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RACIONALIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO DA

CONSTRUÇÃO CIVIL
Profª Sheyla Mara Baptista
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INDUSTRIALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO

I) INTRODUÇÃO

A História da Industrialização se identifica, num primeiro tempo, com a História da


Mecanização, isto é, com a evolução das ferramentas e máquinas para a produção de bens.
Caracteriza-se por três grandes fases:

1) PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760)


ERA INDUSTRIAL

Nascimento das máquinas genéricas ou polivalentes que reproduzem de certa maneira as


mesmas ações artesanais anteriormente executadas.

2) SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1860)


PRINCÍPIO DA ORGANIZAÇÃO

A máquina "motorizada e regulada" substitui o homem na capacidade de repetir um ciclo


sempre igual. O operário é treinado para repetir determinados movimentos (estudo do método)
no menor tempo (estudo do tempo) com o objetivo de obter os melhores resultados econômicos e
qualitativos.

3) SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1942)

A evolução dos sistemas industrializados na Europa apresenta três fases sucessivas:

- A primeira, depois da Segunda Guerra Mundial até o início dos anos cinqüenta, caracteriza-se
pela complementação dos métodos tradicionais, procurando-se o aumento do nível tecnológico e
da escala de produção. Nesta época, os governos locais asseguravam a demanda possibilitando a
produção.

- A segunda fase ocorre entre o fim dos anos cinqüenta e o início dos anos sessenta, e é marcada
pela consolidação dos sistemas mais adequados e eliminação dos que não eram competitivos
nem aceitáveis para os consumidores.

- O terceiro estágio ocorre nos fins dos anos sessenta, com a introdução de métodos científicos
aos empreendimentos com o objetivo de diminuição dos custos finais, frente aos sistemas
tradicionais.
Ocorre uma forma gradual de substituição das atividades que o homem exercia sobre e
com a máquina, por mecanismos: a diligência, a avaliação, a memória, o raciocínio, a concepção,
a vontade, etc., estão sendo substituídos por aparelhos mecânicos ou eletrônicos ou,
genericamente, por automatismos:

- Máquinas "auto-acionadas".
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- Máquinas com o controle já substituído por automatismo.


- Máquinas que lêem programas operativos, isto é, executam programas pré-fixados
através de fitas magnéticas ou perfuradas.

Hoje, o desenvolvimento dos automatismos industriais converge não somente para os


processos de fabricação e, portanto, para as máquinas que os executam, como também para os
processos de transporte e deslocamentos dos materiais, para os métodos de inspeção e controle,
para a criação de novos materiais e para o controle das consequências desses processos no meio
ambiente.

II) INDUSTRIALIZAÇÃO DE CICLO FECHADO


INDUSTRIALIZAÇÃO DE CICLO ABERTO
COORDENAÇÃO MODULAR

A fase que se desenvolveu nos fins dos anos sessenta caracteriza-se pela chamada
Industrialização de Ciclo Fechado, onde uma mesma empresa ou grupo de empresas coligadas,
executam inteiramente com seus próprios meios e em suas próprias usinas o produto final, isto é,
o edifício completo.

Um exemplo encontrado já nesta época, refere-se a edifícios habitacionais que são


subdivididos em grandes elementos, em geral painéis parede, que são fabricados por uma
empresa em usinas fixas ou móveis ao pé dos canteiros, e montados por meio de gruas, com
equipes reduzidas de operários semi-especializados.

Assim, a viabilidade da Industrialização de Ciclo Fechado está vinculada à produção em


grande série, distribuída uniformemente por um longo período de tempo. Não é viável modificar
uma linha de produção uma vez por mês, nem mesmo uma vez a cada dois meses; quanto maior
a mecanização menos elástica é a possibilidade de introduzir modificações no ciclo produtivo,
mais rígidos são a programação, o controle e a organização.

O grande problema da Industrialização Fechada de grande série é que os sistemas mais


difundidos são extremamente limitados do ponto de vista inventivo e mal orientados do ponto de
vista cultural porque procuram a solução do problema exclusivamente no âmbito tecnológico de
suas próprias experiências e não de um ponto de vista global.
Então, para suprir esta deficiência desenvolveu-se a industrialização de componentes
destinados ao mercado, e não exclusivamente às necessidades de uma só empresa, conhecida por
Industrialização Aberta ou Industrialização de Ciclo Aberto, por oposição à fechada, que
consiste em pré-fabricar elementos em função do próprio consumo nas próprias obras.

Os elementos assim produzidos poderão ser combinados entre si numa grande variedade
de modos, gerando os mais diversos edifícios e satisfazendo uma larga escala de exigências
funcionais e estéticas.

O fabricante fornece um catálogo e possui um estoque que contenha as características dos


elementos, definidos sejam pelas qualidades físicas de resistência, isolação, peso, etc., sejam
pelas dimensões e tolerâncias de fabricação ==> INDUSTRIALIZAÇÃO DE CATÁLOGO.

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A Industrialização Aberta não é uma idéia nova, pois já fazia parte das propostas para a
habitação mínima discutida pelos arquitetos de vanguarda nos anos cruciais do primeiro pós-
guerra.

Assim, a casa foi subdividida em uma série de componentes elementares e o projeto


numa sucessão de etapas: inicialmente, estudaram-se as partes e, em seguida, suas combinações.
Esta metodologia de trabalho foi de encontro a uma necessidade sentida por todos em
racionalizar a fase de concepção do projeto, pois permitiria distribuir os esforços intelectuais de
maneira mais correta, colocando cada decisão no tempo e na escala própria.

Em 1931, Gropius desenvolve uma habitação mínima que podia crescer pela adição de
novos componentes, constituídos basicamente por painéis de madeira auto-portante, revestidos
internamente com placas de fibro-cimento e externamente com chapas corrugadas de cobre. Com
o desenvolvimento deste trabalho nos EUA, foi possível integrar no mercado de consumo, como
qualquer outro produto industrializado, um sistema de industrialização de habitações,
experimentado e desenvolvido inteiramente dentro dos critérios de produção industrial.

É preciso, porém, que os componentes feitos dos mais diversos materiais possuam as
características básicas de um sistema aberto, ou seja, sejam:

a) SUBSTITUÍVEIS por outros de diferentes origens.

b) INTERCAMBIÁVEIS - possam assumir diferentes posições dentro de uma mesma obra.

c) COMBINÁVEIS - formando conjuntos maiores (aditividade de termos).

d) PERMUTÁVEIS - por uma peça maior ou por um número de peças menores.


A necessidade de se estabelecer um acordo dessa natureza, pelo qual fosse possível
coordenar os elementos de um construção produzidos industrialmente, foi sentida há muitos anos
e foi objeto de pesquisa sistemática e criteriosa que assumiu o nome geral de Coordenação
Modular.

A adoção de um sistema de Coordenação Modular como fundamento para a


normalização dos elementos de construção é uma condição essencial para industrializar sua
produção. Forma-se como referência a dimensão de base denominada módulo, que significa, do
latim, pequena medida (modulus). Duas concepções foram abordadas:
1) unidade de medida - todos os componentes são múltiplos do módulo;
2) fator numérico - correlação entre os termos de uma série de números ou entre as dimensões de
uma gama de grandezas.

Após a Segunda Guerra Mundial foi sentida a necessidade de sistematizar os estudos


tendo em vista as técnicas modernas de industrialização das construção.

Em 1960, criou-se o GRUPO MODULAR INTERNACIONAL (GMI) que é atualmente


o principal fórum para a discussão dos aspectos técnicos relativos ao assunto. Os objetivos
principais referem-se à revisão geral dos princípios teóricos básicos até a publicação de normas
para a seleção de dimensões preferenciais. As recomendações do GMI para coordenação
bidimensional toma como base um módulo de 10 cm ou 4".

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Além disso, ressalta-se falar que os estudos sobre a coordenação dimensional devem ser
sempre acompanhados por um estudo sobre o comportamento dos materiais e sobre as
especificações de execução e acabamento.

Sabe-se então que, a experiência europeia revelou que não é viável imaginar uma solução
para os grandes problemas habitacionais sem um considerável aumento na produtividade da
indústria da construção. Esse incremento só pode ser obtido através de um considerável esforço
de desenvolvimento tecnológico, fruto de uma política habitacional equacionada e aplicada com
clareza.

Os instrumentos para este desenvolvimento, quer sejam os laboratórios de pesquisas, a


formação de arquitetos, engenheiros e técnicos capacitados, a elaboração de normas
dimensionais e qualitativas, a criação de uma legislação urbanística adequada à escala e
continuidade dos empreendimentos, bem como a liberação de recursos suficientes e equilibrados
no tempo e no espaço, não se organizam e integram sem a interferência de uma decidida vontade
de atuação, de um claro objetivo expresso e manifesto através de uma política habitacional
conduzida com lucidez e visão dos objetivos a alcançar e dos meios a estimular.

III ) DEFINIÇÕES E OBJETIVOS

"Industrialização é um processo organizacional caracterizado por:


- continuidade no fluxo de produção
- padronização
- integração dos diferentes estágios do processo global de produção
- alto nível de organização do trabalho
- mecanização em substituição ao trabalho manual sempre que possível
- pesquisa e experimentação organizada integradas à produção".

De acordo com Foster, nenhuma destas características implica que uma produção
industrializada tenha de ser realizada concomitantemente com uma produção em fábrica.

"Industrialização da Construção é o emprego de forma racional e mecanizada de


materiais, meios de transporte e técnicas construtivas para conseguir uma maior produtividade"
(Ordonez et all, 1974).

"Industrialização da Construção é um processo que por meio de desenvolvimentos


tecnológicos, conceitos e métodos organizacionais e investimentos de capital, visa incrementar a
produtividade e elevar o nível de produção" (Carlo Testa, 1972).

"Industrialização da Construção é um processo evolutivo que, através de ações


organizacionais e da implementação de inovações tecnológicas, métodos de trabalho e técnicas
de planejamento e controle, objetiva incrementar a produtividade e o nível de produção e
aprimorar o desempenho da atividade construtiva" (Sabbatini, 1989).

Segundo Bruna (1976) " a industrialização está essencialmente associada aos conceitos
de organização e de produção em série, os quais deverão ser entendidos, analisando-se de forma
mais ampla, as relações de produção envolvidas e mecanização dos meios de produção".

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"Chamamos Industrialização da Construção à passagem da fabricação artesanal de um


produto único, resultado da soma de tarefas, até a fabricação de um produto repetitivo e de
produção em massa, resultado da aplicação de um processo de alta produtividade que substitui a
habilidade individual pela da máquina, na qual se agregam as técnicas modernas de informação"
(Maurício Hugo Shalon).

A grande maioria dos autores que procuram estabelecer conceitos sobre o assunto
caracterizam a industrialização como um processo essencialmente de organização da atividade
produtiva, através de diversos agentes.

Conclui-se assim que, a Industrialização da Construção não é um fim em si mesma, mas


somente um meio de obter determinados objetivos que são basicamente os mesmos de outras
áreas da indústria, ou seja:

Produzir :
• em maior quantidade
• com melhor qualidade
• a um custo menor
• em um tempo menor

A maior produção, quando se aplica à habitação, é uma necessidade, já que seu déficit
cresce com o tempo, tornando cada vez maior o necessário em relação ao disponível. Está
também relacionada com os outros objetivos, que combinados formam uma base para conseguir
uma alta produção. O caminho mais viável é o da tecnologia, devido a alta produtividade e
eficiência dos seus processos.

Melhor qualidade através da implantação de controles de qualidade em todas as etapas do


processo de produção. O custo do controle é pequeno quando o número de elementos repetitivos
é grande. Este controle se aplica aos materiais utilizados e às partes ou componentes resultantes,
podendo ser feito facilmente na fábrica e não ficar sujeito às várias condições que se dão no
canteiro. Garantindo-se a qualidade, o produto industrializado terá uma durabilidade maior em
relação aos padrões tradicionais.

O menor custo do produto final, obtém-se como consequência por um lado da maior
produtividade da mão-de-obra e dos equipamentos, por outro lado pelo uso racional dos
materiais, conseguindo assim uma maior quantidade de bens com a mesma quantidade de
recursos. Aumentar a produtividade significa, em relação à mão-de-obra, suprimir os tempos
improdutivos, produzindo mais com menos esforço; em relação aos materiais, evitar os
desperdícios causados por cortes ou adaptações, fazendo com que haja uma maior resistência e
segurança em concretos e argamassas, dosando os traços cientificamente; quanto à Mecanização,
procurar substituir a produção na base da habilidade do operário pelo uso de equipamentos
adequados.

A utilização econômica do tempo será consequência direta de métodos de programação


aplicados corretamente em todos os recursos da produção.

Estes objetivos constituem os aspectos positivos da industrialização da construção.


Porém, existem também aspectos que explicam o porque do atraso de sua aplicação na
construção civil habitacional.

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Em primeiro lugar, a necessidade de dispor de grandes capitais para se investir em


equipamentos, em recursos humanos e em pesquisas é diferente da construção tradicional, cujas
necessidades nestes aspectos são mínimas. À medida que o grau de Industrialização aumenta em
um sistema dado, os investimentos necessários nos aspectos assinalados também o fazem, porém
numa relação muito maior. Por outro lado, os empresários da construção não estão acostumados
a investimentos neste sentido, como o estão os de outros ramos da produção, para quem resulta
perfeitamente claro que todo investimento em tecnologia é um bom negócio, pois reduz os
custos, aumenta a produção e melhora a qualidade. Para a indústria da construção, os parâmetros
que fixam a relação entre investimento e produção estão baseados na construção tradicional,
resultando sensivelmente baixos para toda intenção de industrializar. As empresas que tentam
incursionar neste terreno correm o risco de ficar fora do mercado, pelo menos no primeiro
período de uso da nova tecnologia.

Outro aspecto relaciona-se com a necessidade de programar exaustivamente os projetos,


já que a Industrialização não admite improvisações. Isto exige tempo e nem sempre existe a
possibilidade de se dispor dele, entre a adjudicação da obra e seu começo. O grau de
Industrialização de um sistema pode medir-se pelo nível em que se tomam decisões: quanto mais
alto é este, maior é aquele. Em uma obra tradicional o responsável técnico pela obra pode
discutir um problema com um operário e resolvê-lo mas, por exemplo, numa industrializada se é
necessário modificar as características do painel sanitário, terá que se discutir com o encarregado
do setor da usina e com o gerente de produção e não com o operário diretamente, porque não
saberia a que operário dirigir-se, nem que consequências poderiam acarretar esta mudança no
resto do sistema.

Uma terceira questão é o condicionamento que o sistema produz no projeto. Seus limites
estarão dados pelas características do mesmo e de sua tecnologia, que deverá ser explorada pelo
projetista para obter os melhores resultados. Isto não é novo. Por exemplo, o uso de certos
materiais, como a pedra, não permitem cobrir horizontalmente vãos de grande magnitude, o que
é uma limitação dessa tecnologia, mas isso não significa que não se pode fazer obras de rara
beleza com ela (templos gregos). A beleza do produto depende do projetista e não da tecnologia.
Cada um tem sua própria forma de expressão, mais ou menos rica, que constitui cada um dos
elementos da linguagem do projeto.

IV - DESENVOLVIMENTO DA INDUSTRIALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO


HABITACIONAL - REALIDADE BRASILEIRA

Na evolução capitalista a produção de outros bens necessários (outras mercadorias que


não a habitação) se transformam rapidamente, pois a tendência de produção em massa, num
processo tecno-produtivo especializado, supera o artesanato, passa pela manufatura e procura as
formas da grande indústria. Por que então a produção da casa não evoluiu no mesmo ritmo? Se a
concentração de capitais vem resolvendo os problemas técnicos e produtivos de outras
mercadorias, o que impediu até agora a industrialização da construção?

A primeira hipótese de explicação pode ser encontrada nas condições adversas de


concentração do capital produtivo na indústria da construção que, pela sua dispersão e
atomização, não consegue o controle do processo produtivo. é sabido que a tendência à
monopolização, na forma de oligopólios industriais, é a principal responsável pelo progresso
técnico e pela passagem da manufatura para a grande indústria.

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Assim, as indústrias da construção de habitações, para vencer a concorrência no setor,


encontram dificuldades, pela baixa concentração de capital, para trilhar os caminhos do aumento
de produtividade. O estratagema seguido tem sido, de um lado, intensificar a exploração dos
capitais comerciais.

O eixo de acumulação é, portanto, o capital comercial que utiliza concorrencialmente as


formas usuais e tradicionais de produção. Resulta daí que o aperfeiçoamento da produção se vê
prejudicado e relegado a um terceiro plano, por dois motivos principais:
- a situação crônica do mercado, cuja demanda é insatisfeita e pouco solvável (que pode pagar);
- e a instável política financeira do governo, a que a produção está sujeita.

A segunda hipótese é de que a habitação ainda não foi totalmente transformada em


mercadoria. Isto é, as características próprias da moradia contribuem com obstáculos para a
penetração do modo de produção capitalista, permanecendo o setor atrasado em relação ao
processo produtivo de outras mercadorias, como única forma de manter o nível de acumulação.

Mesmo superadas as dificuldades técnicas próprias da natureza da habitação, a sua


evolução depende da resolução, de um lado dos problemas esboçados na primeira hipótese, e por
outro das transformações que se processarem nas duas últimas hipóteses que se seguem.

A terceira hipótese é que a oferta abundante de mão-de-obra, fruto do fenômeno de


urbanização acelerada, desempenha papel preponderante na conservação dos métodos e
processos tradicionais da construção habitacional. O uso intensivo do trabalho continua
predominante, apesar das inovações tecnológicas e de maior racionalidade, por vezes
introduzidas nas práticas do canteiro de obras; chega-se, quando muito, a aperfeiçoar os
processos de trabalhos típicos da manufatura de montagem, sem alterações fundamentais em
relação ao processo tradicional de construção. O progresso técnico se dá muito mais na indústria
de materiais de construção, nos escritórios de projetos ou na pesquisa e desenvolvimento de
novos materiais, novos componentes ou mesmo sistemas construtivos, cuja aplicação esbarra
com as formas arcaicas de organização do canteiro de obras. Improvisação, adaptações, atrasos,
descoordenação e desperdícios gerados na prática de alta rotatividade de mão-de-obra, nas sub-
empreitadas, enfim na baixa qualificação e pouca especialização da força de trabalho, podem ser
compensados pela baixa remuneração e uso intensivo do trabalho. Os grandes contingentes de
trabalhadores não qualificados devem ser absorvidos pela construção civil; isto já se tornou um
hábito, como solução para manter o nível de emprego, e vem contribuindo, também, para manter
a rentabilidade dos capitais produtivos dos empreiteiros de construção. Acrescente-se a este
quadro a frágil organização sindical e o baixo nível de reivindicação dos operários da construção
civil, e pode-se concluir que, pelo lado do trabalho, não se visualiza pressão suficiente para
mudanças gerais e profundas das práticas construtivas.

No desdobramento dessa terceira hipótese seria importante analisar as relações entre as


flutuações conjunturais da oferta de mão-de-obra e a penetração de inovações técnicas, ou
mudanças das práticas e sistemas construtivos.

Uma quarta hipótese pode ser desenvolvida a partir do exame das características do
mercado de habitações - o seja, o volume e a disparidade da demanda, genericamente chamados
de "déficit habitacional", pressionam de tal maneira a oferta que garantem grande margem de
lucro, quaisquer que sejam a qualidade e o preço do produto oferecido. No entanto, a demanda
insatisfeita é de extrema diversidade, fazendo com que a oferta possa escolher o extrato do
mercado que oferece a maior lucratividade, e deixando grande parte da demanda fora do
mercado.
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A instabilidade e mobilidade física, social e econômica da grande maioria da população


por si só comprometem a estabilidade da demanda, dificultando a padronização, continuidade e
volume da oferta. Dificilmente a produção consegue determinar o consumo, elevando o risco dos
investimentos necessários à produção em massa.

Uma análise de cada uma das hipóteses e suas interrelações é de especial valia na
articulação das múltiplas causas que levam ao lento desenvolvimento das formas modernas de
produção industrial dentro da construção habitacional. E poderá auxiliar na formulação de novas
políticas alternativas que, nas diferentes conjunturas econômicas, possam viabilizar novos
avanços tecnológicos, com repercussões na oferta e preço das habitações.

V - CONDIÇÕES PARA A INDUSTRIALIZAÇÃO

Tendo em vista as possíveis transformações no processo produtivo, em suas fases de


processo de trabalho e sistema construtivo, que influem no aumento de produtividade e redução
do custo, pode-se destacar as qualidades necessárias ao avanço da manufatura para a grande
indústria, como roteiro de exame da mercadoria-habitação:

Repetitividade - condição de dividir certos custos de: planejamento, concepção, projeto, compra
de materiais, aperfeiçoamento de técnicas produtivas, etc., por uma quantidade de produtos
iguais (projeto tipo isolado, projetos tipo para apartamentos).

Divisibilidade - condições de parcelamento da mercadoria para comercialização durante o


processo de produção, ou seja, ter produtos prontos ("lotes") em uma periodicidade menor, que
possam reduzir o montante e o tempo do capital imobilizado.
Padronização e Precisão - dos materiais e componentes para a compra no mercado
(fornecedores), de modo a reduzir os desperdícios e ajustes comuns, pela falta de coordenação
modular e de controle de qualidade, e de medidas e gabaritos dos elementos construtivos.
Formas inovadas de ajustamentos: máquinas, ferramentas, acessórios e medição - apoios
corrediços, ajustagens rosqueadas.

Continuidade - fluxo ininterrupto e direto do princípio ao fim do processo de fabricação;


desvios, retornos e interrupções devem ser evitados ao máximo.

Mecanização - possibilidade de substituir o toque e o esforço humano pela precisão inanimada e


pelo trabalho ininterrupto da máquina.

Parcelamento do Processo de Trabalho - fragmentação do trabalho em operações simples, que


associem o operário semi-qualificado à máquina de fácil manejo, garantindo continuidade e
rapidez das operações seriadas.

Permutabilidade - possibilidade de permutar peças ou componentes, com fácil integração das


partes no produto global em processo de montagem, inclusive rejeitando o componente
defeituoso para evitar ajustagens lentas e dispendiosas (relativamente ao custo do trabalho
empregado para tais adaptações).

Controle - possibilidade de acompanhamento do processo de trabalho controlando (verificação


constante) a qualidade, quantidade, tempo e custo dos elementos intervenientes na produção e o
produto resultante.

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Transportabilidade - maior ou menor facilidade de colocar a mercadoria produzida ao alcance


das demandas espacialmente localizadas; ou ainda, para o caso da montagem (construção), de
contar com os componentes em tempo e lugar adequado para atender às condições do mercado.

TEXTOS SELECIONADOS A PARTIR DE:

(1) BRUNA, Paulo - Arquitetura, Industrialização e Desenvolvimento - EDUSP/Perspectiva,


1976, Coleção Debates número 135, São Paulo.

(2) FRANCO, Luíz Sérgio - Aplicação de Diretrizes de Racionalização Construtiva Para a


Evolução Tecnológica dos Processos Construtivos em Alvenaria Estrutural Não Armada - Tese
de Doutorado, 1992, Poli/USP, São Paulo.

(3) SABBATINI, Fernando Henrique - Desenvolvimento de Métodos, Processos e Sistemas


Construtivos - Formulação e Aplicação de uma Metodologia - Tese de Doutorado, 1989,
Poli/USP, São Paulo.

(4) SHALON, Maurício Hugo - Industrialização das Construções - Universidade de Buenos


Aires, Argentina.

(5) LAMPARELLI, Celso - A Habitação e a Industrialização das Construções - Artigo.

(6) VARGAS, Nilton - Construção Habitacional : Um "Artesanato de Luxo" - Revista Brasileira


de Tecnologia, jan/mar/1981.

Professora Responsável pela Elaboração: Sheyla Mara Baptista


Universidade Federal de São Carlos

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ASPECTOS TECNOLÓGICOS E PRODUTIVOS DO DESENVOLVIMENTO E


APLICAÇÃO DE SISTEMAS CONSTRUTIVOS

Industrialização & Racionalização

Com a preocupação de aumentar o nível de produção e a produtividade (produzir em


maior quantidade com os mesmos recursos), algumas empresas, em caráter isolado,
vêm adotando iniciativas para se atingir estes objetivos que vão desde a procura
tecnológica no mercado externo até a utilização de métodos construtivos racionalizados
para a execução de um determinado subsistema do edifício.
A utilização dos sistemas construtivos industrializados de “ciclo fechado” têm a sua
viabilização dificultada por necessitarem de um grande investimento de capital fixo de
produção, necessitando assim de uma continuidade da produção. Por outro lado, a
“forma tradicional de construção” não atende a demanda do mercado, porém estes
processos podem ser melhorados através da organização da produção e da utilização
de métodos construtivos otimizados, surgindo o conceito de racionalização. Desta
forma a racionalização tornou-se uma alternativa mais próxima à realidade da indústria
da construção civil que a industrialização, principalmente em se tratando dos sistemas
fechados.
A cada método construtivo há uma associação do nível de organização dos meios de
produção. Assim, os processos construtivos podem ser associados a diferentes níveis
de industrialização (no contexto que industrialização pressupõe a organização da
produção). Alguns autores relacionam a racionalização como tendo por sua base o
“taylorismo”, que se constituiu como a primeira proposta sistêmica de aumento de
produtividade (aumentar a produção com a utilização dos mesmos recursos).
Através da racionalização as empresas procuram aumento de produtividade e
diminuição de custos e prazos, sem uma ruptura da base produtiva que
caracteriza o setor. Num contexto mais específico a racionalização pode ser definida
como sendo a otimização das atividades construtivas. Assim, procura-se otimizar
técnicas e métodos construtivos como forma de se obter uma melhor eficiência na
produção de um edifício. Espera-se assim reduzir os desperdícios de materiais e de
mão de obra, utilizando de forma mais eficiente o capital.
A racionalização traz em si conceitos ligados a industrialização. Na realidade a
racionalização deve estar inserida dentro da industrialização através das ações para
organização da produção. BLACHERE sugere a seguinte forma:

INDUSTRIALIZAÇÃO = RACIONALIZAÇÃO + MECANIZAÇÃO


Racionalização e industrialização da construção civil
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A diferença básica entre os dois conceitos fica condicionada à mudança na base


produtiva que ocorre na industrialização, com a introdução de novas tecnologias (a
tecnologia é um fator de produção juntamente com o capital, mão de obra e matéria
prima). Já o conceito de racionalização pressupõe a manutenção da base produtiva,
pois sua proposta não é a de alteração, mas sim a otimização dos recursos
disponíveis.
O lógico da industrialização é que um dado processo de produção atinge a sua máxima
eficiência quando todos os aspectos deste processo são adequadamente organizados.
A industrialização da construção é um processo que por meio de desenvolvimentos
tecnológicos, conceitos e métodos organizacionais e investimentos de capital, visa
incrementar a produtividade e elevar o nível de produção nos canteiros. Assim, através
da racionalização o desenvolvimento ocorre pelo incremento progressivo no nível de
organização do processo de produção, sem a necessidade de novas técnicas, métodos
ou materiais.
A racionalização construtiva não se restringe apenas na alteração de determinados
processos construtivos, mas deve abranger também a uma mudança de postura nas
fases de projeto. Segundo ROSSO, as ações de racionalização aplicadas apenas ao
canteiro estão fadadas ao insucesso quando não há a mesma preocupação no projeto.
Racionalizar o projeto significa promover uma maior integração entre os diferentes tipos
de projeto; haver a consideração dos processos construtivos envolvidos no momento
da concepção; detalhamento adequado com objetivo de evitar que se tenha que tomar
decisões importantes ou improvisações no canteiro.
Neste aspecto enquadra-se o conceito de construtibilidade que seria um atributo
decorrente das condições de projeto de permitir a utilização dos recursos de
construção com eficiência. A construtibilidade está ligada a um conjunto de ações na
fase de projeto que têm por objetivo a racionalização da construção. A implementação
destas ações trazem os seguintes benefícios:
• diminuição das tarefas de construção;
• diminuição das dificuldades durante a construção;
• melhoria dos métodos construtivos e da tecnologia.
A implementação das ações que visam a construtibilidade de um processo construtivo
envolvem os principais agentes: projetistas e construtores. Destaca-se a importância do
desenvolvimento dos projetos assistidos pelas informações provenientes dos
responsáveis pela execução.
Infelizmente, esta estrutura de informações está muito dissociada no contexto da
construção tradicional. Ao contrário do ambiente favorável existente em empresas de
pré-fabricados onde o setor de projeto está integrado ao setor de execução, no setor de
construção convencional de edificações habitacionais os projetos são feitos sem a
consideração das técnicas e métodos construtivos utilizados pela construtora (mesmo
porque na maior parte estes aspectos não estão bem definidos).
O conceito de construtibilidade do ponto de vista de execução possui um enfoque no
desenvolvimento e efetiva utilização de métodos construtivos inovadores que
simplificam a execução e reduzem os custos do empreendimento. Assim, o conceito
básico ligado à construtibilidade é a simplificação da construção.
Analogamente, a construtibilidade de um método, processo ou sistema construtivo é a
propriedade que caracteriza e que exprime a aptidão que ele tem de ser executado.
Esta definição é semelhante a da produtividade.
Racionalização e industrialização da construção civil
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A Produção da Tecnologia

Tecnologia é um conjunto sistematizado de conhecimentos empregados na criação,


produção e difusão de bens e serviços. Tecnologia Construtiva é o conjunto
sistematizado de conhecimentos científicos e empíricos, relacionados a um modo
específico de se construir um edifício e empregados na criação, produção e difusão
deste modo de construir. O processo de criação de tecnologia, ou o processo de
inovação tecnológica, é antes de tudo não um processo de invenção, mas sim um
processo de desenvolvimento de um novo produto ou processo. A inovação tecnológica
está ligada a uma mudança do processo construtivo quando ocorre uma incorporação
de uma nova idéia e também um avanço notado na tecnologia existente em termos de
desempenho, qualidade ou custo do edifício, ou de sua parte.

PESQUISA APLICADA

NOVAS TÉCNICAS NOVO CONHECIMENTO NOVOS MATERIAIS

DESENVOLVIMENTO PESQUISA BÁSICA

TECNOLOGIA

A pesquisa de desenvolvimento tecnológico na engenharia de construção civil é


uma atividade investigadora de caráter sistematizado, que visa a criação e
aperfeiçoamento de métodos, processos e sistemas construtivos, materiais e
componentes de construção e de técnicas de planejamento e controle das operações
construtivas, que constituem nas inovações tecnológicas. Este tipo de pesquisa está
dirigido para obtenção de aumentos no desempenho ou na eficiência de algum atributo
e que tenha interesse comercial para qualquer um dos vários ramos da indústria da
construção.
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ASPECTOS TECNOLÓGICOS E PRODUTIVOS DO DESENVOLVIMENTO E


APLICAÇÃO DE SISTEMAS CONSTRUTIVOS.

CONCEITOS:

SISTEMA CONSTRUTIVO: Pode ser definido como um conjunto de elementos combinados em


um todo, organizado para servir a um objetivo comum. Ainda, um sistema construtivo é um
sistema de produção, conjunto de processos construtivos, cujo produto objeto é um edifício. É
interessante notar que alguns pesquisadores utilizam Sistemas Construtivos para identificar o que
Sabatini define como Processo Construtivo, e ainda utiliza-se Tipologias Construtivas ou
Soluções Construtivas.

TECNOLOGIA: Conjunto de conhecimentos sistematizados empregados na criação, produção e


difusão de bens e serviços.

TECNOLOGIA CONSTRUTIVA: É um conjunto sistematizado de conhecimentos científicos e


empíricos, relacionados a um modo específico de se construir um edifício (ou parte dele) e
empregados na criação, produção e difusão deste modo de construir.

RACIONALIZAÇÃO: O lógico da industrialização que um dado processo de produção atinge a


sua máxima eficiência quando todos os aspectos deste processo são adequadamente
operacionalizados (organizados).
A racionalização da construção é um processo complexo pois não é fácil encontrar
soluções ótimas (a maior eficiência) para problemas que envolvam um grande número de
variáveis intervenientes dentro e fora do canteiro. A racionalização se constitue como uma
ferramenta da industrialização. INDUSTRIALIZAÇÃO = RACIONALIZAÇÃO +
MECANIZAÇÃO.

RACIONALIZAÇÃO É ELIMINAR DESPERDÍCIOS

RACIONACIONALIZAÇÃO CONSTRUTIVA é um processo composto de todas as ações que


tenham por objetivo o uso de recursos materiais, humanos, organizacionais, energéticos,
tecnológicos, temporais e financeiros disponíveis na construção em todas as suas fases.

INDUSTRIALIZAÇÃO: O processo de industrialização, ou no sentido amplo da organização


dos processos de produção, na construção tem objetivos de conseguir uma economia do trabalho
requerido na produção de uma unidade, aumento da produção, aumento da qualidade e redução
do seu custo. Não existe construção não-industrializada, mas sim diferentes modos de construir
com diversos níveis de industrialização.
Racionalização e industrialização da construção civil
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AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE SISTEMAS CONSTRUTIVOS

O conceito de desempenho apresenta-se como um instrumento importante no que se refere à


tecnologia de produto. O edifício e suas partes são vistos como produtos, cuja função é
satisfazer as exigências do usuário quando submetidos a determinadas condições de exposição
durante sua vida útil. As exigências do usuário podem ser classificadas em três categorias:
segurança, habitabilidade e durabilidade e devem ser satisfeitas simultaneamente ao longo do
tempo. Os requisitos de desempenho esperados de um sistema construtivo estão relacionados a
uma série de exigências tais como: segurança estrutural; segurança ao fogo; estanqueidade à
água; desempenho térmico; desempenho acústico; durabilidade; desempenho das
instalações elétricas e hidráulica.

Uma das questões de relevância que se coloca dentro das inovações tecnológicas é a de
como desenvolver e avaliar estas novas alternativas, ou seja, qual a resposta a ser dada quando se
deve opinar sobre novos produtos e que metodologia adotar para sua avaliação ? Outra questão
que se coloca é quanto aos limites de qualidade a serem atendidos pelos novos produtos.

A maior parte das soluções inovadoras implantadas no país, principalmente na construção


dos conjuntos populares financiadas pelo extinto BNH, tiveram componentes e sistemas
construtivos introduzidos sem que os mesmos tivessem uma avaliação técnica adequada, para
que se pudesse assim prever o seu comportamento durante a vida útil. Assim, nestes casos houve
uma avaliação de desempenho pós-ocupação, onde os usuários serviram de “cobaias” e sendo os
mesmos penalizados com os problemas patológicos e com os custos de manutenção e reposição
que foram consequência do uso de novos produtos mal desenvolvidos e sem uma avaliação
técnica adequada.

Em decorrência destas experiências negativas, houve uma grande preocupação no


desenvolvimento de critérios de avaliação de desempenho de novos componentes e sistemas,
onde o principal centro desta pesquisa foi o IPT com vários estudos sobre o assunto na década de
80. Entretanto, assim como a maioria dos sistemas construtivos utilizados no país, as
metodologias para avaliação de desempenho foram trazidas das experências dos países
desenvolvidos onde as condições são bem diferentes da nossa realidade, originando critérios
muito rigorosos de desempenho para a realidade existente, com a ressalva do aprimoramento de
alguns destes métodos de avaliação.

Não existe um único sistema construtivo ideal. Um sistema será mais indicado que os
demais a medida que para determinadas condições existentes estiver mais adequado, ou seja,
apresentar um melhor desempenho.

Com vistas a estudar melhor o proplema as COHABs criaram as Vilas Tecnológicas,


onde as empresas constrõem protótipos que serão avaliados por orgãos públicos e pesquisadores,
com o acompanhamento de representantes da comunidade. Assim, os sistemas construtivos
quando forem implantados em conjuntos habitacionais estarão com seus desempenhos
préviamente conhecidos. Todavia, uma questão que ainda se coloca é a questão de se ter
metodologias de avaliação que estejam adequadas com as nossas realidades. É interessante que
se tenha critérios mínimos de aceitabilidade, garantindo a qualidade mas adaptados às condições
nacionais.
Racionalização e industrialização da construção civil
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SISTEMAS CONSTRUTIVOS PARA EDIFICAÇÕES: A QUESTÃO DA INOVAÇÃO


TECNOLÓGICA.

O PROCESSO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA é o processo de criação de tecnologia. A


inovação não é o resultado de uma invenção, mas sim deve ser compreendida como um processo
que compreende a criação, o desenvolvimento, o uso e a difusão de um novo produto ou
processo. Há uma diferenciação entre mudança e inovação tecnológica, sendo a mudança
relacionada ao que conhecemos como racionalização da construção que mantém as bases
construtivas mas com uma maior organização do processo construtivo, enquanto a inovação
tecnológica está ligada a uma mudança do processo construtivo quando ocorre uma incorporação
de uma nova idéia e também um avanço notado na tecnologia existente em termos de
desempenho, qualidade ou custo do edifício, ou de sua parte.
No entanto, para muitos a criação de novas tecnologias consiste em se ter uma idéia
original, materializá-la na forma de um projeto e aplicá-la na construção de edifícios. Esta é a
idéia que acredita que do dia para a noite pode-se descobrir novos produtos e processos. Todavia,
também na construção civil, o caminho da evolução também passa pelo desenvolvimento
tecnológico, executado com base em conhecimentos técnicos e segundo uma metodologia tecno-
científica adequada, como em qualquer outra atividade.

A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA ...


A tecnologia é um fator de produção juntamente com o capital, mão-de-obra e matéria
prima.

A construção de edifícios dispõe de tecnologias bem sedimentadas, desenvolvidas ao


longo do tempo e variam para cada local. Entretanto, estas tecnologias tradicionais apresentam
condições de produção insatisfatórias para uma vasta gama de aplicações, apresentando uma
baixa produtividade (baixo nível de produção e uso intensivo de mão de obra
especializada).(especializada é diferente de qualificada). Assim, é lógica a necessidade de
tecnologias alternativas com condições de produção mais adequadas, sendo para isto necessário a
incorporação de conhecimentos tecno-científicos em substituição aos empíricos, possibilitando a
aumento do nível de produção, da produtividade e a redução da dependência da mão de obra
especializada. Ou seja, tecnologias com maior grau de racionalidade.

Na construção a evolução tecnológica deve passar pela criação e aperfeiçoamento de:


• materiais e componentes;
• procedimentos operacionais e organizacionais (planejamento, gerenciamento e controle das
construções)

No processo de inovação tecnológica, para a incorporação de tecnologias desenvolvidas


externamente, é necessário se fazer uma adaptação integral aos condicionantes locais, o que
significa que tal tecnologia será aperfeiçoada por meio de uma pesquisa de desenvolvimento
tecnológico. Os sistemas devem ser adaptados à cultura e à economia local.

Importar tecnologias construtivas de países desenvolvidos para países não-desenvolvidos


sem adaptá-las é uma atitude irracional, pois estas inovações foram geradas numa situação
econômica completamente diferentes.

O conceito de evolução para a construção de edifícios confunde-se com o conceito de


industrialização da atividade de construção civil
Racionalização e industrialização da construção civil
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LIÇÃO OBTIDA DA EXPERIÊNCIA COM OS PROCESSOS CONSTRUTIVOS


INOVADORES NA CONSTRUÇÃO HABITACIONAL POPULAR.

Os processos construtivos utilizados nos grandes conjuntos habitacionais, como Narandiba e


Itaquera, ou foram criados da noite para o dia ou foram importados de outros países, com raras
exceções. Assim, os resultados apresentados foram:
• desempenho inadequado, principalmente no que diz respeito a habitabilidade, com resultados
inferiores aos processos tradicionais;
• degradação da qualidade (com grande incidência de patologias);
• baixo nível de racionalidade construtiva;
• incapacidade de atendimento ao trinômio custo-prazo-qualidade.

Segundo SABATINI (1989), para se ter eficácia o Setor de Desenvolvimento de


Tecnologia para MTSCons deveria este ser composto por organismos, que através de um
trabalho cooperativo, estabelecem a totalidade das condições necessárias para de início acertar o
passo e posteriormente acelerar a evolução tecnológica.
Uma das questões de relevância que se coloca dentro das inovações tecnológicas é a de
como desenvolver e avaliar estas novas alternativas, ou seja, qual a resposta a ser dada quando se
deve opinar sobre novos produtos e que metodologia adotar para sua avaliação ? Outra questão
que se coloca é quanto aos limites de qualidade a serem atendidos pelos novos produtos.

A maior parte das soluções inovadoras implantadas no país, principalmente na construção


dos conjuntos populares financiadas pelo extinto BNH, tiveram componentes e sistemas
construtivos introduzidos sem que os mesmos tivessem uma avaliação técnica adequada, para
que se pudesse assim prever o seu comportamento durante a vida útil. Assim, nestes casos houve
uma avaliação de desempenho pós-ocupação, onde os usuários serviram de “cobaias” e sendo os
mesmos penalizados com os problemas patológicos e com os custos de manutenção e reposição
que foram consequência do uso de novos produtos mal desenvolvidos e sem uma avaliação
técnica adequada.

Em decorrência destas experiências negativas, houve uma grande preocupação no


desenvolvimento de critérios de avaliação de desempenho de novos componentes e sistemas,
onde o principal centro desta pesquisa foi o IPT com vários estudos sobre o assunto na década de
80. Entretanto, assim como a maioria dos sistemas construtivos utilizados no país, as
metodologias para avaliação de desempenho foram trazidas das experências dos países
desenvolvidos onde as condições são bem diferentes da nossa realidade, originando critérios
muito rigorosos de desempenho para a realidade existente, com a ressalva do aprimoramento de
alguns destes métodos de avaliação.

Não existe um único sistema construtivo ideal. Um sistema será mais indicado que os
demais a medida que para determinadas condições existentes estiver mais adequado, ou seja,
apresentar um melhor desempenho.

Com vistas a estudar melhor o proplema as COHABs criaram as Vilas Tecnológicas,


onde as empresas constrõem protótipos que serão avaliados por orgãos públicos e pesquisadores,
com o acompanhamento de representantes da comunidade. Assim, os sistemas construtivos
quando forem implantados em conjuntos habitacionais estarão com seus desempenhos
préviamente conhecidos. Todavia, uma questão que ainda se coloca é a questão de se ter
metodologias de avaliação que estejam adequadas com as nossas realidades. É interessante que
Racionalização e industrialização da construção civil
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se tenha critérios mínimos de aceitabilidade, garantindo a qualidade mas adaptados às condições


nacionais.

Professor Responsável pela Elaboração: Marcelo de Araújo de Ferreira


Universidade Federal de São Carlos

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