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Agrupamento de Escolas de Ribeira de Pena

AVALIAÇÃO FORMATIVA- MENSAGEM DE FERNANDO PESSOA

D. Fernando, Infante de Portugal

1 Deu-me Deus o seu gládio, por que faça


A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
5 Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me


A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
10 Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá


Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
15 Maior do que a minha alma.
Fernando Pessoa, Mensagem

TESTE 1

1. Indica a intenção de Deus ao oferecer a espada ao Infante.

2. Deus sagrou o Infante para a felicidade e para a dor.


2.1. Transcreve uma frase/ expressão utilizada pelo sujeito poético para mostrar o lado doloroso da
sagração.

3. Refere a reação do Infante, justificando-a, à honra que Deus lhe concedeu.

4. A segunda parte do texto começa com a terceira estrofe. Justifica este corte com as estrofes
anteriores

5. Indica o simbolismo da luz presente nas expressões “doirou-me” (v. 6) e “luz” (v. 11).

TESTE 2

1. O poema que acabaste de ler é um “autorretrato” de D. Fernando.


1.1. Faz o levantamento das marcas do discurso em 1ª pessoa.
1.2. Agrupa os vocábulos que sublinhaste tendo em conta as classes e as subclasses
gramaticais a que pertencem.

2. D. Fernando é retratado como instrumento da vontade de Deus.


2.1. Sinaliza os versos que confirmam esta afirmação.
2.2. Relaciona o conteúdo deste poema com a expressão latina bellum sine bello que
encontramos como epígrafe da primeira parte da Mensagem, referindo, nomeadamente, a
simbologia de “gládio”.

1 http://textosintegrais.blogspot.pt
3. Em consequência da ação divina, o “eu” é “consumido” por uma “febre de Além” (v. 8).
3.1. Interpreta o sentido da expressão em itálico.
3.2. Explica de que forma essa “febre de Além” se reflete na ação do “eu”.
3.3. Comenta o valor dos três últimos versos na construção de sentidos do poema.

TESTE 3

1. Esclarece o valor expressivo da utilização da primeira pessoa no poema.

2. Atenta na primeira frase do poema (vv. 1 e 2).


2.1. Divide e classifica as orações que a constituem.
2.2. Refere a importância da apresentação que o sujeito poético faz de si mesmo e
relaciona-o com o autorretrato que vai construindo ao longo do texto.

3. Mensagem tem sido considerada uma obra híbrida em termos de género, conjugando
características épicas e líricas.
3.1. Identifica, no poema, uma marca do discurso épico e outra do discurso lírico. Consulta o
excerto informativo abaixo:

MENSAGEM: DISCURSO ÉPICO E LÍRICO

A poesia da Mensagem é uma poesia épica sui generis, melhor diríamos epo-lírica,
não só pela forma fragmentária como pela atitude introspetiva, de contemplação no
espelho da alma, e pelo tom menor adequado. Só raras vezes o poeta se serve da “tuba
canora” da épica tradicional (…). Dum modo geral interioriza, mentaliza a matéria épica,
integrando-a na corrente subjetiva, reduzindo essa matéria a imagens simbólicas pelas
quais o poeta liricamente se exprime.
COELHO, Jacinto do Prado, “Mensagem”, in COELHO, Jacinto do Prado, Dicionário de Literatura, 2º vol.

BOM TRABALHO!!!
A PROFESSORA: Lucinda Cunha

PROPOSTA DE CORREÇÃO TESTE 1(ficha de trabalho e proposta de correção retiradas do caderno do


professor do manual Português + de 12º ano, da Areal Editores)
1. Deus ofereceu o gládio ao Infante para que ele o usasse na guerra contra os mouros. Tratava-se,
porém, de uma “guerra santa”, isto é, de uma luta contra os infiéis de maneira a convertê-los ao
cristianismo.
2.1. A sagração deveria trazer felicidade, mas ao Infante vai trazer-lhe também muita dor (“um frio
vento passa/ Por sobre a terra fria”).
3. O Infante aceita a tarefa com entusiasmo, porque a “febre” de divino alimenta-o.
4. Nesta última estrofe, o sujeito poético deixa de falar no passado e afirma perentoriamente que vai
seguir o destino que Deus traçou para ele. A partir do primeiro verso, os verbos projetam as situações
para o futuro.
5. Apesar das adversidades que venham a ocorrer, o Infante está tranquilo porque Deus está com ele
e ilumina a sua vida quer com o brilho do seu olhar quer com o brilho da espada.

2 http://textosintegrais.blogspot.pt
PROPOSTA DE CORREÇÃO TESTE 2 (ficha de trabalho e proposta de correção retiradas do manual
Entre Margens de 12º ano, da Porto Editora)
1.1. e 1.2. Pronomes pessoais (me, eu, mim); determinante possessivo (minha); formas verbais na 1ª
pessoa do singular (vou, temo).
2.1. versos 1-3 e 6-7, entre outros.
2.2. Bellum sine bello- Guerra sem guerra-, a divisa ou epígrafe da primeira parte de Mensagem não se
reporta às guerras históricas da fundação de Portugal, mas sim ao plano mítico onde o gládio simboliza o
poder com que Deus investe o herói para que ele possa fazer cumprir o destino de Portugal.
3.1. “(..) essa febre participa, como o gesto a que conduz, da predestinação divina do herói. É algo que lhe
é dado, que faz parte da sua própria condição, como ser depositário de um destino que se cumpre através
dele, como acontece com D. Fernando (…).
Mesmo nos casos onde o grande empreendimento a que se propuseram falhou, os heróis na Mensagem
mantêm viva a chama do desejo e do sonho, impulsionados por essa febre de fazer, de descobrir, de criar,
a que juntam o seu destemor confiante por se sentirem cheios de Deus.
Dir-se-ia, em suma, que nessa “febre de Além”, nessa ânsia de Absoluto, reside um dos aspetos mais
importantes da exemplaridade do herói na Mensagem” (Artur Veríssimo, “Febre”).
3.2. Essa “febre de Além” impele o herói à ação- o que se concretiza na 3ª estrofe.
3.3. Os três últimos versos do poema exprimem o destemor e a confiança com que o herói se lança na
ação por se encontrar imbuído do espírito de Deus. Não importa se essa ação se concretizará ou não em
obra feita, o que interessa é a própria ação.

PROPOSTA DE CORREÇÃO TESTE 3 (ficha de trabalho e proposta de correção retiradas do manual


Expressões de 12º ano, da Porto Editora)
1. A utilização da primeira pessoa denota a identificação do sujeito lírico com a personagem histórica
a quem é dedicado o poema. Desse modo, colocando o próprio “homenageado” a falar sobre si e
sobre a sua imolação, confere-se maior credibilidade ao discurso e valoriza-se o (pseudo)fracasso
do herói, justificado por intenções superiores.
2.1. “Deu-me Deus o seu gládio”- oração subordinante; “por que eu faça/ A sua santa guerra”-
oração subordinada adverbial final (“por que” com valor de “para que”).
2.2. O sujeito poético apresenta-se como alguém investido por Deus para levar a cabo a sua
“santa guerra”, a sua demanda espiritual. Assume-se como um “escolhido” que, ao receber o
“gládio” divino, com ele se “sagrou”, e como um ser a quem Cristo “doirou (…) com o olhar” e
preencheu com uma “febre de Além” e um “querer grandeza”. Por isso, declara a sua coragem,
pois “Cheio de Deus”, inspirado, nada será maior que a sua “alma”, ou seja, que a sua motivação
celeste.
3.1. Constituem marcas do discurso épico, no poema, a apresentação de um acontecimento
histórico cometido por um protagonista de alta estirpe (social e moral), que concretiza uma ação
heroica e admirável, com a ajuda de um ser sobrenatural- Deus (vv. 1-2, 6-7, 13-15).
O lirismo está patente na utilização da primeira pessoa verbal, que confere ao discurso a
subjetividade própria dos enunciados intimistas. Por outro lado, há a interiorização da matéria
histórica e épica num sujeito lírico que se caracteriza e que descreve a realidade a partir da sua
perceção, nela fazendo interferir a sua afetividade. A forma poética, com uma apresentação
fragmentária, é também habitualmente associada ao discurso lírico.

3 http://textosintegrais.blogspot.pt

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