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Apocalipse: o Trono de Deus

Por Ruy Porto Fernandes

O capítulo 4 do livro do Apocalipse é uma visão de muito simbolismo que abrange


diversos aspectos da realidade espiritual e material. De imediato, podemos assinalar que o
trono de Deus simboliza Soberania e Justiça e, no instante da revelação, a concretização da
sentença jurídica sobre o Mal, pois na morte e ressurreição do Senhor Jesus o Mal foi julgado
(Jo 16.11).

Isto foi observado por muitos estudiosos comparando-se as várias visões de Deus em
seu trono (Ez 1.1-28; Dn 7.9-10, 13-14). Contudo, aqui reside uma significante diferença.
Enquanto nessas passagens o trono de Deus é móvel, no livro do Apocalipse (v. 2) ele está
fixo, posto no céu. Pois isto, de este trono estar estabelecido no céu, é um importante símbolo
escatológico representando a vitória do Bem sobre o Mal.

No 1º capítulo do livro de Ezequiel temos a descrição de uma visão do profeta a


respeito do trono de Deus sobre um carro. Estudiosos judeus observaram que nessa visão o
profeta Ezequiel percebe a aproximação de uma tempestade vinda do norte, um vento (ruach)
tempestuoso e uma nuvem com fogo em seu interior (Ez 1.4).

Esse vento tempestuoso, vindo do norte, trazendo uma nuvem com fogo em seu
interior simboliza o Mal vindo sobre os moradores da terra (cf. Jr 1.14). Neste simbolismo, a
soberania de Deus está sob ataque do Mal, pois em meio a esse ataque são distinguidos os
quatro seres viventes (cherubin), o carro (merkabah) e suas rodas com espíritos (ruach), o
trono e o próprio Iaveh (Ez 1.28).

No capítulo 7 do livro de Daniel também encontramos o relato da visão do trono de


Deus com rodas em fogo ardente (v. 9), em meio a outros tronos, para um julgamento (v. 10).
Isto em meio a uma série de visões de sentido apocalíptico que refletem o embate entre o Bem
e o Mal.

Sabemos que o Mal é o poder espiritual, e também físico, exercido por Satanás (Ap
12.9) e suas hostes que, desde o céu, de onde se rebelaram, até a terra, que também
dominaram, imperaram sem aparente oposição (Rm 16.20). Contudo, Deus, desde o Éden (Gn
3.15), se dispôs a julgá-los e isolá-los em apenas um lugar (simbolicamente, no lago de fogo e
enxofre, Ap 20.10). Para tanto, seria primeiramente necessário que Satanás fosse julgado (Jo
16.11) e sentenciado (Ap 6 ss.), pois somente assim se cumpriria a justiça de Deus. Mas, até o
momento de Deus realizar sua Justiça, o Seu Poder foi desafiado pela constante presença do
Mal.

Repetindo: o Trono de Deus só pôde ser estabelecido após o julgamento do Mal. E


isto foi realizado em Jesus Cristo. Somente em Sua morte e ressurreição Satanás e suas hostes
foram julgados e condenados (Jo 16.11). Assim, a partir desse momento histórico em diante a
situação muda completamente. O que o apóstolo João “vê” no céu é um trono posto, fixo, não
é mais um trono móvel ameaçado pela constante presença de Satanás, mas um trono
inabalável por toda eternidade (Dn 7.14). Por isso em Ap 5.6 está simbolizada a presença do
Cordeiro, como havendo sido morto, no meio do trono, como fator que estabelece o trono de
Deus

Niterói, 23 de novembro de 2009.

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