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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

CENTRO DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO


DISCIPLINA: FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – TURMAS 2011/4
PROFESSOR: DELCIO AGLIARDI
ACADÊMICA: STÉPHANIE GUIMARÃES

Ficha de leitura

“Sobre a pedagogia”

KANT, Immanuel. Tradução: Francisco Cock Fontanella.


Sobre a pedagogia. Piracicaba.
Editora UNIMEP, 5ª edição.

“Introdução” (p.11)
O autor introduz o livro comentando que “o homem é a única criatura que precisa ser
educada”. (p.11). Ele salienta que os animais não precisam de educação e sim de proteção, dando
como exemplo as andorinhas, que, por instinto, já nascem sabendo jogar seus excrementos para fora
do ninho. O homem, como não tem instinto, deve ser educado por outros a formar conduta. “Uma
geração educa a outra”. (p.12)
A criança deveria ser mandada à escola mais cedo, a fim de aprender a obedecer, para não
ser um adulto caprichoso. Necessário para que o seja “domesticado” desde pequeno, para não
pensar que tem razão em tudo, uma vez que os jovens estão destinados a comandar.
É dado o exemplo de pássaros que aprendem com os pais a cantar. O autor exemplifica com
uma experiência de colocar pardais e canários em um mesmo ambiente, os primeiros aprenderiam a
cantar com os segundos, sendo “a tradição do canto a mais fiel do mundo”. (p.15)
A educação, a qual o homem não vive sem, é mostrada como continuidade: o que se aprende
se ensina ao outro. Aquele que não foi bem educado passará a ser um mestre ruim. Quem não tem
cultura seria um bruto e quem não tem educação seria selvagem do ponto de vista do autor. (p.16) A
educação seria o meio mais correto para formar a natureza humana.
O autor trata da Ideia, que seria a de uma perfeição em experiência. Para torná-la eficaz seria
necessário: ter autenticidade e apresentar obstáculos que possamos superar.
Outro exemplo sobre a educação do homem é dada por Kant. Germes que estão espalhados
pela humanidade podem e devem ser semeados, fazendo com que este homem atinja seu destino. Os
animais o fazem de forma espontânea, já o homem é forçado a isso. Quando ensinamos nossos
filhos não podemos ter a ideia de fazê-los atingir o mesmo destino que nós, somos exemplos para as
crianças e elas se espelham em nós, porém não de modo perfeito. “A educação é uma arte, cuja
prática necessita ser aperfeiçoada por várias gerações”. (p.19)
São feitas perguntas ao longo do livro, assim Kant apresenta uma afirmativa, de que “há
duas coisas dificílimas entre as descobertas humanas: a arte de governar os homens e a arte de
educá-los”. (p.20) A educação pode ser conquistada de forma mecânica, conforme as
circunstâncias, ou de forma racional, a fim de que o home alcance seu destino.
O autor comenta que os pais, muitas vezes, acabam por educar seus filhos para o presente,
mas é importante que a criança seja educada para o futuro, seguindo a ideia de humanidade e
destino. Exemplificando a educação dos príncipes, Kant compara duas árvores, uma que vive
isolada e não cresce direito, e outra que vive na floresta e cresce ereta, devido a resistência que lhe
dão as outras árvores.
Kant passa a duas bases que a educação deve manter o homem. Uma seria a disciplina, a
qual trata de “domar a selvageria” (p.25), outra seria a cultura, que garante instrução, não
determina, apenas deixa às circunstâncias, ainda mostra a prudência, que tornaria o homem
influenciado, mas que ao mesmo tempo poderia se servir de outros homens para seus fins (p.26).
Por fim o autor fala sobre a moral, a sabedoria de escolher os bons fins. A única escola experimental
que já deu certo foi o Instituto de Dessau, onde mestres podiam trabalhar com seus métodos e não
cansavam de fazer novas tentativas.
O autor ressalta a diferença entre o professor e o governante, o primeiro seria um mestre que
ministra a educação e o segundo um guia, que ministra a vida. (p.30). A seguir é relatada a forma
que o aluno gradativamente levado à educação, seguido pela distinção entre escola privada e
pública. É pego como exemplo o Instituto de Educação, que são caríssimos, onde o dinheiro é mal
aproveitado, podendo ser investido em ensino às crianças pobres. Kant comenta que se os pais
tivessem recebido uma boa educação não seria necessária a escola pública. A educação privada seria
dada com um aguardo de recompensa.
Kant questiona “Quanto tempo deve durar a educação?” (p.32), a resposta é de que até que
o homem tenha capacidade de governar a si mesmo e transmitir o conhecimento aos demais, o autor
dispõe da idade de 16 anos, daí passando a ter uma educação mais especializada.
O homem está sujeito a uma educação positiva, a qual ele imita o outro e pode ser punido
por isso, ou negativa, a qual ele faz aquilo que lhe é mandado, podendo não conseguir o que deseja.
(p.32) O sujeito deve ser educado no constrangimento, na liberdade, para que quando “viver a
realidade” possa reconhecer a dificuldade de se manter independente. (p.33)
O autor comenta brevemente sobre a experiência precoce do sexo, e diz que mais adiante no
livro tratará deste assunto.
A pedagogia teria dois tipos de educação, a física (cuidado do corpo) e a prática ou moral
(construção da personalidade). (p.34-35). Kant apresenta 3 conceitos da educação: escolástica, usar
o bem para seu proveito e conquista dos fins; prudência, prepara para torna o homem cidadão e
adaptado à sociedade; e por último a moral, que trata do respeito à espécie humana.
Kant encerra a introdução com a ideia de que a educação, seguindo os conceitos de
prudência e habilidade, deve acontecer ao seu tempo, a criança pode pensar como um adulto e o
adulto pode ter atitudes sensíveis da infância.

“Sobre a educação física” (p.37)


O autor inicia esse capítulo informando que os governantes, mesmo não tratando de
imediato das crianças, devem conhecer bem sobre a educação. (p.37) A educação física seria o
cuidado material que os pais têm com as crianças.
Kant comenta sobre a amamentação das crianças recém nascidas feitas pela mãe. Segundo
pesquisas acreditou-se que o primeiro leite materno seria nocivo à criança, mas a partir dos
conhecimentos e estudos de Rousseau comprovou-se que esse leite era muito benéfico à criança,
uma vez que ele limpa o corpo do bebê, uma vez que se a natureza o fez deveria ter uma utilidade.
(p.38) O autor ainda compara o leite materno com o leite dos animais herbívoros, o leite deste
último, pelo fato desses animais somente alimentarem-se de vegetais, acaba coalhando, o que pode
acontecer com as mulheres no caso de, por um longo tempo, consumirem apenas vegetais, porém se
passarem a consumir carne novamente o leite volta ao normal. “Quando as crianças vomitam o
leite ingerido, vê-se que este coalhou”. (p.38-39) Porém isso se torna relativo.
Parte-se ao questionamento sobre o que se pode oferecer ao recém nascido após a
amamentação. O que não deve-se dar são alimentos e bebidas muito quentes, como o sangue deles é
mais quente que o dos adultos, deve-se ter cuidado e não mantê-los muito aquecidos, banhos frios
seriam uma boa opção. O apetite, por sua vez, deve ser despertado e não estimulado, a fim de que
futuramente se torne uma necessidade. (p.40-41)
O autor passa a retratar os modos que cada cultura cuida dos bebês, pegando como exemplo
povos que amarram fixas nas crianças.
Kant comenta que é de hábito do adulto, ao ver uma criança chorar, tentar acalmá-la, mas
está errado, uma vez que a criança acaba por ver que sempre cedem ao que ela deseja. “Se
acostumarmos os bebês a verem satisfeitos seus caprichos, depois será tarde para dobrar a sua
vontade”. (p.43) Mais uma vez é reforçada a ideia de que se for “mimado” agora, a criança
futuramente será difícil de ser reeducada. Quanto mais utilizados meios artificiais, mais a criança se
torna independente. (p.46)
A criança deve ser ensinada para que possa aprender sozinha, Kant cita como exemplo a
escrita e o desenho, criada a partir da necessidade. Outro assunto abordado é de que o homem deve
ter uma hora certa para dormir, assim como os animais os têm, a fim de não perturbar as funções do
corpo. Alimentar-se em horas determinada também é outro fator benéfico ao corpo. Uma educação
rígida acaba por tornar o homem mais forte. (p.50)
Questionar a criança sobre o racional muitas vezes não é compreendido por ela, uma vez que
acham que podem perguntar tudo, não entendem o papel do “inconveniente”. Outro fator apontado
seria o medo que as crianças têm dos animais peçonhentos, elas poderiam simplesmente pegar uma
aranha na mão, mas por verem que a reação dos adultos diante esse animal é de medo, acabam por
tê-lo também. (p.52)
Retornando a parte positiva da educação está a cultura, a qual distingue o homem do animal.
(p.53) Fazer uso do “andador” para os bebês durante a fase em que começam a caminhar acabam
por inferir na evolução e segurança que ela deve adquirir com o andar. O autor reforça a ideia de
que o homem é muito dependente de objetos, exemplificando que poderíamos fazer uso dos olhos
para medir distâncias, do Sol para saber as horas ou das estrelas para saber a direção. (p.53)
Segundo Franklin, citado por Kant, é admirável que ainda haja pessoas que não saibam nadar, uma
vez que é útil e agradável. (p.53) O autor dá um exemplo de movimento para nadar.
Uma vez sentindo medo o homem levaria consigo essa repulsa, o autor toma como exemplo
os russos, que atravessam lugares estreito e saltam de lugares muito altos. Kant passa a citar
atividades físicas que fazem bem tanto ao corpo, quanto a memória e aos sentidos. Uma delas seria
a cabra-cega, uma brincadeira quase universal, que trata de testar a criança caso ela fosse privada de
um sentido, no caso a visão. (p.56) “Cabe zelar para que na cultura do corpo também se eduque
para a sociedade”. (p.56)
O autor salienta que o adulto deve cuidar, quando se relaciona com uma criança, para não
parecer superior a ela, podendo ensiná-la o que é certo ou errado, mas cuidando nesse requisito.
Segundo Toby, no Tristan Shandy, citado por Kant, “O mundo é bastante grande para mim e para
ti”. A criança deve se formar por si própria e viver em sociedade.
A formação da alma, quanto à do corpo, pode ser qualificada de física. Porém deve-se
distinguir a formação física da prática, assim como a cultura livre e a escolástica. A cultura livre é
mais um divertimento e deve ser encontrada naturalmente no aluno, enquanto a escolástica é mais
séria, como uma obrigação. (p.60) Para Lichtenberg, citado por Kant, a criança deveria ser, desde
pequena, ensinada a se ocupar com coisas sérias, para já adequarem-se à realidade. Ela pode
brincar, mas deve ter suas responsabilidades. (p.60) O homem deve manter-se ocupado, o trabalho
seria uma forma de sair do ócio.
O autor fala, então, sobre a necessidade do cultivo da memória. Ele dá como exemplo a frase
“Tanto sabemos quanto retemos pela memória”. (p.63-64) Outra frase que dá sentido a esse
pensamento é “A memória deve ser ocupada apenas com conhecimentos que precisam ser
conservados e que têm pertinência com a vida real”. (p.64) Kant numera meios de se cultivar a
memória, “1. através da retenção dos nomes que se encontram nas narrações; 2. através da leitura
e da escrita, mas de cabeça, sem precisar soletrar; 3. pelo estudo das línguas, as quais devem ser
apresentadas às crianças de ouvido.” (p.65-66)
Para fortalecer o pensamento da razão o autor nomeia Sócrates. A criança deve buscar por si
só o conhecimento, caminhar com suas próprias pernas. O que é fácil acaba por fazer mal, pois o
homem precisa exercitar sua força. Quanto aos prazeres “não devemos deixar a elas a escolha”.
(p.72) O autor dá como exemplo o menino, que acaba por amar mais o pai, que é mais liberal, do
que a mãe, que restringe muitas coisas. Não é necessário fazer com que a criança espere, por um
longo tempo, poder fazer certas coisas.
Algumas regras devem ser destinadas às crianças, assim como a hora de comer e de dormir.
Um ser humano que tem hora para determinada atividade acaba por ter mais confiança por parte dos
outros e ser uma pessoa obediente.
O autor passa, então, a falar sobre as punições, que são aplicadas quando há falta de
obediência. Uma seria a punição moral, como, por exemplo, “se uma criança mente, o melhor e
suficiente castigo é olhá-la com desprezo”. (p.79) A outra seria a punição física, que “consiste em
recusar à criança o que ela deseja ou aplicar castigos.” (p.79) O autor comenta que recompensar
crianças acaba por torná-las mercenárias.
“Logo que cresce, a criança precisa criar a ideia do dever”. (p.80-81) O autor trabalha com
a ideia de que a criança deve aprender, a partir dos pais, que ao mentir deve-se sentir vergonha pelo
que se falou.
Kant divide as punições em negativas, que se aplicam à mentira e à preguiça. As punições
positivas seriam o ato de não guardar rancor da criança, seja por qualquer coisa errada que ela tenha
cometido.
Entre os traços que constroem o caráter da criança está a sociabilidade. O autor comenta que
as crianças devem estar interadas no mundo em sociedade, mesmo que alguns mestres não aceitem
bem essa ideia. Ele ainda diz que muitos adultos veem sua juventude como uma época agradável,
porém dá exemplos de falta de liberdade e ausência do amigo verdadeiro, que faz-nos repensar.
Kant ainda cita uma fala de Horácio: “Multa tulit fecitque puer, sudavit et alsit.” (p.83)
O autor encerra esse capítulo falando sobre a vaidade infantil. Ele sugere que a criança use o
que é da sua idade, mesmo que muitas vezes queira imitar os adultos, e que os pais não forcem o
lado vaidoso dela.

“Sobre a educação prática” (p.85)


Kant inicia esse capítulo retornando aos pertences da educação prática: “1. a habilidade; 2.
a prudência; 3. a moralidade.” (p.85) A habilidade seria o elemento essencial do caráter do homem.
A prudência usa da habilidade para servir-se dos demais. Por fim a moral, que diz respeito ao
caráter, para isso é necessário resistir a algumas coisas.
O autor lança a frase “festina lente” (p.87), que significa aprender muita coisa e
disponibilizar tempo para isso. Ele comenta que “vale mais saber pouco, mas sabê-lo bem, que
saber muito, superficialmente.” (p.87)
Um caráter bom seria aquele o qual a pessoa, fazendo uma promessa, cumpra-a. “Porque
um homem que toma uma decisão, e não a cumpre, não pode ter confiança em si mesmo.” (p.87)
A seguir Kant numera os deveres que a criança deve ter. “a) Deveres consigo mesmas; b)
Deveres para com os demais.” Aqui o autor trata da honestidade e da dignidade humana. Ele ainda
ressalta a importância de um catolicismo do direito nas escolas, trata da mentira, novamente,
alegando que não devemos mentir por necessidade, pois assim a criança se achará no direito de
assim fazer também.
O autor fala da religião cristã, que muitas vezes tenta convencer o homem de que ele deve
comparar-se com o mais alto exemplo de perfeição, e se assim não consegue procura por elevar-se
acima dele ou diminuir o valor dos outros, encontrando defeitos nos outros. É sempre mostrado a
criança que o outro está se comportando melhor, que está aprendendo mais facilmente uma matéria.
Kant numera os apetites humano, citando a ambição pelo poder, pelo prazer sexual, pelo
amor à vida entre outros. A seguir ele comenta que o homem tem muito vícios, entre eles estão a
inveja, a injustiça, a preguiça etc. O homem acaba por tornar-se desprezível quando cai no vício.
Entre as virtudes humanas estão o domínio de si mesmo, a lealdade e a honra.
Seguindo o texto, Kant nos questiona “o homem é moralmente bom ou mau por natureza?”
o autor comenta que o homem não é um ser moral, apenas tornando-se quando “eleva sua razão até
os conceitos do dever e da lei.” (p.95)
Mais uma vez nos torna a questionar, no caso se seria certo ensinar a criança os conceitos
religiosos, então ele fala da dificuldade disso e como deveríamos retratar a figura de Deus para elas.
Freqüentar a igreja serviria para dar ao homem força, tornando-os melhores. O que importa mesmo
é a consciência de cada um, “se a religião não vem acompanhada pela consciência moral,
permanece ineficaz.” (p.100) Kant acredita que “a criança deve aprender a reverenciar a Deus
primeiro como Senhor da vida e do universo; depois como providente e, finalmente, como seu
juiz.” (p.101) É preciso ensinar a criança, para quando ela for à igreja saber o porquê e para quem a
oração é feita.
Concluindo o autor comenta que quer ainda acrescentar observações para quem entra na
juventude, comenta sobre as distinções que o jovem passa a fazer, que os pais devem conversar com
seus filhos sobre sexo, o interesse sobre esse assunto começa a despertar no adolescente entre 13 e
14 anos. No pensamento de Kant a criança, mesmo obtendo inclinando-se ao sexo, não deve fazê-
lo, uma vez que não tem uma idade correta em que possa sustentar uma criança. “Então ele age não
somente como homem de bem, mas também como bom cidadão”. (p.104)
Deve-se, para concluir, além disso, orientar o jovem à alegria e o bom humor, ensinar-lhe a
fazer seu dever, considerá-lo uma ação valiosa. O jovem deve dar pouco valor ao gozo da vida,
tendo de examinar sua conduta “para que possa fazer uma apreciação do valor da vida, ao seu
término.”

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