IV Reacção brusca perante a carta de Do diálogo com Baltasar, o narrador retira
Teresa que lhe contava o que o seu pai conclusões: mulher varonil, força de
pretendera fazer. carácter, orgulho fortalecido pelo amor.
Oposição ao pai. Escreve a Simão.
Cap. V Encontro do herói Simão com o anti-herói Escreve uma carta a Simão e conta a
Baltasar. história do baile.
Cap. VI Emboscada preparada por Baltasar.
Encontro de Simão e Teresa que não é narrado,
assim como as cartas não têm sido transcritas. O
narrador não complexifica a obra. A nobreza de
Simão evidencia-se aquando da morte cruel de
um dos criados de Baltasar por João da Cruz.
Simão fica ferido.
Cap. VII Teresa escreve a Simão, contando-lhe o
sucedido e pede-lhe que fuja de Viseu e vá
para Coimbra.
O pai anuncia a decisão de a enclausurar no
convento.
A atitude de Teresa é eminentemente
romântica: Estou mais livre que nunca. A
liberdade do coração é tudo. Teresa,
mulher-anjo, é valorizada em contraste com
a corrupção do convento de Viseu.
Cap. Simão escreve uma carta a Teresa onde lhe
VIII revela a força do seu amor.
Cap. IX O génio rebelde de Simão volta à superfície ao Teresa escreve regularmente a Simão.
saber do espancamento Teresa deseja fugir do convento não por
da mendiga pelo hortelão do convento. Simão causa de Simão mas por causa do ambiente
recebe regularmente cartas de Teresa. corrompido que ali se vive. É sempre
idealizada.

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Cap. X Simão transforma-se em poeta. A carta que Teresa é caracterizada por Mariana
escreve a Teresa é prova disso. É o herói como fidalga, rica e linda como nenhuma
romântico. Assassina Baltasar como resposta a outra. Teresa não se opõe à transferência
uma agressão deste. Recusa fugir, quer a convite para o convento de Monchique (Porto).
de João da Cruz, quer a convite do rneirinho Teresa vê Simão e grita o seu nome.
geral.
Cap. XI Nega ao juiz ter matado em legítima
defesa. Corajoso. Não tem medo da
forca. Recebe uma carta da mãe, onde se alude a
um destino fatal e ao seu nascimento em perigo
de vida. Recusa a ajuda monetária da mãe.
Cap. XII Condenado à forca, após sete meses de cadeia.
Mantém-se inalterável e afirma: A forca é a
única festa do povo! Recusa apelar da sentença.
Cap. Transferido para a cadeia do Porto, Nova caracterização como ave do céu,
XIII por intercessão do pai. Escreve cartas a Teresa,alada como ideal querubim dos santos.
onde alude ao seu destino. Sabendo da prisão de Simão, refugia-se no
desejo da morte, única via para o encontro
dos dois.
Cap. O Corregedor do Porto elogia Simão e censura Recebe a visita do pai e anuncia-lhe
XIV Tadeu de Albuquerque. Recebe a visita do pai e que morrerá ali
anuncia-lhe que morrerá ali.
Cap. Relê as cartas de Teresa e escreve as Recebe a carta de Simão.
XV suas meditações. Recebe a visita de João da
Cruz e pede-lhe para levar uma carta a Teresa.
Cap. Novo elogio de Simão feito pelo
XVI desembargador Mourão Mosqueira
que anuncia ao irmão de Simão a decisão de
comutar a pena em 10 anos de degredo.
Cap. Morte de João da Cruz. Mariana, liberta do pai,
XVII aproxima-se de Simão. Este tem de optar entre a
prisão durante 10 anos perto de Teresa ou a
liberdade relativa do degredo com Mariana.
Simão opta pelo desterro, mas não opta por
Mariana.
Cap. Simão recusa cumprir a prisão em Vila Real.
XVIII
Cap. Simão não cede aos pedidos de Teresa para que Sabendo que o pai de Simão o livrou da
XIX cumpra em Portugal a pena de 10 anos. Não forca, tenta agarrar Simão, pedindo-lhe para
tolera a cadeia. Em 10 de Março de 1807, recebeque não vá para o degredo. Está cada vez
a ordem de embarcar. mais doente e anuncia a sua morte e o seu
encontro com Simão no Céu.
Cap. Em 17 de Março, sai da prisão para o Teresa pede os sacramentos. Relê as cartas
XX embarque. Não aceita o dinheiro que a mãe lhe de Simão e emaça-as, pedindo a Constança
envia. Vê Teresa no mirante do mosteiro. Simão que as leve a Simão. Teresa morre.
sabe da morte de Teresa.
Conclus Lê uma carta de Teresa, aquela que
ão continha os projectos iniciais do amor. Cai
doente. Em 27 de Março, morre. É atirado
ao mar.

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Simão Mariana
Nasceu em 1784. Em 1801, quando se apaixona por Teresa
tem quinze anos e estuda Humanidades em Coimbra. Tem Conhecia já Simão, antes da sua entrada em
génio sanguinário, rebeldia e coragem, inconformismo casa do pai: admirava-o como o salvador de
político (características psíquicas e físicas herdadas de alguns seu pai e como homem corajoso e bravo.
familiares – anúncio do Realismo). É um belo homem, forte Faz de enfermeira de Simão, tratando-o
de compleição, com feições de sua mãe e a corpulência dela. com muito carinho. Admira Teresa,
Quando se apaixona por Teresa, distancia-se da ralé de Viseu, servindo de intermediária entre esta e
torna-se caseiro, estuda e dá longos passeios pelo campo. A Simão. É dotada de uma grande
sua rebeldia volta a manifestar-se ,quando se vê impedido de sensibilidade e intuição, prevendo o futuro.
ver Teresa. Neste período, outras características se tornam Companheira ideal de Simão na
visíveis : a nobreza de alma, a honra, a dignidade, a veia cadeia, é a encarnação da mulher-anjo.
poética. Simão é o herói romântico anti-social. Ele representa Tem consciência de que não pode ser
a oposição a uma sociedade podre , repleta de valores anti- amada por Simão, mas o seu coração tem
humanos. Morre a 28 de Março de 1807, no beliche do navio razões que a razão não compreende...
que o transportava para o degredo e o seu corpo é lançado ao O seu último gesto - o suicídio - mostra a
mar. Esta personagem apresenta evolução psicológica. – força do seu amor.
personagem modelada.

TERESA MARIANA
15 anos 24 anos
bonita bonita e bela
linda mais linda do que Teresa
fidalga mulher do povo
rica herdeira inculta
bem-nascida supersticiosa
fortalecida pelo amor enfraquecida pelo amor
amor correspondido amor não correspondido
esperança de felicidade abnegação e sofrimento
crença no amor para além da morte crença no amor para além da morte
amor como única razão de viver amor como única razão de viver
sacralização do amor sacralização do amor
vítima do pai amor paternal
firme na recusa em casar com amor filial
Baltasar, em ser freira, em esquecer firme na recusa em casar com outros
Simão e em sair do convento pretendentes
indiferente para com a sociedade desprendida dos bens terrenos
indiferente para com a sociedade
qualidades convencionais para ser falta de algumas qualidades para ser
heroína de um romance heroína de um romance

Personagem Plana Personagem Modelada

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João da Cruz

Protótipo do homem português; Tipo “bom bandido”, pois é simultaneamente corajoso , leal, grato,
honrado e frio , sanguinário, sem escrúpulos, É a personagem mais autêntica, mais verosímil da
novela. A sua caracterização está feita nos capítulos IV, V, VI, VIII, X, XV e XVII. Homem do
povo, ferrador de profissão, personagem complexa, misto de bondade, gratidão, coragem, violência
e crueldade. Notável o castiço da sua linguagem.

Os anti-heróis

Domingos Botelho
Juiz de fora, é ridicularizado desde as primeiras páginas, tendo o narrador o cuidado de o contrastar
com o seu filho Simão.

Tadeu de Albuquerque
É o paradigma do pai tirano, déspota. É fidalgo, mas ao longo da obra, vai-se desfigurando, até cair
na caricatura, servindo assim ao narrador para criticar os falsos valores da aristocracia.

Baltasar
É o anti-herói por excelência. Desprovido de carácter e de qualidades positivas, serve para
contrastar com Simão. Tendo tentado matar Simão de emboscada, teve o fim que merecia.
Representa os valores sociais instituídos e fossilizados, contribuindo para a tragédia final;

Os não-heróis

D. Rita Preciosa

Bela, inteligente mas dotada da prosápia de quem sempre viveu na corte. Figura ambígua, pois
umas vezes actua contra Simão, outras ajuda-o.

Manuel Botelho

A sua presença na obra justifica-se para contrastar com Simão. Representa a mediocridade e uma
certa marginalidade. Covarde, mente e torna-se desertor. O universo das personagens e seu
relacionamento

ESPAÇO
Espaço físico – lugares onde decorre a acção.
A narração desenvolve-se em diversos espaços:

Vila Real – Coimbra – Lisboa – Lamego – Viseu ( espaços onde decorrem acontecimentos ligados à
vida familiar de Simão)
Coimbra ( local onde Simão estudava) – Viseu ( casas dos pais dos jovens e de João da Cruz) –
Porto ( cela da prisão ) – beliche do barco que o leva para o degredo na Índia ( Simão)

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Viseu ( casa dos pais e convento de Viseu) – Porto ( convento de Monchique) ( Teresa)

«O espaço físico da obra caracteriza-se por um progressivo afunilamento, à medida que a acção
trágica atinge o seu clímax, encaminhando-se para o desenlace final.Com efeito, de um espaço
exterior amplo onde as personagens principais se movimentam livremente, a cidade, passa-se para
um espaço fechado e reduzido, no qual as personagens se encontram encarcerados.» O local onde
Simão e Teresa «se encontram nos últimos tempos simboliza o facto de estas serem prisioneiras da
própria vida, pois estão enclausurados nas dimensões da sua própria tragédia.»
«(...) o lançamento do cadáver de Simão é como que o retorno aos grandes espaços, à imensidão
sem limites que o amor dele exigia.»

ESPAÇO SOCIAL

De notar que, enquanto o espaço se fecha, aumenta a distância entre as personagens, aumenta a
incomunicabilidade, o que faz do próprio espaço um elemento intensificador de tragédia.

a. Nobreza decadente
A mentalidade dos pais de Simão e Teresa, a sua actuação, o seu vestuário, tudo aponta para a
decadência e a ruína. Além disso, a rivalidade entre as duas famílias é verdadeiramente mesquinha.
Camilo terá desejado denunciar os preconceitos sociais de certas camadas da população.

b. Arbitrariedade da justiça
Vê-se claramente a intenção de denunciar a parcialidade dos julgamentos, de acordo com a classe
dos acusados e os pedidos de pessoas influentes.

c. Arbitrariedade no exército
Igualmente neste sector são denunciadas as irregularidades. Assim, Domingos Botelho interfere
junto de um corregedor para que obtenha o perdão para o seu filho Manuel, que era desertor.

d. Vícios do clero
O narrador reservou um capítulo (VII) para criticar os vícios de um convento: o de Viseu.
Hipocrisia, intrigas entre freiras, preocupações materiais, sensualismo, são os principais defeitos
levantados. Compreende-se a posição, sobretudo se nos interessar o contraste entre a
inocência e a dignidade de Teresa e o mundo corrupto do convento. Todavia, o narrador
louva a bondade das freiras de Monchique.

ESPAÇO PSICOLÓGICO

As personagens do Amor de Perdição são caracterizadas geralmente de forma indirecta, através das
suas atitudes e dos diálogos que mantêm entre si. Por vezes, a própria personagem
faz a sua auto-caracterização, em momentos de introspecção. Para além das cartas de Simão e
Teresa, que irão ser abordadas de forma especial, é a personagem Mariana que vai manifestando, a
partir da prisão de Simão, os seus próprios sentimentos. Quase todos os capítulos, a partir do X
inclusive, nos mostram a alma desta personagem, sem dúvida, a mais complexa e a mais curiosa.

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TEMPO

Tempo do discurso – modo como o narrador elabora o seu relato (anacronias; anisocronias;
isocronias)

Anacronia – desencontro entre a ordem temporal dos acontecimentos e a ordem por que são
narrados (analepses; prolepse). Ex. João da Cruz conta a forma como ,anos antes matara o
almocreve.

Anisocronias- ao nível do discurso, existem alterações na duração da história ; o discurso pode ser
constituído num tempo mais longo que a história ou vice-versa ( resumo; elipse,...) Ex: na
introdução são resumidos os antecedentes familiares de Simão

Isocronia – tentativa de fazer coincidir o tempo diegético com o tempo do discurso. Acontece
normalmente quando há diálogo.

Tempo da história, da diegese ou cronológico – tempo que se define pelas dadas ou pelo decurso
e duração dos acontecimentos.

Ex. A acção decorre nos finais do séc. XVIII e início do séc.XIX.

A introdução abarca um período de 40 anos.

A acção decorre em seis anos (1801-1807)

O tempo diegético ,nesta obra, caracteriza-se pela cronologia e pela linearidade.

Tempo psicológico – modo como as personagens sentem o decorrer do tempo


Ex: O tempo que Simão passa na cadeia parece-lhe uma eternidade. Ele sente-se incapaz de suportar
o cativeiro ,por isso opta pelo degredo.

NARRADOR
(quanto à presença)
Nesta obra encontramos dois tipos de narrador:
Narrador heterodiegético – a narração é feita na terceira pessoa, dado que o narrador não participa
nos acontecimentos. Ex: o narrador da história dos amores de Simão e Teresa.

Narrador homodiegético- a narração é feita por uma das personagens da história que nesse
momento desempenha a função de narrador. Ex: João da Cruz conta como matou o almocreve.

(quanto à ciência)
Focalização externa – o narrador emite opiniões e faz comentários, mas não participa na história.
Ex: O narrador da intriga principal.

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Focalização interna – o narrador que é uma das personagens da história e emite os seus pontos de
vista. Ex. João da Cruz conta como matou o almocreve.

ELEMENTOS ROMÂNTICOS E REALISTAS

Escrito em 1862, Amor de Perdição é uma novela que apresenta já alguns elementos que se podem
considerar realistas, sendo, por isso, uma obra de transição. Como conclusão, apresentamos, em
esquema, os principais aspectos românticos e realistas.

ELEMENTOS ROMÂNTICOS 
• Teresa é a mulher-anjo (aparece vestida de branco). Tendo optado pelo processo
• Simão é romântico no arrebatamento dos sentimentos. da caracterização indirecta
• Simão é um idealista apaixonado. das personagens como tipo de
• A transformação de Simão é romântica. caracterização dominante,
conjuga coerentemente a
• Mariana é também a mulher-anjo.
visão externa e a visão
• A correspondência trocada entre Simão e Teresa é muito
interna, predominando aquela
sentimental.
no seu estatuto de
• O fatalismo que recai sobre Simão e Teresa. memorialista a esta, à medida
• O carácter autobiográfico (as memórias). que a intriga avança. Por este
• As cenas mais importantes acontecem à noite ou ao raiar ponto de vista são, sobretudo,
da aurora. engrandecidos Simão e
• O triunfo do individualismo sobre as prepotências Mariana, ganhando, assim,
sociais. aos olhos dos leitores foros
• A ideia da morte associada ao amor. de verosimilhança.

ELEMENTOS REALISTAS 
• João da Cruz:
o o retrato
o a crueldade instintiva
o a linguagem castiça
• A crítica pormenorizada às freiras do convento de Viseu de que nos oferece uma visão
caricatural.

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ACÇÃO ABERTA / ACÇÃO FECHADA

Acção fechada – A obra apresenta uma acção fechada dado que o destino das personagens é
revelado ao leitor.

Acção aberta – A obra é uma proposta de reflexão, pois Camilo Castelo Branco convida o leitor a
reflectir sobre os preconceitos caducos e desumanos de uma sociedade que não valoriza o amor.
Este sentimento é negado, refutado ,por causa de condicionalismos de ordem social.
Simão desempenha o papel do herói que possui honra e aceita o seu destino adverso, na luta por um
ideal . A sua integridade sobressai numa sociedade hipócrita, onde o Amor é substituído pelo
orgulho, a prepotência, o autoritarismo . A amor profundo e absoluto de Simão e Teresa só se pode
realizar no Céu.

O Misticismo Cristão
A religião aparece na obra sob duas perspectivas que se aglutinam:
A compatibilidade cristã entre o individual e a liberdade;
A religião como consolo e crença numa vida eterna.

A vida eterna surge como uma possibilidade de se realizar o amor. O percurso dos heróis é «uma
purificação por amor e , ao longo das suas etapas iniciáticas, quer Simão quer Teresa distanciam-se
cada vez mais do meio social que os envolve, para viverem o antegozo de uma situação idílica, em
que o amor absoluto não possa ser dessacralizado.» A vida eterna surge como uma recompensa.
A morte surge como uma passagem do finito e do contingente para a dimensão da eternidade. Ela é
encarada « como uma forma de salvação, como um estádio de realização que nega o nada da
existência terrena. »

A Dimensão poética da obra


PROSA POÉTICA: AS CARTAS
A distância que sempre separou Simão e Teresa levou à invenção de uma forma de comunicação
entre os dois. O narrador resolveu o problema através das cartas, mas aproveitou esta presença para
lhes conferir funções diversas. E aí está como um registo discursivo pode alcançar relevância
funcional. Como poderemos observar, as cartas são de extensão diferente, não são regulares e o seu
discurso não é sempre do mesmo tom. Poderemos dizer que as cartas cumprem as funções
seguintes:
- servir de elo de ligação entre os dois informar o destinatário sobre os acontecimentos;
- comunicar decisões tomadas persuadir o destinatário a adoptar determinadas atitudes;
- autojustificar os actos do destinador exprimir sentimentos
- acelerar o processo narrativo.

A linguagem das cartas permite expressar a grandiosidade do amor que os dois jovens nutrem um
pelo outro.« Elas são o convite mais directo à compaixão e à revolta do leitor perante a situação em
que o par amoroso se encontra, situação motivada, em grande parte, pelos valores dominantes numa

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sociedade que ostraciza a pureza de um sentimento sublime.»


À medida que a tragicidade da acção se acentua, as cartas tornam-se cada vez mais poéticas.

Encontramos nelas as seguintes características do género lírico:


- A expressão da interioridade do “eu”;
- A tradução de uma forma de estar no mundo;

- A linguagem conotativa e diversos recursos expressivos:


- Metáforas; hipálages; omagens;
- Função emotiva e poética;
- Interjeições;
- Pontuação expressiva.

Dos Valores Portugueses à Universalidade do Tema


Nesta obra surgem alguns valores que condicionam a vida dos portugueses. São eles:
O sentimento trágico da vida – a consciência de um destino adverso e a resignação perante esse
facto (Fado);
Os presságios que se ligam ao destino funesto;
A consciência do pecado ao nível do colectivo e humano;
A esperança em Deus;
A crença na eternidade e na paz eterna;
A pureza das figuras femininas;
A cultura popular e a linguagem, através de João da Cruz;
O código de honra social.
Os valores cristãos – moral maniqueísta (oposição Bem / Mal);
Os valores sociais (honra, orgulho, obediência à autoridade do pai)– que vitimam as personagens

Existem ,igualmente, valores que são universais , tais como:


O amor como força que supera a vida e a morte;
A nobreza de alma;
A grandiosidade da luta e do sacrifício;
A dignificação da condição humana;
A própria complexidade humana.

Linguagem

Esta obra foi influenciada pela técnica jornalística, pois há:


- Concisão dos diálogos;
- Ausência de divagações filosóficas.

Ao nível da linguagem temos:

- Uma linguagem simples, por vezes com características ultra-românticas;


- Frases e períodos curtos, com pouco recurso à subordinação;
- Paralelismo frásico;

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- Predominância de léxico de um nível de língua corrente, embora também haja a utilização de


níveis familiar, popular e literário;
- A quase ausência de adjectivação;
- A utilização dos pretéritos perfeito e imperfeito, que facilitam o relato rápido e conciso, associado
à relevância do verbo;
- Recorrência a metáforas como forma de intensificação da expressão dos sentimentos;
- A ironia como forma de crítica ;
- A linguagem do João da Cruz tem características realistas, pela naturalidade e verosimilhança
obtida através do descuido da construção frásica e do uso do léxico de cariz popular.

SIMBOLOGIA

Espaço- os espaços onde as personagens se movimentam são cada vez menores, isto está associado
á perda de liberdade.

Grades- simbolizam os grilhões sociais que os condenam e obrigam à clausura.

Janela- «Elemento de ligação entre o interior e o exterior, a janela está conotada simbolicamente
com a interioridade de Simão e Teresa e com a sociedade. Associada aos olhos, órgão de percepção
(a janela também se liga à ideia de receptividade da luz exterior) que, por sua vez, são o “espelho da
alma”.» Está também associada a um aqui – espaço terreno de hostilidade – que se opõe ao além –
céu, espaço de esperança e da ilusão fecundante.

Fios- simbolizam a ligação eterna dos amantes, que não se desfaz após a morte ( os fios mantém as
cartas dos amantes juntas, quando estas são lançadas ao mar.)
O fio remete também para a ideia de destino que tem de ser cumprido.

Mar- o mar é o local do renascimento, pois espelha o céu.

Avental- associa-se à condição social de Mariana (povo / trabalho) e liga-se ao seu sofrimento
(martírio), pois é com ele que limpa as lágrimas que chora por Simão.

Tempo- «A Primavera e a manhã estão conotadas com a luz, com a pureza de um tempo, ainda
libertos de corrupção.»
Sete- remete para a luz e para a plenitude temporal, um ciclo completo.
Nove- período de gestação, o final de um ciclo e o início de outro.

Bibliografia:

Conceição Jacinto; Gabriela Lança, Amor de Perdição, Porto Editora

Amor de Perdição, Apontamentos Europa-América

Hilário Pimenta, Dimensão Comunicativa B –12 ano, Porto Editora

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