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TOLERÂNCIAS DIMENSIONAIS

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Descrever as tolerâncias dimensionais e aplicações de tolerâncias ISO JUL/2001 00

*Antonio Irineu Guerra


Introdução
Qualquer produto fabricado tem uma especificação de projeto, a qual deve ser
assegurada pelo processo de fabricação. Porém, é impossível a repetição do mesmo
valor para todos os produtos. Por exemplo, um pacote de feijão cuja estampa da
embalagem indica 1 kg nem sempre possui exatamente 1 kg, podendo ter um peso
muito próximo de 1 kg. Mas então estamos sendo enganados pelo fabricante? Numa
situação normal, é claro que não. O que determina a possibilidade do peso estar
próximo ao valor de 1 kg, não sendo necessariamente 1 kg é a chamada tolerância.
As tolerâncias são utilizadas para qualquer processo de fabricação ou produção,
como aspecto de qualidade mensurável, ou seja, se um produto possui um valor
especificado dentro dos limites de tolerância especificados pelo projeto, está aprovado,
caso contrário, estará obviamente reprovado.
O que se toma como base para a aplicação da tolerância é a utilização do produto.
Em geral, se em um produto a tolerância é calculada tomando-se como base a
situação crítica de utilização ou ainda, até que ponto o produto pode ser inofensivo ao
usuário.

Obs.: Como nosso enfoque é a metrologia dimensional, nossa intenção é aplicar os


conceitos para essa área, conforme poderemos ver a seguir.

Formato
Uma tolerância de um produto qualquer caracteriza-se por possuir os seguintes
itens:
- Dimensão (valor) nominal;
- Limite inferior da tolerância;
- Limite superior da tolerância;
- Campo de tolerância.

Vamos ver um exemplo prévio:

Neste exemplo temos:


25,012 = dimensão nominal;
+0,002 = limite inferior da tolerância;
+0,025 = limite superior da tolerância;
0,023 = campo de tolerância.

Podem existir outras formas de apresentação. Veja:


Limites
Existem dois tipos de limites:
- Limite de tolerância
- Limite de especificação
No primeiro exemplo mostrado acima, teremos:

Limites de tolerância: Inferior:+0,002; Superior:+0,025;


Limites de especificação: Inferior: 25,014; Superior: 25,037.

Qual é o significado?
É bastante simples: o valor nominal representa o valor base para a aplicação da
tolerância. Vamos repetir o primeiro exemplo acima para melhor entendimento:

Vamos analisar a tolerância: se 25,012 é o valor nominal, quais são os limites de


especificação do produto? Basta somar os limites inferior e superior à dimensão
nominal:

Limite inferior de especificação: 25,012 +0,002 = 25,014


Limite superior de especificação: 25,012 +0,025 = 25,037

Ou seja: o produto que possui esta especificação deve possuir medida entre 25,014 e
25,037. Qualquer valor fora desse campo de tolerância (0,023, diferença entre 25,037
e 25,014) está reprovado.

O campo de tolerância
Já tratamos dos limites de tolerância e limites de especificação. Agora trataremos
especificamente do campo de tolerância, que nada mais é do que a diferença entre a
maior e menor medida possível de uma característica de projeto que será aplicada ao
produto. Quanto maior o campo de tolerância, maior é a quantidade de produtos
aprovados, e conseqüentemente, menor é a qualidade requerida tanto no processo de
fabricação quanto na precisão da utilização. É com base no campo de tolerância que
geralmente são escolhidos os instrumentos de medição para utilização no processo de
fabricação do produto (além do valor nominal, que determina a capacidade do
instrumento). Para processos mais precisos os campos são menores. Vamos ver alguns
exemplos de peças mecânicas:
Campo de tolerância: 0,24 mm

Campo de tolerância: 0,030 mm

Campo de tolerância: 1,0 mm

Posição do campo de tolerância


A posição do campo de tolerância em relação ao valor nominal também é importante.
Em geral, os projetistas aplicam a um valor nominal "arredondado" a posição do
campo de tolerância, para facilitar o entendimento do pessoal responsável pelo
processo de fabricação. Aqui apresentamos mais um exemplo:

Um projetista determinou, através de cálculos, que a especificação de uma


característica de um produto seria:

Analisando:
Limite inferior de especificação: 15,345
Limite superior de especificação: 15,375

Mas, conforme podemos perceber, tem-se uma dificuldade de se "visualizar" o campo


de tolerância. Vamos "mexer" na posição do campo de tolerância (sem esquecer de
modificar a dimensão nominal, senão não haverá sentido em modificar o campo de
tolerância) e analisar as seguintes possibilidades:

Analisando: TODOS os exemplos estão corretos, pois, mantêm dos limites inferior e
superior de especificação idênticos ao original, e também está mantendo o campo de
tolerância original (0,030 mm).

As tolerâncias podem ser simplesmente calculadas pelo projetista ou ainda seguir


uma normalização. A ISO nos fornece uma tabela de tolerâncias para serem aplicadas
para cada tipo de ajuste. Elas tratam do campo de tolerância e da posição do campo
de tolerância em relação à medida nominal.
Normalização das tolerâncias - Campo de tolerância
As tolerâncias normalizadas pela ISO consistem na representação do valor nominal
acompanhado de uma letra e um número no lugar da tolerância.
Exemplo:

Isto significa que o valor nominal é 31,250 e H7 é a tolerância aplicada ao valor


nominal. A letra H representa a posição do campo de tolerância e 7 representa o valor
do campo de tolerância.
A escolha da letra e do número correspondente à tolerância aplicada dependem da
aplicação do produto e da natureza do acoplamento, já que essas tolerâncias são, em
geral aplicadas a elementos que serão acoplados como um sistema furo-eixo.

Veja as características na tabela abaixo para alguns campos de tolerância


(representado pelo número):

Número Característica
5 Mecânica muito precisa
6 Mecânica de precisão
7 Mecânica comum (mais empregada)
8 Mecânica mais grosseira

Lembrando: quanto menor o campo de tolerância, mais preciso o processo de


fabricação. Outro detalhe: os campos 6 e 7 são os mais aplicados na indústria de
componentes mecânicos.

Vamos ver um exemplo de aplicação dos campos de tolerância:

Dimensão nominal (mm)


Campo 6 (µm) Campo 7 (µm)
Acima de Até
- 3 7 9
3 6 8 12
6 10 9 15
10 18 11 18
18 30 13 21
30 50 16 25

No exemplo acima, podemos perceber que à medida que o número do campo de


tolerância aumenta (6->7), o campo também aumenta. Em relação à dimensão
nominal (de cima para baixa na referida tabela), o campo de tolerância também
aumenta. Ou seja, se observarmos na tabela, da esquerda para a direita e de cima
para baixo o campo de tolerância aumenta.

Normalização das tolerâncias - Posição do Campo


Vamos tratar agora das posições do campo de tolerância. A ISO determina com uma
letra a posição do campo de tolerância normalizado. As letras compreendem o alfabeto
inteiro com algumas combinações de letras (ex.: za, zb). Letras maiúsculas, quando
são mostradas em desenhos, representa tolerâncias em medidas internas. Letras
minúsculas, por sua vez, demonstram tolerâncias de medidas externas.
A posição do campo é importante para determinação do tipo de acoplamento. Em
projetos, estudado e determinado o acoplamento de duas peças, escolhe-se a
tolerância tabelada sob o aspecto "campo" (conforme precisão do processo de
fabricação requerido) e depois a "posição" (de acordo com a natureza do
acoplamento).
Não há como se fazer uma análise de posição do campo de uma peça única. Portanto
utilizaremos um sistema furo-eixo para demonstrarmos como seria o acoplamento:

Exemplo: Furo Ø12,000 e Eixo Ø12,000. Devemos fixar uma tolerância para um dos
elementos. Assim, poderemos, através da variação do campo de tolerância do outro
elemento, dimensionar o tipo de acoplamento desejado. Vamos fixar o diâmetro do
furo no sistema H. Veja a tabela abaixo:

Posição do campo de tolerância Posição do campo de tolerância


Tipo de acoplamento
para o eixo para o furo
Com folga a,b,c,d,e,f
Incerto g,h,j H
Com interferência k,l,m,n,p,etc...

Podemos chegar a uma conclusão: se as letras correspondentes ao eixo são


anteriores (em ordem alfabética) à fixada num furo, o ajuste certamente será folgado,
por outro lado, se as letras forem posteriores à fixada para um furo, o ajuste
certamente será com interferência. As letras mais próximas à fixada poderão
representar um ajuste incerto, ou seja, um ajuste onde não teremos certeza se será
com folga ou interferência. O que vai determinar então será os números que
correspondem ao campo de tolerância tanto do furo como do eixo. Na tabela acima,
consideramos apenas as letras g, h, j como ajuste incerto, mas dependendo do tipo de
processo de fabricação, as letras k, f por exemplo, também poderão determinar um
ajuste incerto. Daí a dependência de uma pela outra característica da tolerância ISO.

Obs.: as posições mais utilizadas são representadas pelas letras: G,H,J.

Exemplo de aplicação
Vamos utilizar o exemplo acima: um furo e um eixo com Ø12,000. Se fixarmos a
tolerância H7 para o furo, como seria o acoplamento se a tolerância do eixo fosse: h9,
h7, h6, h5, g6, g7, j5, j6, k6, r6, s6?

Vamos consultar o fragmento da tabela ISO:

Dimensão nominal (mm)


Tolerância H7 (µm)
Acima de Até
0
- 3
+9
0
3 6
+12
0
6 10
+15

0
10 18
+18
0
18 30
+21
0
30 50
+25

Isto significa que o limite inferior do valor do furo será 12,000 mm e o superior
12,018 mm.
Observação importante: Se o valor solicitado fosse 18 mm, qual linha da tabela
seria utilizada? Seria a mesma indicada em negrito, pois deve-se interpretar a tabela
como se o termo "até" fosse uma "barreira". Se o valor nominal fosse 18,001,
deveríamos escolher a linha de baixo, pois seria um valor superior ao limite da linha
anterior. O mesmo processo é aplicado à normalização de calibradores passa-não-
passa.

Vamos analisar mais fragmentos, os quais apresentamos numa única tabela. Agora
estão representando cada um dos ajustes sugeridos:

Dimensão nominal (acima de 10 até 18 mm)


Campo de Tolerância (µm)
Tolerância ISO do eixo (indicação)
0
h9
-43
0
h7
-18
0
h6
-11
0
h5
-8
-6
g6
-17
-6
g7
-24
+5
j5
-3
+8
j6
-3
+12
k6
+1
+34
r6
+23
+28
s6
+39

Agora faremos uma análise de cada um dos ajustes sugeridos:

Ajuste 1: 12 H7 X 12 h9
Análise das tolerâncias:
Furo: 12,000 - 12,018
Eixo: 11,957 - 12,000
Analisando as possibilidades críticas de acoplamentos, teríamos:
Folga mínima: (Dim.mínima furo-Dim.máxima eixo): 12,000-12,000 = 0,000
Folga máxima: (Dim.máxima furo-Dim.mínima eixo): 12,018-11,957 = 0,061
CONCLUSÃO: AJUSTE COM FOLGA.

Ajuste 2: 12 H7 X 12 h7
Análise das tolerâncias:
Furo: 12,000 - 12,018
Eixo: 11,982 - 12,000
Analisando as possibilidades críticas de acoplamentos, teríamos:
Folga mínima: (Dim.mínima furo-Dim.máxima eixo): 12,000-12,000 = 0,000
Folga máxima: (Dim.máxima furo-Dim.mínima eixo): 12,018-11,982 = 0,036
CONCLUSÃO: AJUSTE COM FOLGA.

Ajuste 3: 12 H7 X 12 h6
Análise das tolerâncias:
Furo: 12,000 - 12,018
Eixo: 11,989 - 12,000
Analisando as possibilidades críticas de acoplamentos, teríamos:
Folga mínima: (Dim.mínima furo-Dim.máxima eixo): 12,000-12,000 = 0,000
Folga máxima: (Dim.máxima furo-Dim.mínima eixo): 12,018-11,989 = 0,029
CONCLUSÃO: AJUSTE COM FOLGA.

Ajuste 4: 12 H7 X 12 h5
Análise das tolerâncias:
Furo: 12,000 - 12,018
Eixo: 11,992 - 12,000
Analisando as possibilidades críticas de acoplamentos, teríamos:
Folga mínima: (Dim.mínima furo-Dim.máxima eixo): 12,000-12,000 = 0,000
Folga máxima: (Dim.máxima furo-Dim.mínima eixo): 12,018-11,992 = 0,026
CONCLUSÃO: AJUSTE COM FOLGA.

Ajuste 5: 12 H7 X 12 g6
Análise das tolerâncias:
Furo: 12,000 - 12,018
Eixo: 11,983 - 11,994
Analisando as possibilidades críticas de acoplamentos, teríamos:
Folga mínima: (Dim.mínima furo-Dim.máxima eixo): 12,000-11,994 = 0,006
Folga máxima: (Dim.máxima furo-Dim.mínima eixo): 12,018-11,983 = 0,026
CONCLUSÃO: AJUSTE COM FOLGA.

Ajuste 6: 12 H7 X 12 g7
Análise das tolerâncias:
Furo: 12,000 - 12,018
Eixo: 11,976 - 11,994
Analisando as possibilidades críticas de acoplamentos, teríamos:
Folga mínima: (Dim.mínima furo-Dim.máxima eixo): 12,000-11,994 = 0,006
Folga máxima: (Dim.máxima furo-Dim.mínima eixo): 12,018-11,976 = 0,042
CONCLUSÃO: AJUSTE COM FOLGA.

Ajuste 7: 12 H7 X 12 j5
Análise das tolerâncias:
Furo: 12,000 - 12,018
Eixo: 11,997 - 12,005
Analisando as possibilidades críticas de acoplamentos, teríamos:
Folga mínima: (Dim.mínima furo-Dim.máxima eixo): 12,000-12,005 = -0,005
Folga máxima: (Dim.máxima furo-Dim.mínima eixo): 12,018-11,997 = 0,021
Interferência mínima: (Dim.mínima eixo-Dim.máxima furo): 11,997-12,018 = -0,021
Interferência máxima: (Dim.máxima eixo-Dim. mínima furo): 12,005-12,000 =
0,005
Obs.: Os valores negativos devem ser desconsiderados. Um ajuste incerto
caracteriza-se por não possuir interferência nem folga mínimos.
CONCLUSÃO: AJUSTE INCERTO.

Ajuste 8: 12 H7 X 12 j6
Análise das tolerâncias:
Furo: 12,000 - 12,018
Eixo: 11,997 - 12,008
Analisando as possibilidades críticas de acoplamentos, teríamos:
Folga mínima: (Dim.mínima furo-Dim.máxima eixo): 12,000-12,008 = -0,008
Folga máxima: (Dim.máxima furo-Dim.mínima eixo): 12,018-11,997 = 0,021
Interferência mínima: (Dim.mínima eixo-Dim.máxima furo): 11,997-12,018 = -0,021
Interferência máxima: (Dim.máxima eixo-Dim. mínima furo): 12,008-12,000 =
0,008
Obs.: Os valores negativos devem ser desconsiderados. Um ajuste incerto
caracteriza-se por não possuir interferência nem folga mínimos.
CONCLUSÃO: AJUSTE INCERTO.

Ajuste 9: 12 H7 X 12 k6
Análise das tolerâncias:
Furo: 12,000 - 12,018
Eixo: 12,001 - 12,012
Analisando as possibilidades críticas de acoplamentos, teríamos:
Folga mínima: (Dim.mínima furo-Dim.máxima eixo): 12,000-12,012 = -0,012
Folga máxima: (Dim.máxima furo-Dim.mínima eixo): 12,018-12,001 = 0,017
Interferência mínima: (Dim.mínima eixo-Dim.máxima furo): 12,001-12,018 = -0,017
Interferência máxima: (Dim.máxima eixo-Dim. mínima furo): 12,012-12,000 =
0,012
Obs.: Os valores negativos devem ser desconsiderados. Um ajuste incerto
caracteriza-se por não possuir interferência nem folga mínimos.
CONCLUSÃO: AJUSTE INCERTO.

Ajuste 10: 12 H7 X 12 r6
Análise das tolerâncias:
Furo: 12,000 - 12,018
Eixo: 12,023 - 12,034
Analisando as possibilidades críticas de acoplamentos, teríamos:
Interferência mínima: (Dim.mínima eixo-Dim.máxima furo): 12,023-12,018 = 0,005
Interferência máxima: (Dim.máxima eixo-Dim. mínima furo): 12,034-12,000 =
0,034
CONCLUSÃO: AJUSTE COM INTERFERÊNCIA.

Ajuste 11: 12 H7 X 12 s6
Análise das tolerâncias:
Furo: 12,000 - 12,018
Eixo: 12,028 - 12,039
Analisando as possibilidades críticas de acoplamentos, teríamos:
Interferência mínima: (Dim.mínima eixo-Dim.máxima furo): 12,028-12,018 = 0,010
Interferência máxima: (Dim.máxima eixo-Dim. mínima furo): 12,039-12,000 =
0,039
CONCLUSÃO: AJUSTE COM INTERFERÊNCIA.

Utilizamos 11 exemplos para demonstrar a diferença entre os números e letras nos


ajustes. Vamos correlacionar a utilização de cada tolerância com exemplos de
aplicação:

Ajuste 3: H7/h6: Utilizado em pistões e cilindros de compressores


Ajuste 5: H7/g6: Utilizado em eixos e mancais de deslizamento
Ajuste 9: H7/k6: Utilizado em polias e engrenagens acopladas em eixos
Ajuste 10: H7/r6: Utilizado em camisas acopladas em cilindros de motores
Ajuste H7/m6: Utilizado em rolamentos e buchas em mancais

Representação de tolerâncias ISO


Num desenho qualquer, pode-se indicar a tolerância como apresentamos aqui ou
ainda, indicar o campo de tolerância, sem mencionar letra ou número de indicação.
Vamos aos exemplos:

ou

ou ou

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