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guia de

turismo de
natureza
do algarve
Índice Geral Prefácio
2 Introdução
Os tesouros naturais (ainda) escondidos do Algarve
5 O Algarve

9 Costa Vicentina O Algarve é naturalmente grande. Ou é grande, naturalmente. Este território de quase cinco
14 Planalto Vicentino mil quilómetros quadrados vai muito além dos areais que concentram a atenção dos turistas
20 Paleodunas no verão. De barlavento a sotavento, há espaços naturais protegidos ocultos ou ainda sem a
23 Reserva Biogenética de Sagres atenção merecida. Todos eles aguardam, pacientemente e em estado selvagem, os olhares e a
28 Estuários e Meio Marinho passagem dos verdadeiros apreciadores da Natureza. Se é um deles, aviso-o de que aqui, nestas
33 Litoral Sul páginas, começa a viagem pelas arribas, pela floresta, pelos corredores ripícolas e pelos sistemas
38 Zonas Húmidas Costeiras estuarinos do Algarve.
40 Ria Formosa
47 Ria de Alvor De facto, são tantas as nossas paisagens e com tamanha importância biológica que escolher
51 Estuário do Arade apenas uma seria tarefa hercúlea. E se não há seleção possível entre os diversos ambientes
54 Pauis, Caniçais e Lagoas Costeiras naturais do Algarve, a solução só poderá ser descobri-los todos. Com vagar e sentidos aguçados.
59 Sistemas Dunares e Pinhais
65 Arribas do Algarve Central Este guia vem então reforçar a diversidade de experiências que o destino oferece a quem
69 Barrocal quer transformar o tempo de descanso em férias genuínas. Não é por acaso que o turismo
76 Fonte da Benémola de natureza surge como um dos produtos “em desenvolvimento” no Algarve no documento
79 Ribeira de Quarteira de proposta de revisão do Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT). Este trabalho de
83 Rocha da Pena ajustamento do PENT inicial será para aplicar no horizonte 2010-2015, o que significa que todos
87 Cerro da Cabeça nós deveremos tentar materializar os objetivos definidos no documento para esse período. Editar
89 Serra este guia – ajudando a estruturar e a divulgar a oferta de Natureza da região – é já um avanço
95 Serra de Monchique nessa direção.
100 Serra do Caldeirão
105 Rio Arade e Ribeira de Odelouca Com cerca de duzentas fotografias e mais de cem páginas, o Guia de Turismo de Natureza do
107 Guadiana Algarve é mais um passo para fortalecer a imagem da região enquanto um dos destinos do país
113 Bacia do Guadiana com desenvolvimento mais sustentável. É com esta convicção que lhe desejo um ótimo passeio
117 Sapais de Castro Marim pelos nossos tesouros naturais e que me atrevo a deixar um conselho: leve máquina fotográfica.
121 Ecossistema Marinho É que há momentos que valem a pena ser recordados a cores vivas e no tempo presente. Estes
127 Pradarias Marinhas serão, certamente, uns deles.
129 Leixão da Gaivota

131 Lista de espécies Desidério Silva


134 Glossário Presidente do Turismo do Algarve
138 Bibliografia
140 Contactos
144 Agradecimentos
Ficha Técnica

1
Introdução
O Lugar do Homem na Natureza... Por que motivo, à medida que a Ciência avança, esta questão se
torna para nós cada vez mais importante e fascinante? *

Teilhard de Chardin responde a si próprio crescido na Europa a um ritmo médio anual de múltiplos usos a que está sujeito o território. confortável serão sempre acessórios indispen-
sugerindo, entre outras razões, que inevitavel- cerca de 7% nos últimos anos, tendo também A cada capítulo associa-se uma cor especí- sáveis em qualquer atividade ao ar livre.
mente estarão homem e natureza profun- a oferta de turismo de natureza vindo a au- fica visível na barra superior das páginas e
damente ligados. Da visão mecanicista dos mentar em conformidade. No caso específico uma representação cartográfica do território. O contacto direto será a melhor forma de
séculos XVII e XVIII até a visão sistémica que a da região algarvia, a diversidade de ambientes Os capítulos iniciam-se por uma descrição descobrir a natureza, colocando os senti-
partir do século XIX tomou conta das diversas e a singularidade de valores naturais, a existên- geral de cada subregião, seguindo-se fichas dos ao serviço da curiosidade e registando
áreas do conhecimento, da física à ecologia cia de espaços naturais protegidos (quase 40% temáticas aludindo aos ambientes que se interiormente o silêncio e os sons, os cheiros,
e à psicologia, uma mudança de paradigma do território algarvio encontra-se de alguma notabilizam e distinguem aquele território. os ritmos naturais, as cores, formas e textu-
ocorreu, estando agora interiorizada a per- forma classificado) e as boas acessibilidades, As fichas temáticas podem fazer referência a ras. Os trajetos podem ser explorados ou
ceção da ligação e interdependência de todos fazem desta uma região de eleição para o ecossistemas (e.g. um sistema estuarino- contemplados, havendo um sem número de
os fenómenos, sendo o mundo visto como turismo de natureza. -lagunar ou os complexos dunares no topo formas de registar a experiência e assim pro-
um todo integrado. No caso específico da das arribas vicentinas), a unidades biofísicas longá-la durante mais tempo: usar cadernos
ecologia humana (relação homem – natureza), O presente guia é pois um convite à desco- (e.g. o planalto vicentino ou a bacia hidrográ- de campo onde se pode escrever, rabiscar
a investigação científica na área da saúde e berta da natureza no Algarve, permitindo fica do Rio Guadiana) e a áreas classificadas no e pintar; utilizar materiais disponíveis (como
bem-estar tem vindo a prestar crescente aten- percorrer os diversos ambientes e paisagens âmbito da legislação nacional e comunitária terra e folhas secas) em colagens e com-
ção aos benefícios da natureza e da biodiver- do território e aceder, através das atividades (e.g. o geomonumento da Rocha da Pena ou o posições; fazer fotografias ou pequenos filmes,
sidade para a saúde humana. Esses benefícios propostas, a experiências genuínas de Leixão da Gaivota). Em cada ficha apresenta-se etc.. Esta atitude será seguramente mais
são hoje considerados e valorizados no amplo contacto com a natureza e com manifesta- uma lista de sugestões alusiva às atividades gratificante que a recolha de objetos naturais
conjunto de serviços que se entende que os ções culturais que recriam a ancestral gestão que se entendeu poderem proporcionar um como minerais, fósseis ou plantas. Observar
ecossistemas prestam à sociedade. humana dos recursos naturais e da paisagem. maior contacto e usufruto dos valores naturais com respeito e sem perturbar deverá ser o
A abordagem adotada é de índole temática, e culturais. principio ético por excelência no contacto
A maior consciência ecológica da sociedade correspondendo a uma descrição parcelar com a natureza. Pequenas práticas podem
de hoje e a procura de experiências baseadas das subregiões naturais que constituem o Dos anexos da publicação consta um índice ser adotadas de modo a evitar perturbação
na autenticidade e no contacto com o mundo território algarvio, não esquecendo que as dos nomes comuns das espécies botânicas e desnecessária: seguir sempre pelos trilhos já
natural, têm vindo a criar novos nichos no mesmas são indissociáveis entre si, compondo zoológicas citadas e respetiva correspondência marcados e/ou sinalizados, transportar o lixo
mercado do turismo, assistindo-se a uma uma unidade mais vasta e integrada. com o nome científico, um glossário referente até local adequado, evitar o ruído, e respeitar
crescente preferência por destinos de viagem aos termos técnicos utilizados, uma súmula costumes e bens ao atravessar áreas cultivadas
não massificados e com envolvente natural Esta publicação inicia-se com uma breve bibliográfica, e ainda, uma lista de contactos ou povoações.
em bom estado de conservação, bem como caracterização ecogeográfica, focando algu- úteis.
por férias ativas onde se incluem atividades mas características essenciais do Algarve, a
ao ar livre (caminhadas ou contemplação da que se seguem seis capítulos subordinados às Antes de partir para um qualquer itinerário Boa viagem!
natureza), a prática de desportos na natureza sub-regiões naturais consideradas para este na natureza recomenda-se a utilização de
(canoagem, vela, escalada, espeleologia, etc.) efeito – Costa Vicentina, Litoral Sul, Barrocal, um mapa com a rede rodoviária e a consulta
e de atividades que requerem conhecimentos Serra, Guadiana e Ecossistema Marinho. da previsão meteorológica, sendo de evitar
específicos como a observação de aves. Optou-se por privilegiar a descrição dos condições críticas de vento e ondulação no
valores naturais e culturais que melhor litoral e temperaturas elevadas durante o verão
As viagens motivadas pelo desejo de con- pudessem expressar a singularidade de cada nos locais mais interiores e áridos. Proteção
templar, desfrutar e descobrir a natureza têm subregião no contexto regional, bem como os solar, água, comidas energéticas e calçado

* Teilhard de Chardin (1997).


2 3
O Algarve
breve caracterização ecogeográfica

“(...)
Mas, passado o Caldeirão, é como se me tirassem uma carga dos ombros. Sinto-me livre, aliviado e
contente, eu que sou a tristeza em pessoa! A brancura dos corpos e das almas, a limpeza das casas e
das ruas, e a harmonia dos seres e da paisagem lavam-me da fuligem que se me agarrou aos ossos e
clarificam as courelas encardidas que trago no coração. No fundo, e à semelhança dos nossos primei-
ros reis, que se intitulavam senhores de Portugal e dos Algarves, separando sabiamente nos seus
títulos o que era centrípeto do que era centrífugo no todo da Nação, não me vejo verdadeiramente
dentro da pátria. Também me não vejo fora dela. Julgo-me numa espécie de limbo da imaginação,
onde tudo é fácil, belo e primaveril. A terra não hostiliza os pés, o mar não cansa os ouvidos, o frio não
entorpece os membros, e os frutos são doces e sempre à altura da mão. (...) Os caminhos não têm
abismos, não há fragas estéreis e agressivas, não se vê outra neve a não ser a das corolas abertas, e as
fainas do mar são tão lúdicas como as da terra (...)”

In Portugal.
Miguel Torga, 1950.

O Algarve constitui uma unidade geográfica Aljezur estabelecido contactos regulares com
bem individualizada no território português, mercadores fenícios, gregos, tartéssicos e
ocupando a faixa mais meridional do país e púnicos. Para Orlando Ribeiro* o Algarve é a
exibindo uma delimitação administrativa que última riviera mediterrânica, constituindo uma
se adequa às fronteiras naturais: a norte um unidade com a Andaluzia e o Norte de África
sistema montanhoso, a oeste e a sul o mar, a (a ocidente do estreito de Gibraltar), a que
leste o Guadiana a desenhar a fronteira com chama território pré-mediterrâneo.
Espanha. A serra algarvia, difícil de transpor
até à construção da estrada IC 1 nos anos 70, Também os cinco séculos de presença árabe,
parece ter sido decisiva para o isolamento entre os séculos VIII e XIII, influenciaram
da região em relação ao restante território profundamente a região, acentuando a sua
nacional. Esta barreira natural não só abriga o ligação às culturas da bacia mediterrânica. A
Algarve das influências setentrionais acen- herança árabe no Algarve perdura até hoje,
tuando as características mediterrânicas da desde logo pelo seu próprio nome, Al-Gharb
região, como favoreceu no decorrer da história - O Ocidente, e é bem visível na arquitetura
o desenvolvimento de uma identidade regio- dos monumentos e do casario: nas açoteias
nal tão particular quanto rica. Uma identidade que substituem os telhados, no cubismo dos
reconhecida pelos sucessivos monarcas do edifícios ou nas chaminés criativas. A cultura
reino que mantiveram a designação “Rei de árabe subsiste nas práticas e técnicas agrícolas
Portugal e dos Algarves” até à implantação da - engenhos de água como as noras, as levadas
República no início do século XX. e os açudes, e os pomares de frutas onde cres-
cem espécies introduzidas ou difundidas pelos
Historicamente, as ligações do litoral algarvio mouros como a alfarrobeira, a amendoeira e a
com o mundo mediterrânico foram quase figueira.
sempre preferenciais; o desenho da geografia
costeira favoreceu as relações com as popula- No âmbito da ecologia nacional a região algar-
ções do Mediterrâneo, bem evidentes a partir via individualiza-se do restante território portu-
do primeiro milénio a.C., tendo os portos guês, desde logo pela multiplicidade de micro-
de Castro Marim, Tavira, Faro, Silves, Lagos e climas e territórios geológicos, o que se traduz

* Geógrafo e historiador português (1911-1997).


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sopra o vento) torna-se mais ameno, influen-
ITÁLIA ciado pela ação reguladora do Atlântico,
FRANÇA
N Golfo da
enquanto que o sotavento (setor oriental do
Biscaia Algarve, o local para onde sopra o vento) é mais
Roma árido e quente.
Golfo de
Lião
Oceano A complementaridade entre Serra, Barrocal e
Atlântico ESPANHA Litoral, três grandes áreas naturais fisionomica-
mente distintas que se sucedem de norte para
PORTUGAL Madrid Mar sul, contribuíram para identidade e unidade
Mediterrâneo da região algarvia. Isoladamente, estas áreas
Lisboa exibem características geográficas, geomor-
Tunis fológicas e biológicas muito expressivas:
Argel
Litoral – Faixa costeira com altitude máxima
Pôr do sol na Costa Vicentina.
de 157 m na Costa Vicentina (Torre de Aspa),
ALGARVE ARGÉLIA
inclui três territórios distintos: a oeste o ter-
TUNÍSIA
MARROCOS ritório do Planalto Vicentino, essencialmente
0 200 km Rabat silicioso (constituído por areias e xistos) e com
clima sub-húmido; o Promontório Vicentino
(Península de Sagres) talhado nos calcários
em elevada diversidade geomorfológica e O clima no Algarve é marcadamente mediter- rijos do barrocal algarvio, de tendência seca
biológica concentrada numa área de modesta rânico, reforçado pela barreira serrana a norte, a semiárida e intensa exposição oceânica,
dimensão (pouco mais de 540.000 hectares). havendo porém variabilidade climática em inclui a única reserva biogenética do Algarve;
A história biogeográfica deste território função da influência atlântica e da altitude. e a sul o território Algárvico, estreita planície
evoca ligações às nebulosas ilhas atlânticas, O território é simultaneamente invadido por sedimentar de tendência seca a sub-húmida,
ao quente Maghreb, à luminosa Andaluzia e massas de ar marítimo de sudoeste, protegido que se estende em franja até ao mar incluindo
ao interior do continente europeu. Inúmeras dos maiores rigores do vento norte e exposto as arribas calcárias do barlavento e as areias do
espécies da flora algarvia testemunham hoje ao Levante (ou Suão), um vento quente e sotavento.
esses laços antigos; outros são recriados todos seco que sopra de leste no Mediterrâneo. Os
os anos nos movimentos migratórios das aves invernos tendem a ser amenos e húmidos e os Barrocal – Situa-se na região central do
e de animais marinhos como as tartarugas ou verãos longos, quentes e secos. O barlavento Algarve, com altitudes até aos 300 m. Assente Amendoeira em flor. Uma das árvores que compôem o
pomar tradicional de sequeiro do Barrocal.
os atuns. (setor ocidental do Algarve, ou o local de onde sobre um maciço calcário e encaixado entre
serra e litoral, tem clima seco a sub-húmido e
exibe uma sucessão de colinas que se esten-
N dem do cabo de S. Vicente a Castro Marim. A
0 10 km Rio rica e diversificada flora mediterrânica adquire
Guadiana aqui a sua melhor expressão, sendo também
SERRA comuns os pomares de sequeiro, uma paisa-
gem agrícola de inspiração árabe.
Costa
Vicentina
BARROCAL Serra – Trata-se de um sistema montanhoso
composto por três relevos fundamentais,
Espinhaço de Cão (297 m), Monchique (902 m
de altitude na Fóia) e Caldeirão (589 m de
altitude em Pelados), onde se verifica grande
LITORAL
variabilidade climática (tendência sub-húmida
a húmida no setor ocidental e seca continen- O sub-bosque do sobreiral serrano abriga espécies adapta-
Barlavento Sotavento das a espaços mais húmidos e sombrios, como os fetos.
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tal na bacia do Guadiana). A Serra estende-se A fauna é muito variada e bem adaptada às
longitudinalmente ao longo da extrema norte condições ambientais e alguns elementos são
do Algarve e pertence ao Maciço Antigo, uma particularmente interessantes em resultado da
grande unidade estrutural que ocupa o centro localização geográfica e condições ambientais.
da Península Ibérica. O território serrano é Aqui encontram-se animais representativos
constituído por terrenos xistosos, pobres em da península ibérica como o coelho-bravo, a
matéria orgânica e com baixa diversidade flo- pega-azul, ou o lagarto e outros que facil-
rística. Em Monchique, o afloramento de sie- mente associamos à atual fauna africana como
nitos, a presença de solos ricos e a disponibi- o camaleão, a geneta ou o sacarrabos.
lidade de água, são fatores diferenciadores da À semelhança da vegetação, os animais
área no contexto regional. apresentam as suas defesas para sobreviver no
longo e seco verão. Grande número de aves
Outrora o território estaria ocupado por aquáticas voa para maiores latitudes antes da
bosques de árvores de pequeno porte e casca época estival. Outros adotam as mais variadas
grossa, sobretudo carvalhos: o sobreiro, o estratégias, diminuindo a sua atividade
carrasco, a azinheira, e mais raramente o car- diurna, no caso da maioria dos vertebrados
valho-português. Os matos são agora o cober- carnívoros, ou até entrando num período de
to dominante e incluem arbustos esclerófilos estivação como acontece com os cágados.
e plantas aromáticas e melíferas, exibindo Este é também um território com potencial
alguns elementos florísticos originais no para voltar a sustentar alguns dos elementos
contexto nacional, como a palmeira-anã ou a faunísticos mais notáveis da fauna ibérica os
alfarrobeira. Estas são espécies bem adaptadas quais, com o esforço recente de valorização
à secura do meio, exibindo folhas espessas e ambiental do território, podem vir a recuperar
pequenas, por vezes transformadas em espi- o seu habitat original. É o caso da águia-impe-
nhos e agulhas, ou protegidas por pelos, resi- rial, da águia-pesqueira ou do lince-ibérico.
nas e óleos aromáticos. A maioria das árvores
é de folha persistente, à exceção de algumas
espécies associadas às margens dos cursos de
água, como o freixo ou o salgueiro.

8
Costa Vicentina

O que mais há na terra, é paisagem. Por muito


que do resto lhe falte, a paisagem sempre sobrou,
abundância que só por milagre infatigável se
explica, porquanto a paisagem é sem dúvida an-
terior ao homem, e apesar disso, de tanto existir,
não se acabou ainda.

José Saramago
Costa Vicentina
Praia de Odeceixe Ribeira de Odeceixe Correspondendo à faixa costeira ocidental cários claros e mais recentes do Mesozoico.
do Algarve, a Costa Vicentina compreende o
N território entre Odeceixe e Vila do Bispo, es-
tendendo-se ao longo de 60 km. São Vicente,
Em alguns locais afloram outras formações
geológicas como os arenitos de Silves de cor
santo padroeiro de Lisboa, deu-lhe o nome, já vermelha, ou arenitos dunares originados em
que no imaginário cristão se atribui a primeira antigas praias, alaranjados e muito esculpidos,
sepultura do santo ao Cabo de S. Vicente, sendo ainda comum a ocorrência de filões
em Sagres. Quando da transladação das suas de rochas ígneas associados à instalação do
relíquias para Lisboa, em 1173, diz-se que dois maciço subvulcânico da Serra de Monchique.
Praia da Amoreira
corvos velaram o corpo do santo durante a
Rede Natura 2000 derradeira viagem marítima ao longo desta As paisagens que integram esta diversidade
Praia de Monte Clérigo
Praia da Pipa
costa, episódio a que alude o brasão de armas geológica notabilizam-se pelo elevado valor
de Lisboa. cénico, exibindo relevos imponentes e sin-
Ribeira de Aljezur gulares: é o caso da praias da Murração e da
267 A nebulosa Costa Vicentina é um planalto alto Ponta Ruiva, ou ainda do geomonumento da
limitado a oriente pela Serra de Espinhaço Praia do Telheiro.
Praia da Arrifana de Cão e cortado na vertente marítima em
agrestes alcantilados que alcançam os 156 m Os alcantilados interrompem-se apenas para
de altitude na Torre de Aspa (Vila do Bispo). acolher vastas extensões de areia associadas
Este imponente litoral é essencialmente à foz das principais ribeiras, Seixe, Aljezur e
rochoso; as arribas são talhadas no maciço Bordeira, que formam estuários de pequena
antigo de xistos e grauvaques de cor escura dimensão, diversificando a paisagem e as
268 do Paleozoico, de estrutura muito dobrada e formas de vida. Os restantes cursos de água,
fraturada, à exceção da ponta da Carrapateira de escorrência torrencial, escavam barrancos
e da península de Sagres, cortadas nos cal- profundos e verdejantes nas paredes rochosas,
Ribeira da Bordeira

Oceano Praia da Bordeira

Atlântico
Carrapateira

Praia da Murração

268
Torre de
Aspa 125

Praia da Ponta Ruiva

Praia do Telheiro Praia da Salema

Cabo de São Vicente Praia do Martinhal


0 5 km
Arribas envoltas em nevoeiro no Pontal (Arrifana).
Reserva Biogenética Ponta de Sagres
10 de Sagres 11
Costa Vicentina
Muitos dos habitats e das plantas que aqui uma multitude de passeriformes migram
existem são raros ou exclusivos deste litoral e rumo a climas mais quentes a sul.
prioritários para a conservação da natureza. É
o caso das emblemáticas formações endémi- A Costa Vicentina integra o Parque Natural
cas de esteva-de-sagres e de muitas outras do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina
espécies cuja designação específica, vicentina, e a Rede Natura 2000 - Sítio de Importância
remete para uma distribuição geográfica Comunitária (SIC) Costa Sudoeste e Zona de
restrita a pouco mais que os cabos de Sagres Proteção Especial (ZPE) Costa Sudoeste. *
e S. Vicente.

A diversidade de paisagens da Costa Vicentina


sustenta também uma excecional riqueza
faunística. No meio marinho, a abundância de
peixes, crustáceos e moluscos, historicamente
não sujeitos a exploração piscatória intensiva,
conservam um equilíbrio com a pesca arte-
sanal e desportiva, baseada em portinhos de
pesca abrigados em pequenas enseadas.

Este é também um dos sítios com maior diver-


Ponta Ruiva (Vila do Bispo). sidade de aves em Portugal, com mais de duas
centenas de espécies registadas. No outono, a
desaguando em pequenas praias ou em curio- zona costeira é sobrevoada pelas aves migra- Barco de pesca artesanal. Corvo-marinho-de-faces-brancas, uma das aves aquáticas
que depende dos ricos recursos piscícolas da Costa
sos vales suspensos. doras rumo a África. Grandes planadoras como Vicentina.
as águias, abutres e cegonhas, assim como
O ambiente no território costeiro ocidental é
marcadamente atlântico, húmido e fresco, mas
a Costa Vicentina é lugar de contrastes e en-
contros, e nas suas localizações mais meridio-
nais a influência mediterrânica, seca e quente,
faz-se sentir, dissipando as brumas do atlântico
norte. Deste encontro resultam condições
ecológicas singulares e uma notável diversi-
dade biológica terrestre e marinha, combi-
nando-se, num espaço físico restrito, espécies
mediterrânicas, atlânticas e maghrebinas.

A notável multiplicidade de paisagens e


ambientes deste litoral que se desdobra em
escarpas altas mergulhando diretamente no
oceano, areais em tons pérola, plataformas
elevadas com campos dunares, barrancos pro-
fundos e húmidos, e ribeiras delineadas por
frondosos bosques ripícolas que desembocam
em estuários e sapais, faz da Costa Vicentina
um território chave, no contexto nacional e Cabo de São Vicente.
europeu, em termos de riqueza e diversidade
* Lista Nacional de Sítios e Zonas de Proteção Especial para Aves da Rede Natura 2000, legisladas pelas Diretivas 92/43/CEE de 21 de maio (Diretiva
biológica. Vegetação ripícola na Ribeira da Carrapateira. Habitats) e 79/409/CEE de 2 de abril (Diretiva Aves), posteriormente transpostas para o direito português.

12 13
Costa Vicentina
O planalto vicentino é nebuloso, fresco e Com a proximidade ao mar passam a dominar
húmido, tipicamente com baixas amplitudes os matagais arborescentes de zimbro, típicos
Planalto Vicentino térmicas, o que lhe confere uma amenidade
apenas cortada pelos ventos sazonalmente
das paleodunas litorais e que correspondem
a uma comunidade climácica em ambientes
muito fortes que sopram do quadrante áridos. Por vezes as arribas marítimas encon-
A faixa costeira entre Odeceixe e Vila do
noroeste. As areias dominam este planalto que tram-se apenas cobertas por uma fina capa
Bispo integra-se numa unidade geomor-
esteve, num passado distante, ocupado por de areias argilosas; nas suas localizações mais
fológica mais ampla, o vasto planalto litoral
vastos urzais higrófilos e juncais, semelhantes expostas encontram-se plantas bem adapta-
do sudoeste, marginado a oriente pelas serras
aos que hoje se encontram no Minho. Atual- das à rudeza do meio, algumas endémicas do
litorais (São Luís e Espinhaço de Cão) e a sul
mente constitui um espaço essencialmente Sudoeste, sobretudo dos géneros Limonium,
pelo barrocal calcário que se estende do Cabo
Plantago e Armeria.
de São Vicente até ao Algarve central. Este
planalto constitui uma antiga plataforma de
Apesar do cariz mediterrânico da vegetação
abrasão, aplanada pela ação erosiva do mar,
dominante, alguns locais onde se formam
quando há cerca de dois milhões de anos
microclimas, como os barrancos húmidos e
a linha de costa se encontrava mais para o
verdejantes, notabilizam-se pela presença
interior e toda esta área estava sujeita ao
de espécies serranas típicas de climas mais
efeito abrasivo da ondulação e das correntes
húmidos, resistindo no limite da sua tolerância
marítimas. A posterior regressão marinha na
ecológica. É o caso da Centaurea vicentina,
sequência das grandes glaciações, expôs todo Cegonha-branca
espécie serrana que aqui coloniza tojais e
este território que agora medeia os ambientes
urzais litorais, ou do samouco, espécie da
terrestre e marinho.
Os inúmeros e agrestes palheirões da Costa
Findo o último período glaciar há cerca de Vicentina são muito procurados por aves para Stauracanthus vicentinus
11 mil anos, a subida do nível do mar e a abrigo e nidificação, destacando-se o caso da
erosão marinha ditam novamente o recuo da cegonha-branca que, apenas no sudoeste por-
agrícola, exibindo um interessante e bem
linha de costa, não sem deixar testemunhos tuguês, nidifica nestas ilhotas rochosas batidas
cuidado mosaico de hortas, pomares e cam-
do antigo litoral: os leixões, chamados de pelo mar e pelo vento.
pos de cereais, embora mantenha também
palheirões no sudoeste, são núcleos rochosos extensas áreas naturais, colonizadas por matos
mais resistentes à erosão que com o tempo costeiros ou pontuadas por manchas de
se destacam da linha de costa, tornando-se pinhal e carvalhal (sobreiro e carvalho-cerqui-
rochedos solitários na vastidão do oceano. nho) e por galerias ripícolas.

A vegetação nativa nestes terrenos arenosos


diversifica-se de acordo com o pH do solo:
mais alcalino onde afloram dunas consoli-
dadas colonizadas por vegetação calcícola
semelhante à que existe no barrocal algarvio,
mais ácido se ocorreu descalcificação no
campo dunar. No último caso, surgem urzais
entre os sargaçais característicos do território,
onde a urze-vermelha, a urze-das-vassouras
e a torga se misturam com as estevas, com o
mato-branco e com o tojo Stauracanthus
vicentinus, endemismo costeiro vicentino.
Estas comunidades integram ainda diversas
plantas aromáticas.
Campo agrícola com plantação de batata-doce. Um dos inúmeros palheirões existentes na Costa Vicentina.
Urzal na encosta de um barranco.

14 15
Costa Vicentina
As arribas rochosas são o local de eleição
para a nidificação de aves rupícolas como o
falcão-peregrino, a gralha-de-bico-vermelho,
o corvo-marinho-de-crista ou o pombo-das-
-rochas, enquanto que nos campos agrícolas
do planalto, pelas suas dimensões e modos de
cultivos tradicionais, podem ser observadas
espécies estepárias como o sisão, o alcaravão
e mesmo a abetarda, normalmente associada
a mosaicos de plantações agrícolas extensivas
do Alentejo.

Barranco com linha de água efémera.

floresta húmida subtropical da Macaronésia Gralha-de-bico-vermelho. Espécie em declínio em Portugal,


tem nas arribas costeiras um dos seus habitats favoritos.
(laurissilva), uma relíquia de eras distantes
que se pensa ter sobrevivido às glaciações do Nos matos costeiros vivem mamíferos como
período Pleistocénico em amenas manchas o texugo, a geneta, o sacarrabos ou o coelho.
florestais como as que existem na Costa Em grutas e fendas das arribas, refugiam-se
Sudoeste. morcegos, podendo algumas colónias ser
A Limonium ovalifolium coloniza as arribas mais expostas.
constituídas por várias centenas de indivíduos,
que se alimentam de insetos junto de arribas,
de vales encaixados com vegetação rupícola
Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) e em zonas florestais e agrícolas, dependendo
das áreas preferenciais de alimentação de cada
Atualmente extinta como nidificante, a águia-pesqueira Trigueirão, uma das aves típicas de terrenos extensos e espécie.
abertos como os campos de cultivo de cereais e pastagens.
teve nas arribas da Costa Sudoeste o seu último reduto
como reprodutora em Portugal. No início do século XX
a sua área de distribuição estendia-se desde o Pinhal de
Leiria até à zona de Albufeira, em diversos locais no litoral
atlântico. A população nidificante foi reduzindo progressi-
vamente até meados dos anos 90. Desde então só está
presente durante os períodos de passagem migratória
para as áreas de invernada na África Ocidental, ou como
invernante, sempre em números reduzidos. Alimentam-se
e descansam sobretudo nas zonas húmidas costeiras (es-
tuários, rios, lagoas, pauis, etc.) embora possam deslocar-se
alguns quilómetros para o interior para se alimentar de
peixes em barragens. Atualmente alvo de vários projetos
de reintrodução na Península Ibérica, acredita-se que esta
emblemática ave de rapina possa voltar a procriar em ter-
ritório nacional num prazo relativamente curto desde que
os fatores causadores da sua extinção, como terão sido a
perseguição direta, a perturbação humana ou a poluição,
possam ser minimizados.

JP

Estrada ao longo do planalto de Sagres. Zonas abertas e planas com agricultura extensiva são o habitat típico das aves
estepárias como o sisão.

16 17
Costa Vicentina
Sendo esta parte do território continental ca- Atividades
racterizada por uma insolação muito elevada e
Caminhadas
temperaturas altas no verão, as zonas húmidas
de água doce como as lagoas temporárias Via Algarviana: percurso de longa distância, com
e pequenos cursos de água, são habitats cerca de 300 km que liga o Cabo de São Vicente a
fundamentais para a sobrevivência de muitas Alcoutim. O traçado desta Grande Rota (GR13),
espécies da fauna local. As lagoas temporárias que está devidamente sinalizada, passa em muitos
suportam comunidades raras de insetos locais valiosos do ponto de vista natural, atraves-
aquáticos, para além de uma grande variedade sando cinco Sítios Natura 2000 e três áreas protegi-
de anfíbios como a rela-meridional ou o sapo- das. Para mais informações consultar o website
www.viaalgarviana.org
-de-unha-negra e são locais de alimentação
Juncal para aves como as garças, a cegonha-branca e Maria Vinagre e Rogil: embora sem percursos
a narceja. São também o refúgio de crustá- sinalizados, na envolvente da povoação da Esteveira
ceos como o camarão-girino, uma espécie (Maria Vinagre) existe uma rede de caminhos agríco-
adaptada a este meio e cujos ovos só eclodem las e de pé-posto ao longo da qual é possível obser-
quando as condições do meio são adequadas. var o mosaico agrícola da região, os matos dunares
com urzais e sargaçais, os barrancos escavados e,
junto ao mar, o recorte da costa com as suas escar-
pas e palheirões. A sul do Rogil, existe um percurso Marca sinalizadora da Via Algarviana (GR13) em Sagres.
formalizado, incluído na Rota Vicentina (rota que
liga São Vicente a Santiago de Compostela), com
características semelhantes. Para mais informações
consultar o website www.rotavicentina.com

Pontal da Carrapateira: o Trilho das Marés é um


percurso sinalizado com início no restaurante O
A rela-meridional é um dos anfíbios que utiliza as lagoas Sítio do Rio; subindo até ao pontal da Carrapateira
temporárias. alcança-se ampla vista sobre a foz da ribeira da Car-
rapateira e a Praia da Bordeira, sendo também pos-
sível observar as comunidades vegetais das arribas.
Parte deste trilho circular de 19 km circunda o Medo
do Pontal e o Medo das Angras, um sistema dunar
com matagais de zimbro. Seguindo este percurso
Enseada do portinho de pesca do Forno.
para sul, na direcção da Praia do Amado, é possível
visitar os admiráveis portinhos de pesca artesanal da
Zimbreirinha e do Forno (alojados de forma precária Acessos
nas paredes verticais das arribas) e um sítio arqueo-
lógico com vestígios de um povoado islâmico de As povoações de Maria Vinagre e do Rogil desen-
pescadores do século XII. volvem-se ao longo da EN 120, a norte de Aljezur;
para aceder aos percursos seguir os acessos no
Passeios de burro: disponíveis em toda a Costa sentido do mar, procurando a sinalização da Rota Vi-
Vicentina, podendo ser consultada a Associação centina (no Rogil) ou as indicações para a Esteveira
Casas Brancas. (em Maria Vinagre).

Parapente: a Torre d’Aspa, antiga atalaia da qual não Pontal da Carrapateira: a partir da EN 268, na
restam vestígios, é o ponto mais alto da Costa Vicen- saída norte da povoação da Carrapateira, virar na
tina. As suas arribas altas e escarpadas são propícias direção do mar, seguindo a indicação para a Praia
à prática de parapente. da Bordeira.

Observação de libélulas e libelinhas: península Torre d’Aspa: em Vila do Bispo, tomar o acesso ao
de Sagres (outono) e linhas de água (todo o ano). Perímetro Florestal que se inicia junto do Mercado,
Os locais de observação podem ser consultados no seguindo as indicações para Torre d’Aspa.
Lagoa temporária próximo de Vila do Bispo.
website http://nsloureiro.pt/dragonflies/

18 19
Costa Vicentina

a Diplotaxis vicentina ou o tomilho-do-mar.


Associadas aos arenitos carbonatados estão
Paleodunas espécies únicas e raras como Avenula hackelli,
Chaenorrhinum serpyllifolium subsp.
lusitanicum e Biscutella vicentina, endemismos
do Sudoeste com populações muito sensíveis.

A época mais favorável para observação da


vegetação dunar é a da floração, na primavera,
momento em que as dunas se revestem de
um fabuloso mosaico de cores e em que o
perfume das plantas aromáticas se intensifica. Biscutella vicentina

Imponentes campos dunares (medos) em Monte Clérigo.

Sobre o planalto da Costa Vicentina, suspen- planalto vicentino e constituem autênticas


sos no topo das arribas ou cavalgando as ilhas terrestres, de pH mais alcalino que os Dunas suspensas sobre a arriba na Praia da Pipa.
vertentes marítimas, encontram-se notáveis terrenos circundantes, diversificando o elenco
campos dunares designados localmente por florístico das areias. Arenitos na Praia da Amoreira
medos (pronunciando-se médos). Em alguns
Na margem norte da ribeira de Aljezur desen-
locais, os medos crescem muito em altura, A vegetação das paleodunas é rica em
volve-se um amplo sistema dunar que avança
formando imponentes cristas dunares que endemismos botânicos e aos matagais altos vale adentro, colonizado por espécies típicas
se sucedem por extensas áreas cobertas por de zimbro associam-se espécies endémicas das dunas móveis como o estorno. Já a vertente
matagais arborescentes de zimbro. como a Dorycnium hirsutum subsp. prostratum rochosa da margem sul da ribeira encontra-se re-
(abrigada sob as grandes moitas de zimbro), vestida por areias mais estabilizadas onde afloram
Nestas formações dunares, podem observar-se notáveis formações rochosas da duna fóssil.
afloramentos rochosos da duna fóssil (paleo-
duna), entretanto cobertos por areias mais A rocha dura acinzentada que constitui estes
arenitos dunares terá resultado da cimentação
recentes. As paleodunas testemunham uma
do carbonato de cálcio lixiviado das conchas
actividade eólica intensa e remota, tendo sido marinhas pela água da chuva. A estrutura
formadas há milhares de anos sob condições rendilhada que estas rochas apresentam deve-se
de temperatura e precipitação elevadas. à contínua dissolução do carbonato de cálcio da rocha pelas chuvas, sendo possível observar relevos
Episódios antigos de carbonatação consolida- resultantes deste processo erosivo de que são exemplo as grutas no topo da encosta voltada a norte.
ram os sedimentos dunares, originando uma
rocha calcária rija aproveitada até há pouco A comunidade vegetal típica destas dunas consolidadas é semelhante à vegetação do barrocal algarvio
tempo para corte de mós usadas na moagem que coloniza terrenos calcários com pH idêntico, sendo comuns plantas como o carrasco, o zambujeiro
de cereais. Atualmente, estas rochas surgem ou a aroeira que, aqui, surgem em mosaico com espécies típicas das areias como a camarinha, a armeria
ou a perpétua-das-areias.
dispersas nos campos dunares ao longo do Tomilho-do-mar

20 21
Costa Vicentina
A fauna destes campos dunares é similar à en-
contrada ao longo de toda a Costa Vicentina
podendo observar-se alguns dos animais que
por aqui encontram refúgio e alimento como
Reserva Biogenética de Sagres
o coelho ou a raposa.

Uma das espécies ubíquas que pode ser vista


nas dunas é o lagarto, o maior lacertídeo
existente em Portugal. Alimenta-se de inverte-
brados como escaravelhos ou borboletas que
por aqui abundam, podendo ainda capturar
lagartixas e pequenos mamíferos.

Lagarto

Atividades
Caminhadas

Praia da Amoreira: não existindo percursos assi-


nalados, é possível caminhar ao longo do passadiço
existente nas dunas da praia e depois pelo areal
até à foz da ribeira de Aljezur. Subindo a margem
direita da ribeira para montante, observam-se tanto
Matos costeiros com zimbro e esparto na Reserva Biogenética de Sagres.
as dunas móveis que se estendem para o interior a
partir da praia, como a imponente vertente rochosa
da margem esquerda da ribeira, revestida por areias A península de Sagres faz parte da Rede de interesse para a investigação botânica,
estabilizadas e bem vegetadas que fossilizam o Europeia de Reservas Biogenéticas desde considerando-se que reúne condições bioló-
antigo sistema dunar. Observando atentamente, 1988. Esta é uma região com características gicas e ecológicas únicas. A justificar esta
descobrem-se pequenas grutas na faixa superior dos biogeográficas únicas, ponto de encontro distinção está a ocorrência de um singular
afloramentos rochosos. Arenitos talhados para a extração de mós para moagem.
entre o planalto arenoso do sudoeste e o bar- conjunto de comunidades vegetais marcadas
rocal calcário a sul. pelo cruzamento das influências atlântica,
Praia do Monte Clérigo: não existem percursos as-
mediterrânica e maghrebina, e que se dispõe
sinalados - a) Estacionando no parque de merendas
do pinhal da Praia do Monte Clérigo, e seguindo a Acessos A influência oceânica é marcante: abruptas em mosaico no restrito espaço geográfico
pé na direcção do mar, é possível percorrer o cami- arribas em toda a fácies marinha dos pro- da Reserva: a vegetação rupícola das arribas
Praia da Amoreira: a partir do acesso norte a Aljezur
nho que segue junto à crista das arribas, tanto para montórios de Sagres e São Vicente e ventos fustigadas pelos ventos fortes e salinizados; os
(EN 120), seguindo no sentido da Praia da Amoreira.
norte (vista sobre o Monte Clérigo) como para sul A entrada para o passadiço sobrelevado das dunas carregados de sal que podem soprar a mais matagais arborescentes e os matos pré-de-
(sistema dunar). As arribas altas proporcionam uma situa-se junto ao parque de estacionamento. de 100 km/h, fazem desta uma das áreas mais sérticos sobre solos calcários e terra rossa; e
vista panorâmica sobre a linha de costa, permitindo expostas da Europa. as comunidades dos campos paleodunares
também observar as formações dunares que se Praia do Monte Clérigo: a partir do acesso sul a suspensos sobre as arribas.
desenvolvem no topo destas arribas, as quais se Aljezur (EN 120), seguindo no sentido de Monte Situando-se no extremo sudoeste da Europa,
notabilizam na proximidade da Praia da Pipa (troço Clérigo. Após passar pela praia, seguir no sentido
terminal do percurso); b) Partindo do areal da praia e este local designado por Estrabão* como Nas vertentes das arribas calcárias e próximo
Arrifana - Vale da Telha. Estacionar junto ao pinhal e Promontorium sacrum e assinalado como san- do nível do mar surge uma comunidade
caminhando para norte na baixa-mar, é possível, se parque de merendas do Monte Clérigo.
as condições de ondulação o permitirem, alcançar tuário de cultos pré-romanos, tem sido alvo de rupícola aerohalina dominada por espécies
uma área rebaixada da arriba, onde, para além dos Recomenda-se caminhar e permanecer apenas sobre os pas- peregrinações desde tempos imemoriais, re- de Limonium, Plantago e de Armeria, algumas
organismos típicos da faixa entre-marés, se podem sadiços e trilhos marcados, já que o pisoteio das dunas é uma vestindo-se até hoje de misticismo. É também delas endémicas desta costa. São também
observar diversas tentativas de corte de mós (para das principais causas da degradação das mesmas. mundialmente conhecido como sítio clássico comuns espécies halonitrófilas, com maior
moagem de cereais) nos arenitos dunares.
* Historiador e geógrafo grego; autor da Geographia (datada de 23 d.C.), obra relativa à história e descrições de povos e locais do mundo que lhe
era conhecido à época.
22 23
Costa Vicentina
exigência de azoto (que aqui provém dos esta comunidade abriga os endemismos
dejetos das aves marinhas), como a barrilha, a algarvios Bellevalia hackelli e Serratula monardii
salgadeira e o espinhoso Lycium intrincatum. subsp. algarbiensis; nas clareiras destes matos
secos podem ser encontradas espécies raras
No topo das arribas, uma comunidade de e/ou ameaçadas como a delicada violeta Viola
matos rasteiros coloniza o lapiás calcário, arborescens.
onde domina a Astragalus vicentinus, espécie
endémica desta costa. Mais afastados da
influência marinha, surgem os matos pré-
-desérticos endémicos com os tojos Ulex
erinaceus e Genista algarbiensis e a esteva-de-
Astragalus vicentinus -sagres, e os matagais de zimbro e carrasco Esteva-de-sagres
sobre calcários compactos.
Adaptações curiosas
Nos locais onde as areias cobrem o topo do Estas comunidades vegetais integram plantas Vicente, onze espécies estão dadas como plantas
planalto, dominam os zimbrais dunares onde bem adaptadas, a nível morfológico e fisiológico, decisivas para a conservação nacional, e mais
é possível observar os endemismos Dorycnium à rudeza do meio, em particular às condições de uma dezena encontra-se protegida ao abrigo da
vento existentes. A adaptação morfológica mais Diretiva Comunitária Habitats. Os habitats defini-
prostratum, Diplotaxis vicentina e a Biscutella
evidente é o porte rasteiro dos arbustos, dando dos pelas comunidades das arribas com espécies
vicentina. Na orla destes matagais surgem os origem a moitas arredondadas e densas no caso de Limonium spp, pelas friganas de Astragalus
matos com camarinha e as formações endémi- dos tojos ou da Astragalus vicentinus. Também vicentinus, pelos matagais de Juniperus spp. e pelos
cas do Sudoeste de tojais-tomilhais com arbustos como o zimbro ou a aroeira, podendo matos pré-desérticos de Ulex erinaceus e Cistus
Thymus camphoratus e Stauracanthus atingir porte arborescente, desenvolvem aqui for- palhinhae, encontram-se protegidos ao abrigo da
vicentinus. mas atapetadas. Outra adaptação é o exuberante Diretiva Habitats.
revestimento piloso destas plantas, que as protege
Genista algarbiensis
Na Península de Sagres, mais para o interior, dos efeitos dessecantes do vento, visível em O delicado equilíbrio que caracteriza esta comu-
plantas como a Asteriscus maritiums ou a Teucrium nidade única determina também a sua vulnerabi-
instala-se a vegetação mediterrânica típica dos
vicentinum. Plantas produtoras de óleos aromáti- lidade. Pequenas alterações introduzidas no meio
solos calcários do barrocal do Algarve central. cos e resinas, como o tomilho-do-mar e a podem assumir graves consequências. Algumas
Esta comunidade, que aqui integra vários en- esteva-de-sagres, produzem aqui maior quanti- das principais ameaças consistem na abertura de
demismos vicentinos, dispõe-se em cabeços dade de óleos essenciais. trilhos, na circulação de veículos motorizados e na
calcários que alternam com depressões preen- recolha de espécimes de plantas raras.
chidas por terra rossa. A paisagem é marcada Ao todo, e apenas na região de Sagres - São
por uma sucessão de colinas claras onde
ondula a gramínea Stipa tenacissima, acom-
panhada por zimbro, carrasco e palmeira-anã.
Nas depressões, onde o solo é mais profundo,
Zimbro

Adaptação da vegetação ao vento em que as moitas adquirem uma forma compacta e arredondada.
Ulex erinaceus Palmeira-anã junto ao forte de St.º António de Beliche.

24 25
Costa Vicentina
Esta zona, entre o cabo de São Vicente e Atividades
Sagres, é um dos sítios mais interessantes
para observar a migração outonal de aves da Caminhadas
Europa para África. Muitas espécies aqui se
concentram, alimentam e descansam antes de A rede de caminhos de terra batida ou de pé-posto
empreenderem o resto da migração, direta- existente na zona permite percorrer os principais
mente para África, ou ao longo da costa algar- pontais, quase sempre junto ao mar; junto ao
Cabo de São Vicente e para norte da EN 268, esses
via rumo ao Estreito de Gibraltar. Os meses de
caminhos dão acesso a uma paisagem invulgar no
setembro e outubro são particularmente contexto algarvio: campos abertos com culturas ar-
generosos para quem gosta de observar aves, venses e pastagens, encaixados entre as formações
não sendo raro identificar mais de uma cen- dunares do Pinhal Santo (para o interior) e os matos
tena de espécies num só dia. Este é também costeiros das arribas.
um dos sítios ideais para ver aves de rapina
em Portugal pois nessa época podem ser Praia do Telheiro: situada imediatamente a norte do
observadas desde as mais comuns, como a Águia-calçada. Nidificante em zonas florestais é uma pre-
cabo de São Vicente, esta praia é um sítio clássico
de interesse geológico, marcando a passagem dos
águia-calçada, peneireiro ou a águia-cobreira, sença abundante em Sagres durante a migração outonal.
calcários claros de Sagres para os xistos negros
muitas vezes em números elevados, até as do sudoeste e exibindo um afloramento do Grés
raríssimas águia-imperial ou águia-real. vermelho de Silves em discordância angular com os
xistos e grauvaques. De assinalar também as diversas
Para além das gaivotas, sempre presentes, o plantas aromáticas que colonizam as arribas.
topo das arribas é também um local privile-
giado para observar algumas aves marinhas Fortaleza de Sagres: existe um percurso circular na
que nesta zona passam relativamente perto da Ponta de Sagres, ao qual se acede pela Fortaleza, e
Estrada de acesso à Fortaleza de Sagres.
que proporciona amplo panorama sobre a linha de
costa, como é o caso do ganso-patola, torda-
costa, bem como a observação das comunidades
-mergulheira, moleiro ou o pato-preto. vegetais típicas das arribas. Observação da migração outonal de aves: o Fes-
tival de Observação de Aves de Sagres, que ocorre
Um caso interessante é a presença regular Ciclismo: existe uma via ciclável sinalizada que desde 2010 no princípio do outono, é uma boa
de gralha-de-nuca-cinzenta no cabo de São percorre toda a Península de Sagres, junto à EN 268. oportunidade para participar em atividades relacio-
Vicente. Trata-se de uma espécie que nidifica Este troço ciclável faz parte da Ecovia do Litoral, um nadas com a observação de aves e a conservação
em zonas rochosas e construções antigas (e.g. percurso de 214 km que liga o Cabo de São Vicente da natureza.
muralhas de castelos) e que utiliza este local a Vila Real de St.º António, atravessando 12 conce-
O peneireiro-de-dorso-malhado é uma ave de rapina
lhos, ao longo da costa sul do Algarve.
para se alimentar e nidificar. residente e comum na Costa Vicentina.

Observação de aves em Sagres.

Acessos
Os primeiros quilómetros da Ecovia do Litoral, que se inicia
Gaivota-de-patas-amarelas. Ave abundante em todo o litoral Gralha-de-nuca-cinzenta no Cabo de São Vicente, são feitos ao longo da EN 268. Como chegar: pela EN 268 até Sagres.
costeiro.

26 27
Costa Vicentina

Estuários e Meio Marinho


As principais ribeiras que correm na Costa da foz com tendência para o estabelecimento
Vicentina, Seixe, Aljezur e Bordeira, formam na de sistemas lagunares.
proximidade da foz sistemas estuarino-
-lagunares aos quais se associam extensos A exemplo de outros estuários algarvios, em
areais e campos dunares. Estes areais são Seixe e Aljezur podem observar-se teste-
formados tanto pela acumulação de sedi- munhos da antiga produção de arroz por
mentos de origem continental, transportados canteiros, os quais foram prontamente
em regime fluvial, como por sedimentos de colonizados pelos sapais após o abandono da
origem marinha resgatados de bancos de areia orizicultura.
submarinos pela acção contínua das correntes,
da ondulação e dos ventos costeiros. Apesar da sua pequena dimensão, estas zonas
húmidas diversificam e amenizam a paisagem
Sendo cursos de água já em fim de vida, no agreste da Costa Vicentina, cumprindo, ainda,
troço terminal destas ribeiras formam-se importantes funções ecológicas. Dão corpo
largas planícies de inundação, resultantes da a ambientes altamente produtivos os quais Aljezur - em Aljezur a ribeira corre num vale muito agricultado, enquadrado a nascente pelas faldas da Serra
deposição dos sedimentos fluviais que aí se também depuram a água que chega por via de Monchique e a poente pelo cerro que acolhe o castelo e o casario antigo da povoação. As margens da
Ribeira de Aljezur e afluentes, conservam um bosque ripícola denso e frondoso onde medram o amieiro, os
espraiam por perda de competência das águas fluvial, protegem a orla costeira do avanço
salgueiros e o freixo. Após contornar o cerro escarpado que a separa do mar, a Ribeira de Aljezur espraia-se
em transportá-los até ao mar. Deste modo, a do mar e de inundações, acolhem a desova num vale amplo onde mal se advinha a presença humana; aqui dominam os sapais e, mais perto da foz, os
comunicação com o mar pode tornar-se inter- e criação de peixes e moluscos, sendo ainda campos dunares da Praia da Amoreira. Diz-se desta ribeira que seria navegável à época da invasão muçul-
mitente surgindo episódios de assoreamento fundamentais para a sobrevivência de muitas mana da Península Ibérica e até à reconquista cristã por D. Sancho II no século XIII, constituindo Aljezur um
aves aquáticas. importante porto fluvial.

Seixe - a Ribeira de Seixe que no seu troço terminal delimita o Alentejo do Algarve, enquadra-se numa Bordeira - a Ribeira da Bordeira, das três a que apresenta menor expressão, atravessa zonas de várzea onde
paisagem aberta e harmoniosa, serpenteando num verdejante vale aluvionar. A várzea encontra-se bem dominam as culturas arvenses às quais se sucedem as imponentes cristas dunares da Carrapateira e um am-
organizada em hortas e pomares, os quais vão sendo progressivamente substituídos por manchas de sapal plo areal. É o curso de água que evidencia maior tendência para a colmatação da barra, formando frequen-
na direção da foz. As águas doces da ribeira encontram o mar na Praia de Odeceixe, contornando uma ampla temente lagunas junto à Praia da Bordeira.
língua de areia que permite a formação de áreas lagunares.

28 29
Costa Vicentina
Os sistemas estuarino-lagunares influenciam temperada e a atlântica tropical.
a produtividade marinha costeira já que facili- Habitantes das poças de maré
tam a entrada de nutrientes vindos de terra. Aqui circulam espécies mediterrânicas, tro-
No contexto da Costa Vicentina, as pequenas picais, subtropicais e grandes migradores
ribeiras e sistemas lagunares desempenham pelágicos, verificando-se maior riqueza em
um papel igualmente fundamental, propor- número de espécies que em localizações mais
cionando espaços de proteção, alimentação setentrionais da costa portuguesa, em particu-
e reprodução a espécies costeiras, nomeada- lar na família Sparidae. Também a flora marinha
mente das famílias Sparidae (sargos e dou- nesta região é digna de registo contando
rada), Mugilidae (taínhas), Gobiidae e Blenniidae com mais de metade das algas descritas para
(cabozes) e Serranidae (meros). Portugal Continental.

Também a diversidade de fundos marinhos, Apesar do recorte abrupto e aparentemente


com áreas de laje e rocha em mosaico com inóspito deste litoral, as pequenas enseadas e
fundos de areia e vasa, a par com acidentes baías, grutas marinhas, leixões e plataformas
geográficos como baías (Arrifana), cabos (São rochosas na zona intertidal, tornam a vida
Vicente) e ilhas (Martinhal), proporcionam um marinha, com toda a sua riqueza e diversi- Caranguejo Caboz
conjunto de habitats preciosos para o abrigo, dade biológica, mais próxima e visível a quem
alimento, desova e crescimento de juvenis de aprecie mergulhar ou passear na baixa-mar
espécies marinhas. pelas rochas.

A vida marinha na Costa Vicentina é excecio- Associados a esta riqueza biológica, mas
nalmente rica, não só pela diversidade de dificilmente observáveis da linha da costa,
ambientes costeiros e marinhos, mas também estão os mamíferos marinhos (golfinhos e
por constituir zona de transição para espécies baleias), répteis como a tartaruga-comum,
com afinidades setentrionais e meridionais aves marinhas como os painhos, alcatrazes ou
devido à confluência de três massas de pardelas, assim como alguns peixes pelágicos
água distintas: a mediterrânica, a atlântica como o tubarão-martelo ou o cação que

Lapa com cracas incrustradas. Anémona-morango

Poças de maré na Praia do Monte Clérigo. Alga verde e alga vermelha. Estrela-do-mar-espinhosa entre ouriços-do-mar.

30 31
muitas vezes se podem avistar à superfície. De
entre os mamíferos marinhos, o golfinho-
-comum é dos mais abundantes nestas águas
e, em ocasiões, pode ser visto em grande
número já que se trata de uma espécie com
comportamento gregário.

No Sudoeste a população de lontra utiliza o


ambiente marinho para se alimentar, sendo
este um comportamento raro para a espécie
no resto da Europa. Embora dependa de zonas
húmidas de água doce adjacentes, como as
Golfinho-comum
ribeiras e barrancos que lhe servem de refúgio,
a utilização do mar como área de pesca é
também um indicador da riqueza dos recursos
Acessos
haliêuticos da Costa Vicentina. Odeceixe: a partir de Odeceixe (EN 120), seguindo
na direcção da praia.
Atividades
Praia da Carreagem: a partir do Rogil (EN 120),
Contemplar seguindo no sentido da Praia da Carreagem.
Miradouros sobre os estuários: acesso sul à Praia de
Odeceixe, acessos sul e norte à Praia da Amoreira, Amoreira: a partir da entrada sul de Aljezur (EN 120),
Pontal da Carrapateira. seguindo no sentido da Praia do Monte Clérigo e
virando, já perto da praia, para norte, até ao pontal
que permite observar a Praia da Amoreira, ou, a
partir da entrada norte de Aljezur (EN 120), seguindo
na direcção da Praia da Amoreira.

Monte Clérigo: a partir da entrada sul de Aljezur


(EN 120), seguir no sentido da Praia do Monte
Clérigo.

Carrapateira: a partir da EN 268, no acesso norte à


povoação da Carrapateira, virar na direcção do mar,
seguindo a indicação de praia.

Passadiço no Pontal da Carrapateira.

Surf e Bodyboard: várias praias conforme a ex-


posição e as condições de vento e ondulação.

Mergulho: Arrifana, Baleeira (Ilhotes do Martinhal).

Observação de vida marinha (cetáceos e aves


marinhas): passeios de barco em Sagres, a partir do
Porto da Baleeira.

Observação do intertidal: na baixa-mar, em zonas


de laje rochosa como as existentes nas praias do
Monte Clérigo, da Amoreira e da Carreagem.

Aula de surf.

32
Litoral Sul

Pode ver-se aqui a última riviera mediterrânea e a


influência de todas as colonizações marítimas da
Antiguidade.

Orlando Ribeiro
Litoral Sul

Bordeira A2

125
Barlavento A22 A22
A22

Ribeira de
Alcantarilha 125

Ria de Alvor
VILA

Estuário do
Arade Praia Grande
Praia da Luz Foz da Ribeira de Praia da Marinha Caniçal de
Lagoa dos
Bensafrim Praia da Rocha Vilamoura
Salgados
Praia de Porto Baixinha
Paul de Budens de Mós

Praia da Figueira
Oceano
Atlântico

A22

Pinhal de
Rio Gilão Montegordo Praia dos Três Foz do
Pauzinhos
Rio Guadiana
Sotavento
.
Ria Formosa

125 Ilha de Cabanas


N
A22

0 5 km
Praia do Barril
Lagoa do
Almargem 125 Ilha de Tavira
Lagoa das
Dunas Duradas Rede Natura 2000
Praia do Garrão
Quinta do
Praia do Ancão
Lago
Praia da Quinta Oceano
Ria Formosa Ilha da Armona
do Lago Ludo
Praia de Faro
Atlântico

Ilha da Culatra
Ilha da Barreta
34 (Deserta)
35
Litoral Sul
Dobrando a Ponta de Sagres para sul, o am- corresponde a um litoral de arriba talhado em liga o norte da Europa à África subsariana. Já
biente torna-se mais luminoso com a influên- rochas carbonatadas de idade mais jovem, o Rio Guadiana forma um sistema estuarino
cia mediterrânica a fazer-se notar e as arribas a Miocénica, onde dominam os tons ocres e típico ao qual se associa um complexo de
acolherem praias abrigadas da enérgica ondu- as formas cársicas. Estas rochas brandas e canais, salinas e salgados alagadiços, que
lação atlântica e dos ventos fortes de noroeste. intensamente esculpidas pelas águas doces e acolhe grandes concentrações de espécies de
A linha de costa tende a atenuar-se para leste salgadas dão origem a um recortado peculiar avifauna nas épocas migratórias.
e os relevos vão sendo talhados em formações da linha de costa, sendo frequentes leixões,
geológicas progressivamente mais jovens. Os arcos, grutas marinhas e pequenas enseadas.
cerca de 160 km de litoral entre São Vicente e As baías de Lagos e de Armação de Pêra, e o
Vila Real de Santo António são notavelmente estuário do Rio Arade, lugares onde a linha de
diversificados na litologia e em ambientes cos- costa se suaviza, são dominadas por areias e
teiros. Também a ocupação humana ao longo sapais, constituindo ambientes de exceção no
da costa é desigual: a troços com escassa contexto deste litoral rochoso e acidentado.
ocupação sucedem-se centros urbanos liga-
dos ao turismo de sol e praia e várzeas com No sotavento algarvio o litoral é baixo e
produção agrícola industrializada (sobretudo arenoso, favorável à deposição de sedimentos,
pomares de citrinos e estufas). Historicamente, distinguindo-se a paisagem pela presença de
o litoral sul foi sendo habitado por populações amenas zonas lagunares e de longos cordões
piscatórias de diversos povos: fenícios, gregos, dunares colonizados por matos e pinhais
cartagineses, romanos e árabes, atraídos pelas litorais que albergam espécies endémicas,
condições favoráveis (baías abrigadas e bons algumas protegidas.
portos de desembarque) para as trocas co-
merciais e culturais. Este troço de costa notabiliza-se pela presença
Arco em arriba calcária do barlavento central. de duas zonas húmidas, a Ria Formosa e o
Em Sagres, e até perto da Praia da Figueira, estuário do Guadiana, as quais são decisivas
as arribas são claras, talhadas em calcários do tanto para a riqueza e diversidade biológica
Jurássico e de perfil vertical, dando origem a da região como para a economia local. O
relevos imponentes e resistentes à erosão; sistema lagunar da Ria Formosa é a maior zona
entre a Figueira e Porto de Mós o litoral torna- húmida do sul de Portugal, constituindo um
Dunas na Ria Formosa.
-se mais brando e menos escarpado, domi- elo estratégico na rede de zonas húmidas que
nando as formações margosas mais recentes
do Cretácico. A linha de costa apresenta
exígua ocupação humana até às imedições da
Praia da Luz e a paisagem é aberta, suave-
mente modelada pelo recorte dos barrancos
que correm para sul e desembocam em
pequenas praias de areia e calhau rolado.
Nas encostas verdejantes destes barrancos
crescem matagais exuberantes de zimbro e
carrasco, abrigados do ambiente semi-árido
que se faz sentir neste território. A contrastar
com a claridade desta faixa costeira, surge a
Rocha Negra na Ponta das Ferrarias (Praia da
Luz), um enorme maciço eruptivo vulcânico
de cor negra e densa, com origem na serra de
Monchique.
Rocha Negra na Ponta das Ferrarias. Rocha Baixinha (Albufeira). Na transição do barlavento rochoso para o sotavento arenoso as arribas tornam-se mais brandas,
A restante faixa costeira do barlavento algarvio
talhadas em arenitos e siltitos mal consolidados, onde a água da chuva vai escavando ravinas e barrancos.

36 37
Litoral Sul
São vários os serviços prestados por estes am-
bientes de elevado valor estético, patrimonial
Zonas Húmidas Costeiras e histórico: depuração das águas fluviais, con-
trolo de cheias e proteção da linha de costa,
regulação bioclimática, refúgio de biodiversi-
dade e habitat privilegiado de fauna e flora,
produção de recursos, entre outros. Sendo
dos sistemas mais produtivos em biomassa do
planeta, sobretudo se a comunicação com o
mar é regular, asseguram também a desova
e a criação de juvenis de diversas espécies
de peixes, crustáceos e moluscos, garantindo
a manutenção das cadeias alimentares no
oceano.
O guincho é uma pequena gaivota comum ao longo do
São ecossistemas naturalmente complexos e litoral.
heterogéneos, onde sobressai a organização
em mosaico das suas unidades estruturais: es-
paços lagunares, canais de circulação de água,
zonas de deposição de sedimento e manchas
de vegetação que se diversifica de acordo
com a natureza do substrato e a proximidade
da água. Esta diversidade estrutural, bem
como o efeito de orla resultante do contato en-
tre os vários ambientes, gera riqueza biológica
e torna-se extraordinariamente atraente para
a fauna.
O Ludo, integrado no Parque Natural da Ria Formosa, comporta impressionante biodiversidade sendo um dos locais mais
interessantes para observar aves aquáticas, em particular no outono e inverno.
Uma grande diversidade de ecossistemas
aquáticos valorizam a faixa costeira sul do
A região algarvia exibe um conjunto de zonas sido excessiva e muitas delas foram drenadas, Algarve; no barlavento os mais expressivos
húmidas costeiras de diversas géneses e aterradas e fragmentadas, ou são exploradas serão o Estuário do Arade e a Ria do Alvor, mas
fisionomias, cuja riqueza em termos de com- de uma forma que não permite um estado igualmente importantes são o Paul de Budens,
plexidade e importância ecológica contrasta de conservação favorável das comunidades o Estuário da Ribeira de Bensafrim, o Caniçal
com a das zonas húmidas do interior, na sua biológicas. de Vilamoura (na foz da Ribeira de Quarteira)
maioria albufeiras e pequenos açudes. O clima e uma série de pequenas lagoas costeiras
mediterrânico condiciona fortemente estes O conhecimento adquirido sobre estes das quais se destacam a Lagoa dos Salgados
ambientes, ao induzir acentuado défice hídri- ambientes e um esforço crescente de (em Silves), a Lagoa do Almargem e a Lagoa
co e um regime hidrológico de carácter tor- esclarecimento e sensibilização por parte da das Dunas Douradas (ambas em Loulé); já a
rencial, sendo marcante a influência oceânica comunidade científica, tem invertido esta sotavento é o sistema estuarino-lagunar da Ria
nas zonas húmidas do litoral. tendência evidenciando o óbvio: os espaços Formosa que marca a paisagem numa exten- A cistanca é uma espécie vistosa que parasita as raízes de
de transição entre o meio terrestre e marinho, são de cerca 60 km de linha de costa com as plantas de sapal. A floração ocorre num curto período de
tempo no início da primavera.
Os terrenos inundáveis no litoral foram his- onde as águas doces e salgadas se combinam, suas lagunas, ilhas barreira, dunas e sapais, e,
toricamente tomados por espaços sem valor, constituem ambientes de essencial importân- junto à fronteira, a foz daquele a que chamam
áreas insalubres que deveriam ser recuperadas cia biológica e ecológica, desempenhando um o grande rio do Sul, o Guadiana.
para outros fins, agrícolas ou urbanos. No papel fundamental no equilíbrio dos ecossiste-
Algarve, onde a faixa costeira é muito cobiça- mas contíguos.
da, a pressão sobre as zonas húmidas tem

38 39
Litoral Sul

Ria Formosa
A maior zona húmida do sul de Portugal Dado o regime torrencial do rio e ribeiras, a
espraia-se por quase 11.000 hectares ao longo contribuição de água doce para o sistema é
de cerca de 60 km de costa, entre o Ancão modesta, sendo a influência oceânica signifi-
(Loulé) e a Manta Rota (Vila Real de Santo An- cativa.
tónio), formando um sistema estuarino-lagu-
nar onde vasta área de sapais, ilhotas e canais Apesar de se verificar moderada concentração
é protegida por robustos cordões arenosos, urbana ribeirinha, com Faro, Olhão e Tavira a
os quais formam duas penínsulas (Ancão e beneficiarem de localização privilegiada na
Cacela) e cinco ilhas barreira (Barreta, Culatra, orla desta zona húmida, a Ria Formosa tem
Armona, Tavira e Cabanas). As barras entre as mantido razoável qualidade ambiental. Clas-
ilhas permitem a comunicação com o mar, sificada como Reserva Natural nos anos 70 do
sendo que cerca de 70 % do volume de água século passado, viu este estatuto de protecção
na ria é diariamente renovado em cada ciclo ser elevado a Parque Natural em 1987, por via
de maré. A norte, a ria recorta-se em salinas da crescente necessidade de regulação da
e tanques, bancos de areia, terra firme e pela pressão turística e urbanística, bem como do
foz dos cursos de água que nela desaguam, ordenamento do território envolvente. A morraça é uma espécie-chave nestes ambientes: trata-se de uma planta pioneira a colonizar os bancos de vasa à cota do
nível médio do mar, formando extensos relvados que contribuem para a estabilização dos sedimentos e abrem caminho à
sendo o mais expressivo o Rio Gilão, em Tavira. instalação das outras espécies do sapal.

Origem da Ria Formosa A Ria Formosa encontra-se também clas-


sificada como Zona Húmida de Importância
Há 18.000 anos atrás, o mar encontrava-se cerca Internacional (Sítio Ramsar*) e integra o Sítio
de 120 m abaixo do nível atual, deixando a de Importância Comunitária Ria Formosa-
descoberto larga extensão da plataforma conti- -Castro Marim e a Zona de Proteção Especial
nental. Grandes quantidades de areia ter-se-ão (ZPE) Ria Formosa, da Rede Natura 2000.
acumulado ao longo da base desta plataforma,
formando cordões arenosos. Na sequência do
degelo e da subida do nível do mar, os cordões Do mar para o interior sucedem-se praias, du-
foram inundados pela vertente continental, nas, bancos de vasa, sapais, canais, bancos de
formando as ilhas barreira que posteriormente areia, salinas, e áreas de entrada de água doce.
migraram ao longo da plataforma no sentido Esta enorme variedade de habitats, orga-
de terra. Em simultâneo, e à medida que foi nizada em mosaico, e a extensão dos mesmos,
sendo depositado material aluvionar no espaço permite a diversificação das comunidades
lagunar, formaram-se sapais e ilhotas no interior biológicas. Plantas e animais distribuem-se
da laguna. A constante deposição de sedimento
em função das condicionantes ambientais:
aumenta o isolamento em relação ao meio
marinho e acelera a colmatação da ria, a qual gradiente de salinidade, tempo de imersão em
terá tendência, à medida que envelhece e sem água salgada, proximidade às barras, presença
que se intervenha na sua evolução natural, para de focos de poluição, natureza do substrato,
adquirir progressivamente características mais tipo de coberto vegetal e abundância de
próprias de ambientes terrestres. recursos alimentares, ente outros.

A elevada produtividade biológica da Ria


Vista sobre a Ria Formosa.
* Os Sítios Ramsar resultam de um tratado intergovernamental denominado Convenção sobre Zonas Húmidas, adotado em
2 de Fevereiro de 1971 na cidade iraniana de Ramsar. Este tratado visa a conservação e o uso racional das zonas húmidas a
nível global.

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Litoral Sul
Formosa reflete-se em todos os seus ambien- mosa, faz dela um elo importante na rede de Camão (Porphyrio porphyrio)
tes, sendo especialmente visível nas comu- zonas húmidas que se estende desde o norte
nidades que habitam os fundos arenosos e da Europa até à África subsariana, sendo um
lodosos da ria, as quais podem apresentar ponto chave de paragem para as aves aquáti-
populações muito abundantes. É o caso de cas em movimento entre os dois continen-
anelídeos como as poliquetas, dos crustáceos, tes. A avifauna é de facto um dos principais
dos moluscos gastrópodes (e.g. lapas, búzios e atrativos desta zona húmida, sendo mais de
lesmas-do-mar), e ainda dos bivalves, muitos 200 espécies registadas todos os anos, muitas
explorados comercialmente como a amêijoa- delas com elevado estatuto de proteção. Esta
-boa, o lingueirão ou o berbigão. riqueza biológica resulta da disponibilidade
alimentar existente e da extensão e diversi-
A presença de peixes na ria é muito signifi- Mariscador. A Ria Formosa é a principal fonte dos bivalves dade dos ambientes que compõem a zona
cativa, tendo já sido contabilizadas mais de consumidos em Portugal. húmida.
140 espécies. Muitos destes peixes vêm à ria
desovar e criar: é o caso do sargo, do robalo, Durante a época de invernada, o espaço lagu-
do linguado, ou do salmonete, espécies com nar e ambientes adjacentes oferecem abrigo
elevado valor comercial. Para além de abrigo e alimento a milhares de aves aquáticas como
e alimento, a ria oferece também proteção o flamingo, o colhereiro ou os patos, entre
aos peixes juvenis, já que a presença dos outras; logo a seguir ao Tejo, é a zona húmida
predadores que vivem no litoral adjacente que concentra maior número de limícolas
é dificultada pelas condições ambientais na invernantes. Durante as épocas de migração
ria (correntes, efeito das marés, constante e invernada estão também presentes aves de
alteração dos fundos e dos parâmetros físico- rapina que exploram a abundância de recur-
-químicos). sos alimentares.
Nos anos 80 do século passado, o Ludo foi o
Os peixes que aqui ocorrem podem ser espé- Berbigão A ria constitui também um importante sítio último reduto do camão, um ralídeo adaptado
cies que completam o seu ciclo de vida no in- para a nidificação de aves aquáticas. O bor- a zonas palustres com abundante vegetação
terior da ria, como é o caso do cavalo-marinho relho-de-coleira-interrompida e a chilreta aquática, em particular tabúa que é um dos seus
ou do peixe-rei, podem ser migradores como alimentos preferidos. Desde então, tem coloni-
nidificam no cordão dunar e salinas, enquanto
zado pequenas zonas húmidas a poente da Ria
a enguia, ou ainda, utilizar a ria na fase juvenil que os ambientes de água doce e salobra Formosa, em virtude da adoção de medidas de
migrando em adultos para o mar, como o sustentam a criação de anatídeos, garças, mer- proteção e da criação de novas lagoas, algumas
sargo ou o robalo. Outros peixes, como a raia, gulhões, e de ralídeos como o camão. No am- inseridas em campos de golfe. O seu estatuto
o peixe-aranha ou o carapau, entram ocasio- biente lagunar salgado, entre ilhotas cobertas de proteção mantém-se vulnerável devido à
nalmente na ria, restringindo a sua presença à de vegetação de sapal, criam a garça-branca pequena população, à fragmentação do seu
proximidade das barras de maré. e o colhereiro. É também nestes sapais que a habitat e às ameaças que subsistem sobre zonas
cegonha-branca, uma das espécies ameaça- húmidas sem estatuto de proteção. É o símbolo
A estratégica situação geográfica da Ria For- do Parque Natural da Ria Formosa.
das a nível europeu, se alimenta deslocando-
-se a partir dos seus ninhos, muitos deles
construídos em zonas urbanas adjacentes à
ria, em Faro, Olhão, ou Tavira. invernantes, podendo observar-se quase todas
as espécies de anatídeos invernantes em
O Ludo, na extrema poente da ria e onde a Portugal, assim como o flamingo, a galinha-
Ribeira de S. Lourenço desagua, concentra -de-água e os mergulhões. O mergulhão-de-
extensões significativas de salinas, sapais e -crista, o pato-de-bico-vermelho, o camão e
A ria é um importante viveiro natural protegendo alguns esteiros, circundados por campos agrícolas, o zarro são algumas das muitas espécies que
peixes nos seus estados larvares e juvenis.
pinhal, um campo de golfe, e escassa pertur- aqui nidificam.
A boca-cava-terra é uma espécie comum nos bancos bação humana. Este será talvez dos pontos
de vasa da ria. Uma das pinças é mais desenvolvida nos com maior abundância de aves aquáticas Dos outros animais que também ocorrem
machos.

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Litoral Sul

na ria destacam-se o toirão e a lontra, dois


mamíferos adaptados ao meio aquático e que
Aves da Ria Formosa aqui são registados regularmente, ou ainda as
duas espécies de cágados da fauna nacional,
podendo estes ser facilmente observados
na margem de ribeiros ou lagoas com maior
influência de água doce, na zona do Ludo. O
cágado-de-carapaça-estriada é a espécie mais
rara, coexistindo em muitos ambientes aquáti-
cos com o cágado-mediterrânico.

Cágado-de-carapaça-estriada

Atividades
Passeios turísticos de barco Os embarques fazem-se a partir de Faro (Cais da
O vasto espaço lagunar da Ria Formosa pode ser Porta Nova), Olhão, Fuseta, Santa Luzia e Cabanas
Garajau Pato-real visitado de barco durante todo o ano, estando de Tavira.
disponível considerável oferta de passeios que
incluem atividades turísticas variadas desde a visita Desportos náuticos
às ilhas barreira, os desportos náuticos ou a pesca A Ria Formosa oferece condições ímpares para a
desportiva, até ao turismo de natureza com guias prática de vela, canoagem, ou windsurf, podendo ser
especializados, para observação da vegetação, de contactados para o efeito os clubes navais de Faro,
aves aquáticas e de golfinhos. Olhão, Fuseta e Tavira.

Os passeios de barco permitem percorrer os canais


da ria, onde se oferecem vistas privilegiadas sobre
sapais e ilhotes com a típica vegetação de salgados
e fauna associada, desembarcar em locais isolados,
alcançar as ilhas barreira e visitar as suas barras.
Para além dos inúmeros valores naturais a observar,
destacam-se a comunidade piscatória da Culatra e
a azáfama do seu porto de pesca, os Hangares (as
Pilrito-das-praias Gaivota de Audouin ruínas de uma base militar construída na 1.ª Guerra
Mundial) e o ponto mais a sul de Portugal Continen-
tal - o Cabo de Santa Maria (Ilha da Barreta).

Prática de vela.

Caminhadas

Trilho de São Lourenço: percurso sinalizado de


cerca de 4 km (ida e volta) que percorre a zona
limítrofe da Quinta do Lago, entre os sapais e o
campo de golfe, até à praia. Inclui dois observatórios
de aves, um dedicado ao lago de água doce do
golfe, outro com vista sobre os esteiros salinos da
ria. Este trilho situa-se na zona do Ludo, a qual é
possível percorrer caminhando ora sobre os muretes
Corvo-marinho-de-faces-brancas Garça-real dos esteiros da ria, ora pelo pinhal, observando larga
extensão de laguna, salinas, sapais e a foz da Ribeira
Porto de pesca da Culatra. de S. Lourenço.

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Litoral Sul

Atividades
Ilhas barreira: os cordões arenosos das ilhas são
atravessados por uma rede de passadiços sobreleva-
Observação de libélulas e libelinhas: O Ludo é con-
siderado um hotspot para observação destes insetos.
Ria de Alvor
dos e caminhos que permitem tomar contacto com
o ambiente dunar e com a praia.

Educação ambiental

A Quinta do Marim, onde funciona a sede do


Parque Natural da Ria Formosa, tem um trilho sinali-
zado que passa por alguns ambientes característicos
desta área protegida (sapal, lagos, salinas, pinhal) e
oferece vistas panorâmicas sobre a ria. O circuito in-
clui um antigo moinho de maré e ruínas romanas de
salga de peixe. No Centro de Educação Ambiental
de Marim exibem-se exposições e está disponível
informação variada sobre a Ria Formosa. Num outro Acessos
edifício da quinta funciona o Centro de Recuperação
e Investigação de Animais Selvagens da Ria Formosa Ludo e Trilho de S. Lourenço: acessos através da
(RIAS) dedicado à recuperação de animais selvagens, Quinta do Lago (ponte para a praia), ou a partir da
investigação e educação ambiental. Quinta do Eucalipto (estrada de Faro para o aero-
porto) seguindo para poente em caminho de terra
batida, na direção da Quinta do Lago.

Parque Ribeirinho de Faro: acesso junto à doca


de Faro ou na entrada da cidade, junto ao Teatro
Municipal.

Praia de Faro: acesso viário a partir da estrada de O mais importante complexo estuarino- A perda de competência dos cursos de água
Faro para o aeroporto, seguindo as indicações para -lagunar do barlavento algarvio, a Ria de Alvor, na sequência das obras hidráulicas referidas,
a praia. recorta-se na ampla baía arenosa de Lagos. determina a aceleração do assoreamento do
Esta zona húmida surge na confluência de corpo lagunar, já que a força dos caudais não
Ilha da Barreta (Ilha Deserta): acesso de barco a
partir do cais da Porta Nova, em Faro. quatro linhas de água, as ribeiras de Odiáxere é suficiente para arrastar os sedimentos de
e Arão a poente, com origem na Serra de Es- origem fluvial até ao mar. Foi neste contexto
Moinho de maré da Quinta do Marim.
Ilhas do Farol e Culatra: acesso de barco a partir pinhaço de Cão, e as ribeiras do Farelo e Torre que, na década de 90 do século passado,
do cais da Porta Nova (em Faro) ou do cais de em- a nascente, que drenam a vertente sul da Serra foram realizadas diversas obras na ria, incluin-
Observação de aves barque de Olhão. de Monchique. A área lagunar, com os seus do a construção de molhes para fixar a barra
lodaçais, bancos de areia e sapais, encontra-se e um projeto de dragagens. Desastrosamente,
Ludo e Quinta do Lago: sítios com espelhos de Quinta do Marim: a partir da EN 125, cerca de 1 km
água doce adjacentes aos sapais e esteiros da Ria protegida da ação do mar por duas línguas de naquela época os dragados foram deposita-
depois de sair de Olhão em direção a Tavira, virar à
que atraem uma grande diversidade de aves. areia, a Praia de Alvor a nascente e a Meia- dos sobre dunas e sapais, tendo-se destruído
direita e seguir a indicação do Parque Natural da Ria
Formosa -Praia a poente, as quais sustêm robustos o valor ecológico de uma parcela razoável de
Salinas das Quatro Águas (Tavira): na estrada de cordões dunares. A comunicação com o mar habitats naquela zona húmida. Nos últimos
acesso ao cais de embarque para a Ilha de Tavira Quatro Águas e Arraial Ferreira Neto: em Tavira estabelece-se através de uma barra que se anos os locais afetados têm sido alvo de diver-
observam-se salinas ativas nas várias fases de extra- seguir as indicações até à foz do Rio Gilão; na mar- encontra estabilizada por molhes, sendo a sas ações de recuperação e renaturalização,
ção do sal marinho. As salinas abandonadas, parcial gem direita deste rio (Quatro Águas) ou na margem influência oceânica significativa, o que se deve com resultados satisfatórios tanto nos sapais
ou totalmente colonizadas por vegetação de sapal, esquerda (Arraial Ferreira Neto / Hotel Albacora). não só ao regime de tipo torrencial destas ri- como nas dunas.
são um habitat atrativo para aves aquáticas. Outros
locais privilegiados para observar aves são a área beiras, mas também à redução dos caudais de
Santa Luzia: no troço entre a Luz de Tavira e Tavira
do Arraial Ferreira Neto (Tavira), a Praia de Faro água provocada pela construção da barragem Apesar da crescente pressão turística e
da EN 125, seguir as indicações para Pedras d’El Rei;
(barrinha) e o Parque Ribeirinho de Faro ou ainda junto à ria seguir para nascente durante 1 km. da Bravura e do dique da Penina. urbanística, a envolvente da Ria de Alvor man-
Santa Luzia. tém baixa densidade de construção, conser-
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Litoral Sul
vando as suas potencialidades naturais e uma das à Ria de Alvor, a pesca e o cultivo e apanha
boa qualidade de paisagem, a qual é essen- de moluscos (dedicada essencialmente aos
cialmente marcada pelas matizes do plano de bivalves: amêijoa, berbigão e lambujinha),
água e da mancha verde que percorre sapais, confirmam a elevada produtividade da zona
dunas, arribas e campos agrícolas. húmida, bem como o seu interesse sócio-
-económico. A salinicultura foi desde o século
À semelhança da Ria Formosa, esta zona XVI uma atividade tradicional, embora a sua
húmida encontra-se classificada como Zona importância e intensidade de exploração
Húmida de Importância Internacional (Sítio tenham variado ao longo do tempo. Hoje em
Ramsar, desde 1996), integrando também dia as salinas encontram-se em grande parte
a Lista Nacional de Sítios da Rede Natura abandonadas, tendo algumas sido converti-
2000 (Sítio Ria do Alvor). Apesar de ser uma Limoniastrum monopetalum é uma planta mediterrânica das em tanques onde se cultiva a dourada, o Abibe, uma limícola invernante que utiliza os prados e
zona relativamente pequena no âmbito da cuja distribuição em Portugal se restringe aos sapais altos robalo e o linguado. campos agrícolas para se alimentar.
Rede Natura 2000 em Portugal, o seu valor do Algarve.
intrínseco em termos de biodiversidade é con- Sendo um espaço naturalmente propício ao
sensual, considerando-se notável a diversidade crescimento de peixe jovem e de larvas de
de habitats que se concentra em apenas crustáceos e moluscos, a heterogeneidade do
1.500 hectares, área que compreende planos Sítio proporciona ainda a ocorrência de grande
de água, dunas, bancos de vasa, sapais e diversidade de aves, encontrando-se aqui
salinas, bem como as penínsulas da Quinta espécies típicas de estuários e sapais, espécies
da Rocha e da Abicada com os seus matos, marinhas, e aves associadas ao uso agrícola, as
bosques, campos agrícolas e pastagens. quais utilizam as largas extensões (cerca de um
terço da área) de culturas hortícolas, pomares
Notabilizam-se aqui os diversos habitats de de regadio e citrinos, pomares de sequeiro
salgados, com as suas formações típicas de com amendoeiras e figueiras, e pastagens.
baixo, médio e alto sapal, juncais halófilos, ve- Borrelho-grande-de-coleira. Comum nos estuários e salinas.
getação vivaz anual de sapais secos e salinas, Apesar da sua pequena dimensão, esta zona
áreas com condições hipersalinas (onde se húmida exibe um elenco de espécies marinhas
verifica ascensão de sais por capilaridade) e e costeiras similar ao da Ria Formosa. A zona
áreas de transição para habitats ribeirinhos dunar é o local de nidificação da andorinha-
onde a salinidade se atenua. Apesar da vege- -do-mar-anã, do borrelho-de-coleira-inter-
tação de sapal ter surgido secundariamente rompida e da cotovia-de-poupa, enquanto
ao cultivo de arroz que ocupou outrora largas que na zona lagunar e sapais alimentam-se
extensões da zona húmida, as plantas que ou repousam gaivotas, limícolas, garças e o
agora se elencam nos habitats de sapal indi- Juncal de junco-agudo, frequente no litoral em terrenos flamingo.
cam um grau adequado de maturidade das salgados ou salobros.
comunidades e atestam a sua capacidade de Nos campos agrícolas e pastos adjacentes à
recuperação. zona húmida é comum a presença de bandos
de pintassilgos e verdelhões, entre outros Canal e sapal alto na foz da ribeira da Torre, um dos afluen-
tes da Ria de Alvor.
A vegetação do sapal alto conta ainda com passeriformes. O mocho-galego, a pega-azul
uma espécie endémica da península Ibérica, ou o melro estão presentes nestes espaços
o Limonium ovalifolium; nos matos litorais humanizados, assim como a garça-boieira mariposas e borboletas e 200 espécies de
envolventes podem ser observados dois que se alimenta de insetos transportados ou coleópteros. Esta diversidade de insetos de-
endemismos lusitanos de distribuição restrita, afugentados pelos rebanhos de gado que por verá ser um chamariz para alguns morcegos,
a delicada Linaria algarviana e o aromático aqui pastam. como é o caso do morcego-de-ferradura-
tomilho-do-mar. -pequeno, uma espécie que é frequentemente
Este é também um ambiente rico em insetos, vista a caçar sobre espelhos de água.
As atividades humanas tradicionalmente liga- tendo-se registado mais de 500 espécies de
Sarcocornia fruticosa, planta comum no sapal médio.

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Litoral Sul

Atividades Educação ambiental

Caminhadas
A associação “A Rocha” promove ações de educação
ambiental ligadas à divulgação dos valores naturais
da ria. Demonstração de anilhagem de aves ou ob-
Estuário do Arade
Existem dois percursos sinalizados na Ria de Alvor:
servação e identificação de aves, plantas, mariposas
Rocha Delicada: inicia-se na Mexilhoeira Grande
e outros invertebrados, são algumas das atividades
e percorre a área genericamente designada por
propostas.
Quinta da Rocha. Para além da observação dos
diversos habitats que compõem a zona húmida e
Viagem ao passado no sítio arqueológico Monu-
da fauna a eles associada, é ainda possível visitar
mentos Megalíticos de Alcalar; um centro de aco-
o Centro de Estudos e Observação da Natureza,
lhimento e interpretação permite visitar uma aldeia
localizado na Cruzinha, criado pela organização não
do III milénio a.C., a qual terá sido um importante
governamental de ambiente “A Rocha”.
centro urbano de um território que incluiria povoa-
ções desde as margens da Ria do Alvor até às faldas
de Monchique. Os vestígios encontrados eviden-
ciam a dependência alimentar destas populações
em relação aos recursos biológicos do litoral.

Desportos náuticos
As águas lagunares prestam-se à prática da canoa-
gem, remo, vela e windsurf; para o efeito pode ser
contactada a Associação Desportiva e Cultural de
Portimão ou a Associação Regional de Canoagem
do Algarve.
Caminho sobre muro de terra no percurso “Rocha Delicada”.

Ao Sabor da Maré: tem início na zona ribeirinha da Acessos


vila de Alvor e percorre a península da Praia do Alvor Trata-se de um estuário de modesta dimensão cas do rio e das ribeiras afluentes a ocupação
oferecendo aos visitantes vistas panorâmicas, tanto Península da Quinta da Rocha: o acesso faz-se que recebe água do Rio Arade e das ribeiras demográfica é baixa, estando associada ao
sobre a praia e linha de costa, como sobre os sapais através da estação de caminho de ferro da Mexi- de Odelouca e de Boina. O Rio Arade, outrora turismo e à agricultura.
e restantes ambientes lagunares, sempre com a lhoeira Grande, percorrendo a estrada que daí parte navegável até Silves e historicamente ligado
Serra de Monchique em pano de fundo. na direção sul. àquela que foi a capital comercial e cultural do Apesar de todo o estuário estar classificado
Algarve durante a presença árabe, é o curso como Zona Húmida de Importância Interna-
Praia de Alvor: o acesso faz-se a partir da zona ribei-
de água mais importante do Sul depois do cional (Sítio Ramsar), devido ao seu complexo
rinha de Alvor, seguindo as indicações para a praia.
Guadiana. No entanto, tanto o Rio Arade como de sapais e esteiros de grande importância
Península da Abicada: o acesso é feito a partir da as ribeiras afluentes são pouco caudalosos, o ecológica, o SIC Arade-Odelouca (Sítio de Im-
EN 125, na proximidade da povoação de Figueira, que se deve sobretudo às condições climáti- portância Comunitária da Rede Natura 2000)
seguindo as indicações para a Abicada. cas e hidrológicas da região, mas também à desenvolve-se ao longo dos troços terminais
retenção da água pelas barragens do Funcho, do Rio Arade e Ribeira de Odelouca, excluindo
Monumentos Megalíticos de Alcalar: acesso na Arade e Odelouca. porém a área da foz onde se concentra a
EN 125 a cerca de 5 km da Mexilhoeira Grande, ocupação humana. A classificação deste Sítio
tomando a estrada que segue da Penina para a Sr.ª
A margem oeste do estuário encontra-se prende-se com a necessidade de reconheci-
de Verde.
Estrutura em madeira (passadiços e local de estadia) no
ocupada pela cidade de Portimão que vê a mento, proteção e valorização de um conjunto
percurso “Ao Sabor da Maré”. sua população duplicar durante o verão. Já no interessante de ambientes que se diversificam
interior do estuário existe uma marina, uma es- de montante para jusante, à medida que a
Contemplar
tação de tratamento de águas residuais e está influência oceânica se vai fazendo notar.
A paisagem na península da Abicada, ao mesmo
tempo que se visitam as ruínas da Vila Romana da instalado um dos principais portos de pesca
Abicada, uma povoação que teria na salga de peixe da região. A pressão urbana é moderada, con- A montante dominam os vales muito en-
a sua principal atividade económica. centrando-se no troço terminal do estuário, caixados revestidos por bosques ribeirinhos
enquanto que ao longo das bacias hidrográfi- serranos; à medida que os cursos de água

50 51
Litoral Sul
caminham para sul os vales alargam e ganham alguns flamingos. Os lodaçais adjacentes nor- Os moinhos de maré do Arade Desportos náuticos e passeios fluviais: é possível
dimensão, estendendo-se em planícies de malmente concentram gaivotas em grande fazer canoagem, vela e windsurf no Rio Arade, bem
inundação pontuadas por lodaçais, sapais, número e algumas limícolas como o borrelho- como subir o rio até Silves; podem ser consultadas
-grande-de-coleira, a tarambola-cinzenta, o para o efeito as associações desportivas em Por-
prados salgados e bancos de areia, onde se
timão e Lagoa, a Associação Regional de Canoagem
intercalam zonas agrícolas. No seu troço final, maçarico-galego ou o maçarico-das-rochas.
do Algarve, o Clube Náutico do Arade, ou o Clube
este estuário forma largas centenas de hecta- Naval de Portimão.
res de sapais e salgados alagadiços, rodeados Estão registadas 88 espécies de peixes para a
por colinas suaves onde crescem matos foz do Arade. Algumas das mais abundantes Educação Ambiental: o Parque Municipal do Sítio
mediterrânicos. são o caboz-da-areia, o peixe-rei, a safia, o das Fontes oferece um leque variado e acessível a
caboz-negro, a língua-de-gato, a sardinha e o todas as idades de atividades relacionadas com a
Na margem esquerda do Rio Arade, as nascen- sargo. Trata-se também de um estuário onde descoberta do meio e dos valores naturais, bem
se capturam peixes com elevado interesse como do património cultural do Rio Arade.
tes de água doce de Estômbar contribuem
para diversificação dos habitats estuarinos, comercial como o salmonete, os linguados, o
alternando as manchas de sapal com zonas rodovalho, o robalo, o sargo ou a dourada. As nascentes de água de Estômbar encontram-
palustres, linhas de água doce e uma lagoa se hoje inseridas no Parque Municipal do Sítio
temporária. Estas nascentes localizam-se no Algumas colónias de espécies de morcegos das Fontes, criado pelo Município de Lagoa com
extremo poente do maior aquífero do Algarve, com estatuto de ameaça encontram abrigo os objetivos de promover ações de educação
conhecido por aquífero de Querença-Silves, nas grutas abertas em calcários do Jurássico, ambiental e a divulgação do património históri-
co-cultural ligado ao Rio Arade. Junto às nascen-
e constituem a par com as nascentes da situadas na margem nascente do Rio Arade.
tes foi recuperado um dos muitos moinhos de
Benémola (Querença) uma das saídas mais Estas grutas revelam vestígios arqueológicos maré que existiram outrora entre Portimão e
caudalosas desta reserva de água subterrânea. de ocupação humana desde o Paleolítico até à Silves, incluindo a caldeira e a casa do moleiro,
época medieval; a de maior dimensão encon- podendo o moinho ser observado a trabalhar.
Nos vários complexos de salinas do estuário é tra-se ocupada por um lago pouco profundo Os vestígios de cerca de duas dezenas de
possível observar-se o pernilongo e por vezes cujo nível é influenciado pela maré. moinhos de maré que se encontram nas
margens do Arade evidenciam a importância
que tiveram estes engenhos hidráulicos para a
economia local desde tempos remotos, sendo
feita referência a um deles no Livro do Almoxari-
fado de Silves (século XV). Estes engenhos eram
construídos nos estuários dos rios em terrenos
baixos, aproveitando áreas abrigadas que permi- Percurso pedestre do Parque Municipal do Sítio das Fontes.
tissem represar as águas. As duas marés diárias,
uma fonte de energia constante e previsível,
garantiam cerca de quatro horas de moagem, Acessos
sendo a farinha e restantes matérias-primas
normalmente transportadas por via fluvial. Salinas: na Mexilhoeira da Carregação, seguir pela
rua das Marinhas até encontrar as salinas.

Parque Municipal do Sítio das Fontes: em Estôm-


Atividades bar (Lagoa), seguir pela estrada intermunicipal
Estômbar-Silves, na direção de Silves, até que surja a
Observação de aves: embora sem percursos sinali- sinalização para o Parque.
zados, passear ao longo das salinas da Mexilhoeira
da Carregação e do Parchal permite observar aves
aquáticas que percorrem os tanques das salinas e os
lodaçais a descoberto na maré-baixa em busca de
alimento.

Observação de libélulas e libelinhas: o Sítio das


Fontes é considerado um hotspot para observação
Braço de rio na proximidade do Sítio das Fontes.
destes insetos.

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Litoral Sul

Paul de Budens Foz da Ribeira de Bensafrim


Pauis, Caniçais e Lagoas Costeiras
(Vila do Bispo) (Lagos)

Perto da foz, na Praia da Boca do Rio, o vale


O barlavento meridional encontra-se pontua- Estas pequenas zonas húmidas desenvolvem- onde corre a Ribeira de Budens torna-se
do por zonas húmidas de modesta dimensão -se no troço terminal de ribeiras de regime amplo e as águas alagam os solos de aluvião
as quais, no seu conjunto, compõem um torrencial, formando planícies inundáveis de revestidos por densa vegetação palustre onde
corredor ecológico percorrido sobretudo água doce ou salobra. Consoante o estado de abundam o caniço, a tabúa e diversas espécies
pela avifauna. São na verdade essenciais para colmatação das suas barras, a comunicação de ciperáceas e juncáceas. A água no paul é
algumas espécies por oferecerem um leque com o mar pode variar entre permanente, essencialmente doce e a paisagem verde-
variado de ambientes salgados, salobros e de esporádica ou ausente, dando origem a am- -tenro da planície aluvionar contrasta com
água doce. As aves aquáticas, em particular bientes diversos. os tons escuros e densos dos matos xerófilos
ralídeos, garças, mergulhões e patos, ou os (adaptados à secura) das encostas envolven-
passeriformes migradores, beneficiam muito De entre a dezena de pequenas zonas húmi- tes. O paul está separado do mar por uma
destes espaços, bem como a lontra que, das que ocorrem na faixa costeira sul, as que barreira de calhaus a qual impede a entrada
embora explore os recursos existentes na Ria se descrevem neste capítulo podem de água salgada durante grande parte do ano.
Formosa, na Ria de Alvor ou no Sapal de Castro considerar-se as mais expressivas, quer pela
Marim, necessita, ainda assim, de planos de sua dimensão relativa, quer pelos valores Outrora chamado de Paul da Lontreira pela
presença regular da lontra, este antigo arrozal Cegonha-branca a alimentar-se no sapal.
água doce adjacentes. naturais em presença.
é ainda pouco conhecido em termos biológi-
Esta zona húmida, alimentada pelo caudal sa-
cos apesar do seu interesse natural. O Paul
zonal da Ribeira de Bensafrim e por nascentes
de Budens, que se estende por cerca de 130
de água doce, e inundada periodicamente
hectares, acolhe a nidificação de muitas aves
pelas marés, abrange uma área de quase 300
aquáticas como o garçote, a garça-vermelha,
hectares. A sua hidrologia foi profundamente
ou o rouxinol-grande-dos-caniços, sendo tam-
intervencionada no século XV tendo em vista
bém um local privilegiado para observação
o aproveitamento agrícola dos terrenos e a
de cágados e libélulas. Algumas parcelas do
dessalinização das águas da ribeira. As estru-
paul são atualmente drenadas para dar lugar a
turas destinadas à drenagem e irrigação dos
pastagens de gado bovino, tendo-se aumen-
terrenos mantêm-se até hoje. Recentemente,
tado por esta via a diversidade estrutural da
outros usos foram alterando este sistema
zona húmida.
estuarino: após o decréscimo da atividade agrí-
cola que se limita agora a pequenas hortas e
a uma exploração agropecuária, foi construída
a Marina de Lagos e um aeródromo surgiu
no aterro resultante das terras sobrantes da
construção da marina; foi ainda instalada uma
estação de tratamento de águas residuais.

Apesar destas alterações, a vegetação de sapal


e o complexo de canais que irriga a planície
aluvionar atraem inúmeras aves, bem como
répteis e insetos (sobretudo borboletas e libé-
lulas). O pernilongo e a exótica borboleta-
-monarca tornaram-se espécies emblemáticas
desta zona húmida. Outras espécies como a
O garçote é uma pequena garça que habita em zonas húmidas com abundante vegetação emergente como o caniço e a
tabúa. Esta é uma das espécies que inverna em África, regressando no verão para nidificar.
cegonha ou a garça-branca, que procriam na
Terrenos alagadiços no Paul de Budens.
zona de Lagos, alimentam-se nestes sapais
durante todo o ano.
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Litoral Sul

Lagoa dos Salgados Caniçal de Vilamoura


(Silves e Albufeira) (Loulé)

Trata-se de uma lagoa costeira, a par das mais palustres, se pudessem estabelecer neste O caniçal de Vilamoura, integrado no Parque nacional de camão, que tem aqui um impor-
lagoas do Almargem e das Dunas Douradas local. Ambiental de Vilamoura (PAV) é porventura tante núcleo reprodutor. Até há poucos anos,
(em Loulé), e desenvolve-se no troço terminal a maior mancha contínua de caniçal no a garça-vermelha e a águia-sapeira nidificavam
das ribeiras de Espiche e de Vale Rabelho, ocu- Classificada como IBA* (área importante para sul de Portugal, com cerca de 29 hectares. no interior do caniçal, enquanto que nos lagos
pando uma depressão de cerca de 150 hecta- as aves) pela BirdLife International / SPEA, a Desenvolve-se no troço terminal da Ribeira de artificiais (dos golfes e do PAV) nidificam o
res. A comunicação com o mar é esporádica Lagoa dos Salgados assume-se no contexto Quarteira, em solos de aluvião que em tempos mergulhão-pequeno, o galeirão, a galinha-de-
e estabelece-se em períodos de precipitação algarvio como local privilegiado para observa- foram agricultados. Nos anos 70 do século -água, o rouxinol, o guarda-rios, o pato-real ou
intensa, ao romper-se a barreira arenosa que ção da avifauna aquática, ao acolher regular- passado foi construída a Marina de Vilamoura, o garçote. Nestes lagos e na Ribeira de Quar-
isola a lagoa do mar. À semelhança do que mente mais de 5.000 aves aquáticas perten- a qual veio ocupar o intertidal desta zona teira podem encontrar-se sobretudo enguias e
aconteceu noutras zonas húmidas, parte da centes a mais de 60 espécies. Trata-se de um húmida. Apesar da pressão urbana e turística tainhas, presas muito apreciadas por lontras e
planície inundável foi drenada e agricultada dos sítios mais relevantes para nidificação de da área envolvente, o caniçal de Vilamoura garças ou pelo corvo-marinho-de-faces-bran-
até meados do século XX. Após abandono camão, de pernilongo ou de garça-vermelha mantém elevado interesse biológico e cas, e ainda pelas ocasionais águias-pesqueiras
desses terrenos agrícolas, área considerável da e o único local, a nível nacional, de nidificação ecológico, em parte devido à sua heterogenei- que por aqui passam nas migrações.
lagoa foi aterrada, neste caso para construção confirmada de pêrra, um pato que tem o seu dade estrutural: os campos agrícolas rema-
de um campo de aviação e, mais tarde, de um local de nidificação mais próximo em Doñana nescentes e os relvados e canais de drenagem
campo de golfe. A entrada de água através (Andaluzia). É o local de invernada para o do campo de golfe dispõem-se em mosaico
de duas estações de tratamento de água colhereiro, o flamingo e patos e ralídeos, entre na envolvente do sistema aquático, constitu-
residual veio alterar profundamente o regime outros. A esta riqueza biológica não será alheia indo áreas suplementares de alimento para a
hidrológico da lagoa, ao manter constante a envolvente tranquila da lagoa, ocupada avifauna.
um caudal que, naturalmente, seria sazonal. pelos relvados de um campo de golfe e por
Embora tenham surgido problemas de eu- vasta extensão de pomares de sequeiro que se O caniçal e lagos de Vilamoura, juntamente
trofização na lagoa, parecem ter sido criadas estendem para poente até ao sapal da Ribeira com a lagoa dos Salgados, os lagos da Quinta
condições para que outras espécies de aves, de Alcantarilha. do Lago e o Ludo, formam um conjunto de
para além das limícolas e com preferências zonas húmidas essenciais para a população
Lago de água doce criado no PAV.
* As IBA são zonas com significado internacional para a conservação de aves à escala global e constituem uma rede de áreas classificadas pela
BirdLife Internacional.
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Litoral Sul

Atividades
Caminhadas Sistemas Dunares e Pinhais
Paul de Budens: é possível caminhar ao longo do
vale percorrendo um troço da Ecovia do Litoral, e
subir depois até ao Forte de Almadena, no topo
da encosta da margem nascente da ribeira. Este
forte foi construído no século XVII para proteger a
armação de atum (almadrava) que existia ao largo
Gado bovino na várzea da ribeira de Budens.
da Boca do Rio de ataques de piratas.
Acessos
Lagoa dos Salgados: existe um percurso sinalizado,
denominado Percurso de Interpretação da Praia Paul de Budens: acesso através da povoação de
Grande que percorre os campos agrícolas e dunares Budens, em Vila do Bispo, seguindo na direção da
desde o sapal de Alcantarilha até à Lagoa dos Salga- Praia da Boca do Rio.
dos, contornando toda a sua margem sul e dando
acesso ao observatório de fauna e flora. Ribeira de Bensafrim: acesso a partir de Lagos
seguindo pela EN 120 em direção a Bensafrim;
Caniçal de Vilamoura: o Parque Ambiental de atravessar a aldeia de Portelas e virar na primeira via
Vilamoura, com uma área de 200 hectares, tem um à direita após sair da povoação.
percurso sinalizado que permite ao visitante passar
pelos principais pontos de interesse natural deste Lagoa dos Salgados e Praia Grande: acessos através
espaço protegido. O percurso utiliza os caminhos das povoações de Pêra (Silves) ou de Vale de Parra
agrícolas que passam perto da margem da ribeira (Albufeira), seguindo na direção da Praia Grande ou
de Quarteira e em torno dos campos agrícolas e da Praia dos Salgados.
do caniçal. Os dois lagos, criados no âmbito deste
projeto de valorização ambiental do empreendi- Duna com cravo-das-areias (florido).
Caniçal de Vilamoura: em Vilamoura, acesso através
mento de Vilamoura, são locais privilegiados para a da Estrada de Albufeira. O PAV fica na proximidade
observação da fauna. do Colégio Internacional de Vilamoura. O litoral arenoso está presente de forma As comunidades biológicas destes sistemas
pontual no barlavento algarvio, ganhando arenosos apresentam uma sequência típica,
Lagoa do Almargem: acesso através da povoação
da Fonte Santa (Quarteira), seguindo na direção da
expressão nas baías de Lagos e de Armação devido à rápida variação das condições do
Praia do Cavalo Preto ou da foz do Almargem. de Pêra. A partir do Ancão (Loulé), a costa meio desde a praia até ao interior das dunas,
baixa e arenosa estende-se de forma contínua e são comuns à generalidade dos sistemas
Lagoa das Dunas Douradas: acesso através da até à fronteira, na foz do Guadiana, embora dunares da costa portuguesa, à exceção de
urbanização turística Dunas Douradas (Vale do Gar- desigual na paisagem e em ambientes. Entre algumas particularidades de flora ou fauna,
rão, Loulé), seguindo na direção da Praia das Dunas o Ancão e Manta Rota, locais de enraizamento como é exemplo o tomilho-das-praias, uma
Douradas. dos cordões arenosos da Ria Formosa, as planta aromática e condimentar que cresce
dunas desenvolvem-se nas ilhas barreira, con- nas dunas fixas da Ria Formosa. Com efeito,
tactando com os sapais do ambiente lagunar as duras condições ambientais das dunas
na vertente continental das mesmas. Já para (vento, salinidade e insolação elevadas, secura,
Acesso a observatório de aves do Parque Ambiental de nascente de Manta Rota, as dunas enquadram escassez de nutrientes e mobilidade de areias)
Vilamoura. extensas praias e propagam-se naturalmente implicam que um elenco reduzido de organis-
para o interior, dando origem a habitats mais mos possa colonizar este meio; as espécies du-
Observação de aves estabilizados e nalguns casos florestais. O nares revelam notável valor ecológico, sendo
Paul de Budens, Ribeira de Bensafrim, Lagoa dos litoral do sotavento tende a acumular sedi- exclusivas destes habitats e apresentando
Salgados, Lagoa do Almargem, Lagoa das Dunas mentos e os cordões dunares tornam-se mais extraordinário grau de especialização.
Douradas e Caniçal de Vilamoura. Nos Salgados, Lagoa das Dunas Douradas. robustos à medida que se caminha para a foz
Dunas Douradas e Vilamoura existem observatórios do Guadiana, com relevo para a ampla área de
Praias do Garrão, Ancão e Quinta do Lago: acessos
de aves. pinhal entre Monte Gordo e Vila Real de Santo
a partir de Almancil, seguindo as indicações para as
praias. António.
58 59
Litoral Sul
De modo semelhante em todos os sistemas encontram-se áreas consideráveis de pinhal
dunares do Algarve, a colonização das areias litoral, em Faro de pinheiro-manso, a oriente
inicia-se junto à linha da preia-mar, onde a de pinheiro-bravo. Tal como acontece com
maré deposita matéria orgânica essencial para a generalidade da mancha florestal do país,
o crescimento de plantas pioneiras como a estas áreas foram abrangidas pelo esforço de
eruca-marítima e a barrilha-espinhosa. Logo florestação realizado na viragem do século
atrás surge o feno-do-mar, planta que forma XX, após se ter atingido um assustador valor
pradarias onde a areia fica retida. Após algum mínimo de arborização no território nacional
tempo surgem plantas como a cordeirinho- em meados do século XIX. Tradicionalmente
-das-praias e a couve-marinha, e a duna vai utilizados na estabilização de sistemas
crescendo até formar cristas dunares (dunas costeiros, em particular das areias, os pinhais PG
primárias) colonizadas pelo estorno, cujas Estorno cumprem uma outra importante função, so- Alcar-dos-algarves, uma das mais raras espécies do sotaven-
longas raízes conferem estrutura à duna e bretudo no contexto do elevado grau de ocu- to algarvio, considerada em perigo de extinção. O pinhal do
Ludo é a área mais importante de ocorrência desta espécie,
permitem o seu crescimento em altura. Estas pação humana do litoral algarvio, constituindo albergando cerca de 90% da sua população.
cristas estão ainda sujeitas à influência oceâni- o único ambiente terrestre capaz de funcionar
ca e formam cordões de grande mobilidade, eficazmente como ilha ecológica, na qual se
paralelos à linha de costa. Na duna secundária, refugiam espécies de fauna e flora, como a
que se desenvolve a partir da vertente conti- alcar-dos-algarves, o tomilho-cabeçudo ou o
nental da crista dunar, há mais humidade e a camaleão.
influência marinha atenua-se, surgindo plantas
como a luzerna, a granza-marítima ou a perpé- Em Faro, os pinhais do Montenegro e do Ludo
tua-das-areias que perfuma as dunas com um possuem grande heterogeneidade ambien-
intenso cheiro a caril. tal, ocupando um enclave bioclimático mais
Couve-marinha húmido e de solos ácidos, onde domina o
Nas penínsulas do Alvor, Ancão e Manta Rota, pinheiro-manso acompanhado de espécies
e nas ilhas-barreira, a sucessão da vegeta- de exceção na costa sul como o sobreiro ou
ção na duna secundária regressa às plantas o medronheiro, e ainda de pinheiro-bravo. O
pioneiras nitrófilas (como a eruca-marítima),
já que o contacto se faz com o ambiente de
sapal onde existe grande disponibilidade de
matéria orgânica, evoluindo depois para a
normal vegetação de salgados. Noutros locais,
as dunas vão evoluindo para habitats mais
estáveis, como é o caso do retamal seguido de
pinhal em Vila Real de Santo António.
Cordeirinho-das-praias
Sendo habitats de transição, as dunas prestam
vários serviços em termos de proteção ao Após fogo florestal no pinhal de Montenegro, sobrevivem
os sobreiros, protegidos pelo sobro que reveste o tronco.
litoral: funcionam como reservas de areia
para a alimentação de praias e em épocas de subcoberto destes bosques encontra-se bem
tempestade dificultam a progressão do mar e conservado em muitos locais. Esta mancha flo-
das areias para o interior. Nos sistemas estua- restal proporciona proteção à extrema poente
rino-lagunares, são os cordões arenosos bem da Ria Formosa, resguardando-a da ocupação
conservados que asseguram a manutenção do humana da periferia de Faro, constituindo
espaço lagunar. ainda área de repouso e abrigo para algumas
aves, sobretudo rapinas, na época da migra-
Entre Quarteira e Faro e em Vila Real de Santo O açafrão-bravo, planta efémera e delicada, é uma das ção. Os pinhais são utilizados por aves típicas
António, sobre solos arenosos ou margosos, muitas bulbosas que crescem nas clareiras do pinhal. de bosque, como a trepadeira, os pica-paus
Tomilho-das-praias

60 61
Litoral Sul
e os chapins, assim como por espécies mais pinheiro-bravo surge no prolongamento da constroem os seus ninhos e pelo indumento
ubíquas como a pega-azul, a rola-brava ou a duna secundária, observando-se atualmente urticante que provoca alergias cutâneas,
rola-turca. que o sub-bosque do pinhal consiste numa oculares e respiratórias. Na verdade, esta
comunidade bem estruturada e estabilizada lagarta é uma das fases de desenvolvimento
Perto da foz do Guadiana, a Mata Nacional das onde dominam a retama, a camarinha e o da borboleta Thaumetopoea pityocampa, e é
Dunas de Vila Real de Santo António foi flo- zimbro. na primavera que as lagartas saem dos ninhos
restada em inícios do século XX com árvores em procissão para o solo (daí o seu nome).
trazidas do Pinhal de Leiria e com a finalidade Uma das espécies mais interessantes da fauna Os principais predadores naturais desta
de proteger Vila Real de Santo António da algarvia é o camaleão. Este réptil foi mencio- lagarta são os chapins, como o chapim-real
invasão das areias. Esta ampla mancha de nado pela primeira vez como existente na ou o chapim-azul, duas espécies que utilizam
Península Ibérica por Lineu* no século XVIII. cavidades em pinheiros velhos para construir
A população ibérica de camaleão terá tido os seus ninhos.
Lagarta-do-pinheiro
origem nas populações de Marrocos, resul-
tando de colonização natural ou mediada pelo
homem nos últimos séculos. A Mata Nacional
de Vila Real de Santo António parece ser a
zona com maior densidade de indivíduos e
onde as capacidades de mimetismo o tornam
difícil de observar, em particular nas ramagens
de arbustos como a retama, à qual o camaleão
preferencialmente se associa. Este arbusto
cobre parte significativa das areias deste local,
sendo também uma das plantas mais típicas
dos solos arenosos da costa norte-africana,
habitat original do camaleão.

De entre os variados insetos que habitam os


pinhais, a processionária ou lagarta-do-
-pinheiro é das mais conhecidas e temidas,
pelos danos causados aos pinheiros onde

Palmeira-anã, uma das plantas arbustivas típicas do sub-bosque dos pinhais litorais.

A invasão do chorão (Carpobrotus edullis)


Pinheiros-bravos no pinhal de Monte Gordo.
Espécie exótica, originária da África do Sul.
Tolera solos moderadamente salgados e de-
senvolve-se bem quer em zonas secas quer
húmidas. Plantada originalmente para fins
ornamentais e com o objetivo de fixar dunas
e taludes, esta herbácea tem um crescimen-
to vigoroso o que leva à formação de tapetes
monoespecíficos que impedem o enraiza-
mento da vegetação nativa. Por esse motivo,
tornou-se um importante fator na redução
da biodiversidade, em particular no litoral.
O seu controlo é possível e desejável como
demonstram alguns projetos de erradicação
executados na Península Ibérica.
Camaleão Retama
Invasão de chorão no pinhal da Quinta do Lago.
* Carl von Linné (Carlos Lineu como é referido em português), foi um botânico, zoólogo e médico sueco que, entre outras obras científicas e
literárias, concebeu um sistema de classificação das espécies que foi precursor da atual nomenclatura binomial, habitualmente designado como
62 o nome científico (ver lista das espécies citadas). 63
Litoral Sul

Atividades Nas restantes praias é necessário fazer a travessia de


barco do espaço lagunar para alcançar os cordões
Caminhadas
Nos locais que se listam, uma rede de caminhos e
arenosos das ilhas-barreira. Destaca-se a Ilha Deserta
pela quase ausência de edificação na ilha, escassa
presença humana e bom estado de conservação das
Arribas do Algarve Central
passadiços sobrelevados permite observar a riqueza
comunidades biológicas.
biológica das dunas e a transição da vegetação para
o ambiente de sapal (no caso das rias) ou para os
Mata Nacional de Vila Real de Santo António: o
matos e pinhais costeiros (Garrão-Ancão, Monte
acesso à frente de mar (Praia dos Três Pauzinhos) faz-
Gordo e Vila Real de St.º António):
-se através de um caminho pedonal e ciclável com
cerca de 1.500 m, onde também pode circular um
Ria de Alvor: caminho de acesso ao molhe poente
comboio turístico na época de veraneio.
da Ria; ao longo deste percurso de cerca de
1.300 m que percorre a retaguarda do sistema
Trilho do Camaleão: percurso de 5 km, sinalizado,
dunar, oferece-se a paisagem aberta do sistema la-
que percorre transversalmente a Mata Nacional.
gunar enquadrada pela serra de Monchique a norte
Interessante local para observar passeriformes
e pela península da Rocha a nascente.
florestais e o camaleão.
Na Praia do Alvor os visitantes têm acesso a um
circuito de caminhos e passadiços sobrelevados ao
longo de todo o sistema dunar.
Acessos
Praia Grande: o acesso para a Praia Grande faz-se
por um passadiço sobrelevado que atravessa cerca Ria de Alvor (molhe poente): a partir da Meia Praia
de 300 m de cordão dunar. Aqui observa-se interes- ou de Odiáxere, seguindo na direção do Campo
sante afloramento de eolianitos (rocha formada de Golfe Palmares. Um caminho de terra batida dá
por areias transportadas pelo vento e agregadas acesso a um dique sobre a laguna e ao molhe.
por cimento carbonatado); trata-se de uma duna
fóssil com cerca de 4.000 anos que aflora de forma Praia do Alvor: seguir as indicações para a praia na
dispersa no campo dunar. localidade do Alvor.

Ria Formosa: passadiços de acesso às praias do Praia Grande: a partir da povoação de Pêra, seguir
Garrão e do Ancão sobre dunas (percurso com cerca na direção sudeste até à rotunda onde a praia está
de 200 m). sinalizada. Formas cársicas - leixões, arcos e grutas - na Praia da Marinha.
Passadiços que ligam a Quinta do Lago (Loulé) e
a urbanização Pedras d’El Rei (Tavira) às respetivas Praias do Garrão, Ancão e Quinta do Lago: acessos
a partir de Almancil, seguindo as indicações para as O litoral rochoso entre Porto de Mós e Olhos dando origem a uma complexa rede de poços
praias, atravessando área lagunar e dunas: percurso de Água exibe uma linha irregular de arribas e galerias por onde circulam cursos de água
com 500 m na Quinta do Lago e percurso com praias.
talhadas em rochas carbonatadas, com idade subterrâneos no seu caminho até ao mar.
1.500 m no Barril.
Ilha Deserta: acesso de barco a partir do Cais da estimada entre os 24 e os 16 milhões de
Porta Nova, em Faro. anos (Miocénico Inferior). São cerca de 50 km A conjugação entre a carsificação e a erosão
de linha de costa que constituem o cartaz marinha resulta na modelação de diversas
Praia do Barril: no troço entre a Luz de Tavira e Tavira turístico mais divulgado das praias algarvias: formações rochosas e do típico perfil rendi-
da EN 125, seguir as indicações para Pedras d’El Rei.
pequenas enseadas encaixadas entre arribas lhado deste litoral, sendo comuns os algares
Praia dos Três Pauzinhos: na EN 125, junto ao com- muito recortadas e de cores quentes. (poços naturais), os arcos e as grutas, e ainda
plexo desportivo de Vila Real de St.º António, seguir os leixões (ilhotas), núcleos rochosos mais
as indicações para a praia. As rochas carbonatadas destas arribas são vul- resistentes à erosão que com o tempo se
neráveis ao contacto com a água doce e facil- destacam da linha de costa. O resultado é
Trilho do Camaleão: acesso pela EN 125. Percurso mente esculpidas por esta, dando origem ao uma paisagem sinuosa e fascinante, onde a
linear com pontos de partida no parque de estacio- que se designa por paisagem cársica. O termo cada passo se descobrem relevos curiosos
namento da Aldeia Nova ou no Centro do Camaleão. carso alude ao relevo resultante da dissolução e miradouros de grande interesse cénico. A
da rocha calcária pelas águas superficiais e diversidade de geoformas deste litoral pode
Comboio turístico de acesso à Praia do Barril. subterrâneas; com o progressivo desgaste ser apreciada através de caminhadas ao longo
Nota: recomenda-se caminhar apenas sobre os passadiços e
trilhos existentes, evitando o pisoteio e degradação da dunas. da rocha, fendas e cavidades acentuam-se do topo das arribas, sobretudo nos concelhos

64 65
Litoral Sul

de Lagoa e Lagos. A via marítima (passeios de retaguarda do zimbral pode surgir o pinheiro-
barco) é uma forma privilegiada de obser- -de-alepo, um dos pinheiros mais resistentes
var o rendilhado das paredes rochosas e os à secura e que consegue colonizar os solos
impressionantes efeitos de luz e cor das grutas pedregosos das arribas calcáreas.
marinhas.
As arribas, intensamente fissuradas e inaces-
As arribas são ambientes de fronteira, onde síveis a predadores, apresentam características
se cruza a influência terrestre e a influência ótimas para a nidificação de aves. Na costa
marítima. As condições do meio são muito algarvia, o peneireiro e o falcão-peregrino são
agrestes e os organismos que aqui vivem duas espécies que exploram as cavidades na
estão bem adaptados ao ambiente seco, rocha, assim como uma das principais presas
ventoso e salgado. do falcão-peregrino: o pombo-das-rochas.
Esta espécie é uma variedade selvagem dos
A vegetação das arribas é condicionada pela pombos encontrados nos jardins urbanos (va-
proximidade ao mar, diferenciando-se em riedade doméstica) sendo muito semelhante
função do grau de exposição aos ventos a estes. A variedade selvagem ocupa zonas
marítimos. Mais exposto, o rebordo das arri- rupícolas com pouca perturbação humana, ali-
bas é normalmente colonizado por espécies mentando-se em terrenos agrícolas e campos
rasteiras, modeladas pelos ventos fortes abertos próximos.
carregados de sal. São exemplo plantas que Matagal de zimbro e carrasco, comunidade vegetal endémica de Portugal que coloniza arribas calcárias a sul do Cabo Mon-
também se encontram nos sapais, como a Outras aves, marcadamente marinhas ou dego. Trata-se de uma comunidade relíquia, remontando aos períodos secos e frios do Quaternário.
salgadeira. Mais resguardada da influência costeiras, também utilizam as arribas como
marítima sucede-se, nas arribas deste troço é o caso de várias espécies de gaivotas com
costeiro, uma comunidade arbustiva (zimbral) destaque para a abundância da gaivota-de-pa-
A linha de costa em transformação
em que dominam o zimbro e o carrasco, tas-amarelas, ou ainda a presença do corvo-
acompanhada por plantas típicas do barrocal -marinho-de-crista que aqui nidifica em grutas As arribas, vertentes rochosas expostas
algarvio como a palmeira-anã e a aroeira. Na e fendas. à ação da ondulação marítima, são por
definição formas em erosão, logo em
permanente evolução. A beleza das arribas
resulta em grande parte desta condição
de mutabilidade, condição essa que
determina também o recuo do litoral e a
perda de território para o mar. A proteção
do património natural e paisagístico das
arribas é indissociável da salvaguarda da
sua génese e evolução natural, ou seja, da
erosão.

O processo de erosão das arribas dá-se


através da ocorrência de desmorona-
mentos pontuais. Os blocos e detritos
provenientes dos desmoronamentos
acumulam-se na base das arribas,
fornecendo temporariamente proteção
relativamente às investidas do mar. Os
detritos resultantes constituem ainda uma fonte potencial de sedimentos para alimentar as praias. Os
desmoronamentos tendem a concentrar-se durante o inverno, quando as condições de ondulação e
precipitação são mais severas.
Algar e arco na foz de uma linha de água que desemboca acima do nível do mar. Trata-se de um dos inúmeros vales suspen-
sos deste litoral, formado através do recuo rápido da linha de costa não acompanhado pelo entalhe da linha de água.

66 67
Atividades
Lagos, é possível percorrer a faixa costeira de barco e
observar do mar as imponentes e muito trabalhadas
paredes rochosas das arribas, bem como as grutas
marinhas típicas deste litoral.

Vista de uma zona de estadia do Percurso dos Sete Vales


Suspensos: bosque de pinheiro-de-alepo sobre a arriba
calcária.

Caminhadas
Uma rede de caminhos pedonais no topo das
Antigos barcos de pesca são utilizados como transporte
arribas permite percorrer dois troços de grande turístico em zonas próximas da costa.
interesse cénico.

Ponta da Piedade (Lagos): partindo do Farol da Acessos


Ponta da Piedade em direção tanto a Lagos (sentido
norte), como a Porto de Mós (sentido noroeste),
Farol de Lagos: em Lagos, seguir as indicações para
percorrem-se em ambos os sentidos cerca de 3 km
as praias D. Ana e Camilo. Uma vez na estrada da
de trilhos que dão acesso a vistas panorâmicas sobre
Ponta da Piedade, seguir para sul até ao farol.
a linha de costa.
Praia de Vale de Centianes: a partir da zona baixa
Percurso dos Sete Vales Suspensos (Lagoa): per-
do Carvoeiro (acesso a partir de Lagoa, seguindo a
curso de cerca de 10 km (ida e volta) sinalizado, com
sinalização), seguir para leste até que surjam indica-
painéis informativos e pontos de estadia, entre a
ções para a praia.
Praia da Marinha e a Praia de Vale de Centianes.
Praias da Marinha e Benagil: na EN 125, junto à
Contemplar
Escola Internacional do Algarve, seguir as indicações
Pontos de estadia do Percurso dos Sete Vales Sus-
para as praias.
pensos (Lagoa), os quais dão acesso a vistas únicas
sobre os promontórios rochosos e geoformas diver-
Praia da Sr.ª da Rocha: na EN 125 virar em Porches
sas, permitindo ainda observar os matos mediter-
para sul, seguindo as indicações para a praia.
rânicos e a rica avifauna desta região costeira.
Praias Manuel Lourenço e Evaristo: na estrada que
Mergulho: praias dos concelhos de Lagos, Lagoa e
liga a povoação da Guia à Praia da Galé, seguir a
Albufeira. Existe um percurso subaquático sinalizado
sinalização para as praias.
na Praia da Marinha, acessível a mergulho por
apneia. O guia deste roteiro subaquático pode ser
Arrifes: acesso a partir do Aldeamento de S. Rafael
obtido nos websites do Município de Lagoa e da
(Caminho das Sesmarias).
CCDR do Algarve.
Olhos d’Água: acesso a partir de Albufeira, seguindo
Observação do intertidal: na baixa-mar, em
as indicações.
zonas de laje rochosa como as existentes nas praias
Manuel Lourenço, Evaristo, Arrifes, e Olhos d’Água. Nota: recomenda-se precaução ao percorrer as arribas,
devendo ser respeitada uma distância de segurança ao rebordo
Passeios turísticos de barco: partindo de Ferra- das arribas e algares, e evitando condições críticas de vento e
gudo, da Sr.ª da Rocha, de Benagil, do Carvoeiro e de chuva.

68
Barrocal

A terra de um povo já não é um simples dado da


natureza, mas uma porção de espaço afeiçoado
pelas gerações, onde se imprimiram, no decurso
do tempo, os cunhos das mais variadas influên-
cias. Uma combinação original e fecunda, de dois
elementos: território e civilização.

Orlando Ribeiro
Bar rocal

Rio
Guadiana
SERRA
Costa
Vicentina
BARROCAL

LITORAL

Rede Natura 2000


Rocha da Pena

N
124

Fonte da Benémola
N2
Ribeira da
0 5 km
Menalva
Nave do Barão
Delimitação do Barrocal

Ribeira de Algibre
Malhada Velha
396 N2

Ribeira de Quarteira A22


270 270
(Sítio Rede Natura 2000)
398

125
Cerro de S. Miguel
Cerro da Cabeça
(Sítio Rede Natura 2000)
Ribeira de
Quarteira A22
A22

398

125

70 71
Bar rocal
O Barrocal designa uma região algarvia as- será talvez o território algarvio onde se tornam Na região assinalam-se os modelados cársicos
sente no maciço calcário que ocupa o Algarve mais evidentes as características mediter- na Varejota / Malhada Velha e na Nave do
central, encaixado entre a serra e as planícies rânicas: temperaturas amenas no inverno, Barão. No primeiro caso trata-se de campos
litorais. A paisagem exibe um relevo ondulado baixa amplitude térmica e acentuada secura de megalapiás onde são abundantes relevos
típico composto por uma sucessão de colinas estival. Com clima seco a sub-húmido e com como agulhas, torres e arcos, dando forma a
moldadas no calcário rijo do Jurássico que condições edáficas propícias, o Barrocal penedos que podem alcançar os 8 m de al-
se desenvolvem de poente para nascente, alberga comunidades vegetais mediterrânicas tura, irrompendo dos solos avermelhados. Os
ligando o Cabo de S. Vicente a Castro Marim. ricas, algumas exclusivas desta região. Penedos do Castelão (Varejota) e os do Frade
Os relevos calcários não chegam a atingir os (Malhada Velha) assumem formas fantasiosas
500 m e são suaves e arredondados com As florestas originais de azinheira, carvalho- que desafiam a imaginação e foram batizados
exceção dos locais onde a força abrasiva das -cerquinho, zambujeiro e freixo, transformadas com nomes de animais e criaturas fantásticas
torrentes na época das chuvas esculpiu escar- pelo uso que povos sucessivos fizeram delas, (elefante, águia, esfinge, entre outros), estando
pas ou escavou barrancos fundos. subsistem ainda em núcleos bem conservados associados a velhas superstições.
nos vales mais estreitos e encostas íngremes.
Nas depressões entre os cerros, os solos aver- São os matagais de aroeira, carrasco, murta, A Nave do Barão corresponde a um polje, uma
melhados contrastam com os afloramentos medronheiro e lentisco-bastardo, os quais depressão cársica encaixada entre vertentes
claros das formações calcárias e com o verde acompanhavam as antigas florestas, que bem definidas, com drenagem subter-
da vegetação. Historicamente ocupados por dominam agora a paisagem. Em alguns locais rânea. Este relevo, que faz de facto lembrar
culturas de sequeiro, são sobretudo solos bem conservados desenvolvem-se ainda uma enorme “nave”, alonga-se por 4 km de
de terra rossa que se formaram a partir da zimbrais e a associação mediterrânica da Oleo- comprimento e tem 500 a 1.000 m de largura;
alteração das rochas carbonatadas (calcários, -ceratonion, onde dominam a alfarrobeira, o o fundo aplanado está preenchido por terra
dolomias e margas). Com a serra a proteger zambujeiro e a palmeira-anã. rossa onde crescem pomares de sequeiro,
da passagem dos ventos frios de norte, este Megalapiás na Malhada Velha (Loulé).
Nas áreas mais profundamente alteradas o re-
vestimento vegetal consiste em estevais, tojais
e tomilhais, onde abundam plantas aromáticas
e melíferas. Estas comunidades confinam
muitas vezes com campos de sequeiro, onde
são cultivadas a alfarrobeira, a figueira, a
amendoeira e a oliveira, embora em alguns
vales estas culturas tenham cedido o lugar a
culturas de regadio.

Um dos aspetos mais característicos do Bar-


rocal é a existência de formas cársicas. Este
território de rochas carbonatadas facilmente
esculpidas pela água das chuvas exibe uma
paisagem modelada pela erosão, da qual resul-
tam relevos caprichosos. Embora a paisagem
cársica não se apresente aqui tão desenvolvida
como noutros pontos do país, podem ainda
assim observar-se diversas e curiosas geofor-
mas sobretudo no território cársico a norte
de Loulé: campos de megalapiás (Varejota e
Malhada Velha), algares e grutas (Monte Figo
e Rocha da Pena), dolinas (Rocha da Pena) e
polja (Nave do Barão e Nave dos Cordeiros),
Trilho no topo da Rocha da Pena onde é visível o solo de entre outras. Polje da Nave do Barão (Loulé). Depressão com cerca de 4 km de comprimento onde se forma a Lagoa da Nave durante a
terra rossa resultante da meteorização dos calcários. época das chuvas.

72 73
Bar rocal

sobretudo de amendoeiras que vale a pena no Sítio de Importância Comunitária Barro-


visitar em plena floração, no mês de fevereiro. cal, o qual integra a Lista Nacional de Sítios
Considera-se esta estrutura um vale cego da Rede Natura 2000, sendo reconhecida a
onde não existe saída superficial de água e em singularidade e bom estado de conservação
que a água de escorrência das chuvas origina de habitats muito particulares como as co-
pequenas lagoas no setor leste da nave. munidades rupícolas calcícolas e a existência
Nestes charcos efémeros, algumas comuni- dos bosques relíquia de carvalhais de Quercus
JP
dades anfíbias têm a sua melhor expressão em broteroi, de zimbrais, e de bosques dominados
Portugal. por alfarrobeiras. Notabiliza-se ainda por suster
populações razoáveis dos endemismos lusita-
O Barrocal é ainda hoje uma região marcada- nos Plantago algarbiensis e Narcissus calcicola, Morcego-rato-pequeno
mente rural, onde se conservam costumes bem como do endemismo do sotavento
ligados aos ritmos naturais da terra. A paisa- algarvio tomilho-cabeçudo.
gem traduz grande riqueza natural e cultural,
com um interessante mosaico de pequenas Este Sítio inclui ainda um complexo de quatro Pego do Inferno
povoações ligadas entre si por caminhos grutas que albergam uma importante parte da
rurais, vales com campos de sequeiro e outras população de morcegos no Algarve, e que se
culturas, encostas revestidas por matos densos destacam como locais de hibernação e criação
e verdejantes, e, aqui e ali, os afloramentos para cerca de metade da população nacional
claros e caprichosos do maciço calcário. de morcego-rato-pequeno.

A faixa do barrocal compreendida entre o lito-


ral e a Serra do Caldeirão encontra-se incluída Afloramentos de maciço calcário irrompem dos matagais
mediterrânicos.

Paisagem cársica

A água das chuvas, ligeiramente ácida devido ao teor em dióxido de carbono, dissolve lentamente os cal-
cários e dolomias (essencialmente constituídos por carbonato de cálcio) dando origem a um modelado
típico designado por cársico. A água infiltra-se através de fissuras na rocha, ampliando-as com o tempo
e formando torrentes subterrâneas. As fendas e cavidades da rocha acentuam-se com a escorrência
das águas superficiais e subterrâneas, dando origem a uma intrincada rede de poços naturais (algares),
galerias e grutas. À superfície são comuns relevos como os campos de lapiás, onde a rocha surge muito
esculpida. Um dos traços mais visíveis nestas paisagens é a aridez dos terrenos à superfície, a qual con-
trasta com os abundantes recursos hídricos do subsolo que apenas se deixam adivinhar em ocasionais
nascentes de água como as que surgem na Fonte da Benémola e em Paderne.

O Pego do Inferno (Tavira) é um local onde se po-


dem observar as várias quedas de água da Ribeira
da Asseca. A última e mais espetacular cascata,
com cerca de 3 m de altura, forma uma lagoa que
reflete os tons verdes da envolvente. Apesar das
lendas que afirmam comunicar esta lagoa com o
mar, verifica-se que o seu ponto mais profundo
Murete a delimitar campo de sequeiro. Plantas dos matos
tem 7 m. A cascata está talhada em espesso tufo
nativos, como a aroeira, crescem associadas a estes muros calcário do Quaternário, cuja deposição é favo-
rústicos. recida pelo impacto da água a cair, libertando o
dióxido de carbono dissolvido e provocando a
precipitação do carbonato de cálcio arrastado
Algar; trata-se de uma gruta de desenvolvimento vertical. Campo de lapiás. pelas águas ao longo do percurso da ribeira em
terreno calcário.

74 75
Bar rocal

Fonte da Benémola
Protegida Local da Fonte Benémola, a qual
abrange uma área com cerca de 390 hectares
que se estende pelas Freguesias de Querença
e da Tôr.

A Paisagem Protegida é atravessada pela Ri-


beira da Menalva, integrada na bacia hidrográ-
fica da Ribeira de Quarteira. Abastecida por
nascentes como o Olho e a Fonte da Bené-
mola, das mais caudalosas do sistema aquífero
Querença-Silves, esta linha de água mantém
o caudal em cerca de 60% mesmo durante a Vale da Ribeira da Menalva. Freixos, salgueiros, tamargueiras, folhados e loendros são algumas das espécies que formam a
época estival. densa galeria ripícola desta área protegida.

Vestígios de infraestruturas rurais testemu- Sul, o loendro e a tamargueira, formam um A Fonte da Benémola é também um local
nham o complexo sistema hidráulico que corredor frondoso com alguns trechos verda- muito interessante para a observação de aves,
outrora tornou possível a gestão comunitária deiramente impenetráveis. desde logo pela permanência de água na
da água e o seu transporte pelas levadas até ribeira durante todo o ano, mas também pela
aos campos de regadio. As várias parcelas de O vale fluvial onde corre a Ribeira da Menalva diversidade de uso do solo na área envolvente
terreno eram regadas de forma rotativa, sendo é estreito, cortado nos calcários claros e rijos onde se desenha um mosaico de pequenos
da responsabilidade dos proprietários abrir e do Jurássico, com encostas abruptas que po- campos agrícolas e áreas de matos e bosque.
fechar as comportas das levadas consoante as dem alcançar 100 m de desnível entre o leito Junto às margens ribeirinhas nidificam o
Ribeira da Menalva no outono.
necessidades de rega de cada um. da ribeira e o topo dos relevos envolventes. A guarda-rios, o rouxinol e a alvéola-cinzenta,
vegetação densa que reveste as vertentes ro- espécies que beneficiam da presença de água.
O vale fluvial da Ribeira da Menalva, onde a Encontram-se agora reparados velhos açudes chosas esconde o acesso a grutas em posição A água atrai também uma grande variedade
vegetação ribeirinha conserva o verde e exu- que permitem a formação de espelhos de sobranceira (grutas da Salustreira). de outras aves como felosas, toutinegras,
berância durante o estio e se ouve água correr água ao longo da ribeira; são também visíveis pardais, pica-paus, o gaio e o abelharuco. O
durante todo o ano, constitui um ambiente de azenhas e noras, algumas ainda com os seus Alguns trilhos percorrem as encostas e vale encaixado propicia a presença de rapinas,
exceção no barrocal algarvio contrariando a alcatruzes, e as ruínas de um moinho de permitem observar a rica vegetação mediter- águias e mochos, os quais são avistados
normal escassez de água superficial e secura água que serviu as populações vizinhas na rânica do barrocal, onde dominam a aroeira, regularmente.
do meio. A existência de inúmeras nascentes moagem dos cereais. Nesta área existem ainda o zambujeiro, o carrasco e o medronheiro,
cársicas, também designadas por olhos de vestígios de antigos fornos de cal, onde se acompanhados por plantas aromáticas como Na ribeira e nas suas margens, rãs, cágados,
água, garante um caudal permanente de água produzia a pedra cal através da cozedura dos o alecrim, o rosmaninho, tomilhos vários ou tritões, sapos, pequenos peixes e diversos inse-
e favorece a manutenção de um ambiente calcários. o funcho. Na beira dos caminhos de pé posto tos aquáticos, integram um ecossistema muito
húmido e fresco mesmo na época estival. com atenção descobrem-se orquídeas e lírios, diversificado. Assinala-se ainda a presença de
Nas margens da ribeira desenvolve-se densa plantas de porte humilde mas que surpreen- duas espécies de morcego (morcego-rato-
A qualidade da paisagem neste local, o inte- galeria ripícola onde crescem árvores e arbus- dem pela sofisticação e exuberância de forma -pequeno e morcego-de-peluche) que uti-
resse histórico e patrimonial ligado à ancestral tos ribeirinhos pouco comuns noutros cursos e cor. Os cerros a sul e sudoeste, na extrema lizam as grutas existentes nesta área protegida,
gestão da água, e a existência de ambientes de água do Algarve, já que a expansão da da Paisagem Protegida, são talhados nos beneficiando da abundância de insetos. A
relevantes para a conservação da natureza, de- exótica cana tem impedido o crescimento das terrenos xistosos mais antigos do Carbónico presença regular de sinais de lontra é também
terminou nos anos noventa a classificação da espécies nativas em muitos locais. Salgueiros, e encontram-se revestidos por bosques de so- um dado interessante que atesta o elevado
Fonte da Benémola como Sítio Classificado do freixos, choupos, folhados e ocasionalmente breiro e azinheira, sendo interessante observar interesse biológico da ribeira da Menalva.
Munícipio de Loulé. Mais recentemente, em alfarrobeiras, acompanhados por silvados e a transição destes ambientes para os matos de
2008, o local mereceu o estatuto de Paisagem pelos arbustos típicos destes ambientes no barrocal.

76 77
Bar rocal

O aquífero Querença-Silves

Este sistema aquífero é o maior reservatório


subterrâneo de água do Algarve, ocupando área
Ribeira de Quarteira
aproximada de 317 km2 em pleno Barrocal. De-
senvolve-se em dolomitos e calcários do Jurássico
inferior e médio, através dos quais a água se infil-
tra facilmente acumulando-se num vasto lençol
subterrâneo, limitado a norte pela formação Grés
de Silves e a sul pelos menos permeáveis calcários
margosos do Jurássico superior.

O aquífero estende-se desde Querença até


Estômbar, abrangendo os concelhos de Loulé,
Albufeira, Lagoa e Silves, estando identificado um
conjunto significativo de pontos de recarga do Nascente na Fonte Benémola.
aquífero (sumidouros) e de nascentes (surgên-
cias). Estes pontos são de extrema importância
rânea emerge naturalmente à superfície. Estes
para a salvaguarda das reservas hídricas do
pontos representam descargas naturais dos
Algarve tanto em termos de volume como da
aquíferos, alimentando os cursos de água
qualidade dessa água.
(nascentes da Benémola) ou sendo intercetados
para utilização humana.
As nascentes são os locais onde a água subter-

Atividades
Caminhadas trabalha a cana produzindo artefactos utilizados em
tarefas domésticas e agrícolas.
Vista do vale e da Ribeira de Quarteira a partir do Castelo de Paderne.
Percurso pedestre da Fonte da Benémola: percurso O traçado deste percurso coincide com um troço do
sinalizado que acompanha o curso da ribeira ao percurso pedestre homologado das 7 Fontes (Mu-
longo de 4,5 km de extensão, incluindo um local de nicípio de Loulé). Também a Via Algarviana passa A Ribeira de Quarteira desagua a sul, na dando-se agora atenção ao troço que integra
estadia para merendas. A nascente do Olho, a Fonte junto ao limite da Paisagem Protegida. zona central do Algarve, desenhando no a lista nacional de sítios da Rede Natura 2000,
da Benémola, os açudes e a levada, são os pontos de seu troço final a fronteira entre sotavento com a designação Sítio Ribeira de Quarteira,
maior interesse do percurso, que permite também a Observação de libélulas e libelinhas: A Fonte da e barlavento. A sua bacia hidrográfica, nas proximidades de Paderne.
visita a uma oficina de artesanato onde um cesteiro Benémola é considerado um hotspot para observa- que engloba a montante as nascentes
ção destes insetos.
de Benémola e Paderne, atravessa as três Na envolvente de Paderne a ribeira percorre
regiões biofísicas do Algarve, serra, barrocal ampla planície aluvionar, uma várzea fértil
Acessos e litoral, mas é a montante de Paderne, que exibe um mosaico de pequenas hortas
em pleno barrocal, que da confluência das familiares e parcelas agrícolas onde se cultiva
Em Loulé, segue-se pela EN 396 na direção do ribeiras de Alte e do Algibre nasce a Ribeira a fruticultura de regadio, a vinha e o olival. As
Barranco do Velho, tomando-se depois o desvio
de Quarteira. Com um comprimento de encostas suaves estão ocupadas pelo pomar
para a Querença e Salir, e depois para Salir / Tôr. No
cruzamento de acesso à aldeia da Tôr, virar à direita, curso de cerca de 35 km, e percorrendo tradicional de sequeiro, sobretudo alfarrobeiral
seguindo as indicações para a Benémola. O caminho áreas de razoável ocupação humana, e amendoal, este último mostrando alguns
de terra batida até à Fonte da Benémola pode ser alguns dos seus troços conservam um raro sinais de abandono.
percorrido a pé ou de bicicleta, numa extensão de equilíbrio e qualidade ambiental.
cerca de 2 km; em caso de necessidade esta dis- O pomar de sequeiro, ou mata de frutos, é
tância poderá ser feita de carro, tendo em atenção A foz da ribeira, ao longo da qual se desen- um legado da presença árabe no território
Caminho de acesso à margem da ribeira por entre pomares
que a circulação é condicionada nas proximidades volve o caniçal de Vilamoura, foi já referida algarvio, apresentando uma estrutura que
de sequeiro.
da fonte e que não se encontra formalizado espaço
na ficha “Pauis, caniçais e lagoas costeiras”, se assemelha ao montado e onde o estrato
para estacionamento.

78 79
Bar rocal

arbustivo está ausente, sendo o subcoberto palmeira-anã. Nestes habitats encontram-se árabe, estaria em posição privilegiada relativa-
normalmente constituído por culturas de espécies muito particulares como os endemis- mente ao antigo caminho romano que con-
cereais e leguminosas ou por pastagens. O cul- mos algarvios Genista algarviensis, Centaurea torna o cerro e atravessa a ribeira a sudoeste.
tivo dos pomares de alfarrobeira, amendoeira, occasus ou o tomilho-cabeçudo.
figueira e oliveira foi possível após a remoção Durante a época estival, nascentes como a da
de enormes quantidades de pedra calcária Erguendo-se dos matos e em posição alta- Amoreira ou da Fonte de Paderne possibilitam
do solo, agora visíveis nos típicos muretes neira sobre a Ribeira de Quarteira, o Castelo de a escorrência superficial da água em pequenos
de cor clara que delimitam os terrenos no Paderne é um dos sete castelos representados troços e a formação de pegos onde se abrigam
barrocal. Junto a estes pequenos muros sub- na bandeira de Portugal. Trata-se de uma as espécies mais dependentes da água e humi-
sistem espécimes dos matos originais, como construção em taipa dos Almoádas (séculos XI dade no meio. Também os açudes podem
o carrasco e cistáceas várias. Atraídos pela a XII) e as suas ruínas de cor ocre constituem manter reservas de água durante o estio, tendo
disponibilidade de alimentos, diversos animais Rã-verde, um dos anfíbios mais comuns em Portugal. um dos exemplos mais significativos da sido recuperados recentemente o Açude da
procuram os pomares de sequeiro, sobretudo arquitetura militar árabe na Península Ibérica. Estacada (a montante de Paderne) e o Açude
aves como o papa-figos, o mocho-galego, o Construído durante a última fase da ocupação da Azenha do Castelo. A azenha associada a
chapim-real ou a toutinegra-de-cabeça-preta,
mas também mamíferos como a raposa, e,
nos pomares abandonados onde voltaram a A cana (Arundo donax)
crescer os arbustos nativos, o coelho-bravo, a
fuinha e o texugo. A cana é a maior herbácea existente em território
português. Originária da Europa oriental e da Ásia
Mais a sul, a ribeira serpenteia encaixando-se temperada e tropical, é considerada uma espécie
exótica em Portugal e referenciada como uma
num vale apertado e profundo cortado no
das cem mais perigosas plantas invasoras à escala
maciço calcário. As encostas exibem decli- mundial, pela elevada capacidade de se substituir
ves acentuados e são revestidas por densa à vegetação nativa, ocupando o habitat das espé-
vegetação mediterrânica, exibindo matagais Pegada de texugo na margem da ribeira. cies ribeirinhas típicas dos climas mediterrânicos.
exuberantes nas vertentes voltadas a norte, Tendo sido introduzida como material de cons-
húmidas e sombrias. trução, para fixação de taludes e para constituição
de sebes nos terrenos agrícolas, encontra-se
Neste troço da ribeira, o canavial cerrado que agora disseminada por todo o país.
tende ocupar as margens cede lugar à vegeta-
A cana é provavelmente a espécie com maior
ção natural destes ambientes, desenvolvendo- dispersão nas ribeiras do Algarve, o que se traduz
-se uma galeria ribeirinha com os tamargais, em graves problemas ambientais, em particular
loendrais e freixiais característicos dos cursos no agravamento das situações de seca e cheias,
de água do sul. Em leito de cheia surge a única na dispersão de fogos florestais, na deterioração
população conhecida no mundo da delicada da qualidade da água e em impactes sobre a
Narcissus willkommii, cobrindo de amarelo biodiversidade.
as margens da ribeira na época da floração.
No âmbito do controlo da expansão desta
Este narciso é uma espécie rara e endémica
exótica, vários projetos-piloto têm sido realizados
da Península Ibérica, referida para o sul de com resultados positivos. O projeto recente Valori-
Portugal e de Espanha, tendo sido em tempos zação da Ribeira de Quarteira e Várzea de Paderne
dada como extinta. A Ribeira de Quarteira é consistiu na utilização experimental de diferentes
atualmente o único local onde se regista a sua técnicas de controlo de cana e na plantação de
ocorrência. vegetação autóctone, para além de trabalhos
de reabilitação e valorização do património várzea de Paderne. As aprendizagens resultantes
hidráulico (reperfilamento do leito da ribeira, destes projetos e de outros que decorrem em
Nas encostas íngremes crescem matos exclu- países com clima mediterrânico deverão fornecer
recuperação dos açudes da Estacada e da Azenha
sivos do Barrocal, como os tomilhais/tojais cal- informações adequadas que permitam mitigar os
Orquídea-piramidal, uma das muitas espécies de orquídea do Castelo e da passagem a vau na Amoreira),
cícolas (matos baixos onde abundam plantas e criação de um percurso rural interpretativo na danos da disseminação da cana.
que ocorre no Algarve calcário. A primavera é a época mais
aromáticas) ou os carrascais termófilos com propícia à observação destas espécies.

80 81
Bar rocal
este último açude situa-se perto do Castelo de bordalo, duas espécies endémicas da Penín-
Paderne, tratando-se de um engenho tradicio- sula Ibérica que beneficiam da existência de
nal de moagem movido pelo caudal da água
da ribeira, possivelmente de origem árabe.
abundante vegetação aquática.
Rocha da Pena
Os açudes, a azenha, e a levada construída no
sítio da Fonte de Paderne, fazem parte do
património local de estruturas hidráulicas liga-
das ao uso e gestão tradicional da água.

À semelhança do que acontece noutros


cursos de água do Algarve, muitos animais
dependem da qualidade ecológica da ribeira
para sobreviver e como corredor através do
qual se podem deslocar entre territórios.
A existência de sinais da presença de lontra
indicia que este Sítio poderá ser importante
para a população deste mamífero do Algarve,
não só pela disponibilidade de alimento e
vegetação marginal adequada, mas também
como ligação dentro da mesma bacia hidro-
gráfica, entre ambientes mais costeiros, como
o Parque Ambiental de Vilamoura, e locais no
interior como a Fonte Benémola.

A Ribeira de Quarteira apresenta também uma


interessante fauna piscícola, assinalando-se a
ocorrência da boga-de-boca-arqueada e do Tamargueiras e loendros na margem da ribeira. Cornija da Rocha da Pena, vertente sul.

Atividades O maciço calcário da Rocha da Pena é um rece-se um panorama notável, a sul avistam-se
afloramento rochoso notável do barrocal al- os contornos suaves do barrocal até ao mar, a
Castelo de Paderne. No cerro de S. Vicente, na proxi- garvio, alcançando no seu ponto mais alto os norte o ondulado da Serra do Caldeirão.
Caminhadas midade do moinho de vento, os trilhos dão acesso
a uma vista privilegiada sobre a várzea, podendo
480 m de altitude. Trata-se de um planalto
Percurso do Castelo de Paderne: Este percurso ainda observar-se os ricos matos mediterrânicos e os com cerca de 2 km de extensão que deve A par com a singularidade paisagística e
sinalizado com cerca de 4,5 km desenvolve-se ao típicos pomares de sequeiro do barrocal. a sua forma inconfundível à cornija que o interesse geomorfológico, a Rocha da Pena
longo das duas margens da ribeira, passando pelo coroa e à vertente sul cortada em escarpas destaca-se pelos seus matos mediterrânicos
Açude da Azenha do Castelo e pela ponte romana BTT íngremes. Este geomonumento impõe-se bem preservados, onde se podem observar
(constituída por um tabuleiro retilíneo sustentado Existem três percursos sinalizados de BTT com início
por três arcos perfeitos), dando também acesso ao
na paisagem individualizando-se dos relevos
no parque de estacionamento do estádio João Cam- próximos por vales amplos a norte e a sul,
castelo. Permite a observação da exuberante vegeta- pos em Paderne. Alguns troços destes percursos
ção ribeirinha e dos matos calcícolas das encostas, tendo já sido considerado o único relevo
sobrepõem-se aos percursos pedonais referidos.
sendo interessante observar como a vegetação verdadeiramente vigoroso da orla meridional
se diversifica das encostas soalheiras para as mais algarvia. *
sombrias.
Acessos
Em Paderne, chegando pela A 22 (saindo em Situa-se na transição entre a Serra e o Barrocal
Existem outros dois percursos sinalizados na Albufeira e seguindo na direção das Ferreiras) ou traçando a fronteira entre estas duas regiões,
envolvência de Paderne, bem como uma rede de pela N 270 (sair da EN 125 em direção a Boliqueime),
caminhos de pé posto, que permitem percorrer a
e em conjunto com a Rocha dos Soídos e a
seguir as indicações para o castelo na saída poente
várzea de Paderne desde o Açude da Estacada na Rocha de Messines (situados a oeste da Rocha
da povoação. É possível estacionar junto do castelo
Ribeira do Algibre a norte de Paderne, até ao cerro e nas proximidades do Açude da Azenha do Castelo, da Pena) constitui o alinhamento poente-
de S. Vicente, a poente de Paderne, ou até ao castelo debaixo do viaduto da A 22. -nascente mais setentrional de relevos carbo-
e ponte romana, sobrepondo-se ao Percurso do natados do Barrocal. Do topo do planalto ofe- Rocha da Pena vista a partir de Salir.

82 * Feio (1951). 83
Bar rocal
espécies emblemáticas da flora algarvia, bem artesanato. Na beira dos caminhos e, sobre-
como pela abundância e diversidade da fauna, tudo nas clareiras, crescem plantas aromáticas
sobretudo no que diz respeito às aves e a como o rosmaninho, o alecrim, o funcho, o
mamíferos como os morcegos. teucrium e tomilhos vários. Estão descritas
cerca de 500 espécies de flora nesta Paisagem
O reconhecido interesse da Rocha da Pena, Protegida, algumas das quais são endémicas,
face aos valores naturais em presença e à sendo por exemplo a Rocha da Pena o único
sua importância paisagística, determinou a local conhecido do endemismo lusitano
criação do Sítio Classificado da Rocha da Pena Doronicum tournefortii que vive nos bosques
em 1991, e mais recentemente, em 2008, de azinheira.
da Paisagem Protegida Local, tendo como
objetivos proteger e conservar os valores Sanguinho-das-sebes, espécie comum nestes matos. No topo do planalto os matos calcícolas abri-
físicos, estéticos, paisagísticos e biológicos do gam muitas espécies de orquídeas, dos géne-
Barrocal, fomentando de forma equilibrada o ros Orchis e Ophys. As plantas mais evoluídas
desenvolvimento económico, social e cultural do reino vegetal apresentam-se com porte
da região. delicado e ao mesmo tempo deslumbrantes
ao olho humano, pela sofisticação de forma Águia-de-asa-redonda
Sendo a Rocha da Pena esculpida em rochas e cor. Com clima mediterrânico e baixas alti-
carbonatadas, são visíveis diversos relevos tudes, o Barrocal é um local privilegiado para falcão-peregrino, são aves de rapina que aqui
cársicos, sobretudo geoformas como lapiás, a conservação de algumas orquídeas que já nidificam ou são visitantes regulares. Na época
dolinas, algares e grutas, embora assumam se vão tornando raras no resto da Europa. Para da migração, é possível avistarem-se outras
dimensões mais modestas que noutros locais além do seu valor estético, as orquídeas po- rapinas, como a águia-calçada, a águia-co-
do Barrocal. Exibem-se assim campos de lapiás dem ser utilizadas como indicadores da quali- breira, o gavião e até o grifo que pode surgir
(rochas que emergem do solo de terra rossa, dade de um habitat, já que ocorrem apenas em grandes bandos.
muito esculpidas pela água da chuva e apre- em locais que reúnem condições específicas,
sentando várias formas de corrosão), dolinas entre as quais a ausência de poluição. Nas zonas pedregosas, com sorte, poderão
(grandes depressões fechadas de contorno observar-se dois animais tímidos da nossa
aproximadamente circular), e carso subter- O mosaico de vegetação e a orografia da fauna: o melro-azul que nidifica nas vertentes
râneo na forma de grutas tipo algar (galerias Rocha da Pena possibilitam a existência de rochosas e o leirão, um pequeno mamífero
que se desenvolvem verticalmente, podendo uma grande variedade de animais. Das cerca roedor.
comunicar com outras cavidades). De acordo de 120 aves inventariadas para este sítio,
com uma lenda local, a gruta do Algar dos destacam-se as aves florestais e as aves de As grutas e algares deste sítio albergam
Mouros terá sido um local de refúgio dos rapina. Espécies como a águia-de-bonelli, importantes colónias de morcegos como o
mouros após a conquista de Salir por D. Paio Erva-abelha, uma das várias espécies de orquídeas exis- a águia-de-asa-redonda, o peneireiro ou o morcego-de-peluche, uma espécie predomi-
Peres Correia. tentes na Rocha da Pena. nantemente tropical que vem diminuindo o
seu efetivo no sul da Europa, e o morcego-
As vertentes do maciço calcário encontram- -rato-pequeno, um dos mais raros morcegos
-se bem revestidas por bosques mistos de de Portugal. Poderão observar-se ocasional-
alfarrobeira, zambujeiro e azinheira, e também mente coelhos e ouriços-cacheiros que por
de carvalho-cerquinho na vertente norte. No aqui vivem, mas quanto a outros, como o
planalto calcário dominam os exuberantes javali ou os carnívoros gineta e raposa, o mais
matagais rupícolas de zimbro e carrasco, onde certo é que apenas indícios como pegadas ou
crescem espécies raras e endémicas como a dejetos denunciem a sua presença, pois são
Narcissus calcicola e a Bellevalia hackelii. Uma mais ativas durante o período noturno.
das espécies mais abundantes e típicas destes
matos mediterrânicos é a palmeira-anã ou Devido à sua localização e configuração, a Ro-
palmeira-das-vassouras, a única palmeira cha da Pena constituiria certamente um local
espontânea da Europa, utilizada no fabrico de Vagens de alfarroba; usadas na indústria alimentar, Abelha Andrena flavipes sobre flor de roselha-grande. estratégico na região. No topo deste maciço
farmacêutica, têxtil e cosmética.

84 85
Bar rocal

foi tomado por D. Paio Peres Correia.

Atividades Cerro da Cabeça


Caminhadas
Na Rocha da Pena existe um percurso pedestre
sinalizado, consistindo em caminhos pedregosos e
carreiros, que permite ao visitante conhecer alguns
aspetos importantes da flora, fauna, geologia e
património, assim como desfrutar de uma paisagem
deslumbrante. O percurso é circular e com extensão
de 6,4 km.

Escalada
Encontram-se definidos cerca de treze setores de
escalada na Rocha da Pena, sendo esta, porém, uma
atividade desaconselhada na época de nidificação
das aves. A AMEA - Associação de Montanhismo e
Escalada do Algarve pode ser consultada para mais
informações.

Acessos

Rosa-albardeira na Rocha da Pena. Esta espécie vistosa A partir de Loulé: seguir na direção de Salir e tomar
ocorre em locais pedregosos e sombrios do Barrocal e em a EN 124 em direção a Alte. Deixando-se Salir à
Monchique. esquerda, seguem-se as indicações para a Rocha
da Pena / Sítio classificado. Os veículos motorizados Os afloramentos calcários no Cerro da Cabeça exibem plantas calcícolas que crescem nas fendas da rocha. Os impenetráveis
estacionam ao final da estrada de alcatrão, num matos mediterrânicos são dominados pelo carrasco, um carvalho de porte arbustivo adaptado a ambientes secos e quentes.
existem dois amuralhamentos em pedra, os
quais fariam parte de um sistema defensivo largo com um chafariz. A estrada em terra batida
que segue em frente dirige-se à aldeia da Penina. O Cerro da Cabeça é relevo mais oriental da Grande extensão dos afloramentos rochosos
possivelmente datado da Idade do Ferro. Estas
estruturas foram mais tarde utilizadas pelos Serra de Monte Figo, um alinhamento de co- deste cerro organiza-se estruturalmente em
mouros que se refugiaram no planalto da Ro- linas com orientação paralela à linha de costa lajes calcárias tendencialmente horizontais,
cha, durante a reconquista de Portugal pelo rei e que se estende ao longo dos concelhos de onde a água das chuvas esculpiu um com-
cristão D. Afonso III, quando o Castelo de Salir Olhão, Faro, Loulé e São Brás de Alportel. O plexo reticulado de fendas. Nestas fissuras
ponto mais elevado da Serra de Monte Figo é rochosas cresce vegetação rupícola exclusiva
o Cerro de São Miguel, com 410 m de altitude de terrenos calcários, incluindo plantas muito
e do topo do qual, em dias de atmosfera raras como um delicado feto mediterrânico
limpa, se oferece a vista aberta sobre a linha (Asplenium petrarchae) ou o narciso endémico
de costa desde o Guadiana a Lagos e das ilhas da Península Ibéria Narcissus calcicola. O ambi-
barreira da Ria Formosa até à serra algarvia. ente rochoso de calcários cársicos abriga tam-
bém importantes populações de orquídeas.
Menos imponente que o Cerro de S. Miguel
mas formado exclusivamente por rochas car- Na envolvente dos afloramentos, a vegetação
bonatadas do Jurássico Superior fortemente é dominada por carrascais termófilos onde
carsificadas, o Cerro da Cabeça destaca-se abunda a palmeira-anã, observando-se em
como geomonumento do barrocal devido à alguns locais pequenas bolsas dos bosques de
extensão e importância das suas formações azinhais que outrora cobririam este território.
cársicas, constituindo o campo de megalapiás No leito dos pequenos cursos de água tor-
mais conhecido do Algarve. renciais que drenam o cerro crescem galerias
Amuralhamento no topo da Rocha da Pena, ladeado por densos carrascais e zimbrais. baixas de loendro e tamargueira.
86 87
Não obstante a sua dimensão modesta (5 km seria um algar profundo, que se acreditava ser
de extensão por quase 13 km de largura), este mais que uma caverna mas o próprio inferno,
relevo calcário considera-se um local com alto e acerca do qual se diz comunicar com o
valor ecológico, dotado de potencial florístico Castelo de Tavira.
e vegetal considerável, tendo sido integrado
na Lista Nacional de Sítios da Rede Natura
2000, com a designação Cerro da Cabeça. Atividades

À superfície do cerro observam-se formas de Caminhadas


Existe uma rede de caminhos e trilhos em redor do
megalapiás que se elevam por entre os densos
cerro, sendo fácil contornar as vertentes leste e norte
matos mediterrânicos: arcos, blocos, torres e a cerca de meia encosta. Um caminho circular de
pias escavadas, entre outros. O mundo subter- cerca de 2,5 km pode ser feito na encosta leste do
râneo do Cerro da Cabeça assemelha-se igual- cerro, subindo a sudeste do sopé até ao miradouro
mente deslumbrante, estando inventariadas e voltando a descer pela encosta a nordeste. Cerca
mais de trinta cavernas e algares neste local, de 100 m deste caminho são percorridos numa
sendo as mais conhecidas a gruta da Senhora, escadaria. Podem observar-se antigos fornos de cal
a gruta dos Mouros e as grutas da Ladroeira e, a partir de pontos elevados, avistar os cordões
arenosos da Ria Formosa, a baixa planície litoral que
Grande e Ladroeira Pequena. Alguns dos
se estende para oriente até Espanha, e os relevos
algares serão dos mais profundos do Algarve, carbonatados que se desenvolvem para norte.
nomeadamente o algar da Maxila (com mais
de 95 m), o algar da Medusa, o algar do João e
o algar do Próximo.

A paisagem cársica do Cerro da Cabeça


apresenta ótimas condições para refúgio
de morcegos havendo registos da presença
de duas espécies do género Rhinolophus: o
morcego-de-ferradura-mourisco e o morcego-
-de-ferradura-pequeno, que se alimentam de
insetos voadores como borboletas noturnas,
embora se possam alimentar também no solo.
Nos anfíbios destaque para o sapo-corredor,
uma espécie que ocupa diferentes habitats, in- Antigo forno de cal.
cluindo maquiais, reproduzindo-se em charcos
temporários. Espeleologia
As inúmeras grutas do cerro são apenas acessíveis
Do património etnográfico da região fazem no âmbito de atividades de espeleologia, devendo
parte várias lendas que associam as grutas para o efeito ser contactado o Centro de Estudos
deste cerro a mouros e mouras encantadas e Espeleológicos e Arqueológicos do Algarve (CEEAA).
a passagens secretas, algumas referidas por
Ataíde de Oliveira.* Refere este autor acerca Acessos
das grutas deste local: “(...) Também a voz
A partir de Olhão e seguindo pela EN 398 na direção
vaga afirma que nestas estão encantados
de Quelfes e Moncarapacho. Em Moncarapacho,
alguns mouros, fugidos do Castelo de Tavira, sair da localidade por leste, seguindo pela rua João
quando este foi tomado pelo grande D. Paio; Feliciano Galvão e virando à esquerda em direção
assim como também se diz que estas duas ao cerro que se avista a nordeste da povoação.
cavernas se comunicam subterraneamente Após cerca de 2 km, virar à esquerda, sendo possível
com a grande caverna do Abismo.” O Abismo iniciar a subida do cerro a pé a partir desse local.

* D’Athaide Oliveira (1898).


88
Serra

Opalescera já, o ar. O vento,


Correndo atrás da sombra, murmurou...
Sentiu-se um fechar de asas. Num momento,
A floresta, cantou.

João Lúcio
S er ra

N
0 5 km

Ribeira do Vascão

Rio
Guadiana
124
Ribeira da Foupana

Oceano Ribeira de Seixe


IC1

Atlântico Serra de
124

Ribeira da
Monchique 267
Malhão
Serra do Ribeira de Odeleite Barragem de Odeleite

Caldeirão
A2
Pelados
Cerca

Costa 267 Barragem do


IC1
SERRA 397
122

Funcho
Picota Barragem de
Vicentina Fóia
Odelouca
N2
124 Ribeira do Beliche
IC27
Barragem do
Serra de Ribeira de
Odelouca
Barragem do
Arade
Beliche

Espinhaço Barragem da
Bravura
266
124

Rio Arade 397

de Cão A2

BARROCAL
N2
A22
A22
A22
125 A22

LITORAL 125

Rede Natura 2000

Oceano
Atlântico

Delimitação do
Barrocal

90 91
S er ra

que se estende de Aljezur à Bordeira. As cristas


atingem pouco mais de 300 m de altitude e
pertencem ao Maciço Antigo do Paleozoico
constituído por xistos e grauvaques. Este
maciço atravessa a extrema norte do território
algarvio de oeste a leste, apenas interrompido
pelo afloramento eruptivo de Monchique,
retomando a oriente deste como Serra do
Caldeirão.

A serra, de vocação essencialmente florestal, é


um território agreste de grandes declives, vales
profundos e acessos sinuosos, onde crescem
bosques de sobro e azinho, medronhais e
estevais. Apesar da razoável precipitação mé-
O burro, assim como o cruzamento deste com o cavalo, um híbrido designado em Portugal como “macho” (macho) ou “mula”
dia anual (entre os 700 e 1200 mm, podendo (fêmea), é usado como animal de trabalho na agricultura tradicional. As mudanças agrícolas das últimas décadas ameaçam a
atingir os 1400 mm em Monchique), a capaci- sobrevivência destes animais domesticados pelo homem desde a pré-história.
dade de armazenamento subterrâneo de água
nos maciços de xistos e grauvaques é baixa,
pois o terreno é pouco permeável e a água nas encostas mais declivosas e com deficiente bem conservados das galerias ripícolas, que
infiltra-se com dificuldade. A serra de xisto coberto vegetal. Com maior disponibilidade se encontram ainda bolsas de vegetação
não é especialmente produtiva, os solos que de água e solos férteis resultantes das rochas similares ao que terão sido as florestas nativas
Encosta na umbria com bosque de carvalhos (Espinhaço resultam daquela litologia são finos, pouco eruptivas, o maciço vulcânico de Monchique destes ambientes serranos. Nesses locais, em
de Cão) férteis e muito vulneráveis à erosão sobretudo assume um carácter de exceção no contexto alguns casos luxuriantes, pode observar-se a
da restante serra algarvia. complexa estrutura destas comunidades
A cadeia montanhosa que forma a serra
vegetais, estando presente o estrato arbóreo
algarvia desenvolve-se paralelamente à costa
Naturalmente propenso a um certo isola- por vezes com espécimes monumentais, e
meridional, constituindo uma fronteira natural
mento, o território serrano encontra-se hoje denso subcoberto arbustivo e herbáceo.
entre o Algarve e as planícies do Baixo Alen-
despovoado e envelhecido em resultado do
tejo. Composta por três relevos principais,
êxodo das populações para o litoral. Largas Na Serra do Espinhaço de Cão, húmida e fresca
Espinhaço de Cão na orla ocidental, Mon-
extensões de paisagem serrana apresentam- sob influência do Atlântico, encontram-se
chique e Caldeirão na zona central, a serra
-se igualmente despidas, estando o coberto plantas que dificilmente ocorrem no interior
abriga as terras mais baixas do barrocal e
vegetal reduzido a matos rasteiros e rarefeitos, do Algarve, e, apesar dos solos esqueléticos
litoral do ambiente atlântico e das influências
sobretudo nos territórios mais orientais. Para e de grande parte da serra se encontrar
setentrionais. O terreno montanhoso, elevado
esta situação contribuem fatores naturais, ocupada por eucaliptal, algumas das encostas
e acidentado, atenua-se progressivamente
como o tipo de solos, a orografia ou o clima, mais húmidas dos cerros exibem exuberantes
para sul como que formando um grande anfi-
os quais influenciam a vulnerabilidade dos bosques onde crescem carvalhos, o medro-
teatro aberto sobre o mar. No território serrano
ecossistemas face à perturbação do seu equilí- nheiro, o folhado, o samouco (uma relíquia da
sobressaem os grandes panoramas, os relevos
brio ecológico, mas também a intervenção laurissilva), urzes, lianas e fetos.
vigorosos e a luz, mais difusa pela névoa que
humana ao longo dos tempos no sentido da
esbate os contornos à distância e suaviza as
desarborização e desmatação, em particular A leste do Espinhaço de Cão sucede-se o
cores quentes da vegetação mediterrânica.
ações como as campanhas de cereais de enorme maciço de Monchique que durante
meados do século XX ou as mais recentes a ocupação árabe foi considerado montanha
Os relevos serranos parecem enraizar na
plantações de matas de produção, sobretudo sagrada (Munt Sàquir). A Serra de Monchique
costa ocidental a norte do Cabo de S. Vicente,
povoamentos estremes de eucalipto. interrompe a linha de relevos talhados no
erguendo-se do oceano em altas arribas que
Maciço Antigo que se estende de Aljezur ao
se podem imaginar contrafortes da Serra do
É no sopé das encostas mais declivosas, em Guadiana, correspondendo a um afloramento
Espinhaço de Cão, um estreito alinhamento
Fóia, o ponto mais alto da Serra de Monchique. alguns vales de difícil acesso, e nos troços eruptivo de rochas alcalinas (essencialmente
de cerros com orientação nordeste-sudoeste

92 93
S er ra

sienitos como a foiaíte e a monchiquite). A aguardente ou o queijo, e a criação de gado


caprino, bovino e ovino, tendo sido apuradas
Serra de Monchique
designação foiaíte deriva de Fóia, o pico mais
elevado desta serra e do Algarve, com 902 m ao longo dos tempos raças autóctones, como
de altitude. Perto do cume a vegetação adota a vaca algarvia ou a cabra algarvia, que hoje
um porte humilde e dominam os grandes correm sério risco de extinção.
ficas, sobretudo no núcleo central da serra
blocos rochosos de origem vulcânica. onde se instalaram habitats muito particu-
lares, conferem carácter de excecionalidade
Após amplo vale onde corre a Ribeira de Lince-ibérico (Lynx pardinus) à Serra de Monchique no contexto algarvio.
Odelouca ergue-se a Serra de Mú ou do Cal- A paisagem exibe cumes altos, vales bem
deirão, a mais extensa área serrana do Algarve. marcados com solos férteis provenientes da
O Caldeirão estende-se para oriente até ao desagregação das rochas eruptivas, inúmeras
vale do Guadiana, atenuando-se em planaltos nascentes naturais e vegetação exuberante
agrestes no nordeste algarvio; na zona central onde se observam comunidades raras a nível
do Algarve, a norte de São Bartolomeu de regional e nacional, senão mesmo exclusivas
Messines, a serra alonga-se Alentejo dentro de Monchique.
até Almodôvar. O pico mais elevado situa-se
no Algarve (Pelados 589 m, Loulé), sendo Mú, As características muito próprias e os valores
já em Almodôvar, o segundo ponto mais alto naturais do conjunto montanhoso da Serra
com 577 m. JP de Monchique determinaram a inclusão de
grande parte do concelho de Monchique na
Embora a gestão florestal se apresente difícil, Lista Nacional de Sítios da Rede Natura 2000,
Outrora um importante reduto de lince-ibérico,
numa região onde a propriedade tende a com a designação Sítio Monchique, estando
a serra algarvia oferecia até meados do século
ser pequena e a mão de obra pouca e cara, passado uma extensa área com condições privi- também esta área classificada como ZPE.
a extração de cortiça é ainda uma atividade legiadas para este felino. Décadas de plantações
fundamental para a economia das populações de espécies exóticas, em particular de eucalipto,
serranas, sobretudo no Caldeirão. Grande uma maior frequência de fogos florestais e a
parte da serra algarvia apresenta excelentes escassez de coelho-bravo (a principal presa do
Coberto florestal da serra de Monchique. A paisagem
condições naturais para o crescimento do so- lince-ibérico), tornaram o habitat do lince nestas
tradicional de carvalhos e castanheiros contrasta com as
breiro, sendo comparável em potencialidade serranias demasiado fragmentado e desadequa- plantações florestais de eucalipto (em segundo plano).
do para sustentar uma população viável. Atual-
às serras de Grândola e do Cercal. Noutras
mente extinta como reprodutora em Portugal, a
áreas serranas, como em Monchique, é mais Monchique, a mais nebulosa das serras algar-
espécie é vista esporadicamente na proximidade
notória a produção silvícola dedicada aos das zonas fronteiriças com Espanha, onde sub- vias, é um maciço de origem vulcânica que
pinheiros e ao eucalipto. Na serra pratica- sistem populações residuais reprodutoras. emergiu há cerca de 72 milhões de anos em
-se também a agricultura de subsistência, a território marinho, possivelmente associado
transformação de produtos como o mel, a Considerada em grave perigo de extinção, foi de- à abertura do Atlântico norte no período
senvolvido um programa de salvação desta espé- Cretácico. A par com os maciços sieníticos de
cie emblemática, o qual consiste na reprodução Sines e Sintra, trata-se de uma das intrusões
em cativeiro e na recuperação do habitat, tendo ígneas alcalinas mais importantes da Europa.
em vista a reintrodução de linces na natureza.
Este afloramento de sienitos, cuja designação
O plano de ação para a conservação do lince
contemplou a criação do Centro Nacional de monchiquite e foiaíte remete para a toponímia
Reprodução do Lince-ibérico, perto da barragem local, exibe dois picos de vertentes abruptas,
de Odelouca em Silves, onde os espécimes a Fóia com uma altitude de 902 m e a Picota a
adultos trazidos de Espanha têm-se reproduzido 774 m, separados por largo desfiladeiro onde
com sucesso nos últimos anos. Espera-se que a se edificou a vila de Monchique. Do cume da
reprodução em cativeiro e as medidas florestais Fóia, o miradouro mais alto do Algarve, a vista
e cinegéticas possam permitir o regresso à serra alonga-se até ao litoral alentejano.
de um dos felinos mais ameaçados de extinção a
nível mundial.
A cabra algarvia está distribuída em rebanhos no sul de Condições bioclimáticas e geológicas especí- Exemplar monumental de carvalho-de-monchique.
Portugal, com predomínio no nordeste algarvio.

94 95
S er ra
O manancial de água na região é abundante floresta laurissilva do Terciário), e de árvores
e constante, sendo frequentes fontes e fonta- raras a Sul como o castanheiro. É ainda de
nários. Algumas nascentes de água quente assinalar a ocorrência do endemismo lusitano
com propriedades minero-medicinais, sendo Centaurea vicentina, planta serrana que se
a principal a da Fóia, abastecem o importante distribui por tojais e urzais baixos até às zonas
complexo termal das Caldas de Monchique, litorais a sudoeste, e do endemismo local
antigo balneário romano. Várias ribeiras, Seixe, Euphorbia monchiquensis.
Cerca, Odiáxere, Monchique e Boina, entre
outras, drenam a Serra de Monchique, e graças Condições excecionais favorecem a ocorrência
às nascentes algumas mantêm água a correr em Monchique de exemplares monumentais
durante todo o ano. de espécies nativas como o sobreiro e o carva-
lho-de-monchique, e de árvores ornamentais
A altitude e a proximidade do oceano confe- como o plátano-oriental, a magnólia-sempre-
rem a Monchique um clima subtropical húmi- -verde e a araucária-de-norfolk. Surpreende
do, registando-se aqui o mais elevado índice ver tão a sul, onde Miguel Torga dizia estarem
de precipitação do Algarve e em simultâneo os frutos ao alcance da mão, estas árvores
temperaturas amenas no inverno e alguma robustas e imponentes. Alguns destes es-
frescura estival. Ocasionalmente nos meses pécimes foram classificados como árvores de
mais frios verifica-se queda de granizo e, mais interesse público pela Autoridade Nacional
raramente, de neve nos picos mais altos. Estas Florestal, destacando-se o sobreiro da Corte
condições particulares permitem a ocorrência Grande com altura de 19 m e 37 m de
de comunidades vegetais singulares, sendo diâmetro de copa, o carvalho-de-monchique
nestas encostas que alguns elementos da flora Cascata do Barbelote, vertente norte da serra. na estrada de Alferce com 24 m de altura e O amieiro forma densos bosques ripícolas nas ribeiras de
atlântica encontram o seu reduto mais meri- 12 m de diâmetro de copa, a araucária da caudal mais constante.
dional, embora inseridos em comunidades Quinta do Aviador que atinge os 40 m de
com franca expressão mediterrânica.
Carvalho-de-monchique (Quercus canariensis)
As comunidades serranas distribuem-se
de acordo com a interação entre orografia,
proximidade do mar, tipo de solo, regime de
ventos, temperatura e humidade. A baixa e
média altitude, especialmente em locais mais
expostos e secos, domina a flora mediterrâni-
ca, sendo de assinalar os zimbrais silicícolas de
Juniperus turbinata que só voltam a ocorrer no
nordeste algarvio; a cotas mais elevadas as co- Adelfeira em flor.
munidades incluem elementos subatlânticos
e mediterrâneo-atlânticos, sobretudo no sopé
das encostas, acantonados em locais onde se
formam microclimas mais húmidos.

A vegetação nestes locais pode tornar-se luxu- PG


riante exibindo matagais altos da rara adelfeira,
medronhais e urzais pré-florestais, e bosques Relativamente abundante nas montanhas do Maghreb, a sua distribuição em Portugal
de carvalhos. É assim possível a ocorrência restringe-se à Serra de Monchique e a exemplares isolados no sudoeste alentejano. Forma
de espécies de distribuição muito restrita em bosques mistos com sobreiros e outros carvalhos, em encostas abrigadas, sombrias e húmidas,
frequentemente na proximidade de cursos de água. Na Serra de Monchique estes bosques
Portugal como o carvalho-de-monchique, a
encontram-se bastante reduzidos e fragmentados na sequência de ações de desflorestação e
adelfeira ou o samouco (ambas relíquias da dos fogos florestais.
Flores e frutos do medronheiro.

96 97
S er ra
mosaico de culturas hortícolas e arvenses e Comer ao ar livre
pomares de fruta, são facilmente irrigáveis no Os parques de merendas formalizados em locais
estio com água das nascentes; as explorações emblemáticos de Monchique permitem usufruir
do ambiente sombrio e fresco proporcionado por
agrárias são sobretudo de carácter familiar e
árvores frondosas, por vezes seculares: Parque de
desempenham importante papel na autos- Merendas do Alferce, Parques de Merendas em
suficiência das famílias. Parte considerável dos Marmelete, Parque de Merendas do Barranco
solos agrícolas estão ocupados por pastagens dos Pisões, Parque de Merendas das Caldas de
para gado bovino e ovino. A produção de mel Monchique.
e de medronho para aguardente têm também
um peso significativo na economia local. Relaxar e desfrutar das propriedades das águas me-
dicinais da Serra de Monchique com os tratamentos
termais e programas de bem-estar no complexo
Mesmo assente em explorações de pequena A zona da Fóia apresenta uma paisagem aberta com aflo-
ramentos rochosos o que proporciona condições ótimas termal situado nas Caldas de Monchique.
dimensão, é a produção silvícola que domina
para a nidificação da cia.
a economia da serra. A área ocupada por flo-
resta é muito significativa, embora as outrora
extensas manchas de castanheiros e sobreiros
Atividades
tenham vindo a ser largamente substituídas
por povoamentos estremes de eucalipto ou Caminhadas
de pinheiro-bravo. As matas de produção Existem percursos pedestres sinalizados e outros em
Rela-meridional. Ocorre em zonas húmidas com abundante
processo de formalização na zona de Monchique:
vegetação marginal, normalmente próximo de água. de eucalipto e pinheiro apresentam elevada
o Trilho da Fóia (7 km) é um percurso sinalizado e
rentabilidade relativamente à exploração do circular que se desenvolve em torno do miradouro
altura, e uma alameda de plátanos em Mon- castanheiro e do sobro, mas, sobretudo no da Fóia; o Caminho das Caldas – Picota (9 km), com
chique com vários exemplares a rondarem os caso do eucaliptal de produção, têm sido início nas Caldas de Monchique, permite visitar o
30 m de altura. documentadas perdas significativas em Miradouro das Caldas e subir até ao segundo cume
termos de qualidade ecológica do meio e dos mais elevado de Monchique, a Picota; o Trilho dos
índices de biodiversidade. Moinhos (5 km) pode ser iniciado no parque de
À semelhança do que acontece com a vegeta-
merendas do Barranco dos Pisões e percorre um
ção, a orografia e o clima da serra favorecem troço da Ribeira de Seixe onde são frequentes os
também a presença de fauna diferenciada da É na zona de Alferce, sobretudo nas densa-
moinhos de água; o Percurso das Árvores Monu-
do restante território algarvio. Uma delas é o mente arborizadas encostas do nordeste da mentais (6,6 km), com início no Largo dos Chorões
lagarto-de-água, espécie que ocorre nas linhas serra, que subsistem bosques bem conser- em Monchique, é um percurso circular que permite
de água, associado a plantas como a adelfeira. vados de sobreiro e outros carvalhos. Estas conhecer algumas das árvores notáveis da serra.
Parque de Merendas do Barranco dos Pisões.
A dependência da água faz com que a popu- exuberantes manchas florestais com denso É possível contactar o Município de Monchique e os
lação deste lagarto esteja isolada no sul de coberto arbustivo e herbáceo são local de operadores de turismo de natureza da região para
nidificação da águia-de-bonelli e da águia- realização destes e de outros percursos alternativos. Acessos
Portugal (entre Monchique e a Serra do Cercal
no Alentejo), ocorrendo somente num outro -cobreira, e permitem imaginar como que
BTT Miradouro da Fóia: a partir do centro de Mon-
maciço montanhoso a sul do Rio Tejo, a Serra terá sido em tempos a paisagem serrana em chique, tomar a EN 266-3 seguindo as indicações
O clube BTTMonchique é uma associação de
de São Mamede. Outro interessante réptil da Monchique. ciclismo especializada em organizar eventos de para o miradouro.
Serra de Monchique é a cobra-de-pernas-pen- cicloturismo e BTT e pode ser contactada para a
tadátila, um endemismo ibérico muito difícil Na zona da Fóia, onde a altitude condiciona a realização de percursos de bicicleta em montanha. Caldas de Monchique: Situa-se na vertente sul
de observar devido ao seu comportamento paisagem aos matagais, pequenos bosquetes da serra, a 6 km da vila de Monchique, na EN 266
esquivo. A maior humidade do ambiente ser- e campos abertos, é mais fácil observar as Contemplar (estrada que liga Portimão à vila de Monchique).
espécies de passeriformes comuns da serra Diversos miradouros em Alferce (Barreiras Brancas,
rano favorece também a presença de algumas
algarvia como a cia ou o tentilhão. Também Monte Velho, Barranco do Demo, Altura da Choça, Alferce: Situa-se na vertente nordeste da serra, a
espécies de anfíbios como a rela, o sapo- Altura da Benafátima), Marmelete (Cerro dos Picos) cerca de 10 km da vila de Monchique, no troço da
parteiro-ibérico e a rã-de-focinho-ponteagudo. a borboleta Euphydryas desfontainii pode ser EN 267 que faz a ligação entre S. Marcos da Serra e
e Monchique (São Sebastião, Fóia, Picota, Fonte
encontrada na Serra de Monchique. Trata- Santa, Caldas) permitem desfrutar das amplas Monchique.
A vocação agrícola e florestal deste território -se de uma raridade em Portugal tendo sido vistas que se oferecem nos cumes deste sistema
está bem patente na paisagem. Nos vales os registada apenas no Algarve, sobretudo montanhoso. Marmelete: Situa-se a cerca de 16 km a oeste da vila
solos espessos e férteis, ocupados por um nas margens das ribeiras até aos 300 m de de Monchique, no troço da EN 267 que faz a ligação
altitude. entre Aljezur e Monchique.
98 99
S er ra
histórico resultante da orografia da serra, diz medicinais e resinosas - apresentam elevado
Pessoa* que no Caldeirão as populações são potencial de rentabilidade, sobretudo conside-
Serra do Caldeirão “(...) sobretudo serranas, no que isso tem de
luta contra a agressividade do meio, contra
rando alguma sinergia com o turismo rural e
de natureza.
a rudeza dos solos e clima”. Naquele que é o
território mais despovoado e frágil do Algarve, Uma área aproximada de 50.000 hectares na
coexistem as grandes extensões de bosques parte ocidental da Serra do Caldeirão integra
mais ou menos abertos de sobro e de azinho, o SIC Caldeirão e está classificada como ZPE
as matas de pinhal e eucalipto, os campos (no âmbito da Rede Natura 2000), incluindo os
de cereais, os matos baixos de esteva, mas ambientes em melhor estado de conservação
também vastas áreas de coberto vegetal tão do território serrano, onde as comunidades
rarefeito que os solos finos e pobres se encon- vegetais revelam estrutura e densidade
tram expostos, extremamente vulneráveis à ótimas. Trata-se de uma área revestida por
erosão. extensos sobreirais, os quais se apresentam
nas encostas mais sombrias e isoladas como
O povoamento organiza-se em pequenos bosques e pré-bosques de sobreiro e
aglomerados rurais, os montes, possivelmente carvalho-cerquinho, acompanhados por
por influência árabe. A atividade agrícola é matagais impenetráveis onde dominam o
essencialmente de subsistência e concen- medronheiro e as urzes. Nas encostas mais
tra-se junto às linhas de água e no sopé dos soalheiras são os matos mais baixos, sobretu-
montes, dominando a hortofruticultura, o do estevais, que acompanham estes bosques.
pomar tradicional de sequeiro (sobretudo oli-
val), as pastagens e a suinicultura em regime A dimensão de alguns destes bosques, o
extensivo, normalmente na proximidade das equilíbrio entre os vários estratos da vegeta-
pequenas aldeias.

O território adequa-se à exploração florestal,


Relevo montanhoso da Serra do Caldeirão.
a qual tem por base o sobreiro para explora-
ção da cortiça, espécie que no setor central e
ocidental do Caldeirão usufrui de condições
A Serra do Caldeirão ou de Mú ocupa larga assemelham a enormes “caldeirões”, cercados ótimas de humidade, temperatura e altitude
extensão da região algarvia, estendendo-se por longas cordilheiras de montes. para o seu crescimento. É frequente nas
desde o vale da Ribeira de Odelouca, em explorações de sobro conjugar-se o aproveita-
Silves, até à zona fronteiriça onde se suaviza A maioria das linhas de água tem carácter mento da cortiça com o cultivo extensivo de
em planaltos baixos na proximidade do vale sazonal, secando no estio e correndo em cereais ou de forragens, dando origem a uma
do Guadiana. Os relevos são relativamente torrentes impetuosas na época das chuvas. paisagem do tipo montado que na primavera
modestos, não atingindo os 600 m de altitude, A precipitação média anual é razoável nas se cobre de tapetes coloridos. Em alguns
mas grande parte da serra encontra-se acima zonas mais altas do concelho de Loulé (ul- locais, por abandono da atividade agropas-
dos 400 m exibindo uma paisagem acidentada trapassando os 800 mm), mas decresce para toril, estas áreas evoluíram para sobreirais
de cerros arredondados e vales escavados oriente, podendo ser inferior a 500 mm no relativamente densos, onde já crescem os
pelos cursos de água que aqui nascem e nordeste algarvio. A disponibilidade de água matos nativos.
percorrem as serranias em direções várias: o é francamente baixa, já que os solos de xistos
Rio Mira para o baixo Alentejo, as ribeiras do e grauvaques do Maciço Antigo são pouco Apesar da dinâmica de despovoamento da
Vascão, Oeiras, Foupana, Odeleite e Beliche permeáveis, dificultando a infiltração e o arma- serra que se instalou em meados do século
para o Guadiana, o Rio Arade e a Ribeira de zenamento subterrâneo de água. passado, as atividades tradicionais ligadas
Odelouca para oeste, desaguando no litoral do às matérias primas da serra - a cortiça, os
barlavento algarvio. São característicos desta Com reduzida disponibilidade de água, solos cogumelos de valor económico, o medronho,
paisagem serrana os vales amplos que se esqueléticos pouco férteis e um isolamento o mel, o queijo e as plantas aromáticas,
Sobreiral com subcoberto de matos baixos.
* Pessoa (1999).
100 101
S er ra
ção, e a tranquilidade das serranias interiores -de-bonelli ou o bufo-real, assim como uma A ocupação do território serrano remonta ao
permite que nelas se abrigue uma rica e grande variedade de passeriformes nidificam Neolítico, como atesta a grande quantidade
diversificada comunidade de fauna, na qual nos diversos ambientes serranos. Das espé- de vestígios arqueológicos - antas, tholoi e
se destacam as aves e os mamíferos. Foram já cies migradoras destacam-se os coloridos ruínas de povoações - de que são exemplo a
identificadas mais de 150 espécies de aves no abelharucos e papa-figos que aqui chegam Anta das Pedras Altas e a Anta da Masmorra
Caldeirão, a maioria associadas à área florestal. na primavera, vindos de África, para nidificar. na zona do Cachopo (Tavira), monumentos
Entre os mamíferos, são comuns o sacarrabos, megalíticos do período Neolítico Final. A
As grandes aves de rapina, como a águia- a geneta e o javali. região interior do concelho de Tavira é
extraordinariamente rica em património
Importância ecológica e usos do sobreiro (Quercus suber) arqueológico e histórico, sendo possível
observar exemplos da arquitetura serrana e do
Abelharuco ancestral modo de vida das populações: casas
em xisto ou caiadas, fornos comunitários, eiras,
azenhas, moinhos de vento e os tradicionais
palheiros (construções circulares de origem
pré-histórica feitas em pedra e terra, com
telhados de colmo ou de junco da ribeira).

O sobreiro é uma árvore imponente e frondosa, podendo atingir 25 m de altura e chegando a viver até Pega-azul Anta da Masmorra (Tavira).
aos 300 anos. Distribui-se pela zona ocidental da região mediterrânica, onde se faz sentir alguma in-
fluência atlântica, encontrando o seu ótimo ecológico em território continental nacional, com exceção
das zonas em altitude (com temperaturas muito baixas) e dos terrenos calcários.

É uma espécie de carvalho bem adaptada ao clima mediterrânico: o tronco produz uma casca espessa
e suberosa, a cortiça, cuja principal função é proteger a árvore do fogo. A cortiça é uma matéria-prima
nobre, com constituição celular leve e de grande compressibilidade, que tem atualmente utilização em
setores tão exigentes como a indústria espacial, automóvel, de construção civil e da confeção. Portugal
é responsável por cerca de 55% da produção mundial de cortiça.

A capacidade de produzir abundante cortiça e de resistir à sua extração, permite a subericultura e a


constituição dos sistemas agrosilvopastoris conhecidos por “montados”, uma forma incomparável de
gestão florestal. Os montados desempenham funções ecológicas importantes, constituindo ecossiste-
mas singulares aos quais se associam elevados índices de biodiversidade.
Perdiz-comum Palheiro na Mealha (Tavira).

O sobreiro é uma espécie florestal protegida por legislação nacional desde a Idade Média.

102 103
S er ra

Atividades
Caminhadas
Na freguesia de Cachopo (Tavira), os Centros de
BTT
Encontram-se formalizados três percursos de BTT, Rio Arade e Ribeira de Odelouca
Descoberta do Mundo Rural de Casas Baixas, da ordem dos 20 km de extensão, com pontos de
Feiteira e Mealha são locais a partir dos quais se partida no Ameixial, em Salir e na Cortelha. O guia
pode percorrer mais de uma dezena de percursos de percursos encontra-se disponível no website do
formalizados em território serrano e onde se dá a Município de Loulé
conhecer o modo de vida das populações locais e
o rico património natural e histórico da região. Para Itinerários temáticos
obter informação sobre estes trilhos, e sobre outros A Rota da Cortiça é um produto turístico com itine-
seis percursos na envolvente de Santa Catarina rários definidos e atividades organizadas, tendo em
da Fonte do Bispo, é possível consultar a Associa- vista a divulgação da exploração da cortiça, desde o
ção In Loco, sediada em São Brás de Alportel, ou sobreiral até à fábrica. Encontra-se estruturada em
descarregar os guias dos percursos no website da seis temas: património, natureza, vida rural, tradição,
associação. inovação e conhecimento, e pretende facilitar a
sensibilização dos visitantes para a salvaguarda e
valorização do sobreiral. O itinerário contempla a
passagem por aldeias, paisagens rurais e florestais,
e museus e fábricas do concelho de São Brás de Al-
portel. Mais informação pode ser obtida no website
da Rota da Cortiça, ou no Município de São Brás de Galeria ripícola na Ribeira de Odelouca com salgueiros e freixo.
Alportel.
É na serra algarvia que nascem os principais tudo em vales moderadamente encaixados
cursos de água da região, sistemas fluviais de onde não se proporciona o aproveitamento
cariz tipicamente mediterrânico em que os agrícola das margens ribeirinhas, uma galeria
caudais correm em fortes torrentes na época densa e frondosa de bosques ribeirinhos
Roselha-grande
das chuvas e tendem a secar na época estival. ladeia as ribeiras serranas. Nestes bosques são
frequentes o freixo, os salgueiros, os choupos,
O Município de Loulé disponibiliza informação sobre
O Arade é o rio mais caudaloso depois do e nos troços mais húmidos o amieiro; se a
seis percursos formalizados na área do concelho,
destacando-se o Percurso do Pé do Coelho, em Guadiana, sendo, a par com a Ribeira de disponibilidade de água é baixa ou marcada-
Salir, que permite subir ao topo do cerro do Malhão, Odelouca, um dos mais longos do Algarve. mente sazonal, as margens exibem bosques
um dos pontos mais altos da Serra do Caldeirão. O Rio Arade e a Ribeira de Odelouca nascem ribeirinhos baixos dominados pelas espécies
Neste local, escolhido para edificação de um templo na Serra do Caldeirão e confluem perto de típicas dos ambientes mais meridionais, o
budista, a vista abre-se em todas as direções, Silves, num local onde existe uma elevação loendro e a tamargueira.
oferecendo-se amplo panorama sobre o ondulado sobranceira ao rio, o cerro da Atalaia ou Atalaia
serrano e o contorno dos cumes de Monchique a de Silves, a qual conserva vestígios de uma Estas complexas galerias ripícolas revestem-
oeste, até às planícies litorais e ao oceano. O guia
construção defensiva. Deste local elevado -se de significativa importância ecológica,
de percursos encontra-se disponível no website do
município. observa-se Silves, tendo sido um ponto estra- desempenhando um papel fundamental na
A rolha de cortiça é o produto mais famoso proveniente da
tégico na época em que o Arade era navegá- qualidade da água, no controle da erosão
Via Algarviana: trata-se de uma Grande Rota Pedes- indústria corticeira e o que gera maior receita. vel até montante daquela cidade e a principal hídrica e de cheias, e proporcionando abrigo a
tre (GR13) que liga Alcoutim ao Cabo de S. Vicente, via de entrada no barlavento algarvio. diversas espécies de fauna e flora.
inspirada no Trilho Moçarabe (percurso utilizado por Acessos
peregrinos religiosos entre Mértola e o Cabo de São A bacia hidrográfica de Odelouca é uma Os cursos de água que integram a bacia
Vicente). A extensão desta grande rota ronda os sub-bacia do Arade, constituindo um dos seus hidrográfica do Arade e Odelouca são habitat
Os pontos de partida para os itinerários e percursos
300 km, na sua maioria percorridos na serra
referidos encontram-se em localidades acessíveis principais afluentes; o vale amplo desta ribeira de uma comunidade piscícola notável sendo
algarvia. Existem pontos de entrada para a Via nas
através da rede viária da região. Aconselha-se a marca a fronteira entre os sistemas montanho- cruciais na conservação da diversidade gené-
seguintes localidades serranas: Alcoutim, Balurcos,
prévia preparação dos percursos mais longos, sobre- sos de Monchique e do Caldeirão. tica de ciprinídeos como a boga-do-sudoeste,
Furnazinhas, Vaqueiros, Cachopo, Barranco do Velho
tudo das Grandes Rotas, através da consulta atenta
e Salir. Mais informação pode ser consultada no exclusiva das bacias do Mira e do Arade, o
da informação disponível e da impressão dos mapas
website www.viaalgarviana.org
dos traçados.
Nos locais de fraca influência humana, sobre- escalo-do-arade (endémico das bacias do

104 105
sudoeste), e a boga-de-boca-arqueada, ende- esquerda de Odelouca com o objetivo de
mismo ibérico. beneficiar populações futuras de lince-ibérico
e de águia-de-bonelli, a construção do Centro
Considerando-se prioritária a conservação Nacional de Reprodução em Cativeiro do
destas linhas de água e dos organismos Lince Ibérico, e a reabilitação de galerias ribei-
que dependem do meio aquático, os troços rinhas e corredores fluviais em alguns troços
terminais do Arade e de Odelouca, excluindo da bacia hidrográfica do Rio Arade.
a foz do Arade, encontram-se classificados ao
abrigo da Rede Natura 2000, constituindo o
Sítio de Interesse Comunitário Arade / Ode- Atividades
louca, o qual faz fronteira com o limite sul do
Sítio Monchique. Caminhadas
A montante da albufeira da barragem de Odelouca,
Até à construção da Barragem de Odelouca, a sul de São Marcos da Serra, é possível seguir um
o troço da Ribeira de Odelouca nas faldas de pequeno troço da ribeira com galeria ripícola bem
conservada, enquadrada por encostas revestidas
Monchique exibia um dos mais exuberantes
por densos sobreirais. A jusante da barragem, nas
e bem conservados bosques ribeirinhos ser- imediações da localidade de Odelouca, alguns
ranos da região, incluindo o maior corredor caminhos rurais permitem percorrer a margem
de ameal do Algarve, agora submerso pelas direita da ribeira, onde se pode admirar o mosaico
águas do enorme lago artificial. Estes bosques de hortas e pomares da várzea e as encostas das
de grande complexidade estrutural, raros na serranias revestidas por matagal denso.
região pela sua vulnerabilidade a alterações na
margem das ribeiras e por integrarem árvores. Pesca desportiva
Nas albufeiras do Funcho e Arade (alimentadas pelo
como o amieiro. que suportam mal a seca,
Rio Arade) e de Odelouca.
resistem agora apenas em pequenas bolsas
nos vales afluentes à Ribeira de Odelouca, Passeios fluviais e desportos náuticos
sobretudo em Corte Mourão e em Benafátima Passeios turísticos e a prática de remo e canoagem
(Silves), e ainda noutras ribeiras que correm podem ser realizados ao longo do Rio Arade e da
nas vertentes norte e oeste de Monchique. Ribeira de Odelouca, bem como nas albufeiras. O
Município de Portimão aconselha um itinerário
Na sequência das perdas ecológicas decor- fluvial com início em Portimão, subindo o rio até
Odelouca (24 km ida e volta). Mais informação sobre
rentes da construção da barragem foram
o percurso fluvial e outros percursos pode ser des-
definidas medidas compensatórias que carregada do website do Munícipio de Portimão.
incluíram a recuperação de habitats em cerca
de 450 hectares de mata nacional na margem Acessos
Ribeira de Odelouca em São Marcos da Serra:
tomando a estrada M 542 para Alferce (Monchique)
o acesso à ribeira surge a cerca de 700 m após a
passagem de nível.

Odelouca: em Odelouca sair pela EN 124 no sentido


oeste (Monchique); após passar a ponte sobre a
ribeira, virar à esquerda para o caminho de terra que
dá acesso à margem direita da ribeira.

Albufeiras: o Funcho e Arade são acessíveis a partir


do troço da EN 124 que liga São Bartolomeu de
Albufeira da barragem de Odelouca. Messines a Silves; Odelouca é acessível a partir da
EN 266 entre Portimão e Monchique.

106
Guadiana

Até a nascente do rio acredita no oceano.

William Stafford
Guadiana
Na proximidade do vale do Guadiana, os
Praia fluvial do Pego Fundo relevos da Serra do Caldeirão suavizam-se
N Ribeira do Vascão dando forma a uma vasta região de planal-
tos de cor quente e cheiro intenso a mato.
0 5 km Acompanhando a progressiva escassez de
chuva, a azinheira vai substituindo o sobreiro à
Rio medida que se caminha para leste; a paisagem
aberta exibe tons secos e uma certa aridez nos
124
IC27
Guadiana montados de azinho, nos campos de cereais
e nos estevais, apenas cortada pelo correr da
água daquele a que chamam o grande rio do
Ribeira da Foupana 122 Sul e das ribeiras que a ele afluem, locais onde
os verdes se avivam e a vida se adensa.
Guerreiros do Rio
O Rio Guadiana nasce a 1.700 m de altitude
nas lagoas Ruidera da região espanhola
Castela-La Mancha, a pouco mais de 800 km
da foz na costa sul da Península Ibérica. No
Barragem seu troço terminal desenha a fronteira entre
Serra do de Odeleite Portugal e Espanha e forma um delta que
desagua diretamente no oceano, caso único
Caldeirão 397
Ribeira de Odeleite 507 em Portugal. Historicamente são referidos dois
largos braços de rio, um entre Castro Marim e
Ayamonte, e outro a nascente de Ayamonte
IC27
que foi assoreando progressivamente.
124
Ainda no Alentejo, perto de Mértola, o Gua-
Ribeira do Beliche
diana corre entre fragas em vales estreitos e
122
Barragem do escarpados, escavando os xistos e grauvaques
Sapais de Castro
Beliche Marim do Maciço Antigo. A partir de Mértola, e
depois por terras algarvias, o canal do rio vai
alargando progressivamente até à zona estua-
rina, variando entre os 100 m e os 800 m de
largura já na foz. Condicionado pelo substrato
A22 geológico, o estuário do Guadiana é relativa-
Rede Natura 2000 397 mente estreito em comparação com outros
ambientes estuarinos que se desenvolvem em
125 sedimentos mais brandos. É a sul de Castro
Marim, apenas a 6 km da foz, que o plano de
água se espraia, alongando-se em meandros
entre bancos de sapal.
Foz do Rio Guadiana
O Baixo Guadiana, com cerca de 70 km nave-
A22
gáveis entre a foz e Mértola, foi a via natural de
entrada de sucessivos povos no sudoeste da
Península Ibérica e fundamental na estrutura-
125
Oceano Atlântico ção do território peninsular. Constituindo uma
via fluvial estratégica, viabilizou o escoamento

108 109
Guadiana
dos minérios explorados pelos Romanos nas comunidades vegetais, sobretudo os bosques
minas de S. Domingos e integrou as rotas ribeirinhos e os matagais arborescentes de
comerciais mediterrâneo-atlânticas durante a zimbro que crescem nas escarpas siliciosas,
ocupação árabe. Após a reconquista cristã do desenvolvam grande complexidade estrutural
Algarve e da Andaluzia, o Guadiana consoli- e maturidade ecológica. Nos vales afluentes
dou-se como fronteira natural entre os Reinos do Guadiana o solo ganha espessura e for-
de Portugal e Espanha. Os territórios raianos mam-se microclimas singulares que permitem
eram defendidos por ordens religioso-militares a conservação de bosques de azinheira nas
que geriam praças fronteiriças ao longo do rio encostas e usos agrícolas mais proveitosos nas
(Castro Marim, Alcoutim e Mértola). várzeas.

Designado até ao século XIII por Rio Ana, os Tendo em vista a proteção destes valores Plantação de pinheiro-manso.
árabes mantiveram o nome acrescentando-lhe naturais, as áreas ribeirinhas do Rio Guadiana
o vocábulo uádi que significa rio, resultando e da Ribeira do Vascão e a confluência das nal, com produções retiradas a custo dos solos
em Odiana à semelhança de outros cursos O Guadiana em Guerreiros do Rio. ribeiras Odeleite e Foupana, seus afluentes em finos e pobres. Mais recentemente grandes
de água do Sul como Odeleite, Odemira ou território algarvio, foram integrados no Sítio extensões de território têm vindo a ser
Odeceixe. A língua castelhana transformou de Importância Comunitária Guadiana (Lista reflorestadas com pinhal, numa tentativa de
o uádi em guadi e a designação Guadiana foi de Sítios da Rede Natura 2000) que se alonga inverter o ciclo de degradação e baixa produ-
também adotada pelos portugueses do terri- depois pelo Alentejo até à região de Serpa. tividade do solo que se parece ter instalado,
tório raiano a partir do século XVI, em virtude sobretudo nas encostas mais declivosas.
da influência castelhana. Um mosaico desenha-se nas encostas suaves
que envolvem o vale do Guadiana, são sobre- A atividade cinegética é praticada numa ex-
O mesmo termo árabe designa os uedes dos tudo manchas de esteval que se intercalam tensão significativa do território, nas Reservas
territórios semiáridos do Maghreb, os vales com montados de azinho, campos de cereais de Caça associativas e turísticas. As principais
secos onde correm os rios torrenciais na época e olivais e alfarrobais tradicionais. A explora- espécies cinegéticas são o coelho-bravo, a
das chuvas. De forma similar, uma das carac- ção agrícola é extensiva, de carácter tradicio- lebre, a perdiz e o javali. Num ambiente domi-
terísticas mais marcantes do Guadiana e dos
seus afluentes é a irregularidade dos caudais;
o regime fluvial é marcadamente sazonal e
sujeito a significativa variabilidade interanual,
sendo típicas situações de sucessivos anos A foz vista do castelo de Castro Marim.
secos a par com episódios catastróficos de
cheias. As comunidades biológicas estão bem
adaptadas ao regime torrencial dos caudais,
tendo desenvolvido estratégias engenhosas
para resistir na época em que a água escasseia.

A aridez da paisagem contrasta com a vida


que as águas do Guadiana e dos seus afluen-
tes sustentam, constituindo estes cursos de
água importantes corredores ecológicos para
muitas espécies terrestres e aquáticas. Assi-
nala-se, entre outros valores, a notável diver-
sidade de peixes dulçaquícolas e migradores
de águas interiores da bacia do Guadiana. A
Zimbro com porte arbóreo na margem da Ribeira da
dureza deste território inóspito contribui para Foupana.
que a presença humana pouco se faça sentir,
sendo possível encontrar locais em que as Paisagem arborizada com azinhal e pinhal, característica da bacia hidrográfica da Ribeira do Beliche.

110 111
Guadiana

Os estevais
e azinheira nativos da Europa meridional por
matos. A campanha dos cereais de meados do
século XX alterou profundamente o mosaico
Bacia do Guadiana
de bosque e matos existente, pois mesmo as
encostas mais declivosas da serra algarvia foram
arroteadas. Após o abandono das culturas que
proporcionaram produções exíguas, o solo
esgotado ficou à mercê da erosão. O coberto
vegetal tem recuperado lentamente, sobretudo
no setor oriental do Caldeirão, estando largas ex-
tensões serranas cobertas por um monocromático
manto de esteval. A esteva, Cistus ladanifer, é das
poucas espécies que se consegue instalar nestas
Desde o Neolítico que o homem tem vindo a condições adversas, sendo pioneira na coloniza-
alterar a paisagem serrana, convertendo área de ção de solos pobres. Com o passar do tempo, e
floresta em terrenos agrícolas e pastagens. havendo alguma recuperação do solo, os estevais
Intervenções seculares como o arroteamento, as serranos tenderão a evoluir para matos mais com-
queimadas e o pastoreio, resultaram na substitui- plexos, embora de fisionomia condicionada pela
ção de parte significativa dos bosques de sobreiro escassez de água na região.

nado por estevais e matos baixos os abrigos atividades bem adaptadas às condições
são escassos, em particular para animais de biofísicas da região. Os inúmeros monumentos
maior porte como o javali que se refugia nos megalíticos hoje visíveis no vale do Guadiana
Tamujal no troço médio da Ribeira da Foupana.
barrancos arborizados, saindo para se alimen- cumpririam importantes funções em termos
tar durante a noite. de ordenamento físico do espaço nessas co-
A bacia hidrográfica do Guadiana é a quarta Nos cursos de água da bacia desenvolve-se
munidades. Em Alcoutim encontram-se ainda
maior da Península Ibérica, depois das bacias vegetação ripícola diversificada, bem adap-
Embora o nordeste algarvio se encontre agora vestígios arqueo-metalúrgicos que documen-
do Douro, Ebro e Tejo, drenando um território tada ao regime irregular dos caudais: são
bastante despovoado, o vale do Guadiana é tam a existência de atividades extrativas e
de 66.800 km2. Cerca de 17% da área da bacia, galerias baixas (arbustivas ou subarbóreas) que
um território com presença humana muito metalúrgicas desde tempos pré-históricos.
11.580 m2, situa-se em Portugal e apresenta crescem nos leitos de estiagem, dominadas
antiga, remontando às comunidades nómadas
densa rede hidrográfica de vales estreitos pelas espécies típicas dos ambientes ribeiri-
do Neolítico que praticavam uma agricultura
escavados nas rochas duras do Maciço Antigo, nhos meridionais, o loendro, a tamargueira e
e pastorícia itinerantes de transumância,
correndo de norte para sul e estendendo-se o tamujo. Nos locais que tendem a acumular
até aos terrenos geologicamente mais jovens água formam-se pontualmente galerias altas e
e brandos da orla sedimentar meridional frondosas com bosques ribeirinhos onde são
algarvia. O Guadiana recolhe os caudais dos frequentes o freixo, os salgueiros e os choupos.
cursos de água do Alentejo oriental e território A altamente especializada vegetação ribeiri-
espanhol contíguo, e, já no Algarve, drena a nha dos cursos de água intermitentes integra
vertente nordeste da Serra do Caldeirão. o conjunto de valores naturais que determi-
naram a classificação do Sítio Guadiana (Rede
Este grande rio do sudoeste da Península Natura 2000).
Ibérica atravessa um território onde se faz
sentir marcada influência mediterrânica com Estas galerias ripícolas asseguram funções
verãos quentes e secos e insolação elevada; importantes ao nível da manutenção da
os invernos, relativamente rigorosos no Alto qualidade da água e no controle da erosão
e Médio Guadiana, suavizam-se progressiva- hídrica e das cheias. Sobretudo se os bosques
mente para jusante, nas terras baixas e com a ribeirinhos permanecem em bom estado de
aproximação à linha de costa. conservação, a complexa rede hídrica fun-
Rebanho de ovelhas. O pastoreio é ainda uma das atividades tradicionais presente por todo o Baixo Guadiana.
ciona também como corredor ecológico para

112 113
Guadiana

os organismos, permitindo a deslocação de desovava em zonas de gravilha. também insetos interessantes, em particular
espécies animais e a disseminação de espécies libélulas, sendo dos poucos sítios de ocor-
vegetais entre habitats fragmentados e pontos As ribeiras do nordeste algarvio concentram rência de Coenagrion mercuriale e Oxygastra
distantes do território. populações significativas de espécies endémi- curtisii.
cas da bacia do Guadiana, como o saramugo,
O Vascão e a Foupana, os dois principais a boga-do-Guadiana e o barbo-de-cabeça-
afluentes do Guadiana no Algarve, proporcio- -pequena, e da boga-de-boca-arqueada, um
nam abrigo a muitos animais, tanto aquáticos endemismo ibérico. Estes peixes apresentam
como terrestres. Na época estival a água que uma notável capacidade de resistir às grandes
permanece nos pegos destas ribeiras repre- flutuações de caudal das ribeiras, sobreviven-
senta autênticos oásis para mamíferos e aves e do em pequeníssimos pegos até à época das
refúgio de peixes, anfíbios e alguns répteis. Ribeira do Vascão chuvas. Algumas destas espécies endémi-
cas encontram-se atualmente em situação
O Baixo Guadiana é habitat de uma diversi- muito vulnerável e com as populações muito
fragmentadas. A alteração do regime natural Libélula-escarlate na margem da Ribeira da Foupana. Esta
dade piscícola notável; a pesca, sobretudo a espécie tem expandido a sua área de distribuição em resul-
artesanal e até meados do século passado, de caudais, a construção das barragens e a tado das mudanças climáticas.
representava um importante peso económico introdução de espécies exóticas, têm sido as
e social nesta região. Espécies de grande valor principais razões do seu declínio. Lontra (Lutra lutra)
comercial eram então pescadas com elevado
rendimento, sobretudo os peixes migradores Os anfíbios mais comuns são a rã-verde, o
anádromos que se deslocam para os rios na sapo-parteiro-ibérico, o sapo-comum e a
altura da reprodução (como o sável, a saboga, rã-de-focinho-pontiagudo, enquanto que
e a lampreia-marinha), e a enguia que faz o nos répteis são frequentes o cágado-mediter-
caminho inverso quando atinge a idade de Loendral nas margens da Ribeira de Odeleite.
rânico e a cobra-de-água-de-colar, uma das
reprodução (migrador catádromo). Outrora duas espécies de cobras de água que ocorrem JP
a lampreia-marinha subia estas ribeiras em em território português.
direção aos sítios de desova em quantidades A lontra, também conhecida como lontra-
Na margem das ribeiras é fácil constatar a -europeia, é um dos mamíferos do Paleártico
tais que podia ser capturada à mão pelos pes-
com maior distribuição territorial. Segundo
cadores nas zonas de baixa profundidade. presença de javali pelos fossados que deixam
a União Internacional para a Conservação da
no solo húmido onde procuram tubérculos Natureza (IUCN) a espécie tem o estatuto de
Dos peixes que aqui permanecem todo o ou raízes; nos matos mediterrânicos que “Quase Ameaçado” em grande parte do território.
ciclo de vida destacam-se os barbos, bogas, revestem as encostas dos barrancos são Portugal é dos poucos países da Europa onde a
tainhas ou espécies exóticas como o achigã e comuns o gato-bravo, a raposa, o coelho e a lontra utiliza grande parte dos cursos de água e
a perca-sol. Atualmente extinto em Portugal, o fuinha. Já no campo aberto dos planaltos que tem mantido uma população estável, estando a
esturjão (também conhecido por solho) é um enquadram o vale do Guadiana, é a lebre que sua área de distribuição alargada a todo o país.
marca presença habitual. Este mustelídeo (família de que fazem parte, por
peixe de aparência arcaica que migrava para
Cobra-de-água-de-colar exemplo, a fuinha e o texugo) utiliza inclusive o
o Guadiana na época de reprodução, onde meio marinho ao longo da Costa Sudoeste o que
As galerias ribeirinhas abrigam aves tipica- é uma raridade para a espécie, até pela pouca
Esturjão (Acipenser sturio) mente mediterrânicas como a toutinegra- disponibilidade de espaço adequado a nível
Pode atingir os 3,5 m de comprimento
-de-cabeça-preta, a águia-de-asa-redonda, o nacional e também mundial, face à sistemática
e pesar 280 kg, estimando-se que se peneireiro, a perdiz, o gaio ou a pega-azul. Por ocupação humana do litoral. Sendo uma
reproduzam apenas a partir dos 25 anos aqui nidificam duas migradoras que muito espécies essencialmente piscívora, alimenta-se
de idade. Nas regiões em que o esturjão é contribuem para o controlo de insetos, o também de outros animais disponíveis como
abundante criou-se uma indústria baseada noitibó-de-nuca-vermelha e o abelharuco, anfíbios ou crustáceos como o exótico lagostim-
nos seus ovos, o famoso caviar. As altera- -vermelho-da-louisiana, espécie que se tem
aves insetívoras, a primeira de hábitos crepus-
JP ções do caudal, poluição e a sobrepesca expandido nos rios e ribeiras. No Algarve, a sua
culares e noturnos e a segunda de hábitos preferência por peixe permite observar a lontra
são algumas das causas do seu desapare-
JP diurnos. em locais inesperados como esteiros das rias e
cimento como reprodutor no grande rio
do Sul. até em portos e marinas onde encontra alimento
Nas margens destas ribeiras observam-se abundante.
114 115
Guadiana

Atividades
Caminhadas e trilhos de BTT
A Associação Odiana e o Município de Alcoutim for-
Desportos náuticos
No Rio Guadiana, podendo ser consultada para o
Sapais de Castro Marim
malizaram um conjunto de rotas no Baixo Guadiana efeito a Associação Naval do Guadiana.
numa extensão de cerca de 135 km. Destaca-se mais São ainda considerados os rins da terra ao
de uma dezena de percursos pedestres e cicláveis Comer ao ar livre: nos Parques de Merendas da Bar- reterem a água que aflui ao sapal, filtrando os
sinalizados que percorrem as serranias do vale do ragem de Vaqueiros, dos Bentos (Aldeia de Bentos, poluentes e reciclando os nutrientes.
Guadiana e as aldeias típicas da região, atravessando Vaqueiros) e do Montinho das Laranjeiras (Alcoutim).
cursos de água onde são visíveis os vestígios de Uma vasta área baixa de terrenos salgados
antigas estruturas hidráulicas, azenhas, levadas e e alagadiços estende-se em torno do cerro
açudes, muitas delas agora recuperadas. A informa- onde foi edificado o Castelo de Castro Marim
ção sobre estes percursos pode ser descarregada no
sobre ruínas de antiga fortaleza árabe, um
website Património do Baixo Guadiana (http://www.
baixoguadiana.com) e nos websites do Município de miradouro natural que domina sobre a
Alcoutim e da Associação Odiana. planície litoral e que em tempos recuados terá
constituído uma ilha isolada em pleno estuário
Passeios temáticos do Guadiana.
Seis percursos turísticos temáticos concebidos pela
Associação Odiana no âmbito da publicação “Roteiro Parte significativa destes terrenos foi converti-
Turístico do Baixo Guadiana” permitem conhecer os da em salinas, tanques de piscicultura e zonas
mais significativos ambientes naturais e humaniza-
Sinalética que marca o “caminho certo” nas pequenas rotas. de pastagens. Alguns sapais encontram-se
dos do território, nas vertentes cultural, patrimonial,
agora ocupados por sapal secundário, sobre-
ecológica e recreativa. Um dos percursos inclui a
visita ao Museu do Rio na localidade de Guerreiros
Acessos tudo nos locais drenados pelos diques de
do Rio, onde se dá conhecer a história do Guadiana proteção do Guadiana construidos durante a
Porto de Recreio do Guadiana: na Av. da República
e das suas gentes (a ligação ao minério, à pesca arte-
em Vila Real de Santo António, acesso através da
sanal e ao contrabando) e ainda observar ao vivo a
EN 125 (que liga Vila Real a Faro) ou pela EN 122
labuta dos artesãos. A informação sobre este roteiro
(que liga Vila Real a Castro Marim).
encontra-se disponível no website da associação.
Sapal de Venta Moinhos.
Praia Fluvial do Pego Fundo: Acesso a partir de Al-
Observação de libélulas e libelinhas nas linhas de
coutim, atravessando a ponte da Ribeira de Cadavais
água; as informações sobre os locais de observação
em direção à sua margem esquerda e seguindo A sul de Castro Marim, já em pleno ambiente
podem ser consultadas no website estuarino, o Guadiana espraia-se entre sapais,
durante cerca de 500 m.
http://nsloureiro.pt/dragonflies/ prados salgados e esteiros. Nesta planície
Museu do Rio em Guerreiros do Rio: acesso a partir aluvionar inundada pelas cheias na época das
Passeios fluviais
do IC 27; chegando de sul, seguir na direção da Foz chuvas e diariamente pelas marés, acumulam-
É possível subir o rio de barco e admirar as encostas
de Odeleite após a barragem de Odeleite. Na Foz de -se os sedimentos transportados pelo rio ao
do vale do Guadiana e as aldeias raianas dispostas
Odeleite seguir para norte pela estrada municipal longo do seu curso.
em anfiteatro sobre o rio; os cruzeiros turísticos
que acompanha a margem portuguesa do Guadia-
partem do Porto de Recreio do Guadiana.
na até Alcoutim.
A subida do nível do mar dos últimos 8.000
Ir a banhos anos tem favorecido a colmatação dos
Em Alcoutim, na praia fluvial do Pego Fundo formali- estuários, ao dificultar o escoamento para o
zada na Ribeira de Cadavais, afluente do Guadiana.
oceano da carga sedimentar transportada
Também nos açudes das ribeiras do Vascão e Fou-
pana; para mais informações consultar o mapa de pelos rios, dando origem a planícies onde se
atividades de lazer no website da Associação Odiana. depositam camadas sucessivas de sedimentos
finos posteriormente colonizados por
Pesca desportiva no Rio Guadiana, podendo ser vegetação halófita - os sapais. Estes são
consultados os operadores turísticos que realizam ambientes produtivos e valiosos
cruzeiros no rio. desempenhando importantes funções no As salinas de Castro Marim produzem sal de excelente
controlo da erosão e de inundações no litoral. qualidade. Um dos produtos mais requintados, a flor-de-sal,
Museu do Rio corresponde à primeira extração de sal.

116 117
Guadiana

campanha dos cereais de meados do século da chilreta, do pernilongo e do alfaiate, este


passado. Após o abandono das culturas de último com uma percentagem significativa do
trigo, cevada e aveia, a vegetação halófita total da população nacional.
voltou a colonizar os terrenos mantendo
porém menor densidade e diversidade Muito interessante é também a presença
florística, possivelmente por serem ainda hoje persistente de flamingos sobretudo no
áreas utilizadas para pastagem de gado. período pós-reprodutor. O flamingo permane-
ce durante quase todo o ano, por vezes em
A especial riqueza biológica desta área estua- bandos numerosos, sugerindo a possibilidade
rina, a ancestral gestão dos recursos pelas suas de poder vir a nidificar na região, caso as
gentes materializada na salinicultura tradicio- condições do meio se mantenham favoráveis.
nal e na pesca artesanal, e o valor arqueo-
lógico do povoado de Castro Marim, levaram Nos sapais secos nidifica a calhandrinha-das-
à criação da primeira reserva natural em Por- -marismas, sendo este o único núcleo conhe-
tugal Continental, em 1975 - a Reserva Natural cido desta espécie em Portugal. Nas zonas
do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo agrícolas envolventes é comum observar a
António, com cerca de 2.300 hectares. perdiz, o mocho-galego ou o picanço-real,
entre muitas outras como o sisão ou a calhan-
Os sapais do troço final do estuário do Guadia- dra-real que usam as charnecas secas.
na encontram-se também classificados como
Zona Húmida de Importância Internacional
(Sítio Ramsar), integram o SIC Ria Formosa-
Pastoreio de gado e produção de alfarroba como fontes de Castro Marim e a ZPE Castro Marim (Rede Flamingo
rendimento em Castro Marim. Natura 2000), constituindo uma das mais im-
portantes zonas húmidas do país. Exibindo um
mosaico de sapais, prados salgados, salinas, Plantas salgadas
esteiros, lagoas salobras e campos agrícolas, O sapal é inundado periodicamente pelas marés, de acordo com os ciclos solares e lunares: as áreas mais
alberga espécies únicas da flora ibérica e é elevadas ficam submersas apenas na enchente de águas-vivas, já as áreas a cotas mais baixas podem ser
viveiro natural de diversas espécies de peixes, inundadas todas as preia-mar. As plantas do sapal estão bem adaptadas ao teor de salinidade na água
moluscos e crustáceos. As vinte e duas espé- e no solo e distribuem-se de acordo com a sua tolerância à imersão. A morraça ocupa a primeira linha
cies piscícolas aqui registadas estão associadas de sapal, junto à água salgada. Progressivamente, a cotas mais altas e menos sujeitas à inundação pelas
marés, desenvolvem-se espécies dos géneros Sarcocornia e Arthrocnemum. Nas salinas é frequente a
aos meios estuarinos e marinhos; espécies
erva-de-orvalho, uma delicada planta suculenta que tinge de vermelho o topo dos taludes. Algumas
de elevado valor económico como o sargo, a destas espécies salgadas, como a gramata-branca e salicornia, são muito apreciadas na gastronomia dos
dourada ou o robalo, usam os esteiros do sapal países da bacia mediterrânica.
como zonas de refúgio e criação.

Mas é enquanto habitat para a avifauna que


Castro Marim se notabiliza, sendo fundamen-
tal para milhares de aves aquáticas que aqui
encontram boas condições de nidificação e
invernada e um local estratégico de repouso
nas longas migrações entre Europa e África.
As limícolas, garças e gaivotas são das aves
mais representadas, bem como os patos e
galeirões que utilizam os esteiros do sapal. As
salinas, um dos habitats mais apreciados pelas
Pernilongo, símbolo da Reserva Natural.
aves aquáticas nesta reserva, são local de nidi-
Erva-de-orvalho Gramata-branca
ficação do borrelho-de-coleira-interrompida,

118 119
Atividades
Percursos em BTT
Os percursos Cerro do Bufo e Sapal de Venta Moi-
nhos são cicláveis.

Observação de aves
Ao longo dos percursos na Reserva Natural.

No Esteiro da Carrasqueira, a norte de Vila Real de


Santo António. As aves podem ser observadas a
partir da EN 122, que liga Castro Marim a Vila Real.

O Castelo de Castro Marim oferece amplo panorama


sobre os planos de água e salinas do setor oriental
da Reserva Natural.

Início do circuito interpretado, junto à sede da Reserva


Observação de libélulas e libelinhas: o sapal de
Natural. Castro Marim é considerado um hotspot para obser-
vação deste insetos.
Caminhadas
Na Reserva Natural de Castro Marim e Vila Real de Educação ambiental
Santo António encontram-se formalizados três per- O Centro de Interpretação na Sede da Reserva
cursos pedestres: Percurso do Cerro do Bufo, trilho Natural de Castro Marim e Vila Real de Santo An-
circular com 10,5 km de extensão; Percurso das Sa- tónio disponibiliza informação técnica, publicações
linas Tradicionais, trilho circular com 2 km; Percurso e exposições sobre os sapais, as salinas, a avifauna
do Sapal de Venta Moinhos, trilho linear com 6 km. e o Rio Guadiana. Na área da reserva existe ainda
Os mapas dos percursos podem ser descarregados um local de merenda e pontos de observação da
no website do Instituto da Conservação da Natureza natureza.
e das Florestas.

Castelo de Castro Marim.

Acessos
A partir da Via do Infante (A 22), da EN 122 ou da
EN 125, seguindo na direção de Castro Marim (vila
e Reserva Natural) ou de Vila Real de Santo António
(Esteiro da Carrasqueira).
Sapal no Cerro do Bufo.

120
Ecossistema
Marinho

Mar
Metade da minha alma é feita de maresia.

Sophia de Mello Breyner


Ecossistema M ar inho
e rareiam certas espécies outrora abundantes
Rede Natura 2000 em águas algarvias, sobretudo cetáceos e

N Reserva Ecológica Nacional


grandes peixes; ao mesmo tempo emergem
recursos a explorar como o agar-agar produ-
Submarina zido a partir de algas-vermelhas ou o ómega
0 5 km 3 proveniente de alguns peixes. Também os
desportos náuticos, como a pesca desportiva,
a caça submarina, o mergulho recreativo e o
surf, atraem cada vez mais praticantes.

A biodiversidade marinha na costa algar-


Nudibrânquio (lesmas do mar) conhecido por vaquinha- via é assinalável, o que estará relacionado
-suiça. com a sua situação geográfica privilegiada,
debruçada para a bacia do Atlântico no local
trocar as grutas em que se protegia do clima
onde confluem as massas de água mediter-
rigoroso pelos estuários e praias marinhas,
rânica, atlântica temperada e atlântica tropical.
onde deixou inúmeros testemunhos da
Neste espaço marítimo reúnem-se organis-
sua dependência dos recursos marinhos
mos marinhos com afinidades setentrionais
- os concheiros mesolíticos. Os concheiros
e meridionais, alguns dos quais no limite da
Oceano (depósitos de conchas, ossadas e despojos
sua tolerância ecológica, e que beneficiam da
fúnebres) documentam a importância da
Atlântico elevada produtividade das águas favorecida
apanha de moluscos e da pesca para aquelas
pelos fenómenos de afloramento, sobretudo
comunidades, revelando valiosos dados sobre
no barlavento algarvio e com maior inten-
as espécies marinhas existentes na altura.
Mais tarde, na época romana, a relação do
homem com os recursos marinhos sofisti-
Tantas vezes esquecido, o meio marinho cons- cou-se, desenvolvendo-se a transformação
titui parte significativa e incontornável do industrial do pescado com a produção de
território português e do imaginário poético conservas de peixe e do garum tão apreciado
das suas gentes. A Zona Económica Exclusiva pelos romanos. Ao longo do litoral algarvio
de Portugal, zona marítima sobre a qual o país são diversas as localidades onde se encontram
detém os direitos de exploração e conserva- vestígios dos antigos tanques de salga: Sagres,
ção dos recursos, é dezoito vezes superior à Salema, Boca do Rio, Lagos, Alvor, Ferragudo,
área terrestre somada pelo continente e ilhas. Armação de Pera, Vilamoura, Vale do Lobo, São
A biodiversidade marinha, para muitas pes- Lourenço, Marim, Cacela, entre outras. Outros
soas visível apenas em documentários ou nos vestígios interessantes datam da Idade Média
mercados de peixe, é notável, acreditando-se e documentam a complexa atividade ligada às
que mais de metade das espécies do planeta almadravas, armações de pesca que se monta-
viverão nos oceanos, incluindo formas de vida vam anualmente em mar aberto para captura
das mais arcaicas às mais sofisticadas; afinal de atum, aproveitando as rotas migratórias
foi no mar que, há cerca de 3,5 mil milhões Os cabozes são espécies sedentárias e territoriais que nidifi- deste magnífico peixe até desovar no Mediter-
de anos, a vida surgiu no planeta. Dos trinta e cam em pequenas reentrâncias rochosas. râneo. Em terra, ergueram-se fortificações para
quatro filos (grupos de organismos) existentes proteger as almadravas, constantemente as-
na Terra, treze são exclusivamente marinhos, saltadas pela pirataria moura. Vestígios destas
Desde cedo que os mais de 800 km de litoral fortificações são ainda visíveis na Arrifana ou
como os equinodermes (e.g. estrelas-do-mar) do território continental atraíram as popu-
e os cnidários (e.g. alforrecas), e apenas dois na Boca do Rio.
lações para o marisqueio e a pesca; findo
dizem respeito unicamente a formas de vida o último período glaciar, na passagem do
terrestres. Nos dias de hoje, as artes de pesca artesanal
Paleolítico para o Neolítico, o homem pôde mantêm-se essencialmente na Costa Vicentina
Coral-laranja, uma das espécies mais vistosas da costa
algarvia.

122 123
Ecossistema M ar inho
sidade na Costa Vicentina. A variedade de bancos submarinos de maerl (algas calcárias), com areias finas e vasosas, como são exemplo
fundos (rochosos, arenosos e vasosos) e os aci- ou para a existência do coral vermelho, espé- os bancos de ofiúros negros de Albufeira. Para
dentes geográficos como leixões, baías, cabos, cie explorada intensivamente no Algarve no além da reduzida variedade de nichos ecológi-
sistemas lagunares e estuários, proporcionam séc. XV que apresenta agora populações muito cos proporcionados pelas areias e vasas, a
habitats adequados para o abrigo, alimenta- reduzidas. menor biodiversidade destas áreas pode tam-
ção, reprodução e crescimento de muitas e bém ser explicada pela elevada perturbação
diversas espécies marinhas. As zonas francamente rochosas constituem a que está sujeita, já que o esforço de pesca
verdadeiros oásis de vida e é aqui que se é exercido essencialmente sobre este tipo de
Os fundos da Costa Vicentina são rochosos, podem encontrar os maiores índices de bio- substratos.
com pontos notáveis como a Ponta da Atalaia, diversidade e densidade de organismos. São
a Ponta Ruiva ou os ilhotes do Martinhal; espécies estruturantes dessas comunidades as Os cetáceos são o grupo de mamíferos
na costa sul dominam os fundos arenosos Ilhéu do Marinhal visto da praia. algas castanhas, as algas vermelhas calcárias, marinhos que se podem observar nas águas
embora o vasto complexo rochoso ao largo de as anémonas, os briozoários, equinodermes costeiras do Algarve. Embora o golfinho-co-
Albufeira marque de certa forma a separação O ecossistema marinho é ainda relativamente como o ouriço-do-mar e o pepino-do-mar, mum seja o mais facilmente observável, os
entre um barlavento mais rochoso e um so- desconhecido, mesmo a área submarina os gastrópodes e as esponjas. Destes habitats registos de avistamento incluem o boto (o
tavento essencialmente arenoso, onde apenas contígua à linha de costa, a qual constitui dependem muitos peixes marinhos: espécies mais pequeno cetáceo do Atlântico), a orca,
se destacam alguns núcleos rochosos isolados Reserva Ecológica Nacional (REN) até aos 30 m bentónicas e crípticas como os cabozes, ou a baleia-piloto e o golfinho-riscado, entre
(como as Barrocas, a Pedra da Greta ou a Pedra de profundidade. Esta área constitui uma faixa demersais com valor comercial como a safia. outros. Estes mamíferos marinhos alimentam-
do Barril). marítima de proteção costeira, onde são inter- -se sobretudo de peixes e lulas, embora com
ditos usos que possam alterar o equilíbrio do Nos fundos arenosos subsistem sobretudo preferências específicas. As orcas, por exemplo,
sistema biofísico e a dinâmica costeira. Ainda peixes como a solha ou o linguado, peixes seguem a migração dos atuns em direção ao
no âmbito da legislação nacional, o território planos bem adaptados aos fundos móveis Mediterrâneo enquanto que o golfinho-co-
do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e onde vivem. Assinalam-se porém algumas mum se alimenta sobretudo de sardinha.
Costa Vicentina abrange uma faixa marinha áreas de riqueza ecológica elevada, sobretudo
de 2 km a partir da linha de costa, em toda a em zonas de interface de substrato rochoso Nas águas portuguesas estão citadas cinco
sua extensão, estando condicionados alguns
usos em locais considerados essenciais para a
biodiversidade marinha.

Esforços pioneiros de caracterização realizados


até ao momento na REN submarina têm reve-
lado aspetos interessantes das comunidades
marinhas e chamado a atenção para paisagens
submarinas deslumbrantes como os coloridos
Ouriço-de-espinhos-curtos jardins de gorgónias dos recifes rochosos, os

Águas ricas

Decisivos para a riqueza biológica destas águas costeiras são os fenó-


menos de afloramento de águas profundas, particularmente intensos
em torno do Cabo de São Vicente. O efeito combinado do vento a
soprar paralelo à linha de costa e do movimento de rotação da terra,
resulta na deslocação das camadas superficiais da água costeira para
mar aberto, favorecendo a emersão das águas profundas, frias e ricas
em nutrientes, que alimentam a base da cadeia alimentar, as microal-
gas. A partir do crescimento do fitoplâncton desenvolve-se a restante
cadeia alimentar, desde o zooplâncton até aos peixes e outras espé-
cies marinhas que se alimentam do plâncton ou de peixe. Golfinho-comum ao largo de Sagres. Nadadores rápidos, deixam-se aproximar dos barcos, muitas vezes acompanhando-os.
PG Podem ser vistos em frenesins alimentares juntamente com outros mamíferos marinhos e aves, em locais com abundância
de alimento.

124 125
Ecossistema M ar inho
espécies de tartarugas marinhas; as mais

Pradarias Marinhas
comuns, a tartaruga-de-couro e a tartaruga-
-comum, podem ser observadas nas águas
oceânicas do Algarve. A tartaruga-de-couro,
que frequenta estas latitudes no verão e
outono, é a maior de todas as tartarugas e um
dos maiores répteis, podendo atingir os 2,5 m
de comprimento e 910 kg de peso. Todas as
tartarugas marinhas avistadas na costa portu-
guesa nidificam em águas tropicais e sub-
-tropicais, sendo que a tartaruga-comum tem
praias de nidificação relativamente próximas, A moreia é um peixe de hábitos solitários e noturnos que
em Cabo Verde. vive em cavidades rochosas.

De entre os peixes que se encontram em costa, o ganso-patola e a pardela-de-bico-


águas algarvias, muitos apresentam elevado -amarelo são das espécies mais abundantes,
valor económico como a sardinha, o robalo, podendo ainda observar-se mais de uma
o pargo, o sargo e a dourada, o atum-rabilho vintena de outras aves entre pardelas, painhos,
ou o tamboril. Algumas espécies formam moleiros, andorinhas-do-mar, ou até os raros
cardumes móveis, por vezes de milhares de papagaio-do-mar e torda-mergulheira. Pradaria de Cymodocea nodosa.
indivíduos, como é o caso da sardinha ou do
biqueirão, enquanto outros são territoriais Em torno de alguns grupos de animais muito Considerado por alguns especialistas como o tosas que terão evoluído a partir de ancestrais
como o mero ou o congro, espécies solitárias apreciados na gastronomia como os crustá- ecossistema mais vulnerável da costa portu- terrestres, há mais de 100 milhões de anos.
que não se afastam muito das cavidades ceos (e.g. caranguejos, percebes, camarões, guesa, as pradarias marinhas são povoamen- Têm raízes, caule, folhas e produzem flor, fruto
rochosas onde vivem. lagosta) ou os moluscos (e.g. mexilhões, amêi- tos submarinos de ervas marinhas que podem e semente, pertencendo ao grupo das Angios-
joas, ostras, lulas, polvos), desenvolveram-se ocupar vastas áreas em fundos de areia ou pérmicas (plantas com flor), distinguindo-se
Termos como “pelágico”, “demersal”, “costeiro”, artes de captura e modos de vida peculiares vasa, até aos 70 m de profundidade. Sendo portanto das algas, seres igualmente autotrófi-
“oceânico”, “bentónico” e “migrador”, são que marcaram a identidade das comunidades seres fotossintéticos, necessitam de condições cos mas mais simples que as plantas.
aplicáveis na caraterização dos organismos locais; é o caso da apanha de percebes na adequadas que permitam a penetração da luz
marinhos, nomeadamente o lugar que ocu- Costa Vicentina por homens que já foram na coluna de água, sendo muito sensíveis a As pradarias marinhas prestam inúmeros
pam habitualmente na coluna de água, a chamados de guerreiros do mar, dos alcatruzes alterações na transparência da água. serviços na zona costeira destacando-se, entre
proximidade à costa, a dependência do de barro para polvo nas comunidades do outros, a estabilização dos fundos arenosos, a
substrato, e os seus hábitos. sotavento algarvio, ou dos viveiros de amêijoa São hoje mais comuns nas águas abrigadas dissipação da energia das ondas e das corren-
e ostra das rias do sul de Portugal. dos estuários, rias e lagoas costeiras, sendo tes, e a prevenção de fenómenos de eutrofiza-
Na avifauna marinha avistada ao longo da conhecidos apenas quatro pequenos povoa- ção nos estuários e praias, funcionando como
mentos em águas costeiras algarvias, ao largo filtros biológicos que absorvem os nutrientes
de Albufeira e Lagoa. Pensa-se que outrora da água. São dos sistemas mais produtivos
estas plantas terão formado extensos campos da biosfera e detêm elevado valor ecológico,
submarinos na zona costeira sobretudo a sul albergando alta diversidade de invertebra-
do Tejo, os quais terão vindo a desaparecer dos marinhos e proporcionando um habitat
devido à intensificação da pesca com gan- ideal (enquanto maternidade e viveiro) para
chorra, uma arte de arrasto para captura de inúmeras espécies de peixes. Nestes campos
bivalves particularmente lesiva para as comu- ondulantes abrigam-se as larvas e os juvenis
nidades que vivem nos fundos marinhos. de sargos, safias, raias, ratões e tremelgas, entre
outros. As longas folhas das ervas marinhas
Em Portugal as pradarias são formadas por três servem de suporte à postura do choco e de
espécies, Zostera marina, Zostera noltii e búzios, e são usadas como locais de escon-
Torda-mergulheira
Cymodocea nodosa, plantas aquáticas rizoma- derijo e emboscada por grandes predadores
Ganso-patola

126 127
Ecossistema M ar inho
invertebrados como o polvo. Deste ecos-
sistema dependem também as populações
em águas costeiras de espécies emblemáticas
como os cavalos-marinhos e as marinhas.
Leixão da Gaivota
Apesar da proteção legal conferida aos povoa-
mentos infralitorais de Cymodocea nodosa
ao abrigo da Diretiva Habitats (Rede Natura
2000), assiste-se a uma regressão das áreas
de distribuição daquelas pradarias sendo as
ameaças mais comuns a poluição da água, as
dragagens, as artes de pesca de arrasto para
bivalves, a ancoragem desordenada de embar-
cações e o marisqueio nos povoamentos das
áreas lagunares.

Atividades
Observação de flora e fauna marinha
JP
As pradarias de Zostera noltii (a sebarrinha, espécie
que forma povoamentos a menor profundidade,
Cavalo-marinho. Estes pequenos peixes são ovovivíperos e
na zona intertidal) podem ser observadas na Ria de Vista do leixão a partir da Praia dos Caneiros.
têm a particularidade de ser o macho que incuba os ovos
Alvor e na Ria Formosa na baixa-mar. Recomenda-se depositados pela fêmea numa bolsa na base da cauda.
evitar o pisoteio das pradarias, alertando-se para
A partir do farol da Ponta do Altar (junto à foz colónia nidificante de garça-branca e de garça-
o facto de que o arranque das ervas marinhas e o
marisqueio causam graves danos nestes povoamen-
do Rio Arade) ou da Praia dos Caneiros, avista- -boieira, a qual, no topo do leixão, não sofre
tos. No website http://www.pradariasmarinhas.com -se uma ilhota rochosa que emerge do mar a perturbação humana significativa.
é possível encontrar informação geográfica sobre não mais de 200 m do areal da praia. Trata-
algumas destas pradarias. -se do Leixão da Gaivota, um dos inúmeros Esta colónia de garças, que chegou a albergar
rochedos destacados da linha de costa no cerca de 5% da população de garça-branca
Na Praia da Marinha (Lagoa), no setor central da litoral rochoso e recortado de Lagoa. Os na época reprodutora (uma espécie que se
praia, existe um percurso subaquático que permite leixões são núcleos rochosos mais resistentes encontra ameaçada em grande parte da sua
a visita em mergulho de apneia a um dos raros
à erosão marinha que não acompanharam
campos de ervas marinhas (Cymodocea nodosa) em
águas costeiras algarvias. O percurso tem duração
o recuo generalizado deste litoral de arribas
média de 30 minutos, nos quais se percorrem cerca carsificadas.
de 150 m, e a profundidade máxima atingida é de
3 m. O guia deste roteiro subaquático pode ser O Leixão da Gaivota, talhado nas rochas carbo-
obtido no website do Munícipio de Lagoa ou da natadas de cores quentes do Miocénico, exibe
CCDR do Algarve. vertentes escarpadas com 23 m de altura no
ponto mais elevado e topo aplanado com
Adotar uma pradaria marinha: colaborar neste
área humilde, não atingindo os 50 m na sua
inovador programa da iniciativa do Centro de
Ciências do Mar da Universidade do Algarve, cujo
Ria Formosa. Nas águas pouco profundas podem-se vislum- largura máxima. Apesar da modesta dimensão,
brar as manchas das pradarias de Zoostera noltii. este rochedo marítimo é local de descanso e
objetivo é criar oportunidades de envolvimento
dos cidadãos na monitorização e na proteção das abrigo para gaivotas, corvos-marinhos e pom-
pradarias marinhas. Para mais informação consultar Acessos bos-das-rochas. É também considerado como
o website http://www.pradariasmarinhas.com uma das áreas de criação mais importantes
Praia da Marinha: na EN 125, junto à Escola Interna- para garças no Algarve, sustentando uma
Garça-branca
cional do Algarve, seguir as indicações para a praia.

128 129
área de distribuição europeia), motivou a clas-
sificação do Leixão da Gaivota como Zona IBA
(área importante para as aves) e como Zona de
Proteção Especial (ZPE) ao abrigo da Diretiva
Aves da Rede Natura 2000. O Leixão da Gaivota
constitui a mais pequena área classificada
como IBA e como ZPE de Portugal.

As garças desta colónia encontram-se apesar PG


de tudo vulneráveis a alterações nas suas zo-
nas de alimentação, sobretudo a garça-branca Sargo
que se alimenta no estuário do Rio Arade,
nas margens do rio e sapais. Zonas húmidas
Atividades
como o estuário do Arade ou a Ria do Alvor
têm perdido áreas de alimentação para as aves Caminhadas
aquáticas em consequência do desenvolvi- Existe uma rede de trilhos no topo das arribas entre
mento urbanístico e turístico na costa algarvia. a Ponta do Altar e a Praia da Afurada (um extenso
A garça-boieira alimenta-se nos campos agrí- areal imediatamente a nascente da Praia dos Ca-
colas e pastagens da área envolvente. neiros, apenas acessível por via marítima), podendo
ser realizado um percurso de cerca de 3,5 km (ida e
volta) entre esses dois locais. Este percurso permite
aceder a locais de elevado interesse cénico, com
vistas privilegiadas sobre o Leixão do Gaivota e sobre
as paredes rochosas das arribas onde se exibe o con-
tínuo trabalho da erosão marinha. Entre as curiosas
geoformas típicas destes ambientes cársicos podem
observar-se neste local grutas marinhas, arcos,
algares, e claro, leixões. Recomenda-se precaução
ao percorrer estes trilhos, devendo ser respeitada
uma distância de segurança ao rebordo das arribas
e dos algares, e evitando condições críticas de vento
e chuva.

Observação de aves: a partir do topo das arribas na


Ponta do Altar ou na Praia dos Caneiros.

Garça-boieira Mergulho em apneia: em torno do leixão, a partir


da Praia dos Caneiros. Percorrem-se cerca de 550 m
As paredes rochosas dos leixões constituem entre alcançar e contornar o leixão e voltar à praia,
também importantes habitats para organis- estimando-se uma duração média de 1 hora para
mos marinhos do intertidal e subtidal, tais o mergulho. É aconselhável mergulhar apenas em
como cracas, lapas, mexilhões, camarões, situação de ausência de ondulação; recomenda-se
ainda evitar a subida para as lajes do leixão durante a
caranguejos e muitas espécies de colori-
época de nidificação das aves, entre maio e julho.
dos cabozes. No Leixão da Gaivota, a zona
de plataforma baixa e as paredes verticais
imersas exibem comunidades marinhas muito Acessos
diversificadas. Com sorte, um mergulho em
Leixão da Gaivota: Acesso a partir de Ferragudo
apneia em torno deste leixão poderá permitir
seguindo pela M 530 para sul até à Ponta do Altar,
observar cardumes de peixe-rei e esparídeos ou até à Praia dos Caneiros seguindo as indicações
como a safia, a mucharra ou o sargo. para a praia.

130
Lista de espécies
Flora morraça - Spartina maritima
murta - Myrtus communis
açafrão-bravo - Crocus serotinus narciso-das-areias - Pancratium maritimum
adelfeira - Rhododendron ponticum oliveira - Olea europaea var. europaea
alcar-dos-algarves - Tuberaria major orquídea-piramidal - Anacamptis pyramidalis
alecrim - Rosmarinus officinalis palmeira-anã - Chamaerops humilis
alfarrobeira - Ceratonia siliqua perpétua-das-areias - Helicrhysum italicum
amendoeira - Prunus dulcis pinheiro-bravo - Pinus pinaster
amieiro - Alnus glutinosa pinheiro-do-alepo - Pinus halepensis
araucária-de-norfolk - Araucaria heterophylla pinheiro-manso - Pinus pinea
aroeira - Pistacia lentiscus plátano-oriental - Platanus orientalis
azinheira - Quercus rotundifolia retama - Retama monosperma
barrilha - Salsola vermiculata rosa-albardeira - Paeonia broteroi
barrilha-espinhosa - Salsola kali roselha-grande - Cistus albidus
camarinha - Corema album rosmaninhos - Lavandula spp.
cana - Arundo donax salgadeira - Atriplex halimus
caniço - Phragmites australis
carrasco - Quercus coccifera
carvalho-cerquinho - Quercus faginea
carvalho-de-monchique - Quercus canariensis
castanheiro - Castanea sativa
chorão - Carpobrotus edulis PG
choupos - Populus spp.
cistanca - Cistanche phelypaea
cordeirinho-das-praias - Otanthus maritimus
couve-marinha - Calystegia soldanella
cravo-das-areias - Armeria pungens
eruca-marítima - Cackile maritima salgueiros - Salix spp.
erva-do-orvalho - Mesembryanthemum nodiflorum salicornia - Salicornia spp.
esparto - Stipa tenacissima samouco - Myrica faya
esteva - Cistus ladanifer sanguinho-das-sebes - Rhamnus alaternus
esteva-de-sagres - Cistus palhinhae sebarrinha - Zoostera noltii
estorno - Ammophila arenaria silva - Rubus ulmifolius
erva-abelha - Ophrys apifera sobreiro - Quercus suber
eucalipto - Eucalyptus globulus tabúa - Typha spp.
feno-das-areias - Elymus farctus tamargueira - Tamarix africana
figueira - Ficus carica tamujo - Fluggea tinctoria
folhado - Viburnum tinus tomilho-cabeçudo - Thymus lotocephalus
freixo - Fraxinus angustifolia tomilho-das-praias - Thymus carnosus
funcho - Foeniculum vulgare tomilho-do-mar - Thymus camphoratus
granza-marítima - Crucianella maritima torga - Calluna vulgaris
gramata-branca - Atriplex portulacoides urze-das-vassouras - Erica scoparia
junco-agudo - Juncus acutus urze-vermelha - Erica australis
lentisco-bastardo - Phillyrea angustifolia zambujeiro - Olea europaea var. sylvestris
loendro - Nerium oleander zimbro - Juniperus turbinata
luzerna-das-praias - Medicago marina
magnólia-sempre-verde - Magnolia grandiflora Fauna
mato-branco - Halimium halimifolium abelharuco - Merops apiaster
medronheiro - Arbutus unedo abetarda - Otis tarda

131
abibe - Vanellus vanellus congro - Conger conger lagarto - Lacerta lepida pepino-do-mar - Holothuria spp.
achigã - Micropterus salmoides coral-falso - Alcyonium coralloides lagarto-de-água - Lacerta schreiberi perca-sol - Lepomis gibbosus
águia-calçada - Hieraaetus pennatus coral-laranja - Dendrophyllia ramea lagosta - Palinurus elephas perceve - Pollicipes pollicipes
águia-cobreira - Circaetus gallicus corvo-marinho-de-crista - Phalacrocorax aristotelis lagostim-vermelho-da-louisiana - Procambarus perdiz - Alectoris rufa
águia-de-asa-redonda - Buteo buteo clarkii pernilongo - Himantopus himantopus
águia-de-bonelli - Hieraaetus fasciatus lambujinha - Scrobicularia plana pêrra - Aythya nyroca
águia-imperial - Aquila adalberti lampreia-marinha - Petromyzon marinus picanço-real - Lanius meridionalis
águia-pesqueira - Pandion haliaetus lapa - Patella spp. pilrito-das-praias - Calidris alba
águia-real - Aquila chrysaetus lebre - Lepus granatensis pintassilgo - Carduelis carduelis
águia-sapeira - Circus aeruginosus leirão - Eliomys quercinus polvo - Octopus vulgaris
alcaravão - Burhinus oedicnemus libélula-escarlate - Crocothemis erythraea pombo-das-rochas - Columbia livia
alfaiate - Recurvirostra avosetta lince-ibérico - Lynx pardinus poupa - Upupa epops
alvéola-cinzenta - Motacilla cinerea língua-de-gato - Buglossidium luteum rã-de-focinho-ponteagudo - Discoglossus galganoi
ameijoa-boa - Ruditapes decussatus linguado - Solea senegalensis raia - Raja spp.
anémona-morango - Actinia equina lingueirão - Solen marginatus raposa - Vulpes vulpes
atum-rabilho - Thunnus thynnus lontra - Lutra lutra ratinho-ruivo - Mus spretus
baleia-piloto - Globicephala melas maçarico-das-rochas - Actitis hypoleucos rã-verde - Rana perezi
barbo-de-cabeça-pequena - Barbus microcephalus maçarico-galego - Numenius phaeopus rela - Hyla meridionalis
berbigão - Acanthocardia tuberculata JP marinha - Syngnathus acus robalo - Dicentrarchus labrax
biqueirão - Engraulis encrasicolus melro - Turdus merula rodovalho - Scophthalmus rhombus
boca-cava-terra - Uca tangeri corvo-marinho-de-faces-brancas - Phalacrocorax melro-azul - Monticula solitarius rola-brava - Streptopelia turtur
boga-de-boca-arqueada - Chondrostoma lemmingii carbo mergulhão-de-crista - Podiceps cristatus rola-turca - Streptopelia decaocto
boga-do-guadiana - Chondrostoma willkommii cotovia-de-poupa - Galerida cristata mero - Epinephelus marginatus rouxinol - Cettia cetti
boga-do-sudoeste - Chondrostoma almacai craca - Chthamalus spp. mexilhão - Mytilus galloprovincialis rouxinol-grande-dos-caniços - Acrocephalus
boga-portuguesa - Chondrostoma lusitanicum dourada - Sparus aurata mocho-galego - Athene noctua arundinaceus
borboleta-monarca - Danaus plexippus enguia - Anguilla anguilla moleiro - Stercorarius skua saboga - Alosa fallax
bordalo - Squalidus alburnoides escalo-do-Arade - Squalius aradensis morcego-de-ferradura-mourisco - Rhinolophus sacarrabos - Herpestes ichneumon
borrelho-de-coleira-interrompida - Charadrius estrela-do-mar-espinhosa - Marthasterias glacialis mehelyi safia - Diplodus vulgaris
alexandrinus esturjão - Acipenser sturio morcego-de-ferradura-pequeno - Rhinolophus salmonete - Mullus surmuletus
borrelho-grande-de-coleira - Charadrius hiaticula falcão-peregrino - Falco peregrinus ferrumequinum sapo-comum - Bufo bufo
boto - Phocoena phocoena flamingo - Phoenicopterus ruber morcego-de-peluche - Miniopterus schreibersii sapo-corredor - Bufo calamita
bufo-real - Bubo bubo fuinha - Martes foina morcego-rato-pequeno - Myotis blythii sapo-de-unha-negra - Pelobates cultripes
caboz-da-areia - Pomatoschistus pictus gaio - Garrulus glandarius moreia - Muraena helena sapo-parteiro-ibérico - Alytes obstreticans
caboz-negro - Gobius niger gaivota de Audouin - Larus audouinii mucharra - Diplodus annularis saramugo - Anaecypris hispanica
cação - Mustelus mustelus gaivota-de-patas-amarelas - Larus cachinnans musaranho-de-dentes-brancos - Crocidura russula sardinha - Sardina pilchardus
cágado-de-carapaça-estriada - Emys orbicularis galeirão - Fulica atra narceja - Gallinago gallinago sargo - Diplodus sargus
cágado-mediterrânico - Mauremys leprosa galinha-de-água - Gallinula chloropus noitibó-de-nuca-vermelha - Caprimulgus ruficollis sável - Alosa alosa
calhandra-real - Melanocorypha calandra ganso-patola - Morus bassanus orca - Orcinus orca sisão - Tetrax tetrax
calhandrinha-das-marismas - Calandrella rufescens garajau -Sterna sandvicensis ouriço-cacheiro - Erinaceus europaeus tamboril-preto - Lophius budegassa
camaleão - Chamaeleo chamaeleon garça-boieira - Bubulcus ibis ouriço-das-poças - Paracentrotus lividus tarambola-cinzenta - Pluvialis squatarola
camão - Porphyrio porphyrio garça-branca - Egretta garzetta ouriço-de-espinhos-curtos - Sphaerechinus tartaruga-comum - Caretta caretta
camarão-girino - Triops cancriformis garça-real - Ardea cinerea granularis tartaruga-de-couro - Dermochelys coriacea
carapau - Trachurus trachurus garça-vermelha - Ardea purpurea papa-figos - Oriolus oriolus tentilhão - Fringilla coelebs
cavalo-marinho - Hippocampus guttulatus garçote - Ixobrychus minutus papagaio-do-mar - Fratercula artica texugo - Meles meles
cegonha-branca - Ciconia ciconia gavião - Accpiter nisus pardal - Passer domesticus toirão - Mustela putorius
chapim-azul - Parus caeruleus gineta - Genetta genetta pardela-de-bico-amarelo - Calonectris diomedea torcicolo - Jynx torquilla
chapim-real - Parus major golfinho-comum - Delphinus delphis pargo - Pagrus pagrus torda-mergulheira - Alca torda
chilreta - Sterna albifrons gralha-de-bico-vermelho - Pyrrhocorax pyrrhocorax pato-de-bico-vermelho - Netta rufina toupeira - Talpa occidentalis
choco - Sepia officinalis gralha-de-nuca-cinzenta - Corvus monedula pato-preto - Melanitta nigra toutinegra-de-cabeça-preta - Sylvia melanocephala
cia - Emberiza cia guarda-rios - Alcedo atthis pato-real - Anas platyrhynchos trepadeira - Sitta europaea
cobra-de-água-de-colar - Natrix natrix guincho - Larus ridibundus pega-azul - Cyanopica cyana trigueirão - Emberiza calandra
cobra-de-escada - Elaphe scalaris ibis-preto - Plegadis falcinellus peixe-aranha - Echiichthys vipera tubarão-martelo - Sphyma spp.
cobra-de-pernas-pentadáctila - Chalcides bedriagai javali - Sus scrofa peixe-espada-branco - Lepidopus caudatus vaquinha-suiça - Discodoris atromaculata
coelho-bravo - Oryctolagus cuniculus lagarta-do-pinheiro - Thaumetopoea pityocampa peixe-rei - Atherina boyeri verdilhão - Carduelis chloris
colhereiro - Platalea leucorodia lagartixa-do-mato - Psammodromus algirus peneireiro - Falco tinnunculus zarro - Aythya ferina
132 133
Glossário
Aerohalina (vegetação) - plantas adaptadas a ventos calcárias, produzido pelo trabalho de dissolução das Esparídeo - família de peixes ósseos bem repre- Jusante - para o lado da foz de um curso de água.
salinizados. águas superficiais e subterrâneas. sentada na fauna marinha portuguesa (e.g. bogas,
sargos, douradas, pargos). Lacertídeo - que faz parte da família de répteis
Algar - poço natural que se forma em regiões Catádromo - animal que se desenvolve até à fase sáurios a que pertencem, por exemplo, o lagarto e
calcárias, estabelecendo a comunicação entre a adulta nos rios e que se reproduz no mar. Espécie pioneira - espécie que coloniza inicialmente a lagartixa.
superfície e as galerias subterrâneas. uma área nova não ocupada por outras espécies,
Charco temporário - charcos característicos de geralmente iniciando o processo de sucessão Lapiás - forma de relevo calcário que se apresenta
Aluvião - relativo ao material sedimentar arrastado zonas em que existe uma alternância anual entre a ecológica. intensamente desgastado e esculpido devido à
pela corrente dos cursos de água e depositado nas fase seca (meses áridos) e fase inundada (época das acção erosiva da água. O termo megalapiás designa
margens e várzeas (planícies aluvionares). chuvas). Estio - estação do ano quente e seca. formas de relevo com dimensões consideráveis.

Anádromo - animal que vive no mar e sobe os rios Cistáceas - refere-se a uma família de plantas na sua Eutrofização - processo que consiste no aumento Laurissilva - floresta húmida subtropical própria da
na época da reprodução. maioria arbustivas, onde se incluem as estevas e os da quantidade de nutrientes na água, em especial Macaronésia.
sargaços. o azoto e o fósforo, com efeitos negativos para o
Aquífero subterrâneo - depósito subterrâneo de ecossistema e para a qualidade da água. Limícolas - nome genérico de aves pertencentes à
água de origem natural. Comunidade climácica - comunidade de seres vivos, sub-ordem Charadrii, normalmente associadas a zo-
no estádio final da sucessão ecológica, que se con- Exótico - diz-se de algo que vem de fora, ou seja, nas húmidas como os pilritos, maçaricos, borrelhos,
Arenito - rocha sedimentar constituída por areias sidera estar em perfeito equilíbrio com o meio. não é originário dessa região. tarambolas, etc..
agregadas por cimento calcário.
Críptico - organismo que exibe comportamento Garum - molho feito à base de peixe, sal e ervas Macaronésia - região biogeográfica que engloba
Arroteamento - desmatação de parcelas de terreno territorial e capacidade de camuflagem, passando aromáticas e usado como um condimento de luxo os arquipélagos vulcânicos dos Açores, Cabo Verde,
para fins agrícolas. grande parte do tempo escondido, sobretudo em durante o Império Romano. Canárias e Madeira.
cavidades rochosas.
Arvenses, culturas - culturas anuais como o trigo, a Geoforma - relevo rochoso resultante da erosão por Maciço Antigo - unidade geomorfológica que
cevada, o milho, o centeio, o girassol ou as ervilhas. Demersal - organismo que vive na coluna de água, agentes físicos (vento, chuva) e biológicos (seres ocupa a parte central e ocidental da Península
mais próximo do fundo do mar. vivos). Ibérica, constituida essencialmente por granitos,
Autóctone - organismo que se encontra na sua área xistos e cristas quartzíticas, cuja origem remonta ao
natural. Discordância angular (geologia) - ausência de Grauvaque - rocha sedimentar detrítica de matriz Paleozoico.
paralelismo entre camadas geológicas adjacentes, siliciosa.
Autotrófico - ser vivo capaz de produzir compostos resultante de fenómenos tectónicos que dobraram Maghreb – região noroeste do continente africano.
orgânicos a partir de substâncias minerais, utilizando e enrugaram rochas mais antigas que as rochas que Grés de Silves - rochas detríticas (arenitos e argilas
uma fonte de energia externa. se lhes sobrepõem. de cor avermelhada) do Triássico; trata-se de uma Maquial - associação vegetal, com a forma de mata-
formação que aflora entre o barrocal calcário e os gal denso, comum das zonas mediterrânicas.
Bentónico - diz-se dos organismos marinhos que vi- Dolina - depressão cársica de contorno arredon- xistos do território serrano.
vem associados ao substrato, em estreita dependên- dado, mais larga que profunda. Margosa, formação - referente a marga, rocha
cia do mesmo. Haliêutico, recurso - referente às águas marinhas. sedimentar composta por uma mistura de argila e
Dolomia - rocha sedimentar constituída por carbo- calcário.
Calcário - rocha sedimentar essencialmente consti- nato de cálcio e magnésio. Halófila - planta adaptada a ambientes salgados.
tuída por carbonato de cálcio. Mergulho de apneia - mergulho executado sem
Endémico - ser vivo exclusivo de uma determinada Higrófilo - ser vivo que vive em meios húmidos. o auxílio de aparelhos de respiração subaquática.
Calcícola - planta que cresce em solos calcários. região; emprega-se num sentido mais restrito que Também denominado mergulho livre.
nativo. Idade do Ferro - terceira e última fase da Idade dos
Carbonatadas, rochas - rochas básicas (pH >7) Metais (Pré-história) em que o bronze é substituído Mesolítico - período da Pré-história relativo à tran-
constituidas essencialmente por carbonatos; são Erosão - fenómeno de alteração e modelação do pelo ferro no fabrico de utensílios; começou aproxi- sição do Paleolítico para o Neolítico.
muito vulneráveis ao contacto com a água da chuva relevo terrestre, resultante da atividade dos agentes madamente em 1.200 a.C..
que tende a provocar a dissolução e corrosão da físicos (vento, água, gelo) e biológicos (seres vivos). Mimetismo - capacidade de alguns animais toma-
rocha. Intertidal - faixa costeira abrangida pela amplitude rem a cor do meio em que vivem.
Esclerófila - planta adaptada à secura do meio que das marés, entre a preia-mar e a baixa-mar das
Cársico - diz-se do relevo originado em regiões exibe folhas pequenas e coriáceas. águas vivas equinociais.

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Montado - terreno povoado por sobreiros ou zonas húmidas como por exemplo o galeirão ou a
azinheiras com utilização simultânea de agricultura galinha-de-água. Figuras legais de proteção da natureza
ou pastoreio no sub-bosque.
Regressão marinha - recuo do mar em relação aos REN (Reserva Ecológica Nacional) - área geográfica nacional determinada pelo Estado que constitui um
Montante - para o lado da nascente de um curso continentes e diminuição do nível médio das águas instrumento de ordenamento do território, visando possibilitar a exploração dos recursos e a utilização do
de água. do mar. Pode ocorrer numa glaciação ou através território salvaguardando o equilíbrio ecológico e a estrutura biofísica das regiões.
de uma elevação dos terrenos. Em oposição, a
Neolítico - período da Pré-história caracterizado transgressão marinha é o avanço do mar sobre os Reserva Biogenética - área protegida, beneficiando de um estatuto jurídico e caracterizada por um ou
por profundas alterações na sociedade humana continentes na sequência do derretimento das calo- vários habitats, biocenoses ou ecossistemas típicos, únicos, em perigo ou raros. A Rede Europeia de Reservas
(agricultura e pastorícia). Decorre aproximadamente tes polares ou devido ao abatimento de algumas Biogenéticas foi instituída em 1976 pelo Conselho da Europa, com base na Convenção de Berna.
entre 5.000 e 2.000 a.C.. regiões.
Rede Natura 2000 - rede ecológica europeia formada pelos SIC ou Zonas Especiais de Conservação (Diretiva
Nidificação - relativo ao período reprodutor de Ripícola - ser vivo próprio de cursos de água. Habitats) e pelas Zonas de Proteção Especial (Diretiva Aves), que tem como objetivo a proteção da biodiver-
certos animais como as aves, envolvendo a ação de sidade no território da União Europeia e na qual são aplicadas medidas para a manutenção ou recuperação
construir o ninho. Rocha eruptiva (=magmática; ígnea) - rocha vul- de habitats ou espécies, incluindo o restabelecimento das populações de aves selvagens.
cânica formada por arrefecimento do magma.
Nitrófila - planta que cresce em solos com elevado ZPE (Zona de Proteção Especial para as Aves) - área protegida que integra a Rede Natura 2000, definida de
teor de matéria orgânica (azoto). Rupícola - ser vivo próprio de terrenos rochosos. acordo com a Diretiva Aves.

Paleártico - região zoogeográfica que inclui a Eu- Sapal - terreno aluvionar periodicamente inundado SIC (Sítio de Interesse Comunitário) - área protegida que integra a Rede Natura 2000, considerada relevante
ropa, Norte de África, grande parte da Arábia e a Ásia pelas marés e colonizado por vegetação halófila. para a preservação de habitats e espécies característicos de uma zona biogeográfica europeia, de acordo
a norte dos Himalaias (setor norte do Velho Mundo). Estas comunidades vegetais distribuem-se de com a Diretiva Habitats.
acordo com o tempo diário de inundação pelas
Paleoduna (= duna fóssil) - duna formada com areias marés, podendo diferenciar-se em sapal baixo, sapal Parque Natural - área protegida que integra predominantemente ecossistemas naturais ou seminaturais,
consolidadas testemunhando a ação marinha em médio e sapal alto. onde a preservação da biodiversidade a longo prazo possa depender de atividade humana, assegurando um
épocas geológicas recuadas. fluxo sustentável de produtos naturais e de serviços.
Sequeiro - culturas que não necessitam de rega.
Paleolítico - período da Pré-história situado até Reserva Natural - área protegida que contém características ecológicas, geológicas e fisiográficas, ou outro
10.000 a.C.. Sienito - rocha ígnea formada a partir da cristaliza- tipo de atributos com valor científico, ecológico ou educativo, e que não se encontre habitada de forma
ção do magma. permanente ou significativa.
Palustre - relativo a locais de água parada (sem cor-
rente) como pauis, pântanos e turfeiras. Sub-bosque (=subcoberto) - formações vegetais Paisagem Protegida - área protegida que integra paisagens resultantes da interação harmoniosa do ser
que ocorrem nos estratos inferiores da copa das humano e da natureza, e que evidenciem grande valor estético, ecológico ou cultural.
Passeriforme - ave normalmente de dimensões re- árvores num bosque ou floresta.
duzidas que compreende as espécies mais comuns Áreas Protegidas de âmbito regional/local - são áreas protegidas criadas e geridas pelas associações de
como o pardal, melro, etc.. Subtidal - faixa costeira abaixo do limite da baixa- municípios ou municípios.
-mar de águas vivas equinociais; permanece sempre
Pelágico - organismo que vive e se alimenta exclusi- coberta pela água do mar.
vamente na coluna de água. Escala geológica
Sul - refere-se ao Portugal meridional.
Plataforma continental - plataforma submarina
pouco profunda localizada nas margens de um Terra rossa - solo residual nas zonas calcárias e
continente. dolomíticas, de cor vermelho-acastanhado.

Polje - palavra de origem servo-croata que designa Ubíquo - ser vivo presente em todo o território.
uma depressão cársica de grande dimensão, de
fundo aplanado, e que pode criar um lago tem- Vasa - terreno lodoso.
porário na época das chuvas.
Vivaz - planta cujas estruturas aéreas são renovadas
Povoamento estreme - diz-se de um povoamento anualmente, mantendo-se a estrutura subterrânea.
puro, de uma só espécie vegetal.
Xisto - rocha metamórfica que se dispõe em cama-
Ralídeo - ave pertencente à família Rallidae que das, resultando num aspeto laminado.
compreende um conjunto de espécies associadas a
PG

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Almargem - Associação de Instituto da Conservação da RIAS - Centro de Recuperação
defesa do património cultural e Natureza e das Florestas (ICNF) e Investigação de Animais

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Castro Marim reiro e Condes de Alte
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8950 – 121 Castro Marim 8500-802 Praia da Rocha
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Teatro Municipal)
Faro Quarteira Largo 1.º Dezembro
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8000-269 Faro 8125 Quarteira Tel.: 282 402 487
Tel.: 289 803 604 Tel.: 289 389 209 info@visitportimao.com
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Querença
Lagos Sagres Largo da Igreja
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Concelho) 8650-357 Sagres Tel.: 289 422 495
8600 Lagos Tel.: 282 624 873
Tel.: 282 763 031 turismo.sagres@turismodoalgarve.pt
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8100-506 Loulé Tel.: 289 843 165 Silves
Tel.: 289 463 900 turismo.saobras@turismodoalgarve.pt Centro de Interpretação do
turismo.loule@turismodoalgarve.pt Património Islâmico
Silves Praça do Município
E. N. 124 (Parque das Merendas) 8300-117 Silves
8300 Silves Tel.: 282 440 800
Tel.: 289 098 927 turismo@cm-silves.pt
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Agradecimentos Ficha Técnica
Os autores expressam o seu reconhecido agradecimento a:
Edição e Propriedade
Região de Turismo do Algarve
Miguel Alegria Alves pelas boas sugestões e exaustiva revisão técnica dos turismodoalgarve@turismodoalgarve.pt
textos; Álvaro Baptista pela colaboração na caracterização ecogeográfica do www.visitalgarve.pt
Algarve e pela leitura atenta e correção de base dos textos; a Edite Reis pela
colaboração prestada na área da geologia dos textos da Costa Vicentina e Sede: Av. 5 de Outubro, 18
Barrocal; a Jorge Gonçalves pela colaboração e revisão dos textos relativos 8000-076 Faro, Algarve, Portugal
ao Ecossistema Marinho; a Sandra Correia pelo apoio na elaboração de Telefone: 289 800 400
cartografia; e a Maria José Pitta-Grós e Nuno Magalhães pelas palavras Fax: 289 800 489
oportunas e sugestões preciosas para a concretização deste trabalho.
Coordenação
Especiais agradecimentos ainda ao Jorge Gonçalves e restante equipa do Área de Comunicação e Imagem
projeto RENSub (CCMAR, Universidade do Algarve) pela gentil cedência das Região de Turismo do Algarve
fotografias subaquáticas do ecossistema marinho. marketing@turismodoalgarve.pt

Textos
Paula Gaspar
João Eduardo Pinto (fauna)

Fotografias
João Eduardo Pinto
Paula Gaspar - pág. 15 topo, pág. 21 topo, pág. 24 Genista sp. e Ulex sp.
Jorge Gonçalves (CCMAR, Universidade do Algarve) - págs. 121, 122, 123,
127; pág. 124 meio; pág. 126 topo

Ilustrações
João Eduardo Pinto (JP)
Paula Gaspar (PG)

Conceção Gráfica e Paginação


João Eduardo Pinto

Capa
Duna com cravo-das-areias (Armeria pugens) e
narciso-das-areias (Pancratium maritimum)

Impressão
Gráfica Comercial

Tiragem
1500 exemplares

Distribuição
Gratuita

Depósito Legal
352334/12

144
© Região de Turismo do Algarve

PT / novembro 2015

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