mediário marchand-publicitário torna-se motor da produ- ção e do consumo, o crítico de arte realiza no domínio da arte o trabalho de 'projetor', novo na tradição crítica. Seu objetivo visa ao futuro, desenvolve as possibilidades ainda latentes do grupo que defende, concedendo-lhe um futuro pictórico. Guillaume Apollinaire - na qualidade de crítico de arte - redige seus textos para apoiar os amigos cubistas, mas traça ao mesmo tempo um rumo para alguns deles. A pro- pósito de Marcel Duchamp:
[...] Talvez esteja reservada a um artista tão imbuído
A Fonte (1917), obra de Marcel Ouchamp. Os ready-made de energia como Marcel Duchamp a tarefa de reconciliar são objetos industrializados reutilizados como arte, a arte e o povo (...). Uma arte que se atribuirá como obje- como um mictório [foto) ou uma roda de bicicleta. tivo destacar da natureza não generalizações intelectuais, mas formas e cores coletivas cuja percepção ainda não se tornou uma noção, sendo muito concebível e provável O crítico de vanguarda está lá para cimentar os grupos, que um pintor como Marcel Duchamp tenha acabado de para teorizar seus conflitos, para lutar contra os conserva- realizá-la. dores e para convencer o público. É um trabalho de promo- ção cujo argumento de venda baseia-se na profecia autor- APOLLINAIRE,Guillaume. Les peintres cubistes. 2. ed. Paris: Hermann, 1980. realizadora. Assim, Apollinaire se serve de uma predição do futuro, que tem como efeito projetar no porvir um cubismo de uma segunda feição e mergulhar na sombra os movi- o crítico influenciando o marchand em suas escolhas, mentos da véspera. O impressionismo já foi abandonado. A publicando em revistas nas quais se aproximam escritores modernidade é reivindicada, não mais como uma simulta- e poetas, alimenta uma 'vanguarda' decididamente orien- neidade, como era o caso de Charles Baudelaire, mas como tada na direção do moderno. É por intermédio de peque- 'um avanço'. A arte deve desenhar a via futura, lançar as nos grupos, os quais unem as amizades e as desavenças, bases de uma sociedade nova; se o futurismo não é admi- . que se formam esses postos avançados da arte. Os pinto- tido pelos críticos franceses, nem por isso deixa de dar uma res que recebem seus elogios são em geral também amigos lição: a modernidade deve ser realizada 'à frente' do conser- - estiveram juntos na Academia de Belas-Artes, expu- vadorismo burguês. Sempre à frente. seram juntos, têm ateliês próximos, possuem obras de Tomada assim como guia de um progresso social, a arte um ou de outro. Reúnem-se com frequência. Criticam-se, de vanguarda adquire tintas políticas. Os críticos que teo- imitam-se ou se distinguem. rizam esses movimentos realizam um combate ideológico É o caso do grupo dos impressionistas, muitas vezes cujo tom é frequentemente o do manifesto. descrito, mas também dos cubistas, de Pablo Picasso, [ ...]" Duchamp, [seques Villon, no ano de 1915, da ligação entre CAUQUELIN,Anne. Arte Contemporânea: uma introdução. André Breton, os surrealistas e os pintores da época. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 43-45 .
•• Segundo o texto de Anne Cauquelin, qual é a nova função do
crítico de arte? lEI Por que se pode considerar essa função como uma mediação entre obra e público? • O crítico passa a formar o gosto do público? Por quê?