Você está na página 1de 121

imagens humanas

JOÃO ROBERTO RIPPER

1
imagens humanas
JOÃO ROBERTO RIPPER
imagens humanas
JOÃO ROBERTO RIPPER

Ripper, João Roberto

Imagens humanas / João Roberto Ripper; organizadores: Dante Gastaldoni e Ma-


riana Marinho; textos de Carlos Walter... [et al.];tradução: James Mulholland. —
Rio de Janeiro: Dona Rosa Produções Artísticas, 2009.
240 p. : il.

Textos em português e inglês.


ISBN 978 - 85 - 62975 - 00 - 4

1. Fotografia de pessoas.
2. Brasileiros – Fotografias.
3. Brasileiros – Condições sociais – Fotografias.
4. Retratos.

I. Gastaldoni, Dante. II. Marinho, Mariana. III. Título.

CDD – 778.92
Fotos Photos
João Roberto Ripper

Textos Texts
Carlos Walter
Dante Gastaldoni
Emir Sader
Mariana Marinho

Coordenação Editorial Editorial coordination


Dante Gastaldoni / Mariana Marinho

Pesquisa de fotos no acervo Photography archives research


Elisangela Leite da Cruz e Ingrid Cristina Pereira

Produção Production
Marcela Sá
Investir em Cultura, em todas as suas linguagens e expressões, tem sido uma importante fonte
Assistente de Produção Production assistant
Helena Marinho
de parceria entre as empresas e os artistas; agentes responsáveis por escrever diariamente uma história
estética do nosso tempo. Uma parceria em que a cultura segue fortalecida pela possibilidade de ser
Revisão Revision viabilizada em escala ampliada.
Laura Figueira A responsabilidade cultural das empresas expressa-se não apenas no investimento privado na
promoção das culturas, mas também, e principalmente, no engajamento com a sociedade em prol de sua
Tradução English translation
James Mulholland sustentabilidade, promovendo o registro da memória de seus hábitos e, principalmente, de suas ideias.
A Souza Cruz demonstra o seu compromisso com a cultura brasileira, ao participar do projeto
Marketing Cultural Cultural marketing Imagens Humanas, captado com brilhantismo pela lente de João Roberto Ripper.
Xênia D’Avila

Investing in culture, in all its varied forms of language and expressions, is an important source of partnership
Coordenação Gráfica Graphic coordination
Dona Rosa Produções / Mariana Marinho between companies and artists, who are the agents responsible for registering each day the aesthetic history of our
era. This partnership strengthens culture by making projects feasible on a broader scale.
Projeto Gráfico Graphic design The cultural responsibility of corporations is expressed not only through private investment in promoting
Clarice Soter + Eneida Déchery the various forms of culture, but also and mainly through engaging with society for the sake of its sustainability by
promoting the register of the memory of its habits, and especially of its ideas.
Tratamento de imagem Treatment of image
Souza Cruz demonstrates its commitment to Brazilian culture by participating in the Human Images project,
Eneida Déchery
so brilliantly captured in the lens of João Roberto Ripper.
Produção Gráfica Graphic production
Caio Fábio Machado Souza Cruz
Impressão em CTP CTP printing
Burti Gráficos

Apoio Sponsor
Ao patrocinar a edição de Imagens Humanas, a Oi - uma das maiores investidoras brasileiras
na área cultural -, reafirma seu apoio a projetos que estimulam a reflexão e traduzem as tendências
artísticasde um novo século, onde a fotografia sobrevive e se renova, ao lado do vertiginoso avanço da
tecnologia, de virtualidade e da integração das novas mídias. Assim como a Oi, que está em todo o Brasil,
a obra de Ripper documenta a existência de um Brasil intensamente ligado a suas raízes. De um Brasil de
pessoas que protagonizam, no dia a dia, suas próprias histórias.

Copyright © 2009, Dona Rosa Produções Copyright © 2009, Dona Rosa Produções By sponsoring the edition of Human Images, Oi - one of the Brazilian corporations that most invest in the area
Copyright de fotos © 2009 João Roberto Ripper Photography copyright © 2009 João Roberto Ripper of culture – reaffirms its support for projects that stimulate reflection and translate the artistic trends of this new
É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa Total or partial reproduction is forbidden without the century in which photography survives and is revived amidst the dizzying advance of technology, virtual reality and the
anuência dos autores. express authorization of the authors.
introduction of new media.
Todos os direitos protegidos pela Lei 9610, de 19/02/1998, All rights protected by Law 9610, dated 19/02/1998, Just like Oi, which covers the whole of Brazil, Ripper’s work documents the existence of a country that is
e reservados à: and reserved by: intensely attached to its roots. A Brazil peopled by protagonists who each and every day write their own history .
Dona Rosa Produções Dona Rosa Produções
Cel.: (21) 9766-6829 Cel.: (21) 9766-6829
contato@donarosafilmes.com.br contato@donarosafilmes.com.br oi
Percebi que o prazer de realizar este livro não é apenas acolher a beleza das imagens, mas o silêncio
feroz que transmitem. Com todos os seus ruídos incômodos de desespero, a fala mansa da sensualidade
e os gritos do belo.

Now I realize that the pleasure of working on this book is enjoying not only the beauty of the images but also the
ferocious silence that they convey. Through all their troubling noises of despair, we hear the soft voice of sensuality, we
perceive how beauty cries out.

Mariana Marinho

9
A fotografia cruzou todo o século XX sob a ameaça da sua superação e até Photography crossed the 20th century threatened with being left be-
mesmo extinção, com a aparição e generalização do cinema, primeiramente, da tele- hind and even made extinct with the appearance and widespread popularity
first of the cinema and then television and all its by-products. Nonetheless,
visão – e todos seus subprodutos – depois. No entanto, a magia da fixação de momen-
the magic of fixing moments by projecting faces, gestures and situations, plus
tos, com a projeção de fisionomias, de gestos, de situações, além da perícia de gran-
the expertise of great artists, allowed photography to enter the 21st century
des artistas, permitiu que a fotografia entrasse no século XXI com o vigor renovado da
with its capacity to transmit reality and humanity endowed with new vigor.
sua capacidade de transmitir realidade e humanidade. How else to understand that the image most seen throughout the
Como entender, de outra maneira, que a imagem mais vista no mundo, é a de world is a simple photo that caught a certain moment filled with meaning –
uma foto singela, que fixou um momento determinado, cheio de significado, como a the picture of Che Guevara made universal? The image that travels the world
foto universalizada do Che? A imagem que percorre o mundo milhares de vezes todos thousands of times every day fixes a face that conveys integrity of character,
os dias fixa a fisionomia da inteireza de caráter, da indignação, da dureza e da ternura indignation, hardness and tenderness, all of this synthesized in an incompa-
rable image of our time.
sintetizadas em uma imagem insuperável do nosso tempo.
In the era of images, the Brazil projected in people’s imagination is not
Na era das imagens, o Brasil projetado no imaginário das pessoas não o é país
the country that actually exists, but rather the country shown in soap operas.
realmente existente, é o das telenovelas. Há regiões e espaços privilegiados – os Jar- There are privileged regions and spaces – the Jardins neighborhood in São
dins, em São Paulo, a Zona Sul do Rio -, mas o Brasil do cotidiano não existe. Paulo and the South Side of Rio – but everyday Brazil does not exist.
Nesse imaginário virtual ninguém trabalha, os sofrimentos são apenas amo- In this virtual imagination, no-one works, what little suffering there is
rosos, não há relações sociais, nem relações de poder, nem classes, conflitos cole- has to do with love affairs, there are no social relations, no power relations,
tivos, ideologia. São indivíduos soltos no mundo, conforme a utopia liberal, relacio- or classes, collective conflicts, ideology. Just individuals drifting loose in the
nando-se entre si. world - in keeping with the liberal utopia – and relating only to one another.
This is the society projected by television directly on the imagination of
EMIR SADER É a sociedade projetada pela televisão diretamente no imaginário das casas
people´s homes, the counterpoint of the life they really lead. There are social
Sociólogo e cientista político formado pela USP, Emir Simão Sader é das pessoas, o contraponto da vida que realmente levam. Há diferenças sociais, mas
differences, but no class interests; there are conflicts, but no contradictions;
um dos organizadores do Fórum Social Mundial e dirige o Laborató- não interesses de classe. Há conflitos, mas não contradições, há pessoas, mas não there are people, but no classes. There is no repression, no eviction, no hoes,
rio de Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, classes. Não há repressão, não há desalojo, não há enxadas, fornos, crianças traba- no kilns, no children working, no street population, no people abandoned by
onde atua como professor de Sociologia. lhando, população de rua, pessoas abandonadas, filas em hospitais. Há riqueza, mas their families, no lines at hospitals. Wealth there is, but there is no misery; fiction
não miséria, há ficção, mas não realidade, há estúdios, mas não país. there is, but no reality; there are studio apartments, but there is no country.
Esse Brasil invade não apenas o imaginário das pessoas, mas também o cine- This Brazil invades not only people ´s imagination, but also the cinema
Sociologist and political scientist graduated from the University of São Paulo,
and the press in general, quite alien to the Brazil that really exists. This real
Emir Simão Sader is one of the organizers of the World Social Forum and di- ma, a imprensa em geral, alheios ao Brasil realmente existente. Este é resgatado pela
Brazil is rescued by photography, and most notably by alternative photogra-
rector of the Public Policies Laboratory at the Rio de Janeiro State University, fotografia, especialmente por fotógrafos alternativos – em que a expressão alternativa
phers – here the expression alternative has an unusual meaning, because in
where he teaches Sociology. tem um sentido estranho, porque na verdade se trata do Brasil real. fact this is the true Brazil.
Ripper é a melhor expressão do resgate da fotografia para que os brasileiros Ripper is the best example of photography being rescued so that Brazilians
possam resgatar o país realmente existente. Como fotógrafo apegado aos brasileiros can reclaim the country that really exists. As a photographer attached to Brazilians
– as crianças, as mulheres, os idosos, os trabalhadores – no seu cotidiano: sofrendo, – children, women, the elderly, the workers – in their everyday lives, suffering, smil-
sorrindo, brincando, vivendo. Nas fábricas, nos assentamentos, nas ruas, nas praças, ing, playing, living. In the factories, farming settlements, streets, squares, slums,
nas favelas, nos casebres – onde realmente vive a grande maioria dos brasileiros. hovels – there where the great majority of Brazilians really lead their lives.
Here we see Indians, miners, poor children at play and at work, fisher-
Aí estão os indígenas, os mineiros, as crianças pobres brincando e trabalhando,
men, the landless in their camps, settled farmers and two schools and their
os pescadores, os sem-terra acampados, os assentados e duas escolas e suas mar-
marches and struggles, the street population scavenging in rubbish, families
chas e suas lutas, as populações de rua catando lixo, as famílias enterrando a seus burying their dead. In short, the long-suffering life of each and every day in
mortos. Enfim, a vida diária e sofrida dos brasileiros, que as fotos de Ripper permitem Brazil as photographed by Ripper to enable us to become familiar with it so
que conheçamos, que não desapareçam da nossa visão, do nosso imaginário e das that it doesn’t vanish from our vision, from our imagination and our key con-
nossas preocupações centrais, soterradas pelo vendaval mediático. cerns, all buried deep by the windstorm of the media.
Dizer que Ripper é um fotógrafo, é redutivo. Dizer que ele é um militante, é reduti- To say that Ripper is a photographer is to say little. To say that he is a
militant is to say even less. Ripper is a Brazilian, a humanist. His work is the
vo. Ripper é um brasileiro, um humanista. Sua obra é o melhor patrimônio fotográfico do
best photographic heritage of the real Brazil. But part of his work lies in his
Brasil real. Mas faz parte da sua obra sua capacidade de retratar as lutas dos movimen-
capacity to portray the struggles of Brazil’s popular movements. He belongs
tos populares brasileiros. Faz parte a formação de fotógrafos que multipliquem a capa- to the team of photographers who make militants of the popular movements
cidade dos militantes dos movimentos populares para retratar seu próprio mundo, more capable of portraying their own world.
Com tudo isso, Ripper já inscreveu seu nome entre os grandes brasileiros do It is thanks to all these qualities that Ripper’s name has already been
século XXI. written among the great Brazilians of the 21st century.

11
CARLOS WALTER As máquinas de fotografar são, como o nome diz, registros de luz. Grafam a Photography machines, as the name says, are registers of light. They
Carlos Walter Porto-Gonçalves é professor de Geografia Social na luz. A luz (foto) é algo mais do que o que vem do Sol. É interação entre o Sol e nós em spell out the light. Light (the photograph) is something more than what co-
Universidade Federal Fluminense, atuando como pesquisador do vários sentidos. É verde: “Luz do Sol/ Que a planta traga e traduz/ em verde novo”... mes from the sun. It is the many forms of interaction between the sun and us.
It is green: “Light of the sun / that plants swallow and transform / into a new
CNPq e do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais. Em 2008, enquanto fotossíntese que o poeta criativamente registra e que nos alimenta o espírito
green”... like the photosynthesis creatively registered by the poet to nourish
recebeu o prêmio Casa de las Américas, Cuba. e é energia do prato de comida que os agricultores criativamente nos dão. Vivemos
our spirit and like the energy of the plate of food that the farmer just as crea-
um mundo onde o fetiche das máquinas esconde o fato de que não há máquina sem tively offers us. We live in a world where the fetish of machines hides the fact
Carlos Walter Porto-Gonçalves is a professor of Social Geography at the Flu- sujeito que as tenham intencionalmente moldado. Assim, embora as máquinas de fo- that all of them have been intentionally made by someone, by some subject.
minense Federal University and researcher at the National Research Council tografar sejam chamadas de objetivas, elas só existem por meio de quem clica, de So, although photography machines are called objective, they only exist by
and the Latin American Council for Social Sciences. In 2008 he received the
quem mira. Enfim, interação objetividade/subjetividade. As máquinas de fotografar virtue of someone who focuses and presses the button. In short, the interac-
Casa de las Américas prize awarded in Cuba.
não retratam o mundo. Elas criam mundos de significação, a única maneira de os hu- tion between object and subject. Photography machines do not portray the
manos existirem. Somos seres que só existimos por meio de signos, de significação. world. They create worlds of significance, the only way for human beings to
Nenhuma imagem pode conter o mundo na sua mundanidade. O mundo sempre é exist. We are creatures who exist only by means of signs, significance. No
image can contain the world in all its worldness. The world is always more
mais do que a representação que dele se faz. Sempre é possível representá-lo de outra
than the representation that is made of it. It is always possible to represent
maneira, de outro ângulo. Enfim, as imagens nunca são neutras, são sempre posicio-
it in another way, from another angle. In fact, images are never neutral, they
nadas. Há que se ajeitar o corpo para se encontrar o ponto de luz e, assim, criar novos
always adopt a position. The body has to be turned in order to find the correct
mundos de significação. point of light so as to create new worlds of significance.
Assim é Ripper. Um fotógrafo que busca um outro mundo, distinto das ima- That is how it is with Ripper. A photographer who looks for another
gens que só vêem bala perdida quando elas não acham um pobre-quase-sempre- world, one different from the images that see nothing but stray bullets or else
negro-morador-da-periferia. Ripper se aproxima das periferias sociais estejam elas some poor, almost always black man who lives out in the outskirts of town. Ri-
no centro das Marés-da-Vida, estejam nas carvoarias onde índios-mulheres-negros- pper goes out to the periphery of society, be it right in the middle of some Maré
crianças preparam o ferro-gusa das usinas privatizadas que exportam para proveito slum or in some charcoal kiln where Indians and women and Negroes and chil-
dren prepare the pig-iron of the privatized mills that export for the benefit of the
do primeiro mundo e nos deixam rejeitos, e não só de poluição. E, ainda ali, Ripper
First World and leave us the dross, and not just the dross of pollution. And even
ajeita o corpo, sente a luz, e nos revela, depois de suavizá-la, o brilho de um olhar
there Ripper adjusts the body, feels the light, softens it, and then reveals to us
que teima em sonhar com outro mundo. São fotos com histórias. Sua imagem traz o
the shine in an eye that stubbornly dreams of another world. These photos tell
seu gosto pelas pessoas que estão nas fotos. Nos convida a criar mundos com esses stories. Their image reveals his love for the people in the photos. He invites us
outros que nos dão vida. to create worlds through these others that give us life.
Eis Ripper, um fotógrafo que não só fotografa mas sabe que fotografar é dar luz This is Ripper, a photographer who not only photographs but knows
a novos mundos. that to photograph is to shed light on new worlds.

13
DANTE GASTALDONI
É professor de Fotojornalismo na Universidade Federal Fluminense e João Roberto Ripper Barbosa Cordeiro foi o segundo dos sete filhos de seu João Roberto Ripper Barbosa Cordeiro was the second of the seven
Thomaz Edson Barbosa Cordeiro, um cearense forte e romântico, que veio para o Rio children born to Thomaz Edson Barbosa Cordeiro, a strong, romantic man
na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Desde 2005, atua como
from the Northern State of Ceará who came down to Rio de Janeiro on a
coordenador acadêmico da Escola de Fotógrafos Populares, na Fave- de Janeiro num pau de arara, e de dona Maria Dinah Ripper Cordeiro, uma carioca bai-
truckload of immigrant workers, and Maria Dinah Ripper Cordeiro, a short,
la da Maré, Rio de Janeiro. xinha, magrinha, sempre preocupada em ajudar aos outros. A eles, o fotógrafo atribui
thin Carioca always concerned with helping others. The photographer at-
uma forte influência em sua temática humanista: “Tanto a minha mãe, pela generosi- tributes to them a deep influence in the humanistic themes of his work:
Professor of Photojournalism at the Fluminense Federal University and the Rio dade, como o meu pai, pela sua paixão, influenciaram o meu trabalho. Hoje, quando eu “Both my mother, through her generosity, and my father, through his pas-
de Janeiro Federal University, since 2005 he has worked as academic coordina- fotografo as pessoas, eu procuro ver o afeto, a beleza e a sensualidade de cada uma sion, have influenced my work. When I photograph people today, I try to
tor at the School of Popular Photographers in the Maré slum in Rio de Janeiro. see the affection, the beauty, the sensuality in each one of them... In fact,
delas. Enfim, acho que esses princípios, de respeito ao outro, de solidariedade, estão
ainda hoje muito presentes em mim”. I think that these principles of respect and sympathy for others have re-
mained very much with me.”
Seja por obra do acaso, seja por uma simples questão de coerência, esse jo-
Whether by chance or simply as a question of coherence, this young
vem carioca, morador da Tijuca e torcedor do Vasco da Gama, acabou ingressando Carioca, who lives in Tijuca and supports the Vasco da Gama football team,
no mundo da fotografia justamente pela porta da solidariedade. Foi quando cursa- ended up joining the world of photography precisely because of solidarity.
va o ensino médio na Escola Hélio Alonso e questionou seu professor de Português This was when he was at Hélio Alonso High School and one day questioned
sobre a interpretação de uma poesia de Camões, sendo maciçamente vaiado pela his Portuguese teacher about the interpretation of a poem by Camões and
turma, até que um único colega solidarizou-se com ele: era o fotógrafo Júlio César was booed by the whole class. Only one classmate took his side: photog-
rapher Júlio César Pereira. To this day his friend, it was Júlio César who
Pereira, até hoje seu amigo, com quem Ripper aprendeu os rudimentos da lingua-
taught Ripper the ins and outs of the language of photography.
gem fotográfica.
In 1974, at the age of 19, he began to work as a photo-journalist in the
Em 1974, aos 19 anos, começou a trabalhar como fotojornalista na Luta Demo- Luta Democrática newspaper, then went to the Diário de Notícias and the
crática, passando pelo Diário de Notícias e pela sucursal carioca do jornal O Estado de Rio branch of the O Estado de São Paulo. He reached the Última Hora two
São Paulo, até chegar, dois anos depois, ao jornal Última Hora, onde permaneceu por years later and stayed for about four years, before spending some time in
cerca de quatro anos. Na sequência, teve uma breve passagem pelo jornal Hora do the Hora do Povo, which he left to remain for five years in the O Globo.
Throughout the period that he worked in the so-called large press,
Povo, de onde saiu para fixar-se, pelos próximos cinco anos, no jornal O Globo.
Ripper improved not only his photography but also his combativeness. The
Ao longo desse período em que militou na chamada grande imprensa, Ripper
intransigent defense of his political convictions cost him endless retalia-
não apenas aprimorou sua fotografia, como sua combatividade. A intransigente de- tions during the 1980s, when he led a movement to valorize the profession
fesa de suas convicções políticas custou-lhe um sem-número de retaliações durante of photographer-reporter by demanding credit for photographs, approv-
a década de 1980, quando liderou um movimento pela valorização da profissão do al of a table of minimum prices, and the fight for freedom of expression

14 15
repórter fotográfico, por meio da exigência de crédito nas fotografias, da aprovação (1982/83). He became directly involved in mobilizing his colleagues to Com suas fotografias expostas em revistas, livros e em diversas mostras na- popular photographers, who have inherited from Master Ripper the tal-
de uma tabela de preços mínimos e da luta pela liberdade de expressão (1982/83), en- document the Direct Elections Now! movement (1984), when millions of cionais e internacionais, esses jovens fotógrafos populares, que herdaram de Mestre ent, the obstinacy and the dream of a more just and fraternal Brazil,
volvendo-se diretamente na mobilização da categoria para a documentação da cam- Brazilians took to the streets to call for an end to military government – al- Ripper o talento, a obstinação e o sonho de um Brasil mais fraterno e justo, conquis- were awarded the prize Faz Diferença (It makes a difference), offered
ready in place for 20 years – and to demand direct elections for President by the O Globo newspaper. On that occasion, the photographers from
panha pelas Diretas Já (1984), quando milhões de brasileiros foram às ruas clamando taram, em março de 2008, o prêmio Faz Diferença, oferecido pelo jornal O Globo. Na
of the Republic. the slum could hardly conceal their euphoria in the Golden Room of
pelo fim do regime militar – que já se alongava por 20 anos – e pelas eleições diretas ocasião, foi com uma indisfarçável euforia que os fotógrafos da favela ocuparam o
Shortly after that, feeling that his position was incompatible with the Copacabana Palace Hotel, where they received their prize stand-
para a presidência da república. the photographic coverage practiced by most of the major Brazilian Golden Room do Copacabana Palace, para receber seu prêmio, ao lado do fotógrafo ing beside photographer Sebastião Salgado, who was also awarded a
Pouco tempo depois, incompatibilizado com a cobertura fotográfica praticada newspapers, which he always considered to be “against the poor”, he Sebastião Salgado, premiado na mesma ocasião, por sua destacada atuação em de- prize for his remarkable contribution to the struggle on behalf of the
pela maioria dos principais jornais brasileiros, que ele sempre considerou “nociva à moved to the “legendary” F4 – arguably the most successful experi- fesa do meio ambiente. environment.
pobreza”, migrou para a “lendária” F4 – talvez a mais bem-sucedida experiência de ence of an independent photography agency in our country – where he E assim se passaram 35 anos de uma vida dedicada à fotografia, período em And thus were spent 35 years of a life dedicated to photography,
agência fotográfica independente em nosso país –, onde consolidou o aprendizado consolidated the apprenticeship necessary to start up Earth Images, a que João Roberto Ripper produziu um acervo de aproximadamente 150 mil imagens, a period in which João Roberto Ripper produced a collection of approxi-
documentation center notable for its remarkable work between 1991 and mately 150.000 images, most of them in film, and more specifically in
necessário para fundar o Imagens da Terra, um centro de documentação que teve a maior parte delas em película e, mais especificamente, em preto e branco. As cores
1999, a period in which Ripper photographed the peasants’ associations, black and white. The living colors of chrome appear in about 10% of this
destacada atuação entre 1991 e 1999, período em que Ripper fotografou as ligas cam- vivas do cromo comparecem com aproximadamente 10% desse total, quase sempre
Indian communities and slave labor in the backwaters of Brazil, almost total, nearly always presented in compositions of dense chromatic satura-
ponesas, os povos indígenas e o trabalho escravo nos confins do Brasil, quase sempre always in degrading conditions, and never denying the subjects of his
apresentadas em composições com densa saturação cromática, fruto dos tons fe- tion, the fruit of closed tones that express the author´s style so well. It was
em condições degradantes, sem nunca negar aos fotografados a dignidade que trans- photography the dignity that impregnates his portraits and life stories. chados que expressam o estilo do autor. Foi só nos últimos quatro anos que a imagem only in the last four years that digital image came upon the scene in Rip-
borda de seus retratos e histórias de vida. Essa peregrinação por locais recônditos e This pilgrimage through little known and insalubrious locations won him digital entrou em cena na obra de Ripper, menos por razões de ordem estética e, bem per’s work, less for aesthetic than for financial reasons. Film has become
insalubres rendeu ao fotógrafo quatro malárias e uma septicemia generalizada. four bouts of malaria and a generalized septicemia. mais, por questões financeiras. O filme ficou muito caro, os materiais de laboratório very expensive, laboratory materials are growing scarce, and the world is
Para o fotógrafo Antonio Augusto Fontes, “Ripper faz parte de uma tradição For photographer Antonio Augusto Fontes, “Ripper is part of a very estão escasseando e o mundo tem cada vez mais pressa. getting to be more and more in a hurry.
muito bonita, que os americanos chamam de concerned photographers, ou seja, fotó- fine tradition that the Americans call concerned photographers, those who Não obstante, na visão do fotógrafo e antropólogo Milton Guran, a questão do Nonetheless, in the opinion of photographer and anthropologist
have this idea of using the camera as an instrument of denunciation and Milton Guran, the question of equipment is of no relevance. For him,
grafos engajados, que têm essa ideia de usar a câmara como instrumento de denún- equipamento não é relevante. Para ele, “o que faz uma fotografia não é a técnica nem
social change”. As Antonio Augusto sees it, these photographers follow the “what makes a photograph isn’t the technique or the equipment, but
cia, de transformação social”. Na opinião de Antonio Augusto, são fotógrafos na linha o equipamento, mas sim o olhar daquele que fotografa”, E ao se debruçar sobre as
line of Jacob Riis, Lewis Hine, Eugene Smith and Sebastião Salgado, but he rather the photographer’s way of looking at things”. When he looks at
de Jacob Riis, Lewis Hine, Eugene Smith e do próprio Sebastião Salgado, mas Fon- notes some particularities in João Roberto Ripper’s humanistic approach: fotos de João Roberto Ripper, Guran sugere a chave para que possamos entender o João Roberto Ripper’s photos, Guran suggests the key to enable us to
tes vislumbra algumas particularidades na visão humanista de João Roberto Ripper: “One thing that impresses me in Ripper’s work is that I see no demagogu- valor político-pedagógico do legado deixado pelo fotógrafo, após 35 anos de estrada. understand the political-pedagogical value of the legacy left by the pho-
“Uma coisa que me impressiona no trabalho do Ripper é que eu não vejo demagogia ery in it, I can’t see a photographer capable of ever taking advantage of “Quando eu fico olhando as fotos do Ripper, vejo claramente o que faz dele um fotó- tographer after 35 years on the road. “When I look at Ripper’s pictures I
ali, não vejo um fotógrafo capaz de se aproveitar das pessoas para desenvolver o seu people to develop his work. There’s a sincerity in the way he looks at things grafo excepcional, o que faz dele uma referência e o que faz do trabalho dele uma obra see clearly what makes a photographer exceptional, what makes him a
trabalho. Ele tem uma sinceridade no olhar que é pouco comum nesse tipo de trabalho which is quite uncommon in this type of work, and you don’t see any of the tão imprescindível. Ocorre que há muita gente na nossa geração que tem o instrumen- reference and what makes his work so indispensable. So many people
generalized skepticism that you see in today’s photography, because deep in our generation happen to have the theoretical tools and the training
e não tem essa descrença generalizada que você vê hoje proliferar na fotografia de tal teórico e o treinamento para fotografar tão bem quanto o Ripper. Então, o que é que
down, Ripper is a humanist and he believes that things can change”. to photograph as well as Ripper. So what is it that he does to make his
hoje em dia, porque, no fundo, o Ripper é um humanista e ele acredita que as coisas faz com que as fotos dele sejam tão especiais? É simples, o que é especial nas fotos do
Earth Images was the first phase in a trilogy, followed by Human Im- photos so special? It’s simple, what is special in Ripper’s photos aren’t
podem mudar”. ages, the site where Ripper shows his personal work, and then comple-
Ripper, não são as fotos, é o Ripper. É ele que é especial”. the photos, it’s Ripper. It’s him that’s special!”
O Imagens da Terra foi a primeira fase de uma trilogia, secundada pela criação mented in 2004 by the creation of the agency-school Images of the People, Chega a ser surpreendente que um fotógrafo com tal reconhecimento, apenas It is even surprising that such a renowned photographer should
do Imagens Humanas, site onde Ripper expõe seu trabalho pessoal, e complementada, in the Maré slum, conceived to train popular photographers to a level of ex- agora esteja realizando a sua primeira mostra individual e lançando a densa antolo- only now be holding his first individual exhibit and launching the dense
em 2004, com a criação da agência-escola Imagens do Povo, na Favela da Maré, con- cellence that guarantees diplomas from the Fluminense Federal University gia fotográfica reunida neste livro, para marcar seus 35 anos de carreira. Sempre photographic anthology gathered together in this book to commemo-
cebida para formar fotógrafos populares com um nível de excelência que garante aos to those who graduate. This work on the periphery of Rio de Janeiro, ideo- voltado para os outros e omisso em relação a si próprio, João Roberto Ripper está rate 35 years of his career. Always dedicated to others and negligent of
formandos diplomas expedidos pela Universidade Federal Fluminense. Esse trabalho na logically and physically supported by the NGO Slum Watch, is based on sendo resgatado para o grande público graças ao trabalho incansável e visionário himself, João Roberto Ripper is being reclaimed for the general public
the presupposition that these young and talented photographers are the thanks to the tireless, visionary work of Mariana Marinho, of Dona Rosa
periferia carioca, ideológica e fisicamente amparado pela ONG Observatório de Favelas, de Mariana Marinho, da Dona Rosa Produções, que chegou até o fotógrafo de modo
ideal agents to document the history of their own communities by using Produções, who reached the photographer in an unusual way. When Rip-
parte do pressuposto de que esses jovens e talentosos fotógrafos são os agentes ideais inusitado. Convidado para fazer a direção de fotografia em um documentário ainda
an endogenous look capable of showing the slum beyond the stigmatizing per was invited to direct the photography in a still unedited documen-
para documentar a história de suas próprias comunidades, a partir de um olhar endóge- vision conveyed by the large press, which almost always associates these inédito sobre trabalho escravo, dirigido por Marco Abujamra e produzido pela Dona tary on slave labor directed by Marco Abujamra and produced by Dona
no, capaz de mostrar a favela para além da visão estigmatizante veiculada pela grande communities with violence and the drug traffic. Rosa, as fotografias de Ripper acabaram caindo diante dos olhos de Mariana, que se Rosa, his photographs ended up drawing the attention of Mariana, who
imprensa, quase sempre associada a violência e tráfico de drogas. For Raquel Willadino, coordinator of the human rights area of Slum emocionou com o material: “Quando eu vi as fotos do Ripper, percebi que aquelas was moved by the material. “When I saw Ripper’s pictures, I realized that
Raquel Willadino, coordenadora da vertente de Direitos Humanos do Obser- Watch, “new rights are built by working the dimension of the beauty, po- imagens iam muito além de uma linguagem documental, com forte acento de de- those images went far beyond documental language, with their power-
vatório de Favelas, observa que “a construção de novos direitos se faz trabalhando tential and positive qualities of these areas and these subjects who have núncia social. Aquelas fotografias eram, na verdade, obras de arte e, como tal, deve- ful voice of social denunciation. Those photographs were really works of
a dimensão da beleza, da potencialidade e da positividade desses territórios e des- historically been excluded and segregated”. She goes further in claiming riam ser expostas para o maior número possível de pessoas. E foi assim que resolvi art and as such should be exhibited to as many people as possible. And
that “the work developed by Ripper is a paradigmatic example in the field that’s how I decided to do the exhibit and the book”.
ses sujeitos que têm sido historicamente excluídos e segregados”. E Raquel vai além, fazer a exposição e o livro”.
of human rights, with unfoldings in the Maré School of Photography that As for me, I confess that Mariana, always so sure of herself, won
ao afirmar que “o trabalho desenvolvido por Ripper é um exemplo paradigmático no De minha parte, confesso que a Mariana, sempre muito segura de si, conquis-
have an incredible force in training new social subjects and in building my trust during one of our first meetings, when I caught her trying unsuc-
campo dos Direitos Humanos, cujos desdobramentos, por intermédio da Escola de new rights”. tou a minha confiança quando, durante uma das nossas primeiras reuniões, eu a sur- cessfully to conceal the tears trickling down her cheek behind her dark
Fotógrafos da Maré, têm uma força incrível na formação de novos sujeitos sociais e na With their photographs published in magazines, books and in preendi tentando, sem sucesso, disfarçar as lágrimas que teimavam em deslizar por glasses while looking at the 70 photos that we edited for the exhibit. Since
construção de novos direitos”. various national and international exhibits, in March 2008 these young baixo dos óculos escuros, diante das 70 fotos que tínhamos editado para a exposição. that meeting, we have already launched the exhibit Human Images –

16 17
De lá para cá, já lançamos a mostra Imagens Humanas –realizada de forma itinerante which traveled all over the country – and a catalogue with over 80 pages, foi uma experiência válida, serviu para desmistificar... Pude ver dois padres saindo na DG – From what I understand, it was your background that that led
pelo país –, um catálogo com mais de 80 páginas, participamos de diversos debates, besides participating in various debates, and here we are now with a book porrada... Vi o lado humano deles. you to make the socially excluded a priority in your photography...
e, eis-nos, por fim, diante do livro publicado. published. JRR – Yes. My mother, for instance, had some fantastic notions. She used
I have known Ripper since way way back and my admiration and to say, “Let pain have its own proper size”, explaining that we shouldn´t
Conheço Ripper desde a noite dos tempos e vem daí a minha admiração e o DG – Pelo que estou entendendo, foi seu histórico de vida que o levou a priori-
respect for his work dates from then, but our friendship has become let pain and anguish be any bigger than they are. And she would remind us
meu respeito por seu trabalho, mas a nossa amizade estreitou-se consideravelmente zar os excluídos em sua fotografia...
considerably closer over the last five years, since I accepted his invita- that when we judged people we should try to put ourselves in their place.
ao longo dos últimos cinco anos, quando atendi ao seu convite para trabalhar na Fave- tion to work in the Maré slum. In a certain way, this led to a turnabout JRR – Sim. A minha mãe, por exemplo, tinha uns questionamentos fantásticos. Ela As for my father, he always remained cool when faced with any problem.
la da Maré e isso, de certo modo, proporcionou uma cambalhota tanto em minha vida both in my personal and my academic life: I have had to redefine my dizia: ”Deixe que a dor tenha apenas o tamanho dela”, explicando que a gente não I think that both of them mark my work, this quest for equality, and for
pessoal, como na vida acadêmica. Fui obrigado a redefinir meus conceitos sobre a concepts about slums; I have won precious friends; and I have had the deveria deixar que a dor e a angústia fossem maiores do que são. E ela lembrava beauty and love at the same time.
favela, ganhei amigos preciosos e tive o privilégio de dar aulas para os mais talentosos privilege of giving classes to the most talented photographers I have que quando a gente fosse avaliar alguém deveria tentar se colocar no lugar dele. No matter how hard the context that I’m documenting, I always try
fotógrafos que conheci em 30 anos de magistério. known in 30 years of teaching. Já o meu pai sempre manteve a serenidade diante das adversidades. Acho que os to see the affection that links people to one another. So, both my mother,
I think that the interview below, the fruit of more than five hours of through her generosity, and my father, through his passion, have influ-
Acredito que a entrevista a seguir, fruto de mais de cinco horas de papo com o dois marcam o meu trabalho, nessa busca pela igualdade e, ao mesmo tempo, pela
chatting with “brother” Ripper on the 18th April and the 29th August 2009, enced my work. When I photograph people today, I try to see the affection,
mano Ripper, distribuídas entre os dias 18 de abril e 29 de agosto de 2009, permitirá beleza, pelo amor.
will allow the reader to know a little more of the story of an exceptional, the beauty, the sensuality in each one of them... In fact, I think that these
que os leitores conheçam um pouquinho melhor a história de um ser humano dife- combative and surprisingly shy human being who positions himself behind
Por mais difícil que seja o contexto que eu esteja documentando, sempre procu- principles of respect and sympathy for one another have remained very
renciado, combativo e surpreendentemente tímido, que se posiciona com inabalável the camera with unshakable coherence and moving idealism. ro ver a relação de afeto, de carinho, entre as pessoas. Assim, tanto a minha mãe, pela much with me.
coerência e comovente utopia por detrás do visor. generosidade, como o meu pai, pela sua paixão, influenciaram o meu trabalho. Hoje, To photograph is fundamentally to discover and recognize values.
DG – Ripper, how did photography come to be a part of your life? quando eu fotografo as pessoas, eu procuro ver o afeto, a beleza, a sensualidade de And for this to happen, the photographer has to strip off some of his or
DG – Ripper, como foi que a fotografia entrou em sua vida? JRR – At the time I was in high school – the Hélio Alonso College on Vinte cada uma delas... Enfim, acho que esses princípios, de respeito ao outro, de solidarie- her egocentricity, always wanting to be the center of attention, and al-
JRR – Eu cursava na época o antigo científico, atual ensino médio, na Escola Hé- e Quatro de Maio Street – when one day a Portuguese teacher that I liked dade, estão ainda hoje muito presentes em mim. low himself/herself to establish this relation of communion in which you
a lot gave us an interpretation of a poem by Camões. I had the nerve to learn from others. For me, this comes from the cradle, this wanting to see
lio Alonso, ali na Rua Vinte e Quatro de Maio, quando, num certo dia, um professor Fotografar é fundamentalmente descobrir, reconhecer valores. E, para isso, o
ask if there couldn´t perhaps be another way of seeing that text, different the good in each individual. I have a deep faith in people and this belief
de Português, de quem eu gostava muito, fez uma interpretação de uma poesia de fotógrafo precisa se despir um pouco do egocentrismo, de querer ser o centro das
from the version he had given us. When I defended my point of view, the makes us get involved more with others. Of course there are disappoint-
Camões. Tive então a ousadia de perguntar se não poderia haver outra maneira de whole class booed me. Just one person showed any sympathy and came atenções e se permitir estabelecer essa relação de comunhão, em que você aprende ments along the way. But I prefer not to distrust people, I try to change
interpretar aquele texto além daquela que ele havia feito. Ao defender meu ponto over to talk to me. And that person was a photographer - Júlio César com o outro. Para mim, isso vem de berço, querer ver o que cada indivíduo tem de the focus of what I am going to document. If I don’t photograph the work-
de vista, levei uma vaia da turma. Apenas uma pessoa foi solidária e veio conversar Pereira, who is still my friend. From then on I began to learn from him, he bom. Eu tenho uma grande fé nas pessoas e essa crença nos faz ter um envolvimento ers’ movement, I turn to the community movements, or to the peasant
comigo. E essa pessoa era justamente um fotógrafo: o Júlio César Pereira, até hoje even had a laboratory at home. maior com o outro. Claro que há decepções no meio desse caminho. Mas eu prefiro movements, to the former slaves’ communities (quilombolas), to those
meu amigo. A partir dali, comecei a aprender com ele, que, inclusive, tinha um labo- não desacreditar das pessoas, procuro mudar o foco do que vou documentar. Se eu who live on the outskirts...
DG – What themes first caught your attention?
ratório em casa. deixo de fotografar o movimento operário, eu me volto para os movimentos comuni-
JRR – I liked to take pictures of my family, and tried from the very begin- DG – Before we go into documental photography, tell us a little about
tários, eu me volto para os movimentos camponeses, para os quilombolas, para os
ning to photograph people in the street. I think that this interest of mine in the beginning of your professional life working in newspapers.
DG – Por quais temas você foi primeiramente atraído? other people´s lives was influenced by my family. My father, a big strong
moradores de periferia... JRR – Even before the newspapers, I had a brief experience as assis-
JRR – Gostava de fotografar minha família, e busquei, desde o início, fotografar pessoas man from Ceará who came down to Rio on a truckload of immigrants, and tant in a photography studio, the kind that takes 3x4 pictures, in Grajaú,
na rua. Acho que esse meu interesse em saber da vida das pessoas foi uma influência da my mother, a small, thin Carioca, somehow instilled in me the question DG – Antes da gente enveredar pela fotografia documental, fale um pouco so- where I learned the ins and outs of the laboratory and how to take pic-
minha família. Meu pai, um cearense muito forte, que veio para o Rio num pau de arara, of the other. My mother marked me with her concern for inequalities and bre o início da sua profissionalização, trabalhando nos jornais. tures. Unfortunately, I can’t remember the owner’s name, but his son
e a minha mãe, uma carioca baixinha, magrinha, de alguma maneira, me trouxeram a helping people, while my father marked me with his passion. He was very JRR – Antes mesmo dos jornais, tive uma pequena experiência como assistente also took pictures and I went with him to photograph weddings. I went
questão do outro. Minha mãe me marcou por sua preocupação com as desigualdades, much in love with my mother, even to the point of declaring his love for her em um estúdio fotográfico, desses de fotos 3x4, no Grajaú, em que pude aprender there after school, they paid me an allowance – that was an important
in public. When I was a boy, I attended Mass a lot with my mother and my part of my life.
em ajudar as pessoas, enquanto o meu pai me marcou por sua paixão. Ele era extre- a mexer com laboratório e a fotografar. Infelizmente, não lembro o nome do dono,
aunt Marília. One day I remember picking up the hat of a beggar who slept Then I went to photograph for the Luta Democrática newspaper. I
mamente apaixonado por minha mãe. A ponto de fazer declarações públicas. Quando mas o filho dele também fotografava e eu o acompanhava nas fotografias de casa-
at the church door – I thought it was a beautiful hat. When I put it on my began photographing and writing. I photographed street dwellers and re-
garoto, eu ia muito à missa com minha mãe e minha tia Marília. Lembro que num desses head, coins scattered all over the place! mento. Eu ia para lá quando voltava da escola, recebia uma ajuda de custo, e isso foi member that in my first month working there, we organized a Christmas
dias, peguei o chapéu de um mendigo que dormia na porta da igreja - achei o chapéu importante. campaign. I photographed the people and afterwards I returned the pic-
lindo. Quando o coloquei na cabeça, voaram moedas por tudo quanto é lado. DG – Did the beggar come chasing after you? Depois fui fotografar na Luta Democrática. Comecei fotografando e escrevendo. tures to them whenever I saw them again in the street. After that I went to
JRR – He had gone, poor man, and left his little hat there behind him. So Eu fotografava moradores de rua e lembro que no primeiro mês de trabalho, fizemos the Diário de Notícias newspaper, then the Rio branch of the Estadão, and
DG – E o mendigo? Veio correndo atrás de você? I had time to make things right, make sure that no-one was embarrassed. uma campanha de Natal. Eu fotografava as pessoas e depois devolvia as fotos para finally reached the Última Hora, where I stayed for about four years.
JRR – Ele havia saído, coitado, e tinha deixado o chapeuzinho dele lá. Daí que deu tem- But I also related closely with those people. I wondered how they man- elas, nos caminhos por onde passava. Depois, fui para o Diário de Notícias, passei pela
aged to stay happy, how they could smile. I think it was asking too much DG – How old were you when you joined the Última Hora?
po de ajeitar as coisas, para não criar uma situação constrangedora. Mas eu sempre sucursal carioca do Estadão, e cheguei à Última Hora, jornal onde fiquei por cerca de
for someone my age, so much so that when I was eight I ended up in a JRR – I think about 21, I was still pretty young. Next, I went from the ex-
tive uma relação de intimidade com essas pessoas. Perguntava a mim mesmo como quatro anos.
seminary. My father was against it, and now I realize how right he was. perience of working in a Leftist newspaper, the Hora do Povo, which I left
elas conseguiam ser alegres, como conseguiam sorrir. Acho que era uma cobrança Two years later, I was expelled. But it was a valid experience, it served to disappointed with the censorship, and went to O Globo, where I stayed for
excessiva para a minha idade, tanto que, aos oito anos, fui parar num seminário. Meu demystify things... Once I saw two priests punching the hell out of one an- DG – Com que idade você chegou à Última Hora? five years. The period between the Última Hora and the O Globo was a mo-
pai foi contra e hoje eu vejo que com toda a razão. Dois anos depois, fui expulso. Mas other... I had the chance to see their human side. JRR – Acho que com 21 anos, eu ainda era novo. Na sequência passei pela experiência ment of professional maturing, when I began to discuss ethical questions

18 19
de um jornal de esquerda, a Hora do Povo, do qual saí decepcionado com algumas relating to the work of a photographer. At that time there were no author´s só as massas, compactando o maior número de pessoas, evitando usar a grande- or at the first big march on Rio Branco Avenue, but at one of those big pop-
linhas de censura, e fui, então, para O Globo, onde fiquei por cinco anos. O período rights, no credits, no wage floor, no table of minimum fees, so we got our- angular, de mostrar detalhes. Foi uma estratégia para evitar dar ao jornal sequer ular demonstrations we agreed to take only the telephoto. The result was
entre a Última Hora e O Globo foi um momento de amadurecimento profissional, em selves involved in one terrific fight. uma possibilidade de veicular alguma imagem que não mostrasse a dimensão da that we only gave the newspaper photos of the crowds, and I remember
that they asked for all the pictures we had taken and there were only reg-
que comecei a discutir questões éticas relacionadas ao trabalho do fotógrafo. Era uma manifestação, do povo indo às ruas. Não sei se foi na passeata dos cem mil ou na
DG – Did this fight involve the union? isters of the multitude. That day O Globo was obliged to change the head-
época em que não havia direito autoral, não existia crédito, não havia piso salarial, não primeira grande marcha da Avenida Rio Branco, mas numa dessas grandes mani-
JRR – Yes, I was a member of the union and then I began to participate in lines, and from then on we started a discussion about the role of editing in
havia uma tabela de preços mínimos e nós entramos numa luta muito grande. Arfoc – the Association of Photographer Reporters, here in Rio. There was a festações populares, a gente combinou de levar só a tele. Resultado: só trouxemos the work of newspaper photographers.
movement to win over the direction of the association, which up to then was para a redação fotos da massa e eu lembro que o jornal pediu todas as imagens que In a certain way this was a bit rebellious for those days, when every-
DG – Esse período de luta a que você se refere foi por intermédio do sindicato? less politicized. For example, Arfoc promoted the “Miss Objective” beauty havíamos feito e só havia registros de multidão. Naquele dia, O Globo foi obrigado a thing was conducted from the perspective of preserving the status quo.
JRR – Sim, eu era sindicalizado e logo comecei a participar da Arfoc – Associação competition, and the year before I joined them, Xuxa was elected Miss Ob- mudar a manchete e, a partir daí, começamos uma discussão sobre o papel da edi- Except that at that time the struggles were different and journalists were
de Repórteres Fotográficos, aqui do Rio. Houve um movimento para conquistarmos jective. When we took over the direction, we spent a whole year passing the ção no trabalho do fotógrafo jornalístico. still seen as people more dedicated to social movements, more to the Left.
hat around to pay the debts. But we changed the focus of the association There was a certain romanticism in that way of looking at things.
a direção da Associação, que até então tinha uma atuação menos politizada. A Arfoc De certa forma, foi um pouco de rebeldia para aquela época, quando tudo era
and began to fight for our professional rights, to create alternatives to unem- Little by little, journalism changed, in-house censorship grew stron-
promovia, por exemplo, o concurso “Miss Objetiva” e um ano antes de eu assumir a conduzido sob a ótica de preservação de um status quo, Só que naquele tempo as
ployment. It was in this period that we set a table of minimum fees and began ger and stronger, and today we can say that journalists are heading toward
direção, a Xuxa foi eleita Miss Objetiva. Quando assumimos, passamos um ano fazen- a really big struggle to have the credit for photographs published. We even
lutas eram diferentes e o jornalista ainda era visto como uma pessoa mais voltada becoming “executors of advertising agendas”. But back then we managed
do “vaquinha” para pagar essa dívida. Mas mudamos o foco da Arfoc e começamos tried to include this matter of credits in the collective labor agreement (actu- aos movimentos sociais, como um sujeito mais à esquerda. Havia certo romantismo to bring about some big changes, especially for independent agencies to
a lutar pelos direitos da classe, criar alternativas ao desemprego. Foi nesse período ally it was already a legal question, except that it was not respected). The nessa visão. spring up, like Ágil in Brasília, with Milton Guran, who had an incredible
que criamos uma tabela de preços mínimos e iniciamos uma luta muito grande pela O Jornal do Brasil was one of the first vehicles to give credit for the photos Aos poucos, o jornalismo foi mudando, a censura interna foi ganhando cada vez team of photographers. I’m bound to commit an injustice by forgetting
publicação do crédito nas fotografias. Tentamos, inclusive, colocar esse tema do cré- it published, after that others began to do the same, like the O Globo, after mais força e hoje podemos dizer que o jornalista caminha para ser um executor publi- some names, but I should make special mention of F4 in São Paulo, with
dito no dissídio coletivo, o que, na verdade, já era uma questão legal, mas que não era some reluctance, and then the magazines. citário de pautas. Mas, naquele período, conseguimos grandes mudanças, com des- Nair Benedicto and Juca Martins, who later on opened an office here in Rio
de Janeiro, where I even did some work.
respeitada. O Jornal do Brasil foi um dos primeiros veículos a dar os créditos das fotos taque para o surgimento das agências independentes, como, por exemplo, a Ágil, em
DG – I’d like you to tell us about how this union activity is related to
publicadas, depois, outros também passaram a fazê-lo, como O Globo, que relutou Brasília, comandada pelo Milton Guran, que tinha uma equipe incrível de fotógrafos.
your work as a photographer at O Globo. DG – In a certain way, these independent agencies arose at a mo-
um pouco, e, a seguir, as revistas. JRR – I think that with Arfoc we found a space within the union and began Com certeza, cometerei injustiças, vou esquecer nomes, mas posso destacar a F4, em ment when the atmosphere in newspapers was unbearable and
to get organized, together with other movements, such as the one that Pe- São Paulo, comandada pela Nair Benedicto e pelo Juca Martins, que, mais tarde, teve some outstanding photographers migrated from newspapers to
DG – Gostaria que você fizesse um recorte da relação que se estabeleceu entre dro Vasquez and Walter Firmo put together at the National Photography um escritório aqui no Rio de Janeiro, em que, inclusive, trabalhei. these new work fronts...
essa atuação sindical e o seu trabalho como fotógrafo de O Globo. Institute, and the remarkable work done by the Photography Nucleus at JRR – No doubt about that. The agencies appeared as a working alterna-
JRR – Acho que a gente conseguiu, com a Arfoc, um espaço dentro do sindicato e Funarte, with Zeka Araújo, Ângela Magalhães and Nadja Peregrino. DG – De certo modo, essas agências independentes surgem num período em tive. At that time there was enormous dissatisfaction with the political con-
We brought the discussion to the national level. We began to articu- text and the interference of editors, but also with how little the editors were
começamos a nos organizar, juntamente com outros movimentos, como o que Pedro que o ambiente nos jornais estava insuportável e alguns grandes fotógrafos
late with São Paulo, to promote encounters, managed to distribute across open to photographic experiments. So this movement allowed for a broad
Vasquez e Walter Firmo fizeram à frente do Instituto Nacional de Fotografia, e como migravam das redações para essas novas frentes de trabalho...
the country a table of minimum fees and organized a strike representing discussion, which was important for photographers to gather, to group to-
o trabalho notável realizado pelo Núcleo de Fotografia da Funarte, em que atuavam o the photographer reporters of the Isto É magazine. Then we organized
JRR – Sem dúvida. As agências surgiram como uma alternativa de trabalho, porque gether, to be able to think about their own agenda.
Zeka Araújo, a Ângela Magalhães e a Nadja Peregrino. a front to hire photographers as freelancers, because some profession- havia naquele período uma insatisfação muito grande com o contexto político, com a
Trouxemos a discussão para o âmbito nacional. Começamos a nos articular als lost their jobs for taking part in the strike. We set up a big network of interferência na edição, mas também com a pouca abertura dos editores ao experi- DG – A more authorial sort of photography?
com São Paulo, a promover encontros, conseguimos disseminar nacionalmente uma information and solidarity which led to more solidarity among photogra- mento fotográfico. Então, esse movimento permitiu uma ampla discussão, que era im- JRR – More authorial photographs and photographic projects. You begin
tabela de preços mínimos e organizamos uma greve representativa dos repórteres fo- phers and enabled them to join the union under a stronger perspective of portante para o fotógrafo se aglutinar, se agrupar, para poder pensar a própria pauta. to be able to interfere in what you are going to document and you see the
tográficos na revista Isto É. Depois, organizamos uma frente para recolocação de fotó- political struggle. I remember that later on I ran for Vice-Chairman of the fact in a different way from the newspaper, but even with space to publish
Eastern Chapter of the National Federation of Journalists, and after that in the newspapers themselves, which began to use photographs from the
grafos como freelancers, porque alguns profissionais, por aderirem à tabela, perderam DG – Uma foto mais autoral?
we expanded this discussion on the social role of journalists and pho- agencies.
seus espaços de trabalho. Criamos uma grande rede de informações e solidariedade e JRR – Fotos mais autorais e projetos fotográficos. Você passa a poder interferir no que
tographers. I believe that this struggle even influenced the way of doing
isso promoveu uma união maior entre os fotógrafos, permitindo que chegássemos ao documentary work. vai documentar e ver o fato de uma forma diferente da do jornal, mas com espaço, inclu- DG – I remember that for a while F4 did the Jornal do Brasil’s Sun-
sindicato, sob uma perspectiva mais forte de luta política. Lembro que posteriormente sive, para publicar, nos próprios jornais, que começaram a usar as fotos das agências. day Magazine...
eu concorri à vice-presidência da Federação Nacional dos Jornalistas - Região Leste, DG – Speaking about that, remind us of how the Rio photographers JRR – To do the Sunday Magazine was something very important in that
e, a partir daí, ampliamos essa discussão sobre o papel social dos jornalistas e fotógra- worked during the Direct Elections Now! movement. DG – Lembro que a F4, durante um tempo, fez a Revista de Domingo, do JB... period and it changed the form of photographic presentation of the news
fos. Penso que essa luta repercutiu, inclusive, na forma de documentar. JRR – Photographers played a very important role in the “Direct Elections JRR – Fazer a Revista de Domingo teve uma grande importância naquele período e in the magazine. There were so many agendas that we got stuck, but at
Now!” campaign. I remember that O Globo covered this movement super- mudou a forma de apresentação fotográfica das notícias na revista. Havia tantas pau- the same time this gave you an income that made other projects feasible.
ficially, not showing its true force. So we got together and decided to take At first this work supported our social projects, but when you have a large
DG – Por falar nisso, rememore a conduta dos fotógrafos cariocas durante a tas, que nós ficávamos presos, mas, ao mesmo tempo, possibilitavam uma receita
care to register only the masses, compacting as many people as possible, amount of commercial projects, this reduces the time available for autho-
campanha das Diretas. econômica para que você viabilizasse outros projetos. No início, esses trabalhos sus-
avoiding using a wide-angle lens and showing details. This was a strategy rial projects, whether or not of a social content.
JRR – Os fotógrafos tiveram um papel importante na campanha das “Diretas Já”. to avoid giving the newspaper even a chance to publish some picture that tentavam nossos projetos sociais, mas quando você tem um grande número de pro-
Lembro que O Globo cobria esse movimento de forma superficial, escondendo toda failed to show the true dimension of the demonstrations, the people filling jetos comerciais, consequentemente, diminui o seu tempo para os projetos autorais, DG – I presume that this experience at F4 must have been fundamen-
a sua força. Então, nos reunimos, e decidimos passar a ter o cuidado de registrar the streets. I don’t know if it was at the “March of the Hundred Thousand” independentemente de ser uma linha social ou não. tal in planning your “Earth Images” project. Tell us a little about that.

20 21
DG – Eu presumo que essa experiência na F4 deve ter sido fundamental para JRR – No question about it, the work in the agencies enabled us pho- cebe a força que têm as empresas de comunicação para bloquear esse mercado. Cla- following a journalistic path, being employed in a newspaper or magazine
pautar seu projeto do Imagens da Terra. Fale um pouco sobre isso. tographers to take a big leap forward. You had to study before going out ro que essa determinação contribuiu para a decaída das agências independentes. É and then ending up mixing a bit of his authorial personality with that of the
JRR – Foi sim. O trabalho nas agências permitiu que nós, fotógrafos, déssemos um there to photograph. You had to think: where and how am I going to send interessante refletir sobre um fotógrafo que traça um caminho jornalístico e é empre- vehicle where he works.
my work? At what price? How will the production penetrate the market?
pulo, até porque era preciso estudar antes de sair para fotografar. Era preciso pensar: gado em um jornal ou revista e acaba misturando um pouco da sua personalidade de
How to show those themes and in what spaces? So, the independent DG – I’d like you to go back to the time you left F4 for “Earth Im-
onde e como vou colocar o meu trabalho? Por que preço? Como será o escoamen- autor com a do veículo em que trabalha.
agencies were without any shadow of doubt important in showing that ages” - 1991 if I’m not mistaken...
to daquela produção no mercado? Como mostrar aqueles temas e em que espaços? when you plunge into a theme, you can present it differently from the way JRR – Well, as I said earlier, I wanted to put photography at the service of
Assim, as agências independentes foram, sem dúvida, importantes, por mostrar que that newspapers generally do. DG – Gostaria que você retomasse o momento da sua saída da F4 para o Ima- human rights and try to work just on this. That’s my ideal. And the work at
quando você mergulha em um tema, você pode apresentá-lo de maneira mais profun- gens da Terra, se não me engano, em 1991... the agency, with so much on the agenda, took up too much of my time. So,
da, diferente da que os jornais de um modo geral fazem... DG – You mean like the “photo of the night before”… JRR – Bem, como já disse, queria colocar a fotografia a serviço dos direitos humanos to do this I had to create an agency. Actually it wasn’t an agency, more of
JRR – Like the photo of the night before, and against the need to rush e tentar trabalhar só com isso. Esse é o meu ideal. E o trabalho na agência, pelo ex- an NGO, but since I had never had this sort of experience I set up an unusu-
around for information. The process of the agencies allowed you to add al NGO, one without financing. It was a different sort of non-governmental
DG – Tipo a “fotografia da véspera”? cesso de pautas, consumia muito o meu tempo. Então, para fazer isso eu precisava
an experience to Brazilian documental photography that gave you the organization, we worked on contract for unions and did some freelance
JRR – Tipo a fotografia da véspera e contra essa necessidade de correria pela criar uma agência. Na verdade não era bem uma agência, era uma ONG, mas como eu
freedom to experiment, if only because you also become your own editor. jobs for magazines. With the permanent work in the unions, we were able
informação. O processo das agências permitiu que você agregasse uma vivência à nunca havia tido esse tipo de experiência, criei uma ONG atípica, sem financiador. Era
Work started to appear with greater authorial content and that was funda- to invest in social documentation, and we invested a lot. Whoever invested
fotografia documental brasileira, uma liberdade de experimentar, até porque você mental for me when I adopted photography as a tool on behalf of human uma organização não governamental diferenciada, que trabalhava por contrato para in the documentation project, when these photos began to be distributed,
passa também a ser o seu próprio editor. Começaram a surgir trabalhos com uma rights. That’s when I broke with, or rather, there was no breaking, no fight- sindicatos e fazia alguns freelas para revistas. Com o trabalho permanente nos sindi- did not need to share their copyright with “Images” until this investment
carga autoral maior e isso foi fundamental para mim, ao assumir a fotografia como ing, but I decided to leave F4 and created the “Earth Images”. catos, podíamos investir em documentação social e investíamos muito. Quem investia was covered. This was a way to stimulate the production process. Except
uma ferramenta na defesa dos direitos humanos. Foi então que rompi, ou melhor, no seu projeto de documentação, quando começasse a escoar essas fotos, não preci- for the odd job, we had no financing. The resources were generated by the
não foi bem um rompimento, não houve briga, mas decidi sair da F4, criando o DG – Was one of the reasons that you left F4 precisely the com- sava repartir seus direitos autorais com o “Imagens” até cobrir esse investimento. Era group of photographers themselves.
mercial success of the agency, which led it to cover so many proj-
Imagens da Terra. uma forma de estimular o processo de produção. Salvo um trabalho ou outro, não tí-
ects for the large press that it ended up relegating authorial work DG – How did you pick your team?
nhamos financiamento. Os recursos eram gerados pelo próprio grupo de fotógrafos.
to second place? JRR – I started calling people whom I knew from the union movement, some
DG – Será que um dos motivos para você ter saído da F4 foi justamente o su- JRR – A little of both. First of all, outdoor jobs increased, and when that really young people came along, almost all of them just starting out in photogra-
cesso comercial da agência, que o levava a cobrir tantas pautas para a grande happens, there is less room for authorial work. But nothing to prevent me DG – E como foi que você montou sua equipe? phy. The most experienced was Ricardo Funary, who left the Manchete maga-
imprensa que acabava deixando em segundo plano o trabalho autoral? from going on trying. What happened is that at a given moment the news- JRR – Fui chamando as pessoas que se identificavam, pessoas que conheci no movi- zine and came to “Earth Images”, which was very important because we both
JRR – Um pouquinho de cada coisa. Primeiro, aumentaram as saídas e, quando isso papers decided to block the work of the independent agencies and closed mento sindical, vieram pessoas muito jovens, quase todos começando na fotografia. shared what we knew with the younger ones. But most of the team was made
ocorre, diminui um pouco o espaço para o trabalho autoral. Mas nada que me impe- their doors to buying alternative material because our production broke O mais experiente era o Ricardo Funary, que saiu da Manchete e veio para o Imagens up of university students. Some of them - in fact nearly all of them - were your
with a line of journalism that is still in practice today. On the other hand, the da Terra, o que foi muito importante, porque eu e ele dividíamos o nosso conhecimen- own students.
disse de continuar tentando. O que aconteceu é que em determinado momento os
importance of traditional journalism has to be recognized. All the facets
jornais resolveram bloquear o trabalho das agências independentes e fecharam as to com os mais jovens. Mas, a grande parte era formada por universitários. Alguns
are important, from the simple cooking recipe, the so-called frivolities, to DG – I think there were four or five from the Fluminense Federal
portas para a compra do material alternativo, porque a nossa produção rompia com deles, ou quase todos, aliás, eram alunos seus.
political journalism. But what happens is that when you speak of informa- University...
uma linha do jornalismo que se pratica até hoje. Por outro lado, é preciso reconhecer tion, you recall that classical sentence you hear when you start university: JRR – These were young people who worked motivated by a sharp social
a importância do jornalismo tradicional. Todas as vertentes são importantes, desde a “journalism must be impartial”, and that is sheer hypocrisy. There has DG – Acho que foram cinco ou seis alunos da UFF... conscience. It was certainly important for those kids to work in an under-
mais simples receita de culinária, as ditas frivolidades, até o jornalismo político. Ocorre never been an impartial journalist. To tell the truth, we see that posture JRR – Eram jovens que trabalhavam movidos por uma aguda preocupação social. taking as big as that. We lasted for eight years, from 1991 to 1999, and I
que quando se fala em informação, você resgata aquela frase clássica, que a gente as something imposed not only by the employers but by the dominant Com certeza, foi importante para essa rapaziada trabalhar num empreendimento believe we did a very relevant work for the history of the country by docu-
ouve quando entra na faculdade, de que o “jornalismo deve ser imparcial” e isso é forces who reserve to themselves the decision on what the press must or daquela magnitude. Perduramos por oito anos, de 1991 a 1999, e acredito que fize- menting the struggle for land in Brazil, the life of the peasants as well as the
mustn’t publish, obliging the guidelines of the newspaper to be ideologi- mos um trabalho muito relevante para a história do país, ao documentarmos a luta workers’ movement. The big difference being that documenting the peas-
hipocrisia. Nunca houve jornalista imparcial. Na verdade, a gente vê que essa postura
cal impositions on a society whose destiny lies in their hands. I see this in ant movement was basically done on demand, depending on the need to
é uma imposição, não só do patronato, mas das forças dominantes, que mantêm a pela terra no Brasil, a vida do camponês e também o movimento operário. Com a
my own trajectory and try to keep far away from this ideological handcuff- lend support to land-tenure conflicts. The Landless Movement (MST) was
decisão sobre o que a imprensa deve ou não publicar, obrigando as linhas dos jornais a diferença que a documentação do movimento camponês era basicamente feita por
ing. Of course, the agencies broke this control a little when they got photos beginning to appear at this time and partnerships were set up with organi-
serem imposições ideológicas sobre uma sociedade em cujo destino elas interferem. with a more differentiated focus. But Marcelo Uberaba, who incidentally demanda, segundo as necessidades de apoio aos conflitos agrários. O MST come- zations that worked with the peasant associations and leaseholders in the
Eu vejo isso na minha trajetória e tento me afastar desse cabresto ideológico. É claro also took part in our union struggle when he joined the Folha de São Paulo çou a surgir nesse período e iniciaram-se, então, parcerias com organizações que Amazon. Carlos Carvalho, now in Porto Alegre, was one of the photogra-
que as agências rompiam um pouco com esse controle, ao conseguir fotos que tinham newspaper, told me quite clearly during a meeting that not only the Folha trabalhavam com as ligas camponesas e os posseiros na Amazônia. O Carlos Carva- phers who dived headlong into documenting these movements.
um enfoque mais diferenciado. Mas o Marcelo Uberaba, que, inclusive, fez parte da but all the newspapers as a rule were no longer willing to work with the lho, hoje em Porto Alegre, foi um dos fotógrafos que entraram de cabeça na docu-
nossa luta sindical, quando assumiu a Folha de São Paulo me disse claramente, duran- independent agencies. mentação desses movimentos. DG – Carlos Carvalho did some beautiful work on the rubber tap-
pers in Acre, didn’t he?
te uma reunião, que não só a Folha, como os jornais de um modo geral, não estavam
DG – Like not wanting to feed the enemy? JRR – Carlos Carvalho even went to live in Acre. He had participated in
mais dispostos a trabalhar com as agências independentes. DG – O Carlos Carvalho desenvolveu um belo trabalho junto aos seringueiros
JRR – Exactly. That shows you how strong the agencies had grown, but Angular. Angular, like F4 and Ágil, already did documentation work on the
do Acre, não foi?
also how the powerful influence of the communications companies can peasant and workers’ movements. The difference is that the proposal
DG – Como quem não quer alimentar o inimigo? block this market. Of course, this determination contributed to the down- JRR – Carlos Carvalho foi, inclusive, morar no Acre. Ele havia participado da Angular. of “Earth Images” didn’t come from an agency, the idea was to use pho-
JRR – Exatamente. Por aí você vê a força que tiveram as agências, mas também per- fall of the independent agencies. It is interesting to think of a photographer Tanto a Angular, como a F4 e a Ágil já faziam trabalhos de documentação junto aos tography on behalf of human rights, and within this political function our

22 23
movimentos camponês e operário. A diferença é que o Imagens da Terra não chegou photos played an important role during those eight years. And the coop- cebi que as pessoas tinham vontade de continuar e então sugeri ao Observatório de sonality with that of the vehicle they work for, which usually generates a
com a proposta propriamente de uma agência, mas com a de utilizar a fotografia a erative came to an end due to a tremendous piece of administrative in- Favelas a criação de uma Escola de Fotografia, para que as pessoas da comunidade situation in which they don’t take a picture to serve the less favored sec-
serviço dos direitos humanos, e, dentro dessa função política, nossas fotos cumpri- competence on our part. I even sold stuff, car, furniture, to get out there pudessem começar a contar sua história a partir de seu próprio olhar. tors of society but rather a view of the world that fails to show the reality of
and photograph. the poor. Generally speaking, this approach is directed at certain forms of
ram um papel importante nesses oito anos. E a cooperativa acabou por uma incompe- Acho que o fotógrafo empregado em um jornal ou revista, com belíssimas ex-
organization such as rural workers, the Landless Movement, former slave
tência muito grande nossa na parte administrativa. Eu cheguei a vender coisas, carro, ceções, acaba misturando um pouco da sua personalidade com a do veículo no qual
DG – I remember you once selling a VW Beetle to be able to photo- communities (quilombolas), the question of the Negroes, the question of
móveis, o que eu pudesse, para sair por aí fotografando. graph and you won a prize for that job... trabalha, o que comumente gera um quadro em que ele não faz uma fotografia que the Indians... In the slums especially, this judgment associates violence
JRR – Things were done in a very crazy, hallucinated way, because you sirva aos setores menos favorecidos da sociedade, mas sim uma visão de mundo que and criminality with the common citizen, which ends up putting the blame
DG – Lembro que uma vez você vendeu um Fusca para fotografar e que esse invested everything in what you believed in and plunged deep. I remem- é nociva à pobreza. De um modo geral, essa carga recai sobre várias formas de orga- on those who are precisely the victims of this process.
trabalho lhe rendeu um prêmio... ber that the money from the car was used to document the Indians in nização, como os trabalhadores rurais, o MST, os quilombolas, a questão do negro, I realize today that far more important than my work as a photogra-
JRR – As coisas eram feitas de uma forma louca, alucinada, porque você investia tudo Mato Grosso do Sul, a work that I was awarded a prize for, in Belgium, if a questão indígena... Na favela, em especial, esse julgamento associa a violência e a pher was to be able to take my knowledge of photography to the residents
I’m not mistaken. of these communities. We saw the birth of the first School of Popular Pho-
no que acreditava e mergulhava nisso. Lembro que o dinheiro do carro foi usado para criminalidade ao cidadão comum, o que acaba transformando em culpado aquele que
tographers in 2004, with financing by Furnas and administrated together
documentar os índios em Mato Grosso do Sul, trabalho cujo prêmio eu recebi na Bél- é justamente a vítima desse processo.
DG – In a way, I think that this period that goes from your first clicks with Ricardo Funary, and which you took part in, first as a guest and later as
gica, se não me engano. Hoje entendo que muito mais importante do que o meu trabalho como fotógra-
to your working at F4 can be considered your “pre-history”. From a member. This process became consolidated through strong political dis-
then on begins what I call the “Trilogy of Images”: “Earth Images”, fo foi poder levar o conhecimento de fotografia aos moradores dessas comunidades. cussion and training for outstanding young photographers who believed in
DG – De certo modo, acho que esse período que vai dos seus primeiros cliques that we have talked a little about, “Human Images”, where you pres- Assim, assistimos ao nascimento da primeira Escola de Fotógrafos Populares, em their capacity and were able to show society another way of looking. In this
até a passagem pela F4 pode ser considerado como a sua “pré-história”. Daí ent your personal work, and “Images of the People”, when you begin 2004, com o financiamento de Furnas e tocada junto com o Ricardo Funary, da qual sense, Dante, your joining the project brought it an intense academic light
em diante, tem início o que eu classifico como a “Trilogia das Imagens”: o Ima- – politically and pedagogically - to replicate this experience in the você inicialmente participou como convidado e depois veio a integrar. É um processo and an impressive boost in quality.
gens da Terra, do qual já falamos um pouco, o Imagens Humanas, em que você slums. Could you tell us a little about this trajectory? que, para se consolidar, precisou de uma discussão política forte e de uma formação
JRR – I think that “Earth Images” was especially important in documenting DG – What in your opinion is the big political and aesthetic differ-
apresenta seu trabalho pessoal, e o Imagens do Povo, quando você passa, de de jovens com nível de excelência, que acreditassem na sua capacidade e pudessem
the peasant and workers’ movements and trying to break with the tradition ential in this school?
forma político-pedagógica, a replicar essa experiência nas favelas. Pediria que mostrar à sociedade um outro olhar. Nesse sentido, a sua entrada, Dante, trouxe uma
of impartiality. Then there is the question of gathering together young pho- JRR – In the School of Popular Photographers, a project that is a com-
você falasse um pouco sobre essa trajetória. tographers. Even when the project folded economically after eight years,
luz acadêmica forte e um impressionante salto de qualidade ao projeto. plement to the “Images of the People” agency, the work we carry out has
JRR – Acho que o Imagens da Terra teve essa importância, principalmente na docu- I feel that it accomplished an important stage. This was also a moment in brought a third parameter to journalistic and documental photography. If in
mentação do movimento camponês e operário, com uma proposta de romper com which the photographers matured, started a family and felt the need for DG – Qual, em sua opinião, é o grande diferencial político e estético dessa Escola? journalistic photography we had a mixture of the author’s personality with
a tradição de imparcialidade. Há também a questão de aglutinar jovens fotógrafos. something more solid in their everyday life. Then appeared the proposal JRR – A Escola de Fotógrafos Populares é um projeto que se complementa com a agên- that of the newspaper, we finally achieved a documental photography that
Mesmo quando, após oito anos, o projeto fracassou economicamente, acho que cum- to transform the project into a company, so we split up and I continued cia Imagens do Povo. Lá, realizamos um trabalho que trouxe um terceiro parâmetro à began to mix the personality of the author with that of the community be-
priu uma etapa importante. Também foi um momento em que os fotógrafos amadu- alone with “Earth Images”, but it eventually became too difficult to keep up. fotografia jornalística e à fotografia documental, porque, se tínhamos na fotografia jor- ing documented, yielding benefits to the groups that were photographed.
Some very important people were involved at that time, like André Villa- The appearance of these popular photographers, with images that
receram, constituíram família e sentiram a necessidade de ter uma solidez maior no nalística a mistura da personalidade do autor com a do jornal, acabamos conseguindo
ron and Claudinha Sanz, besides the photographers who were there since convey beauty and a powerful plasticity, is at the same time the discov-
seu processo de sustentação. Aí veio a proposta de transformar o projeto em uma na Escola uma fotografia documental que passou a misturar a personalidade do autor
the beginning, like Marcelo Oliveira, Gianne Carvalho, Everaldo Rocha and ery of how important it is to awaken society to this phenomenon. I begin
empresa, a gente se dividiu e eu continuei sozinho com o Imagens da Terra, mas aca- Berg Silva, who worked in the laboratory until one day I asked him to leave com a da comunidade documentada, gerando benefícios aos grupos fotografados. to understand that the process of exclusion involves excluding beauty.
bou ficando um processo muito difícil de manter. Nesse período, passaram por lá pes- and said “Berg, you’ve got to be a photographer, not a lab assistant”. That O surgimento desses fotógrafos populares, com imagens que trazem uma bele- When I am asked if I do “aesthetics of social misery”, I realize that this
soas importantes, como o André Villaron, a Claudinha Sanz, além dos fotógrafos que was the first time I fired someone and got a hug for doing it. Today Berg is za e uma forte plasticidade, traz também a descoberta de como é importante acordar question actually contains an enormous load of discrimination because
faziam parte desde o início, como o Marcelo Oliveira, a Gianne Carvalho, o Everaldo there in the market, an excellent photographer doing intense social work. a sociedade para isso. Começo a entender que o processo de exclusão passa pela aesthetics can only be conceived as synonymous with beauty if it comes
Rocha e o Berg Silva, que trabalhava como laboratorista, até que um dia eu pedi para Other very good photographers that passed by here are Eneraldo Carneiro anulação da beleza. Quando me perguntam se eu faço “estética da miséria”, percebo from the middle class or the dominant class. It is unacceptable that beau-
ele sair e disse “Berg, você tem de ser fotógrafo e não laboratorista”. Foi a primeira vez and Nando Neves, who lived in the Chapéu Mangueira community. que essa pergunta traz, na verdade, uma enorme carga de discriminação, porque al- ty can exist in a non-privileged class. It is unacceptable because such val-
When “Earth Images” finished, I created “Human Images”. This was ues are simply denied.
que demiti alguém e ganhei um abraço. Hoje, o Berg está aí, no mercado, como um ex- gumas pessoas só concebem estética como sinônimo de beleza se ela vier da classe
a personal response, this was my own project, this is what I believe. Then
celente fotógrafo e desenvolvendo um intenso trabalho social. Além desses, passaram média ou da classe dominante. Não se aceita que exista beleza numa classe desprovi-
they invited me to photograph in the Maré slum, to try to show the com- DG – So this work that you have been developing for five years in
por lá ótimos fotógrafos, como o Eneraldo Carneiro e o Nando Neves, que era morador munity in a light other than violence, and I began to document slums. In da. Não se aceita, porque esses valores são simplesmente negados. the Maré can be seen as counter information?
do Chapéu Mangueira... this process I met photographers who were just starting out. Some of them JRR – Exactly. A work of counter information structured on the principle
Quando acabou o Imagens da Terra eu criei o Imagens Humanas. Foi uma res- had taken photography courses at Ceasm – the Maré Center for Studies DG – Esse trabalho que há cinco anos você vem desenvolvendo na Maré é, en- of the right to investigate the information we want. There is a great deal of
posta pessoal, era o meu projeto, é o que eu acredito. Fui então chamado para fotogra- and Solidarity Action – where I began to develop work as a teacher, but tão, um trabalho de contrainformação? hypocrisy, a consensual discourse that claims that everyone has the right
far na Maré, para tentar mostrar a comunidade sob outra ótica que não a da violência because of my documentation work I had to pass this on to Adriana Me- JRR – Exatamente. Um trabalho de contrainformação, calcado no princípio do direi- to information, but they don’t. We ought to be able to investigate the infor-
e comecei a documentar favelas. Nesse processo, encontrei fotógrafos começando. deiros, who was very important in this project. Then I realized that people to de investigar a informação que queremos. Há uma grande hipocrisia, um discurso mation that matters to us and to divulge it by using all available means of
wanted to continue and so I suggested to the Observatório de Favelas communication. As a matter of fact, that is part of Article 19 of the Univer-
Alguns deles tinham participado de cursos de fotografia no Ceasm – Centro de Es- consensual, de que todas as pessoas devem ter direito à informação, mas elas não
(Slums Watch) to set up a School of Photography so that people from the sal Declaration of Human Rights.
tudos e Ações Solidárias da Maré –, onde comecei a desenvolver um trabalho como têm. A gente deveria poder investigar a informação que nos diz respeito e divulgá-la,
community could start to tell their history as they themselves saw things. This puts two rights in check: the right of all to seek the information
professor, o qual, por conta do meu trabalho de documentação, tive de passar para I think that photographers who work in newspapers or magazines, usando para isso todos os meios de comunicação. Isso, aliás, faz parte do Artigo 19 da they want to know, and a journalist’s acquired and legitimate right to in-
a Adriana Medeiros, que teve uma importância muito grande nesse projeto. Daí, per- with some outstanding exceptions, end up mixing a little of their own per- Declaração Universal dos Direitos Humanos. form. It so happens that one right can’t play censor to another, neither

24 25
São colocados em cheque dois direitos: o de todas as pessoas irem buscar a in- from the point of view of the right of the professional exercise to inform, bendo que mostrar a história é usar o seu trabalho de documentação como processo de The popular photographers show the slum in a far better way, much
formação que desejam e o direito adquirido e legítimo de um jornalista informar. Acon- nor from the point of view of the academic obligatoriness of having a de- sensibilização. Quanto mais pessoas estiverem envolvidas, participando do processo de more appropriately than I do, for example. Better than any other, because
tece que um direito não pode ser censor do outro, nem sob o ponto de vista do direito gree, especially when people feel discriminated by the way that informa- convencimento, mais a gente caminha para comungar as fotografias às pessoas e para even if he or she is a famous photographer, he does not belong to that con-
tion is presented. text so he will always have a stranger’s way of looking. Today the slums are
do exercício profissional de informar, nem sob o ponto de vista da obrigatoriedade compreender como a fotografia pode atuar nesse processo de transformação.
This imagination driven by lack of information is such a serious mat- much better photographed because there is a cry of freedom in this work.
acadêmica do diploma, principalmente quando as pessoas se sentem prejudicadas Os fotógrafos populares mostram a favela de uma maneira muito melhor, com
ter that someone has to work in counter information. And I think that one of This is a novelty in photography: the popular photographers offer an ac-
pela forma como a informação é veiculada. the most transforming and revolutionary actions today is counter informa- muito mais propriedade do que eu, por exemplo. Melhor do que qualquer outro, mes- complice look at people who were segregated, because they also suffered
Esse imaginário que é trabalhado pela ausência de informação é tão grave, que tion that shows that beauty and values considered by the dominant minor- mo que seja um fotógrafo de renome, mas que, por não pertencer àquele contexto, the worst type of violence: discrimination.
alguém tem que trabalhar na contrainformação. E hoje, acredito que uma das ações ity to be universal are also present in the poor majorities. terá sempre um olhar estrangeiro. Hoje, a favela é muito melhor fotografada, porque I think that this mixture will lead to more dialogue, a real discussion
mais transformadoras, mais revolucionárias, é a da contrainformação que mostra a há nesse trabalho um grito de liberdade. Isso é uma novidade na fotografia: os fotó- rather than those ideological musings on the question of “degree or not de-
beleza e os valores entendidos como valores universais pela minoria dominante, pre- DG – Something that I find beautiful in the “Images of the People” grafos populares trazem um olhar cúmplice sobre as pessoas que foram segregadas, gree”. Photography must function as an element of communication and as
project is how the school, even for those who are into photography, a universal right to information. This is everyone’s right, not just the jour-
sentes nas maiorias pobres. porque também já sofreram o pior tipo de tipo de violência, que é a discriminação.
acts on people’s self-esteem. Slums Watch shows that when you of- nalist’s. This path does not conflict with university learning, you can con-
Acredito que essa mistura promoverá uma interlocução maior, promoverá uma
fer an opportunity to someone who does not have any, that person tinue to have better and better courses, try to make teaching Journalism a
DG – Uma coisa que eu acho linda no projeto Imagens do Povo é perce- discussão de fato e não essas elucubrações ideológicas sobre a questão do “diploma
seizes the chance with far more enthusiasm than someone who is differentiated path toward professional perfecting rather than the work of
ber, mesmo para aqueles que não enveredam pela fotografia, como a es- used to such offers. Your work makes us see how public policies fail ou não diploma”. A fotografia deve funcionar como um elemento de comunicação e censoring the rights of others. Most of the population of the poor areas is
cola atua na autoestima das pessoas. O Observatório de Favelas mostra to give due value to the immense human potential that exists in the como um direito universal à informação. Esse é um direito de todos, não é exclusivo deeply dissatisfied with how the large press documents their lives.
que quando você oferece uma oportunidade a quem não tem, essa pessoa slums. It also seems clear to me that your life history, your political dos jornalistas. Esse caminho não conflita com o aprendizado universitário, você pode Anyway, my utopia is to see this work exploding into other spaces with-
aproveita essa chance com muito mais garra do que aquele que normalmen- work and your experience as a photo documentarist have enabled continuar a ter cada vez melhores cursos, tentar fazer do ensino de Jornalismo um out abandoning my documentation work, because I love to photograph. So
te a tem. O seu trabalho deixa a gente perceber como as políticas públicas you to go into the slums and be welcomed by the community as the caminho diferenciado de aperfeiçoamento profissional e não um trabalho de censor I live among great passions. I usually joke that I feel passion for my kids, my
reference that the kids needed to be able to work. photography and for the projects I am involved in. But a project only works
não valorizam devidamente o imenso potencial humano que há nas favelas. do direito alheio. A maioria da população das áreas pobres tem um alto grau de insatis-
JRR – First of all it has to be said that this work in the Maré has only been when it begins to move ahead on its own. “Earth Images” was a project in
Também me parece claro que sua história de vida, seu trabalho político e fação com o processo de documentação de suas vidas feito pela grande imprensa.
made possible because I believe in these people and in their capacity. This which people looked for paths other than ideological documentation, un-
sua experiência como fotógrafo documentarista lhe permitiram chegar à was only possible through agglutination, exchanging knowledge, even the
Enfim, tenho a utopia de ver esse trabalho explodir em outros espaços, sem deixar like “Images of the People”, which found a way to expand these spaces of
favela e ser acolhido pela comunidade, ser a referência que a molecada pre- grassroots sort of wisdom. To do this, it was important to invite people, like de lado o meu trabalho de documentação, porque adoro fotografar. Então, eu vivo entre documentation without losing its own paths. Projects aren’t shackled, they
cisava para trabalhar. I invited Funary, like I invited you and you gave us this academic content, grandes paixões. Costumo brincar, dizendo que tenho paixão pelos meus pimpolhos, don’t have to repeat the same model. The third project, “Human Images”, is
JRR – Primeiramente é importante dizer que só está sendo possível realizar esse tra- and I invited Kita Pedroza, who put some order in the agency and helped to pela minha fotografia e pelos projetos de que eu participo. Mas um projeto só dá certo a personal, ideological and aesthetic exercise on what it is to be able to do
balho na Maré, porque eu acredito nessas pessoas, na capacidade delas. Isso só foi make these photographers more professional, because gaining access to quando ele começa a andar com seus próprios pés. O Imagens da Terra foi um projeto photography. Photographing is what I like, what gives me pleasure. Even to
possível por meio da aglutinação, pela troca de conhecimentos, de saberes, inclusive the market is extremely difficult for them. So, I didn’t do this all on my own, em que as pessoas buscaram outros caminhos, sem ser o da documentação ideológi- carry on with this process of disseminating, growing and multiplying, I have
it was important to go and call these people, who are so competent in their to be taking photos.
os populares. Para isso, foi importante chamar pessoas, como chamei o Funary, cha- ca, diferentemente do Imagens do Povo, que encontrou uma forma de ampliar esses
specializations, and so busy, and that’s what made the difference.
mei você, que nos deu esse conteúdo acadêmico e chamei a Kita Pedroza, que botou espaços de documentação, mas que têm seus próprios caminhos. Os projetos não têm
The second thing is to understand that we work with normal people. DG – In these thirty-five years as a professional, what are the most
ordem na agência e ajudou a aprofundar o profissionalismo desses fotógrafos, cujo And they are entitled to be lazy, like the rest of us, they have the right to grilhões, não têm que repetir o mesmo modelo. O terceiro projeto, o Imagens Humanas, meaningful changes you have seen take place in photography and
processo de acesso ao mercado é extremamente difícil. De modo que não fiz isso so- miss opportunities, just like our own children sometimes do. We don’t é um exercício pessoal, ideológico e estético, do que é poder fazer fotografia. Fotografar in the country?
zinho, foi importante buscar essas pessoas, tão competentes em suas especialidades, work with geniuses, we work with normal human beings. There is no room é do que eu gosto, é o que me dá prazer. Até para continuar com esse processo de divul- JRR – Well, I think that the most meaningful change that I have seen in pho-
tão ocupadas e isso fez a diferença. for the thought “you are here, you have this opportunity, and so you have gação, de crescimento, de multiplicação, tenho de estar fotografando. tography was the appearance of the digital image. Now, regardless of this
A segunda coisa é entender que trabalhamos com pessoas normais. Assim, elas to be a success”. I believe that for each flaw there is a repair. That is a value technical process, I saw a very dramatic moment in Brazilian photography
têm direito à preguiça, como qualquer um de nós, têm direito a perder oportunidades, that I learned at home. DG – Nesses seus trinta e cinco anos de profissão, quais as mudanças mais when the photographers drifted toward the area of documentarism and the
authorial photography practiced in the independent agencies. We spoke a
como nossos filhos às vezes perdem. Não trabalhamos com gênios, trabalhamos com significativas que você percebeu na fotografia e no país?
DG – I doubt if you have done this on purpose, but in this trilogy little about this, but in every photographers’ movement in Brazil, the struggle
seres humanos normais. Não pode existir aquele pensamento “você está aqui, tendo JRR – Bom, eu acho que a mudança mais significativa que eu vi na fotografia foi o
composed of “Earth Images”, “Human Images” and “Images of the for a minimum–fees table and the demand for credits are the fruit of an era
essa oportunidade, e, por isso, é obrigado a dar certo”. Acho que para cada falha, há People”, it is as if you were closing the zoom: you left the earth, the surgimento da imagem digital. Agora, independentemente desse processo técnico, há in which no-one knew who took the photo, except the photographers them-
um conserto. Esse é um valor que eu aprendi em casa. planet, then you elected humanity, and finally you arrived at the um momento muito forte que presenciei na fotografia brasileira, que ocorreu quando selves. And that struggle also aroused questioning about the relation between
people. Now, with 35 years of professional experience and about to os fotógrafos enveredaram para a área do documentarismo e para a fotografia autoral photography and history. Photographers questioned deeply the role of image
DG – Duvido que você tenha projetado isso conscientemente, mas nessa sua have your production documented in an exhibit and a book, what do praticada nas agências independentes. Já falamos um pouco sobre isso, mas todo and what position they could take in the face of what was going on in the coun-
trilogia, composta pelo Imagens da Terra, Imagens Humanas e Imagens do you see when you look ahead? movimento de fotógrafos que houve no Brasil, a luta pela tabela de preços mínimos e try at that time.
Povo, foi como se você fosse fechando o zoom: saiu da terra, do planeta, de- JRR – If you bet on documental photography as an art form, you end a exigência do crédito são frutos de uma época em que não se sabia quem era o autor
up realizing that showing history is using your documentation work as a DG – At the turn of the 1970s into the 1980s, let´s say...
pois elegeu a humanidade e, finalmente foi para o povo. Agora, com 35 anos da foto, a não ser entre os próprios fotógrafos. E essa luta também trouxe um ques-
process of sensibilization. The more people are involved, participating in JRR – Exactly. The agencies that opened in this period made photogra-
de carreira e às vésperas de ter a sua produção documentada em exposição e tionamento sobre a relação entre fotografia e história. Os fotógrafos questionavam
the process of convincing others, the more we work to share photogra- phers start wondering and thinking that they did not have to stick to the
livro, quando olha para frente, o que você vê? phy with people and to understand how photography can operate in this muito o papel da imagem e como eles poderiam se posicionar diante do que acontecia agendas of newspapers and magazines. Photographers began to get in-
JRR – Se você aposta na fotografia documental como uma forma de arte, acaba perce- process of change. naquele momento no país. volved in their own personal projects and to gain a more acute vision of

26 27
DG – Na virada dos anos 1970 para os anos 1980, digamos assim... reality and start trying to interfere in this reality. So, you no longer docu- vou poder enxergar o mais próximo como essa pessoa vê, o que ela fixa com o olhar, DG – Because the telephoto lens flattens the layers...
JRR – Exatamente. As agências que surgiram nesse período levaram o fotógrafo a se ment history as a being outside it, but as an element that participates and como vivencia seu ambiente, como cada pedaço da casa tem uma importância, a luz JRR – The telephoto lens flattens the layers and distances me from the
questionar, a pensar que ele não tinha mais que ficar preso a pautas de jornais e revis- uses photography as a tool for social change. It was not by chance that F4 que entra... Acho que cada faceta da vida de uma pessoa é feita de planos, de momen- people. And I want to be close even to be censured, if that’s the case. Cen-
surged documenting the workers’ movement in the São Paulo ABC, the sured not in the oppressive sense, but in respect to the right not to want
tas. Ao se envolver com seus projetos pessoais, o fotógrafo começa a ter uma visão tos. Agora se eu estiver distante, com uma tele, irei misturar os planos todos.
creation of the Trade Union Confederation (CUT), the Workers’ Party (PT), to be photographed. One thing that I’ve learned with the passing of time is
mais aguda da realidade e passa a tentar interferir nessa realidade. Então, você não
the big popular movements. that many good images appear because you skip over some others. There
documenta mais a história como um ser que está fora dela, mas como um elemento And all this takes place in photography at a moment when the politi- DG – É que a tele achata os planos... have been times when it was better to wait a bit, respect people’s being
que participa, que usa a fotografia como ferramenta de transformação social. Não foi cal struggle for the end of the dictatorship is also at boiling point. In Rio in JRR – A tele achata os planos e me afasta das pessoas. E eu quero estar perto até para ser timid and then get the picture at a better moment. My life is very much
à toa que a F4 surgiu documentando o movimento operário do ABC paulista, a criação particular, the meetings in the journalists’ union filled the auditorium and censurado, se for o caso. Censurado não no sentido opressor, mas no respeito ao direito based on conversations, on learning from others.
da CUT, do PT, os grandes movimentos populares. they were meetings of photographers. Political questions were intensely de não querer ser fotografado. Uma coisa que aprendi com o tempo é que muitas imagens
E isso ocorre na fotografia no momento em que também ferve a luta política discussed, such as the matter of the control that the newspapers prac- boas surgem por você abrir mão de algumas fotos. Houve casos em que foi melhor espe- DG – Let’s talk a bit about light, your preference for more closed
ticed over documentation. This discussion, mixed with issues related to tones, under-exposure, shadows, counter-light. Is that intuitive?
pelo fim da ditadura. No Rio, em particular, as reuniões no sindicato dos jornalistas rar um pouco, respeitar a vergonha da pessoa, para depois conseguir a foto num melhor
the work market and the wages floor, brought to the movement many peo- JRR – If you soften the light, that relieves the image with light and shadow.
lotavam o auditório e eram reuniões de fotógrafos. Ali, eram intensamente discutidas momento. A minha vida é muito pautada nas conversas, no aprendizado com os outros.
ple who did not have a Leftist view but joined the political struggle when This lets you dwell a wee bit more on the scene without causing any annoy-
questões políticas, como, por exemplo, a questão da tutela dos jornais sobre a docu-
they saw their rights included in the discussions. Then we began to orga- ance. Something else that I notice is how the counter-light helps to give
mentação. Essa discussão, misturada a assuntos relacionados ao mercado de traba- nize photography exhibits and published the book Sobre Fotografia (On DG – Vamos falar um pouquinho de luz, da sua preferência pelos tons mais you a rest, allows the information to seep in little by little, offers an illu-
lho e ao piso salarial, possibilitou que se trouxesse para o movimento muitas pessoas photography) (1983), a work of the Journalists’ Union and Arfoc/RJ, which fechados, pela subexposição, pelas sombras, pela contraluz. É intuitivo? sion of depth to whoever is looking, so that those images come squeez-
que não tinham uma visão de esquerda, mas que se somaram à luta política quando stood against censorship and in favor of democratic freedoms. JRR – Se você suaviza a luz, dá um descanso de luz e sombra ao que mostra. Isso per- ing in through the diaphragm of the observer’s look. I also like to use high-
viram seus direitos ali incorporados. Aí, a gente começou a organizar exposições de Today there is no continuity of this organized struggle of photographers mite que a pessoa se debruce um pouco mais de tempo sobre aquela cena, sem que lights and work the shadows in the lab. I usually don’t like over-exposure,
fotografias e publicamos o livro Sobre Fotografia (1983), uma obra do Sindicato dos because in today’s Brazil you don’t have a situation where you can identify haja repulsa. Outra das coisas que percebo é como a contraluz ajuda a dar um des- because it’s important that the information appears. Sometimes a detail
the political line like before, when you were against the dictatorship or in fa- manages to captivate whoever is looking at that photo, so details should
Jornalistas e da Arfoc/RJ, que se posicionou contra a censura e a favor das liberdades canso, permitindo que a informação chegue aos poucos, possibilitando uma profun-
vor of the regime, you were either Arena or MDB. Then came the détente and appear. Sometimes I go for over-exposed light to show how beautiful it is.
democráticas. didade de campo a quem está olhando, para que aquelas imagens entrem espremidi-
the struggle for direct elections, but once this situation consolidated, where It’s fantastic to arrive somewhere and find out what time the sun is go-
Hoje não há uma continuidade dessa luta organizada dos fotógrafos, porque did the people go who were most affected socially, by social discrimination,
nhas pelo “diafragma” do olhar de quem está observando. Gosto de usar também as ing to rise and where it’s going to set, because the boatman said so. Even
não se tem no Brasil atual um quadro onde você possa identificar a linha política como by social violence? The action of journalists in the big social changes strikes altas luzes e trabalhar as sombras em laboratório. Raramente gosto da luz estourada, your photographic technique can be made better with this sort of relation-
anteriormente, quando ou você era contra a ditadura ou a favor do regime, era Arena me as being quite feeble and I think that Brazilian journalism today acts much porque é importante que as informações apareçam. Às vezes um detalhe consegue ship with people. Like, for example, taking a picture with a strong social
ou era MDB. Veio a distensão, a luta pelas Diretas, mas depois que esse quadro se con- more like a conserver than a transformer of the social situation. And since the aprisionar quem está olhando aquela foto, então o detalhe deve aparecer. Às vezes, context, based on the light and shadow tempered in those surroundings.
solidou, onde ficaram as pessoas mais afetadas socialmente, pela discriminação so- political powers dilute the clarity of their positioning, the newspapers offer a procuro a superexposição para mostrar a beleza da própria luz. You have to think a little bit more about how to show that drama, you’ve got
cial, pela violência social? Vejo de uma forma muito capenga a atuação dos jornalistas very dazzled view of the so-called minorities composed of slum dwellers, rural Chegar a um lugar e saber a que horas o sol vai nascer, onde se põe, porque o to study the light. I almost never use the flash.
workers, members of the Landless Movement, Brazilian Indians and former Getting up close, respecting the layers and the universes in which
nas grandes transformações sociais e acho que o jornalismo brasileiro contemporâ- barqueiro lhe disse, é fantástico. Até a técnica fotográfica pode ser melhorada a partir
slave communities (quilombolas), who really make up the great majority of people live, helps us to feel more affection for our people. To do so, it’s im-
neo age muito mais como mantenedor do que como transformador do quadro social. desse convívio com as pessoas. Como, por exemplo, fazer uma imagem de um con-
the Brazilian population. portant to have better control of the light and to experience the same light
E como os poderes políticos se diluem em clareza de posicionamento, os jornais vei- Brazilian society accepts – and Rio de Janeiro is an example of this – texto social forte, a partir da luz e da sombra temperadas naquele ambiente. É preciso as the people. It’s necessary to have that sensibility, to adjust the film or
culam uma visão muito ofuscada sobre as chamadas minorias, composta pelos mora- that the State positions itself to combat situations of violence in an illegal pensar um pouco mais sobre como mostrar aquele drama, estudar a luz. Quase não the sensor so that the camera does not have control over you. Technique
dores de favelas, os trabalhadores rurais, o MST, os índios brasileiros, os quilombolas, manner. The use of a bullet-proof vehicle like the Caveirão military-police uso o flash. and your sensibility have to work hand in hand, because photography is an
que formam, na verdade, a grande maioria da população brasileira. tank, or collective injunctions that allow armed policemen to enter all the Chegar perto, respeitar os planos e os universos onde a pessoas vivem, ajuda a extension of the personality of the person taking the photo.
A sociedade brasileira aceita – e o Rio de Janeiro é um exemplo disso – que o Esta- houses on a street in search of a suspect, are accepted as natural if they ter um carinho maior pela nossa gente. Para isso, é importante ter um domínio maior da
do se posicione para combater situações de violência de forma ilegal. A utilização de um happen in a slum. However, it’s quite difficult to imagine the same scene luz e vivenciar a mesma luz das pessoas. É preciso ter essa sensibilidade, ajustar o filme DG – If photography is an extension of the personality, explain to
taking place in a street in Ipanema, Leblon or Barra... me your devotion to black and white photography.
carro blindado, como o Caveirão, ou mandados de segurança coletivos, que permitem ou o sensor, para que a câmera não lhe domine. A técnica e a sua sensibilidade têm de
JRR – Well, I think it’s fantastic to listen to the radio. I remember imagining
aos policiais entrar armados em todas as casas de uma rua para procurar um suspeito, andar juntos, porque a fotografia é uma extensão da personalidade de quem fotografa.
DG – To talk just about João Roberto Ripper the photographer, ex- Amarildo substituting Pelé in the 1962 World Cup and scoring the goals... I
são aceitos com naturalidade se realizados em uma favela. No entanto, é muito difícil plain why you opted for short focal length lenses. think that black and white has the same magic as the radio. It shows real-
imaginar essa mesma cena numa rua de Ipanema, do Leblon ou da Barra... JRR – I draw close to people, because when you photograph you have to DG – Se a fotografia é uma extensão da personalidade, me explique o porquê ity, but allows for flights of the imagination, it brings together lyricism and
look at them, discover them, interact, engage in this exchange. I like to work da sua devoção pela fotografia em preto e branco. hope. I don’t dislike color photography, but there is something mystical
DG – Falando exclusivamente sobre o fotógrafo João Roberto Ripper, explique with 35 millimeters, 24 millimeters, and a normal lens, because I don’t like JRR – Bem, eu acho fantástico ouvir rádio. Eu me lembro de imaginar o Amarildo about black and white. I find it aesthetically more beautiful and I think it
sua opção pelas curtas distâncias focais. to be far from people. You have to be up close to listen, to be able to learn. substituindo o Pelé, na Copa de 1962, e fazendo os gols... Acho que o preto e branco makes for better interaction. Actually, I can manage to get more variations
JRR – Chego perto das pessoas, porque ao fotografar é preciso olhar para elas, desco- This interaction is a thrill. If I have a normal lens, which most of the time is tem a mesma magia do rádio. Ele mostra a realidade, mas permite um voo de imagi- of light and shadow to make people think more about the photo.
the maximum lens I carry with me, then I can see as closely as they see,
bri-las, interagir, empreender essa troca. Gosto de trabalhar com 35 milímetros, com 24 nação, que comunga com o lirismo, a esperança. Não desgosto da fotografia colorida,
what they fix with their look, how they experience their surroundings, how DG – It seems that when you look at a photo in black and white
milímetros, e com lente normal, porque não gosto de estar longe das pessoas. Você tem mas tenho uma mística com o preto e branco. Acho esteticamente mais bonito e acre-
each bit of the house is important, the light that comes in... I think that each you are obliged to substitute realities... A light-colored shirt can be
de estar perto para ouvir, para poder aprender. É gostosa essa interação. Se eu estiver facet of a person’s life is made of layers, moments. And if I’m far away, with dito que leve a uma interação maior. No fundo, consigo trazer mais variações de luz e beige, yellow or white. It’s as if the black and white photo demanded
com uma lente normal, como na maioria das vezes é a lente máxima que eu carrego, eu a telephoto lens, I’ll mix up all the layers. sombra que fazem a pessoa pensar mais sobre a foto. more attention...

28 29
DG – Parece que quando a gente olha uma foto em PB é obrigado a fazer uma JRR – I think that black and white lets you think more about the picture Escravidão, para mim, é quando as pessoas são meros instrumentos de produção e and the way they minimized pain, answering with moments of happiness,
reposição de realidades... Uma camisa clara pode ser bege, amarela ou branca. and makes people complement the image by mentally replacing the col- o trabalho escravo ainda existe em nosso país, sob muitas formas, envolvendo tanto finding room to be happy.
É como se a foto em preto e branco cobrasse mais atenção... ors that are missing. I also think that it gives the photo a special treat. Of homens, quanto mulheres e crianças. O trabalho de fotografia serviu para combater
course, my work involves denouncing, but it also shows people’s lives, DG – In slave labor, people are hired in such sub-human conditions
JRR - Acho que o preto e branco lhe permite pensar mais sobre a foto e obriga as pes- essa situação, mas também permitiu mostrar a capacidade de resistência, a dignida-
their beauty, their sensuality, details of their lives. And sometimes color that they end up in debt for the food they eat and the shacks they
soas a complementarem a imagem, recolocando mentalmente as cores que faltam. de dessas pessoas, sua beleza e o modo como elas minimizam a dor, respondendo
is a distraction. live in, sometimes they owe more than the wages they earn, isn’t
Também acho que traz um bemquerer para a foto. Claro que meu trabalho passa por com momentos de alegria e encontrando espaços para serem felizes. that so?
uma denúncia, mas também passa por mostrar a vida das pessoas, sua beleza, sua DG – I know that through all these years you have experienced some JRR – This process is known as debt or income slavery. Various seg-
sensualidade, detalhes de suas vidas. E, às vezes, a cor distrai. limit situations. How do you and your camera react at such times? DG – No trabalho escravo, as pessoas são contratadas em condições tão sub- ments of the Brazilian economy live off this exploration. There is this
JRR – I think that emotion is fundamental to a photographer. We have to humanas que acabam gerando uma dívida em relação à comida que comem e ao principle of minimizing costs, of calling it “labor with zero cost in gener-
DG – Sei que, ao longo desses anos todos, você já vivenciou algumas situações let it flow. It helps in the process of interacting. I remember many times barraco onde moram, que muitas vezes é maior do que o salário que recebem, ating raw material”, like in the charcoal kilns, where they generate pig-
crying while taking pictures. People understand that you’re there to help, iron. A series of products is generated in this way. Throughout his life, an
limites. Como você reage com sua câmera nesses momentos? não é isso?
feeling sympathy for those suffering the pain. Now, if at a certain moment individual ends up consuming many products that come from this slave
JRR - Penso que a emoção é fundamental ao fotógrafo. Devemos deixá-la fluir. Ela JRR – Esse processo é chamado “escravidão por dívida ou renda”. Vários segmentos
I feel that I’m being too invasive, I try to put the brakes on. I believe a photo labor. The work is extremely insalubrious, children grow old quickly, stu-
ajuda nesse processo de interação. Eu lembro de que muitas vezes já fotografei cho- da economia brasileira vivem dessa exploração. Há esse princípio de minimizar os cus-
isn’t worth hurting feelings, but at such times it’s not the photos that are pidly, and of course they are going to be exploited adults. There ought
rando. As pessoas entendem que você está ali somando, sendo solidário àquela dor. lost, but the moments won. tos, de chamar mão de obra que tenha custo zero na geração da matéria-prima, como to be a study on this relationship between child labor and slave labor.
Agora, se em algum momento eu perceber que estou sendo invasivo, procuro me re- na carvoaria, em que a pessoa vai gerar ferro gusa. Uma série de produtos é gerada It’s a cyclic process. Here is a serious case of need for work in educa-
frear. Acho que uma foto não vale uma agressão a um sentimento, mas nessas horas DG – Of all the topics you have photographed in these 35 years, desse modo. Ao longo de sua vida, um indivíduo acaba consumindo vários produtos tion. Needless to say, this situation is the fruit of all the big national de-
não são fotos perdidas, são momentos ganhos. which of them best expresses your work? provenientes desse trabalho escravo. O trabalho é extremamente insalubre, a criança ficiencies: lack of education, lack of work opportunities... Is it poverty
JRR – I think that the pursuit of dignity permeates all my work. As well as envelhece rapidamente, de uma forma estúpida, e naturalmente vai ser um adulto ex- that generates slave labor? No, it’s the process of miserability that facili-
the pursuit of sensuality, and affection. Some topics I have delved deeper tates the process of the entrepreneurs’ exploitation of these people. It’s
DG – Dentre os temas fotografados ao longo desses 35 anos, quais expressam plorado. Deveria haver um estudo sobre essa relação entre o trabalho infantil e o tra-
into and revisited time and time again. I managed to reach the charcoal much easier to exploit a situation of poverty. Often the worker arrives
melhor o seu trabalho? balho escravo. É um processo cíclico. Tem de ser feito um trabalho de educação. Claro
kilns and to understand a little about the work of the coalman, I was able to at work already in debt because the companies charge for transporta-
JRR – Acho que a busca pela dignidade permeia todos os meus trabalhos. Assim chat and be accepted. I also learned a lot from the process of documenting
que esse quadro é fruto de todas as grandes deficiências nacionais: falta de educação, tion, accommodation, food and even his work tools. People often join the
como a busca pela sensualidade, pelo carinho. Em alguns temas, eu mergulhei mais the Indians, especially the guaranis-kaiowás. I think that I also managed falta de oportunidades de trabalho... É a pobreza que gera o trabalho escravo? Não. É process already enslaved. And what’s most impressive is that you come
fundo, revisitei inúmeras vezes. Consegui chegar às carvoarias e entender um pouco an interesting dialogue with the canoeing guatós, and with the terenas. I o processo de miserabilidade que facilita o processo de exploração dos empresários across workers who say “I’m honest and I’m going to clear my debts”.
o trabalho do carvoeiro, pude conversar, ter uma aceitação. Também pude aprender would get there and play with the shamans. The Casa do Caminho (Road- sobre essas pessoas. É muito mais fácil explorar em cima da pobreza. Muitas vezes o
muito com o processo de documentação dos índios, principalmente os guaranis-kaio- house) in Minas Gerais was a project that I managed to carry out in a calm trabalhador já chega endividado ao local de trabalho, porque as empresas cobram o DG – I remember one remarkable photo of yours, taken at low speed,
atmosphere. And one of the hardest pieces of work I have ever done was transporte, o hotel, a alimentação e as próprias ferramentas de trabalho. Muitas vezes of a black man illuminated only by a lamp and trying to light his
wás. Acho que também consegui um diálogo interessante com os guatós, que são ín-
with the women victims of the fires in the clandestine fireworks factories cigarette. He doesn’t remember his age or even his own name – an
dios canoeiros, e com os terenas. Eu chegava lá e brincava com os xamãs. A Casa do as pessoas já entram escravizadas no processo. E o mais impressionante é que você
in Santo Antônio de Jesus, Bahia, where 74 women lost their lives. It was absurd example of loss of identity.
Caminho, em Minas Gerais, foi um projeto que consegui vivenciar com calma. E um encontra trabalhadores que dizem “sou honesto e não vou ficar devendo”.
impressive to see the scar left in the souls of the people who had lost their JRR – That episode left a deep impression on me. That man had only his
dos trabalhos mais difíceis que realizei foi junto às mulheres vítimas dos incêndios nas mothers and daughters. I accompanied the process of the mothers of the shorts and a little mud hut for a house, but in this documental work you
fábricas clandestinas de fogos de artifício em Santo Antônio de Jesus, Bahia, onde 74 victims taking over as mothers to their grand-daughters. I shared that job DG – Lembro de uma foto sua notável, feita em baixa velocidade, de um senhor come across such fantastic life stories, such amazing examples of survival
mulheres morreram. Foi impressionante ver a cicatriz nas almas das pessoas que per- with Aline Sassahara, an exceptional documentarist with an impressive negro iluminado apenas por uma lamparina, tentando acender seu cigarrinho, and conquest that they end up stimulating you to go on working. Some-
deram suas mães, suas filhas. Acompanhei o processo de mães das vítimas assumi- humanistic capacity, one of the people I have witnessed photographing e que não lembrava nem da idade nem do próprio nome. Um exemplo absurdo times, in a space where you think there can be no possibility of life, dreams
rem a maternidade de suas netas. Esse trabalho foi dividido com Aline Sassahara, uma and filming while crying and laughing. Afterwards, when we went back it de perda da identidade. happen, happiness is shared, examples of solidarity multiply and you find
was very powerful, with the photos helping in the legal process, promoting JRR – Esse episódio me marcou excepcionalmente. Esse senhor tinha apenas seu cal- surprising simplicity and happiness. That’s the magic that fascinates me.
documentarista excepcional, de um humanismo impressionante, uma das pessoas
campaigns and contributing to the production of a film that was shown in
que vi fotografar e filmar chorando e rindo. Depois, tivemos um retorno muito forte, ção e uma casinha de terra batida, mas nesse trabalho documental a gente encontra
the main square in town, crowded with people. With some themes you get DG – What do you envisage today: going over your old projects and
com as fotos ajudando no processo jurídico, promovendo campanhas e contribuindo histórias de vidas tão fantásticas, exemplos de superação, de conquistas, que acabam
more interaction and feel like going back to visit. continuing to document their timeline, or developing new work?
para a produção de um filme que foi exibido em praça pública, a principal da cidade, se traduzindo em estímulos para você continuar a produzir. Às vezes, num espaço em JRR – I feel like revisiting themes because I think that some of them are
lotada de gente. Com alguns temas você consegue uma interação maior e aí vem a DG – Your documentation of slave labor is very impressive. The is- que você pensa não haver qualquer possibilidade de vida, ali sonhos acontecem, ale- never finished. As long as social problems exist, they´ll be news. It’s also
vontade de revisitar esses locais. sue has been in the media a lot lately, but your photos have been grias são compartilhadas, exemplos de solidariedade se multiplicam e você encontra fantastic to document the new life that lies beyond. And it’s important to
showing this for about 15 years... uma singeleza e uma felicidade surpreendentes. Essa magia me fascina. carry on documenting slave labor, reflect more on the thin line that sepa-
DG – Sua documentação sobre o trabalho escravo é muito forte. O assunto JRR – Documenting the slave labor on the farms had great feedback, it rates slavery from extreme exploitation...
returned us to the theme of man exploiting man. We showed the cruelty DG – O que você vislumbra hoje: revisitar os antigos projetos e continuar docu- However, there are some new themes that stimulate me. For exam-
tem frequentado a mídia recentemente, mas suas fotos já provocam essa dis-
of a process in which the individual loses his identity and ceases to be a ple, I feel that women have an impressive role to play in the struggle for
cussão há cerca de 15 anos... mentando, na linha do tempo, ou desenvolver novos ensaios?
citizen. Slavery, for me, is when people are mere instruments of produc- dignity in all these stories. They way women face life, their creativity, soli-
JRR – A documentação do trabalho escravo nas fazendas teve um grande retorno, ao JRR – Eu tenho vontade de revisitar temas, porque acho que alguns nunca se exau-
tion, and slave labor still exists in our country, in many forms and involving darity, sensuality. How they “dance” in the face of life’s problems. There is
trazer a temática da exploração do homem sobre o homem. Mostramos a crueldade both men and women and children. The photography work allowed us to rem. Enquanto a problemática social existir, eles serão notícia. É também fantástico something in the world of women that I have not yet succeeded in photo-
de um processo em que o indivíduo perde a sua identidade e deixa de ser um cidadão. show the capacity for resistance, the dignity of those people, their beauty documentar a nova vida que se dará depois. Também é importante continuar a docu- graphing with the intensity it deserves. I am also thinking of delving deeper

30 31
mentar o trabalho escravo, refletir mais sobre a linha tênue que separa a escravidão into the universe of the popular photographers. Who are they? I’m thinking Escola de Fotógrafos Populares e, ao mesmo tempo, preciso continuar meu trabalho can meet so many people, there is a magic that enables you to break with
da profunda exploração... of documenting them better. de documentação, revisitando velhos temas e descobrindo novos. Meu dilema hoje stereotypes, a freedom to do what you believe in. If you travel down this
I’m a photographer fundamentally focused on Brazil, which has a ideal, your flight will be all the higher, and if this flight goes in the direction
Porém, existem alguns novos temas que me estimulam. Por exemplo, acho que é saber qual o melhor momento de passar o bastão. Já são cinco anos na Maré e eu
vast universe to be photographed. I have taken few trips abroad, but I very of people, your journey will be all the more magical and transforming. That
a mulher tem um papel impressionante na luta pela dignidade em todas essas histó- espero que, em breve, esse movimento possa continuar como uma espécie de coo-
much want to document Cuba, try to understand how the population has still thrills me, even today.
rias. A maneira como ela encara a vida, sua criatividade, solidariedade, sensualidade. perativa, com os fotógrafos populares à frente, modificando, adaptando, tocando a
resisted the trade embargo all this time.
Como “dançar” diante dos problemas da vida. Há, no mundo da mulher, algo que ain- agência a seu modo.
da não consegui fotografar com a intensidade que merece. Penso ainda em mergu- DG – Do you have any vision of what Brazil could become, or do you Enfim, a fotografia permite uma pitada de loucura, daquela loucura juvenil que
lhar mais a fundo nesse universo dos fotógrafos populares. Quem são eles? Penso em live more in the present? nos impulsiona a fazer as coisas. Nesse tipo de trabalho, em que você pode conhecer
documentá-los melhor. JRR – I’m going on 56 and I still wonder about that. But there is no an- tanta gente, existe uma magia que lhe dá a possibilidade de romper com os estereó-
Sou um fotógrafo voltado fundamentalmente para o Brasil, que tem um vasto swer, because I’ve got both sides. I feel it’s very unlikely for there to be tipos, uma liberdade de fazer aquilo em que você acredita. Se você viajar nesse ideal,
a turnaround, but I do believe that solidarity is the main road toward a
universo para ser fotografado. Tenho poucas incursões fora, mas tenho uma grande seu voo será ainda maior, e se esse voo for na direção das pessoas, sua viagem será
process of change. I don’t know if we will manage it. As soon as you have
vontade de documentar Cuba, de tentar entender como, durante esse tempo todo, a ainda mais mágica, transformadora. Isso me excita até hoje.
a struggle for the power of decision, the ideological manipulation is tre-
população resistiu ao embargo econômico.
mendous. Part of the information is omitted and life is told the way that
the dominant elite want to tell it, which prevents a critical mass being
DG – Você tem alguma projeção do que poderia ser o Brasil ou você vive mais formed. On the other hand, forms of popular organization are beginning
no presente? to appear within segregated spaces, strong movements are beginning to
JRR – Vou fazer 56 anos e ainda me pergunto isso. Mas não encontro uma resposta: surge up, but these face a very fierce fight. My view of the Brazilian State
tenho os dois lados. Acho muito difícil haver uma reviravolta, mas acredito que a soli- is a very hard one, as it is for some other countries that invest in segrega-
tion as the way to maintain the status quo. The time will come when this
dariedade é o grande caminho para um processo de transformação. Não sei se con-
generates a big revolution. How will this come about? I don’t know. I don’t
seguiremos isso. A partir do momento em que há uma disputa pelo poder de decisão,
believe that the process of accumulating income will change, unless the
há uma manipulação ideológica muito grande. Omite-se parte da informação e a vida spaces of segregation pull together in the future.
é contada da maneira que a elite dominante quer contar, impedindo a formação de
uma massa crítica. Por outro lado, começam a existir caminhos de organização po- DG – In a way, what you are doing now in the Maré slum is to give
pulares dentro dos espaços segregados, começam a surgir movimentos fortes, mas the segregated a voice...
que enfrentam uma luta muito grande. Tenho uma visão muito dura sobre o Estado JRR – It’s a path for people to find other paths within their professions.
brasileiro, assim como o de diversos outros países, que investem na segregação como Training in the area of communications – which is my specialization - is
one way to find them. “Images of the People” is the start of this process
forma de manter o status quo. Vai chegar uma hora em que isso vai gerar uma grande
of inclusion. I don’t know whether I will get to see this work reproduced
revolução. Como ela virá? Não sei. Não acredito que o processo de acumulação de
in the Landless Movement, the Indian communities and the former slave
renda mude, a não ser que no futuro os espaços de segregação se unam. communities (quilombolas), but that’s my mainspring, that’s what drives
me. Except that I also have a skeptical side to me: I don’t think that the
DG – De certo modo, o que você está fazendo agora na favela da Maré é dar voz people who hold the power will understand this one day. Sometimes I
aos segregados... think that not even the popular governments will invest in this proposal
JRR – É um caminho para que as pessoas, dentro de suas profissões, encontrem ca- of conciliation.
minhos. A formação dentro da área da comunicação – que é a minha especialidade –,
DG – Is there anything I haven’t asked you that you would like to add?
é uma forma de buscar isso. O Imagens do Povo é o início desse processo de inclusão.
JRR – Maybe it would be interesting to say that a documental photogra-
Não sei se chegarei a ver esse trabalho ser reproduzido no MST, nas comunidades
pher’s process of evolution passes through revisiting scenarios, rethinking
indígenas, nos quilombolas, mas essa é a minha mola mestra, o que me impulsiona. life models, re-learning, and trying to understand how changes have taken
Só que eu tenho também um lado cético: eu não acredito que as pessoas que detêm place. If we don’t keep up, we fail to understand the process. And that’s my
o poder irão entender isso algum dia. Às vezes, acho que nem mesmo os governos big dilemma: I have to divide my time between administrating the School of
populares irão investir nessa proposta de conciliação. Popular Photographers and continuing my documentation work, revisiting
old themes and discovering new ones. Today my dilemma is to know the
DG – Há alguma coisa que eu não tenha perguntado e que você queira dizer? best moment to pass the baton. It’s been five years already in the Maré and I
hope that soon this movement can continue as a sort of cooperative, headed
JRR – Talvez seja interessante dizer que o processo de evolução de um fotógrafo do-
by the popular photographers, modifying, adapting, directing the agency as
cumentarista passa por revisitar cenários, repensar modelos de vida, reaprender, ten-
they see fit.
tar entender como ocorreram as mudanças. Se a gente não acompanha, não entende To tell the truth, photography permits you to be a bit crazy, that ju-
o processo. E esse é o meu grande dilema: tenho de me dividir entre administrar a venile craziness that spurs us to do things. In this sort of work where you

32 33
35
36 37
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
48 49
50 51
52 53
54 55
56 57
58 59
60 61
62 63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
78 79
80 81
82 83
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
108 109
110 111
112 113
114 115
116 117
118 119
120 121
122 123
124 125
126 127
128 129
130 131
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
142 143
144 145
146 147
148 149
150 151
152 153
154 155
156 157
158 159
160 161
162 163
164 165
166 167
168 169
170 171
172 173
174 175
176 177
178 179
180 181
182 183
184 185
186 187
188 189
190 191
192 193
194 195
196 197
198 199
200 201
202 203
204 205
206 207
208 209
210 211
212 213
214 215
216 217
218 219
220 221
222 223
224 225
226 227
228 229
Neta dança diante da avó Enedina Grand-daughter dancing in front of 95-ye- Índias Korotire. Nação Kaiapó, São Korotire Indians. Kaiapó nation, São Félix Família de trabalhadores do sisal, Family of sisal workers, Bahia, 1983. Família de Carvoeiros, Brasilândia, Family of charcoal workers, Brasilândia,
Maria da Conceição, 95 anos, em ars-old grandmother Enedina Maria da Félix do Xingu, Pará, 1983. do Xingu, Pará, 1983. Bahia, 1983. Mato Grosso do Sul, 1988. Mato Grosso do Sul, 1988.
Ponta Negra, Rio Grande do Norte, Conceição, in Ponta Negra, Rio Grande do
2007. Norte, 2007.

Índias Korotire. Nação Kaiapó, São Korotire Indians. Kaiapó nation, São Félix
Mulher canavieira que teve o mari- Woman sugarcane cutter whose husband Casal de trabalhadores carvoeiros, Charcoal worker couple, Minas Gerais,
Índio diante do mar em Cabrália, Indian standing on the shore at Cabrália, do Xingu, Pará, 1983.
Félix do Xingu, Pará, 1983. do morto por exaustão de trabalho died of exhaustion from work in the inte- Minas Gerais, 1989. 1989.
Bahia, 2000. Bahia, 2000.
rior of São Paulo, 2007.
no interior de São Paulo, 2007.

Índios Kaiowá, despejados da al- Kaiowá indians evicted from the Takaura
Trabalho escravo na Fazenda Slave labor on the Tuerê farm, with 126
Criança quilombola nadando no Child in former slave community swim- deia de Takaura, acampados em Reservation, camped in front of their old enslaved workers on the approximately
Tuerê, com 126 trabalhadores
Rio São Francisco, Norte de Minas ming in the São Francisco River, North frente à antiga terra, Mato Grosso territory, Mato Grosso do Sul, 2001. 490 “grabbed” hectares of farmer and
escravizados na grilagem de 180
Gerais, 2009. Minas Gerais, 2009. do Sul, 2001. ophthalmologist José Nicomedes and con-
alqueires do fazendeiro e médico
tractor Alberto Danga, helped by the thugs
oftalmologista José Nicomedes e
Bira Carvalho, fotógrafo formado Bira Carvalho, photographer graduated Rubens and Coca and by canteen owner
from the Images of the People Agency- do empreiteiro Alberto Danga; au- René, Municipality of Senador José Porfí-
pela Agência-Escola Imagens do
Índia Kaiowá em busca de empre- Kaiowá indian looking for work on the School sponsored by Slum Watch, pho- xiliado pelos gatos Rubens e Coca, rio, the main side road on the Trans-Ama-
Povo, do Observatório de Favelas,
go na fazenda Rio Brilhante, Mato Rio Brilhante Farm, Mato Grosso do Sul, tographing Joaquim and Luzia, in the e pelo cantineiro René, município Senador José Porfírio, vicinal principal zonian highway, Pará, December 2001.
fotografando seu Joaquim e dona
Grosso do Sul, 1997. 1997. Nova Holanda slum, Maré, Rio de Janeiro, da Transamazônica, Pará, Dezembro de 2001.
Casamento da jornalista Helen The wedding of journalist Helen, rural lea- Luzia, na Favela Nova Holanda,
2006.
com Eliseu, liderança rural em der in Montes Claros, North Minas Gerais,
Maré, Rio de Janeiro, 2006. Trabalho análogo ao de escravo na Slave-like labor on the Sapucaia farm.
Montes Claros, Norte de Minas 2009. fazenda Sapucaia. Esse trabalhador This worker had already lost all notion of
Gerais, 2009. já tinha perdido sua noção de cida- citizenship and no longer remembered
Meninas de Natal, Rio Grande do Girls in Natal, Rio Grande do Norte, 1987.
his full name, the name of his parents,
Norte, 1987. dania e não se lembrava mais de seu
A Casa do Caminho é um hospital de The Casa do Caminho (the Roadhouse) is an open-regime the farm where he worked or the farm
nome inteiro, nome dos pais, da fa-
apoio, com geriatria e psiquiatria em support hospital with geriatric and psychiatric care; about owner’s name. He had only an old pair of
zenda onde trabalhava, nem do dono bermudas and smoked a straw cigarette,
regime aberto, que atende cerca de 250 patients are assisted by nearly 140 employees. In the
250 pacientes assistidos por quase Casa do Caminho, you can breathe the charity and affection. da fazenda. Tinha apenas uma velha Xinguara, Pará, May 2002.
140 funcionários. Na Casa do Cami- The gardens smell of cleanliness and flowers. You hear music bermuda e pitava um cigarro de palha, Xinguara, Pará, Maio de 2002.
Eliseu, noivo de Helen, Montes Cla- Eliseu, Helen’s husband, Montes Claros,
nho, se respira caridade e carinho. and listen to the melody of peace. This is a support hospital
ros, Norte de Minas Gerais, 2009. North Minas Gerais, 2009. Menino carvoeiro sente os efeitos Boy charcoal worker feels the effects of
Os jardins têm cheirinho de limpeza with scant resources, but it is a house where nothing see-
Jovem mulher grávida, cercada Young pregnant woman surrounded by
da fuligem do carvão na fazenda the soot on the Financial Farm, Ribas do
e flor. Ouve-se música e escuta-se a ms to be lacking. The multidisciplinary staff is composed of
her brothers and sisters and attended by
pelos irmãos e assistida por partei- Financial, Ribas do Rio Pardo, Rio Pardo, Mato Grosso do Sul, 1988.
melodia da paz. É um hospital de apoio com poucos recursos, mas é uma doctors, psychiatrists, psychologists, social workers, psycho-
a midwife, Amapá, 2002.
pedagogues, occupational therapists, nurses, nursing auxilia- ra, Amapá, 2002. Mato Grosso do Sul, 1988.
casa onde parece que não falta nada. A equipe multidisciplinar é composta
por médicos, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, psicopedagogos, ries and technicians. The Casa do Caminho is a project of the
terapeutas ocupacionais, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem. spiritualist Tadeu, but it breathes faith, peace and ecumenical
A Casa do Caminho é um projeto do espírita Tadeu, mas respira fé, paz e fra- fraternity, a place where all beliefs live harmoniously together, Criança carvoeira trabalhando na Child charcoal worker in the Financial
ternidade ecumênica, um local onde todas as crenças convivem harmonio- Araxá, Minas Gerais, 2002. Farm, Ribas do Rio Pardo. His dream was
Fazenda Financial, em Ribas do
samente, Araxá, Minas Gerais, 2002. Parto feito por parteira, com Delivery assisted by midwife and accom- to be a football player, Mato Grosso do
Rio Pardo. Seu sonho era ser jo-
panied by the father, Amapá, 2002. Sul, 1988.
Família de trabalhadores rurais, Family of rural workers, North Minas Ge-
Carinho entre pai e filho em região Affection joining father and son in a drought acompanhamento do pai, Amapá, gador de futebol, Mato Grosso do
Norte de Minas Gerais, 1985. rais, 1985.Family of rural workers, North
de seca no Nordeste brasileiro, Pa- region of Brazil’s Northeast, Paraíba, 1998. 2002. Sul, 1988.
Minas, 1985.
raíba, 1998.

Raiz de castanheira e trabalhador Root of a Brazil nut tree and worker with
Família assistida pela Casa Renas- Family assisted by the Casa Renascer (the
ratchet, Castanhal do Ubá, Pará, 1983.
Família moradora do projeto Pa- Family residing in the Palheiro 3 project in com catraca, Castanhal do Ubá,
cer, um projeto destinado a recu- Reborn House), a project to recuperate
lheiro 3, em Mossoró, Rio Grande Mossoró, Rio Grande do Norte, 2003. girl victims of various types of violence in Pará, 1983.
perar garotas vítimas de violências
do Norte, 2003. Natal, Rio Grande do Norte, 1998.
generalizadas, Natal, Rio Grande
do Norte, 1998.
João e Olga, uma história de amor João and Olga, a story of love and courage. João Anselmo is
e coragem. João Anselmo é corta- a lumberjack and works with a chain saw. He is 51 years old,
dor e trabalha com a motosserra. strong and with an elegant physique, if already marked by Trabalho escravo em fazenda de Slave labor on a sugarcane plantation,
Tem 51 anos, corpo forte e porte time and heavy-duty work. His companion, Olga Maria Mar- Crianças quilombolas em Alcânta- Children in former slave community in cana-de-açúcar, Mato Grosso do Mato Grosso do Sul, 1986.
Família rural de Palmares. A se- Rural family in Palmares. The lady stan-
físico elegante, mas já marcado tins, aged 67, became blind working in the charcoal kilns beside ra, Maranhão, 1997. Alcântara, Maranhão, 1997.
nhora em pé, ao fundo, é parteira, ding in the background is a midwife, Per- Sul, 1986.
pelo tempo e pelo trabalho pesa- João. She looks much older than what she is and even depends
Pernambuco, 2004. nambuco, 2004.
do. Sua companheira, Olga Maria on her husband to cook for her. They live in a very poor shack
Martins, de 67 anos, ficou cega without sanitation and drinking water. To drink healthier water,
trabalhando nas carvoarias ao lado they have to look for a creek. João and Olga are the portrait of
de João. Aparenta ser bem mais slavery. They have received no money for six years and work
in exchange for food. Whoever sees old Olga groping her way
Caminhão transporta os corpos das Truck carrying the bodies of the 19 victims
velha do que é e depende do marido até para preparar a comida. moram Romeiros em Juazeiro do Norte, Pilgrims in Juazeiro do Norte, Ceará, of the massacre at Eldorado dos Carajás,
inside their shack is surprised to hear her story. “I was married Família a cavalo em Soledade, Family on horseback in Soledade, Paraíba, 19 vítimas do massacre do Eldorado
num barraco muito pobre, sem saneamento nem água potável. Para be- Ceará, 1998. 1998. Pará, 1996.
before. My ex-husband died and I brought up my four children Paraíba, 1997. 1997. dos Carajás, Pará, 1996.
ber água mais saudável, eles têm de sair para procurar um córrego. João
and managed for them to study and work. Now they are all
e Olga são o retrato da escravidão. Há seis anos, não recebem dinheiro e
married. I think they are happy. I fought a lot for that. Then I
trabalham em troca de comida. Quem vê a velhinha Olga Maria tateando
decided I was going to be happy and went to get myself a life,
por seu barraco se surpreende ao escutar sua história. “Tive um casamento
live adventures … and I fell in love with João, who was much
anterior. Meu ex-marido morreu e eu criei meus quatro filhos e consegui
younger, good and handsome. We worked and loved one Enterro das vítimas do massacre de Burial of the victims of the massacre at
que estudassem e trabalhassem. Hoje, todos estão casados. Acho que são Romeiros em Juazeiro do Norte, Pilgrims in Juazeiro do Norte, Ceará,
another in those coal kilns”. Olga was a fighting, seductive Eldorado dos Carajás, Pará, 1996. Eldorado dos Carajás, Pará, 1996.
felizes. Pra isso, lutei muito. Depois, resolvi ser feliz e fui viver a vida, viver Ceará, 1998. 1998. Morro do Preto Forro, Engenho Preto Forro Hill, Engenho Novo, Rio de
woman; when she talks, you can still see on her lips the strong
aventuras... e me apaixonei por João, que era mais novo, bom e bonito. Novo, Rio de Janeiro, 1977. Janeiro, 1977.
color of the passion that lives on in her memory. Looking at this
Trabalhamos e namoramos por essas carvoarias”. Olga foi uma mulher
couple, you realize how the exploitation in the charcoal kilns
guerreira e sedutora; quando fala, nos seus lábios ainda se desenha a cor crushes lives like a steam-roller and changes love stories into
forte da paixão que vive na sua memória. Olhando esse casal, se percebe tragedies. Olga and João are souls without dreams, or whose
como a exploração nas carvoarias passa como um trator por cima das vi- dreams have been mutilated but are still preserved in hearts of
das e transforma histórias de amor em tragédias. Olga e João são almas solidarity. “I have always worked under contract. I’ve lost count Velório em Eldorado dos Carajás, Wake in Eldorado dos Carajás, Pará,
sem sonhos ou de sonhos mutilados, guardados ainda em corações solidá- of the contractors who did not pay me. I worked for Jerônimo Pará, 1996. 1996.
rios. “Tenho sempre trabalhado de empreita. Já perdi a conta de quantos Reconstrução da Casa de Reza, Reconstruction of the Prayer House, Pa- Despejados em Marabá, Pará, 1979. Evicted in Marabá, Pará, 1979.
Heleno and Reinaldo. This last guy owns a market in Ribas do
Aldeia de Paraguaçu, pelos índios raguaçu Reservation, by Guarani Kaiowá
empreiteiros não me pagaram. Trabalhei pra Jerônimo, Heleno e Reinaldo. Rio Pardo. I received nothing from any of them. It’s been 6 or
indians, Mato Grosso do Sul, 2000.
Esse último, dono de mercado em Ribas do Rio Pardo. Não recebi nada de 7 years that I’ve been working just for food, there’s never any Guarani Kaiowá, Mato Grosso do
nenhum deles. Tem de 6 a 7 anos que venho trabalhando em troca de co- money left over. They say that I owe just a pittance. They treat Sul, 2000.
mida, nunca tenho saldo de dinheiro. dizem eles que eu fico devendo uma me anyway they want, I don’t know the price of what I buy in the
mixaria. eu sou tratado de qualquer jeito, não sei o preço de mercadoria market, I don’t know the price of anything”, Ribas do Rio
não sei o preço de nada”, Ribas do Rio Pardo, Mato Grosso do Sul, 1998. Pardo, Mato Grosso do Sul, 1998.

230 231
Enterro de criança assassinada, Rio Burial of murdered child, Rio de Janeiro, Exército reprime no Rio de Janeiro, Army repression in Catumbi, Rio de Ja- Índios Guarani Kaiowá, Mato Gros- Guarani Kaiowá indians, Mato Grosso do Carvoeiro enchendo caminhão em Charcoal worker filling truck in Olhos
de Janeiro, 1972. 1972. Catumbi, 1994. neiro, 1994. so do Sul, 1998. Sul, 1998. Olhos D’Água, Norte de Minas Ge- D’Água, North Minas Gerais, 1997.

rais, 1997.

Exército reprime no Rio de Janeiro, Army repression in Mangueira, Rio de Índios Guarani Kaiowá em conflito Guarani Kaiowá indians in conflict in the Carvoaria Rio Pardo de Minas, Mi- Rio Pardo de Minas coal kiln, Minas Ge-
Mangueira, 1994. Janeiro, 1994. Paraguaçu Reservation, Mato Grosso do
na Aldeia Paraguaçu, Mato Grosso nas Gerais, 2008. rais, 2008.
Sul, 2000.
do Sul, 2000.

Enterro de índia Guarani Kaiowá, ex- Burial of Guarani Kaiowá indian expelled
pulsa de sua aldeia e de suas terras from her reservation and lands in the
municipality of Arueira, Mato Grosso do
no município de Arueira, Mato Gros-
Sul, 1986.
so do Sul, 1986. Exército reprime no Rio de Janeiro, Army repression in Catumbi, Rio de Ja- Índios Guarani Kaiowá em conflito Guarani Kaiowá indians in conflict in the
Carvoaria Rio Pardo de Minas, Mi- Rio Pardo de Minas coal kiln, Minas Ge-
Catumbi, 1994. neiro, 1994. Paraguaçu Reservation, Mato Grosso do
na Aldeia Paraguaçu, Mato Grosso nas Gerais, 2008. rais, 2008.
Sul, 2000.
do Sul, 2000.

Criança na seca, Ceará, 1997. Child in the drought, Ceará, 1997.

Exército reprime no Rio de Janeiro, Army repression in Mangueira, Rio de Manifestação dos Sem-Terra por Demonstration of the Landless Movement
Marcos Quadrino, de 44 anos, tra- Marcos Quadrino, 44 years old, charcoal
Janeiro, 1994. ocasião das festividades de 500 on the occasion of the commemoration of
Mangueira, 1994. balhador carvoeiro, Mato Grosso worker, Mato Grosso do Sul, 1998.
the 500th anniversary of the discovery of
anos da descoberta do Brasil, Por-
Brazil, Porto Seguro, Bahia, 2000. do Sul, 1998.
to Seguro, Bahia, 2000.
Mulher resiste em sua terra já de- Woman resists on her land already devas-
vastada pela plantação de eucalip- tated by eucalyptus planting, North Minas
Gerais, 2002.
tos, Norte de Minas Gerais, 2002. Manifestação durante passeata no Demonstration during march at the World
Esquadrão da Morte atua na Bai- Death Squad acts in the Baixada Flumi-
Fórum Mundial Social em Porto Social Forum in Porto Alegre, Rio Grande Cooperativa de trabalhadores do Cooperative of sisal workers in Valente,
xada Fluminense, Rio de Janeiro, nense, Rio de Janeiro, 1979.
do Sul, 2001. sisal em Valente, Bahia, 1985. Bahia, 1985.
1979. Alegre, Rio Grande do Sul, 2001.

Casa queimada em Vila de Cava, Rio House burned down in Vila de Cava, Rio
de Janeiro, 1974. de Janeiro, 1974.

Trabalhadores rurais carregando Rural workers carrying the body of a Acampamento do Movimento Sem- Landless Movement Camp in Rio Bonito,

corpo de trabalhador assassinado worker murdered on the Chichalkrin Terra em Rio Bonito, Paraná, 1998. Paraná, 1998. Trabalho infantil no sisal em Valen- Child labor at sisal plantation in Valente,
Farm, Tocantins, 1984. te, Bahia, 1985. Bahia, 1985.
na fazenda Chichalkrin, Tocantins,
1984.

Pesagem realizada pela Pastoral da Weighing carried out by the Children’s


Criança, Ceará, 1999. Pastoral, Ceará, 1999.
Moradores de rua, Rio de Janeiro, Street people, Rio de Janeiro, 1979. Homens que trabalham e vivem no Men who work and live in the garbage in
lixo em Natal, Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, 1999. Trabalho infantil no sisal em Valen- Child labor at sisal plantation in Valente,
1979.
1999. te, Bahia, 1985. Bahia, 1985.

Trabalhador rural nos canaviais da Rural worker in the sugarcane fields of


Família da trabalhadora rural Ma- Family of rural worker Maria Nogueira,
Usina Ester, em Cosmópolis, São the Ester Mill in Cosmópolis, São Paulo,
ria Nogueira, boia-fria do café, coffee picker, living as a beggar between Trabalho infantil no sisal em Valen- Child labor at sisal plantation in Valente,
2009.
harvests, Bahia, 2004. Paulo, 2009. te, Bahia, 1985. Bahia, 1985.
Mãe e filha desnutrida da nação Mother and child malnutrition, from Gua- vivendo como pedinte durante a
Guarani Kaiowá, são expulsas de rani Kaiowá nation, are driven from their entressafra, Bahia, 2004.
land and housed in the Limão Verde Re-
suas terras, sendo abrigadas na
servation, Mato Grosso do Sul, 1998.
aldeia Limão Verde, Mato Grosso
do Sul, 1998. Trabalhador rural nos canaviais da Rural worker in the sugarcane fields of
Família voltando para Pernambu- Family returning to Pernambuco after
Usina Ester, em Cosmópolis, São the Ester Mill in Cosmópolis, São Paulo,
co, depois de tentar a vida em São trying their luck in São Paulo, 1989. Trabalho infantil no sisal em Valen- Child labor at sisal plantation in Valente,
2009.
Paulo, 1989. Paulo, 2009. te, Bahia, 1985. Bahia, 1985.

Trabalhadora rural despejada em Rural workers evicted in Marabá, Pará,


Crianças que trabalham e vivem Children who work and live among the Trabalhador limpando caldeira em Worker cleaning boiler on a sugarcane
1979. usina de cana-de-açúcar, São Pau- mill in São Paulo, 2008.
Marabá, Pará, 1979. no lixo em Natal, Rio Grande do garbage in Natal, Rio Grande do Norte, Seca no Nordeste brasileiro, Cuba- Drought in the Brazilian Northeast, Cubati,

Norte, 1999. 1999. lo, 2008. ti, Paraíba, 1999. Paraíba, 1999.

Carvoeiro em Ribas do Rio Pardo, Charcoal worker in Ribas do Rio Pardo,


Família despejada durante proces- Family evicted during urban occupation in Crianças que trabalham e vivem Children who work and live among the
Mato Grosso do Sul, 1998. Mato Grosso do Sul, 1998. População pegando água em reser- Population collecting water in a public re-
so de ocupação urbana em Natal, Natal, Rio Grande do Norte, 2006. no lixo em Natal, Rio Grande do garbage in Natal, Rio Grande do Norte,
vatório público, Soledade, Paraíba, servoir, Soledade, Paraíba, 1997.
Rio Grande do Norte, 2006. 1999.
Norte, 1999.
1997.

Palafitas na favela da Maré, Rio de Stilt house in the Maré slum, Rio de Ja- Índios Guarani Kaiowá, Mato Gros- Guarani Kaiowá indians, Mato Grosso do Crianças carvoeiras na fazenda Fi- Child charcoal workers in Financial Farm,
Mutirão de arroz em Conceição do Concerted effort gathering rice in Concei-
neiro, 1993. so do Sul, 1998. Sul, 1998. Ribas do Rio Pardo, Mato Grosso do Sul,
Janeiro, 1993. nancial, Ribas do Rio Pardo, Mato Araguaia, Pará, 1982. ção do Araguaia, Pará, 1982.
1988.
Grosso do Sul, 1988.

232 233
Mulher catadora de tomate, Birigui, Woman tomato picker, Birigui, São Paulo, Índias guaranis esperam na co- Guarani indian women wait in the kitchen for Alma de Gato, lider Guarani Kaiowá Alma de Gato (Cat Soul), Guarani Kaio- Criança quilombola em Alcântara, Child in former slave community in Alcân-

São Paulo, 1982. 1982. zinha a volta dos maridos, índios their horsemen husbands to come home, da aldeia Taquara, assassinado por wá leader of the Taquara Reservation, Maranhão, 1997. tara, Maranhão, 1997.
Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul, 1998. murdered by gunmen hired by farmers in
guaranis cavaleiros, Rio Brilhante, pistoleiros, a serviço de fazendeiros
Mato Grosso do Sul, 2001.
Mato Grosso do Sul, 1998. do Mato Grosso do Sul, 2001.

Família espera volta do pai, que Family waiting for father to come home, Carvoeiro em Olhos D’Água, Norte Charcoal worker in Olhos D’Água, North
Trabalhador rural canavieiro, Mato Sugarcane worker, Mato Grosso do Sul, Pescador de Niterói, Rio de Janeiro, Fisherman in Niterói, Rio de Janeiro, 1971.
after being imprisoned on slave labor de Minas Gerais, 1997. Minas Gerais, 1997.
Grosso do Sul, 1986. 1986. está preso em trabalho escravo no 1971.
farm, South Pará, 1984.
Sul do Pará, 1984.

Trabalhadores rurais em assenta- Rural workers at a Landless Movement Índio Guarani Kaiowá trabalhando Guaraní Kaiowá indian working in condi-
settlement, on the Anoni Farm, Rio Gran- Parteira acompanha mãe grávida Midwife attending to pregnant woman in
em condições análogas às de um tions similar to slavery in the Naviraí mill, Índio Korotire Kaiapó em São Félix Korotire Kaiapó indian in São Félix do Xin-
mento do MST na fazenda Anoni,
de do Sul, 1984. no Amapá, 2005. Amapá, 2005. Mato Grosso do Sul, 1987. do Xingu, Pará, 1983. gu, Pará, 1983.
Rio Grande do Sul, 1984. escravo na usina Naviraí, Mato
Grosso do Sul, 1987.

Trabalhador rural andando na Tran- Rural worker walking on the Trans-Ama-


Índios Guarani Kaiowá desaldea- Guarani Kaiowá indians evicted from their
zon highway, Altamira, Pará, 1985.
reservation, looking for work in Rio Bri- Atirador de facas de um circo Knife-thrower of a country circus training samazônica, Altamira, Pará, 1985.
dos, buscando emprego na fazen-
lhante Farm, Mato Grosso do Sul, 1997. mambembe treina seu ofício com with his pregnant wife, Natal, Rio Grande
da Rio Brilhante, Mato Grosso do
mulher grávida, Natal, Rio Grande do Norte, 2007. Índio Korotire Kaiapó em São Félix Korotire Kaiapó indian in São Félix do Xin-
Sul, 1997. gu, Pará, 1983.
do Norte, 2007. do Xingu, Pará, 1983.

Família atingida pela grande seca Family afflicted by the great drought in
Trabalhadores rurais nos canaviais Sugarcane workers in São Paulo, 2009.
do Ceará, 1998. Ceará, 1998.
de São Paulo, 2009.
Crianças caranguejeiras, Maragogi- Children crab catchers, Maragogipe, Bahia,
pe, Bahia, 2001. 2001.

Jovens mães moradoras em fave- Young mothers living in a slum in Natal,


la de Natal, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Norte, supported by the
Índio Guarani Kaiowá em área de Guarani Kaiowá indian in an area of con-
Trabalhador rural em usina de São Rural mill worker in São Paulo, 2009.
amparadas pelo Projeto Renascer, Renascer Project, 1998.
conflito na Aldeia Paraguaçu, Para- flict in the Paraguaçu Reservation, Para-
Paulo, 2009. nhos, Mato Grosso do Sul, 1998. 1998.
Crianças que trabalham na cata do Children who work scavenging in the gar- nhos, Mato Grosso do Sul, 1998.
lixo e vivem no local, Rio Grande do bage dump and live on the spot, Rio Gran-
de do Norte, 1999.
Norte, 1999.
Mãe e filha de trabalhadora morta Mother and daughter of a female worker
na explosão de fogos de artifício, killed in the explosion of a clandestine
Trabalhador rural em usina de São Rural mill worker in São Paulo, 2009.
em fábrica clandestina de Santo fireworks factory in Santo Antônio de Je-
Paulo, 2009. Índia Guarani Kaiowá em área de Guarani Kaiowá indian in an area of con-
flict in the Paraguaçu Settlement, Para-
Antônio de Jesus, na qual morre- sus in which 64 women died. Clandestine
conflito na Aldeia Paraguaçu, Pa-
Ciep abandonado na Favela Ru- Public school abandoned in the Rubens
nhos, Mato Grosso do Sul, 1998.
ram 64 mulheres. As fábricas clan- factories still operate in the town, since no
Vaz slum and occupied by residents of the ranhos, Mato Grosso do Sul, 1998. destinas continuam a funcionar na other decent work options were offered to
bens Vaz, ocupado por moradores
do Complexo da Maré, Rio de Ja- Maré slum complex, Rio de Janeiro, 1991. cidade, uma vez que não foram ofe- the dwellers of the local slums, who still
recidas opções de trabalho decente constitute the labor force in a situation
neiro, 1991.
aos moradores das favelas locais, os quais continuam atuando como mão similar to slavery for these merchants,
Trabalhador mangabeiro de Vila Rubber tapper in Vila de Ponta Negra. With the creation
de obra em situação análoga à de escravos para esses comerciantes que who have yet to be condemned and impri-
de Ponta Negra. Com a criação of the so-called Hell’s Barrier, a de-activated air base
até hoje não foram condenados e presos, Bahia, 2002. soned, Bahia 2002.
da chamada Barreira do Inferno, for launching rockets, a large spread of land with many
base aérea para lançamento de mangabeira (Hancornia speciosa) trees was occupied Ciep abandonado na Favela Ru- Public school abandoned in the Rubens Indiazinha Guarani Kaiowá em área Little Guarani Kaiowá indian girl in an area
Rosto amigo, Rio de Janeiro, 2007. A friendly face, Rio de Janeiro, 2007.
foguetes hoje desativada, uma and the workers had to abandon the site to work in this bens Vaz, ocupado por moradores Vaz slum and occupied by residents of the de conflito, durante retomada da of conflict during repossession of the
grande extensão de terras, com extractivist profession. Their journey involves climbing Maré slum complex, Rio de Janeiro, 1991. Caarapó Reservation, Mato Grosso do
do Complexo da Maré, Rio de Ja- Reserva Caarapó, Mato Grosso do
várias mangabeiras, foi ocupada e up dunes covered with vegetation and mangabeira tre- Sul, 2000.
neiro, 1991. Sul, 2000.
os trabalhadores tiveram de abandonar a localidade para trabalhar nes- es, working hard and stopping to rest for two days in a
sa profissão extrativista. Em seu trajeto, eles sobem dunas repletas de friend’s house, where they have to carry water - either
vegetação e mangabeiras num trabalho árduo, parando para descansar on their heads or pulling a cart - for cooking, bathing and
por dois dias na casa de uma amiga, onde têm que carregar água para washing fruit,. They use these two days to gather other
fruits like mangoes, and herbs like rosemary, besides en-
Uma das poucas remanescentes One of the few remaining members of the
fazer a comida, a higiene e lavar as frutas, seja em latas na cabeça, seja Kinikinau ethnic group, this Indian, aged Criança quilombola do Quilombo Child in former slave community, the
joying themselves in the Pirangi River. Then they return da etnia Kinikinau, esta índia, com
puxando carroça. Aproveitam esses dois dias para colherem outros fru- over 100 was welcomed on the reserva- do Gurutuba, Vila Sudário, Vilarejo Quilomo Gurutuba, Vila Sudário, Vilarejo
tos, como manga, e ervas, como o alecrim, além de se divertirem no Rio on Tuesday night, leaving the fruit wrapped up to ripen by mais de 100 anos, encontrava-se Pacuí, Minas Gerais, 2005. Sorriso cúmplice na Casa do Cami- An accomplice smile in the Casa do Cami-
tion. Terena, Mato Grosso do Sul, 1986. Pacuí, Minas Gerais, 2005.
Pirangi. Depois, retornam na terça à noite, deixam as frutas abafadas Thursday, when they will sell it in the community or in the acolhida em aldeia Terena, Mato nho, Araxá, Minas Gerais, 2002. nho, Araxá, Minas Gerais, 2002.
madurando até a quinta-feira, quando vão vendê-las na comunidade ou city of Natal, Rio Grande do Norte, 2007. Grosso do Sul, 1986.
na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, 2007.
Mangabeiras de Vila de Ponta Ne- Mangabeira (Hancornia speciosa) trees in
gra, Natal, Rio Grande do Norte, Vila de Ponta Negra, Natal, Rio Grande do
Norte, 2007. Indiazinha Guarani Kaiowá em área Little Guarani Kaiowá indian girl in an area
2007.
de conflito, durante retomada da of conflict during repossession of the
Trabalhador carvoeiro em Ribas Charcoal worker in Ribas do Rio Pardo,
Caarapó Reservation, Mato Grosso do
Mato Grosso do Sul, 1998. Reserva Caarapó, Mato Grosso do
do Rio Pardo, Mato Grosso do Sul, Sul, 2000. Escoamento da produção vicinal Outflow of production in areas bordering
Sul, 2000.
1998. da Transamazônica. Medicilândia, the Trans-Amazon highway. Medicilândia,
Pará, 1987.
Pará, 1987.
Indiozinho Guarani Kaiowá, no altar Little Guarani Kaiowá indian boy at the
da casa do cacique Francisco Beni- altar of the house of Chief Francisco Beni-
Filha de trabalhadora morta na explo- Daughter of a female worker killed in the
tez, Mato Grosso do Sul, 2000. tez, Mato Grosso do Sul, 2000.
são de fogos de artifício, em fábrica explosion of a clandestine fireworks fac-
clandestina de Santo Antônio de Je- tory in Santo Antônio de Jesus in which
sus, em que morreram 64 mulheres. 64 women died. Clandestine factories
As fábricas clandestinas continuam a still operate in the town, since no other

Trabalhador carvoeiro em Casta- Charcoal worker in Castanhal do Ubá, funcionar na cidade, uma vez que não decent work options were offered to the
Cinema em Tucuruí, Pará, 2001. Cinema in Tucuruí, Pará, 2001. foram oferecidas opções de trabalho dwellers of the local slums, who still cons- Crianças no carro de bois, Norte de Children on ox-drawn cart, North Minas
nhal do Ubá, Pará, 1985. Pará, 1985.
Minas Gerais, 1999. Gerais, 1999.
decente aos moradores das favelas titute the labor force in a situation similar
locais, os quais continuam atuando to slavery for these merchants, who have
como mão de obra em situação aná- yet to be condemned and imprisoned,
loga à de escravos para esses comer- Bahia, 2002.
ciantes que até hoje não foram conde-
nados e presos, Bahia, 2002.

234 235
Pescadores em Arraial do Cabo, Fishermen at Arraial do Cabo, Rio de Ja- Zona rural de Tapetim, Pernambuco, The rural zone in Tapetim, Pernambuco, Índios Guarani Kaiowá ameaçados Guarani Kaiowá indians threatened with Mulher em manifestação no Fórum Woman at a demonstration in the World
Rio de Janeiro, 1982. neiro, 1982. 2004. 2004. de despejo na aldeia Jaguapiré. Pa- eviction from the Jaguapiré Reservation, Social Mundial, Porto Alegre, 2001. Social Forum, Porto Alegre, 2001.
Paranhos, Mato Grosso do Sul, 1989.
ranhos, Mato Grosso do Sul, 1989.

Trabalhadora rural cuidando do Rural worker tending the bean crop in Tra- Akayeratá dos Santos e sua mãe Akayeratá dos Santos and his mother Manifestação no Fórum Social Demonstration at the World Social Forum,
plantio de feijão em Trajano de Mo- jano de Moraes, Rio de Janeiro, 2004. Noêmia Alves dos Santos, índios Noêmia Alves dos Santos, Pataxó nation Mundial, Porto Alegre, 2001. Porto Alegre, 2001.
indians, from the Jaqueira Reservation in
Travessia São Luís - Alcântara, Ma- Crossing from São Luís to Alcântara, Ma- raes, Rio de Janeiro, 2004. da nação Pataxó, da aldeia Jaquei-
Santa Cruz Cabrália, Bahia, 2009.
ranhão, 1997. ranhão, 1997. ra, em Santa Cruz Cabrália, Bahia,
2009.

Família esperando condução, Para- Family waiting for a lift, Paraíba, 1997. Crianças brincam no Projeto Pa- Children playing in the Palheiro 1 Project,
íba, 1997. lheiro 1, Mossoró, Rio Grande do Mossoró, Rio Grande do Norte, 2006.

Rio São Francisco em São Francis- The São Francisco River at São Francisco, Norte, 2006.
co, Minas Gerais, 2008. Minas Gerais, 2008.

Nawy Alves Serafim, índia Pataxó Nawy Alves Serafim, a pataxó indian from
da aldeia Jaqueira, em Santa Cruz the Jaqueira Reservation in Santa Cruz

Soledade, Paraíba, 1997. Soledade, Paraíba, 1997. Cabrália, Bahia, 2009.


Cabrália, Bahia, 2009.

Rio São Francisco em Pirapora, Mi- The São Francisco River at Pirapora, Mi-
nas Gerais, 2008. nas Gerais, 2008.

Lavadeira, na favela Malvina, Ama- Washing woman, in the Malvina slum,


Crianças brincam no Projeto Pa- Children playing in the Palheiro 1 Project,
pá, 1988. Amapá, 1988.
Centro de beneficiamento de car- Charcoal processing center, Três Marias,
lheiro 1, Mossoró, Rio Grande do Mossoró, Rio Grande do Norte, 2006.
vão, Três Marias, Mato Grosso do Mato Grosso do Sul, 1988.
Norte, 2006.
Sul, 1988.
Rio São Francisco em Pirapora, Mi- The São Francisco River at Pirapora, Mi-
nas Gerais, 2008. nas Gerais, 2008.

Pescadoras na Cachoeira de Te- Fisherwomen at Cachoeira de Teotônio in


Crianças brincam no Projeto Pa- Children playing in the Palheiro 1 Project,
Rio São Francisco em Ibotirama, The São Francisco River at Ibotirama,
Porto Velho, Roraima, 2005.
Bahia, 2004.
otônio em Porto Velho, Roraima, lheiro 1, Mossoró, Rio Grande do Mossoró, Rio Grande do Norte, 2006.
Bahia, 2004.
2005. Norte, 2006.

Marisqueiras de Maragogipe, Re- Shellfish gatherers at Maragogipe, Recôn-


côncavo Baiano, Bahia, 2001. cavo Baiano, Bahia, 2001.

Ribeirinhos observando o encontro Riverside dwellers watching the meeting Pescadoras na Cachoeira de Te- Fisherwomen at Cachoeira de Teotônio in
Crianças brincam no Projeto Pa- Children playing in the Palheiro 1 Project,
do Rio São Francisco com o Rio of the São Francisco River with the Rio Porto Velho, Roraima, 2005.
otônio em Porto Velho, Roraima, lheiro 1, Mossoró, Rio Grande do Mossoró, Rio Grande do Norte, 2006.
Grande, Barra, Bahia, 2005.
Grande, Barra, Bahia, 2005. 2005. Norte, 2006.

Sertão da Paraíba, 1998. The Paraíba backlands, 1998.

Pescadoras na Cachoeira de Te- Fisherwomen at Cachoeira de Teotônio in


Gabriela, filha de Patrícia e Ricardo Gabriela, daughter of Patrícia and Ricardo
Pequeno índio no rio Araguaia, Con- Indian boy in the Araguaia River, Concei-
Porto Velho, Roraima, 2005.
ção do Araguaia, Pará, 1982.
otônio em Porto Velho, Roraima, Funari, em sua casa de Nova Fri- Funari, at their home in Nova Friburgo, Rio
ceição do Araguaia, Pará, 1982.
2005. burgo, Rio de Janeiro, 2008. de Janeiro, 2008.

Vaqueiro em Xinguara, Pará, 1979. Cowboy in Xinguara, Pará, 1979.

Trabalhador carvoeiro com papa- Charcoal worker with parrot, Brasilândia, Retomada da aldeia Cerro Moran- Repossession of the Cerro Morangatu Re-
Meninos canoeiros no rio Araguaia, Boys brigade in the Araguaia River, Con-
gaio, Brasilândia, Mato Grosso do Mato Grosso do Sul, 1984. servation in Antonio João, Mato Grosso do
Conceição do Araguaia, Pará, ceição do Araguaia, Pará, 1983. gatu, no município Antonio João,
Sul, 1984. Sul, 2000.
1983. Mato Grosso do Sul, 2000.

Xinguara, Pará, 1983. Xinguara, Pará, 1983.

Trabalhadora rural em Porteirinhas, Rural worker in Porteirinhas, North Minas Índio Kaiowá na aldeia de Jaguapi- Kaiowá indian in the Jaguapiré Reserva-
Escola indígena na Aldeia Taquara, Indian school in the Taquara Reservation,
Norte de Minas Gerais, 2009. Gerais, 2009. tion. Paranhos, Mato Grosso do Sul, 1989.
Mato Grosso do Sul, 2001.
ré, Paranhos, Mato Grosso do Sul,
Mato Grosso do Sul, 2001.
1989.

Trabalhador faz barba em estábu- Worker shaving in a stable on the Estrela


lo na fazenda Estrela das Alagoas, das Alagoas Farm, where he was found
onde foi encontrado trabalhando working as a slave. Owner: Lima Araújo
como escravo. Proprietário: Lima Agropecuária Ltda. The property owns
Escola indígena na Aldeia Taquara, Indian school in the Taquara Reservation, Sr. Ataliba dos Santos, carvoeiro, Mr. Ataliba dos Santos, charcoal worker, Índio Guarani Kaiowá da aldeia Pa- Guarani Kaiowá indian at the Paraguaçu
Araújo Agropecuária Ltda. A pro- 11,000 hectares and 10,000 head of cat- Mato Grosso do Sul, 2001. vítima de trabalho escravo, com victim of slave labor, with his first working raguaçu, Paranhos, Mato Grosso Reservation, Paranhos, Mato Grosso do
Mato Grosso do Sul, 2001.
priedade possui 11 mil hectares e tle. Manager: Gilvan Passos Filho; promo- papers. Ribas do Rio Pardo, Mato Grosso Sul, 2000.
sua primeira carteira de trabalho. do Sul, 2000.
10.000 bois. Gerente: Gilvan Pas- ter who worked on the case: Loris Rocha do Sul, 1988.
Ribas do Rio Pardo, Mato Grosso
sos Filho; procurador que atuou Pereira Junior. Mr. Gilvan, manager of the
do Sul, 1988.
no caso: Loris Rocha Pereira Junior; o Sr. Gilvan, gerente da fazenda, é farm, is an agricultural engineer, Mato
engenheiro agrônomo, Mato Grosso do Sul, 2000. Grosso do Sul, 2000.

Acampamento Rio Bonito, Paraná, Rio Bonito Camp, Paraná, 1998.. Escola indígena na Aldeia Taquara, Indian school in the Taquara Reservation, Acampamento Rio Bonito, Paraná, Rio Bonito Camp, Paraná, 1997. Os irmãos Marcos e Indiana Barbo- Brothers Marcos and Indiana Barbosa
1998. Mato Grosso do Sul, 2001. sa brincam no Rio São Francisco, playing in the São Francisco River, at the
Mato Grosso do Sul, 2001. 1997.
crossing between Xique Xique and Barra,
na travessia de Xique Xique para
Bahia, 2008.
Barra, Bahia, 2008.

236 237
Pescadores no encontro do Rio Fishermen at the spot where the São Fran- Índios jogando bola em fazenda Indians playing football on a sugarcane
São Francisco com o Rio Negro, em cisco River meets the Rio Negro in Barra, de cana-de-açúcar, Rio Brilhante, plantation in Rio Brilhante, Mato Grosso
Bahia, 2004. do Sul, 2002.
Barra, Bahia, 2004. Mato Grosso do Sul, 2002.

Crianças caranguejeiras brincam Children crab gatherers playing in a com- Catadores de lixo jogam bola em Men who work in the garbage playing foot-
em comunidade de mulheres munity of women shellfish gatherers, Ma- lixão, Natal, Rio Grande do Norte, ball, Natal, Rio Grande do Norte, 1999.
ragogipe, Bahia, 2001.
marisqueiras, Maragogipe, Bahia, 1999.
2001.

Ping-pong na Favela da Maré, Rio Ping-pong in the Maré slum, Rio de Janei- Índios jogando bola em fazenda Indians playing football on a sugarcane

de Janeiro, 1986. ro, 1986. de cana-de-açúcar, Rio Brilhante, plantation in Rio Brilhante, Mato Grosso
do Sul, 2002.
Mato Grosso do Sul, 2002.

Crianças fantasiadas de bate-bola Children dressed up for street games du- Crianças marisqueiras e carangue- Children shellfish and crab gatherers
na Favela Nova Holanda, Maré, Rio ring Carnival in the Nova Holanda slum, jeiras jogando futebol no mangue playing football in the mangrove at Mara-
Maré, Rio de Janeiro, 1986. gogipe, Recôncavo Baiano, 2001.
de Janeiro, 1986. de Maragogipe, Recôncavo Baiano,
2001.

Índios Kaiwá fazem a Dança da Paz Kaiwá indians doing the Dance of Peace in
Escola na Transamazônica, Altami- School on the Trans-Amazon Highway,
na Aldeia Limão Verde, Mato Gros- the Limão Verde Reservation, Mato Gros-
ra, 1983. Altamira, 1983.
so do Sul, 1998.
so do Sul, 1998.

Pedro e Letícia, meus filhos meno- My youngest children, Pedro and Letícia, Projeto da bailarina Rita Serpa no Ballerina Rita Serpa’s project in the Alemão
res, Rio de Janeiro, 2009. Rio de Janeiro, 2009. slum complex, Rio de Janeiro, 1985.
Complexo do Alemão, Rio de Janei-
ro, 1985.

Jovens da Casa Renascer, projeto Youngsters from the Casa Renascer (the
de recuperação de meninas vítimas Reborn House), a project to recuperate
girl victims of various types of violence in
de vários tipos de violência em Na-
Natal, Rio Grande do Norte, 1999.
Pedro e Letícia, meus filhos meno- My youngest children, Pedro and Letícia, tal, Rio Grande do Norte, 1999.
res, Rio de Janeiro, 2009. Rio de Janeiro, 2009.

Pedro e Letícia, meus filhos meno- My youngest children, Pedro and Letícia,
res, Rio de Janeiro, 2009. Rio de Janeiro, 2009.

Casa Renascer, projeto de recupe- Casa Renascer (the Reborn House), a


ração de meninas vítimas de vários project to recuperate girl victims of various
types of violence in Natal, Rio Grande do
tipos de violência, Natal, Rio Grande
Norte, 1999.
do Norte, 1999.
Fátima, minha companheira, Rio de My companion Fátima, Rio de Janeiro,
Janeiro, 2009. 2009.

Ratão Diniz, fotógrafo da Agência Ratão Diniz, photographer of the Images of


Imagens do Povo, assiste a uma pro- the People agency, helps to project slides
jeção de slides na casa dos fotógrafos in the home of colleagues Adriano Ferreira
Adriano Ferreira e Elisângela Leite. and Elisângela Leite. The occasion was to
Na ocasião, foi inaugurada uma ga- inaugurate a gallery of photos, which they
leria de fotos, que eles ironicamente ironically named “Generic Magnum”, the
denominaram de “Magnum Genéri- Nova Holanda slum, Maré, 2009.
ca”, Nova Holanda, Maré, 2009.
Menino caranguejeiro em Marago- Young crab gatherer in Maragogipe, in the
gipe, no Recôncavo Baiano, Bahia, Recôncavo Baiano, Bahia, 2001.
Futebol em praça de Santo Antonio Football in the square, Santo Antonio de 2001.
de Jesus, Bahia, 2006. Jesus, Bahia, 2006.

Criança quilombola, Alcântara, Child in former slave community, Alcânta-


Maranhão, 1998. ra, Maranhão, 1998.

238

Você também pode gostar