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VIEIRA, Alberto (2004),

A Madeira e a História da Alimentação


no Ocidente

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO:

VIEIRA, Alberto (2004), A Madeira e a História da Alimentação no Ocidente, Funchal, CEHA-


Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeira-
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A MADEIRA
E A HISTÓRIA DA ALIMENTAÇÃO NO OCIDENTE

ALBERTO VIEIRA

A Madeira exerceu um papel fundamental na revolução da dieta alimentar ocorrida a


partir do século XV no Ocidente com a expansão europeia. A ilha, como a primeira área
a merecer uma ocupação efectiva e a provar o sucesso do empreendimento, adquiriu
uma posição particular na História da Alimentação. Foi a partir dela que o açúcar
assumiu um papel fundamental à mesa, como também a partir da ilha o europeu teve
oportunidade de saborear os frutos exóticos e as novas culturas, que rapidamente
entraram na dieta alimentar, como foi o caso do milho e batata. Tudo isto é corolário de
um conjunto de situações que define o entorno subjacente ao protagonismo madeirense
na História do mundo atlântico.

1. O ENTORNO

Os descobrimentos europeus não podem ser vistos apenas na perspectiva do encontro de


novas terras, novas gentes e culturas, pois a isto deverá associar-se o movimento de
migração humana, que arrastou consigo um universo envolvente de fauna, flora,
tecnologia, usos e tradições que tiveram um impacto evidente em todo o processo.
Estamos perante aquilo a que Pierre Chaunu define como desencravamento planetário,
vinculado às transformações operadas pela a expansão europeia do século XV, que
retirou ao europeu a ideia restrita de mundo e fez com que se avançasse paulatinamente
para o que hoje definimos como aldeia global. Os Descobrimentos foram também
responsáveis pela transformação e revolução ecológica, com impactos positivos ou
negativos. Uma das transformações fundamentais ocorreu ao nível alimentar com a
descoberta de novos produtos e condimentos que enriqueceram a dieta alimentar.

Foi o arquipélago madeirense o início da presença portuguesa no Atlântico, e o primeiro


e mais proveitoso resultado desta aventura. Vários são os factores que se conjugaram
para este protagonismo. A inexistência de população, em consonância com a extrema
necessidade de valorização para o avanço das navegações ao longo da costa africana,
favoreceu a rápida ocupação e crescimento económico da Madeira. Por isso, a
afirmação nos primeiros anos dos descobrimentos, foi evidente: porto de escala ou
apoio para as precárias embarcações quatrocentistas, que sulcavam o oceano;
importante área económica, fornecedora de cereais, vinho e açúcar; modelo económico,
social e político para as demais intervenções portuguesas no Atlântico.
A Madeira foi no século XV uma peça primordial no processo de expansão. A ilha,
considerada a primeira pedra da gesta descobridora dos portugueses no Atlântico, é o
marco referencial mais importante desta acção no século XV. De inicial área de
ocupação, passou a um entreposto imprescindível às viagens ao longo da costa africana
e, depois, foi modelo para todo o processo de ocupação atlântica, Por tudo isto a
Madeira firmou nome com letras douradas na História da expansão europeia no
Atlântico. O Funchal foi, por muito tempo, o principal ancoradouro do Atlântico que
abriu as portas do mar oceano e traçou caminho para as terras do Sul. Aí a abundância
do cereal e vinho propiciavam ao navegante o abastecimento seguro para a demorada
viagem. Por isso, o madeirense não foi apenas o cabouqueiro que transformou o
rochedo e fez dele uma magnífica horta, também se afirmou como o marinheiro,
descobridor e comerciante. Deste modo algumas das principais famílias da Madeira,
enriquecidas com a cultura do açúcar, gastaram quase toda a fortuna na gesta
descobridora, ao serviço do infante D. Henrique, ao longo da costa africana ou, de
iniciativa particular, na direcção do Ocidente, correspondendo ao repto lançado pelos
textos e lendas medievais. A juntar a tudo isso temos o rápido progresso social,
resultado do porvir económico, que condicionou o aparecimento de uma aristocracia
terra tenente. Esta, imbuída do ideal cavalheiresco e do espírito de aventura,
embrenhou-se na defesa das praças marroquinas, na disputa pela posse das Canárias e
viagens de exploração e comércio ao longo da costa africana e, até mesmo, para
Ocidente.

A valorização da Madeira na expansão europeia tem sido diversa. A historiografia


nacional considera-a um simples episódio de todo o processo e, em face da posição
geográfica, hesita no enquadramento, sendo levada, por vezes ao esquecimento. A
europeia, ao invés, não duvida em realçar a singularidade do processo. Vários são os
factores que o propiciaram, no momento de abertura do mundo atlântico, e que fizeram
com que fosse, no século XV, uma peça chave na afirmação da hegemonia portuguesa
no Novo Mundo. O Funchal foi uma encruzilhada de opções e meios que iam ao
encontro da Europa em expansão. Além disso é considerada a primeira pedra do
projecto, que lançou Portugal para os anais da História do oceano que abraça o litoral
abrupto. O fundamento de tudo isto está patente no protagonismo da ilha e gentes. Á
função de porta-estandarte do Atlântico, a Madeira associou outras, como “farol”
Atlântico, o guia orientador e apoio às delongas incursões oceânicas, sendo um espaço
privilegiado de comunicações, contando a seu favor com as vias traçadas no oceano que
a circunda e as condições económicas internas, propiciadas pelas culturas da cana
sacarina e vinha. Uma e outras condições contribuíram para que o isolamento definido
pelo oceano fosse quebrado e se mantivesse um permanente contacto com o velho
continente europeu e o Novo Mundo.

A expansão atlântica revelou ao europeu um novo mundo, onde a flora e a fauna


dominaram a admiração dos protagonistas. A descoberta da nova realidade fez-se não só
pelo valor alimentar e económico, mas também científico, Sendo de destacar os estudos
de Garcia da Horta, Cristóvão da Costa, Duarte Barbosa. O processo de povoamento
implicava obrigatoriamente um processo de migração de plantas, animais e técnicas de
recolecção, cultivo e transformação destes. De acordo com João de Barros os
portugueses levavam “todas as sementes e plantas e outras coisas com quem esperava
de povoar e assentar na terra” 1 . O retorno foi igualmente rico e paulatinamente
revolucionou o quotidiano europeu e algumas das novas plantas entraram rapidamente
1
Ásia, década I, p.552
nos hábitos das populações que cedo se perdeu o rastro da origem passando a ser
considerada como indígena. No processo foi importante o papel de portugueses e
espanhóis na troca de plantas entre o Novo e o Velho Mundo. Dos quatro cantos do
mundo o contributo para a valorização do património natural foi evidente. No Oriente
foram as especiarias que dinamizadora as rotas comerciais e cobiça dos europeus. A
América revelou-se pela variedade e exoticidade das plantas e frutos, com valor
alimentar, que contribuíram em África para colmatar a deficiência. O processo de
migração de plantas e culturas não foi pacífico, pois em muitos casos provocou
alterações catastróficas no quadro natural. Isto aconteceu em regiões e paisagens
sujeitas à violência de uma monocultura solicitada pelos mercados internacionais. Estão
neste caso a cana sacarina, o cacau, o café e o algodão.

As ilhas assumiram em todo este processo um papel fundamental ao assumiram o papel


de viveiros de aclimatação das plantas e culturas em movimento. A Madeira foi o
viveiro de aclimatação nos dois sentidos. Da Europa propiciou a transmigração da fauna
e flora identificada com a cultura ocidental. No retorno foram as plantas do Novo
Mundo que tiveram de novo passagem obrigatória pela ilha. A riqueza botânica do
Funchal resulta disso. O processo de imposição da chamada biota europeia, no dizer de
Alfred Crosby 2 , foi responsável por alguns dos primeiros e mais importantes problemas
ecológicos.

A Madeira surge, nos alvores do século XV, como a primeira experiência de ocupação
em que se ensaiaram produtos, técnicas e estruturas institucionais. Tudo isto foi, depois,
utilizado, em larga escala, noutras ilhas e no litoral africano e americano. O arquipélago
foi o centro de irradiação dos sustentáculos da nova sociedade e economia do mundo
atlântico: os Açores, depois os demais arquipélagos e regiões costeiras onde os
portugueses aportaram. A par disso a ilha foi, nos alvores do século XV, a primeira
experiência de ocupação em que se ensaiaram produtos, técnicas e estruturas
institucionais. Tudo isto foi depois utilizado em larga escala noutras ilhas e no litoral
africano e americano. O arquipélago foi o centro de divergência dos sustentáculos da
nova sociedade e economia do mundo atlântico: primeiro os Açores, depois os demais
arquipélagos e regiões costeiras onde os portugueses aportaram. Madeira não se
posiciona apenas nos anais da História universal como a primeira área de ocupação
atlântica, pioneira na cultura e divulgação do açúcar ao Novo Mundo.

A expansão europeia não se resume apenas ao encontro e desencontro de Culturas, mas


também marca o início de um processo de transformação ou degradação do meio
ambiente. O europeu carrega consigo a fauna e flora do seu convívio e com valor
económico, que irão provocar profundas mudanças nos novos ecossistemas. Com isto
acontece que o espaço vivido e natureza se universalizam. Nos séculos XV e XVI foram
as viagens de descobrimento, enquanto no século XVIII sucederam as de exploração e
descoberta da natureza, comandadas por ingleses e franceses.

No traçado das rotas oceânicas situava-se o Mediterrâneo Atlântico com um papel


primordial na manutenção e apoio à navegação atlântica. A Madeira e as Canárias foram
nos séculos XV e XVI como entrepostos do comércio no litoral africano, americano e
asiático. Os portos principais da Madeira, Gran Canaria, La Gomera, Hierro, Tenerife e
Lanzarote animaram-se de forma diversa com o apoio à navegação e comércio nas rotas
da ida, enquanto nos Açores, com as ilhas de Flores, Corvo, Terceira, e S. Miguel,

T2 Imperialismo Ecológico. A Expansão biológica da Europa: 900-1900, S. Paulo, 1993.


foram a escala necessária e fundamental da rota de retorno. Esta posição demarcada do
Mediterrâneo Atlântico no comércio e navegação atlântica fez com que as coroas
peninsulares investissem aí todas as tarefas de apoio, defesa e controle do trato
comercial. As ilhas foram os bastiões avançados, suportes e os símbolos da hegemonia
peninsular no Atlântico. A disputa pela riqueza em movimento no oceano fazia-se na
área definida por elas e atraiu piratas e corsários ingleses, franceses e holandeses, ávidos
das riquezas em circulação. Uma das maiores preocupações das coroas peninsulares foi
a defesa das embarcações das investidas dos corsários europeus.

A área definida pela Península Ibérica, Canárias e Açores foi o principal foco de
intervenção do corso europeu sobre os navios que transportavam açúcar ou pastel ao
velho continente. Por outro lado o protagonismo das ilhas não se fica só pelos séculos
XV e XVI, pois as navegações e explorações oceânicas nos séculos XVIII e XIX
levaram-nas a assumir uma nova função para os europeus. De primeiras terras
descobertas passaram a campos de experimentação e escalas retemperadoras da
navegação na rota de ida e regresso. Finalmente, no século XVIII desvendou-se uma
nova vocação: as ilhas como campo de ensaio das técnicas de experimentação e
observação directa da natureza. A afirmação da Ciência na Europa fez delas escala para
as constantes expedições científicas dos europeus. O enciclopedismo e as classificações
de Linneo (1735) tiveram nas ilhas um bom campo de experimentação. Tenha-se em
conta as campanhas da Linnean Society e o facto de o próprio presidente da sociedade,
Charles Lyall, ter-se deslocado em 1838 de propósito às Canárias. De entre as culturas
que a Europa deu ao mundo atlântico aquelas que assumiram maior valor económico e
condicionaram a História dos espaços onde foram lançadas merecem destaque a vinha, a
cana sacarina e o pastel.

Uma das funções privilegiadas das ilhas nos últimos quinhentos anos foi o serviço de
escala oceânica, servindo de apoio a todos os que sulcavam o oceano em distintos
sentidos. Primeiro escalas de descobrimento que abriram os caminhos para as rotas
comerciais e depois escalas do percurso de afirmação da Ciência através das expedições
científicas que dominaram os areópagos europeus a partir do século XVIII. Umas e
outras entrecruzam-se por diversas vezes e revelam-nos quão importante foi para a
Europa o mundo das ilhas.

O Atlântico surge, a partir do século XV, como o principal espaço de circulação dos
veleiros, pelo que se definiu um intricado liame de rotas de navegação e comércio que
ligavam o velho continente às costas africana e americana e as ilhas. Esta multiplicidade
de rotas que resultou da complementaridade económica das áreas insulares e
continentais surge como consequência das formas de aproveitamento económico aí
adoptadas. Tudo isto completa-se com as condições geofísicas do oceano, definidas
pelas correntes e ventos que delinearam o traçado das rotas e os rumos das viagens.

A mais importante e duradoura de todas as rotas foi sem dúvida aquela que ligava as
Índias (ocidentais e orientais) ao velho continente. Foi ela que galvanizou o empenho
dos monarcas, populações ribeirinhas e acima de tudo os piratas e corsários, sendo
expressa por múltiplas escalas apoiadas nas ilhas que polvilhavam as costas ocidentais e
orientais do mar: primeiro as Canárias e raramente a Madeira, depois Cabo Verde, Santa
Helena e os Açores. Nos três arquipélagos, definidos como Mediterrâneo Atlântico, a
intervenção nas grandes rotas faz-se a partir de algumas ilhas, sendo de referir a
Madeira, Gran Canaria, La Palma, La Gomera, Tenerife, Lanzarote e Hierro, Santiago,
Flores e Corvo, Terceira e S. Miguel. Para cada arquipélago afirmou-se uma ilha,
servida por um bom porto de mar como o principal eixo de actividade. No mundo
insular português, por exemplo, evidenciaram-se, de forma diversa, as ilhas da Madeira,
Santiago e Terceira como os principais eixos.

ESCALAS DA CIÊNCIA. Desde o século dezoito que a literatura científica e de


viagens definiu de modo claro este conjunto de ilhas como uma unidade merecedora de
atenção. São as Western Islands que encabeçam os títulos das publicações 3 . Aqui
entendia-se quase sempre os Açores, mas muitas vezes associava-se as Canárias, a
Madeira e, raramente Cabo Verde. Esta unidade ficou estabelecida na designação de
Macaronésia, dada às ilhas para fazer jus à mais antiga designação da Antiguidade
Clássica. Note-se que o mais antigo testemunho que se conhece da vida vegetal e animal
aparece nas volumosas Saudades da Terra de Gaspar Frutuoso (1522-1591), escritas no
último quartel do século XVI. Aliás, ele pode ser considerado precursor dos naturalistas
do século XVIII. Aí é possível fazer um percurso por todas as ilhas e constatar a riqueza
natural e a que resultou da acção do colono europeu. Mesmo assim o rastreio não é
exaustivo tornando-se difícil ao cientista saber com exactidão quais os elementos
vegetais e animais indígenas e os que resultaram da ocupação europeia. A descoberta é
tardia, como veremos. Apenas o homem do século XVIII sentido necessidade de o fazer
e é a partir de então que temos notícia do quadro natural das ilhas. Mas. Entretanto
haviam passado mais de três séculos de presença europeia em que as espécies do velho
continente se haviam mesclado com as do novo.

As ilhas entraram rapidamente no universo da ciência europeia dos séculos XVIII e


XIX. Ambas as centúrias foram momentos de assinaláveis descobertas do mundo
através de um estudo sistemático da fauna e flora 4 . Daqui resultou dois tipos de
literatura com públicos e incidências temáticas distintas. Os textos turísticos, guias e
memórias de viagem, que apelavam o leitor para a viagem de sonho à redescoberta
deste recanto do paraíso que se demarca dos demais pela beleza incomparável da
paisagem, variedade de flores e plantas. Já os tratados científicos apostam na divulgação
através daquilo que o identifica. As técnicas de classificação das espécies da fauna e
flora têm aqui um espaço ideal de trabalho. Algumas colecções foram feitas para deleite
dos apreciadores, que figuram em lista que antecede a publicação 5 .

O século XX anuncia-se como o momento ecológico. As preocupações com a


preservação do pouco manto florestal existente e da recuperação dos espaços ermos
eram acompanhadas da crítica impiedosa aos responsáveis. Não será inoportuno
recordar que as preocupações ambientalistas que vão no sentido de estabelecer um
equilíbrio do quadro natural e travar o impulso devastador do homem não são apenas
apanágio do homem do século XX. Na Madeira como nas demais ilhas sucedem-se
regimentos e posturas que regulamentam esta relação. Nas Canárias e nos Açores a
situação das diversas ilhas não foi uniforme. Os problemas de desflorestação fizeram-se
sentir com maior acuidade nas do primeiro arquipélago, Assim em Gran Canaria já em
princípios do século XVI a falta de madeiras e lenhas era evidente, assim o
testemunham as posturas e intervenção permanente das autoridades locais e a coroa 6 . A

3
. Victor Morales Lezcano, Los Ingleses en Canarias. Libro de Viajes e Historias de Vida, Las Palmas de Gran Canaria, 1986, p.124
4
. Mary L. Pratt, Imperial Eye.Travel Writing and Transculturation, N.Y., 1993; STAFFORD, B. M., Voyage into Substance - Science, Nature and the
Illustrated Travel Account 1770-1840, Cambridge, Mass., 1984, pp. 565-634
5
. Estampas, Aguarelas e desenhos da Madeira Romântica, Funchal, 1988.
6
. Francisco Morales Padron, Ordenanzas del Concejo de Gran Canaria(1531), Las Palmas, 1974; José Peraza de Ayala, Las Ordenanzas de Tenerife, Madrid,
solução estava no recurso às demais ilhas, nomeadamente Tenerife e La Palma. Mas
mesmo nestas começaram a fazer-se a sentir as mesmas dificuldades. Nos Açores o
facto de a cultura da cana não alcançar o mesmo sucesso da Madeira e Canárias salvou
o espaço florestal deste efeito predador.

O homem do século XVIII perdeu o medo ao meio circundante e passou a olhá-lo com
maior curiosidade e, como dono da criação, estava-lhe atribuída a missão de perscrutar
os segredos ocultos. É este impulso que justifica todo o afã científico que explode na
centúria. A ciência é então baseada na observação directa e experimentação. A
insaciável procura e descoberta da natureza circundante cativou toda a Europa, mas
foram os ingleses quem entre nós marcaram presença, sendo menor a de franceses e
alemães 7 . Aqui são protagonistas as Canárias e a Madeira. Tudo isto é resultado da
função de escala à navegação e comércio no Atlântico. Foi também na Madeira que os
ingleses estabeleceram a base para a guerra de corso no Atlântico. Se as embarcações de
comércio, as expedições militares tinham escala obrigatória, mais razões assistiam às
científicas para a paragem obrigatória. As ilhas, pelo endemismo que as caracteriza,
história geo-botânica, permitiram o primeiro ensaio das técnicas de pesquisa a seguir
noutras longínquas paragens. Também elas foram um meio revelador da incessante
busca do conhecimento da Geologia e Botânica.

Instituições seculares, como o British Museum, Linean Society, e Kew Gardens,


enviaram especialistas para proceder à recolha das espécies. Os estudos no domínio da
Geologia, botânica e flora são resultado da presença fortuita ou intencional dos
cientistas europeus. Esta moda do século XVIII levou a que as instituições científicas
europeias ficassem depositárias das mais importantes colecções de fauna e flora das
ilhas: o Museu Britânico, Linnean Society, Kew Gardens, a Universidade de Kiel,
Universidade de Cambridge, Museu de História Natural de Paris. E por cá passaram
destacados especialistas da época, sendo de realçar John Byron, James Cook, Humbolt,
John Forster. Darwin esteve nas Canárias e Açores (1836) e mandou um discípulo à
Madeira. No arquipélago açoriano o cientista mais ilustre terá sido o Príncipe Alberto I
do Mónaco que aí aportou em 1885. James Cook escalou a Madeira por duas vezes
em1768 e 1772, numa réplica da viagem de circum-navegação apenas com interesse
científico. Os cientistas que o acompanharam intrometeram-se no interior da ilha à
busca das raridades botânicas para a classificação e depois revelação à comunidade
científica. Em 1775 o navegador estava no Faial e no ano imediato em Tenerife.

Os Arquipélagos da Madeira e Canárias, devido à posição estratégica na rota que ligava


a Europa ao mundo colonial, foram activos protagonistas nos rumos da Ciência dos
séculos XVIII e XIX. Já aos Açores estava, ao contrário, reservado o papel de
ancoradouro seguro antes de se avistar a Europa. Foi este papel desempenhado pelo
arquipélago desde o século XVI que o catapultou para uma posição privilegiada na
história de navegação e comércio do Atlântico. Nas Canárias a primeira e mais antiga
referência sobre a presença de naturalistas ingleses é de 1697, ano em que James
Cuningham esteve em La Palma. Os Séculos XVIII anunciam-se como de forte
presença, nomeadamente dos franceses. O contacto do cientista com o arquipélago
açoriano fazia-se quase sempre na rota de regresso de Africa ou América. Para os

1976; Pedro Cullen del Castilho, Libro Rojo de Gran Canaria o Gran Libro de Provisiones y Reales Cédulas, Las Palmas, 1974. Alfredo Herrera Piqué, La
Destrucción de los Bosques de Gran Canaria a comienzos del siglo XVI, in Aguayro, n1.92, 1977, pp.7-10; James J. Pearsons, Human Influences on the Pine
and Laurel Forests of the Canary Islands, in Geographical Review, LXXI, n13, 1981, pp.253-271.
7
Cf. "Algumas das Figuras Ilustres Estrangeiras que Visitaram a Madeira", in Revista Portuguesa, 72, 1953; A. Lopes de Oliveira, Arquipélago da Madeira.
Epopeia Humana, Braga, 1969, pp. 132-134.
americanos as ilhas eram a primeira escala de descoberta do velho mundo. Por outro
lado os Açores despertaram a curiosidade das instituições e cientistas europeus. Os
aspectos geológicos, nomeadamente os fenómenos vulcânicos foram o principal alvo de
atenção. Mesmo assim o volume de estudos não atingiu a dimensão dos referentes à
Madeira e Canárias pelo que Maurício Senbert em 1838 foi levado a afirmar que a
"flora destas ilhas [fora]por tanto tempo despresada", o que o levou a dedicar-se ao
estudo 8 .

As ilhas recriavam os mitos antigos e reservavam ao visitante um ambiente paradisíaco


e calmo para o descanso, ou, como sucedeu no século dezoito, o laboratório ideal para
os estudos científicos. O endemismo insular propiciava a última situação. As ilhas
forram o principal alvo de atenção de botânicos, ictiólogos, geólogos. A situação é
descrita por Alfredo Herrera Piqué a considerar como "a escala científica do
Atlântico" 9 . Os ingleses foram os primeiros a descobrir as qualidades de clima e
paisagem e a divulgar junto dos compatriotas. É esta quase esquecida dimensão como
motivo despertador da ciência e cultura europeia desde o século XVIII que importa
realçar

Na Madeira aquilo que mais os emocionou os navegadores do século XV foi o


arvoredo, já para os cientistas, escritores e demais visitantes a partir do século XVIII o
que mais chama à atenção é, sem dúvida, o aspecto exótico dos jardins e quintas que
povoam a cidade. Nas Canárias a atenção está virada para os milenares dragoeiros de
Tenerife. O Funchal transformou-se num verdadeiro jardim botânico e segue uma
tradição secular europeia. Eles começaram a surgir na Europa desde o século XVI: em
1545 temos o de Pádua, seguindo-se o de Oxford em 1621. Em 1635 o de Paris preludia
a arte de Versailles em 1662. Em todos é patente a intenção de fazer recuar o paraíso 10 .
As ilhas não tinham necessidade disso pois já o eram. Diferente é a atitude do homem
do século XVIII. Aliás, desde a segunda metade do século XVII que o seu
relacionamento com as plantas mudou. Em 1669 Robert Morison publica Praeludia
Botanica, considerada como o princípio do sistema de classificação das plantas, que tem
em Carl Von Linné (Linnaeus) (1707-1778) o protagonista. A partir daqui a visão do
mundo das plantas nunca foi a mesma. Contemporâneo dele é o Comte de Buffon que
publicou entre 1749 e 1804 a "Histoire Naturelle, Générale et Particuliére" em 44
volumes. Perante isto os jardins botânicos do século XVIII deixaram de ser uma
recriação do paraíso e passaram a espaços de investigação botânica. O Kew Gardens em
1759 é a verdadeira expressão disso. Note-se que Hans Sloane (1660-1753), presidente
do Royal College of Physicians, da Royal Society of London e fundador do British
Museum, esteve na Madeira no decurso das expedições que o levaram às Antilhas
inglesas 11 .

A aclimatação das plantas com valor económico, medicinal ou ornamental adquiriu cada
vez mais importância. Aliás, foi fundamentalmente o interesse medicinal que provocou
desde o século XVII o desusado empenho pelo estudo 12 . Assim em 1757 o inglês
Ricardo Carlos Smith fundou no Funchal um dos jardins onde reuniu várias espécies
com valor comercial. Já em 1797 Domingos Vandelli (1735-1816) e João Francisco de

8
. "Flora Azorica", in Archivo dos Açores, XIV(1983), pp.326-339.
9
.Las islas Canarias, Escala Científica en el Atlántico Viajeros y Naturalistas en el siglo XVIII, Madrid, 1987.
10
. Richard Grove, Ecology, climate and Empire. Studies in colonial enviromental. History 1400-1940, Cambridge, 1997, p. 46; J. Prest, The Garden of Eden:
The Botanic Garden and the Re-creation of Paradise, New Haven, 1981.
11
Raymond R. Stearns, Science in the British Colonies of America, Urban, 1970
12
K. Thomas, Man and the Natural World. Changing attitudes in England. 1500-1800, Oxford, 1983, p. 27, 65-67.
Oliveira no estudo sobre a flora apresentou no ano imediato um projecto para um
viveiro de plantas. O viveiro foi criado no Monte e manteve-se até 1828. O naturalista
francês, Jean Joseph d'Orquigny, que em 1789 se fixou no Funchal foi o mentor da
criação da Sociedade Patriótica, Económica, de Comércio, Agricultura Ciências e Artes.
Também na ilha de Tenerife, em Puerto de La Cruz, Alonso de Nava y Grimón criou em
1791 um jardim de Aclimatação de Plantas.

Na Madeira tivemos a proposta de Frederico Welwistsch13 para a criação de um jardim


de aclimatação no Funchal e em Luanda 14 . A ilha cumpriria o papel de ligação das
colónias aos jardins de Lisboa, Coimbra e Porto. O botânico alemão que fez alguns
estudos em Portugal, passou em 1853 pelo Funchal com destino a Angola. Já a presença
de outro alemão, o Padre Ernesto João Schmitz, como professor do seminário
diocesano, levou à criação em 1882 um Museu de História Natural, que hoje se encontra
integrado no actual Jardim botânico. Só passado um século a temática voltou a merecer
a atenção dos especialistas. E, várias vozes se ergueram em favor da criação de um
jardim botânico. Em 1936 refere-se uma tentativa frustrada de criação de um Jardim
Zoológico e de Aclimatação nas Quintas Bianchi, Pavão e Vigia, que contava com o
apoio do Zoo de Hamburgo 15 . A criação do Jardim Botânico por deliberação da Junta
Geral do Distrito Autónomo do Funchal a 30 de Abril de 1960 foi o corolário da defesa
secular das condições da ilha para a criação e a demonstração da importância científica
revelada por destacados investigadores botânicos que procederam a estudos 16 .

Nos Açores foi evidente a aposta nos jardins de aclimatação. Um dos principais
empreendedores foi José do Canto que desde meados do século XIX criou diversos
viveiros de plantas de diversas espécies que adquiriu em todo o mundo. Na década de
setenta as suas propriedades enchiam-se de criptomérias, pinheiros, eucaliptos e
acácias 17 . Tenha-se em conta os contactos com as sociedades científicas e de
aclimatação francesas, as visitas aos mais considerados jardins europeus. Tudo isto
permitiu que o mesmo e alguns dos compatriotas micaelenses transformassem a
paisagem da ilha em densos arvoredos e paradisíacos jardins de flora exótica. A José do
Canto podemos juntar António Borges que em 1850 lançou o parque das Sete Cidades e
oito anos após o jardim de Ponta Delgada que ostenta o nome. Outro entusiasta da
natureza foi José Jácome Correia que nos legou o jardim de Santana. Tenha-se em
consideração o facto de António Borges ter permanecido desde 1861 oito anos em
Coimbra onde trabalhou no Jardim Botânico e manteve contactos estreitos com a
universidade, mercê do apoio do patrício Carlos M. G. Machado. Daqui resultou uma
estreita cooperação como envio à ilha de Edmond Goeze 18 com a finalidade de recolher
espécies arbóreas para a estufa do jardim coimbrão. Já nas Canárias a preocupação
fundamental foi a política de florestação. Para isso contribuíram a partir do séc.XVIII as
Sociedades Económicas de los Amigos del Pais em Gran Canaria (1777),
Tenerife(1776) e La Palma. Das actas da de Las Palmas rapidamente se extrai a
preocupação e aposta na política de reflorestação 19 . Os Jardins botânicos surgem aqui a

13
. Cf. Ebarhard Axel Wilhelm, "Visitantes de língua Alemã na Madeira(1815-1915)", in Islenha, 6, 1990, pp.48-67.
14
. "um Jardim de Aclimatação na ilha da Madeira", in Das Artes e da História da Madeira, n1. 2, 1950, pp.15-16
15
César A. Pestana, A Madeira Cultura e Paisagem, Funchal, 1985, p.65
16
Cf Boletim da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, Abril de 1960; Rui Vieira, "Sobre o 'Jardim Botânico' da Madeira ", in Atlântico, 2, 1985,
pp.101-109.
17
. Fernando Aires de Medeiros Sousa, José do Canto. Subsídios para a História micaelense (1820-1898), Ponta Delgada, 1982, pp.78-113
18
. A Ilha de S. Miguel e o Jardim Botânico de Coimbra, in O Instituto, 1867, pp.3-61.
19
. Jose de Viera y Clavijo, Extracto de las Actas de la Real Sociedad Económica de amigos del Pais de las Palmas(1777-1780), Las Palmas de Gran Canaria,
1981.
partir da década de quarenta do nosso século: em 1943 o de Puerto de La Cruz em
Tenerife e em 1953 o de Viera y Calvijo em Gran Canaria.

Em qualquer dos momentos assinalados as ilhas cumpriram o papel de ponte e espaço


de adaptação da flora colonial. Os jardins de aclimatação foram a moda que na Madeira
e Açores tiveram por palco as amplas e paradisíacas quintas. O Marquez de Jácome
Correia 20 identifica para a Madeira as quintas do Palheiro Ferreiro e Magnólia como
jardins botânicos. São viveiros de plantas, hospital para acolher os doentes da tísica
pulmonar e outros visitantes. O deslumbramento acompanhou o interesse científico e os
dois conviveram lado a lado nas inúmeras publicações que o testemunham no século
XIX. Os jardins, através da harmonia arvoredo e das garridas cores das flores tiveram
nos séculos XVII e XVIII um avanço evidente. Os bosques deixaram de ser espaços de
maldição e as árvores entraram no quotidiano das classes altas. Os jardins adquiriram a
dimensão de paraíso bíblico e como tal de espaço espiritual. Eles são a expressão do
domínio humano sobre a Natureza 21 . A Inglaterra do século XIX popularizou os jardins
e as flores 22 . A ambiência chegou à ilha através dos mesmos súbditos de Sua Majestade.
As ilhas exerceram um fascínio especial em todos os visitantes e parece que nunca
perderam a imortal característica de jardins à beira do oceano. Poderemos afirmar que
as ilhas foram jardins e que os jardins continuam a ser o encanto dos que a procuram,
sejam turistas ou cientistas.

No século XVIII as ilhas assumiram um novo papel no mundo europeu. Assim, de


espaços económicos passaram também a contribuir para alívio e cura de doenças. O
mundo rural perde importância em favor da área em torno do Funchal, que se
transforma num hospital para a cura da tísica pulmonar ou de quarentena na passagem
do calor tórrido das colónias para os dias frios e nebulosos da vetusta cidade de
Londres. A função catapultou as ilhas da Madeira e Canárias para uma afirmação
evidente. O debate das potencialidades terapêuticas da climatologia propiciou um grupo
numeroso de estudos e gerou uma escala frequente de estudiosos 23 . As estâncias de cura
surgiram primeiro na bacia mediterrânica europeia e depois expandiram-se no século
XVIII até à Madeira e só na centúria seguinte chegaram às Canárias 24 . Dos visitantes
das ilhas merecem especial atenção três grupos distintos: invalids (=doentes), viajantes,
turistas e cientistas. Enquanto os primeiros fugiam ao Inverno europeu e encontravam
na temperatura amena das ilhas o alívio das maleitas, os demais vinham atraídos pelo
gosto de aventura, de novas emoções, da procura do pitoresco e do conhecimento e
descobrimento dos infindáveis segredos do mundo natural. O viajante diferencia-se do
turista pelo aparato e intenções que o perseguem. Ele é um andarilho que percorre todos
os recantos das ilhas na ânsia de descobrir os aspectos mais pitorescos. Na bagagem
constava sempre um caderno de notas e um lápis. Através da escrita e desenho ele
regista as impressões do que vê. Daqui resultou uma prolixa literatura de viagens, que
se tornou numa fonte fundamental para o conhecimento da sociedade oitocentista das
ilhas. Ao historiador está atribuída a tarefa de interpretar estas impressões 25 . Aqui são
merecedoras de destaque duas mulheres: Isabella de França 26 para a Madeira e Olívia

20
. A Ilha da Madeira, Coimbra, 1927, p.173, 178
21
. Peter J. Bowler, Fontana History of environmental Sciences. N. Y., 1993.,p.111.
22
. Cf. K. Thomas, ibidem, pp.207-209, 210-260
23 . James Clark, The Sanative Influence of Climate, Londres, 1840; W. Huggard, A Handbook of Climatic Treatment, Londres, 1906; Nicolás González Lemus, Las Islas de la Ilusión. Británicos en Tenerife 1850-1900, Las Palmas, 1995; Zerolo, Tomás,
Climatoterapia de la Tuberculosis Pulmonar en la Península Española, Islas Baleares Y Canarias, Santa Cruz de Tenerife, 1889. O debate sobre o tema provocou a publicação de inúmeros estudos a favor e contra. Cf. Bibliografia textos de S. Benjamin (1870),
John Driver (1850), W. Gourlay (1811), M. Grabham (1870), R. White (1825).
24 . M. J. Báguerra Cervellera, La Tuberculosis y su História, Barcelona, 1992.
25 .António Ribeiro Marques da Silva. Apontamentos sobre o Quotidiano Madeirense (1750-1900), Lisboa, 1994, N. González Lemus, Viajeros Victorianos en Canarias, Las Palmas, 1998.
26 Journal of a visit to Madeira and Portugal (1853-1954), Funchal, 1970. Todavia, a primeira viajante na ilha foi Maria Riddel que em 1788 visitou a ilha durante 11 dias: A Voyage to The Madeira..., Edinburgh, 1792.
Stone 27 para as Canárias. O turista ao invés é pouco andarilho, preferindo a bonomia
das quintas, e egoísta guardando para si todas as impressões da viagem. O testemunho
da presença é documentado apenas pelos registos de entrada dos vapores na alfândega,
das notícias dos jornais diárias e dos "títulos de residência" 28 , pois o mais transformou-
se em pó.

A presença de viajantes e "invalids" nas ilhas conduziu à criação de infra-estruturas de


apoio. Se num primeiro se socorriam da hospitalidade dos insulares, num segundo
momento a cada vez mais maior afluência de forasteiros obrigou à montagem de uma
estrutura hoteleira de apoio. Aos primeiros as portas eram franqueadas por carta de
recomendação. A isto juntou-se a publicidade através da literatura de viagens e guias.
Os guias forneciam as informações indispensáveis para a instalação no Funchal e
viagem no interior da ilha, acompanhados de breves apontamentos sobre a História,
costumes, fauna e flora. Para a Madeira, um dos mais antigos guias que se conhece é
anónimo 29 , seguindo-se os de Robert White 30 , E. V. Harcourt 31 , J. Y. Johnson 32 e E. M.
Taylor 33 . O primeiro guia de conjunto dos arquipélagos é de William W. Cooper 34 e A
Samler Brown 35 . O último tornou-se num best-seller, pois atingiu 14 edições. Tenha-se
em conta os destinatários dos guias. Assim em 1851 James Yate Johnson e Robert
White36 fazem apelo aos "invalid and other visitors", enquanto em 1887 Harold Lee 37
dirige-se aos "tourists" e em 1914 temos o primeiro guia turístico de C. A. Power 38 .
Este deverá marcar nas ilhas o fim do chamado turismo terapeutico e o início do actual.
Aos dois grupos junta-se um terceiro que também merece atenção dos guias, isto é, o
naturalista ou cientista 39 .

A Madeira firmou-se a partir da segunda metade do século dezoito como estância para o
turismo terapêutico, mercê das qualidades profiláticas do clima na cura da tuberculose,
o que cativou a atenção de novos forasteiros 40 . Aliás, a ilha foi considerada por alguns
como a primeira e principal estância de cura e convalescença da Europa 41 . No período
de 1834 a 1852 a média anual de Invalid's oscilava entre os 300 e 400, maioritariamente
ingleses. Em 1859 construiu-se o primeiro sanatório. O último investimento foi dos
alemães que em 1903 através do príncipe Frederik Charles de Hohenlohe Oehringen
constituiu a Companhia dos Sanatórios da Madeira. Da polémica iniciativa resultou
apenas o imóvel do actual Hospital dos Marmeleiros 42 .

Não temos dados seguros quanto ao desenvolvimento da hotelaria nas ilhas, pois os
dados disponíveis são avulsos43. Os Hotéis são referenciados em meados do século
XIX mas desde os inícios do século XV que as cidades portuárias de activo movimento
27 .Teneriffe and its six Satellites(1887)
28 . Na Madeira as autorizações de residência estão registadas para os anos de 1869 a 1879 e 1922 a 1937.
29 . A Guide to Madeira Containing a Short Account of Funchal, Londres, 1801.
30 . Madeira its Climate and Scenery containing Medical and General Information for Invalids and Visitors; a tour of the Island, Londres, 1825.
31 . A Sketch of Madeira Containing Information for the Traveller or Invalid Visitor, Londres, 1851.
32 Madeira its Climate and Scenery. A Handbook for Invalids and other Visitors, Edinburg, 20ed., 1857, 30ed., 1860.
33 .Madeira its Scenery and How to See it with Letters of a Year's Residence and Lists of the Trees, Flowers, Ferns, and Seaweeds, Londres, 10ed., 1882, 20 ed., 1889.
34 . The Invalid's Guide To Madeira With a Description of Tenerife..., Londres, 1840.
35 . Madeira and the Canary Islands.
36. Madeira Its Climate and Scenery. A Handbook for Invalid and Other Visitors, Edimburgo, 1851.
37 . Madeira and the Canary islands. A Handbook for Tourists, Liverpool, 1887.
38 . Tourist´s Guide to the Island of Madeira, Londres, 1914.
39 . C. A. Gordon, The Island of Madeira for the Invalid and Naturalis- "the Flower of the Ocean. The Island of Madeira: A Resort for the Invalid; a Field for the Naturalist, Londres, 1896.
40 . As mais antigas referências a esta situação surgem em 1751 em texto de Thomas Heberden em Philosophal Transactions, sendo corroborado pelo Dr. Fothergill em On Consuption Medical Observation (1775). Veja-se ainda J. Adams, Guide to Madeira
with an Account of the Climate, Londres, 1801; W. Gourlay, Observations on the Natural History, Climate and Desease of Madeira During of Period os Sixteen Years, Londres, 1811.
41 . Hugo C. de Lacerda Castelo Branco, Le Climat de Madère. Ébauche d'une étude Comparative:Le Meilleur Climat du Monde: Station Fixe et la Plus Belle d'Hiver, Funchal, 1936.
42 . Nelson Veríssimo, A questão dos Sanatórios da Madeira, in Islenha, 6, 1990, 124-144; Desmond Gregory, The Beneficient Usurpers: A History of the British in Madeira, Londres, 1988, pp.112-124; F. A. Silva, Sanatórios da Madeira, in Elucidário
Madeirense, 10 ed. 1921-22.
43 . Apenas a partir de 1891 temos o Registo de Licenças de Botequins, tabernas, Hoteis, Estalagens, Clubes e Lotaria(1891-1901). Cf. Fátima Freitas Gomes, Hotéis e Hospedarias (1891-1901), in Atlântico, n1.19, 1989, 170-177.
de forasteiro deveriam possuir estalagens. A documentação oficial faz eco desta
realidade como se poderá provar pelas posturas e actas da vereação dos municípios
servidos de portos. No caso da Madeira assinala-se em 1850 a existência de dois hotéis
(the London Hotel e Yate's Hotel Family) a que se juntaram outros dez em 1889 44 . Em
princípios do século XX a capacidade hoteleira havia aumentado, sendo doze os hotéis
em funcionamento que poderiam hospedar cerca de oitocentos visitantes 45 . A
preocupação destes visitantes em conhecer o interior, nomeadamente a encosta norte
levou ao lançamento de uma rede de estalagens que tem expressão visível em S.
Vicente, Rabaçal, Boaventura, Seixal, Santana e Santa Cruz 46 . Tenha-se ainda em conta
um conjunto de melhoramentos que tiveram lugar no Funchal para usufruto dos
forasteiros. Assim, desde 1848 com José Silvestre Ribeiro temos o delinear de um
moderno sistema viário, a que se juntaram novos meios de locomoção: em 1891 o
Comboio do Monte, em 1896 o Carro Americano e finalmente o automóvel em 1904.

As Canárias, nomeadamente Tenerife e Furteventura, juntaram-se à Madeira no turismo


terapeutico desde meados do século XIX47. Note-se que em 1865 Nicolás Benitez de
Lugo construiu em La Orotava (Tenerife) "un estabelecimiento para extranjeros
enfermos". Deverá ter sido nesta época que a ilha de Tenerife se estreou como health
resort, passando a fazer concorrencia com a Madeira, tendo a favor melhores condições
climáticas 48 . O Vale de La Orotava, através do seu porto (hoje Puerto de La Cruz),
afirma-se como a principal estância do arquipélago. Isto provocou o desenvolvimento
da indústria hoteleira, que depois alastrou também à cidade de Santa Cruz de Tenerife49 .
Vários factores permitiram a rápida ascensão das ilhas de Tenerife e Gran Canária na
segunda metade do século XIX que assumiram rapidamente a dianteira face à Madeira.
A afirmação de Santa Cruz de Tenerife como porto abastecedor de carvão aos barcos a
vapor, a declaração dos portos francos em 1852 fizera atrair para aqui todas as linhas
francesas e inglesas de navegação e comércio no Atlântico. A aposta no turismo e
serviços portuários permitiu uma saída para a crise económica do arquipélago e uma
posição privilegiada face à concorrência da Madeira ou dos Açores 50 .

Nos Açores o turismo teve um aparecimento mais recente. Não obstante Bullar (1841)
referir a presença de doentes americanos na Horta foi reduzido o movimento no
arquipélago. Todavia, isto conduziu ao aparecimento do primeiro hotel conhecido no
Faial, em 1842. Em 1860 chegou o primeiro grupo de visitantes norte-americanos, mas
só a partir de 1894 ficaram conhecidos como tourists 51 .

A partir de finais do século XIX o turismo dava os primeiros passos. Foi como corolário
disso que se estabeleceram as primeiras infra-estruturas hoteleiras e que o turismo
passou a ser uma actividade organizada e com uma função relevante na economia. E
mais uma vez o inglês é o protagonista. Este momento de afluência de estrangeiros
coincide ainda com a época de euforia da Ciência nas Academias e Universidades
44 . Isto de acordo com as informações de J. Driver (Guide to Visitors, Londres, 1850) e C. A. Mourão Pita (Madère, Station Mèdicale Fixe, Paris, 1889).
45 . Marquês de Jácome Correia, A Ilha da Madeira, Coimbra, 1927, p.232
46 . Para S. Vicente veja-se nossos estudos sobre "Retratos de Viajantes e Escritores", Boletim Municipal. São Vicente, n1.3, 1995,pp.3-7; "O Norte na História da Madeira", in Boletim Municipal. São Vicente, n1.8, 1996,pp.7-15
47 . W. Cooper, The Invalid's Guide to Madeira with a Description of Tenerife, Londres, 1840; M Douglas, Grand Canary as a heatlth Resort for Consummptives and Others, London, 1887; John Whiteford, The Canary Islands as a Winter Resort, Londres,
1890; George Victor Pérez, Orotava as a Health Resort, Londres, 1893.
48 . Note-se que em 1861 Richard F. Burton (Viajes a las Islas Canarias I. 1861, Puerto de La Cruz, 1999, p.26) que na sua viagem todos os tuberculosos ficaram na Madeira.
49 .A. Hernández Gutiérrez, De la Quinta Roja al Hotel Taoro, Puerto de La Cruz, 1983; IDEM, Cuando los Hoteles eran Palacios, Islas Canarias, 1990; A.Guimera Ravina, EL Hotel Marquesa, Puerto de la Cruz, 1988; IDEM, El Hotel Taoro, 1890-
1990.Cien Años de Turismo en Tenerife, Santa Cruz de Tenerife, 1991.
50 . Madeirenses e açorianos cedo se aperceberam desta realidade culpando as autoridades de Lisboa. Vide: João Augusto d'Ornellas, A Madeira e as Canárias, Funchal, 1884; João Sauvaire de Vasconcelos, Representação da Câmmara Municipal da Cidade
do Funchal ao Governo de S. M. sobre Diversas Medidas Tendentes a Conservar e Arruinar a Navegação de passagem neste Porto dos Paquetes Transatlânticos, Funchal, 1884; Visconde Valle Paraizo, Propostas Apresentadas pela Commissão Nomeada em
Assembleia da Associação Commercial do Funchal de 14 de Novembro de 1894 para Estudar as Causas do Desvio da Navegação do Nosso Porto e do Afastamento de Forasteiros, Funchal, 1895; Maria Isabel João, Os Açores no século XIX, Economia,
Sociedade e Movimento Autonomista, Lisboa, 1991.
51. Ricardo Manuel Madruga da Costa, Açores, Western Islands. Um Contributo para o Estudo do Turismo nos Açores, Horta, 1989.
europeias. Desde finais do século XVII as expedições científicas tornaram-se comuns e
a Madeira (Funchal) ou Tenerife (Santa Cruz de Tenerife e Puerto de La Cruz) foram
portos de escala, para ingleses, franceses e alemãs.

2. NOVOS PALADARES E PRODUTOS.

Por muito tempo alguns produtos foram identificados com determinadas regiões. A
maça apela-nos à grande metrópole de Nova York, enquanto o ananás nos recria as
paradisíacas ilhas do Havai. Mas tudo terá mudado a partir do século XVIII. A
alimentação progrediu e as ementas universalizaram-se. Os produtos perderam o selo de
identidade de origem e entraram definitivamente no quotidiano. A mesa do mundo
ocidental é igual. As divergências e exoticidade sucedem como resultado do confronto
com outras culturas, como o mundo árabe e as regiões orientais.
A Madeira está situada numa posição estratégica fundamental para acolher as rotas de
migração de plantas e produtos. No século XV foi a ilha que promoveu a expansão das
culturas europeias no mundo atlântico. E de novo a partir do século XVI a descoberta de
novos produtos e frutos com valor alimentar levou a que a ilha servisse de entreposto de
expansão dos mesmos no velho continente. Tudo isto acontece porque a ilha continua a
ser uma área charneira entre os dois mundos e dispunha de uma variedade de
microclimas propícios à fixação de novas plantas e sementes. Aliás, a singular condição
levou a que nos séculos XVIII e XIX a ilha se transformasse num viveiro de
aclimatação de plantas. Dos inúmeros produtos que chegaram às ilhas dois há que se
afirmaram rapidamente na dieta alimentar. São eles a batata, o inhame e o milho, que no
decurso da segunda metade do século dezanove destronaram rapidamente a hegemonia
dos cereais na dieta alimentar. Em princípios do século XX é ainda visível a expansão
dos produtos hortícolas e dos tubérculos em desfavor dos cereais. Em 1908 a produção
média por hectare era de 15.000 quilos, dando a ilha vinte e cinco toneladas.
A batata é originária do Andes mas foi a Irlanda o principal centro difusor do tubérculo
na Europa. A presença na Madeira está documentada a partir de 1760, mas a
generalização só aconteceu em princípios do século XIX. A batata-doce, também
oriunda da América do sul aparece na Madeira no século XVII, sendo referenciada na
década de setenta do século XVIII como o principal sustento do camponês. Já a batata,
dita semilha para o madeirense, só se generalizou no consumo desde 1845 com a
introdução de uma nova variedade de Demerara. Em 1842 o míldio atacou a batata
irlandesa, provocando uma das maiores mortandades na população da ilha. O mais
evidente é que a situação teve eco noutros espaços europeus, como foi o caso da
Madeira em 1846 e 1847. Tendo em conta que havia adquirido um lugar dominante na
alimentação é fácil de adivinhar as dificuldades daqui resultantes. O próprio
governador, José Silvestre Ribeiro, testemunha a situação refere em 1847 que a batata
era “de há longos anos o alimento principal dos camponeses, e quando as colheitas
eram abundantes, viviam sofrivelmente” isto, porque além deste produto só tinham para
comer “algum inhame e pouco milho”
A crise da batata conduzirá inevitavelmente a uma outra revolução alimentar com a
plena afirmação do milho O Milho, na dieta popular. Sob a forma de pão ou de farinha,
transformou-se rapidamente na base da mesa madeirense na primeira metade do nosso
século. O milho introduzido cedo conquistou a mesa do madeirense, tornando-se, de
parceria com a batata, no sustento preferencial dos madeirenses. Em 1847 a ilha
produzia apenas vinte moios, tendo necessidade de importar o restante. Em 1841 a ilha
importava 9000 moios de milho e 8000 de trigo, passando em 1852 para cerca de
10.000 de milho e 5500 de trigo. Já nas décadas de setenta e oitenta o milho era a base
da alimentação das populações mais pobres. Em Câmara de Lobos já em princípios do
século o milho dominava a dieta alimentar.
Por diversas vezes a imprensa do tempo de guerra refere-nos que o milho era o principal
alimento do povo. E quase todo ele era importado do estrangeiro, ou das colónias: a ilha
produzia uma ínfima parte daquilo que consumia. O milho era servido de diversas
formas na mesa rural madeirense: papas de milho, milho escaldado e estroçoado. Com a
farinha faziam-se as papas de milho e com o milho pilado com que faziam um caldo
com cebo de carneiro ou boi, ou então umas papas com leite. No “Diário de Noticias”
de 4 de Setembro de 1941 dizia-se: - “o milho é, há muitos anos, um elemento
fundamental da alimentação das nossas classes menos remediadas. Barato, de fácil
preparação e de forte poder alimentar, nenhum produto da terra o pode substituir ou
sequer igualar”. Dai, deverá ter resultado a expressão popular: “Vai-se ganhando para
o milhinho...”.0 milho era o alimento das classes pobres e a ausência atingia
principalmente estes, por isso o articulista do D.N. apelava em Agosto de 1943 às
classes mais abastadas, que lhe reservassem este privilégio: - “O milho é o alimento das
classes pobres, das classes populares (...) o milho, repetimos, é o alimento dos pobres:
assim aqueles que o podem dispensar, deixem-no aos pobres -porque para as almas
bem formadas, deve constituir amargura, provocar, impensadamente, as faltas de
alimentação nos lares onde o dinheiro não abunda”. Mais tarde, no Inverno de 1945 em
face de novas dificuldades as páginas do mesmo jornal abriram-se para expressar o grito
plangente ecoado por todos os madeirenses em surdina. O Racionamento de 1 kg
semanal por cabeça propiciou o seguinte comentário: -“Não era bastante para as
necessidades duma população que tinha afeito a sua economia doméstica ao consumo
quase diário daquele produto.., numa terra onde o milho se podia chamar o pão-nosso de
cada dia.”
A Madeira tinha necessidade de importar anualmente 13.000 toneladas. Todavia em
1941 ainda eram grandes as reservas de cereal e a frequência de embarcações. Os
problemas de abastecimento só começaram a surgir no Outono de 1943, mas já no
anterior começou o racionamento e distribuição do milho. Mas aqui, mercê da iniciativa
da Comissão Regulador do Comércio de Cereais, a situação não foi tão gravosa como
havia sucedido no decurso da primeira guerra. A política de intervencionismo
económico definida por Salazar levou à criação em 1954 do Grémio do milho colonial
português e em 1938 surgiu a delegação madeirense da Junta de Exportação dos
Cereais, que passou a coordenar todo o processo de abastecimento e fixação de preços
do grão e farinha. Foi responsável Ramon Honorato Rodrigues, que em 1962, no
momento de extinção, publicou uma memória sobre os serviços prestados pela junta que
presidiu. Por ai se ficou a saber das dificuldades sentidas nos anos da guerra e da acção
da Junta e Governador Civil para solucionar a situação por meio do racionamento do
milho e da solicitação de carregamento à ordem do governo. Para termos uma ideia das
dificuldades sentidas basta-nos aludir à capitação estabelecida pelo racionamento e
relacioná-la com a média anterior à guerra: entre 1937-39 ela foi de 123 kg/ano,
enquanto de 1942-44 passou para apenas 80 kg. Mas houve anos em que a situação se
agravou: por exemplo em Março e Abril de 1945 a ração semanal por cabeça era de
apenas 550 gramas de milho. A partir de 1941 o racionamento foi determinado por
concelho de acordo com o número de cabeças de casal, variando o quantitativo
conforme os stocks disponíveis.
À SOBREMESA: DOCES E FRUTOS. Parte significativa do açúcar produzido na ilha,
e mais tarde importado do Brasil, era usado no fabrico de conservas e de doçaria. São
vários os testamentos denunciadores da mestria dos madeirenses no fabrico dos
produtos. Tal como se deduz de um documento de 1469 o fabrico de conservas era
indústria importante para a sobrevivência de muitas famílias, uma vez que ocupava
"mulheres de boas pessoas e muitos pobres que lavraram os açucares baixos em tantas
maneiras de conservas e alfenim e confeitos de que têm grandes proveitos que dão
remédio a suas vidas e dão grande nome a terra nas partes onde vão...". Os livros do
quarto e quinto do açúcar informam-nos sobre o dispêndio que dele se fazia no fabrico
de conservas, frutas seca e marmelada. Nisso gastaram-se cerca de quatrocentas arrobas
de açúcar de vários tipos, sendo na maioria para consumo dos proprietários do referido
açúcar.
A fama da arte da confeitaria madeirense espalhou-se por toda a Europa e teve o
expoente máximo na embaixada enviada por Simão Gonçalves da Câmara ao Papa.
Segundo Gaspar Frutuoso compunha-se de "muitos mimos e brincos da ilha de
conservas, e o sacro palácio todo feito de açúcar, e os cardiais todos feitos de alfenim,
dornados a partes, o que lhes dava muita graça, e feitos de estatura de hum homem".
São vários os testemunhos denunciadores da mestria dos madeirenses no fabrico destes
produtos. Segundo Hans Sloane em 1687 o madeirense produzia "açúcar indispensável
aos gastos caseiros e ao fabrico de doces, indo ainda comprá-lo ao Brasil". Dois anos
depois John Ovington refere a indústria da conserva de citrinos ou cidra que se
exportavam para a França e Holanda. A cidra existia em abundância na Ponta de Sol,
Ribeira Brava, Machico e Câmara de Lobos (Ribeira dos Socorridos), quase
desaparecendo em finais do século XVIII e arrastando inevitavelmente a indústria para
o fim.

Um dos factores de promoção desta indústria ao nível das conservas foi a importância
assumida pelo Funchal como porto de escala de abastecimento para a navegação
atlântica. Muitas embarcações aportavam aí com o intuito de se fornecerem de
conservas de citrinos para a dieta de bordo. Mas, sem dúvida, o consumidor preferencial
das conservas e doçaria madeirense era a Casa Real portuguesa. D. Manuel foi o
consumidor preferencial e aquele que divulgou as qualidades na Europa. Assim, ficaram
como o principal presente, dentro e fora do reino, sendo o exemplo seguido por Vasco
da Gama, que também ofertou o xeque de Moçambique com conservas da ilha. No
período de 1501 a 1561 a Casa Real consumiu 1129 arrobas e 58 barris de açúcar em
conservas e frutas secas. A par disso o rei havia estabelecido a partir de 1520 o envio
anual de 10 arrobas de conserva para o feitor de Flandres. A indústria manteve-se por
todo o século XVII, suportada com o pouco açúcar da produção local ou com as
importações dele do Brasil. No último caso sabe-se que em 1680 foram importadas
2.575 arrobas para o fabrico de casca. Aliás, de acordo com uma informação dada ao
governador da ilha, D. António Jorge de Melo referia-se que "é a casquinha negócio
muito grande porque há ano que se carregam com aquela terra mais de 20
embarcações de um só doce para o qual é necessário comprar açúcar da terra ou
manda-lo vir do Brasil". A correspondência de William Bolton refere que a conserva de
citrinos estava em grande prosperidade na década de noventa do século XVII, sendo
usada para o abastecimento das embarcações que demandavam a ilha, ou exportadas
para Lisboa, Holanda e França.
O fabrico do açúcar começava em Março mas só em Agosto havia dele disponível para
distribuir às conserveiras que fabricavam a casca e conserva. A partir daqui eram mais
trinta dias de árdua tarefa até que o produto estivesse disponível para a exportação. Da
existência ou não de açúcar, da sua qualidade dependia a disponibilidade para o fabrico
destes derivados, que activavam o comércio com as praças do Norte da Europa, donde
nos províamos de cereais e manufacturas. Estamos perante uma indústria muito instável,
dependendo das possibilidades de oferta de açúcar brasileiro e da procura do produto
acabado pelos mercadores europeus. A correspondência particular de alguns
mercadores, como é o caso de Diogo Fernandes Branco e W. Bolton, testemunha de
forma evidente esta realidade. Diz o último em 7 de Agosto de 1697: "Pensou-se fazer
uma grande quantidade de conserva de citrinos mas muitos fabricantes desistiram por
não saberem se os barcos os viriam buscar".

São vários os testemunhos denunciadores da mestria dos madeirenses no fabrico destes


produtos. Segundo Hans Sloane em 1687 o madeirense produzia "açúcar indispensável
aos gastos caseiros e ao fabrico de doces, indo ainda comprá-lo ao Brasil". Dois anos
depois John Ovington refere a indústria da conserva de citrinos ou cidra que se
exportavam para a França e Holanda. A cidra existia em abundância na Ponta de Sol,
Ribeira Brava, Machico e Câmara de Lobos (Ribeira dos Socorridos). Um dos
principais factores de promoção da indústria das conservas foi a importância assumida
pelo Funchal como porto de escala de abastecimento para a navegação atlântica. Muitas
embarcações aportavam aí com o intuito de se fornecerem de conservas de citrinos para
a sua dieta de bordo. Mas, sem dúvida, o consumidor preferencial das conservas e
doçaria madeirense foi, no início, a Casa Real portuguesa e, depois, as cidades do Norte
da Europa.

No fabrico das conservas e doces variados merecem a nossa atenção as freiras do


Convento de Santa Clara, da Encarnação e Mercês. Aliás em 1687 Hans Sloane referia-
se de forma elogiosa aos doces e compotas que comeu no Convento de Santa Clara, e ao
referir que "nunca vi coisas tão boas". Num breve relance pelos livros de receita e
despesa do Convento da Encarnação, Misericórdia do Funchal e Recolhimento do Bom
Jesus, constata-se as assíduas despesas com a compra de açúcar da ilha ou do Brasil
para o consumo interno. A Misericórdia do Funchal para além das esmolas que recebia
em açúcar ou marmelada consumia açúcar que comprava. Do primeiro tanto se poderia
dar aos doentes ou vender para fora. Em 1636 gastaram-se 6.180 réis na compra de 3
arrobas de açúcar para os doces da procissão das Endoenças. Ademais são conhecidas
outras despesas na compra de abóbora, ginjas, peras, marmelos para o fabrico de doce.
Em 4 de Junho de 1700 a Misericórdia do Funchal gastou 101.500 réis na compra de 34
arrobas para o fabrico de doces a serem consumidos ao longo do ano. Para o período de
1694 a 1700 a mesma instituição gastou 634.400 réis na compra de 227 arrobas de
açúcar e 14 canadas de mel.

Maior e mais assíduo foi o consumo de açúcar no Convento da Encarnação. Aí, de


acordo com o registo mensal dos gastos com as compras de produtos para a dispensa do
convento pode-se ficar com uma ideia da sazonalidade do consumo da doçaria. No caso
deste convento destacam-se a Quinta-Feira de Endoenças e o Natal. Nesta última
festividade distribuía-se a cada freira, para a Consoada, 8 libras de açúcar. Além disso
parte significativa do açúcar de várias qualidades, era usado para o "tempero do comer"
e fazer conserva. No total despenderam-se 190 arrobas de açúcar por estes vinte e dois
anos para um total aproximado de seis dezenas de recolhidas.
Extintos os conventos quase que também desapareceu a tradição da doçaria. No século
XIX a doçaria teve divulgação através das pastelarias. Um das mais famosas foi a
Pastelaria Felisberta criada em 1837 na Rua da Carreira. Também ficou célebre a
doçaria da panificação Blandy na rua do Hospital Velho. Uns anos mais tarde, Isabella
de França continuava deslumbrada com a cozinha doce da ilha. Nos anos vinte a cidade
estava servida de onze confeitarias. Hoje, o único testemunho que resta dessa
importante industria do doce madeirense é o bolo de mel. O alfenim manteve-o a
tradição dos ex-votos das festas do Espírito Santo na ilha Terceira, único local onde
ainda persiste a tradição.
No século XIX eram também muito apreciados os sorvetes e doces gelados feitos com
neve trazido do alto das montanhas para o Funchal. Ficou famosa a casa de Baxixa, tal
como o testemunha John Dix. Este fabricava os melhores sorvetes, servindo-se da neve
que recolhia da casa de gelo das montanhas. A partir de 1867 o fabrico de gelo por John
Peyne & Son com água das Fontes de João Diniz tornava mais fácil o fabrico de
sorvetes. Na década de vinte persistem ainda duas fábricas de gelo que continuarão por
muito tempo a deliciar a gulodice dos amantes dos refrescos de Verão.
A sobremesa não se resumia apenas à rica doçaria, pois que a ilha desde o começo do
povoamento sempre se mostrou terra fértil onde medrava todo o tipo de árvores de fruta.
Primeiro foi o domínio daquelas conhecidas na Europa e depois a partir do século XVI,
as exóticas de África e América. Enquanto as primeiras se anicham nas áreas acima dos
300 m de altitude as segundas preferem as zonas ribeirinhas e soalheiras. A mais antiga
referência que temos é da banana, referida em 1552 por Thomas Nichols, mas a lista é
variedade, incluindo-se o abacate, ameixas, amoras, anonas, goiabas, mangos, ananás,
araçá, maracujá. Esta variedade de frutas sempre servida à mesa na época não era de
agrado de todos os forasteiros. Maria Carlota da Bélgica em 1860 não era adepta de
bananas, goiabas e maracujás, reclamando de um “odor infecto” e um “sabor horrível”.

3. A MESA DO MADEIRENSE

A ilha, terra de passagem de gentes assistiu também à movimentação e descoberta do


mundo animal e vegetal. A Madeira foi, na verdade, o espaço de passagem das plantas
do continente Europeu para o novo mundo e vice-versa. Da Europa chegaram os
cereais, a vinha e a cana-de-açúcar. Os dois primeiros por exigência da cultura cristã. A
América e a África revelaram-se aos europeus na sua exoticidade e variedade dos frutos.
Os descobrimentos peninsulares foram também a descoberta disso.
Aos poucos a mesa europeia tornava-se rica e variada. Cedo o ocidental assimilou
aquilo que foi encontrando. Pimentos, feijão, mandioca, amendoim, chocolate, café,
chá, baunilha, ananás, banana, milho e batata chegam à mesa europeia. As ilhas, e de
modo especial a Madeira são viveiro de aclimatação aos solos europeus. A nossa
variedade de frutos é resultado disso. A Banana é conhecida na ilha desde o século XVII
e outros mais frutos tropicais foram chegando e contribuíram paulatinamente para o
alargamento do cardápio. A mais antiga referência surge em 1687 no testemunho de
Hans Sloane, sendo repetido em 1689 por John Ovington. Paulatinamente impõe-se na
dieta alimentar tornando-se numa importante fonte de riqueza da ilha.
A viagem de Vasco da Gama (1497-1499) veio a contribuir para a generalização do
consumo das especiarias, já conhecidas dos europeus, mas só agora com uma rota
segura da divulgação. Assim ao tradicional açafrão, a mesa apura-se com as pimentas
orientais. A posição da ilha, o protagonismo histórico contribuiu para a afirmação desde
o século XV e definiram uma evolução peculiar da mesa. As ligações da ilha com outras
regiões tiveram impacto directo na culinária. Assim, a presença dos escravos de
Canárias, ou a iniciativa de madeirenses que mantiveram contactos com este
arquipélago é responsável pela presença do gófio ou gofe, isto é uma farinha de cevada
torrada que se consumia com leite de cabra ou de vaca. Sabemos do seu consumo no
século XVIII no Porto Santo e que as freiras do Convento da Encarnação o tinha na
ementa. Do Norte de África terá vindo o cuscuz, a escarpiada e o bolo do caco.
A culinária madeirense pode ser considerada de uma forma genérica rica e pobre.
Parece um paradoxo, mas não é. Para entendermos isto temos que ter em conta um
conjunto de factores que condicionaram a evolução ao longo dos séculos, através dos
produtos que alimentam o cardápio e dos meios de conservação. As dificuldades na
conservação dos produtos perecíveis obrigaram ao estabelecimento de regras no uso e
consumo definindo uma sazonalidade. A maior parte dos produtos, como é o caso dos
frutos, tinha uma durabilidade limitada, sendo consumidos apenas na época de
maturação. A sazonabilidade condicionava a forma de orientação do cardápio e
obrigava o madeirense a estar dependente dos condicionalismos do ciclo rural. Acresce
ainda outro factor significativo na mesa madeirense. A dificuldade, desde o século XV,
em encontrar na ilha a garantia de subsistência para a população, o que obriga à extrema
dependência do exterior. As crises de subsistência são uma constante na História da
Madeira.
Os estrangeiros visitantes não se cansam de referir o contraste entre a mesa das famílias
distintas e a da maioria da população. Entre os primeiros estávamos perante a boa mesa
onde os excessos de comida eram frequentes. E as evidências aí estavam. A obesidade
era uma característica do grupo social e do clero. Rodolfo Schultze em 1864 chama a
atenção para o facto de os jovens das famílias mais importantes, entre os 10 e 14 anos,
tinham a tendência para o peso excessivo. A ideia é também corroborada pelos autores
portugueses. Assim, Eduardo Grande é peremptório em afirmar que o “regímen
alimentar das classes menos abastadas deste distrito” era pobríssimo, constando quase
sempre de pão, mas de má qualidade.
Mas isto parece ter sido o privilégio de um grupo restrito da sociedade, uma vez que de
acordo com John Ovington em 1689 a alimentação dos madeirenses era muito frugal,
referindo que os pobres no tempo da vindima comiam apenas de uvas e pão. Diz-nos
George Forster que “os camponeses são excepcionalmente sóbrios e frugais; a
alimentação consiste em pão, cebolas, vários tubérculos e pouca carne”. Na verdade, a
alimentação consistia em vegetais algum pão, inhame e castanha e os frutos da época.
Os forasteiros são os principais divulgadores da gastronomia. Habituados às laudas
mesas reprovam a frugalidade da mesa rural. O gáudio está no Funchal, nos salões das
quintas ou do Palácio do Governador. Em 1793 John Barrow saiu da ilha agradado com
a mesa do governador da ilha, D. Diogo Pereira Forjaz Coutinho “a sua mesa é uma das
mais variadas e delicadas e em poucas partes do mundo se poderia apresentar coisa
semelhante. Travessas esplêndidas sustentam animais inteiros; ali deparei com um
porquinho recheado rodeado de laranjas, uma lebre armando um salto, faisões
tentando levantar voo, ornados com a sua vistosa e flamejante plumagem”.
A mesa madeirense apresentava por vezes alguns pratos estranhos os forasteiros. No
texto editado por J. Payne em 1740 dá-se conta de”um prato de misturas, muito
apreciado pelos naturais composto de peras, passas, pão e ovos, tudo fervido ao mesmo
tempo, com salsa e outras ervas aromáticas”. Noutro prato misturava-se uvas com
nozes, inhame cozido, a que se juntava uma massa frita e melaço.
A actual culinária madeirense é herdeira da tradição cultural dos colonos europeus, das
aportações dos forasteiros e rotas marítimas. Os cereais perduram sob a forma de pão ou
diferentes formas de cozinhado. O milho conhece-se hoje mais como frito do que como
papas. A batata persiste na mesa. E a sobremesa é hoje a mais requintado e rica, quer em
aromas e sabores. É tudo obra da Natureza e do Homem.

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