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• As virtudes cidadãs
Aristóteles considerava que a finalidade da polis (sociedade ou cidade, no caso) era fazer
bons indivíduos políticos, ou seja, bons cidadãos. Muitos séculos depois, o filósofo inglês John
stuart Mil! (1806-1873) afirmava que o objetivo do governo representativo devia ser "promo-
ver a virtude e a inteligência do povo". Entende-se por virtude o hábito que permite fazer uma
coisa de forma excelente. As virtudes de um tenista fazem dele um bom jogador: rapidez, re-
sistência, velocidade no saque, variedade dos movimentos, etc. E sobre as virtudes que deve
ter um bom cidadão? Quais devem ser as mais importantes?
Os persas acreditavam que o bom cidadão devia ter duas qualidades: "Não mentir e saber disparar
flechas". Os romanos elogiavam o Vir bonus dizem di peritus ("varão bom que sabe falar bem"). Péricles
(c. 492-429 a.Ci). governante de Atenas no século V a.C; afirmou em um famoso discurso:
Em nossa cidade, nos preocupamos ao mesmo tempo pelos assuntos pri-
vados e públicos; gente de diferentes ofícios conhecem suficientemente a coi-
sa pública, pois somos os únicos que consideram no homem pacífico, mas
inútil, ao que nada participa nela, e além disso ou formamos um juízo próprio
ou ao menos estudamos com exatidão os negócios públicos, não consideran-
do a discussão como um estorvo para a ação, mas como passo prévio indis-
pensável a qualquer ação sensata.
TucIDlDES. História da guerra do Peloponeso. v. 1. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008.
O bom cidadão deve possuir as virtudes necessárias para realizar a finalidadeda sociedade, que é a
justiça. Nesse caso, trata-se de virtudes públicas:
Por que virtudes públicas e não privadas? Primeiro, porque a moral é pública e não privada. O âmbi-
to da moral, ali onde cabe e é preciso regular e julgar, é o das ações e decisões que têm uma repercussão
na coletividade ou que são de interesse comum. As ações que conformam o que podemos denominar
a felicidade coletiva, que não é o mesmo que a felicidade individual. O espaço da felicidade coletiva é o
da justiça, virtude central da ética desde Platão [...].
Os membros de uma sociedade que busca a justiça devem ser solidários, responsáveis e tolerantes.
São estas virtudes ou atitudes indissociáveis da democracia, condição necessária da mesma.
CAMPS,Victoria. Virtudes públicas. Madrid: Espasa-Calpe, 1996,