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2 GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Raça, cor, cor da pele e etnia, Cadernos de Campo, n. 20, v. 20,
2011.
tudo aquilo que, em si, diz respeito à negritude e a construção de uma
autoimagem e de uma expressão pessoal que sejam condizentes com o ideal de
ser branco. Em uma palavra, o negro que introjeta este ideal deseja o lugar do
branco e tudo aquilo que este lugar representa.
Essas passagens evidenciam uma das facetas daquilo que fez com que
Ruth Frankenberg – uma das precursoras dos estudos sobre
branquitude – definisse a branquitude como um lugar estrutural de
onde o sujeito branco vê os outros e a si mesmo. Uma posição de
poder, um lugar confortável do qual se pode atribuir ao outro aquilo
que não se atribui a si mesmo: a raça (Frankenberg, 1999).
Ideologicamente, o negro é visto como racializado, o branco não. 3
A importância da escola.
4 CALDWELL, C. H.; ZIMMERMAN, M. A.; BERNAT, D. H.; SELLERS, R. M.; COTARO, P. C. Racial Identity,
Maternal Support, and Psychological Distress among African American Adolescents, Child Development,
v. 73, n. 4, 1322-1336, July/August 2002.
5 RIVAS-DRAKE, D.; UMAÑA-TAYLOR, A.; FRENCH, S.; LEE, R.; SYED, M.; MARKSTROM, C.; SCHWARTZ, S. J.
Feeling Good, Happy, and Proud: A Meta-Analysis of Positive Ethnic-Racial Affect and Adjustment, Child
Development, v. 85, v. 1, pp. 77-102, jan./feb. 2014.
6 SELLERS, R. M.; COPELAND-LINDER, N.; MARTIN, P.P.; L’HEUREUX LEWIS, R. Racial Identity Matters: the
relationship between racial discrimination and psychological functioning in African American
adolescents, Journal of Research on Adolescence, 16(2), 187-216, 2006.
racialização)7. Apesar desta distinção conceitual, nas vivências concretas das
pessoas é bastante difícil de efetuar uma separação correspondente, visto que os
dois fatores se sobrepõem. Sendo assim, prefiro falar de uma identidade étnico-
racial (ou, mais adequadamente, identidade afrobrasileira).
Eu acredito que o professor Jefferson Olivatto irá falar melhor sobre isso à noite,
em sua fala sobre A saúde do negro, mas acredito que é importante fazer a
conexão aqui e, talvez, já adiantar alguma coisa: a identidade racial (ou étnica) é
considerada, em vários estudos psicológicos, como um mediador e moderador
do estresse e dos efeitos sofridos em decorrência do racismo 11 e, sendo um
pouco redundante, mas para ser enfático, das relações racialmente estruturadas
de nossa sociedade. Isso porque a identidade favorece, como vimos, uma
consistência interna, emocional. Sendo assim, a identidade racial pode ser
considerada como um fator positivo no enfrentamento do racismo e na
promoção do bem-estar e qualidade de vida de pessoas negras.
10 CARDOSO DE OLIVEIRA, L. R. Racismo, direitos e cidadania, Estudos Avançados, 18(50), 2004, P. 86.
11 SEATON;, E. K.; UPTON, R.; GILBERT, A.; VOLPE, V. A moderated mediation model: racial
discrimination, coping strategies, and racial identity among black adolescents, Child Development, v.85,
n. 3, 882-890, May/June 2014.
toda a sua riqueza estética e simbólica. O direito moral de ser reconhecido em
um lugar social legítimo e com características totalmente próprias – isto é, que
não passam pelo ideal de brancura – é um dos objetivos da luta anti-racista.
Mas, como nos lembra Luís Roberto Cardoso de Oliveira, para que este lugar
exista de fato, é necessário que o reconhecimento que parte dos outros seja não
apenas fruto de uma obrigação jurídica, de uma coerção, mas seja, justamente,
um ato intencional e autêntico. Para tanto, uma mudança estrutural da
sociedade – que implicaria na mudança do sentimento intersubjetivo e
introjetado de reconhecimento e que faria de todo ato de reconhecimento algo
recíproco – é indispensável.