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Na realidade o rosto de um morto desce a uma infinita fundura, muito abaixo do nvel
que ocupava quando vivo, e o que fica para os sobreviventes verem apenas a moldura da
mscara; desce tanto que nunca mais pode ser puxado superfcie. O rosto de um morto
mostra-nos melhor do que qualquer outra coisa do mundo a distncia a que nos achamos da
existncia do que se chama matria, (...). Pela primeira vez na vida eu constatava esse
trabalho da transformao de um esprito, pela morte, em mera substncia fsica; e senti que
estava gradualmente a compreender a razo por que as flores primaveris, o sol, a minha
carteira, a escola, os lpis toda a substncia fsica, claro sempre se me afiguravam to
frios, sempre me pareciam existir to longe de mim.
(...)
O cadver deixava-se olhar. Eu olhava somente. Saber que olhar (o acto, isto , olhar
para algum, como de ordinrio se faz, sem nenhuma conscincia especial) era a prova dos
direitos dos que estavam vivos, (...).