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1 Introdução
Atualmente, a “concorrência pelos mercados não é mais entre empresas, mas entre redes de
suprimento” (CORRÊA, 2010, p. 8). Neste sentido, “as empresas operam em um ambiente
estruturado por vínculos estabelecidos com outras empresas e também com fornecedores,
clientes concorrentes, instituições reguladoras, etc” (SACOMANO NETO e TRUZZI, 2009,
p. 598). Para se manterem competitivas, a terceirização passou a ser uma estratégia adotada
pelas empresas. Neste caso, as organizações estão focando nas core competences e
terceirizando as demais atividades. A partir da terceirização, os níveis de relacionamento na
cadeia de suprimentos sofreram alterações significativas e, conseqüentemente, as fronteiras
corporativas foram redefinidas. Exemplos disso são os condomínios industriais, os consórcios
modulares e as empresas virtuais.
Neste contexto, o objetivo deste estudo é analisar a terceirização sob três aspectos:
condomínio industrial, consórcio modular e empresa virtual. No intuito de atingir este
objetivo, dividiu-se este estudo em oito seções: introdução, metodologia da pesquisa, níveis
de relacionamento na cadeia de suprimentos, relação da terceirização com a cadeia de
suprimentos, conceitos dos três aspectos, analise dos três aspectos, considerações finais e
referências bibliográficas.
2 Metodologia da Pesquisa
Este capítulo apresenta a metodologia deste estudo, evidenciando a classificação, o plano de
coleta e a interpretação de dados. Classifica-se, este estudo, como bibliográfico e qualitativo.
Segundo Gil (2009, p. 50) “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já
elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Este tipo de pesquisa
também é utilizado em estudos históricos, pois, na maioria das situações, não há outra
maneira de conhecer os fatos passados senão com base em dados secundários.
Na abordagem qualitativa, uma das características principais é a predominância da descrição
de acontecimentos, sendo que “um pequeno detalhe pode ser um elemento essencial para o
entendimento da realidade” (MARTINS e THEÓPHILO, 2009, p. 141).
Para a realização do presente estudo utilizou-se dados secundários (coletados através de
livros, artigos e de sites) e sua interpretação deu-se por meio da análise qualitativa, ou seja,
descreveram-se os níveis de relacionamento na cadeia de suprimentos, a relação da
terceirização com a cadeia de suprimentos e, em seguida, os conceitos dos três aspectos.
3 Níveis de Relacionamento na Cadeia de Suprimentos
Com intuito de tornarem-se competitivas e estarem à frente dos concorrentes nesta grande
disputa comercial, as empresas têm concentrado esforços em busca de produtividade, de
qualidade, de agilidade na concepção, criação e produção de novos bens ou serviços. Para que
isso aconteça, exige-se das empresas certo nível de flexibilidade em suas estruturas, tornando-
se maleáveis a ponto de se adaptarem de forma rápida às constantes mudanças e desafios do
mercado (CRUZ, 2010). Além da flexibilidade, Cruz (2010) afirma que a nova empresa deve
ter um comportamento mais harmônico e estar integrada ao meio ambiente, devendo ainda
encontrar o ponto de equilíbrio entre os três elementos que integram os esforços de produção:
Pessoas, Processos e Tecnologia da Informação.
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Alta
Risco Estratégico
Integração
vertical
Centralidade da competência
Pareceria
Parceria
envolvida na atividade
para
estratégica
desenvolvimento
Joint
ventures
Mercado Dependência
Contrato de
médio prazo
Contrato de
longo prazo
Baixa
Mercado
puro
Baixo Custo de transação Alto
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Terceirização Terceirização
Compra doméstica global
(outsourcing) (global sourcing)
Produção por
Produção
Produção doméstica subsidiária no
exterior
(insourcing)
(offshoring)
Nacional Internacional
Observa-se na Figura 3 que, a decisão estratégica dos gestores está em determinar: terceirizar
(comprar) ou produzir? Esta questão pode ser ainda mais abrangente: a produção pode ser
doméstica (insourcing) e/ou subsidiada no exterior (offshoring) e, a terceirização, doméstica
(outsourcing) e/ou global (global sourcing).
Integração vertical e terceirização essencialmente oferecem abordagens distintas para o acesso
a um determinado tipo de ativo. “Integração envolve a propriedade desses ativos, enquanto a
terceirização envolve algum tipo de relacionamento contratual com outra entidade (um
fornecedor, cliente ou parceiro) que possua esse ativo” (HAYES et. al, 2008, p. 144). Uma
boa decisão de fazer e/ou terceirizar, seja nacional ou internacionalmente, deve levar em conta
dois elementos essenciais: os custos de transação e as competências principais (CORRÊA,
2010). Estes dois elementos também influenciam diretamente nos níveis de relacionamento
entre as empresas e seus fornecedores, conforme comentado anteriormente. “Os custos de
transação são os custos totais associados a uma transação” e, como exemplo, tem-se: a busca
por informação sobre o fornecedor,os custos de cotação e de elaboração de contratos, etc
(CORRÊA, 2010, p. 46). Além disso, o mesmo autor comenta que o número de fornecedores
potenciais, a especificidade de ativos, a incerteza envolvida nas transações e a freqüência das
transações, são pelo menos quatro fatores que influenciam diretamente nesses custos.
As competências principais (core competences) “são aquelas que garantem a empresa uma
vantagem competitiva única, ou seja, representam um conhecimento exclusivo e não atingido
pela competência” (PIRES, 2010a, p. 180). “A idéia principal é que, somente as mercadorias e
serviços que são consideradas core competences, devem ser produzidas internamente
(insourcing)” (ARNOLD, 2000, p. 25). “Os custos de transação e as competências principais
ajudam a desenvolver um modelo geral para as decisões de outsourcing” apresentado por
Arnold (2000, p. 26) na Figura 4.
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mesmos reduzem a medida que as empresas terceirizam as atividades com menor importância
estratégica e com menor especificidade (relação de esquerda para direita na Figura 4).
A dinâmica de fazer/terceirizar trouxe um novo tipo de competição no mercado, ou seja,
antigamente havia competição entre empresas (unidades de negócios) e, atualmente, a
competição é entre cadeias produtivas (virtuais unidades de negócios). No passado, as
empresas, para se manterem competitivas, se baseavam em uma ou duas competências, tais
como: preço e qualidade. Entretanto, atualmente, a demanda do mercado vai além do preço e
da qualidade, exige flexibilidade e respostas rápidas. Para atingir este objetivo, as empresas
estão descentralizando suas operações e terceirizando (YUSUF, GUNASEKARAN e
ABTHORPE, 2004).
Neste contexto, observa-se que a indústria automobilística, principal agente da globalização,
além de possuir uma das cadeias produtivas mais ricas e complexas da economia, vem
apresentando formas alternativas de relacionamento com seus fornecedores (DIAS e
SALERNO, 1998). No próximo capítulo serão apresentadas essas formas de relacionamento
do condomínio industrial, do consórcio modular e da empresa virtual.
5 Condomínio Industrial, Consórcio Modular e Empresa Virtual
Com o passar do tempo, as mudanças provocadas pelo aumento de demanda tem exigido das
organizações uma adequação ágil e sustentável na gestão de suas operações. Novas formas e
conceitos têm surgido para suprir a necessidade de atender e explorar economicamente o
mundo dos negócios. Neste contexto, este capítulo descreve as características do condomínio
industrial, do consórcio modular e da empresa virtual.
5.1 Condomínio Industrial
Considerado como uma interessante alternativa no que se refere à inovação na cadeia de
suprimentos, o condomínio industrial tem sido um forte aliado para a indústria
automobilística. Dias (1998, p. 71) denomina condomínio industrial, sendo “a configuração
onde alguns fornecedores, escolhidos pela montadora, estabelecem as suas instalações nas
adjacências da planta da montadora e passam a fornecer componentes ou subconjuntos
completos”. Pires (2010a) afirma que o conjunto de fornecedores ou sistemistas, instalados
fisicamente dentro da planta da montadora, abastecem diretamente as linhas de montagem
numa base de just in sequence, mas sem participar da linha final de montagem do veículo.
Além disso, como forma de tornar o negócio viável para ambas às partes, a montadora não
exige que os recursos dos sistemistas sejam exclusivos a ela, ou seja, o abastecimento pode
ser feito também a outras montadoras. Isso permite maior flexibilidade aos sistemistas e
menor dependência destes a montadora.
Pires e Sacomano Neto (2010) realizaram um estudo em um condomínio industrial. Na Figura
5 tem-se a representação da cadeia de suprimentos estudada, onde a montadora de automóveis
é a Original Equipment Manufacturer- OEM.
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Ao avaliar a estrutura de uma rede de consórcio modular, Sacomano Neto e Truzzi (2009)
afirma que “essa reconfiguração culminou com elevados níveis de outsourcing e divisão de
trabalho na rede de fornecedores. Entretanto, houve significativa redução do número de
fornecedores, a rede tornou-se mais densa e a inserção das empresas ficou mais restrita”
(conforme ilustra a Figura 6).
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Além da duração, longo e curto prazo, o propósito principal e a demanda, são outras duas
diferenças importantes da SC e da VE. O propósito da SC é aumentar a competitividade da
mesma e, da VE, é explorar uma oportunidade específica de negócio, ou seja, “produzir um
tipo particular de produto ou de entregar um tipo particular de serviço” (PIRESa, 2010, p. 57).
Em relação à demanda, na SC é previsível e são utilizados vários métodos, inclusive
estatísticos, para determiná-la. Porém, na VE, por haver uma relação temporária entre as
empresas envolvidas, a provisão da demanda é mais difícil de ser realizada. Apesar dessas
diferenças, “uma das principais características de uma SC e da VE é a existência de uma
parceria entre as empresas independentes que dividem competências e recursos com o
propósito de atender a demandas de mercado” (PIRESa, 2010, p. 58).
Azevedo (2000) afirma que as empresas de semicondutores podem ser conceitualizadas como
empresas virtuais. Estas, além de ter ênfase nas atividades relacionadas com a produção,
“recorrem permanentemente a entidades externas em regime de subcontratação e
outsourcing” (AZEVEDO, 2000, p. 222).
6 Análise da Terceirização
O objetivo deste capítulo é analisar a terceirização sob três aspectos: condomínio industrial,
consórcio modular e empresa virtual.
Pires (2010a, p. 278) afirma que “outsourcing na Indústria Automobilística por parte das
montadoras começou algumas décadas atrás com o advento do Just in time, passou pelo caso
único e radical de consórcio modular e parece que se concentrou no modelo de condomínio”
(conforme Figura 8).
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Consórcio Modular
Envolvimento (Fornecedores)
1996
Condomínio
Industrial
Após 1996
Just in time
Outsourcing (Montadoras)
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Com base na Figura 4, conclui-se que os três aspectos – condomínio industrial, consórcio
modular e empresa virtual – observam este modelo de terceirização, pois trabalham
(insourcing) suas core competences e terceirizam as demais atividades. Consequentemente, à
medida que as empresas terceirizam, ou seja, consideram que determinada atividade não
apresenta vantagem competitiva no mercado em que está inserida, seus custos de transação
reduzem.
7 Considerações Finais
Este estudo possui como objetivo analisar a terceirização sob três aspectos: condomínio
industrial, consórcio modular e empresa virtual. No intuito de atingir o objetivo proposto,
descreveu-se os níveis de relacionamento na cadeia de suprimentos, a relação da terceirização
com a cadeia de suprimentos e, em seguida, os conceitos dos três aspectos.
A partir dos constructos, analisou-se a terceirização sob a ótica do condomínio industrial,
consórcio modular e empresa virtual. Este novo padrão entre as empresas estimula a analisar
como este posicionamento, de estrutura e de relacionamento com os fornecedores, condiciona
os níveis de propagação do conhecimento, os mecanismos de controle e as relações de poder
entre as partes envolvidas (SACOMANO NETO, 2009).
Conclui-se que os três aspectos analisados levam em conta, no momento de fazer/terceirizar,
os custos de transação e as competências principais. Corrêa (2010) afirma que é uma boa
decisão de fazer/terceirizar quando se considera, no momento da terceirização, especificidade,
estratégia e competência de cada atividade desenvolvida pela empresa. Neste sentido,
evidencia-se que a “terceirização é mais que um sim ou não – é uma decisão com várias
alternativas híbridas” (ARNOLD, 2000, p. 29).
Referências
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subcontratação. Revista de Administração de Empresas, 35, p. 33-42, 1995.
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86, ago. 1999.
CORRÊA, HENRIQUE L. Gestão de redes de suprimento: integrando cadeias de
suprimento no mundo globalizado. São Paulo: Atlas, 2010.
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novas configurações produtivas na indústria automobilística. Dissertação Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção. Escola Politécnica da USP. 1998.
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