Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
br 1
HOMEM, ANIMAL DE DUAS CABEÇAS
GALENO PROCÓPIO M. ALVARENGA
www.galenoalvarenga.com.br
Publicações do Autor
Transtornos Mentais
Testes Psicológicos
Medicamentos
Galeria de Pinturas de Pacientes
Vídeos / Programas de TV com participação de Galeno Alvarenga
Sistema sensorial
144 Sistema sensorial
151 Operação, diversidade e tipos dos receptores
155 Os Sentidos químicos
Sinapse e plasticidade
166 Plasticidade: O papel das sinapses neuronais
168 Instalação de sinapses
176 Remodelação do sistema nervoso
183 Modificações de circuitos encefálicos: neuroplasticidade
187 Períodos críticos
196 Plasticidade de sinapses e circuitos maduros
Memória
222 Introdução à memória
224 Classificação: Tipos e subtipos de memória
226 Duas grandes classes de memórias: Origem do conhecimento memori-
zado
227 Categorias qualitativas da memória humana: Declarativa e procedimen-
to
231 Categorias temporais de memória
233 A memória de trabalho
239 Acerca da memória autobiográfica
Cognição
260 Conhecimento adquirido: Aprendido, secundário
263 Cognição e Córtices Associativos
268 Um espaço especial para os cortices pré-frontrais: Dorsais e Laterais
Adendo
278 Uma síntese dos sistemas neurais
281 Estruturas básicas: funções essenciais (regiões cerebrais importantes)
292 Algumas subdivisões do Sistema Nervoso Central (snc): A MELHOR,
VOCÊ ESCOLHE
Esse livro nada mais é que um livro que eu, como leitor, gostaria de ter
encontrado para comprar. Escrevi, para mim, uma série de idéias lidas,
resumidas, reunidas e organizadas de certo modo peculiar. É claro que
dei uma melhorada para publicá-lo.
Deus.
As explicações
Ao explicarmos algo, deixamos de lado vários aspectos do objeto a ser
explicado e, ao mesmo tempo, selecionamos outros por nós escolhi-
dos; jamais daremos uma explicação plena. Portanto, nunca teremos
uma explicação da conduta correta e para sempre. O sonho, ou fé, de
uma descrição correta não existe nas ciências. A ciência é um projeto
em constante desenvolvimento sem jamais atingir a plenitude do co-
nhecimento. Um trabalho científico sempre critica o outro e, fatalmen-
te, será criticado por outros e outros; não haverá nenhum certo para
todo o sempre. Apesar desse conhecimento básico nós continuamos a
explicar, pois esse é um dos objetivos da ciência; assim as explicações
proliferam e morrem.
As pesquisas cerebrais
As pesquisas no cérebro, mais recentes, especificamente, de quinze
anos para cá, quando elas se tornaram muito mais ativas e sérias, ago-
ra têm sido referidas como parte da neuropsicologia, da ciência cogni-
tiva, da psicobiologia e, principalmente, da neurociência. Os estudos
do cérebro se tornaram muito mais bem elaborados nos últimos anos
em virtude do avanço de novas técnicas de neuro-imagens, tais como
a ressonância magnética (IRM) ou (MRI) em inglês, e a tomografia por
emissão de pósitrons (TEP) ou (PET) como sigla inglesa. Desse modo, os
neurocientistas têm sido mais capazes de localizar funções específicas
envolvendo pensamento, percepção, linguagem, imagem mental, me-
mória e outras habilidades. Muito mais tem sido aprendido, por outro
lado, acerca do papel dos neurotransmissores em nossa vida.
Além disso, tem sido mais bem esclarecido o cérebro dos indivíduos
impulsivos, como de diversos criminosos, dos viciados em drogas,
bem como as lesões e áreas dos usuários dessas drogas, tanto dos que
assim nascem (anti-sociais desde o nascimento), como dos que adqui-
riram a personalidade anti-social em virtude de acidentes cerebrais,
tumores, alcoolismo, drogas e outros fatores.
Há, por outro lado, críticas a esse novo campo de estudo, de como re-
conciliar a possível contradição entre a imensa riqueza das experiências
subjetivas do homem, incluindo o autoconhecimento, e as explicações
científicas puras acerca das funções cerebrais baseadas nas novas téc-
nicas e nos estudos com outros animais além do homem.
Mas tudo indica que esse caminho não tem retorno. Essas pesquisas
Somos todos assim. O espírito que está por trás dos olhos, suposta-
mente frio e imparcial, na verdade está nervoso e tenso diante de cada
nova observação. Durante seu trabalho nascem emoções, imagens
mentais e pensamentos: “Penso que estou descobrindo um fato notá-
vel! Meu trabalho chamará a atenção de toda a comunidade científica.
Viva!”. Mas os pesquisadores da mente dos pesquisadores ainda pouco
conhecem do autor da pesquisa do homem; dele mesmo.
Vivendo na corda bamba, sem terra firme para pisar, os cientistas ten-
dem a considerar a verdade como um conglomerado de coisas (fatos
reais, possíveis de serem observados), sobre as quais podemos ter
Visite nosso site! www.galenoalvarenga.com.br 27
idéias. Mas, se a verdade somente existe no plano material, de onde
vêm nossas idéias que examinam as coisas? Do reino das ilusões? Pre-
cisamos explicar a gênese das idéias dos homens e de cada um deles.
Por tudo isso, a neurociência, criada há pouco tempo, tenta buscar
algumas respostas para esse desconcertante e estimulador quebra-
-cabeça.
Não basta boa vontade e entusiasmo para explicar; é preciso, pelo me-
nos, saber que não conhece, ser mais humilde ao emitir uma opinião
(uma intuição adivinhatória), sem nenhum respaldo científico. As expli-
cações que começaram tímidas, aos poucos, ganharam força devido à
crença do autor sobre suas especulações. De observador neutro, o ar-
ticulista tornou-se um pregador, conhecedor da verdade e da conduta
certa. Deu no que deu!
Antes da explosão
Alguns decretam que Deus criou o mundo; outros, que ele não teve
começo e sempre existiu. O bigue-bangue (“big bang” em inglês), há 15
bilhões de anos, foi a explosão primordial claramente detectável hoje,
pois o Universo está ainda hoje se expandindo e encontra-se preenchi-
do por uma incandescência de calor irradiante. Mas porque detonou
Após a explosão
No início havia “quarks” (partículas elementares), depois átomos, mais
tarde, compostos físico-químicos. Ainda não haviam sido formados os
vegetais e animais.
Um organismo, qualquer que seja ele, uma vez formado, trabalha para
sua manutenção e reprodução. Verificou-se que certos aminoácidos, os
que dão origem às proteínas, podem ser facilmente formados quando
a energia elétrica passa através de uma simples mistura de gases. A
absorção ou a emissão de radiação faz com que os sistemas passem de
um estado a outro.
Após a Terra ter surgido, por mais de três bilhões de anos, ela foi, ini-
cialmente, habitada somente por organismos muito simples, como os
seres unicelulares que se assemelham às bactérias e algas. Portanto,
no início não havia vegetais nem animais; esses últimos começaram
a aparecer milhões ou bilhões de anos após o aparecimento de seres
unicelulares segundo a ordem: árqueo-bactérias e bactérias; apareci-
mento das algas azuis. Ao surgirem as algas azuis, houve a produção
de oxigênio que transformou a cor cinzenta da atmosfera para a azul
atual. Desse modo houve o aparecimento de diversas outras espécies
que utilizam o oxigênio para viver. Só muito mais tarde apareceram os
mamíferos e, finalmente, os homens.
Para realizar essas duas tarefas as células dos seres vivos contêm infor-
mações necessárias para a realização desses dois objetivos básicos que
orientam todas as condutas. Pois bem. Essas instruções estão escritas
através de um alfabeto composto de quatro letras: A, C, G, T (adenina,
citosina, guanina e timina). Cada letra é formada por uma molécula de
quinze átomos denominados nucleotídeos.
Olhando por esse prisma (químico), as células vivas não passam de ele-
mentos químicos organizados de certa combinação, uma maneira única
de composição das substâncias. Por exemplo: entre os mamíferos há
A morte de um pardal não parece trágica; ele deve ter vivido sua vida
mais integralmente. As tartarugas, logo que nascem, correm para o
mar onde terão de percorrer muitos mil quilômetros; sabemos que du-
rante o percurso, do nascimento à vida adulta, a maioria delas morrerá.
O instinto leva a tartaruga para botar os ovos numa praia; o instinto,
por sua vez, conduz as crias para o mar longínquo.
Nascimento
Morre um ser aquático expulso da vida intra-uterina, nasce uma crian-
ça desvalida, necessitando de extrema ajuda externa. O recém-nascido
esforça-se para sobreviver na atmosfera terrestre desconhecida: grita,
agita-se, chora, contrai-se, esperneia irado, chuta, agarra, solta, sofre,
parece não ter alegria. Tem fome e frio; busca calor humano. Expele
sobras desnecessárias; inicia, fora da proteção intra-uterina, uma jor-
nada altamente estimulante, mas mais perigosa.
Os sinais que a criança possui ao nascer são poucos para indicar seus
desejos: ela olha, pega, chora, movimenta-se, engole, rejeita e excreta.
Meses após nascer, por não possuir ainda a linguagem simbólica usada
pelos adultos, ela não saberá explicar o que sente ou o que deseja atra-
vés de palavras. Seu sofrimento é informado ao criador através da lin-
guagem corporal, concreta e no presente, desajeitadamente e em blo-
co. A mãe, para entendê-la, precisa decodificar as informações usando
seu assimilador mental sem-palavras que pode ser ótimo ou péssimo.
O estado do organismo, uma vez estimulado, fará com que ele respon-
da a determinados estímulos sensoriais e não a outros, por estar mais
sensibilizado em virtude das alterações nos sensores capazes de ge-
rarem respostas específicas e apropriadas à nova situação vivida. Se o
sistema receptor da criança estiver estimulado internamente com res-
peito à fome, seu organismo ficará mais atento à possível presença de
alimento no meio externo: a presença da babá, a geladeira, o barulho,
cheiro peculiar na cozinha. Do mesmo modo, a criança poderá estar
superestimulada com respeito à frustração, ficando desperta e atenta
aos estímulos irritantes. Os seres humanos não são máquinas orgânicas
que dão respostas constantes aos estímulos; eles respondem aos estí-
mulos conforme esses são definidos e interpretados por ele.
Nós, por sorte ou azar, não sei, somos a única criatura no Universo que
sabe o que o Universo foi, bem como as versões de nossa história; uma
tarefa executada pelo nosso córtex cerebral. Criamos, assim, diferentes
dos outros animais, uma segunda natureza (pensamentos sobre os fa-
tos, ou seja, a nossa segunda cabeça) que é mais visível que a primeira
delas, a subcortical. Esta outra natureza permite à pessoa se tornar
mais diferenciada da outra, pois cada uma viveu num tempo e lugar
diferente, ou seja, receberam estimulações diversas, portanto armaze-
naram conhecimentos desiguais.
Lembro ao leitor que cada organismo começa sua existência como uma
célula e, como tal, tem também certas estruturas iniciais que são o re-
sultado de uma história da espécie da qual ele pertence: roseira ou car-
rapato. Os dispositivos de regulação da vida estão presentes em todos
os níveis do organismo, sistemas, órgãos, tecidos e células.
Pedro (ou Maria) também precisa cuidar de si mesmo, mas como seu
bem-estar depende de outros, ele, inteligentemente, cuida de quem
lhe dá apoio e prazer.
De outro modo, por mais que o organismo seja atingido por diversas
desordens, ele apresenta apenas algumas respostas viáveis (saudáveis),
devido à sua flexibilidade que busca o melhor para si. Nesse caso, o
organismo ignora ou incorpora a perturbação com a finalidade última
de se tornar mais forte, mais capaz e resistente dentro de um número
limitado de estados. Ele se prepara, treina, para sofrer o mínimo pos-
sível de perturbações internas diante das mais diversas provocações
externas, mantendo assim sua unidade, seu “eu” o mais íntegro e dese-
jável possível como seu agente e administrador.
Alguns pais são tão bondosos que não ajudam os filhos a crescer. Sen-
do protetores, eles não permitem que o filho enfrente problemas, cor-
ra riscos; esses pais temem expor o filho a uma possível desorganização
temporária, às vezes, à morte. Desse modo, o filho estará impedido de
viver; assimilar os problemas ou estresses. Tudo indica que crescemos
e nos preparamos para enfrentar o mundo real e complexo caso possa-
mos defrontar as desorganizações do meio ambiente: elas são nossos
principais alimentos para desenvolvermos.
Enquanto vivo, o ser vivo jamais poderá estar fora de seu lugar, ou seja,
fora de seu ninho. Viver é uma continuada caminhada à procura de um
nicho para nele se abrigar. O homem, bem como outros animais, sem-
pre sonhou em habitar ou acomodar-se num confortável paraíso. Lá
no paraíso, possivelmente, não mais precisaria atender tantos e tantos
telefonemas chatos e inúteis; ir a tantos aniversários sem graça ou a
velórios para se despedir de um morto que mal conhecia; ouvir conver-
sas repetitivas e sem graça; escutar lições de vida idiotas e ingênuas;
receber elogios desnecessários e já sabidos. Tudo isso desequilibra e
interrompe as ações desejadas, as que nos fornecem o equilíbrio, que
agradam, isto é, as que fazem parte do ninho que sonhamos. Para um
observador de fora, muitas dessas interações podem parecer harmo-
niosas, ser interpretadas como se o indivíduo, José ou Maria, estivesse
bem adaptado a esse meio ambiente.
Criatividade e interações
Visite nosso site! www.galenoalvarenga.com.br 73
Criatividade é uma característica difundida entre os sistemas vivos;
o ser vivo “escolhe” mesmo havendo, por trás dele, o determinismo
interno. Exemplo: Se tenho fome, posso comer uma feijoada para ma-
tar minha fome, mas posso ainda comer um pastel. Diante de minha
“fúria” posso agredir fisicamente meu inimigo, ou, ainda, agredi-lo por
palavras, matá-lo, contar até dez e esquecer, rezar e pedir a Deus que
o perdoe, entender melhor o acontecido, tomar um remédio para me
tranquilizar, etc.
Evolução: esclarecimentos
A evolução não é uma lei, ela é um fenômeno ocorrido. Ao contrário da
crença de muitos, o privilégio dos seres vivos não é o de evoluir, mas
sim o de se conservar, isto é, possuir uma estrutura e um mecanismo
que lhes asseguram duas coisas: reprodução fiel ao tipo da própria es-
trutura (continuar a ser homem, gato, pulga) e reprodução, igualmente
fiel, ao tipo de qualquer acidente ocorrido na estrutura (formação de
outra espécie ou um indivíduo modificado, mais eficiente ou menos
capacitado).
Além disso, como toda idéia espalhada entre os povos, na qual se in-
clui a científica, a evolução também invadiu a mente popular. Nesta,
as idéias evolucionistas foram misturadas por idéias espúrias (falsas) já
existentes. Desse modo, na mente popular – nós todos fazemos parte
– se infiltraram, como é frequente, ideologias simples, versões de fácil
digestão, que serviram de fundo para o entendimento e as explicações
populares; uma série de conceitos e significados que representam anti-
gos preconceitos sociais e crenças psicológicas das diversas culturas.
Animais condicionados
Muitos dos antigos organismos/candidatos, largados a sua própria sor-
te, não possuíam equipamentos ou estruturas capazes de facilitar, e
muito menos selecionar as opções comportamentais para “competir”;
internamente eles eram incapazes de perceberem recompensas ou
punições para, através dessas, aprenderem a procurar ou fugir do meio
atraente ou perigoso. Outros organismos foram mais felizes, como os
possuidores de plasticidade (modificações durante a vida), pois tinham
<strong class=”tag”>estruturas neurais</strong> capazes de produzir
aprendizagens, de possuírem “reforços” que favoreciam ações mais
adequadas para sua sobrevivência e sucesso; eram capazes de perce-
ber quais condutas davam melhores resultados para eles. Esses indi-
víduos enfrentavam o meio do tipo “ensaio e erro”, isto é, gerando as
mais variadas ações que eram testadas, uma a uma, até encontrarem
aquela que “funcionava” melhor para aproximar ou fugir.
Podemos inferir que entre essas criaturas havia algumas cuja infor-
mação produtora da conduta herdada (comandada pelo seu genoma
puro) era mais fraca, isto é, ela não dominava o indivíduo totalmen-
te; permitia certa modificação da pressão do herdado. Essas novas
estruturas, fazendo parte de certos organismos, permitiram nascer a
conduta condicionada (aprendida conforme prazer ou sofrimento).
A conduta, antes de ser realizada, era examinada segundo a previsão
de que um fato precede o outro, tanto para ser punido como para ser
gratificado (um cheiro de leão; a possibilidade de ser comido; um can-
to indicando possibilidade de se acasalar). O condicionamento é uma
forma ótima de crescer e desenvolver; o grande risco era que a criatura
poderia ser morta em razão de erros antes de aprender no encontro
inicial, o produtor de aprendizagem. Mas surgiram outras criaturas ca-
pazes de fazer previsões antes de entrar “numa fria”.
Assim, o ambiente interno, para ser eficiente, qualquer que seja ele,
precisa conter muita informação a respeito do ambiente externo, bem
como do interno. Somente assim poderemos ter uma boa pré-seleção,
a não ser fazendo uso de diversas magias que estão por aí, mas, mes-
mo no uso destas, precisamos ter uma boa pré-seleção delas.
Cada espécie aprende certas coisas mais facilmente que outras. Há cer-
ca de trinta e oito mil anos, apareceram na Europa os primeiros Homo
sapiens anatomicamente modernos. Fabricados por esse novo grupo
surgiram os primeiros instrumentos musicais, pinturas rupestres, pe-
quenas estátuas e outros objetos nunca antes criados. Há também evi-
dência de que o enterro intencional dos mortos, antes não existente,
apareceu, sugerindo a possibilidade, nesse período, da emergência da
religião, da idéia de Deus, antes inexistente.
Mas nem tudo são flores. Houve um avanço sinistro da nova conduta
humana (inteligente) e, consequentemente, de maior poder. Ocorreu a
extinção de 90% das espécies de grandes animais da Austrália e Nova
Guiné após a colonização dessas regiões. Uma extinção semelhante
apareceu na Europa e África. Finalmente, o homem de cérebro grande
de Neandertal foi exterminado com o uso de novas técnicas e armas
pelo novo grupo, os mais inteligentes e criativos. Os homens de Nean-
dertal foram expulsos ou mortos. Não há nenhum homem atual que
descende do homem de Neandertal, indicando que não sobrou ne-
nhum para semente.
3. Há 2 milhões de anos surge o Homo habilis, mas este era ainda pare-
cido com os australopitecos: ferramentas de pedras para cortar sem
cuidado; cérebro variável e maior;
Nossa espécie, como as outras, é uma espécie singular. Entre suas ca-
racterísticas, talvez a mais notável e que provocou a “grande mudança”
é sua capacidade exclusiva da linguagem simbólica falada e escrita. O
homem é capaz de abstrair, deixar de lado o concreto imediato e pe-
Nós temos alguma semelhança com esses insetos. Desse modo, o ele-
mento de comunicação espontânea (não-aprendida) é, geneticamente,
a qualidade codificada nos indivíduos emissores e recebedores, que
funcionam no nível de inter-relação. Quando isso ocorre, a unidade da
seleção natural não é o indivíduo, mas a relação de comunicação, um
fenômeno grupal, baseado na comunicação.
Eu, pessoalmente, mesmo sendo médico, vivi por muitos anos junto a
sociólogos, antropólogos, filósofos, pedagogos e psicólogos (que tam-
bém sou) na Faculdade de Filosofia, onde estudei e lecionei. Todos eles
muito simpáticos, amáveis e civilizados. Entretanto, a maioria deles –
uma inquietação dos cientistas sociais – deixava transparecer certa oje-
riza quanto ao biológico. Tudo indica que essa postura julgadora, para
mim, deriva em parte de duas interpretações equivocadas, uma crença
não existente apenas nos cientistas sociais. Primeiro: que os biólogos
pensam que todos os processos biológicos são estritamente determi-
nados pelos genes. Segundo: que a única função dos genes é a inexorá-
Deve ser lembrado que a própria conduta, ela mesma, pode modificar
a expressão do gene. Não existem mudanças na conduta que não são
reflexos de mudanças no sistema nervoso. Também, não há mudanças
persistentes no sistema nervoso que não refletem mudanças estru-
turais em algum nível de resolução de problemas. Toda experiência
sensorial, privação sensorial e aprendizagem pode, provavelmente,
conduzir a um enfraquecimento das conexões sinápticas em algumas
circunstâncias e num fortalecimento das conexões em outras. Por
exemplo: ficará mais difícil para você lembrar de um nome caso você
pare de usá-lo por um longo tempo. Nesse caso, suas sinapses enfra-
Macacos treinados para usar apenas três dedos médios da mão para
ativar pontos num disco em rotação tiveram um crescimento da região
do córtex devotado aos dedos usados e uma diminuição das áreas cor-
ticais antes usadas para os dedos que ficaram impedidos de serem usa-
dos. O cérebro dos macacos tornou-se, portanto, diferente do anterior.
A memória não é uma função unitária da mente; ela tem pelo menos
duas formas: explícita e implícita. A memória explícita (episódica) codi-
fica a informação consciente acerca dos acontecimentos autobiográfi-
cos (história de vida de cada pessoa) e do conhecimento factual; ela é a
memória acerca de pessoas, lugares, fatos e objetos, exigindo para sua
expressão o hipocampo e o lobo temporal médio.
Sistema neural
Uma parte desse conjunto de circuitos está relacionada aos nervos mo-
tores e sensoriais periféricos. São essas vias que enviam sinais de todas
as partes do corpo para o cérebro e deste para o corpo. Outras vias são
as informações transmitidas pela corrente sanguínea (sinais químicos,
Visite nosso site! www.galenoalvarenga.com.br 130
como os hormônios). Outras informações são transmitidas pelos neu-
rotransmissores, ou seja, substâncias químicas liberadas difusamente
de alguns neurônios transmitindo informações para diversos outros
pontos, entre eles a dopamina, noradrenalina, acetilcolina, serotonina,
etc.; entre os peptídeos encontram-se as endorfinas (relacionadas à
dor e relaxamento) e a oxitocina (relacionada às paixões).
Todos esses dados têm sido obtidos através de análises feitas através
de tomografia computadorizada e ressonância magnética e, também,
após a morte, pela inspeção direta do cérebro. Além disso, a contagem
do número de neurônios em diferentes regiões cerebrais mostra pro-
nunciada queda, sendo menor também o número de sinapses forma-
das.
Portanto, não há como “ouvir”, “ver” ou “sentir” algo que não seja
transmitido pelas energias: luminosa, sonora, gustativa, odorífera, etc.
Caso você tenha lido nos jornais que alguém viu, ouviu, conversou com
algum ser, sem que houvesse contato com o corpo físico emissor dessa
energia, você pode ter certeza que o “felizardo”, relator de visões ou
sons sem objeto, ou estava mentindo, ou acreditando nos seus pró-
prios pensamentos (representações mentais), ou, ainda, apresentando
um sintoma psiquiátrico chamado de alucinações e ou idéias deliran-
tes. Sem a presença de estimulação adequada, cientificamente pensan-
do, é impossível a transmissão de informações. Entretanto a fé, como
se sabe, “remove montanhas”.
Essas células nem sempre são neurônios, como, por exemplo, os recep-
tores visuais, bem como os auditivos, os gustativos e os vestibulares
(encarregados de avaliar a posição da cabeça) que são células epiteliais
modificadas. Sendo neurônios, ou não, todas essas células se ligam
através de sinapses com neurônios secundários ou de segunda ordem;
estes, por sua vez, se ligam aos neurônios terciários ou de terceira
ordem e assim por diante. Esses circuitos, em cadeia, levam a informa-
ção, de estação em estação, de lugar em lugar, traduzida do ambiente
pelos receptores a regiões progressivamente mais complexas do encé-
falo.
Receptores somatossensoriais
O sistema sensorial somático ou somatossensorial apresenta dois com-
ponentes principais: um subsistema para a detecção de estímulos me-
cânicos (por exemplo, vibração, pressão e tensão cutânea) e um subsis-
tema para a detecção de estímulos dolorosos e da temperatura. Juntos,
esses dois subsistemas conferem aos humanos, e a outros animais, a
capacidade de identificar formas e texturas de objetos, de monitorar
forças internas e externas atuando sobre o corpo a cada momento e de
detectar circunstâncias potencialmente nocivas.
Tento mostrar que existe por trás de tudo isso um sistema nervoso al-
tamente complexo, além de substâncias químicas, sinais elétricos para
decidir fazer um gesto simples como pegar uma caneta e anotar um
número de telefone que poderá ser usado algum dia.
Tudo faz crer que genes diferentes, vivendo num e noutro organismo,
formando pequenos conjuntos, foram se reunindo aleatoriamente para
dar origem a organismos mais complexos: cupim, rato, barata e o ho-
mem, bem como milho, laranja, couve, carnaúba, etc.
Tem sido descrito que os axônios lutam pela posse de lugares especiais
e limitados; os que perdem essa competição atrofiam-se e morrem. A
competição se faz, ou é estimulada, pelos fatores externos; cada ele-
mento em questão (receptor, sinapse, etc.) tem sua importância con-
forme é ou não usado. Por conseguinte, seu poder e sua sobrevivência
decorrem do uso e, por outro lado, sua morte, devido ao desuso.
As sinapses neuronais
Nos estágios iniciais do desenvolvimento os neurônios se deslocam
livremente, embora guiados para percursos gerais por instruções gené-
ticas. Enquanto certos neurônios ficam perambulando, alguns se divi-
dem em mais neurônios, outros morrem e outros ainda se instalam em
seus assentos permanentes. Nesse local já definitivo, eles estabelecem
relações com os vizinhos e assim constroem uma complexa rede de
circuitos.
Os novos arranjos (as novas conexões) dos neurônios gerados pelo or-
O meio ambiente que nos cerca (o que nos atinge, inalamos, o tipo de
luz e som) altera, com efeito, a interligação física das sinapses no cére-
bro, dotando-nos assim com circuitos mais eficientes e permitindo que
cada um de nós desenvolva um cérebro exclusivo, ajustado às nossas
necessidades particulares, dando origem à identidade singular que
cada ser humano possui.
Você, leitor, deve ser craque em alguma atividade (um esporte, uma
profissão, uma arte, etc.) e, por outro lado, ser um idiota com respeito
a outras. Não fique triste e nem se aborreça, pois isto acontece com
todos nós. Examine, comparando, suas habilidades em um setor e sua
inabilidade em outro. Há um enorme fosso separando o conhecimento
numa e noutra área. De outro modo, num campo você tem uma rique-
za de interligações neuronais (circuitos e sinapses em grande número),
no outro, o não explorado, há uma escassez dessas interligações.
5. desativação do neurotransmissor.
Integração sináptica
Visto que cada neurônio recebe sinapses de inúmeras regiões diferen-
tes do cérebro, o neurônio aparece como um verdadeiro computador.
Este é capaz de reunir potenciais sinápticos diferentes, com origens e
tipos variados e associá-los. Depois de toda essa complicada atividade
nascerá (será elaborada) uma resposta, um “pacote” de informações,
que será enviada pelo axônio.
Neuromoduladores:
1. Peptídeos: Gastrinas: gastrina, colecistocinina; Hormônios da neuro-
-hipófise: Vasopressina, ocitocina (oxitocina); Insulina; Opióides:
encefalinas e beta-endorfinas; Secretinas: secretina, glucagon, peptí-
deos intestinal vasoativo; Somatostatinas; Taquicninas: substância P,
substância k;
Pois bem, tudo isso foi impresso, isso mesmo, seus cérebros foram mo-
delados (esculpidos, gravados) através da plasticidade neuronal. Uma
vez plastificados, eles, docilmente, seguiram as normas impressas, ou
Para que haja a assimilação dos valores morais de uma pessoa, parece
haver necessidade que ela assimile a cultura do meio ambiente entre
os 9 e 17 anos, nem antes nem depois. Uma criança vivendo num país
estrangeiro aprenderá (assimilará) os valores desse local caso resida
nesse meio durante seus 9 e 17 anos. Caso resida somente antes dos
9 anos, ou somente depois dos 17 anos não adquirirá os valores da co-
munidade.
O período crítico
Apesar do fato de os períodos críticos variarem amplamente, tanto
com relação aos comportamentos afetados como à sua duração, todos
eles compartilham algumas propriedades básicas. Um período crítico
é definido como o tempo durante o qual um dado comportamento é
especialmente susceptível a – e de fato requer – influências ambientais
específicas para se desenvolver normalmente.
Com respeito aos valores morais, por exemplo, aprendidos dos 9 aos
17 anos, não há o problema do desuso, pois, sem querer, automatica-
mente, em todos os nossos raciocínios fazemos uso deles. Além disso,
se continuamos a viver na mesma comunidade, recebemos “feedback”
de outras pessoas.
Mas pode ser ruim não mais esquecermos de uma série de princípios,
que são inteiramente inadequados ao mundo em que estamos vivemos
quando adultos. Ao utilizá-los podemos ser altamente prejudicados, e
esses princípios tendem a nos habitar e perseguir até a sepultura ou o
crematório.
O indivíduo que fala uma determinada língua fica intrigado, pela “bur-
rice” do outro (japonês, russo, inglês), por não conseguir “repetir de
modo certo” fonemas usados por ele. Por mais que sejam repetidos,
inúmeras vezes, a pronúncia nunca é a correta para determinada lín-
gua. Na verdade, esses “imbecis” não discriminam claramente, como
os usuários da língua desde o nascimento, alguns sons de outros.
Atenção e Percepção
Para que os mecanismos da percepção possam ser otimizados, é preci-
so selecionar dentre os inúmeros estímulos provenientes do ambiente
aqueles que são mais relevantes para o observador. Para isso o SNC
conta com a atenção, um mecanismo de focalização dos canais sen-
soriais capaz de facilitar a ativação de certas vias, certas regiões e até
Constância perceptual
Um dos aspectos mais importantes da percepção e que a diferencia das
sensações é a chamada “constância perceptual”. Para os sentidos, cada
posição de um objeto produz uma imagem visual diferente, mas para a
percepção trata-se do mesmo objeto. Sabemos a quem pertence uma
voz familiar, e ela parece-nos provir da mesma pessoa, quer esteja rou-
ca, após uma gripe, sussurrando num ambiente silencioso, etc.; no en-
tanto, nessas diferentes condições os sons que ouvimos foram diferen-
tes. Identificamos uma pessoa de lado, de cima, com mais ou menos
luz, parada ou movimentando-se e, por fim, com diferentes idades.
Muito do que acreditamos busca uma paz espiritual sonhada que não
existe na realidade vivida; os problemas, às vezes graves e sérios, são
deixados de lado, encobertos pelos sons que nos impedem de enxergar
a triste e temida realidade.
Se o filtro for eficiente, a área mais nobre do cérebro (córtex) fica mais
desimpedida para funcionar e trabalhar com alguns poucos estímulos,
rigorosamente selecionados, possivelmente de modo inconsciente no
sistema talâmico. Caso alguns dos estímulos sejam muito complexos ou
novos – como um assunto nunca estudado – nesse caso, não podendo
ser assimilado, ele, excedendo a capacidade cerebral, não mais seria
processado pela maneira automática. Seu processamento só poderá
ser feito através de um adiamento e depois um esforço maior através
de um processamento adicional sob controle da atenção, isto é, de for-
ma não-automática.
Nesse caso, após ingerí-lo, talvez, a pessoa tome uma outra xícara, pois
além de sentir o prazer das diversas sensações, construiu uma frase
favorável, que, por sua vez, tende a reforçar o fato anteriormente senti-
do pelo corpo.
O que desejo aqui é enfatizar que cada estímulo sensorial isolado per-
cebido será sem-palavras; entretanto, muitas vezes as sensações são
traduzidas. Posteriormente às sensações, condensadas no relato fazen-
do uso de palavras, podem ser utilizadas ou convocadas para descrever
o evento total percebido e sentido ao relembrar a impressão fisiológica
Resumindo: tem sido mostrado que caso haja lesões num ou outro
circuito cerebral, ou quando há diminuição de dopamina, a pessoa se
torna incapaz de manter, ao mesmo tempo, várias imagens, palavras
e estímulos na memória que trabalha para agrupar os diversos com-
ponentes num conjunto compreensível, conduzindo, portanto, à difi-
culdade ou impossibilidade da formação eficiente dessas imagens que
precisam estar presentes para que se faça uso do raciocínio.
Para finalizar: a consulta não foi tão simples como resumi. Vários ou-
tros detalhes não falados foram percebidos por mim por ter vivencia-
do, devido a minha formação, clientes semelhantes. Orientei a família
a procurar, com urgência, um bom neurologista, pois imaginava, além
dos fatos presenciados pelos meus órgãos dos sentidos, outros fatos,
conforme teorias acerca do funcionamento da atenção e memória. Em
seguida, formei um conjunto maior composto do percebido e mais o
que já possuía a respeito de alguns problemas neurológicos. O con-
junto final, fruto do observado e do pensado fazendo uso de minha
memória, possibilitou um diagnóstico mais amplo e produtivo do que
“a paciente está esquisita”. Imaginei a possibilidade da paciente apre-
sentar algum problema cerebral, possivelmente um tumor fazendo
pressão no lobo frontal: o encarregado de sintetizar os dados, manter a
atenção e, por fim, tomar decisões.
Poucos dias depois tive notícias que ela começou a ter convulsões e
foi levada para o Hospital João XXIII. Examinada, através de neuro-ima-
gens, constataram um imenso tumor localizado numa região inoperá-
vel. Morreu dias depois.
Existem (faça um ligeiro esforço com seus córtices cerebrais para evo-
cá-los) inúmeras rotinas cognitivas usadas a cada momento por nós.
Uma vez aprendido e repetido, o, às vezes, doloroso e cansativo pro-
cesso cognitivo, é convertido em rotina e torna-se fácil, até divertido;
processando funções motoras e mentais em paralelo, tudo ao mesmo
tempo. Por isso completei essa frase com facilidade, pois meus dedos,
automaticamente, obedeceram minhas idéias, à medida que elas fo-
ram sendo geradas. Todo processo, cujo entendimento foi dominado,
é armazenado no cérebro inferior (subcortical) e ali se mantém pronto
para ser ativado contando com a participação de áreas do tronco cere-
bral, gânglios basais e cerebelo.
Duas áreas são ativadas quase ao mesmo tempo, sendo que o processo
de uma detona o processo da outra: a função cognitiva (constatação
de um problema e possíveis soluções virtuais) e a função motora (mo-
vimentos dos músculos, efetivação do imaginado, conduta). À medida
que o organismo põe em ação a parte motora (comportamento), a sua
realização vai fornecendo informações aos córtices (tomada de deci-
são) do andamento da solução do problema: “Agora parece que a lâm-
pada começou a girar; não, enganei-me. Vou usar uma chave inglesa”.
2. Uma outra memória nascida dos genes; esta é inata, estável, abaste-
cida pelos acontecimentos organizadores de um passado anterior ao
indivíduo, bem protegida contra o “ruído” e a informação circulante.
As duas memórias trabalham juntas: a dos genes possibilita a aquisi-
ção das memórias ocorridas após o nascimento.
Eis um exemplo: um leitor, para entender o que está lendo, precisa ser
capaz de extrair e reter em sua mente as informações contidas no que
ele lê num instante, bem como de algo lido um pouco antes, ou seja,
manter acesas diversas informações interligadas e importantes para a
compreensão, representações de palavras e de frases anteriores e atu-
ais numa sentença. Mas não basta só isso. Ele precisa ir além do que as
palavras literalmente afirmam; é necessário relacionar tudo isso numa
compreensão global. Se eu leio: “Maria comprou no supermercado um
presente para sua filha”, para entender a frase, eu preciso manter na
minha mente diferentes idéias: Maria, uma pessoa do sexo feminino,
que tem uma filha; comprou – ativar o conceito de compra, troca, di-
nheiro, etc. relacionado a esse ato; supermercado ativa a idéia de um
lugar grande que expõe e vende diversas mercadorias, etc.; presente,
um objeto dado de graça, geralmente para alguém com o qual temos
laços afetivos, etc.; filha, sexo feminino, mais nova que Maria, etc. Sim-
plifiquei muito as imagens ativadas com uma simples frase como esta.
Muito do descrito não estava escrito, mas sim, armazenado em nossa
mente, aprendido pela memória de trabalho de curta duração e, poste-
riormente, arquivado na memória de longa duração.
Deve ser lembrado que a ativação das metas a serem alcançadas por
Visite nosso site! www.galenoalvarenga.com.br 240
nós e, constantemente, realizadas pelo “eu” em ação no tempo pre-
sente, é influenciada, em parte, pelo conhecimento autobiográfico bá-
sico armazenado e, por outro lado, pelos estímulos externos à pessoa
num momento; como a música escutada por mim. De outro modo, o
conhecimento autobiográfico básico prepara o terreno para gerar os
objetivos do eu em ação. Por outro lado, o eu em ação ao agir, muitas
vezes, produz novos conhecimentos que são, posteriormente, também
armazenados no sistema autobiográfico.
Nesse caso, minha tarefa, realizar uma consulta, foi prejudicada por
uma “raiva” do cliente. Ora surgia uma, ora outra imagem diferente,
há conflito de lembranças – antigas e atuais; os dados da anamnese, os
sinais desse cliente e também outras lembranças invasoras, dominado-
ras que nada tinham a ver com o problema que agora enfrentava; eram
dois eus meus em ação; um para ajudar o cliente, outro para me ver li-
vre dele, um ligado ao amor a ele, o outro de desprezo, um comandado
por um eu (cérebro) mais primitivo, selvagem, um outro mais educado
e civilizado que incorporou as regras do bom médico, este recrimina o
outro eu, e espanta diante do que “ele” pensa e imagina (luta das duas
cabeças).
Para ilustrar relato, mais uma vez, minha própria experiência (é essa
que mais conheço), diante com um acidente automobilístico com um
familiar que residia comigo e havia saído cedo para ir a um clube. O
telefone, às 14h30min – eu acabara de almoçar – tocou inúmeras vezes
antes que eu fosse atendê-lo; ele estava ligado na secretária eletrônica.
b) Acontecimentos Gerais
Os acontecimentos gerais circundam tanto os eventos repetidos (ca-
minhava pelo bosque) quanto os eventos simples (minha viagem a
Itabira). Podem também representar conjuntos de eventos associados
e, assim, englobar uma série de memórias ligadas por um tema. Todos
nós temos exemplos de nossas “mini-histórias”, quando realizamos
atividades tais como a primeira vez que dirigimos um carro; a primei-
ra namorada, etc. Nesses casos os fatos são organizados ao redor de
memórias individuais representando conhecimentos de aspectos de
um objetivo alcançado (tanto positivo como negativo) que aparecem
para organizar e compor as informações significativas para o eu. Uma
composição acerca de como, facilmente ou não, uma habilidade foi ad-
quirida; acerca do sucesso ou fracasso nas relações interpessoais com
Maria ou com José.
Esse exemplo pode ser estendido para qualquer tipo de esquema for-
mado e que serve de guia para percepções futuras e, logicamente, para
futuras condutas. Conforme essa idéia, nós percebemos e descrevemos
os fatos ou eventos, como a observação de uma discussão, um aci-
dente, um crime, conforme nossos auto-esquemas; são eles que irão
determinar nossas tendências perceptivas; “cada macaco observa seu
galho conhecido e acolhedor”.
Parece evidente que esqueçamos de coisas que não tenham maior im-
portância e que memórias pouco ou nada utilizadas deterioram com o
tempo. A capacidade de esquecer informação sem importância pode
ser tão decisiva para a atividade mental normal quanto reter informa-
ção que seja significativa. Há descrição histórica de um paciente que
não se esquecia de nada que lhe era contado ou percebido. A vida des-
se paciente era um inferno.
Memória e envelhecimento
A partir do início da idade adulta o peso médio do encéfalo humano
normal, determinado em autopsias, decresce progressivamente. Em
indivíduos idosos, esse efeito pode ser observado através de técnicas
As representações dispositivas
Alguns autores denominam de “representações dispositivas” o nosso
depósito integral de saber total, no qual se incluem tanto o conheci-
mento existente no nascimento, isto é, o inato e genético, como tam-
bém o adquirido por meio das experiências particulares do indivíduo,
ou seja, sua história de vida após nascer.
Cada uma dessas tarefas é complexa; isso nos leva a concluir (inferir)
que os córtices associativos precisam receber e integrar as informações
provenientes de uma variedade de fontes ao mesmo tempo (o carro
em disparada; cálculo do tempo necessário para ele me atingir; veloci-
dade que devo utilizar para tentar escapar; verificação da aproximação
do veículo e se minha velocidade está sendo conforme imaginei). Além
disso, os córtices associativos, administrando tantos fatores ao mesmo
tempo, irão influenciar uma ampla gama de alvos corticais e subcorti-
cais.
Essas pessoas dirão e farão as primeiras coisas que lhes vêm à cabeça
sem considerar a exatidão ou as consequências futuras do que dizem
ou farão. Seu comportamento se torna assim não adaptado às regras
sociais, tornando-se incapazes de realizar uma atividade um pouco
complexa durante certo tempo, entre eles, os atos não permitidos,
como premeditado assassinato; pois suas lesões os impedem de reali-
zar planos de longa duração, seja corretos ou incorretos..
Assim, Maria, ela mesma, sem precisar das tomografias sofisticadas po-
derá perceber que ela quase nada fez nas provas do vestibular apesar
3) Hipotálamo
O hipotálamo, uma estrutura que tem o tamanho de duas ervilhas, fun-
ciona como um termostato do corpo; ele é um dos elementos centrais
do sistema límbico. O hipotálamo controla as funções vitais do organis-
mo, incluindo a respiração, batimento cardíaco, digestão, equilíbrio da
água, temperatura corporal, secreção gástrica, sono; ele está também
relacionado ao controle do sistema endócrino, sistema nervoso autô-
nomo e outras funções do corpo como os instintos.
4 – Quarta divisão:
Visite nosso site! www.galenoalvarenga.com.br 294
Uma dessas divisões seria o cérebro separado em duas partes: o he-
misfério direito e o esquerdo. Mas, como se nota, essa classificação
pouco nos esclarecerá, a não ser dizendo que o hemisfério direito é o
dominante (isso quanto à linguagem falada) e que o hemisfério esquer-
do prefere narrar os acontecimentos e, nesses casos, frequentemente
constrói mitos acerca do que acontece. O hemisfério direito está preso
mais à realidade vivida e, por isso mesmo, é mais pessimista que o
esquerdo, que é pródigo em fantasias e fantasmas. Mas isso é muito
pouco.
5 – Quinta divisão:
Um outro modo, mais anatômico e minucioso, divide o cérebro nas
diversas regiões: medula espinhal, tronco encefálico, cerebelo, hipo-
tálamo, tálamo, subtalámo, epitálamo, núcleos da base, centro branco
medular do cérebro, córtex cerebral, sistema límbico, vias ascendentes,
sistema extrapiramidal, sistema nervoso visceral.
Nesse caso eu digo, antes de vocês: “Cruz credo! Deus nos livre disso!
Não é isso que me interessa”! Não há nenhuma necessidade de apren-
der e, muito menos, decorar esses nomes, pois esse não é o objetivo
do livro.
2. Medula espinhal
6. Sistema límbico
7. Tálamo
9. Desenvolvimento do CNS