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Velhos e novos rumos no estudo das classes sociais EMILIO WILLEMS. 1 — O PROBLEMA. — Quem examinar criticamente 0 enorme acervo de publicacdes que as ciéncias sociais acumularam sdbre 0 pro- blema das classes sociais, admirar-se-4 provavelmente da profunda con- tradicéo entre o rétulo cientifico com que tais estudos se apresentam, e 0s métodos pouco cientificos com que a grande maioria deles foi executada, Essa contradicio — mais sentida do que reconhecida — talvez seja a causa principal de uma espécie de mal-estar ou insatisfagdo, visivel sobretudo na tendéncia de rever conceitos basicos e encontrar formas novas para vestit os velhos problemas. © caracteristico mais impressionante de tais tentativas certamente é que elas continuam sendo feitas, com algumas excecdes significativas, dentro dos esquemas tradicionais da Sociologia “pioneira” dos albores déste século.! Neste estudo examinarei dois aspectos que surgem, com maior ou menor nitidez, em muitos trabalhos sociolégicos relacionados com o estudo de classes sociais, Estou me referindo ao carater conjectural e global désses estudos. Nao acredito que se possa realmente desenvolver a investigacio cientifica sobre 0 problema, enquanto se persiste em emitir juizos sobre a existéncia ou ndo-existéncia de classes sociais, seus caracte- risticos, nimero, estrutura e fungdes, sem basear ésses juizos em dados empiricos, colhidos de acérdo com técnicas adequadas que o emprégo do método indutivo sugere; sem generalizaces que ndo tenham apdio firme em um nimero suficientemente grande de investigagSes concretas limi- tadas no tempo e no espago. 1, Entre 08 trabathos “clissicos” ressaltam os seguintes: BE. Goblot. Les classes de la sgciété, Paris, 1899; A. Bauer, Les classes sociales, Patis, 1902; Gustay Scmoller, Grundriss der Volkswirsschafislebre, Vol. 1," Leipzig, 1901; Karl Marx, Revolution und Konterrevolution, im Deutschland, Leipzig, 1896; N. Boukharine, Matérialisme bistorique, New York, 1925; Th. Veblen; The Theory of a Leisure Classe, New York, 1912; M. Halbwachs, La classe odvriére et les niveaux de vie, Paris, 1913; P. Fablbeck, Die Klassen und die Gesellschaft, Jena, 1922. Entre os trabalhos mais recentes_menciono: Gitz Briefs, The Proletariat, New York, 1938: Pitiim Sorokin, “Qu’est-ce qu'une classe sociale”? Cahiers internationaux de Sociologie, Vol. If, Ano M1, 1947; O mesmo, Society, Culture and Personality, New York, 1947; Licio Mendieta y Nunez, Las classes sociales, México, 1947. SOCIOLOGIA 77 2 — O CARATER CONJECTURAL DOS ESTUDOS SOBRE CLAS- SES SOCIAIS. — Quais sao os “dados empiricos” de que a maioria dos autores langa mao? Em muitos grupos humanos é relativamente facil observar certas diferencas sociais que dividem os seus membros em ricos e pobres, em letrados e iletrados, em trabalhadores manuais e intelectuais, em emptegadores e empregados. Alguns vivem em condigdes “precdrias”, habitando corticos e alimentando-se “inadequadamente”. Outros vivem mais “folgados”, podem fazer viagens recreativas e proporcionar aos filhos uma educacgio “melhor”. Outros ainda dispéem de recursos eco- ndmicos praticamente ilimitados, usam automéveis dispendiosos, mantém casas de campo e cavalos de corrida. Entre os componentes de uma sociedade assim diferenciada, percebem-se facilmente divergéncias de opi- nido mais ou menos profundas acérca das normas que devem seger a vida da familia, as atividades econdmicas, a educacao dos filhos, a partici- pacio politica e muitas outras questdes ainda, Vé-se, finalmente, que em virtude dessa diferenciacdo social algumas pessoas tém evidentemente maior influéncia ou poder do que outras. Embora observagées dessa espécie nao exijam nenhum esférco cien- tifico, a maioria dos autores apresenta-as como base empirica para cons- truiz, sObre ela, um aranha-céu de interpretaces especulativas erronea- mente denominadas “teorias”. Ha em tais estudos um evidente desequilibrio entre a base docu- mentaria e a superestrutura interpretativa. Colhem-se dados como um jornalista colhe suas observagdes para reportagens. Na verdade, trata-se de meras impressées, cuja falta de rigor metodolégico 0 autor procura encobrir por citagdes de trabalhus anteriores, feitos com a mesma des- preocupagio metodoldgica. B verdade que muitos autores recorrem 4 consulta de estatisticas e obras histéricas. O uso das estatisticas s6bre padrao de vida, a compo- si¢io profissional das populacées, distribuicao de renda ou riqueza, grau de educacio escolar, etc., tem sido uma fonte de confusae desconcertante em inumeros estudos sdbre classes sociais. & sabido que os dados de um recenseamento permitem a construgio, por exemplo, de uma piramide das profissées em que se divide uma determinada populagio em dado momen- to da sua existéncia. As profissses que ocupam maior numero de pes- soas, constituem a base da pirimide e sobre ela, em ordem decrescente, as demais profissdes, de acérdo com o nimero daqueles que as exercem. Dificilmente ha quem duvide que tais pirimides tém um sentido ex- 78 SOCIOLOGIA clusivamente quantitative. Todavia, muitos “tedricos”, baseados na "auto- ridade” de outros estudiosos, em doutrinas politicas implicitamente acei- tas e nas observacées impressionistas que éles préprios colheram, inter- pretam as camadas da pirimide profissional em termos de “superior” e “inferior” e, desta maneira, uma estratificagio quantitativa transforma-se, a luz da interpretacio “sociolégica”, em estratificagio social. A. diviso estatistica de uma populacio de acérdo com o critério de renda, oferece margem a interpretagGes especulativas que somente di- ferem das anteriores pela sensagio de seguranga que proporcionam a0 “investigador”. Como ainda se pode duvidar da importancia fundamental do fator riqueza para a estratificagdo das sociedades ocidentais? De tanto insistir sobre 0 fator “riqueza”, ja no se examina a base da associacio “renda-classe social” € a maioria dos autores a aceita como simples axioma. Provam as estatisticas que muitas vézes uma renda se associa a um grupo de profissées e que todos aqueles que exercem essas_profissdes, possuem uma instrugao de grau primario. Provada essa associagao, certos autores,? mais propensos % realizacio de investigacdes bem circunscritas no tempo e no espaco, poem-se a examinar uma determinada cidade, por exemplo. Estudam os resultados do tltimo censo, combinam os dados sobre diferenciagéo de renda, profissdo ¢ instrugdo, constroem uma pirimide e apresentam as suas camadas como sendo as “classes sociais” da cidade ou regiao. £ imdtil dizer que em tais casos se trata de classes meramente nomi- nais. Certamente, critérios como “riqueza”, “pobreza”, “dependéncia” e “independéncia”, “profissdes manuais” e “intelectuais” e muitos outros podem corresponder a certos aspectos da realidade social, mas é duvidoso: 1 — se podem ser aplicados mediante a interpretagio de dados estatisticos apenas que ndo foram colhidos para semelhante fim; 2 —- se correspondem sealmente & classificagio que a sociedade a ser investigada aplica a si mesma. : Certamente, as estatisticas associadas a observagées do tipo impres- sionista, sugetem que poderia ser assim, como seus autores afirmam que Examinada a luz de experiéncias cientificas dignas desse nome, com- __ 2+ Por exemplo. Gilbert A. Sanford, “Selective Migration in a Rural Alabama Commu- nity” “American Sociological Review, Vol. 5, n.* 5, 1940; também certos estudos mencionados na bibliografia que acompanha éss¢ artigo, se enquadram nesta categoria. SOCIOLOGIA 79 preende-se que aquela “base empirica” realmente ndo passa de um con- junto de bipdteses e que as soberbas superestruturas “tedricas” sio apenas conjectutas ou devaneios especulativos, redigidos, nao raro, com ldgica impecavel e, 4s vezes, com brilhantismo literario. O defeito fundamental de semelhante procedimento reside no fato de se tomarem conjecturas como realidades. Geralmente, os autores nao procuram saber se os fatores de diferenciacio econdmica, profissional, educacional etc, apurados pela estatistica, realmente correspondem aos ptincipios de divisdo reconhecidos pela sociedade a ser estudada. Em vez de principiar a investigaczo procurando descobrir os fatores segundo 0s quais a sociedade se divide @ si prépria em classes sociais, aquéles autores estabelecem ésses fatores @ priori, ora porque pensam que assim deve ser de acétdo com opinides e doutrinas apresentadas em estudos anteriores, ora porque colheram, empregando métodos pouco definidos, algumas impressdes que precipitadamente generalizam e aplicam @ todas as comunidades de um determinado pais ou possivelmente a todos os paises europeus ou americanos. O resultado final é por inacreditavel que pareca, um quadro que certamente corresponde a determinadas idéias preconcebidas do autor, mas nao 4 realidade. Na melhor das hipdteses, o leitor critico conclui que o resultado apresentado outra coisa nio é senéo mera conjectura ou simples hipdtese de trabalho para uma inves- tigagdo a ser feita. Nao sou o primeiro a fazer semethante critica. Halbwachs ja colo- cou o problema nos mesmos térmos: “O que nos interessa nao sio as divis6es que se podem assim introduzir numa sociedade, mas: como os homens se classificam a si préprios, de tal modo que a cada um de seus grupos corresponda o sentimento comum de uma situagio social distinta da dos demais, e, sobretudo, que ocupa uma posigio definida na escala das situagdes em geral."* Lamento apenas que o proprio Halbwachs tenha adotado sé em parte o critério por éle proprio enunciado. Todavia, mais adiante se vera que ja existe uma série de investigacdes recentes reali- zadas de acérdo com métodos mais objetivos.* Maurice Halbwachs, Les classes sociales, Centre de Documentation Universi jimeogeafada, Paris s/d Vol. I, p. 24. 4, © problema da utilizagio do material histérico & demasiadamente complexo para ser abordado aqui. De qualquer maneira: sempre sera preferivel a exploragio direta de arquivos 30 uso de obras propriamente historiograficas, pois 0 “bias” com que os dados geralmente Séo selecionados e apresentados ¢ pouco propicio 4 utilizagio paca o fim aqui proposto. sao 80 SOCIOLOGIA 3 — O CARATER GLO@AL DOS ESTUDOS SOBRE CLASSES SOCIAIS. Ao defeito j4 apontado costuma associar-se outro, nfo menos grave. Que se diria se alguém se decidisse.a estudar a estratificagdo social dos indios brasileiros? A objecio que imediatamente se apresentasse, teria provavelmente este teér: Os indios brasileiros dividem-se em muitas tribus diferentes, fato ésse por si s6 suficiente para afastar a possibilidade de um estudo global; necessario sera o estudo de cada tribo em sepa- rado ou, pelo menos, de certo nimero de tribos pertencentes a divises maiores culturalmente definidas. Feito isso, poder-se-4 pensar em com- parar as diversas investigacées, realizadas nas mesmas condicdes metodo- logicas, para finalmente saber se os indios brasileiros vivem em sociedades estratificadas e a que ponto os sistemas de estratificagao sio semelhantes entre si. A mesma objecio levanto contra os autores que se dispdem a estu- dar a estratificagao social “da Alemanha”, “da Franca”, “do Brasil” ou “da Europa dos ultimos duzentos anos”. No atual estagio de desenvolvi- mento da Sociologia e Antropologia social, é necessaria toda a ingenui- dade de um diletante para conceber semelhantes planos. Dir-se-4 talvez que a minha objecio é valida com relacio aos indios, pois éstes se apresentam ao observador como multiplicidade de sociedades tribais soberanas, separadas no espaco e cada uma com sua vida social e culturalmente definida. O povo francés ou brasileiro, no entanto, se afigura como sociedade global passivel de ser estudada em conjunto. Todavia, na tealidade qualquer povo moderno divide-se em unidades menores, ecolégica e culturalmente definidas. As diferengas culturais e sociais que as dividem ligam-se em grande parte a um passado em que © grau de integracio ecoldgica e politica era menor. Em grande parte, porém, aquelas diferencas sio conseqiiéncias diretas do processo de espe- cializagio ecolégica das diversas regiGes de um pais moderno. Nao ha divida de que 0 todo, neste caso a nacio, somente existe & medida que as suas partes, isto é, as comunidades locais ¢ regionais, sio integradas num sistema ecolégico ¢ cultural comum. £ inteiramente absurda a pre- tensdo de estudar a estratificagdo de uma nacdo sem anteriormente inves- tigar a estratificagio das unidades ecolégicas e culturais em que essa nagio se divide. A base das investigacées globais encontra-se a ficcdo de uma homogeneidade social e cultural cuja existéncia ainda esta por ser provada. SOCIOLOGIA 81 Quem conhece o estado atual da pesquisa sociolégica, certamente no duvida de que, até agora, nenhuma sociedade acumulou 0 minimo de conhecimentos necessarios para proceder a um estudo global de sua estratificagdo em classes sociais. Esta verdade pode parecer muito simples, mas ela no foi reconhe- cida, por exemplo, por um autor como Sorokin a despeito de toda hiper- trofia de senso critico que o caracteriza. Entre as intimeras criticas que @sse autor apresenta ha uma que se refere & “idéia de que a classe social implica necessariamente superioridade ou inferioridade de posigio”. Negando a validade dessa idéia, Sorokin argumenta assim: “Ha classes sociais — por exemplo as classes curais, campesinas, operarias de um lado, aquelas dos grandes proprietirios e dos grandes industriais de outro — entre as quais nZo se podem propriamente esta- belecer relagdes de superiotidade ow infetioridade de posicio. Em outras palavras, a posi¢ao relativa ou a hierarquia, embora se tornem freqiiente- mente manifestagdes secundarias de relagGes de classes, nio Ihes consti- tuem um ctitério indispensavel”.® Este trecho mostra claramente a que grau de confusio podem chegar autores empenhados em estudos globais sem base empirica suficien- temente sdlida. O fato de nao haver relacdes de superioridade ou inferioridade entre camponeses e operarios justifica, na opinido de Soro- kin, a afirmagio de nao constituirem tais relagdes um “critério indis- pensavel”, Antes de fazer qualquer afirmacio dessa espécie, o autor estaria na obrigacao de provar que realmente existem relacdes entre operdrios e camponeses e, em segundo lugar, que essas relagées sto de fato rela- ¢des de classe, Camponeses vivem geralmente integrados em comunida- des rurais, e operarios em comunidades urbanas, Portanto, operdrios e camponeses participariam, nesse caso, de estruturas sociais diferentes. B admissivel falar em relagdes de classe entre “camponeses” (provavelmente pequenos e médios proprietirios) e trabalhadores rurais, entre éstes e latifundiarios ou entre “camporeses” e latifundiarios, mas qualquer tentativa de descobrir ou negar diferencas de nivel social entre classes que fazem parte de estruturas sociais diversas, esté evidentemente des- provida de sentido, 5. Sorokin, “Qu’estice qu'une classe sociale?" Cabiers Internationaux de Sociologie, op. cit, p. 63. 82 SOCIOLOGIA 4 — COMO A ANTROPOLOGIA ENCARA O PROBLEMA DAS CLASSES SOCIAIS. Na época em que Durkheim tentava convencer os contemporineos de que os fatos sociais deviam ser estudados como se fossem coisas, a Antropologia (ou Etnologia) ja havia acumulado um consideravel acer- vo de estudos em que o principio Durkheimiano tinha sido silencosa- mente posto em pratica. Muitos antropdlogos da segunda metade do século passado eram naturalistas e essa circunstincia, associada 4 distancia cultural que os separava dos povos primitivos investigados, fazia com que estudassem sociedades tribais como investigavam insetos ou plantas. Familiarizaram-se com as necessidades metodoldgicas decorrentes do estudo sistematico de pequenas estruturas sociais e quando a Antropologia comecava a interessar-se pela investigacio de comunidades que nao fos- sem tribais, era muito natural que se evitassem estudos globais e se escolhessem comunidades rurais e pequenas cidades as quais podiam ser aplicados os métodos anteriormente elaborados. £ significativo que o problema dos estudos globais nunca foi levado em consideragéo, pois qualquer preferéncia dada a ésse tipo de “pesquisa” se teria afigurado como inversio da sequéncia indutiva que necessiriamente deve presidir, como regra comesinha, a qualquer estudo cientifico digno désse nome. E sabido que, como um dos primeiros antropdlogos a estudar socie- dades nao primitivas, William Lloyd Warner aplicou, deliberadamente, métodos experimentados em Black Civilization (1937) a uma pequena ci- dade da Nova Inglaterra. Nasceu assim a série Yankee City,® investi- gacio sistematica de uma estructura social urbana, que, a despeito de todos os possiveis defeitos, rasgou novos horizontes 4 investigagio socio- légica das classes sociais. Seguiram outros trabalhos como Deep South,t Plainville’ e, mais recentemente, alguns socidlogos? realizaram pesquisas em que foram adotados métodos semelhantes aos que Lloyd Warner concebeu e sistematizou. 6. Desde 1941 publicaram-se quatro. dos cinco volumes planejados. Sio os seguintes : The Social Life of a Modern Community (em col. com S. Lunt) 194t, New Haven; 03 mesmos, The Status System of a Modern Community, New Haven, 1942; L. Warner ¢ I. Srole, ‘The Social Skstem of American Ethnic Groups, New Haven, 1946; L. Warner © J. O. Low. The Social System of the Modern Factory, New Haven, 1947. 7, Alison Davis, Burleigh B. Gardner e Mary R. Gardner, Deep South, A Social Anthro- pological Study of Caste and Classe, 1941. 8. James West, Plainville, U.S. A., 1945. 9. Por exemplo, C. Wright Mills, “The Middle Classes in Middle-Sized Cities", American Sociaingical Review, Vol. Ul, 0.2 5, Outubro de 1946. August, E. Hollingshead, "Selected | Characteristics of Classes in a Middle Western Community", American Sociological Review, Vol. 12,, 0.° 4, Agosto de 1947. SOCIOLOGIA 83 Em todos ésses trabalhos encontram-se os seguintes caracteristicos: 1 — Delimitou-se rigorosamente, no tempo e no espaco, o cam- po a ser investigado. Estudaram-se determinadas sociedades em um deter- minado momento de sua existéncia. 2 — Procurou-se descobrir se os membros da sociedade dividiam a si proprios em categorias sobrepostas ou hierarquizadas umas com relago as outras e quais os critérios de hierarquizacio usados por éles mesmos. 3 — Finalmente, tentou-se um estudo descritivo e quantificado na medida do possivel, do sistema de estratificag’o assim descoberto. Os diversos estratos ou camadas foram chamados “classes sociais”. Em Yankee City as pessoas interrogadas negaram'? a existéncia de classes, mas a despeito de sua negacdo categérica, reconheciam-nas expli- citamente, pelo estabelecimento daquilo que se poderia chamar de “niveis sociais” e, implicitamente, pelo comportamento com relagio a pessoas de nivel superior ou inferior. Embora o reconhecimento expresso ou a auséncia désse reconheci- mento possa constituir objeto de analise sociologica, 0 comportamento manifesto observavel em muitas situagdes da vida social, afigura-se como a fonte mais segura de dados com que o pesquisador pode contar. 5 — AS CLASSES SOCIAIS EM RUSTICOPOLIS. Tentei por em pratica ésses principios metodolégicos em uma co- munidade paulista que aqui sera chamada Rusticépolis. Com 1500 habi- tantes, Rusticopolis, sede de municipio e cabeca de comarca, organizou sua vida econdmica exclusivamente em torno dos recursos agricolas e pastoris de uma extensa zona rural. Nao existe industria de espécie alguma, nem sequer de beneficiamento de produtos da lavoura e ctiacio. Nio ha cafeicultura, nio se planta algodio nem cana de acucar ¢ o Leite 6 industrializado num municipio vizinho. A consequéncia estrutural dessa situagio é que cidade e zona urbana se integraram ecoldgicamente em um s6 sistema. Os moradores da “cidade” nao usam o térmo “classe social” com referéncia a sua propria sociedade, mas reconhecem, expressamente, a existéncia de “graiidos” e do “povo que nfo manda em nada”. Inter- rogando pessoas de varios niveis sociais, consegui saber quem fazia 10, Se o mesmo tipo de pesquisa fOsse realizado quma cidade européia de igual tamanko, todos 0s interrogados, muito provavelmente 2firmariam, sob manifestaées mais ou menos dristicas de desaprovasdo, a existéncia de classes. 84 SOCIOLOGIA parte da categoria dos “graiidos”. Eram 30 individuos ou familias que representavam 9.35%, do total de 321 chefes de familia e moradores isolados que foram investigados. Naturalmente, era indispensivel con- trolar as informagdes assim obtidas por observacées diretas das atitudes que os supostos "gratidos” assumiam em contacto com individuos de nivel inferior e vice-versa. Nao era facil esta parte, pois a ritualizagéo das relagdes sociais em Rusticdpolis ¢ muito fraca: aparentemente, o obser- vador se encontra ante uma sociedade “democratica”, sem grandes dife- rengas de nivel social. Todavia, permanecendo longas horas no gabinete do prefeito local, descobri trés tipos de atitudes reciprocas entre o “publico” e as autoridades locais. A mesma tripatticio foi observada durante os banquetes de significacdo geral para a comunidade. Grande parte dos moradores no era convidada nem esperava ser convidada, embora houvesse venda piblica de entradas. Os que participavam, divi- diam-se em duas categorias: a mesa dos “graiidos” e as mesas dos demais convivas. Particularmente interessante era o fato de se repetir essa divisio em duas salas diferentes, havendo em cada uma a mesa dos “gratidos”, rodeada das demais mesas. A divisio dos participantes em dois grupos refletia a cisio da populacdo em dois partidos politicos, cisio essa que pode ser chamada de “vertical”, pois dela participavam pessoas de todos os niveis sociais. Cheguei assim a descobrir que a populacio de Rusticépolis se dividia em trés categorias distintas e no em duas, como ela dizia (“graa- dos” e “povo”). Computei, em seguida, 0s caracteristicos sociais dos chamados “gratidos", mas o resultado era desconcertante. Descobri que entre éles havia diferengas econdmicas muito acentuadas, mas todos eram pelo menos remediados. Muitos descendiam de familias “antigas” (Rus- ticépolis foi fundada em 1729), mas nove eram “forasteiros” (vindos de outros municipios ou Estados) e cinco de origem estrangeira. Nove eram funcionatios ptblicos, onze exerciam profissdes liberais, dez eram co- merciantes ou capitalistas e sete fazendeiros. Aparentemente nao havia diferenca entre ésses e muitos outros mo- radores que nao eram considerados “graados”. Também entre os “nao- gratidos” havia pessoas abastadas que exerciam profissdes liberais ou comerciais. Finalmente descobri, pelo confronto das qualificacdes sociais computadas, que 24 dos “graidos” participavam da politica local em posicio de destaque, isto é, como membros de diretétio dos partidos locais ou manejadores de um eleitorado numéricamente importante. Ve- SOCIOLOGIA 85 rifiquei que dos restantes seis eram “gratidos” em virtude dos cargos ou posigdes que ocupavam (juiz, delegado de policia, padre, diretor do grupo, advogado, médico). Finalmente, por meio de novas entrevistas, cheguei a conclusio de que nenhuma qualificacio isolada constituia razio suficiente para se incluir uma determinada pessoa na categoria dos “‘gratidos”. Indispen- savel era a posicao politica de relévo associada & profissio de comerciante, “capitalista” ou fazendeiro. O fato de ser descendente de familia antiga, forasteiro ou estrangeito nio influia sdbre a cotacgéo social do individuo. Decisiva apenas era aquela associagio de qualificages econdmicas, pro- fissionais e politicas que proporcionam ao individuo o status de “graido”. Excecdes representavam 0 juiz, 0 padre, o delegado, 0 advogado, o di- retor do grupo escolar e o médico. Independentemente de sua situagéo econdmica, éstes individuos eram incluidos na categoria dos “gratidos”. Na camada média havia certo ntimero de pessoas abastadas, algumas até mais do que as mais abastadas da camada superior. Verifiquei que 93 chefes de familia ou moradores individuais faziam parte da camada média, representando 28,97% do total. Déstes, ssmente 17 nao tinham posigao politica definida; os demais eram conhecides como adeptos dos dois partidos locais, mas nfo ocupavam néles nenhuma posicio de relévo. As desigualdades econdmicas na camada média eram maiores do que na camada superior, mas nela nao havia individuos reconhecida- mente “pobres”. Alguns eram econdmicamente dependentes (arrendata- rios, empregados, funciondrios), outros “independentes” (sitiantes, artifices @ pequenos comerciantes). Profissdo, riqueza relativa, ¢ interésses politicos de ndo poucos com- ponentes da camada média faziam com que a linha de demarcac4o, cam relagio & camada superior, ndo pudesse ser tracada com exatidio. Em alguns casos era Sbvio que a passagem para a camada dos “graudos” dependia somente da participacio politica em posicéo liderante. Era ptecisamente a atittude “abstencionista” de certos individuos que deter- minava 0 fato de éles nfo serem incluidos na camada superior. Muitos outros, no entanto, embora talvez quisessem, se achavam demasiadamente distantes dos demais requisitos sociais exigidos do “gratido”. A camada “inferior” compunha-se de 198 pessoas, geralmente chefes de familia, que perfaziam 61,68% do total. Eram lavradores dependentes, trabalhadores bragais (no industriais), artifices, funcionarios subalternos, empregados, pequenos negociantes e “biscateiros’. Todos eram con- 86 SOCIOLOGIA siderados “pobres”. Embora alguns vendessem servigos bastante aprecia- dos pela comunidade, éles nao conseguiram acumular pecilios que os pusessem a salvo das oscilages da vida econdmica, Todos eram direta ou indiretamente dependentes das camadas superior ou média, A coesio interna da camada superior manifesta-se em determinadas situagdes. Nos banquetes piblicos os “graidos” segregam-se “natural- mente”, reafirmando assim a distancia que os separa da camada média e, indiretamente, da camada “inferior” (ausente). Mas a solidariedade dos “graidos” projeta-se poderosamente sobre a vida da comunidade durante as campanhas eleitorais, sobretudo nas técnicas de artebanhar e controlar eleitores, de distribuir beneficios e maleficios entre adeptos e adversarios. B verdade que, em tais ocasides, a camada superior, como as demais, est bipartida, havendo antagonismos e conflitos entre os dois grupos, mas essa biparticéo nao implica diferencas de nivel. Na camada média, a coesio se faz sentir principalmente nas atitudes criticas que seus membros assumem com relagio aos gratidos. Essa resis- téncia critica é aberta e fundamentada no que consideram “fatos”. Alguns davam a entender que as “coisas seriam diferentes” se éles prdprios assu- missem as fungGes e cargos confiados aos “graidos”. Os da camada média ptocuravam distanciar-se da camada inferior considerando os seus mem- bros muitas vézes como “atrazados”, “coitados”, “ignorantes, mas bons”. Criticavam-lhes, sem demonstracdes de intolerancia, certas formas de comportamento julgadas “imorais” (amaziamento, prostituicio). Ao paternalismo das camadas superior e média corresponde 0 padrao de “respeito” da camada inferior. O “respeito” impde uma série de testrigdes ao comportamento interditando, até certo ponto, a manifestacio espontinea de juizos e emogdes. O “respeito” vai de permeio com uma boa dose de medo e desconfianca, sobretudo em contacto com chefes politicos e autoridades locais. O homem da camada inferior nio critica abertamente e nao reclama contra situagdes que pessoas da camada média consideram abusos. Ha entre os moradores da camada inferior formas de cooperacio espontinea com que procuram atenuar dificuldades econd- micas individuais. Ha, no entanto, tendéncias contrarias aos padrées de paternalismo e respeito. Na zona rural ja eram frequentes as referencias a agregados “revoltado: que acusavam os fazendeiros de lhes “tirarem o dltimo trapo”. Muitos sentiam-se explorados e mesmo longe da cidade ouvi agregados se queixarem de que nao recebiam o salario minimo a que tinham direito. SOCIOLOGIA 87 Na cidade, os operarios, segundo me declarou um “graido”, “estéo muito fidalgos e é preciso falar com muito geito, senao deixam o trabalho por qualquer coisiaha”. Nenhuma das trés camadas sociais adotou um regime endogimico, mas em todas elas predominam tendéncias homogimicas, quer dizer, os casamentos realizam-se, de preferéncia, entre pessGas da mesma camada, Hi, todavia, em todas as camadas uma zona em que casamentos com pessoas de camada imediatamente superior ou inferior sio possiveis. O meeiro, p. €., que em Rusticépolis ndo passa de um agregado, nao raro encontra oportunidade de casar-se com a filha do sitiante para o qual trabalha, passando assim provavelmente 4 camada média. Nenhum ensejo, no entanto, se Ihe apresenta para prosseguir na ascensio social. © mesmo ocorre na camada média em cuja “zona superior” casamentos com familias “gratdas” sio frequentes. A vista do que foi dito até agora sébre a estratificag3o social de Rusticépolis, ficou evidente que as diferengas existentes entre as camadas sio no somente sociais, mas também culturais. Apontei padroes de comportamento diferentes nos diversos estratos, mas também a educagio, a cultura material, as concepsées religiosas, as aspiragées econdmicas e profissionais acusam diferengas bastante acentuadas entre os diversos es- tratos da comunidade. Tomando a cultura local como um todo, a estrati- ficagio em camadas sobrepostas pode ser interpretada, também, em térmos de participacio diferencial da cultura. Diante do material empirico colhido nao hesitei em aplicar a cada uma das camadas sociais de Rusticépolis 0 nome de classe. As razGes que me levaram ao emprégo desta denominagao, podem ser resumidas assim: 1 — Os membros da comunidade sio avaliados de acérdo com o “poder social”?! que representam. Este ¢, em Rusticdpolis, expressio de um complexo composto de fatores econdmicos, profissionais e politicos. ‘As pessoas que dispoem aproximadamente da mesma parcela de poder social atribuem-se posigées semelhantes. 2 — As pessoas assim classificadas tém consciéncia de sua situacio e do fato de que a compartilham com certo ntmero de outras pessoas. Nio faltam ocasides para manifestar sua coesdo interna com relagio as camadas inferiores e, particularmente, a individuos desejosos de as- IL, A. palavra “poder” & compreendida aqui _no sentido mais amplo possivel, como “possibilidade de fazer prevaleccr a vontade prépria. a deapeito de oposicio , sem consideracho la base em que repousa essa possibilidade” (Max Weber) ou como “determinaio do comportamento alheio de acérdo com designios proprios". (Kingsley Davis). 88 SOCIOLOGIA cender. Na camada inferior nota-se 0 coméco de um antagonismo que constitui ameaga séria, embora talvez remota, ao consenso social existente, isto é, 4 existéncia da prépria comunidade, no sentido sociolégico da palavra. 3 — As camadas sociais em que se divide a comunidade de Rusti- cépolis, nao sio impermedveis, ¢ os controles erguidos em térno de matrim6nio e parentesco ndo impedem que haja casamentos entre pes- soas de estratos sociais diferentes. O fato de quase um terco dos “graiidos” se constituir de forasteiros prova que ha oportunidade de ascensio social, sobretudo através dos canais da politica partidaria, de detezminadas atividades econdmicas e profissionais. Sendo assim, nao pode haver divida de que o sistema de estratos obedece ao principio estrutural da classe, em contraste com o da casta. Os motadores de Rusticépolis fazem parte de uma classe pelo reconhecimento reciproco de que sao socialmente iguais, fles tem pois consciéncia dessa igualdade e manifestam-na em ocasides consideradas ptoprias. Assim, a classe exerce, pelo menos em Rusticdpolis, uma fungdo essencial, a de definir, firmar e reafirmar a posigao social do individuo na comunidade, fora dos grupos sociais mais limitados de que participa, Simultaneamente, a mesma fungdo a classe desempenha com relacio a alguns désses grupos. Nao disponho, porém, de elementos seguros pata afirmar que ésse aspecto funcional ultrapassa os limites da familia. Ao mesmo tempo, a classe social defende a posicio do individuo na comunidade e, a medida que exerce essa segunda funcio, controla os movimentos de passagem entre as classes, estabelecendo condigdes que quantitativa e qualitativamente regulam a mobilidade vertical. Poder-se-ia objetar que a classe “inferior” no tem o que defender, pois os movi- mentos verticais visam a “conquista” e um “status superior”. Na rea- lidade, porém, a defesa afigura-se, também nessa classe, como uma das funcGes essenciais, pois, muito mais do que outras, ela é constantemente ameacada por elementos “desclassificados”. Defendendo a posicio de individuos e grupos, a classe social exerce uma funcio mais ampla: perpetua uma dada divisio do trabalho e, implicitamente, uma determinada distribuicdo do poder social. 6 — RUSTICGPOLIS e TRADICIONOPOLIS — A poucas cente- nas de quilémetros de Rusticépolis, situa-se outta comunidade paulista: Tradicionépolis. Esta participou plenamente das possibilidades de de- SOCIOLOGIA 89 senvolvimento econdmico que a lavoura cafeeira proporcionou a certas areas do Estado de Sao Paulo. A esctavocracia, que representava apenas um dos aspectos incidentais da estrutura social de Rusticépolis, tornou-se marca dominante da sociedade de Tradiciondpolis. A grande propriedade associou-se a vida senhoreal dos fazendeiros, caracterizada por uma acentuada ritualizagao das relages sociais. Nasceu um estrato social que freqiientemente é chamado “aristocracia rural”. Tendéncias endégamas, que ainda nao desapareceram totalmente, davam-lhe resquicios de casta. © acontecimento que posteriormente veio a ser considerado grave ameaca & posigéo da “aristocracia” local, foi a imigracdo italiana. Os imigrantes fixaram-se nas fazendas cafeeiras como colonos e pelo fato de se sujeitarem ao trabalho manual, a sua posigéo social pouco se distinguia da dos antigos esctavos. “Italiano era lixo aqui”, dizia-me um membro da classe superior. “Nao havia um que nao cumprimentasse os doutores e coronéis, descendo da calgada e tirando respeitosamente o chapéx”. Os clubes “aristocraticos” mantinham-se fechados, mesmo aos filhos de italianos que haviam enriquecido e fixado residéncia na cidade. Até 1928, mais ou menos, os “‘italianos” (assim séo chamados também os brasileiros de ascendéncia italiana) nao eram eleitores. Ninguém se interessava por éles, pois “ndo havia partido oposicionista”. Este, porém, surgiu e como tinha que enfrentar a “aristocracia” local, inicio o alis- tamento dos “‘italianos”, fato ésse que equivalia a descoberta de uma “verdadeira mina eleitoral”. Comegou assim a ascensdo lenta dos “italianos” cuja situagdo econé- mica contrastava favorivelmente com a “decadéncia” de muitos fazen- deiros. Mas, contrariamente 4 comunidade de Rusticépolis, a ascendéncia italiana € considerada estigma social que dificulta a conquista de um status superior. Até hoje a classe superior mantém-se quase imper- meavel com relacéo aos “italianos”, segregando-se em clubes e circulos de familia, Por ocasido das eleicgdes de 1947, as “familias antigas” asso- ciaram-se contra a “italianada "que conseguiram “derrotar” mais uma vez. Bsses fatos, sucintamente relatados, evidenciam a existéncia de dois fatores cuja valoracio se tornou decisiva para a formagio das classes sociais de Tradicionépolis, mas aos quais nao se atribui importincia em Rusticépolis: 1 — A classe superior é constituida predominantemente por pessoas de “familias tradicionais” cuja posigdo se liga ao fastigio da lavoura cafecira, Até o presente, o status que os membros dessa classe desfrutam 90 SOCIOLOGIA € mais “atribuido” (hereditario) do que “conquistado”. Manifestamente solidaria, a classe superior desenvolveu padroes defensivos que se desti- nam a barrar as tendéncias ascensionais de pessoas de classes inferiores, aproximando-se dos principios estruturais e funcionais de casta, parti- cularmente através de suas tendéncias endégamas. 2 — Associada aos caracteristicos precedentes nota-se uma atitude nitidamente depreciativa com relacio a brasileiros de origem italiana. Embora nao raro ricos ou remediados, éstes ndo conseguem erguer-se a0 nivel da classe superior porque a sua ascendéncia é tida como estigma social. Pela andlise sucinta dos elementos valorativos utilizados na consti- tuigio das classes sociais de Rusticdpolis ficou claro que nem a antigui- dade da familia, nem a préxima origem estrangeita desempenha qualquer papel de importincia. CONCLUSGES FINAIS. — As diferengas significativas existentes entre os sistemas de classes sociais de duas comunidades paulistas, mos- tram o perigo da generalizacio dos estudos globais. Sem uma quantida- de representativa de investigacdes locais ou regionais, nenhum trabalho cientifico de maior amplitude poder ser realizado. £ possivel mesmo que os resultados de futuros estudos globais virio a decepcionar aquéles que nao conseguirem livrar-se de certas concepcdes rotineiras do passado. Nao toquei, até agora, num dos aspectos mais relevantes do problema das classes sociais: Os sistemas locais ou regionais de classes so “fecha- dos” ou comunicam-se com outros, de igual ou maior amplitude? Em outras palavras: os membros de uma determinada classe social localizada na comunidade X, ocupariam igual posigdo na comunidade Y? Eviden- temente, a resposta depende de duas condicoes: 1 — Do grau de integracéo das classes locais em conjuntos de amplitude maior. 2 — Da equivaléncia dos sistemas de valores responsaveis pela dife- renciagéo das classes sociais em comunidades ecologicamente distintas. Parece-me que a possibilidade de qualquer estudo global depende preliminarmente da investigacio dessas duas questées fundamentais. Ve- tificada, por exemplo, a existéncia de sistemas de classes fechados, sim- plesmente justapostos no espaco, o estudo global, no sentido rotineiro da palavra, perdera o sentido e devera ser substituido, sob pena de se perder em especulagées futeis, por um trabalho metamente comparativo.

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