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A chuva caa e formava muita enxurrada que, com sua fora, trazia a
terra misturada. Parecia uma cascata de chocolate que despencava
no valeto - buraco muito profundo provocado pelas enxurradas,
eroso. A gua fresquinha que caa do cu misturava com a terra
quente e provocava o mistrio. Ns ramos puxados para dentro
daquele enorme buraco por uma fora estranha sem d. Mesmo os
que no queriam no conseguiam resistir, porque a magia era muito
forte e, em poucos segundos, estvamos l dentro, na garganta do
valeto, onde brincvamos durante horas. Nessas horas o trabalho
era
esquecido.
Quando eu era menino, trabalhava muito. Todos os dias de manh ia
escola e, ao retornar, mal acabava de almoar, pegava a
engraxadeira, colocava nas costas para a rua, quer dizer, para o
trabalho. A engraxadeira era muito grande e pesada para meu
tamanho - eu era apenas um garoto! Mas era a nica forma de ajudar
minha
me
no
sustento
da
famlia.
Sentia
como
se
estivesse
carregando
mundo
sozinho.
Hoje sou adulto e sei que aquela magia era fruto de nossa fantstica
imaginao. Como qualquer outro menino, o engraxate tambm tinha
direito de brincar. Uma das poucas vezes em que podamos fazer isso
era quando chovia. Mesmo que depois nos custasse castigos e surras.
Atualmente, as brincadeiras, comparadas com as de meu tempo, so
muito diferentes. Hoje, os heris so Superman, Batman, HomemAranha. Antes tnhamos heris indgenas, com suas histrias cheias
de
mistrios
das
florestas.
Naquele tempo, quando chovia, o valeto da Rua Sete de Setembro
era nosso mundo fantstico. Alm das divertidas brincadeiras no
lamaal que escorria da rua, fazamos cabanas no paredo da eroso,
guerrilhas com bodoque, usando sementes de rvores como
cinamomo
e
mamona.
Quando no chovia, sobrava tempo para brincar s aos domingos.
Ento, eu - Paj - e minha turma nos reunamos na mata, que se
misturava
com
o
terreiro
das
casas.
Nele, construamos cabanas, arcos, flechas, tacapes. Pintvamos o