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ELEMENTOS DE MÁQUINAS II

UNIDADE 1: ENGRENAGENS CILÍNDRICAS DE DENTES RETOS E


ENGRENAGENS CILÍNDRICAS HELICOIDAIS

U1S2: Equações para cálculos de engrenagens cilíndricas


de dentes retos e engrenagens cilíndricas helicoidais

PROF. PAULO MARIA


Nesta aula vamos aprender que, para o funcionamento de motores, são
necessários diversos elementos, tais como as engrenagens de dentes
retos.
Conheceremos as equações de cálculos para as engrenagens cilíndricas
de dentes retos e helicoidais, com foco nas características geométricas,
flexão e durabilidade superficial dos dentes, equações sobre tensões e
resistência e, claro, sobre o dimensionamento destas.

A aplicação de cálculos de engrenagens é muito comum nos dias de hoje,


pois praticamente todo equipamento mecânico que tem um controle de
velocidade com torque normalmente usa um conjunto ou mais de pares
de engrenagens, em virtude da alta eficiência e do baixo custo, quando
comparado com outras tecnologias.
De uma forma ampla, encontramos estes sistemas em automóveis, que
chamamos de transmissão manual ou transmissão automática.
Características geométricas
Uma das exigências básicas para a geometria dos dentes de engrenagem
é que se desenvolva uma relação de velocidades angulares que seja
constante.
Lembremos que existem as imprecisões dos processos de fabricação e as
deformações que causarão ligeiros desvios na relação de velocidades,
porém os perfis para a geometria dos dentes são baseados em curvas
teóricas que atendem a este critério, que denominamos ação conjugada
de um par de dentes de engrenagens.

Este tipo de curvas teóricas, na grande maioria dos casos, é chamado de


perfil de involuta (curva que se faz sobre a superfície tangente de outra
curva e intercepta ortogonalmente as retas geradoras) ou perfil de
evolvente e é baseado na teoria de cames e tem a razão de velocidades
mantida.
A Figura abaixo apresenta dois cames em contato com perfil de evolvente.
Fonte: Budynas e Nisbett (2016, p. 658)
NOMENCLATURA
NOMENCLATURA
Equação de flexão de Lewis
Aplica-se diretamente da equação de Lewis, precisamos entender que vamos aplicá-
la visando uma análise sobre flexão.

A falha por flexão ocorrerá quando a tensão significativa do dente ( 𝜎 ) for igual ou
exceder à resistência ao escoamento ou ao limite de resistência à fadiga por flexão.

Também nos estudos a seguir vamos simplificar as análises somente para dentes com
profundidade nominal (sem correções) e um único ângulo de pressão.

Com isso, vamos reduzir a necessidade de apresentarmos várias tabelas, mas sem
prejuízo do aprendizado.

A dedução da equação de Lewis baseia-se na Figura abaixo que apresenta a


nomenclatura básica.
Nomenclatura para equação de Lewis
Assim, temos duas formas de apresentar a
equação de Lewis no sistema métrico:

A equação de Lewis para passo diametral é:


Tabela 1.2 Valores do fator de forma Y de Lewis (Esses valores são para um ângulo de
pressão normal de 20º, dentes de profundidade completa e um passo diametral unitário no
plano de rotação).

O uso dessa equação para


determinar Y significa que somente a
flexão do dente é considerada e que
a compressão devida à componente
radial de força é desconsiderada.
Valores de Y obtidos com essa
equação estão na Tabela 1.2.
DETALHE
Os fatores de velocidade ( Kv ), que são obtidos de equações específicas dependentes
do tipo de acabamento e material de fabricação da engrenagem,
Durabilidade superficial
Agora vamos focar na questão de falhas na superfície do dente de engrenagens que,
de forma geral, chamamos de desgaste. Da mesma forma que vimos em flexão, agora
a falha por desgaste superficial (𝜎c, chamada de tensão superficial de compressão)
também ocorrerá quando for igual ou maior do que a resistência à fadiga superficial
(que aparece em função da deflexão da superfície quando em contato com o outro
dente e sobre tensão).
Assim, podemos apresentar a equação que foi deduzida e adaptada da teoria de
Hertz, sendo:
Em que: 𝜈𝑝 = coeficiente de Poisson para engrenagem menor
e 𝜈𝐺 = coeficiente de Poisson para engrenagem maior, e Ep e
EG são as constantes elásticas das matérias da engrenagem
menor e maior, respectivamente, em Pa.
Esses valores de coeficiente de Poisson e os valores de
constante elástica são facilmente encontrados em diversos
livros sobre materiais e resistência de materiais e também na
obra Elementos de Máquinas de Shigley, de Budynas e
Nisbett.
Equações de tensões (AGMA)
A American Gear Manufacturers Associations (AGMA) contém uma metodologia de
cálculo de engrenagens muito utilizada no mundo inteiro e, por isso, vamos apresentá-
la aqui. Para que não haja muita confusão na simbologia, adaptaremos algumas às
que já estamos usando nesta unidade de ensino. As equações de tensão também são
duas, uma para flexão (𝜎) e outra para desgaste (𝜎c ), sendo:
Equações de resistência AGMA

Também aqui, nosso foco será nas tensões admissíveis para flexão (𝜎adm) e para
desgaste (𝜎c,adm). Assim, temos:

Para unidades inglesas (unidades SI), tem-se:


A tensão de flexão admissível é função ao tipo de material e tratamento térmico
empregado, assim, a Figura abaixo apresenta a tensão de flexão admissível por
dureza Brinell. Tensão de flexão admissível para aços endurecidos por completo
Tensão de flexão admissível para aços endurecidos por completo

Note que, na Figura ao lado, as unidades


estão em sistema americano e, para o sistema
SI, deve-se usar:
Agora para a tensão admissível de resistência à compressão (desgaste) (𝜎c,adm),
temos:

Em que, para unidades em sistema americano (unidades SI):


A tensão admissível de resistência ao desgaste também é função ao tipo de material
e tratamento térmico empregado. A Figura abaixo apresenta a tensão admissível de
resistência ao desgaste.

Note que, na Figura as unidades estão em


sistema americano e, para o sistema SI,
deve-se usar:
EXERCÍCIOS
1 engrenagem cilíndrica de dentes retos disponível em estoque possui um
Uma
módulo de 4 mm, uma face de 44 mm, 18 dentes e um ângulo de pressão de 20º
com dentes de profundidade completa. O material utilizado é aço AISI 1020, na
condição de laminação. Empregue um fator de projeto n, = 3,5 para avaliar a
potência de saída em cavalos da coroa correspondente à velocidade de 25 rev/s
e aplicações moderadas.
O termo aplicações moderadas parece implicar que a engrenagem pode ser
avaliada utilizando a resistência ao escoamento como um critério de falha. Na
Tabela A-18 encontramos que Sut = 379 MPa e Sy = 206 MPa. Um fator de projeto
de 3,5 significa que a tensão de flexão admissível é 206/3,5 = 58,86 MPa. O
diâmetro primitivo (d) é Nm = 18(4) = 72mm, de forma que a velocidade na linha
primitiva é
V = 7dn = 7(0,072)25 =
5,65487
O fator de velocidade, da Equação (14-4b) é encontrado
como

A Tabela 1.2 nos dá o fator de forma como Y = 0,296 para 16 dentes. Agora arranjamos e
substituímos na Equação (14-7) como se segue:

𝑡 𝑚𝐹𝑌𝜎𝑎𝑑𝑚 0,004𝑥0.0044𝑥0,296𝑥58,9𝑥106
𝑊 = = = 159,23𝑁
𝐾𝑣 1,92703

ℎ𝑝 = 𝑊 𝑡 𝑥𝑉 = 159,23𝑥5,65 = 899,6 𝑊
EXERCÍCIOS 2
Uma engrenagem cilíndrica de dentes retos com um modulo = 3, uma face de 44 mm,
18 dentes, ângulo de pressão 20° e aço AISI 1030 será engrenada com uma outra de
50 dentes, em ferro fundido ASTM – 50, com uma carga tangencial de 1800 N. Vamos
calcular a tensão de falha superficial e comparar com a tensão do material da
engrenagem maior. Use as seguintes constantes elásticas para os materiais: Ep = 206
GPa, 𝜈𝑝 = 0,289 e EG = 105 Gpa e 𝜈𝐺 = 0,214, r1 = 9,23 mm e r2 = 25,31 mm para a
engrenagem menor e para a maior, respectivamente. Para F= 38mm e Kv =1,6 e
resistência a fadiga do ferro fundido em 575 MPa. Calculando:
Como conclusão, veja que a resistência à fadiga do ferro fundido é 578 MPa e,
portanto, é maior do que a tensão por falha de desgaste superficial calculada, que é
de 461,5 MPa. Assim, o projeto está adequado. Caso encontrássemos um valor da
tensão por falha de desgaste superficial maior do que a resistência por fadiga do
ferro fundido, deveríamos rever o projeto até que a condição inicial fosse atendida.
EXERCÍCIO 3

Um par de engrenagens de uma transmissão com cinco velocidades e, em especial,


um par engrenado que tem a função de transmitir torque no sentido da marcha à ré,
usando os conceitos das equações de Lewis e da metodologia da AGMA.
Dados do par de engrenagens: módulo = 5, face de 42 mm, z1 = 19 dentes, e z2 = 50
dentes, ângulo de pressão 20°, aço AISI 1020, na condição de laminação e dentes
fresados, velocidade 27 rps (rotações por segundo), diâmetro primitivo = 95 mm, V=
7,65 m/s, carga tangencial de 2000 N, Y = 0,314. Para o aço temos: Ep = 210 GPa,
𝜈𝑝 = 0,290. Considere r1 = 10,2 mm e r2 = 27,7 mm para o aço AISI 1020 temos a
resistência ao escoamento em 201 MPa e tensão de contato em 235 MPa.
Solução:
Equação de Lewis, para flexão:

Equação de Lewis, para desgaste:


Podemos concluir que o projeto está adequado ao critério de tensão de flexão, mas para a
tensão de contato, que é o critério para desgaste, não foi aprovado, significando que, se
usarmos estas engrenagens, teremos um desgaste superficial elevado.
EXERCÍCIO 4

Em uma oficina mecânica, foi encontrada uma engrenagem de dentes retos com um
dente quebrado em um redutor, e você foi contratado para
avaliar se existe um erro de projeto ou mesmo mau uso do sistema. Assim, podemos
nos perguntar: o que aconteceu no processo para apenas um dente da engrenagem
ter quebrado? Como isso pode ser avaliado?

Solução

Da engrenagem existente, foram obtidos os seguintes dados: material aço AISI 1050,
temperado e revenido com dureza Brinell de 235 HB e resistência ao escoamento de
717 MPa, módulo 4 mm, uma face de 40 mm, com 16 dentes (Y = 0,296), ângulo de
pressão de 20° e profundidade do dente completa. Observou-se também que a
velocidade é de 7 m/s e que o processo de fabricação e o perfil do dente retificado
apresentam uma força tangencial em 2000 N, de acordo com a especificação do
redutor.
Como foi encontrada uma engrenagem com dente quebrado, podemos concluir que a
tensão quanto à flexão foi ultrapassada e, assim, vamos usar a equação de Lewis,
para tensão de flexão.

Esta equação foi escolhida em função do perfil do dente ser retificado.

Podemos, então, concluir que, para a força tangencial de projeto, a tensão de flexão
de 51,52 MPa é muito menor do que a tensão de escoamento do material 717 MPa.
Assim, houve um excesso de força aplicada neste par de engrenagens, o que
provocou a falha. Logo, pode-se concluir que houve um mau uso do redutor.

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