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Hegel e o Momento Dialético Da Denegação Aufhebung Revelado No Escrito de Freud "A Negação" 1925
Hegel e o Momento Dialético Da Denegação Aufhebung Revelado No Escrito de Freud "A Negação" 1925
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem objetivo de revelar que o conceito “Aufhebung”
(denegação) contido no escrito de Freud em 1925, “A Negação”, converge para a
concepção dialética de “suprassumir” (Aufhebung) em Hegel. Freud não havia pensado
nada parecido antes da publicação de A Negação (1925), direcionada ao processo do
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Especialista em Filosofia pela UNESP. E-mail: <luisfigueredo10@hotmail.com>.
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2-DESENVOLVIMENTO
No auge dos movimentos sociais do século XX, a militância política de
variadas causas sociais enxergava o seu momento histórico com as lentes da dialética.
Um exemplo foi o filósofo Jean Paul Sartre, em sua obra “Critica da razão dialética”.
Ele revelou que a práxis individual direcionada para o mundo numa perspectiva de
produção individual é o ponto de partida para toda a dialética e liberdade: “Se não
desejamos que a dialética volte a tornar-se uma lei divina, uma fatalidade metafísica, é
preciso que provenha dos indivíduos e não de quaisquer conjuntos supra-individuais”
(SARTRE, apud GURVITCH, 1961, p. 155).
Quando Sartre (1961) faz referência à imanência, acaba apontando para Hegel,
pois, para esse pensador francês, a razão é “ao mesmo tempo imanente à práxis
individual e à história”. Significativo é perceber que Sartre, escritor tão profícuo na
contemporaneidade, acaba vinculando a dialética a uma filosofia particular, filosofia
sublime da existência humana que é alienada ao mundo natural e social e acaba
voltando a si mesma, recuperando sua liberdade, como GURVITCH (1961, p.168)
argumenta: “Se, para Hegel, Deus se aliena no mundo para voltar a si mesmo através da
humanidade, em Sartre o homem vive a mesma aventura através do mundo social”.
Com apenas esse exemplo restrito de construção teórica baseado na dialética de Sartre,
foi possível compreender as “permanências” do legado dialético de Hegel nesse
pensador francês.
Todavia, qual teria sido a ideia de dialética hegeliana mais difundida na
atualidade?
Partindo de um exemplo clássico para explicar a dialética, “o que há de
dialética na vida cotidiana”, essa temática é ilustrada a partir de um recurso
comparativo, em que na figura de “quebrar os ovos”, o ovo significando o expositivo
em si, afirma a tese. O ovo permaneceria assim, se não vivesse o seu segundo momento,
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ou seja, o quebrar dos ovos, instaurando o momento da negação (antítese) sem deixar de
ser a “essência” do ovo. Mas agora, negado e quebrado, vivencia seu último estágio,
isto é, a síntese, resultado do poder portentoso do negativo, numa superioridade que
contém elementos da afirmação e negação, na síntese dialética. Todavia, essa dialética
fechada “tese-antítese-síntese” não existe enquanto tal para Hegel, como a psicanalista
Léa Tavora (1994, p.15) afirmou em sua tese doutorado sobre a dialética:
Mas a dialética não foi assim formulada por Hegel, e sim tomada
deste modo por Karl-Ludwig Michelet, aluno de Hegel na
Universidade de Berlim e seu discípulo dedicado. A versão da
dialética da tese-antítese-síntese difundiu-se com as várias obras de
Michelet sobre Hegel e sobre a dialética.
]Por exemplo, esse ser-aí imediato da planta instaura o fruto como a verdade
ilustrada de uma orquídea. Em vez da flor, que na imediatividade do existir parece ser o
glamour da planta em si, no entanto, fruto e flor se repelem e são incompatíveis, porém
uma natureza fluida faz delas momentos da unidade orgânica, o que constitui a
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“Aufhebung” [de negação] acabou passando despercebida até por leitores e teóricos de
Freud, mas foram a partir de dois franceses corajosos que esse conceito “Aufhebung”
saiu do anonimato para a arena da reflexão. Esses foram “Jean Hyppolite” e “Jacques
Lacan”.
Jacques Lacan freqüentou, durante o período de 1933 a 1939, o famoso curso
sobre a filosofia hegeliana de Alexandre Kojève, ministrado em Paris trazendo à luz o
legado de Hegel, na École Pratique des Hautes Études. Durante esse curso a
originalidade teórica de Lacan e seu extenso acervo cultural fizeram com que ele
travasse um contato muito pessoal com o filósofo Jean Hyppolite, a ponto de Lacan,
durante os seus seminários sobre os escritos técnicos de Freud, realizados entre 1953-
1954 no Hôpital Saint-Anne, convidar o amigo Hyppolite para que interpretasse o artigo
de Freud (1925) [de negação]. Antes de explicitar o comentário falado de Hyppolite, é
importante realçar uma estrutura dialética que permeia a psicanálise até ao dias atuais,
“a estrutura psíquica consiste no movimento dialético de significar e re-significar a
experiência, consistindo a ‘doença’ em uma perda da liberdade para fazê-lo”
(TAVORA, 1994, p. 95). A enfermidade consiste em algum grau de paralisia no
processo dialético do psiquismo. Porém o caminho terapêutico é o movimento livre do
re-significar do existir em si, é o que Freud desvelou no caminho do divã em associação
livre com seus pacientes, a ponto de elaborar artigos sobre essa técnica cotidiana
analítica, sendo um deles “A Negação” (1925).
Faz-se necessário, diante do mover dialético das estruturas psíquicas,
compreender o que Freud chamou de recalque ou recalcamento, tal como: “ [...] sua
essência [ do recalque] consiste apenas em afastar e manter à distância com relação ao
consciente” ( FREUD, apud TAVORA, 1994, p.111). Entretanto, para entender o
“recalque” é indispensável incluir a teoria singular de Freud, “as pulsões”, como por
exemplo:
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ele a interpreta?
Freud (2001, p.276) começa a interrogar-se diante das falas de seus pacientes
nas construções lingüísticas, tal como em: “você pergunta quem pode ser esta pessoa do
sonho. Minha mãe não é”, ou diante do analista, “Você agora vai pensar que eu quero
dizer algo ofensivo, mas não tenho de fato essa intenção”. Diante dessas “negações”,
ele argumenta:
partícula “não” era algo correspondente que causou o recalque desta representação, um
exemplo a ser tomado a respeito do paciente que citou sua mãe, era em seu sonho
“sentimento contraditório” em relação a ela. Contudo, como Freud interpretaria essa
estrutura dialética da “denegaçao”, [Aufhebung]?
Diante da denegação, Freud (2011) vai incluir dois conceitos caros à Filosofia
para o entendimento em si, ou seja, “intelectual e juiz”, como ele mesmo revela:
3- CONCLUSÃO
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Citação de Freud retirada da tese: 6 TAVORA L. Raízes Hegelianas no Pensamento de Freud. Pontifícia
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LACAN, Jacques. Escritos: Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 16: O eu e o id, “autobiografia” e outros
textos (1923-1925). Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das
Letras, 2011.
GURVITCH, Georges. Dialética e Sociologia. São Paulo: Vértice, Editora Revista dos
Tribunais, 1987.
HYPPOLITE Jean. Gênese e Estrutura da Fenomenologia do Espírito em Hegel: São
Paulo: Discurso Editorial,1999.
HEGEL, Friedrich Wilhelm Georges. Fenomenologia do Espírito: Petrópolis. Vozes.
1992.
HYPPOLITE Jean. Ensaios de psicanálise de filosofia. Rio de Janeiro: Livrarias
Taurus-Timbre.1989.
TAVORA, Léa. Raízes Hegelianas no Pensamento de Freud: Tese Doutorado em
Filosofia- Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Agosto de 1994.