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ACTO SOLIDÁRIO

Decorria o verão de 2008, e foi notícia nos meios de

comunicação social nacionais, que numa remota aldeia

algures em Timor, uma menina de nome Ana, tinha um

tumor na cabeça que lhe estava a provocar cegueira e

impedia o seu crescimento.

Era preciso ser operada com urgência e a sua

operação era onerosa, e sendo os seus pais de parcas

posses à menina poucas esperanças restavam.

Eis que um médico integrado num contingente militar Português ao serviço da

ONU, lança um apelo aos hospitais Portugueses através dos meios diplomáticos para

que alguém fizesse a operação a menina.

A este apelo respondeu o Hospital de Santo António no Porto, com uma vasta

equipa de voluntários, faltava o transporte e atenuar algumas barreiras linguísticas

visto a menina falar a sua língua nativa, o Tétum e dominar pouco o português.

Logo o seu pai um ancião local se voluntariou para acompanhar a filha,

deixando para trás a restante família. O transporte foi efectuado pela Força Aérea

Portuguesa, quando da rendição do contingente militar da GNR.

Chagada ao Porto depois de observada os médicos verificaram ser mais grave

duque pensavam e para complicar ainda mais, talvez devido a diferenças de

temperaturas a menina constipou-se. O tempo escasseava, mas a equipa médica não

se dava por vencida e depois de vários exames e de terem debelado a constipação

efectuaram a primeira de três cirurgias a menina.

Diz o provérbio popular que ao menino e ao borracho põe deus a mão por

baixo, também esta criança teve a sua bênção celestial e uma grande solidariedade

humana.

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Hoje, via no canal 1 da RTP num programa matinal acompanhada com o seu pai

e o médico cirurgião que a assistiu, parecia muito mais jovem, tinha um sorriso que

irradiava felicidade, aquele sorriso que só è característico em crianças que sentem

felicidade.

Já falava um pouco de português, mas exprimia-se sobretudo em tétum, dizia

que queria voltar à escola quando regressasse e o médico referiu que se a

ressonância magnética desse um resultado animador não seria necessário fazer

rádio terapia regressando assim mais cedo a sua terra natal.

Este pequeno grande gesto de humanismo, solidariedade, e altruísmo que

tivemos para com esta menina, permitiu-nos salvar-lhe a vida, contribuindo desta

tão pequena e generosa forma para que ela cresça feliz e amanhã possa contar a sua

experiência a outras crianças e adultos, lançando à terra sementes para uma maior

solidariedade entre pessoas e povos, transmitindo a ideia que mesmo pobres,

humildes e muito distantes nunca estamos sós.

Pena, é que a maior parte de nós continue a olhar só para o seu umbigo. Se

tivesse-mos mais pequenos gestos como este contribuíamos para um mundo mais

humano e solidário, e talvez lá longe as crianças levantassem a

sua pequena mãozinha e fizessem o sinal de vitória.

Coimbra, 12 de Novembro de 2008

José António da Costa Silva


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