Você está na página 1de 2

A Revolução Francesa e a educação

Um dos temas mais fascinantes colocados pela revolução de 1789 foi a questão da educação
popular. De certa forma até hoje ainda se tenta, particularmente nos países do Terceiro
Mundo, levar adiante o programa dos revolucionários franceses, especialmente o do filósofo
Condorcet.

A Declaração e a educação

É bom lembrar que a idéia de que todos nós, independentemente de sexo, religião, raça,
nascimento ou situação social, devemos ter acesso à mesma educação foi um dos mais
significativos e duradouros legados da Revolução Francesa de 1789. Chegar a ela, a essa
conquista, realmente não tem sido fácil, mas o primeiro passo foi inquestionavelmente dado
pela proclamação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de
1789, e reafirmado por uma outra declaração de direitos, a de 1793, em seu artigo 22.

O fim dos jesuítas

A discussão dos destinos e raio da abrangência da instrução pública deu-se de forma


extremamente polêmica, bem antes dos acontecimentos de 1789. Remontou há trinta anos
antes, aos tempos em que se dera a batalha entre os que defendiam a expansão da
autoridade real e os inacianos, fazendo com que os primeiros conseguissem com que a
Companhia de Jesus fosse finalmente proibida de possuir escolas na França. Em 1762, um
decreto real interditou seus colégios, fazendo com que mais de 600 prédios administrados
pelos padres jesuítas passassem ao controle dos notáveis locais.

Rousseau e La Chalotais

Como que prenunciando o vigoroso debate que se seguiria, naquele mesmo


ano Jean-Jacques Rousseau fizera publicar seu ensaio pedagógico - Emílio -
Rousseau
em que propunha, além do abrandamento dos castigos físicos nas escolas, um
educador
retorno às chamadas virtudes naturais. Mas o que causou mais sensação na
época foi um livro de La Chalotais, um pedagogo que há anos vinha lutando
para tornar o ensino uma atividade exclusivamente secular. La Chalotais, no
entanto, não desejava estendê-lo ao povo inteiro. Ensino estatal sim, mas apenas para as
classes abonadas, chegando até a condenar os Frères Ignorantins, integrantes do baixo clero
francês, que ensinavam os rudimentos do alfabeto aos trabalhadores e aos pobres em geral.

Rousseau
condenou o
castigo físico

Reações contra o ensino público

Segundo ele, ensinar as letras aos operários e camponeses seria desviá-los das tarefas que a
natureza e a ordem social haviam determinado para eles!... Foi o que bastou para que
ninguém menos do que Voltaire, um elitista assumido, se congratulasse com o pedagogo,
pois, para o grande escritor, as luzes não eram para "alfaiates e bodegueiros", mas sim um
apanágio da aristocracia pensante.

Mais radical ainda foi o cura de Lisieux, o padre Réguis que em seus sermões arengava
contra a inutilidade de esclarecer os trabalhadores; "saber ler e escrever", dizia ele do seu
púlpito, "não os ensinará a melhor lavrar a terra, não irá lhes melhorar os costumes, nem
lhes tirar a malícia [...] nem os torna mais dóceis ao seu pastor, nem os torna mais virtuosos
e mais cristãos". Louvem-se, no entanto, alguns professores jansenistas (dissidência
católica), como Jean-Baptiste Crévier, que contra-argumentava terem sido os "Evangelhos
escritos para serem lidos" e que a fé seria reforçada por aqueles que tinham o domínio dos
princípios cristãos expressos nos livros.

Você também pode gostar