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Evolução histórica da Administração da Produção

A função produção, entendida como o conjunto de atividades que levam à


transformação de um bem tangível em outro com maior utilidade, acompanha o homem desde
sua origem. Quando polia a pedra a fim de transformá-la em utensílio mais eficaz, o homem pré-
histórico estava executando uma atividade de produção. Nesse primeiro estágio, as ferramentas
e os utensílios eram utilizados exclusivamente por quem os produzia, ou seja, inexistia o
comércio, mesmo que de troca ou escambo.
Com o passar do tempo, muitos se revelaram extremamente habilidosos na produção
de certos bens e passaram a fabricá-los conforme solicitação e especificações apresentadas por
terceiros. Surgiam, então, os primeiros artesãos e forma de produção organizada, já que
aqueles estabeleciam prazos de entrega, classificando, por consequência, prioridades,
atendendo às especificações prefixadas e determinando preços para suas encomendas. A
produção artesanal também evoluiu. Os artesãos, em face do grande número de encomendas,
começaram a contratar ajudantes, que inicialmente faziam apenas os trabalhos mais grosseiros
e de menor responsabilidade, e, à medida que aprendiam o ofício, se tornavam novos artesãos.
A produção artesanal começou a entrar em decadência com o advento da Revolução
Industrial. Com a descoberta da máquina a vapor, em 1764, por James Watt, teve início o
processo de substituição da força humana pela da máquina. Os artesãos, que até então
trabalhavam em suas próprias oficinas, passaram a ser agrupados nas primeiras fábricas. Essa
verdadeira revolução na maneira como os produtos eram fabricados trouxe consigo algumas
exigências, como padronização destes e de seus processos de elaboração; treinamento e
habilitação da mão de obra direta; criação e desenvolvimento dos quadros gerenciais e de
supervisão; desenvolvimento de técnicas de planejamento e controles financeiro da produção
e de técnicas de vendas.
Muitos dos conceitos que hoje nos parecem óbvios não eram na época, como o
de padronização de componentes, introduzido por Eli Whitney em 1790, quando conduziu a
produção de mosquetões com peças intercambiáveis, fornecendo uma grande vantagem
operacional aos exércitos. Teve, assim, início o registro, por desenhos e croquis, dos produtos e
processos fabris, surgindo a função de projeto de produto, processos, instalações,
equipamentos etc.
No fim do século XIX, surgiram nos Estados Unidos os trabalhos de Frederick W. Taylor,
considerado pai da Administração Científica, que estipulam a sistematização do conceito
de produtividade, isto é, a procura incessante por melhores métodos de trabalho e processos
de produção, visando a obter maior quantidade fabricada com o menor custo possível. Essa
procura ainda hoje é tema central em todas as empresas, mudando-se apenas as técnicas
utilizadas. A análise da relação entre output — medida quantitativa do que foi produzido, como
quantidade ou valor das receitas provenientes da venda dos produtos e/ou serviços finais — e
o input — medida quantitativa dos insumos, como quantidade ou valor das matérias-primas,
mão de obra, energia elétrica, capital, instalações prediais e outras — permite-nos quantificar a
produtividade, que sempre foi o grande indicador do sucesso ou fracasso das empresas.

ou
ATIVIDADE PRÁTICA – EXEMPLO DO CÁLCULO DE PRODUTIVIDADE

Uma clínica de exames possui 5 funcionários e atende 200 pacientes por semana. Cada
funcionário trabalha 35 horas por semana. O total da folha de pagamento semanal da clínica é
de $ 3.900 e o custo fixo total é $ 2.000 por semana. Qual a produtividade da mão de obra e a
produtividade multifatorial?

Produtividade da mão de obra = 200/5 = 40 pacientes/funcionário


Produtividade da mão de obra = 200/5X35 = 1,143 pacientes/hora de trabalho
Produtividade Multifatorial (inclui todos os fatores de input) = 200/(3.900 + 2.000) = 0,0339
pacientes/R$

Na década de 1910, Henry Ford criou a linha de montagem seriada, revolucionando os


métodos e processos produtivos até então existentes. Surgiu, então, o conceito de produção
em massa, caracterizado por grandes volumes de produtos extremamente padronizados, isto é,
baixíssima variação nos tipos de produtos finais. Essa busca da melhoria da produtividade por
meio de novas técnicas definiu o que se denominou engenharia industrial. Novos conceitos
foram introduzidos; por exemplo, linha de montagem, posto de trabalho, técnicas
motivacionais, sindicatos, estoques intermediários, monotonia do trabalho, arranjo físico,
balanceamento de linha, produtos em processo, manutenção preventiva, controle estatístico da
qualidade, fluxogramas de processos entre outros.
A produção em massa aumentou, de maneira fantástica, a produtividade e a qualidade,
permitindo-se obter produtos bem mais uniformes em razão da padronização e da aplicação de
técnicas de controle estatístico da qualidade.
O conceito de produção em massa e as técnicas produtivas dele decorrentes predominaram
nas fábricas até meados da década de 1960, quando surgiram novas técnicas produtivas,
caracterizando o Sistema Toyota de Produção, muitas vezes definido como produção, sistema
ou pensamento enxuto, que introduziu, entre outros, os seguintes conceitos:
Just in time (JIT): processo que gerencia a produção, objetivando o maior volume possível
desta, usando o mínimo de matéria-prima, embalagens, estoques intermediários, recursos
humanos, no exato momento em que for requerido tanto pela linha de produção quanto pelo
cliente. É necessário um controle rígido para que o abastecimento aconteça exatamente quando
solicitado, com qualidade, evitando-se gerar estoque em excesso, escassez ou desperdício do
produto.
Engenharia simultânea: refere-se à participação de todas as áreas funcionais da empresa
no desenvolvimento do projeto do produto. Tanto clientes quanto fornecedores são também
envolvidos, com o objetivo de reduzir prazos, custos e problemas na fabricação e
comercialização;
Tecnologia de grupo: filosofia de engenharia e manufatura que identifica as similaridades
físicas dos componentes — com roteiros de fabricação semelhantes — agrupando-os em
processos produtivos comuns, visando a facilitar a definição de células de produção;
Célula de produção: unidade de manufatura e/ou serviços que consiste em uma ou mais
estações de trabalho interligadas por mecanismos de transporte e de estoques intermediários,
em geral dispostas em forma de “U”, objetivando obter maior velocidade de produção, cuja
célula exige que o funcionário seja polivalente, ou seja, participe de todo o processo com os
demais, estabelecendo integração entre a equipe de trabalho, visando à melhoria do controle
da qualidade, para que o defeito, seja detectado e corrigido na própria estação;
Desdobramento da função qualidade (QFD — Quality Function Deployment): metodologia
que objetiva considerar no projeto do produto, todas as principais exigências do consumidor a
fim de não somente as atender, mas suplantá-las;
Comakership: o mais alto nível de relacionamento entre cliente e fornecedor, representado
por conceitos como os de confiança mútua, participação e fornecimento com qualidade
assegurada;
Sistemas flexíveis de manufatura (FMS — Flexible Manufacturing Systems): conjunto de
máquinas de controle numérico interligadas por dois sistemas: um central, de controle, e outro
automático, de transporte;
Manufatura integrada por computador (CIM — Computer Integrated
Manufacturing): integração total da organização manufatureira por meio de sistemas
computadorizados e filosofias gerenciais que melhoram a eficácia da empresa;
Benchmarking: comparação das operações de um setor ou de uma organização em relação
a outros setores ou concorrentes diretos ou indiretos. Pode ser de práticas ou de desempenho,
e ocorrer interna ou externamente à organização, a fim de melhorar sua criatividade para atingir
seus objetivos;
Consórcio modular: a primeira fábrica no mundo a utilizar este conceito foi a Volkswagen,
divisão de caminhões e ônibus de Resende/RJ. Diversos parceiros trabalham juntos dentro da
planta da fábrica, nos seus respectivos módulos, para a montagem dos veículos, e são
responsáveis pelas operações na linha de montagem. Trabalhando juntos, é necessário que haja
uma padronização e especificação dos processos, já que há várias empresas com culturas
organizacionais distintas. Cada parceiro deve especificar os processos, prover recursos
materiais, peças necessárias para a montagem, ferramentas e seus próprios controles. Como
principais vantagens, o consórcio modular permite a redução nos custos de produção e
investimentos, diminuindo os estoques e o tempo de fabricação dos veículos, aumentando a
eficiência e a produtividade, além de tornar mais flexível a montagem deles.
Condomínio industrial: configuração na qual alguns fornecedores, escolhidos pelas
montadoras, se instalam junto às plantas das empresas contratantes, objetivando reduzir custos
de estoques, processos e transporte, e facilitar a integração entre os parceiros. Inicialmente,
esses fornecedores faziam entregas em pequenos lotes (JIT). Atualmente, são viabilizados
componentes e subconjuntos completos, podendo estes já estarem na sequência de montagem,
como a GM em Gravataí/RS e a Volkwagem em São José dos Pinhais/PR.
Ao longo desse processo de modernização da produção, cresceu em importância a figura
do consumidor, em nome do qual tudo se tem feito. Pode-se dizer que a procura da sua
satisfação tem levado as empresas a se atualizarem com novas técnicas de produção, cada vez
mais eficazes, eficientes e de alta produtividade. É tão grande a atenção dispensada ao
consumidor, que este, em muitos casos, já especifica em detalhes “seu” produto, sem que isto
atrapalhe os processos de fabricação do fornecedor, tal sua flexibilidade, ou seja, estamos
caminhando para a produção customizada, que, em certos aspectos, é um “retorno ao
artesanato”, sem a figura do artesão, que passa a ser substituído por moderníssimas fábricas.
A denominada empresa de classe mundial é aquela voltada para o cliente, sem perder a
característica de empresa enxuta, com indicadores de produtividade que a colocam no topo
entre seus concorrentes em termos mundiais; tem ainda como outra característica a capacidade
de competir em mercados globais e a busca incessante por melhorias.
Em resumo, este tipo de empresa tem como cultura a melhoria contínua por meio de
técnicas sofisticadas, como modelagem matemática para simulações de cenários futuros.

Referência(s): LAUGENI, Fernando P.; Petrônio Garcia. Administração da produção. São Paulo
(SP): Editora Saraiva, 2015. E-book. ISBN 9788502618367. Administração da
Produção/Operações: Evolução Histórica da Administração da Produção. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502618367/. Acesso em: 11 dez. 2022.

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