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O Enígma do

olhar
Contexto  Ataque frontal à pintura de História e à pintura
literária.
A sociedade moderna do Segundo Império se  Simbolismo criado pelo próprio artista.
desligava definitivamente do fundamento cultural
greco-romano, que era desde a Renascença o ponto Em um quadro realizado em 1855 Baudelaire pedia
de referência obrigatório. O fim do percurso aos pintores modernos “o olhar da infância”,
romântico é assinalado pela morte de Eugene desprovido dos filtros, e livre das tradições culturais
Delacroix, que morreu pouco antes de terminar de trazidas pelas histórias das imagens. Coubert o
decorar a Igreja de Saint-Sulpice. figurou através de um simbolismo altamente
pessoal em uma tela:
 Fim do velho classicismo e do romantismo.
 Salon des Refusés: escândalo do quadro “O
almoço na relva”, de Manet.

No quadro, se vê logo ao lado do próprio pintor um


garotinho, que contempla seu trabalho. Como um
primeiro e ideal espectador.

O olhar desamparado A escolha de Coubert de uma paisagem para figurar


o quadro dentro do quadro, configurando ela como
O olhar, que antes era carregado pelo saber coletivo a “pintura das pinturas”, não é casual. Ela se torna
- encontrou-se diante de situações novas onde ele símbolo moderno, de um ato pictural que se quer
não possuía nenhuma referência segura. É gerado “inculto”.
então uma nova linguagem, onde em casos
extremos, o olhar se reduz a si mesmo, e recusa NÃO é este exatamente o olhar de Manet. Ele se
então tudo aquilo que não seja o exclusivo ato de separa por um lado, da tradição das imagens, por
ver. outro, precisa delas para estabelecer um diálogo
voluntário. Suas obras precisam das obras do
Se o olhar não é mais nutrido por uma cultura passado.
coletiva, ele pode criar seu próprio conjunto de Com a invenção dos museus, imensos, antológicos,
relações culturais que dão para ele um sentido capazes de dispor diante do observador exemplos
específico. As visões particulares do mundo se artísticos de todas as épocas e de todas as
tornaram sistemas simbólicos que substituiram as civilizações, o aspirante a pintor se exercita na
antigas e coletivas referências culturais. cópia daquilo que pode escolher. E aqui está o
novo. Com a multiplicidade das imagens e suas
naturezas diversas, um único ensino não é mais
possível. Pintores como Delacroix e Courbert
enriqueceram o seu Métier inspirando-se na Simplificação
diversidade dos museus modernos.
Nos quadros de Manet, atráves do negro, as cores
 Manet constrói sua modernidade. passam a fazer parte de um processo rigoroso de
 A ideia de continuidade das práticas formais e construção. Dizia-se que Manet pintava suas
semânticas da história da pintura se abala, já figuras como as cartas de baralho (em duas
que agora o artista pode escolher seu próprio dimensões). O melhor exemplo é: O pífaro de 1866,
passado. onde está presente a ideia de “recorte” no menino.

Síntese e incorporação

Certa história formalista das artes aracterizam


Manet como um artista preocupado basicamente
com cores e formas. Porém na realidade, Manet
trabalha com imagens culturalmente muito
marcadas. Ele constrói seus quadros através de um
olhar dotado de poder de síntese, capaz de associar,
da maneira mais inesperado, imagens de origem
diversa.

 A síntese de Manet é poderosa, ela engendra o


novo em relação àquilo que a precede.

Assim como Manet sabe encontrar imagens para


reintegrá-las numa solução nova, possui também o
extraordinário talento para incorporar no seu
próprio fazer pictural, soluções alheias. Em suas
pinturas, por exemplo, encontramos manet
retomando imagens e motivos inspirados em A tentação impressionista
Murillo, Velásquez ou Hals, mas além disso
também absorvendo a técnica desses mestres. Manet tende a anular os volumes, trazendo formas
simplificadas. Ele faz isso através de estruturas
Negrores vigorosas e pelo contraste das cores.

Manet é capaz de infinitas variações sobre o negro, Para Manet, a paisagem é o lugar onde o humano se
e com muita frequência, em seus quadros, as outras encontra, e o ser humano é, em toda sua obra, o
cores estão comprometidas com o cinza. tema que lhe interessa.
 Manet presa mais pela complexidade das
 Manet usa o negro como o principal elemento estruturas, do que ao seu redor. Um exemplo é
de suas obras. o barco quando comparado com a água no
quadro “Argentuil”.
A cor da modernidade

O negro toma o papel de um princípio unificador.


Ele fica presente como o elemento constitutivo
comum de todas as outras cores. Manet nos ensina a
ver o negro. O negro se evidencia, caracterizando
essas roupas da modernidade.
 As relações sociais são definidas pelas cores.
Os homens de preto seriam compradores do
prazer oferecido por mulheres de braços nus e
vestes brilhantes.
 Luminosidade e a clareza são substituídas pelo
negro como instrumento da unidade cromática.
O pintor da modernidade

 Princípio de síntese a partir de imagens do


passado.
 O negro como cor constitutiva e fundamental
 Simplificação dos volumes para que se
afirmem numa composição ao mesmo tempo
complexa e inabalável.

Estes são alguns elementos mais característicos dos


aspectos visuais da arte de Manet. Manet não é
clássico, nem romântico - nem moderno, no sentido
das experiências formais - , Manet é o pintor da
modernidade.

Em relação ao desespero presentes nas obras de


Baudelaire, Manet opõe uma obra de imperturbável
tranquilidade.

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