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Aspectos contabeis e tributarios das reestruturacG6es societarias: incorporacao, fusdo e cisao de empresas Dalci Mendes Almeida Contadora, Especialista em Planejamento Tributario pela Universidade do Sul de Santa Catarina - Unisul, professora do curso de Ciéncias Contabeis da Unisul dalci@unisul.br Resumo O presente artigo abordard os procedimentos contdbeis adotados pela contabilidade tradicional nos processos de reestruturacées societdrias, nos casos de incorporacdo, fusdo e cisdo de empresas, bem como as obrigacées e 05 direitos tributdrios de dmbito federal, de acordo com a legislacao fiscal vigente, incidentes no momento da negocia¢ao. PALAVRAS-CHAVE - Contabilizacdo. Tributario. Fusdo, Cisdo e Incorporacaio. Este artigo foi recebido pelo conselho editorial da Revista Catarinense da Ciéncia Contabil do CRCSC em dezembro de 2006 aprovado em fevereiro de 2007 INTRODUCAO Com a economia cada vez mais globaliza- da e competitiva, as empresas precisam estar em constante atualizacao, servindo-se sempre de novas estratégias para se manter no mer- cado. Muitas vezes hd inclusive a necessidade de uma reestruturagao da forma societéria, por meio de uma incorporacao, fusao ou cisao, de forma que tal reestruturacao proporcione al- gumas vantagens, como novas tecnologias, produtos e servicos com maior qualidade, melhores precos, maiores vendas, reducao da carga tributéria e com isso a empresa possa se manter no mercado. Todas essas operacées exigem um estudo aprofundado dos aspectos juridicos, contabeis ¢ tributarios, para que se avalie de forma bem definida as vantagens e desvantagens dessa negociacao, Outro ponto importante é que, como tais operacdes ndo ocorrem com frequéncia na vida das empresas, mas somente entre lon- gos periodos, as entidades geralmente nao est4o preparadas internamente para realiza- las. Assim, tem sido adotada a contratacao de servicos externos especializados. O presente estudo tem, pois, como objeti- vo condensar informacées a respeito dos as- pectos contabeis ¢ tributérios neste proces: So, evidenciando como a contabilidade tradi- clonal registra as operagdes de incorporacdo, fusdo e cisdo e de que modo se comportam as obrigagées tributarias, de mbito federal, bem como os encargos trabalhistas e previdencid- Tios. 1 OS ASPECTOS CONTABEIS DAS REESTRUTURACOES SOCIETARIAS © primeiro livro de Contabilidade foi pu- blicado em 1494, por um monge veneziano chamado Luca Pacioli, Sua obra, denominada ~ ~~ { Aspectos contabeis e tributarios das reestruturacées societarias: incorporacdo, fusdo e ciséo de empresas Summa de Arithmetica, Geometria, Proportio- ni e Proportionalita, é famosa entre os conta- dores por mostrar como aplicar o sistema das partidas dobradas, utilizado até hoje na Con- tabilidade. Contudo, “passaram-se quinhentos anos desde a publicacao do importante trabalho de Pacioli sobre Contabilidade e ainda nao vimos quase nenhuma inovacao na pratica contabil; apenas mais regras, que praticamente nao mudaram a estrutura de medio" (WILSON apud STEWART, 1998, p. 54). Portanto, para a contabilidade tradicional, © que nao se pode medir nao se pode compre- ender, controlar ou alterar. Quando uma empresa desenvoive esforcos para conseguir um conhecimento técnico so- bre determinado produto, e 0 obtém, provo- cando 0 seu destaque quando comparada com as concorrentes, adquire de um Know-how que de alguma maneira dé condi¢ao privilegiada aquela que o explora e dele usufrui. Tal conhecimento, denominado atualmen- te como o Capital Intelectual, simplesmente & ignorado nas demonstracdes contabeis. Os custos que Ihe deram origem, se existirem, vao diretamente para o resultado, provocando uma diminuicao do patriménio liquido, enquanto na verdade, do ponto de vista econémico, ele cresceu. Da mesma forma, o valor da marca, a leal- dade da clientela, o desenvolvimento da com. peténcia e a satisfagao dos empregados, a boa localizagao da empresa, etc. correspondem a ativos de natureza intangiveis, que represen- tam para os contabilistas a categoria de ativos de mais dificil avaliagao, por nao possuirem existéncia fisica, pela subjetividade, apesar de representarem valor patrimonial 4 empresa. Estes ativos que até entao nao se contava, passaram a ter grande relevancia a partir das ondas de fusdes e incorporacées na Europa e nos Estados Unidos. REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Florianépolis, v.6, n.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 A importancia e a relevancia dos ativos in- tangiveis na composigéo do valor das empre- sas, foi destacado por Gomes (1996, p. 52-56), como sendo: [...] um dos negécios mais marcantes que despertou principalmente 0 meio académico neste assunto foi quando a Philip Morris incorporou a indastria de alimentos KRAFT (queijos, sorvetes, etc.) por 10 bilhdes de délares. A sur- Presa € que o patriménio fisico da em- presa adquirida estava contabilizado por } bilhdo de délares, sendo que os 9 bilhdes adicionais referiam-se aos bens intangiveis. No Brasil, um dos negécios marcantes que veio consolidar a importancia de intangivel foi a aquisicéo da Kibom pela Unilever por 930 milhées de dolares a vista, em outubro de 1997. 0 impacto ocorreu pelo fato do patriménio fisico da Kibom estar contabilizado por me- nos de 30% do preco da negociacdo. Na verdade, a compra se referiu nao a ati- vos tangiveis e sim aos intangiveis. Muitos outros exemplos bastante co- nhecidos sao: A IBM que adquiriu a Lo- tus por 3 bilhdes de délares, embora o valor contabil desta fosse 250 milhes de délares. O patriménio da Netscape nao chegava aos 20 milhdes de déla- res, mas ao abrir seu Capital, 0 merca- do Ihe atribui valor de 3 bilhdes de dé- lares [...] Constata-se, desse modo, que o valor de negociacao € muito diferente do valor cons- tante do balango patrimonial. Isso se deve ao fato dos principios fundamentais de contabi- lidade no processo avaliativo ndo medirem o valor de venda. Ao contrario, tais procedimen- tos fazem com que se avaliem ativos por quan- to custaram, para se jogar esse custo contra 0 prego de venda ou a receita que produziram, REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Florianépoli Dalci Mendes Almeida} ~~ - - para, entéo, conhecer-se 0 lucro. Segundo Monobe (1986, p. 30): estando os relatérios financeiros publi- cados a observancia rigorosa dos citados Principfos e Convengoes, alguns dos quais constituem-se em verdadeiros entraves a0 progresso da Contabilidade, 0 atendi- mento integral da fungao informativa da Contabilidade, de forma mals satisfaté- ria, depende de revogacao ou reformula- io dos mesmos. Um imobilizado, por exemplo, avaliado pelo seu custo de aquisicao, para, ao longo de seu uso, confrontar parte desse custo (depre- ciac&o) com as receitas. Tal procedimento tem como objetivo a mensuracdo do lucro, a mes- ma coisa acontecendo quando o estoque é avaliado pelo custo. Assim, 0 principio fundamental de conta- bilidade, do custo como base de valor, esta voltado a mensuracio do lucro e nao a medi- da de seu valor de venda. Essa é a maior razaio de o balanco nao mostrar o valor de mercado ou de negociacao da empresa. 1.1 ASPECTOS CONTABEIS DAS OPERACOES DE INCORPORACOES DE EMPRESAS De acordo com o art.227 da Lei n® 6.404/ 76, a incorporacao “é a operacdo pela qual uma ou mais sociedades so absorvidas por outra, que the sucede em todos os direitos e obriga- oes”. Como exemplo pode-se citar a negociacao, entre as empresas A, Be C, em que os acionis- tas, com 0 objetivo de expandir suas ativida- des e fortalecer sua competitividade no mer- cado, decidiram que a empresa A incorpora- ria totalmente as empresas Be C. Nesse processo de incorporagao as empre- sas B e C serdo extintas, mas seus ativos e passivos serao assumidos (incorporados) pela Empresa A, como demonstrado pela figura a seguir: ¥.6, 1.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 ~ = = [ Aspectos comtabels e tributavios das reestruturacdes societanias, incorporacdo, fusdo © cisi0 de empresas Empresa A Incorporadora Empresa B Incorporada As empresas B e C sero. extintas ¢ seus ativos € passivos serao Empresa C Incorporada incorporados pela empresa A Figural: Processo de incorporacao total. Fonte: Adaptado de OLIVEIRA (2003, p. 352) As operagées de incorporacées poderao ser realizadas com base nos valores cons- tantes dos balancos levantados na data-base da incorporacao, por meio da avaliagao pa- trimonial pelo valor contabil, ou com base no Jaudo de avaliacao, elaborado por trés peritos ou por empresa especializada, ou seja, avalia¢do patrimonial a valor de mer- cado. Sao apresentados a seguir exemplos de Tabela 1 - Balancos Patrimoniais das empresas antes da Fonte: IUDICIBUS (2000, p. 464) Todas as contas ativas e passivas da em- presa incorporada (empresa B) serdo transfe- ridas para a empresa incorporadora (empresa ET REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Florianépoli 9.000 a incorporagao envolvendo a avaliagao patri- monial pelo valor contabil, com os respec- tivos lancamentos contabeis. Primeiro Exemplo: Incorporacéo de empresa com avaliacao patrimonial pelo valor contabil. ‘A sociedade A incorpora a sociedade B em 31-12-X2 e seus Balan¢os Patrimoniais, antes da incorporacao, so os seguintes: \corporacao eer S| 1 “4.000 “| 's.000 fF 3.000 ‘Patrimanio i 67.000 | 14.000 | Total Passivo | 80.000 | 21.000 | A), por intermédio de uma conta transitoria de incorporagéo, ¢ com isso o patrimonio da empresa incorporada ser extinto. 1.6, 1.16, p.43:62, dez 2006/mar 2007 Tabela 2 - Transferéncia de ativos e passivos Dalci Mendes Almeida} - para a Sociedade A Conta de Incorporagio @ Auvos Circulantes @ Ativos Realizaveis a LP [7 Fassvos Cireuanes Passivos Exigiveis a LP a Conta de Incorporacio Fonte: IUDICIBUS (2000, p. 464) saldo existente na conta incorporacéo compreende 0 saldo do patriménio liquido, que também sera baixado e representa 0 aumento Tabela 3 - Baixa do patrimnio liquide Contas de capital que sera feito na sociedade A € 0 recebimento pelos acionistas da B de agdes da A, pela integralizacao dos ativos liquidos. Patriménio Liquide | | a Conta de Incorporacéo Fonte: Adaptado de IUDICIBUS (2000. p. 404) Na sociedade incorporadora (empresa A) o: s langamentos contabeis ficariam assim: Tabela 4 - Recebimento dos ativos e passivos | Ativos Circulantes Ativos Realizavets a LP L Passivo Exigivel a Longo Fonte: 1UDICIBUS (2000, p. 465) REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Floriandpolis, v.6, n.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 ER Tabela S - Pelo aumento do capital social ~ = = { Aspectos comtabels e tributarios das reestruturacdes societérias: Incorporagdo, fusto e cisdo de empresas Contas Débito Crédito Conta de Incorporacao 14.000 a Capital Social 14,000 Fonte: 1UDICIBUS (2000, p. 465) Finalmente tem-se 0 balanco patrimonial da empresa A apés a incorporacao: Tabela 6 - Balanco Patrimonial ATIVO ‘Empresa A PASSIVO Empresa A Circulante 23.000 Circulante 12.000, Realizivel a LP 32.000 | _Exigivel a LP 8.000 Permanente 46.000 | Patriménio Liquido 81.000 Total do Ativo 101.000 Total do Passivo: 101.000 Fonte: 1UDICIBUS (2000, p. 465) Com base no exemplo anteriormente ex- posto, a empresa B é judicialmente extinta no processo de incorporacao, sendo que 0 aumento no capital social da empresa A cor responde ao valor do patriménio liquide da empresa B (acervo liquido). Tal procedimento sofre muitas criticas atualmente, pois, neste processo, tanto os ativos como os passivos de ambas as em- presas deveriam ser registrados na incor- poradora pelos seus valores de negocia- 40, refletindo melhor a realidade da ope- racao. No entanto, na pratica, dentro dos limi- tes da teoria contabil, “é muito dificil atin- git esse objetivo, tendo em vista que é ques- tionavel reavaliar estoques, ou até mesmo atribuir valores ao goodwill de cada uma das sociedades. Ea situagao torna-se ainda mais complexa quando os valores de mercado de cada empresa so determinados, por exem- plo, com base no fluxo de caixa futuro des- contado” (ALMEIDA, 1997, p. 83). Assim, a contabilidade tradicional con- tinua a registrar, em casos de incorpora¢ao, © acervo liquido da incorporada (bens, di- reitos ¢ obrigagées) pelo seu valor conta- bil. E, se por acaso, tal valor de negociagao for superior ou inferior ao acervo liquido, registra-se 0 dgio e/ou desagio na aquisi- ¢a0, conforme o que determina a legislacao fiscal e a instrucdo n® 1, da Comissao de Valores Mobilidrios - CVM, em que contam ‘os seguintes fundamentos econémicos, que podem determinar a existéncia do agio ou desdgio, ou seja: Por diferenga entre o valor de mer- cado e o valor contabil dos bens (acervo liquido); Por diferenca da expectativa de ren- tabilidade baseada em projecao de resultados futuros (admitindo a téc- nica do fluxo de caixa futuro descon- tado); Por fundo de comércio, intangiveis, ou seja, existéncia de goodwill. REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Florianépolis, v.6, 1.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 Assim, o agio (valor pago a maior que 0 valor dos acervos liquidos) ou 0 desagio (va- lor pago a menor que o valor dos acervos liquidos) sera aplicado sobre a diferenga en- tre o valor de mercado dos bens da empresa em negociacao e o valor liquido contabil do acervo desta empresa. A CVM recomenda, ainda, quanto a amor- tizacao de agios e desagios, que nao se deve estabelecer prazos fixos, ou seja, normatizou tal atitude, uma vez que a analise devera ser individualizada conforme a duracdo e 0 mo- tivo que geraram o aparecimento do agio ou desagio. ‘Segundo Exemplo: Incorporacao de empresa com participagao societéria avaliada pelo Dalci Mendes Almeida } - - ~ - método da equivaléncia patrimonial Tomando os dados do primeiro exemplo suponha-se que a empresa A detém 100% das acdes do capital social da empresa B e 0 in- vestimento é avaliado pelo método de equi- valéncia patrimonial. Sendo assim, tal investimento correspon- dera a 14.000 (valor do patriménio liquido da empresa B). Os lancamentos na empresa B (incorpo- Tada) seréo os mesmos feitos no primeiro exemplo. Na empresa A (incorporadora) o lanca- mento de recebimento dos ativos e passivos também sera 0 mesmo. No segundo, porém, correspondera a baixa do saldo da conta de incorporacao, como segue: Tabela 7 - Baixa do saldo da conta de incorporagao Contas Débito de Incorporagio 14.000 @ Investimentos na Empresa B Fonte: Adaptado de IUDICIBUS (2000, p. 465) A seguir, o balango patrimonial de A apés a incorporacao. Tabela & - Balanco Patrimonial Empresa A [arwvo Empresa A | PASSIVO Empresa A ("Circulante 23.000 Circulante 12.000 "Realiza 32.000 | Exigivel a LP 8.000 32.000 | Patriménio Liquido 67.000 [Total do avo 87.000 | TotaldoPassivo === 7.000 Fonte: Adaptado de IUDICIBUS (2000, p. 465) Observe-se que nao houve aumento do capt- tal social da incorporadora (Empresa A), em fun- cao da participacao de 100% no capital social da REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Florlandpolis, v.6, n.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 incorporada (Empresa B), tendo sido 0 acervo liquido da incorporada utilizado para eliminar © investimento da empresa A na empresa B, 1.2 ASPECTOS CONTABEIS DAS OPERAGOES DE FUSOES DE EMPRESAS A lei 6404/76, em seu att, 228, define fu- sdo como sendo “a operacao pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar uma sociedade nova, que Ihes sucederd em todos 08 direitos e obrigages”. Como, por exemplo, os acionistas das em- presas A eB, que pertencem ao ramo de agro- industria, apés estudos e negociagdes, resol- vem realizar um processo de fusao, visando principalmente a redugao de custos eo au- mento da competitividade com sinergia resul- tante. Sendo assim, as empresas A ¢ B irdo se ex- tinguir, surgindo uma terceira empresa, que assumira todos os ativos e passivos das duas extintas. Algumas empresas fazem isso porque acre- - ~ ~ ~ { Aspectos contabeis € tributarios das reestruturacdes societirias: incorporacdo, fusdo e cisio de empresas ditam que essa combinagdo trara, para ambas, as companhias, crescimento mais rapido, mai- ores lucros, reducdo de pagamento de impos- tos, novas linhas de produtos, avanco tecno- logico. Esse crescimento pode ser atingido com menor custo e risco do que se cada uma delas permanecer separadamente no mercado. Es- ses so alguns dos motivos pelos quais nos dias de hoje as empresas realizam, com tanta frequéncia, as operacées de fusdes. Os registros contabeis nos processos de fusdes sao bastante simpies, sendo criada a nova empresa, por intermédio do capital ini- cial atribuido por duas ou mais sociedades, que se extinguem. ‘Tomando como base o exemplo citado an- teriormente, suponha-se que a posi¢ao patri- monial das empresas seja a seguinte, na data da fusdo. Tabela 9 - Demonstrativo da posi¢ao patrimonial Fonte: 1UDICIBUS (2000, p. 466) Assim, basta, apenas, criar uma conta transi- toria de fusdo nas trés empresas, para que Ae B transfiram 0 acervo liquido para a nova empre- sa. Os procedimentos contabeis ficariam apre- sentados desta forma nas seguintes situacdes: a) Na sociedade A: Tabela 10 - Transferéncia de ativos e passivos para a nova sociedade Contas Conta de Fusio_ aa a Ativos Realizaveis a LP ‘@ Ativos Permanentes | Passivos Exigiveis a LP a Conta de Fuso Fonte: propria do autor REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Floriandpolis, v6, n.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 ‘Tabela 11 - Baixa do patriménio liquido Dalci Mendes Aimeida Contas Patriménio ‘Os mesmos procedimentos acima apresen- tados seriam realizados com as contas da so- ciedade B. b) Na nova sociedade: Tabela 12 - Recebimentos dos ativos e passivos da sociedade A e B a Passivo Exgivel a LP Fonte: propria do autor Conta de Fusao “Tt Capitat Social ropria do autor 1.3 ASPECTOS CONTABEIS DAS OPERACOES DE CISOES DE EMPRESAS © art.229 da lei 6.404/76 define Cisao como sendo, “a operacao pela qual a compa- nhia transfere parcelas do seu patrim6nio para uma ou mais sociedades, constituidas para esse fim, ou ja existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versio de todo Figura 2: Processo de cisdo total Fonte: Adaptado de OLIVEIRA (2003, p. 373) Tabela 13 - Formacio do novo patriménio liquido Contas js Crédito ~ 11,000 © seu patriménio, € dividindo-se 0 seu capi- tal, se parcial a versio’ ‘Assim, a cisdo podera ser parcial ou total. Sera parcial quando a empresa cindida transfe- rir apenas parte de seu patriménio para outra e total quando transferir todo o seu patriménio para outra empresa, extinguindo a sociedade cindida. Observe-se os esquemas abaixo: REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Floriandpolis, v.6, n.16, 9.43-62, dez 2006/mar 2007 Pelo esquema acima se observa uma ciséo total da empresa A, transferindo 100% do seu ~ ~~ { Aspectos contabeis ¢ tributarios das reestruturagdes societarias: incorporacdo, fusio e cisao de empresas patriménio, sendo 50% para empresa B e 50% Para a empresa C, e portanto se extinguindo. Empresa A Cindida 100% Empresa B Formada com 20% do Figura 3: Processo de cisao parcial Fonte: Adaptado de OLIVEIRA (2003, p. 374) No esquema acima tem-se uma cisdo par- cial em que a empresa A continua existindo com 80% de seu Patriménio Liquido, transfe- rindo apenas 20% para a empresa B. Segundo Higuchi (2002, p. 402) “a cisdo de sociedade é figura nova no Direito Brasi- leiro. Por ter surgide com a Lei 6,404/76, foram produzidos poucos trabalhos a res- peito, ndo sendo assim pacifico o entendi- mento entre os doutrinadores quanto a for- PLdeA ma de se proceder a cisao”. Exemplo: Cisdo parcial com constituigao de novas sociedades Suponha-se que os sécios Pedro ¢ Joao, que possuem 30% do Capital Social da Empresa A, resolveram retirar-se da sociedade e consti- tuir uma nova empresa. © Balango Patrimonial da sociedade a ser cindida era o seguinte: Tabela 14 - Balango Patrimonial da sociedade A antes da cisao parcial ‘ATIVO PASSIVO | Circutante | Circulante Disponibilidades Fornecedores [Glientes Obrig.trab.e Trib. Estoques Emprést.e Financ. Permanente | Patriménio Liquide ~ | Tmobilizado G Capital Social 69.000 Faia de Ato "dang | Waal do ae eo Fonte: propria do autor REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Floriandpolis, v.6, n.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 \ Os mesmos acordaram que a participacao de 30% do capital social, equivalentes a 30% do Tabela 15 - Determina¢ao da participagao de 30% Dalci Mendes Almeida} - patriménio liquido do balanco levantado para essa operacdo, seria determinada como segue: $ Patriménie Liquido conforme balanco 63.000 Percentual de participa¢ao dos sécios Pedro e Jodo 30% Valor de sua participacao 20.700 Ativos a serem cindidos 20.700 Disponibilidades 3.000 Clientes 6.000 Terrenos 11.700 Fonte: Adaptado de OLIVEIRA (2003, p. 377) Os langamentos contabeis na empresa A (cindida) ficariam como segue: Tabela 16 - Transferéncia dos ativos na empresa A Contas Débitos Créditos Conta Cisio 20.700 a Disponibilidades. 3.000 a Clientes 6.000 [a Terrenos _ 11,700 Fonte: propria do autor Tabela 17 - Transferéncia do patriménio liquido Contas Débitos Créditos Capital Social 20.700 a Conta Cisdo 20.700 Fonte: prépria do autor A seguir, demonstra-se 0 balanco patrimonial da sociedade cindida: pricons coxcewnnentat DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Florlanépats, v.6, n.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 wr ‘Disponibilidades Clientes Aspectos contabeis e tributarios das reestruturacées societarias: incorporagao, {uso € cisdo de empresas Tabela 18 - Balanco Patrimonial da empresa A, apés a cisdo parcial ‘Obrig-Trab.e Trib. Estoques ‘Emprést.e Financ Fonte: prépria do autor Os langamentos contibeis na nova sociedade ficariam como segue: Tabela 19 - Transferéncia dos ativos Fonte: propria do autor Tabela 20 - Transferéncia do patriménio liquido Contas [ Conta Cisio [a Capital social Fonte: propria do autor Caso houvesse transferéncia de contas pas- sivas, se creditaria a conta passiva e se debi- taria a conta cisdo na nova sociedade. 2 OS ASPECTOS TRIBUTARIOS DAS REESTRUTURACOES SOCIETARIAS A complexidade do sistema tributario bra- sileiro, a distorcida e onerosa carga tributa- tia, a globalizagao e a nova economia, fazem com que as empresas cada vez mais busquem solucdes para competir no mercado, tornan- do-se, acima de tudo, uma questo de sobre- vivéncia. Muitas vezes a reestrutura¢ao societaria se torna uma saida para as empresas diminu- irem sua carga tributéria. A alta carga tributaria do Brasil esta fazen- do com as empresas percam seu poder de com- petitividade, o que ¢ um problema sério, pois assim elas acabam desaparecendo, fechando as portas, por falta de venda, por nao conse- REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Floriandpolis, v.6, n.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 guirem preco para manter seu produto no mercado e obter lucro suficiente, para se man- terem vivas. £ claro que existem outros fato- Tes que influenciam na questao da sobrevivén- cia das organizacées, porém, atualmente, um dos fatores que mais esta afetando € 0 valor altissimo que se paga, entre taxas, impostos contribuigdes, aos governos federal, estadual e municipal, Com isso se faz necessario conhecer os aspectos tributarios das reestruturacOes soci- etarias, os direitos e as obrigagdes tributarias incidentes no momento dessa negociacao. 2.1 RESPONSABILIDADES TRIBUTARIAS APOS A REESTRUTURACAO SOCIETARIA A responsabilidade pelos tributos de m- bito federal, devidos pela pessoa juridica in- corporada, fusionada ou cindida, sera, segun- do estabelece a legislacao do Imposto de Ren- da da pessoa juridica, constituida pela fusio de outras, ou em decorréncia de cisio de soci- edade, bem como da pessoa juridica que in- corporar outra ou parcela do patriménio de sociedade cindida. Além disso, respondem solidariamente pelos tributos, devidos pela pessoa juridica, as sociedades que recebem parcelas do patri- ménio da pessoa juridica extinta por cisio, no caso de cisdo total, bem como a sociedade cin- dida ¢ a sociedade que absorver parcela de seu patriménio, no caso de cisdo parcial. 2.2 APURACAO DOS TRIBUTOS NA DATA DO EVENTO Nos casos de incorporacio, fusao ou cisio, a apuracao do Imposto de Renda Pessoa Juri- dica - IRPJ e da Contribuicdo Social sobre o Lucro Liquido (CSL), devidos pela sucedida, sera efetuada na data do evento (data da deli- beragéo que aprovar qualquer dessas opera- Ges de reestruturagao societaria). Segundo 0 art, 235 do RIR, “a pessoa juri- Dalci Mendes Almeida dica que tiver parte ou todo o seu patriménio absorvido em virtude de incorporacao, fusdo ou cisdo devera levantar balanco especifico na data desse evento”. De acordo com o§ 3° do mesmo artigo, "o balango devera ser levantado até trinta dias antes do evento” ‘AS pessoas juridicas incorporadas, fusio- nadas ou cindidas até 31 de dezembro de 1995 estiveram obrigadas a tributagao com base no lucro real no ano-calendario em que ocorre- ram os respectivos eventos. A partir de 1° de janeiro de 1996, a Lei 9.249/95 revogou essa obrigatoriedade, deter- minando que no periodo de apuracao em que ocorrer em tais processos de reestruturacao, a pessoa juridica podera apurar o imposto devido com base no lucro presumido, desde que esteja habilitada a essa forma de tributa- 40. Pode, também, ser apurado com base ne lucro arbitrado, nas hipdteses previstas na legislacao. © pagamento do saldo positivo dos respec- tivos impostos deverd ser efetuado em quota Unica, até o Giltimo dia util do més subseqiien- te ao da ocorréncia do evento. No caso de incorporagao e fusdo, 0 paga- mento dos impostos sera realizado, pela em- presa sucessora, em nome da sucedida, uma vez que esta deixou de existir ¢, no caso de cisio, pela prépria empresa cindida, se parci- al a cisao, ou pelas sucessoras, em nome da sucedida, se a cisio for total. 0 mesmo acon- tece com o IRPJ € a CSLL, relativos ao periodo de apuracdo anterior a reestruturagao socie- téria e ainda nao recolhidos. Quanto ao Imposto sobre Produtos Indus- trializados (IPI), a Contribuigao para o Progra- ma de Integraco Social (PIS/PASEP) e a Con- tribuigao Social para Financiamento da Segu- ridade Social (COFINS) sero apuradas normal- mente na data do evento, devendo ser pagas nos mesmos prazos originalmente previstos REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Floriandpolis. v.6. n.16, 43-62, dez 2006/mar 2007 FB am }-- nas legislagdes especificas, quando forem in- ferlores ao prazo estabelecido para a entrega da Declaracao de Informacées Econémico-Fis- cal da Pessoa Juridica (DIP). 2.3 AVALIACAO DOS BENS E DIREITOS Quanto a avaliacao dos bens e direitos, 0 RIR, em seu art, 235 § 2° , contempla que a “pessoa juridica que tiver parte ou todo o seu patriménio absorvido em virtude de incorpo- ragio, fusdo ou cisdo, poderd, no balango es- pecifico levantado nesta data, avaliar os bens € direitos pelo valor contabil ou de mercado”. O critério de avaliacao, valor contabil ou de mercado, devera ser observado igualmen- te por todas as empresas envolvidas no pro- cesso. No caso da avaliacdo dos bens a prego de mercado na empresa sucedida resultar a va- lor inferior ao custo contébil e a forma de tri- buta¢do for lucro real, a diferenca constituiré perda de capital e, segundo 0 COAD (2001, p. 358): devera ser considerada dedutivel para efeito de apuracao do lucro real e da base de calculo da CSLL do periodo de apuragdo em que se der o evento. Se, ao contrario, da avaliagao a valor de mercado resultar aumento dos valores contabeis dos bens e direitos ficaré ca- racterizado que estes foram reavalia- dos para efeito da cisdo, fusdo ou in- corporagao. Nesta situacdo obrigatoriamente deverd ser constituida a Reserva de Reavaliacao, com 0 montante das diferengas entre 0s novos valo- Tes € 0s respectivos custos contabeis dos bens ou direitos, De acordo com o art. 441 do RIR “as reser- vas de reavaliacao transferidas por ocasiao da - — ~~ { Aspectos contabels e tributarios das reestruturagbes societérias: incorporagdo, fusdo ¢ cisdo de empresas incorpora¢ao, fusdo ou cisdo terdo, na suces- sora, 0 mesmo tratamento que teriam na su- cedida”. O art.440 do RIR contempla que “a contra- partida do aumento do valor de bens do ative em virtude de reavaliagao na fusdo, incorpo- ragio ou cisio nao sera computada para de- terminar 0 lucro real enquanto mantida em reserva de reavaliacao na sociedade resultan- te da fusdo ou incorporacao, na sociedade cin- dida ou em uma ou mais das sociedades re- sultantes da cisto”. Segundo o COAD (2001), a partir de 1-1- 2000, é que foi determinado que a contrapar- tida da reavaliacdo de quaisquer bens da pes- soa juridica somente podera ser computada em conta de resultado ou na determinacéo do lucro real e da base de calculo da CSLL quan- do ocorrer a efetiva realizacdo do bem reava- liado, ou seja: a) alienacdo, sob qualquer forma; b) depreciago, amortizacdo ou exaustao; ©) baixa por perecimento. © contribuinte devera discriminar na re- serva de reavaliagdo os bens reavaliados que a tenham originado, em condigées de permi- tir a determinacao do valor realizado em cada periodo de apuracao. Na empresa sucedida, tributada pelo lucro presumido ou arbitrado, se a avaliagao for a valor de mercado e este superar 0 custo con- tabil, a diferenca seré considerada ganho de capital e, segundo, 9 art. 235 § 4° do RIR, de- vera ser adicionado a base de calculo do IRPJ devido e da CSLL. 2.4 ALGUMAS VANTAGENS E DESVANTAGENS TRIBUTARIAS a) Realizacao total do lucro inflacionario! Segundo 0 COAD (2001, p. 357), “nos 7 Conceto excluswamenre fiscal que se relete a6 saldo credor apurado wa correrao ronetaia do balanga. REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Florianopolis, v.6, n.16, 9.43-62, dez 2006/mar 2007 casos de incorporacio, fusdo ou ciséo total, considerar-se-é realizado, integral- mente, 0 jucro inflactonario acumula- do da sucedida, corrigido monetaria- mente até 31/12/95". Sendo assim, a empresa a pessoa juri- dica sucedida nao tiver realizado o lu- cro inflacionario, para fins de apuragao do Imposto de Renda devido na data da incorpora¢ao, fusio ou cisio, devera oferecer a tributacdo 0 saldo do menci- onado lucro, procedendo a baixa na Par- te “B" do Livro de Apuracéo do Lucro Real - LALUR. Se ocorrer cisdo parcial, a realizagao do lucro inflacionario deve ser proporcio- nal a parcela do Ativo, sujeito a corre- 0 monetaria, que tiver sido vertida. b) Impossibilidade de compensacao de pre- juizo fiscal Segundo o art. 514 do RIR, cuja base legal € 0 art. 33 do Decreto-Lei 2.341/ 87, “a pessoa juridica sucessora por corporacao, fusdo ou cisdo néo podera compensar prejuizos fiscais da sucedi- da”. €) Prejuizos fiscais apurados pela sucesso- ra Nao existe impedimento legal para que a empresa sucessora continue a apro- veitar o direito de compensar seus pré- prios prejuizos e bases negativas, apu- rados anteriormente a data da absor¢ao, desde que nao tenha ocorrido a modifi- cacao do controle acionario ¢ do ramo de atividade entre a data da apuracao do prejuizo e a data da compensacao, segundo determina a legislagao desde 1987 pelo Decreto lei n° 2.341/87. 4) Compensagao na cisao parcial De acordo com o paragrafo tnico do art. 514 do RIR, “no caso de cisao parcial, a pessoa juridica cindida poderd compen- Dalci Mendes Almeida} ~ - ~ - Sar os seus préprios prejuizos, propor- cionalmente a parcela remanescente do Patriménio liquido”. Nao esquecendo que a compensacao dos prejuizos fiscais e da base de cal- culo negativa da CSLL, em qualquer dos casos, deverd observar a limitacdo de 30% do lucro real, conforme previsio legal inserida na Lei n° 9.065/95. e) Base de célculo negativa da CSLL A Medida Proviséria 1.858-6, publicada no Diario Oficial da Unido - DO-U em 29/06/99, estabeleceu que se aplica a base de cdlculo negativa da CSLL 0 dis- posto no art. 33 do Decreto-Lei 2.341/ 87. Assim, nas operacées de cisao, fu- sdo ou incorporacao, a exemplo do que ocorre com os prejuizos fiscais, é veda- do a empresa sucessora compensar a base de célculo negativa, apurada pela pessoa juridica sucedida. Até a publicagao desta Medida Provisé- ria, a legislaco da Contribui¢ao Social sobre o Lucro Liquido nao continha qual- quer dispositivo legal que impedisse a empresa sucessora de compensar, com sua prdpria base de calculo positiva, a base de calculo negativa da CSL, apu- rada pela sucedida, Em obediéncia ao prazo nonagesimal previsto na Consti- tuigao Federal para oneragéo das con- tribuigdes sociais, entende-se que o impedimento para a compensacao da base de calculo negativa da CSLL apli- ca-se, somente, as operacées cisao, fu- so ou incorporacao realizadas a partir de 28/09/99. 2.5. EXTINGAO DE PARTICIPACAO SOCIETARIA Quando a empresa sucessora tiver parte no capital social da empresa sucedida, nos casos de incorporacao, fusao ou ciséo, deverd ser REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Florianépolis, v.6, n.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 eliminada a partictpacao societaria registrada ho Ativo Permanente, pois ocorrera a extin- ao das agées ou quotas de capital de uma possuida por outra. A diferenga verificada entre 0 valor conta- bil das agdes ou quotas extintas e 0 valor do acervo liquido que as substituir podera repre- sentar ganho ou perda de capital, que devera ser computado na determinacao do lucro real e na base de cdlculo da Contribuicao Social sobre o Lucro. Sendo assim, na apuracdo do ganho ou perda de capital, relativos a baixa desse in- vestimento, a empresa sucessora observara as normas a seguir, conforme art.430 do RIR: 2.5.1 ACERVO LiQuIDO A sociedade incorporadora ou a resultante de fusdo ou cisio, para efeito de sua reorgani- zacdo, substituird as a¢des ou quotas repre- sentativas da participacdo societaria extinta por um conjunto de bens, direitos e obriga- Gées. A diferenca entre os valores ativos & Passivos recebidos ira constituir 0 acervo Ii- quido, que servira de parametro na apuracao do ganho ou perda de capital. Conforme ja se comentou anteriormente os bens e direitos que compdem tal acervo liqui- do poderao ser avaliados pelo valor contabil ou de mercado. 2.5.2 DETERMINACAO DO GANHO OU PERDA DE CAPITAL Quando o valor do acervo liquide recebido pela sucessora for inferior ao valor contabil da participagao societaria extinta, ocorrera uma perda de capital. Caso contrario, ou seja, quando o valor de acervo liquido for superior ao da participacao extinta, ocorreré um ganho de capital. A perda de capital, apurada em razio da baixa de participagao societaria extinta, pode ser computada nos resultados da sucessora ~~ - { Aspectos contabeis e tributarios das reestruturacdes societinas’ incorporacao. fusdo e cisdo de empresas como despesa ndo operacional dedutivel do Lucro Real, desde que o acervo liquido tenha sido avaliado a precos de mercado. A critério da empresa sucessora, 0 valor correspondente a perda de capital podera ser registrado como ativo diferido, amortizavel no prazo maximo de 10 anos. A partir do 11° ano, 0 saldo eventualmente existente no ativo di- ferido torna-se indedutivel para efeito de de- terminagao do Lucro Real. E 0 que determina o inciso I art. 430 do RIR: “somente sera dedutivel como perda de capital a diferenca entre o valor contabil e 0 valor do acervo liquido avaliado a precos de mercado, € 0 contribuinte podera, para efeito de determinar o lucro real, optar pelo trata- mento da diferenca como ativo diferido, amor- tizdvel no prazo maximo de dez anos Segundo o inciso Il, art. 430 do RIR, “sera computado como ganho de capital o valor pelo qual tiver sido recebido o acervo liquide que exceder ao valor contabil das agdes ou quotas extintas”. De acordo com o § 1°, incisos Ie Il, art.430 do RIR, é permitido ao contribuinte diferir a tributagdo sobre a parte do ganho de capital em bens do ativo permanente, até que este seja realizado, desde que adequadamente dis- criminados e controlados por intermédio do Livro de Apuracao do Lucro Real (LALUR) € controles contabeis. © § 2° art.430 do RIR, contempla que “o contribuinte deve computar no lucro real de cada periodo de apuracao a parte do ganho de capital realizada mediante alienacao ou liqui dagao, ou através de quotas de depreciacao, amortizacao ou exaustao e respectiva atuali- zagao monetaria até 31 de dezembro de 1995, quando for o caso, deduzidas como custo ou despesa operacional”. Se a pessoa juridica sucessora tiver opta- do pelo Lucro Presumido ou Lucro Arbitrado no ano-calendério da cisdo, fuséo ou incor. REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Floriandpotis, v.6, n.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 poracéo, deveré computar como ganho de capital, no trimestre em que se der o even- to, a parcela do acervo liquido recebido, que exceder ao valor contabil das acées ou quo- tas extintas. 2.6 PARTICIPACAO SOCIETARIA ADQUIRIDA COM AGIO OU DESAGIO De acordo com o art. 386 do RIR, a pes- soa juridica que absorver patriménio de ou- tra, em virtude de incorporacao, fusdo ou cisdo, na qual detenha participacio societa- ria adquirida com agio - preco de aquisi¢ao ou de custo maior que o valor contabil - ow desagio ~ preco de aquisi¢ao ou custo me- nor que o valor contabil -, devera observar ‘© que segue, quanto aos tratamentos conta- beis ¢ tributarios: 2.6.1 TRATAMENTO CONTABIL 0 gio ou desagio deverd ser contabiliza- do na empresa resultante da cisdo, fusio ou incorporacdo, conforme o seu fundamento econdmico. a) Valor de mercado de bens ou direitos do ativo da coligada ou controlada su- perior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade: Se for agio debita-se a conta que re- gistra o bem ou direito que Ihe deu causa a crédito da conta representati- va do agio. Se desagio credita-se a conta que re- gistra o bem ou direito que ihe deu causa a débito da conta representati- va do desagio. Opcionalmente, a pessoa juridica po- dera registrar 0 agio ou desagio em conta do patriménio liquido. b) Valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsdo dos resultados nos exercicios futuros: Se for gio debita-se a conta do ativo REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Floriandpolis, v. Datei Mendes Almeida} - ~ ~ - diferido a crédito da conta represen- tativa do agio. Se desagio creditar em conta de recei- ta diferida (Passivo) a débito da conta representativa do desagio. Opcionalmente, a pessoa juridica tam- bém podera registrar 0 agio ou desa- gio em conta do patriménio liquido. ©) Fundo de comércio, intangiveis ¢ ou- tras razées econdmicas: Se for agio debita-se a conta do ativo diferido a crédito da conta represen- tativa do agio. Se desdgio credita-se a conta de recei- ta diferida (Passivo) a débito da conta representativa do desagio. 2.6.2 TRATAMENTO TRIBUTARIO a) Valor de mercado de bens ou direitos do ativo da coligada ou controlada su- perior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade: Segundo 0 § 1° art.386 do RIR, o valor do agio ou desagio “integrara 0 custo do bem ou direito para efeito de apu- ragdo de ganho ou perda de capital, bem assim para determinago das quo- tas de depreciacdo, amortizacao ou exaustao”. As quotas de depreciagao, amortiza- io ou exausto serdo determinadas em fungao do prazo restante de vida til do bem ou de utilizacao do direi- to, ou do saldo da possanga, na data em que o bem ou direito houver sido incorporado ao patriménio da empre- sa sucessora. b) Valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsao dos resultados nos exercicios futuro: No caso do agio registrado no Ativo Diferido, de acordo com inciso Il, art.386 do RIR, “podera ser amortiza~ 1.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 do nos balancos correspondentes & apuracao do lucro real, levantados posteriormente a incorporacao, fusdo ou cisdo, & razao de um sessenta avos, no maximo, para cada més do perio- do de apuracao". Observado 0 maxi- mo de 1/60 (um sessenta avos) por més, a amortizacao poderd ser efetu- ada em periodo maior que sessenta meses, inclusive pelo prazo de dura- do da empresa, se determinado, ou da permissdo ou concessao, no caso de empresa permissionaria ou conces- sionéria de servico publico. Caso possua desagio sob esse mesmo fundamento, segundo o inciso IV do art.386, RIR, “devera amortizar, nos balancgos correspondentes a apuracao do lucro real, levantados durante os cinco anos calendarios subseqiientes apés a incorporacao, fusdo ou ciséo, arazdo de um sessenta avos, no mini- mo, para cada més do periodo de apu- racao". c) Fundo de comércio, intangiveis e ou- tras razdes econémicas: Nesta ocasiao 0 agio ou o desagio nio sera amortizado. No entanto, segun- do determina o inciso I, § 3°, art.386 do RIR, devera ser “considerado cus- to de aquisigao, para efeito de apura- gio de ganho ou perda de capital na alienacao do direito que Ihe deu cau- sa ou na sua transferéncia para sécio ou acionista, na hipétese de devolu- ao de capital”. Segundo 0 inciso Il, § 3%, do mesmo artigo, se agio, sera, “deduzido como perda, no encerramento das ativida- des da empresa, se comprovada, nes- sa data, a inexisténcia do fundo de comércio ou do intangivel que Ihe deu causa”. Conforme os §§ 4° 5°, art.386 - ~ ~ = { Aspectos contibeis e tributarios das reestruturacées societarias’ incorporagaa, fusio e cisdo de empresas do RIR, nesta hipétese, a posterior uti- lizagdo econémica do fundo de comér- cio ou intangivel sujeitard a pessoa fisica ou juridica usuaria ao pagamen- to dos tributes e contribuicées que deixaram de ser pagos, acrescidos de juros de mora e multas, calculados de conformidade com a legislacdo vigen- te. O valor que servir de base de cal- culo dos tributos e contribuicées po- der ser registrado em conta do ativo, como custo do direito, Quando for desagio, sera computado como receita, no encerramento das al vidades da empresa. De acordo com os incisos | e ll, § 6°, art.386 do RIR , tais tratamentos contabil e fiscal acima mencionados aplicam-se, inclu- sive, quando: “o investimento nao for, obri- gatoriamente, avaliado pelo valor de patri- ménio liquido e a empresa incorporada, fu- sionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participacao societéria". 2.7 ASPECTOS TRIBUTARIOS DE AMBITO TRABALHISTA E PREVIDENCIARIO Segundo o COAD (2001, p. 337), “a legis- lacdo trabalhista e previdenciaria determi- nam que a mudanca na propriedade ou na estrutura juridica da empresa nao afetara os contratos de trabalho dos respectivos em- pregados”. Com isso, os direitos dos empre- gados continuarao os mesmos, bem como as obrigagdes dos empregadores, ainda que haja alteracdo na estrutura juridica da em- presa. Sendo assim, as reestruturacées societé Tias nao influenciaro nos aspectos tributa- tios trabalhistas e previdenciarios, uma vez que a sucesso ocorre sempre entre empre- gadores e nao entre empresas. Na transfe- réncia de um estabelecimento para outra empresa, havera a mudanca de empregador {B] REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Floriandpolis, v.6, n.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007 , Sendo este 0 sucessor para responder pe- los contratos e direitos dos empregados. A sucesséo decorre da continuidade dos ne- g6cios na mesma atividade econémica, pois apesar de o estabelecimento passar a per- tencer a outra empresa, os empregados per- manecerdo prestando servicos no mesmo local. De acordo com o COAD (2001, p. 337), para que haja sucessao so necessérios os seguintes requisitos: a) existéncia de uma relago juridica; b) substituicao de um sujeito por outro que tome seu lugar; ©) permanéncia da relagao € 4) existéncia de um vinculo de causalida- de entre as duas situacées. 2.7.1 DIREITOS DOS EMPREGADOS Independentemente da reestruturagao so- cietaria, incorporacao, fusio ou ciséo, ndo havera a rescisao dos contratos de trabalho com os empregados das empresas. Ao acer- vo, total ou parcialmente adquirido, quando mantida a capacidade em permitir a explo- racéo do mesmo ramo de negécios, vincu- lam-se 0s direitos dos empregados, oriun- dos dos contratos de trabalho, Como pode ser observado, o empregado esta protegido em seu trabalho, enquanto esse trabalho existir, independentemente de quem seja o empregador. © empregador que sucede a outro teré que garantir aos empregados os direitos as- segurados no contrato de trabalho em vigor e nas normas regulamentares existentes na empresa a que estavam vinculados. Assim, por exemplo, os empregados que faziam jus a uma gratificacéo semestral, na empresa anterior, continuardo fazendo jus a esta gra- tificagdéo na nova empresa, mesmo que ne - ~wota Mav a Tecebam. O tempo REVISTA CATARINENSE DA CiENCIA CONTABIL - CRCSC - Floriantnolic, 6, 0.16 _ mi Dalci Mendes Almeida} ~ ~ ~ - de servico do empregado estara garantido em funcao do contrato de trabalho e nao em Telacdo ao seu empregador. CONCLUSAO ‘As empresas que conseguirem reagir a con- corréncia, a tecnologia, a alta carga tributaria, a todas as mudancas internas e externas, es- tardo dirigindo-se rumo ao sucesso. O executive moderno precisa ser criati- vo, buscar novas formas de gerar lucro e no- vas formas para ultrapassar obstdculos gera- dos por este mercado competitivo, por meio de novas estratégias, como por exemplo rees- (ruturar societariamente sua empresa. Para isso, é evidente a necessidade de se conhecer os aspectos contdbeis e tributdrios, no momento de se reestruturar societariamen- te uma empresa, pois tais aspectos influenci- ardo na situagao financeira, econémica e pa- trimonial atual e futura da instituicdo. Tanto no processo de incorporagio, como no de fusao e cisdo o valor de negociagio dos bens, direitos e obriga¢des poderd ser tanto 0 contabil como o valor de mercado, sendo este Ultimo 0 mais correto, por traduzir melhor a realidade da operacdo. Porém é dificil de ser aplicado, uma vez que é questionavel avaliar goodwitl Os demonstrativos contabeis baseados em Principios Fundamentais nao possuem condi- Ges de fornecer o real valor de negociagao, ja que nao evidenciam os ativos que mais agre- gam valor a uma empresa, os ativos intangi- veis. Com isso, fica evidente também que uma mudanca nos elementos que norteiam a con- tabilidade (Principios Fundamentais de Con- tabilidade) se faz urgentemente necesséria, pois os ativos intangiveis passaram a fer gran- de cefevancia € nao podem mais ser ignora- dos pelos profissionais de contabilidade. BAS-62, dex 2006/mar 2007 ~ ~~ { Aspectos contabeis ¢ tributarios das reestruturacées societérias: incorporacdo, fusdo € cisdo de empresas REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ALMEIDA, Marcelo Cavalcante, Contabilidade avancada. Sao Paulo: Atlas, 1997. CENTRO DE ORIENTACAQ, ATUALIZACAO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL - COAD. Fuso, ciséo e incorporacio tratamento tributario. S30 Paulo, n, 38 p. 359-353, set.2001. Imposto de Renda Assessoria Tributaria e Contabil. Fusao, cisdo e incorporacdo alterac4o contratual. Sao Paulo, n. 26 p. 338-331, jul.2001. Legislagao Trabalhista € Previdéncia Social Assessoria Tributaria e Contabil. GOMES, Maria Tereza. Quanto vale a sua empresa? Revista exame, S40 Paulo, v. 30, n. 14, p, 52-56, jul. 1996, HIGUCHI, Hiromi; HIGUCHI, Celso Hiroyuki. Imposto de renda das empresas: interpretacao ¢ pratica. 27. ed. Sao Paulo: Atlas, 2002. IUDICIBUS, Sérgio de. MARTINS, Eliseu et al. Manual de contabilidade das sociedades por acées, FIPECAFI, USP. 5, ed. Sao Paulo: Atlas, 2000. MONOBE, M. Contribuicdo 4 mensuracdo e contabilizacao do goodwill nao adquirido. Sdo Paulo: 1986, 183F. Tese (Doutorado em Contabilidade) - Faculdade de Economia, Administra¢ao e Contabilidade, Universidade de Sao Paulo. OLIVEIRA, Luis Martins de. CHIEREGATO, Renato et.al. Manual de contabilidade tributaria. 2. ed. Sao Paulo: Atlas, 2003. REGULAMENTO do imposto de renda ( RIR). Decreto n.° 3000 de 26 de margo de 1999. 2. ed. Sao Paulo: Atlas, 1999. STEWART, Thomas A. Capital intelectual : a nova vantagem competitiva das empresas. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998. F] REVISTA CATARINENSE DA CIENCIA CONTABIL - CRCSC - Floriandpolis, v.6, n.16, p.43-62, dez 2006/mar 2007

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