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MODERNO.
Texto de José Ramos Barbosa da Silva.
Segundo Martinho Lutero, todas as pessoas deveriam ler a bíblia, sem intermediários.
Isso gerou uma necessidade de popularização da escola, cobrando o acesso de todos a
ela, independentemente da condição social, idade ou sexo.
As ideias semeadas pelo humanismo renascentista marcaram as escolas que começaram
a ser desenvolvidas do Renascimento para adiante. Dois grandes nomes foram
marcantes para o desenho de ensino que começou a ser desenvolvido:
Francis Bacon (1561-1626) – defendia a ideia de que o verdadeiro conhecimento nasce
das experiências vivenciadas pelo sujeito, não de milagres. Que todo estudo deve
começar pela natureza e pelas coisas que nos cercam, obtido de forma gradativa. Todo
objeto de estudo deve ser experimentado e comprovado, para só então se tornar
conhecimento.
René Descartes (1596-1650) – pregava que só são verdadeiros fatos evidentes. E para
se chegar a evidencia é necessário subdividir cada uma das dificuldades surgidas em
tantas partes quantas forem necessárias; ir primeiro das dificuldades mais simples às
mais complexas; fazer enumerações de cada dificuldade, completas e gradativas,
cuidando de não esquecer nenhuma delas. Descartes foi autor da famosa frase: “Je
pense, donc je suis”. Traduzindo: “Eu penso, então existo”.
A influência desses pensadores foi decisiva para a organização do ensino escolar.
Abandonava-se o repasse de informações tidas como certas, mas sem comprovações,
deixando isso para as religiões. E a escola se convertia em um lugar de repasse de
conhecimentos testados e sistematizados. De certa forma, eles forneceram os
fundamentos da Didática para muitos pedagogos que se dedicaram a instruir a forma da
condução do ensino escolar, desde o século XVI até os dias atuais.
Outro grande pensador, decisivo para a Didática, foi Desidério Erasmo (1466-1536),
conhecido como Erasmo de Roterdã. Tornou-se o mais respeitado humanista da Europa.
Em 1511, publica sua obra mais famosa: Elogia à loucura, onde ridiculariza os abusos
da Igreja e a conduta pouco aconselhável de certos papas. Referindo-se à educação, no
livro Sobre o Método da Instrução Correta, advogava que o conhecimento é adquirido
em pequenas doses, de modo gradual, e que toda sabedoria é conhecimento aplicado. E
que o professor precisa ser treinado para o ofício. Assegurava que a coação exercida
pelo professor sobre o aluno inibe o entusiasmo desse último para com o estudo.
Mas o mais influente educador para a Didática moderna foi, no século XVII, sem
sombras de dúvidas, Jam Amos Comenius (1592-1670), pensador que desenvolveu um
sistema de ensino com o objetivo de preparar o indivíduo para a vida e para as virtudes
religiosas. Num resumo feito por Cotrim e Parisi (1985, p. 206-207) da obraDidática
Magna, escrita por Comenius, são destacados os seguintes princípios básicos ao ensino:
(1) A aprendizagem deve ser feita no tempo adequado; (2) Os exemplos devem precede
às regras; (3) A mente do estudante deve ser preparada para o aprendizado; (4) A
aprendizagem deve avançar gradativamente, ensinado-se uma coisa de cada vez; (5)
Primeiro deve-se compreender, para depois memorizar; (6) O ensino deve partir do
universal para o parcial; (7) Devem-se evitar saltos na aprendizagem; (8) As boas
condições da escola e da educação – as escolas devem ser construídas em locais
tranqüilos, afastadas do barulho; (9) O objetivo da aprendizagem é apontar caminhos e
não labirintos. Essas recomendações tornaram-se clássicas, sintetizando, em boa parte, o
pensamento que passou a nortear a escola moderna.
Ainda como pensamento influente para a sistematização do ensino moderno, é preciso
destacar as contribuições de John Locke (1632-1704), médico e filósofo, que assegurou
que é das nossas experiências que nascem nossas ideias. Para ele a educação tinha de
começar pela observação das coisas da natureza, aliada à experiência pessoal, subjetiva.
As ideias, mesmo interessantes, não são suficientes para a formulação de mudanças
significativas no plano da educação. É preciso outros estímulos, capazes de incomodar,
a ponto de mover as ações na direção desejada. Por isso, tendo em vista a educação,
vale destacar o conflito que aconteceu entre a nobreza e os burgueses, pois a nobreza,
até o século XIV, dona de terras e de riquezas, não encarava bem a burguesia que, com
dinheiro, não gozava de prestígios na política das sociedades feudais. A burguesia
precisava de uma infra-estrutura que facilitasse a ampliação dos negócios mercantis.
Isso obrigou os burgueses a investirem no fortalecimento de reis que interferisse
administrativamente em territórios que falassem a mesma língua e que comungassem de
uma mesma cultura. Processo que levou à formação dos Estados Modernos. Depois da
consolidação desses estados, os reis passaram a gozar de uma crescente autoridade,
iniciando-se a fase do absolutismo monárquico. A França, até meados do século XVIII,
era governada por uma monarquia absolutista, que se mantinha no poder, apesar da
insatisfação dos súditos. Nessa época, segundo uma classificação de Cotrim e Parisi
(1985, p. 219), havia quatro classes sociais: os nobres, o clero, os grandes comerciantes
e o povo. Os nobres não pagavam impostos e ocupavam posições de destaque no
Estado; o clero era formado por elementos vindos da nobreza e do povo, mas os pobres
que faziam parte do clero eram subservientes e calados; o povo, formado por
camponeses e operários da cidade, derramava lamentações contra o valor dos impostos
e a falta de justiça. Esta situação de insatisfação gestou as bases da Revolução Francesa,
de 1789. Uma revolução burguesa que esteve ligada às ideias dos iluministas.
Com a realização da Revolução Francesa estavam dadas as bases das aspirações da
educação moderna que, na visão de Anísio Teixeira (1977), se inicia com ela um novo
estágio da humanidade. Segundo ele:
Antes desse período, toda educação escolar consistia na especialização de alguém, cuja
formação já fora feita pela sociedade e em rigor pela “classe” a que pertencia, nas artes
escolares, que não eram mais que tipos de ofícios intelectuais e sociais. (TEIXEIRA,
1977, p. 11).
Após a Revolução Francesa, com a subida de Napoleão Bonaparte (1769-1821) ao
trono francês, inaugurou-se uma nova fase na vida escolar de quase toda Europa. Vários
países concordaram em conceder o direito às crianças de receberem uma educação
básica. Seguindo esse princípio, inúmeras escolas foram criadas para receber grandes
camadas da população. Rompia-se a elitização do ensino rumo a sua universalização. A
educação escolar passou a ser um fenômeno destinado à massa.
Em continuidade ao esforço de preparar uma doutrina de ensino capaz de garantir a
aprendizagem escolar, como extensão dos propósitos de Comenius, que desejava
ensinar tudo a todos, Johann Friedrich Herbart (1776-1841) elaborou uma doutrina
científica sobre a educação, organizada como uma ciência abrangente e sistemática.
Sem negar a Filosofia, adotou a Psicologia como eixo central da pedagogia de ensino.
Para Herbart, a educação não deveria apenas oferecer ao homem um acumulo de
informações, era preciso se observar se elas ajudariam a orientar o comportamento
humano, visando formar seu caráter. Segundo ele, toda educação deveria trilhar uma
dosagem equilibrada de informações científicas e, ao mesmo tempo, sem abandonar o
humanismo. Assim o ensino da matemática, da física, da química deveria ser
contrabalanceado com o ensino da literatura, da filosofia e das artes. Herbart acreditava
que é somente no convívio social que o homem desenvolve seu espírito comunitário,
pois a vida em sociedade possibilita trocas de experiências valiosas para a própria
evolução individual. Ele formulou cinco passos para o ensino expositivo, hoje tido
como da abordagem tradicional: (1) preparação; (2) apresentação; (3) associação;
(4) generalização; (5) aplicação.
Esse ensino dito tradicional se estruturou através de um método pedagógico, que é o
método expositivo, que todos conhecem, todos passaram por ele, e muitos estão
passando ainda, cuja matriz teórica pode ser identificada nos cinco passos formais de
Herbart. Esses passos, que são o passo da preparação, o passo da apresentação, da
comparação e assimilação, da generalização e por último, da aplicação, correspondem
ao esquema do método científico indutivo, tal como fora formulado por Bacon, método
que podemos esquematizar em três momentos fundamentais: a observação, a
generalização e a confirmação. Trata-se, portanto, daquele mesmo método formulado no
interior do movimento filosófico do empirismo, que foi a base do desenvolvimento da
ciência moderna. (SAVIANI, 1987, p. 47-48).
Explicando o que quer dizer os cinco passos recomendados por Herbart, Paulo
Ghiraldelli esclarece:
Segundo os passos de Herbart, uma aula deveria começar com o professor recordando o
assunto da aula anterior (preparação). O assunto da aula anterior deveria encaminhar
para a necessidade de novos estudos, portanto, introduziria a nova lição (apresentação).
Em analogia às resoluções da velha lição, o professor deveria resolver os novos
problemas perante os alunos (associação). Em seguida, o professor deveria demonstrar
que as formulações e regras aprendidas com a nova lição poderiam servir para outros
casos (generalização). Por fim, o professor deveria passaria exercícios de aplicação e
verificação de aprendizagem (aplicação). (GHIRALDELLI, 1987, p. 19).
Seguindo esses cinco passos, é bom recordar que todo professor para uma boa
exposição de suas ideias deve fazer uso de recursos didáticos apropriados à sua
explanação. Nesse sentido ele pode se utilizar de quaisquer recursos didáticos: cartazes,
fotografias, materiais tridimensionais, maquetes, cinema, televisão, computador,
modelos, etc. Para uma aula que resulte em uma boa memorização e aprendizagem, é
preciso combinar o oral ao visual, o escutar, o dizer e o fazer, estimulando todos os
sentidos que influenciam na aprendizagem do indivíduo. Na aula expositiva, como
marca maior do ensino tradicional, deve-se seguir um velho conselho do mestre
Comenius:
[...] os ouvidos devem estar sempre unidos aos olhos, e a língua, às mãos. Ou seja: o que
deve ser aprendido não só deve ser contado para que impressione os ouvidos, mas
também pintado, para que, através dos olhos, se imprima na imaginação (COMENIUS,
2002, p. 179).
Ainda como parte desse estudo, seguido um esclarecimento fornecido por Saviani
(1991), a escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber
sistematizado. A escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento
espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber fragmentado; à cultura erudita e não à
cultura popular. A escola tem a ver com o problema da ciência, e ciência é exatamente o
saber metódico. A escola existe para propiciar a aquisição dos instrumentos que
possibilitam o acesso ao saber elaborado, bem como o próprio acesso aos rudimentos
desse saber. As atividades da escola básica devem se organizar a partir dessa questão.
E mais, segundo Ghiraldelli Jr. (1987), pode-se afirmar que toda pedagogia moderna é
uma pedagogia burguesa, seja ela qual for. Todas são frutos do mundo moderno, do
mundo burguês.
Bibliografia:
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: uma introdução aos parâmetros
nacionais. 2 ed. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental; Rio de Janeiro: DP&A,
2000.
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999.
COMENIUS. Didática Magna. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
COTRIM, Gilberto; PARISI, Mário. Fundamentos da Educação. São Paulo: Saraiva,
1985.
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para UNESCO da
Comissão Internacional sobre educação para o século XXI. São Paulo: Cortez; Brasília:
MEC/UNESCO, 2001.
GHIRALDELLI JR., Paulo. O que é Pedagogia. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1992.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Ed.
Alternativa, 2001.
MIZUKAMI, Maria da graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo:
EPU, 1986.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 18 ed. São Paulo: Cortez/Autores
Associados, 1987.
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. São
Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.
TEIXEIRA, Anísio. Educação não é privilégio. São Paulo: Ed. Nacional, 1977.
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
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