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4 – A curva S-N

Como em outras propriedades mecânicas, as propriedades de


fadiga podem ser determinadas em ensaios de laboratório.

Um desenho esquemático do ensaio de flexão rotativa é mostrado


abaixo.

Figura 4.1 – Ensaio de flexão rotativa.


4 – A curva S-N

Um ensaio também usual é o de tração-compressão alternadas.

Vários corpos de prova são ensaiados. Aplica-se inicialmente uma


tensão em torno de 90% da tensão de ruptura estática e põe-se a girar,
contando o número de ciclos até a falha.

Após, outro corpo de prova idêntico é posto num nível de tensão um


pouco inferior e posto a girar até a falha. Isso ocorre sucessivamente em
tensões cada vez menores.
4 – A curva S-N

Os resultados são plotados em um diagrama, chamado de curva S-


N (tensão alternada versus logaritmo do número de ciclos para falha).

Figura 4.2 – Curva S-N de um metal ferroso.


4 – A curva S-N

Metais ferrosos, tendem a apresentar um patamar de tensão na


qual (e abaixo da qual) a vida é infinita. Aqui assumiremos vida infinita como
sendo aquela igual ou superior a 106 ciclos.

A tensão na qual ocorre esse patamar é chamada de Limite de


Fadiga e é uma propriedade do material.

Qualquer projeto em que se limite as tensões atuantes nos pontos


crítico ao valor do limite de fadiga, terá vida teoricamente infinita.
4 – A curva S-N

Metais não-ferrosos (alumínio, cobre, magnésio, etc.) geralmente


não apresentam um patamar de vida infinita.

Figura 4.3 – Curva S-N de um metal não-ferroso.


4 – A curva S-N

Nesse caso não se fala mais em limite de fadiga e sim em


Resistência à Fadiga, que deve sempre estar associada ao número de
ciclos para falha.

Essa é uma sutil diferença, mas que deve ser observada para que
não se cometam equívocos durante a vida profissional.

A dispersão nos resultados dos ensaios para obtenção das


propriedades de fadiga são extremamente altas.
4 – A curva S-N

Isso faz com que sejam necessários um grande número de corpos


de prova para um determinado nível de tensão, o que torna o ensaio muito
caro.

Além disso, o corpo de prova deve ser finamente preparado,


inclusive com polimento feito no sentido axial na região de aplicação da
tensão cíclica.
4 – A curva S-N

A figura seguinte mostra a geometria de um corpo de prova de


flexão rotativa.

Figura 4.4 – Geometria do corpo de prova do ensaio de flexão rotativa.


4 – A curva S-N

Figura 4.5 – Regiões de análise na curva S-N.


5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Para utilizar o limite de fadiga obtido em laboratório em uma


aplicação prática, ele deve ser corrigido.

Figura 5.1 – Comparação entre o limite de fadiga do corpo de prova e da peça.


5 – Fatores de correção do limite de fadiga

O limite de fadiga é a tensão abaixo da qual a peça terá vida


teoricamente infinita, ou seja, 106 ciclos ou mais. Ele á estimado como,

𝑆𝑒 = 𝑆′𝑒 𝑘𝑎 𝑘𝑏 𝑘𝑐 𝑘𝑑 𝑘𝑒 𝑘𝑓 (5)

𝑆′𝑒 é o limite de fadiga obtido em laboratório pelo ensaio de flexão


rotativa.

𝑘𝑎 , 𝑘𝑏 , 𝑘𝑐 , 𝑘𝑑 , 𝑘𝑒 e 𝑘𝑓 são os fatores de correção devido ao


acabamento, tamanho, confiabilidade, temperatura, concentração de
tensão e efeitos adversos, respectivamente.
5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Para aços que tenham 𝜎𝑢𝑡 menor do que 1400 MPa, 𝑆′𝑒 é
aproximado por,
𝑆′𝑒 = 0,5𝜎𝑢𝑡 (6)

Para aços que tenham 𝜎𝑢𝑡 maior do que 1400 MPa, 𝑆′𝑒 é
aproximado por,

𝑆′𝑒 = 700 𝑀𝑃𝑎 (7)

Para metais não ferrosos, tais como o cobre e o alumínio, 𝑆′𝑒 é


aproximado por,
𝑆′𝑒 = 0,4𝜎𝑢𝑡 (8)
5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Fator de Superfície 𝒌𝒂

Leva em consideração o acabamento superficial da peça obtido


durante o processo de fabricação.

Figura 5.2 - Fator de superfície 𝑘𝑎 .


5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Alternativamente, 𝑘𝑎 pode ser calculado pela equação,

𝑏
𝑘𝑎 = 𝑎𝜎𝑢𝑡 (9)

onde “a” e “b” são retirados da tabela abaixo:

Tabela I – Constantes para cálculo de 𝑘𝑎 .


Acabamento superficial Fator a Expoente b
𝜎𝑢𝑡 , kpsi 𝜎𝑢𝑡 , MPa
Retificado 1,34 1,58 -0,085
Usinado ou laminado a frio 2,70 4,51 -0,265
Laminado a quente 14,4 57,7 -0,718
Forjado 39,9 272 -0,995
5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Fator de Tamanho 𝒌𝒃
A tensão limite de resistência à fadiga diminui com o aumento do
diâmetro. Essa redução é considerada pelo fator de tamanho 𝑘𝑏
representado na figura abaixo. Quando não há flexão, 𝑘𝑏 = 1.

Figura 5.3 - Fator de tamanho 𝑘𝑏 .


5 – Fatores de correção do limite de fadiga

𝑘𝑏 pode também ser determinado pela seguinte equação,

𝑑Τ7,62 −0,107 2,79 ≤ 𝑑 ≤ 51 𝑚𝑚 (10)


𝑘𝑏 = ൝
1,51𝑑 −0,157 51 ≤ 𝑑 ≤ 254 𝑚𝑚
5 – Fatores de correção do limite de fadiga
Fator de Confiabilidade 𝒌𝒄
Define a confiabilidade de que a peça não falhe por fadiga, na vida
considerada. Considerando uma distribuição normal, o fator de
confiabilidade 𝑘𝑐 pode ser obtido da tabela seguinte.
Tabela II – Fatores de confiabilidade 𝑘𝑐 .
Confiabilidade [%] Fator de Confiabilidade
50 1.000
90 0.897
95 0.868
99 0.814
99.9 0.753
99.99 0.702
99.999 0.659
99.9999 0.620
99.99999 0.584
99.999999 0.551
99.9999999 0.520
5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Efeito da Temperatura 𝒌𝒅

Uma estimativa do efeito da temperatura pode ser feita pela


equação,

344
𝑘𝑑 = (11)
𝑇𝑝𝑒ç𝑎

onde 𝑇𝑝𝑒ç𝑎 é a máxima temperatura de trabalho da peça, em Kelvin. Note


que um ∆𝑇 de 46 K é considerado normal, já que 𝑇𝑝𝑒ç𝑎 deve ser no mínimo
298 + 46 = 344 K, o que resulta em 𝑘𝑑 = 1.
5 – Fatores de correção do limite de fadiga
Efeito da Concentração de Tensão 𝒌𝒆

Este fator é um número maior ou igual a 1. Assim, o fator de


concentração de tensão 𝑘𝑒 para redução do limite de resistência à fadiga
pode ser escrito como,
1
𝑘𝑒 = (12)
𝑘𝑓

Pode-se utilizar a seguinte expressão para cálculo do coeficiente


prático de concentração de tensão:

𝑘𝑓 = 1 + 𝑞 𝑘𝑡 − 1 (13)
𝑞 = fator de sensibilidade ao entalhe
𝑘𝑡 = fator de concentração de tensão estático
5 – Fatores de correção do limite de fadiga
As figuras seguintes mostram os fatores de sensibilidade ao entalhe
em função do raio de concordância, tipo de carregamento e para alguns
materiais.

Figura 5.4 - Fator de sensibilidade ao entalhe para flexão e tração reversa. Para r > 4 mm
utilizar o valor de r = 4 mm.
5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Figura 5.5 - Fator de sensibilidade ao entalhe para torção reversa. Para r > 4 mm utilizar o
valor de r = 4 mm.
5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Deve-se observar que o ferro fundido é um material com pouca


sensibilidade ao entalhe e nesse caso adota-se um valor de 𝑞 = 0,2 como
recomendação de projeto com tais materiais.

Figura 5.6 – Condição típica de montagem de rolamentos em eixos.


5 – Fatores de correção do limite de fadiga

A figura 5.6 mostra a condição típica de montagem do rolamentos


em eixos. As relações importantes para concentração de tensão são 𝐷 Τ𝑑 e
𝑟Τ𝑑.

Os valores geralmente situam-se nas faixas 1,2 ≤ 𝐷 Τ𝑑 ≤ 1,5 e


0,02 ≤ 𝑟Τ𝑑 ≤ 0,06 para os rolamentos. Note que essa relação nos eixos é
maior.

Nas figuras seguintes são mostrados os fatores de concentração de


tensão para tração, flexão e torção em eixos.
5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Figura 5.7 – Fator de concentração de tensão para eixos em tração.


5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Figura 5.8 – Fator de concentração de tensão para eixos em flexão.


5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Figura 5.9 – Fator de concentração de tensão para eixos em torção.


5 – Fatores de correção do limite de fadiga

A literatura apresenta ainda outros fatores de concentração de


tensão para uso quando necessário.

Tabela III – Outros fatores de concentração de tensão.


5 – Fatores de correção do limite de fadiga
Outra situação comum é o uso de furos para inserção de pinos que
servem para transmitir torques, forças axiais ou para posicionamento.

Figura 5.10 – Fator de concentração de tensão para furos em eixos em torção.


5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Figura 5.11 – Fator de concentração de tensão para furos em eixos em flexão.


5 – Fatores de correção do limite de fadiga
Finalmente, usam-se em várias situações entalhes circulares, cujos
fatores de concentração de tensão são mostrados a seguir.

Figura 5.12 – Fator de concentração de tensão para entalhes em eixos em tração.


5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Figura 5.13 – Fator de concentração de tensão para entalhes em eixos em flexão.


5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Figura 5.14 – Fator de concentração de tensão para entalhes em eixos em torção.


5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Quando o carregamento é simples, é usual reduzir o limite de


fadiga do espécime sem entalhe por 𝑘𝑒 .

O que fazer quando existe um carregamento combinado com


diferentes fatores de concentração de tensão?
5 – Fatores de correção do limite de fadiga

Fator de Efeitos Adversos 𝒌𝒇

Este fator é um lembrete de que podem existir ainda outros fatores


que afetam o limite de resistência à fadiga da peça.

• Tensões residuais de tração na superfície da peça pioram o limite de


resistência à fadiga. Tensões superficiais de compressão tendem a
aumentar este limite.
• Peças que operam em ambientes corrosivos têm a resistência à fadiga
diminuída.
• Revestimentos metálicos, como cromagem ou revestimento de cádmio,
reduzem o limite de resistência á fadiga em até 35%.

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