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Daniela Ruah: "Foi a primeira vez que peguei

numa arma"
por Ana Filipe Silveira

http://dn.sapo.pt/revistas/ntv/interior.aspx?content_id=1475680

É a actriz portuguesa que goza de maior sucesso além-fronteiras. Depois


da estreia de Investigação Criminal: Los Angeles, na SIC, Daniela Ruah
fala da sua experiência na série e em terras norte-americanas. E deixa um
recado aos espectadores...
Os dois primeiros episódios de Investigação Criminal: Los Angeles
transmitidos em Portugal pela SIC ao início da tarde do passado dia 10
tiveram 1,2 milhões de espectadores. Um recorde naquele horário. Como
analisa este fenómeno?

Deve ter sido num dia de chuva e de frio em que não havia futebol e as pessoas
ficaram em casa (risos). Na realidade sinto-me agradecida ao público português por
ter tido interesse em ver a série.

Na recente entrega dos prémios People Choice Awards, em Los Angeles,


estiveram vários actores da série, mas as agências internacionais divulgaram
as suas fotos com honras de protagonista. Já se sente uma estrela?

É uma honra fazer parte desta série que tem ganho reconhecimento mundial desde
que foi para o ar. Estou no princípio da minha carreira internacional e estou
extremamente concentrada em dar o meu melhor. Fico feliz pela imprensa
internacional reparar nisso!

E tem sofrido a pressão dos paparazzi?

No dia-a-dia não. De vez em quando aparecem durante as gravações exteriores mas


em geral a imprensa não pressiona muito.

Existe por parte dos norte-americanos algum tipo de receptividade na rua?

Sim! Normalmente as pessoas só olham, mas de vez em quando alguém pede um


autógrafo, uma fotografia, ou simplesmente elogiam a série. As pessoas em Los
Angeles estão habituadas a ver figuras públicas, por isso não fazem grande alarido.

Por falar em Los Angeles, qual é a melhor e a pior coisa de se viver numa
cidade assim tão grande?

A melhor coisa talvez seja o tempo. Para um actor, Los Angeles - tal como Nova
Iorque - é o sítio onde se deve estar para arranjar agente e fazer castings. A pior
coisa talvez seja o trânsito dia e noite, 24 horas por dia!

E quais são os locais que aconselharia um turista a não perder?


Pessoalmente gosto muito da zona de West Hollywood. Passear por Santa Monica
Boulevard ou Robertson Avenue, é muito agradável. Há lojas, restaurantes,
geladarias... Nada comparado com o Santini, claro... (risos) No Verão, ao fim-de-
semana, há imensa vida! Venice Beach, Muscle Beach, a zona de Sana Monica. .. E
gosto muito de ir ao The Grove. É um centro comercial ao ar livre com música do
género Frank Sinatra a tocar, um espaço muito agradável para ir em família.

E como é a vida nocturna? As discotecas da moda?

Apesar de viver aqui há uns meses ainda tive poucas oportunidades de ter uma vida
nocturna, por isso não estou inteiramente a par das discotecas da moda.

Há uma Daniela Ruah antes de Investigação Criminal: Los Angeles e outra


Daniela Ruah depois?

De maneira nenhuma. As minhas prioridades, paixões e objectivos nunca mudaram.


Simplesmente amadureci com aquilo que tenho aprendido com esta experiência, e
com a vida em geral nestes últimos anos. Aprendi a avaliar melhor quando é que é
necessário lutar por algo ou não.

Não há muitos casos de actores portugueses que tenham brilhado desta


forma no estrangeiro. Temos alguns casos no Brasil, poucos casos em
Espanha, o caso da Lúcia Moniz em Love Actually e o eterno caso do Joaquim
de Almeida. Sente que pode fazer história?

A história não sou eu que a faço, são os acontecimentos à volta da minha actuação.
Vou dar uns exemplos, as enormes audiências que a série fez e faz nos EUA, o facto
de termos sido vendidos para reposição, mais tarde, a outra estação ao fim do sétimo
episódio, a grande audiência obtida pela SIC no domingo como a série internacional
mais vista da década e o facto de ser a primeira portuguesa a fazer parte do elenco
permanente numa série norte-americana contribuem para isso.

E acha que há inveja no seu sucesso?

Se há, felizmente até hoje não a sent i.

Sabe que é uma mulher bonita. Sente que isso, a par do seu talento, está a
ser um factor decisivo para o seu sucesso, sendo que a imprensa é sempre
"gulosa" e gosta de stars?

Não se pode negar que a indústria cinematográfica tem o seu grande lado superf icial,
mas não acho que tenha sido decisivo na minha carreira. Há uma lista de nomes de
actores que nunca foram considerados "bonitos" e no entanto os seus filmes fizeram
história, como Dustin Hoffman, Robert DeNiro, Meryl Streep, entre outros.

Vamos lá ser sinceras: depois deste êxito não lhe passa pela cabeça, no
futuro imediato, voltar a fazer novelas ou séries em Portugal, pois não?
Neste momento nem poderia, por causa dos contratos que tenho aqui [em Los
Angeles]... Além disso, as novelas foram uma parte muito útil da minha formação,
mas de momento estou numa fase diferente da minha vida profissional.

Um dos maiores elogios que a crítica lhe tem feito por cá, desde que a série
se estreou, é: "Nem parece portuguesa." Como é que interpreta isso? Ou
seja, como está há dois anos nos EUA, sente que há, de facto, uma forma
especial de "ser português" ou a linguagem das artes é universal?

Está a fazer-me três perguntas diferentes... Sou portuguesa. Os anos mais


importantes do meu desenvolvimento, 15 anos, foram passados em Portugal e é o
sítio a que chamo o meu primeiro lar. Acho que todas as culturas têm características
que as distiguem e que se reflectem nas artes performativas. Tive a sorte de crescer
perfeitamente bilingue e portanto quando falo inglês sem sotaque no meio televisivo
americano passo por americana.

Sempre falou bem inglês? O que os primeiros episódios exibidos em Portugal


mostraram é não haver qualquer diferença entre si e os outros actores. Nem
na forma de se comportar nem na forma de falar inglês, com o accent típico
dos norte-americanos.

Felizmente tenho a habilidade de me adaptar bem ao ambiente ou à cultura do local


onde estou, nomeadamente num país em que se fala inglês. Deixo-me ser
influenciada pela pronúncia. Mas é óbvio que esta adaptação tem algumas
implicações. Por exemplo, os portugueses têm uma forma de comunicar que os
diferencia dos americanos. Temos uma expressão de mãos e face efusivos,
semelhante à de outros países europeus mediterrânicos. Os norte-americanos
parecem ser mais contidos na expressão corporal. Por isso tive de, conscientemente,
alterar algumas atitudes em mim quando represento.

Falou com os seus pais depois da estreia de Investigação Criminal: Los


Angeles em Portugal. O que é que eles lhe disseram?

Falei logo a seguir e gostaram imenso. Ficámos todos positivamente admirados com
as audiências.

E os seus amigos de infância o que é que lhe dizem? Além de estarem muito
orgulhosos, certamente!

Vemo-nos poucas vezes por ano porque vivem entre Inglaterra e Portugal. Mas
quando nos vemos fazem-me perguntas sobre a minha experiência e depois
passamos a comportarmo-nos como se tivéssemos outra vez 16 anos!

Tenho uma dúvida. É tão profissional a pegar numa arma que não posso
deixar de fazer a pergunta: não foi a primeira vez, pois não?

(risos) Foi, sim!

Seria capaz de agarrar numa arma verdadeira da mesma forma que agarra
numa de brincar?
As armas que usamos são mais do que verdadeiras! As balas é que são diferentes,
não são projectadas. A pistola dispara mas só faz barulho. Antes de começarmos a
gravar levaram-nos para uma carreira de tiro, por isso pratiquei com armas e balas
verdadeiras.

Conte-me lá essa história de sempre ter gostado de sangue, como assumiu


ao Daniel Oliveira no Alta Definição (SIC). É que normalmente as pessoas
fogem de sangue...

(risos) Sempre tive um interesse especial em ciência forense e casos policiais. Li


muitos livros sobre criminosos famosos e sempre me interessei pelos pormenores
mais obscuros de cada caso e pela análise policial da cena do crime. Além disso, de
vez em quando tinha de acompanhar o meu pai quando ele fazia as cirurgias de
urgência e nunca me impressionou assistir a elas. Tenho uma certa fascinação pela
anatomia humana e a genialidade de como funcionamos.

Não me diga que gosta de arroz de cabidela e papas de sarrabulho?

(risos) Nem de mioleira nem de rins.

Já interpretou Red Tails. Acha que o sucesso de Investigação Criminal: Los


Angeles pode abrir-lhe as portas para o cinema norte-americano, a grande
indústria cinematográfica do mundo?

Espero que sim! A visibilidade de estar na série tem essa vantagem e espero poder
usufruir disso.

O que pode adiantar quanto à sua participação no filme RedTails?

Faço o papel de uma mulher italiana na época da Segunda Guerra Mundial. O filme
conta a história de um grupo de pilotos afro-americanos na altura em que eles
começavam a ser aceites na força aérea norte-americana. Ou seja, há um tema de
racismo, e a minha personagem apaixona-se por um dos pilotos. Estou feliz porque é
um papel muito diferente daquilo que tenho feito e acima de tudo tive o desafio de só
falar italiano...

Se lhe dessem a escolher, com que realizador gostaria de trabalhar e com


quem contracenava?

Há realizadores e actores talentosos que estão constantemente a surgir. Antes de


pensarmos no realizador e nos actores com quem contracenar, o argumento tem de
ser bom.

Nestes dois anos em que está nos EUA, acho que pode dizer-me: que imagem
têm os americanos dos portugueses? Ao menos já sabem onde fica Portugal?

Pelo menos os americanos que me conhecem sabem onde fica Portugal! Mas
conhecem pouco a cultura. Na costa este dos EUA há uma comunidade maior de
portugueses.
Presumo que já tenha amigos norte-americanos e que frequentem a sua
casa. Já fez comida portuguesa ou é melhor a dar tiros do que ao fogão?

Por acaso até cozinho decentemente... (risos). Já fiz uns pratos de peixinho no forno.
Aqui, o bacalhau em sal como nós costumamos comprá-lo em Portugal chama-se
"bacalá" (risos)... Rio-me sempre. Ainda não tive oportunidade de alimentar os meus
amigos americanos.

Los Angeles é uma cidade cara. Ainda há restaurantes onde se consegue


comer barato?

Los Angeles é cara dependendo da zona... Beverly Hills ou Malibu, por exemplo, são
um pouco mais caras, mas há vários sítios perfeitamente acessíveis, como Hollywood
e West Hollywood. Eu gosto muito de um café chamado Aroma. Ou então é barato ir
ao supermerc ado e cozinhar em casa!

Em Investigação Criminal: Los Angeles está sempre a correr de um lado para


o outro, o que, presumo, exige muito do seu físico. Prepara-se para isso, ou
sempre foi uma mulher... de combate?

Não digo que sempre tenha sido mulher de combate, mas sempre fui muito activa
com aulas de dança, ginástica, ginásio... E depois também nos habituamos ao ritmo
da acção.

O que queria mesmo perguntar é se frequenta ginásio ou tem algumas aulas


particulares...

As duas coisas continuamente. No ano passado decidi contratar um treinador pessoal


que também é nutricionista. Ajuda-me a manter o peso saudável e dá-me um
incentivo quando estou cansada. Obriga-me a escrever o que como para ter a certeza
de consumo as calorias obrigatórias para aumentar de peso e ter alguma
musculatura.

Por falar em combate, qual o principal obstáculo com que já se deparou?

A incerteza do futuro quando vim para os Estados Unidos.

Sente-se uma mulher orgulhosa com o que já conseguiu?

Claro. Deu-me um trabalhão cá chegar! Mas não vou relaxar só por já ter conseguido
alguma coisa. Há sempre espaço para melhorar e para novos projectos.

O seu grande objectivo, já o disse várias vezes e repetiu-o recentemente,


passa pelos Óscares, pelos Emmy, pelos Globos de Ouro... Imagine que
consegue alcançar esse patamar. E depois? Que etapa se segue?

Obviamente que o que eu disse nesse aspecto não pode ser levado à letra. (risos)
Ganhar um prémio não é a finalidade nem o objectivo da minha carreira.

Vamos terminar com um desafio: o que quer dizer aos espectadores


portugueses que se sentem orgulhosos em si?
Só posso agradecer o apoio e o carinho que tenho recebido. Sempre mostraram
apreciar o meu trabalho e isso deu-me grande parte da confiança que tenho e de que
preciso para estar aqui, agora. Obrigada.

Leia a versão integral na edição em papel da Notícias TV

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