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ARTE MODERNA

ESTILOS e CORRENTES
por Soares Teixeira

IMPRESSIONISMO

Foi a partir de uma exposição efectuada entre Abril e Maio de 1874 no atelier do fotografo
Nadar, em Paris, que surgiu o termo Impressionismo, divulgada pelo jornalista Leroy, inspirado no título
de uma das telas expostas, da autoria de Monet, IMPRESSÃO, SOL NASCENTE. Fazia parte do grupo
de artistas expositores, alem de Monet, Renoir, Pissarro, Sisley, Cézanne, Degas, Guillaumin e Berta
Morisot.
Mas o facto de esta designação ter sido aceite pelos expositores e alcançado a celebridade, não
exclui as dificuldades de caracterizar uma tão complexo conjunto de obras, numa reunião tão heterogéa
reunião de incomparáveis artistas.
O impressionismo passa a representar certas tendências anti-academistas e anti-romanticas da
pintura do terceiro quartel do Séc. XIX, preconizadas e levadas a efeito por Eduardo Manet, Claudio
Manet, Augusto Renoir, Camilo Pissaro, Edgar Degas e outros.
As origens da arte praticadas por este agrupamento de pintores , que não foi uma < escola >, nem
talvez um < movimento >, no sentido exacto do termo, pode ir buscar-se muito longe, se encarar-mos as
suas premissas estéticas e psicológicas: poder-se-á remontar a Platão a concepção do mundo a aparências
em incessante mutação. Contudo, o precursor imediato da sua aplicação pictórica, é sem dúvida Turner e
Constable cuja pintura foi conhecida, em 1870, por Monet e Pissaro.
Por outro lado, Jongkind e Boudin, entre 1860 e 1870, com as suas pinturas, nas quais a água
desempenha o principal papel, nas paisagens de Trouville, Havre e Honfleur, podem considerar-se os
fundadores de uma fase pré-impressionista.
Precursores mas já no domínio da técnica serão Delacroix e ainda Turner cuja pintura está de
acordo com as descobertas de Chevreul, que irão dar uma base científica ao Impressionismo. Mas é,
sobretudo, a partir de 1873, com a adesão de Manet, Cézanne e Degas aos princípios do Impressionismo
que a divisão do tom pictórico atingirá o apogeu.
A justaposição na tela, em pinceladas vibrantes, das côres puras, de modo a obter a fusão dos
tons nos olhos do espectador, em vez de se misturarem na paleta, veio < permitir a pintura dos efeitos
coloridos da luz solar na atmosfera>. Esta técnica dissolve a forma, a superfície e os volumes, negando a
corporeidade dos objectos e vendo apenas iluminações e vizinhanças diferentes nos jogos de luz que
pretende captar.
Libertando-se da velha noção de claro-escuro ( p. ex., com a utilização das sombras coloridas, já
usadas, aliás, por Delacroix), os impressionistas rompem com a tradição na escolha dos motivos,
rigorosamente colhidos na vida quotidiana, mas sem preocupações sociais ou políticas, o que os
diferencia do Realismo ( Gare Saint Lazare, de Monet; 0 baile de Moulin de la Gallete, de Renoir; às
Regatas perto de Londres, de Sisley:
Se a esta diversidade de princípios juntarmos a diversidade dos seus cultores paisagistas,-como
Monet, Pissaro, Sisley; pintores de figura, como Manet, Degas, Renoir; pintoras de temas femininos e de
crianças, como Berta Morisot e Mary Cassat- verificar-se-á a extraordinária riqueza do Impressionismo
que opõe ao intelectualismo realista um sensualismo de impressão imediata e manifesta uma completa
libertação das sugestões literais do Romantismo, realizando-se cada artista segundo o pendor individual
da sua sensibilidade.
E do exterior que virão as teorias pretensamente informadoras do Impressionismo, mas sómente
o neo-Impressionismo. irá submeter-se ás exigências de um método de raíz cientifica.
Produto de uma associação de pintores, o Impressionismo sómente na obra do Italiano Medardo
Rosso logrou certa expressão escultória.
Aliás o Impressionismo é um fenómeno típicamente francês, e embora muito imitado no
estrangeiro, só o americano Whistler conseguiu chegar à altura do grupo de Paris. Este além da 1ª
exposição de 1874, realizou ainda as de 1876, 1877,1879, 1880, 1881, 1882 e 1886. A partir deste ano,
quase todos os pintores impressionistas tomam novos rumos - mas a sua prodigiosa experiência está na
base de toda a pintura do nosso século.
A obra de Monet que deu origem ao baptismo do movimento Impressionista obra foi exposta
pela primeira vez em 1863 num salão especial conhecido pelo nome de Salon des Refusés, ao mesmo
tempo que outras pinturas de artistas que, como Monet, eram vítimas da hostilidade do jurí do Salon para
com tôda a originalidade e audacia inovadoras que se haviam colocado em atitude de revolta contra a
intransigência do Salon oficial. A abertura do Salon des Refusés foi devida à directa iniciativa do
imperador Napoleão III.
Os impressionistas não formaram uma associação, não enunciaram teorias e um programa como
o fizeram os pré-rafaelitas ingleses; foram uns tantos artistas independentes, ligados entre si pela força
das circunstâncias, os quais tinham verdadeiramente em comum o mesmo espirito de revolta contra a
tirania do academicismo reinante. Se alguma característica comum pode ser reconhecida a esses artistas é
a de se não deixarem influir pelo conhecimento que tinham da forma objectiva das coisas, para pintarem a
aparência que num momento dado elas ofereciam aos olhos do pintor.
Ao mesmo tempo, procuravam reproduzir o mais fielmente possível as modificações de côr
criadas pela atmosfera interposta, pela reflexão, pela influência dos objectos circundantes; além disso, há
na atmosfera uma vibração luminosa para cuja representação os impressionistas buscavam desenvolver
uma fórmula adequada, a que se chamou a técnica do < divisionismo > ou < vibrismo >. Esta técnica
seguiu a doutrina de que a côr é sòmente o resultado da activação da luz sobre a forma e a de que a
própria sombra não é uma negação da luz, mas uma alteração dela.
Excluindo da Paleta todas as côres que não fossem as simples do espectro e colocando sobre a
tela manchas de cores alternadas, em vez de as misturar na paleta, os impressionistas conseguiram dar aos
seus quadros um grau de luminosidade e uma vibratilidade sugestiva da luminosidade atmosférica que
não fora atmosférica, que não fora anteriormente obtida por nenhum outro processo.
A luz foi neles o assunto da arte pictórica. Tudo era considerado digno de ser pintado, desde que
permitisse registar um efeito natural da luz. Ao mesmo tempo que esta inovação técnica, caracterizou os
impressionistas, a revolta, capitaneada por Monet, contra os cânones académicos de beleza, inspirou à
escola um interesse apaixonado pela realidade contemporânea e assim se realcionou ela com o
movimento literário da mesma época, comandado por Flaubert, pelos Goncourts e por Zola.

EXPRESSIONISMO

Conceito definido, pela primeira vez, em Berlim ( 1912 ), na revista e galeria dè arte Der Sturm (
A Tempestade ) que ao analisar um conjunto de trabalhos de alguns pintores os classificou como iniciado-
res de um novo estilo que viria depois a abarcar todas as tendências artísticas progressistas eclodidas no
inicio do Séc. XX.
Esta qualificação – EXPRESSIONISMO- surgiu segundo Herwarth Walden, editor da citada
revista, à forma diferente e revolucionária com que os artistas expositores < expressavam > a sua visão
das coisas, do mundo e da vida, forma que subvertia radicalmente o que na época, era considerado como
estética.
Embora aplicado inicialmente à pintura, o termo iria abranger a inquietação espiritual surgida em
todas as novas formas culturais, ( Literatura, teatro, arquitectura, dança, musica e cinema) nascida não só
na Alemanha como noutros países europeus, apesar de se poderem encontrar antecedentes do Expres-
sionismo na arte primitiva de Gaugin ( 1848-1903); na escultura negra; nas figuras solitárias de olhar
medroso e desvairado do pintor norueguês, Eduard Munch ( 1863- 1944) ou na frase de Van Gogh (1853-
1891).

A destruição expressionista da imagem tradicional foi, na verdade, favorecida pela crise social e
pela desarticulação moral que antecedeu a I Guerra Mundial. Os pintores procuraram, então, transmitir
nas suas telas a situação do homem no mundo, os seus vícios e horrores, através de cores violentas,
figuras distorcidas, quase caricaturais, enquanto negligenciavam a perspectiva , por exemplo.
Os temas expressionistas - espelhos das próprias personalidades e emoções dos seus autores -
eram dramáticos, não só pelas cores escolhidas, mas também pela monumentalidade das formas e
agudeza do grafismo; como os temas onde os horrores da guerra e a decadência eram representados de
maneira angustiada, quase alucinada, atingindo, por vezes, as raizes do próprio inconsciente, como
acontecia aos quadros de Oskar Kokoschka coincidentes com os primeiros estudos de Freud.
São símbolos deste estado de espírito os trabalhos de alguns componentes do grupo Ponte: Nolde
(1867-1956 ) pinta paisagens de um mundo primitivo e visionário, exprimindo estados psíquicos por meio
de um desenho simplificado, quase caricatural, com figuras humanas estáticas e alucinadas e onde
abundam os tons de violeta, laranja e amarelo.
O Expressionismo deixa de ser pertença apenas da pintura para passar a influenciar toda a
expressão artística e, como tal, atravessar fronteiras. Aos grupos de artistas Alemães, juntam-se, em
França, os pintores já conhecidos por <FAUVISTAS > : Matisse, De Vlaminck, Marquet, Derain, Friesz,
Dufy, Braque, a holandês Van Dongen e os pintores < MALDITOS >, como Modigliani, Chagall,
Soutine e Rouault, entre outros.
É então que nasce em Weimar, a Bauhaus (V.) numa tentativa de lutar contra o estado de espírito
angustiado, subjectivo e individualista que, entretanto, ganhara terreno. Mas o nazismo seria fatal tanto
para esta escola como para o Expressionismo alemão, ambos representantes de um espirito em tudo alheio
à ideologia de Hitler, a qual leva ao desaparecimento destes dois movimentos.
Entretanto, a pintura expressionista irá aparecer na América Latina, fecundada pelas tradições
indígenas e gerada pelos conflitos socio-económicos ai existentes, como aconteceu no México, com a
monumental pintura mural de Siqueiros, de Rivera, de Orozco e de Tamayo.
No teatro o Expressionismo dirigiu-se contra o positivismo e as concepções naturalistas da
segunda metade do Séc. XIX. Fundamentalmente subjectiva, a linguagem teatral expressionista tornou-se
mais interiorista, valorizando ao máximo a imaginação.
Também no cinema, e a partir de 1913, prevaleceu a corrente expressionista, até ser substituída
por outra forte tendência, o Realismo.
A pelicula Nosferatu, o Vampiro, de Friedrich Murnau ( 1922 ) costuma ser considerado o
único filme criador, por ter rompido com essa codificação. Mais tarde, é o filme A Noite de São Silvestre,
de Lulu Pick que indica uma nova tendência do cinema alemão denominada Kammerspielfilm, baseada
no teatro de câmara criado por Reinhardt. Pick é então o criador do filme psicológico por excelência, ao
revelar-se contra os principios expressionistas que condenavam a psicologia explicativa e a análise do
drama individual.
O Expressionismo apesar de ainda presente ia perdendo caminho a favor do Realismo, tendência
que vai marcar alguns filmes de 1924 a 1932 e dos quais se salientam A Tragédia da Mina, de Pabst,
Ventos Gelados com roteiro de B. Brecht, o Maldito e o Testamento do Doutor Mabuse, de Fritz
Lang.
Mas foram ainda elementos estilísticos expressionistas (contrastes de luz, ângulos acentuados da
câmara, enquadramentos escolhidos ) que marcaram as realizações do norte-americano Orson Wells e a
parte final da obra de Sergei Eisenstein.
Nos anos posteriores à I Guerra Mundial, o Expressionismo evolui para duas tendências
distintas.
Numa tendencia, pretendia-se que a arquitectura se organizasse em termos positivos, tendo em
vista a reconstrução do pais, na qual teriam participação activa camadas da população urbana, É, assim,
que diversos elementos se reúnem em torno da Bauhaus, tentando desenvolver experiências mais
racionalistas que garantissem a objectividade contra os excessos sentimentais. Noutra tendência surgiam
ideias neoclássicas de efeitos visuais mais espectaculares. Entretanto, em 1930, surge o Racionalismo
europeu, e o expressionismo, principalmente na arquitectura alemã,é relegado para segundo plano.

CUBISMO

Sistema ou escola de pintura que busca os elementos componentes do quadro nas formas da
geometria sólida (ou geometria no espaço), como sejam o cubo, a esfera, o cilindro, o cone etc. Assim
como a designação de < impressionismo > derivou do título de < impressão > dado por Monet a uma das
suas telas, assim o vocábulo < cubismo > proveio dum dito de Matisse perante um quadro de Braque.
Tratava-se duma pintura que representava algumas casas de aparência cúbica, exposta no Salão
dos Independentes de Paris, em 1908. Pode dizer-se que esse quadro e esse dito assinalavam o advento da
escola cubista; no entanto, o movimento que a ela conduziu achava-se já havia algum tempo em surdo e
vagaroso desenvolvimento, precisamente desde a época em que a reacção contra o impressionismo se ia
polarizando em torno das buscas de Paulo Cézanne, tendentes a restituir solidez e estabilidade à
figuração pictórica, a qual, sob o pincel dos impressionistas, tornava-se inconsistente com o fugidio jogo
de fulgurações luminosas .
0 < Post-impressionismo > ( tal foi o nome atribuido a esse período de transição ) trazia em si o
germe do novo verbo cubista, que constituiu como que a sua conclusão natural, amadurecendo e
rematando a reacção anti-impressionista, com o levar às últimas consequências teóricas e práticas o de-
sejo de solidificar na tela a realidade tridimensional das coisas e do corpo humano.
0 que distingue o cubismo da antiga pintura, conforme refere Paulo Cézanne, resume todo o
seu pensamento: < é o não ser uma arte de imitação, mas sim uma arte de concepção, que tende a
elevar-se até à criação >. Este pensamento está na base do credo cubista, que transforma a corrente
pictórica num movimento de ilimitada liberdade.
Instala-se a vontade programática de não se condicionar ao aspecto objectivo das coisas, mas
sim inventar associações novas de formas e de côres, derivadas da fantasia do artista. Assim nos
encaminhamos para uma arte inteiramente nova, que estará para a pintura, tal como até agora foi
considerada, na mesma relação em que está a música para a literatura.
Será pintura pura, como a musica é literatura pura. Como nem todos os artistas levam muito
longe o poder de criar só do próprio íntimo visões totalmente novas, depressa se destinguiram na escola
várias tendências, segundo o pintor se atinha rigorosamente a invenções abstractas ou se contentava com
composições já de si geometricas ou geometrizáveis.
Aqueles foram os puros; estes, os simpatizantes; todos porém participaram da intenção de se
apossarem mais na realidade cognoscitiva, derivada mais do tacto que na percepção visual, e, para isso,
abandonavam os meios perspectivos de representar a corporeidade da terceira dimensão no espaço para
representarem esta terceira dimensão quáse rebatida em todas as suas faces sobre a superfície plana da
tela.
0 desenvolvimento do cubismo, nascido da convicção de que a arte se apegava demasiado à
simples reprodução das aparências visuais, até se restringir ao só acidental, ao só aparente, à simples
impressão, teve repercussões profundas, que, a partir do limitado âmbito das experiências picturais,
estenderam-se a todas as artes e ao gosto geral da decoração e da moda que caracteriza o primeiro terço
do Séc. XX.
0 cubismo foi o precursor ou o pressentimento da desadornada, rectilínea e lúcida mecanicidade
que se manifestou na arquitectura e no mobiliário; e ao mesmo tempo que o vamos assim transportado
para outros domínios, graças a causas de natureza técnica e industrial que dele não dependiam, ele
exauria-se, finalizando o seu ciclo, como estética pictural. Picasso, Braque, Derain, Leger e outros
monstros sagrados da arte, evoluíram para formar diversas escolas que assinalam uma superação da teoria
a que tinham subordinado a sua obra e que recebera esse nome de < Cubismo >.

DADAISMO

Movimento de vanguarda radical que procura interferir nos modos de relação da arte com a
sociedade.
A sua denominação deriva da palavra Francesa dada, expressão infantil que designa cavalo de
pau e, por generalização, um brinquedo predilecto.
A palavra dada foi encontrada em 8 de fevereiro de 1916, durante a reunião de um grupo de
artistas exilados em Zurique, quando um deles abriu um dicionário ao acaso, e ao acaso também, apontou
com um canivete a citada palavra.
A aceitação do acaso é característica dos dadaistas, que no próprio modo de se autodesignarem
procuraram evidenciar uma voluntária ausência de programa, chegando alguns a adoptar uma atitude
niilista.
Sempre provocatório do publico burguês, o acto dadaista abrange todos os géneros artísticos,
podendo, porém, marcar-se com o pintor francês Marcel Duchamp, a personalidade mais forte e
iniciadora do acto contestatário, quando, em 1913, se fez autor do Ready-made, objecto prefabricado,
banal e inútil, promovido à dignidade de obra de arte por mera decisão do artista.
Na Alemanha derrotada, o dadaísmo teve uma muito nítida politização, sobretudo em Berlim,
com as colagens de Raoul Hausmann, Johannes Baader, John Hertfield e as caricaturas de George Grosz.
Em Colónia, em 1919, juntaram-se Arp, Max Ernest e Baargeld, que organizaram, em 1920, numa
cervejaria, uma exposição que foi encerrada pela policia como contrária aos < bons costumes >.
A técnica da colagem, criada pelos cubistas em 1912, foi aplicada como desmontagem, com os
mais diversos materiais. A Linguagem foi decomposta nos seus elementos fonéticos e reconstituída em
associação de sons, ruídos ou em imagens que proporcionavam uma nova espontaneidade.
A possibilidade de que todas as coisas e fragmentos de linguagens pudessem ser apropriados
pela actividade artística, constituia o modo mais explorado por esta rebeldia que, ao destruir, participava
na construção de novas modalidades de expressão.
Pintura, escultura, teatro, literatura, modalidades tradicionais, eram decompostas; cinema,
modalidade nova, não sendo uma linguagem consolidada, atrai alguns dadaístas, de um modo lírico e
construtivo, porque o próprio cinema dessacraliza a tradicional concepção da obra de arte como objecto
único e susceptível de se tornar usufruivel apenas pelo seu proprietário. Para os dadaístas, o testemunho
da realidade vivencial colectiva é mais importante que o produto acabado.
Com uma alegria experimental limitada, a fotografia, o cinema e outras inovações foram
apropriadas pelos artistas. Com o dadaismo desenvolveram-se modos de expressão a partir da montagem
de materiais heteróclitos, tais como a fotomontagem, a assemblage, a arte objectual, a poesia visual, a
tipografia livre, a música ruidosa, modalidades que misturam meios de expressão até então muito separa-
dos.
Partindo embora de uma discussão interna do grupo de Paris, alguns dadaistas, aproveitando as
novas possibilidades de expressão e de interpretação da arte e, apoiando-se nas doutrinas de Freud e nas
de Marx, iniciam certas pesquisas que conduzem ao surrealismo, cujo primeiro manifesto será redigido,
em 1924, pelo poeta André Breton.
0 surrealismo, durante décadas, será o movimento que mais se reclamará do dadaísmo, e tornou-
se tão importante que, a pouco e pouco, o dadaismo ficava considerado apenas como o pré-surrealismo
bretoniano.
No final dos anos 50, reavaliou-se a contribuição dadaista, nalguns casos como consequência de
novas modalidades a que, por sua vez, não era alheio o objectualismo e o abstracionismo lírico.
Nas artes plásticas, o brasileiro Hélio Oiticica, desde 1961 evidencia o seu interesse na
participação do espectador em novos moldes, o que o conduz em 1965, às manifestações ambientais, a
primeira das quais é Parangolé; capas, barracas e estandartes, com a participação de um grupo de
passistas da Escola de Samba da Mangueira, sendo ele próprio também passista. Lígia Clark propõe
experiências com o corpo, que marcam o rompimento com o objecto.
Pela mesma época, o surrealista português Eurico Gonçalves, praticando a pintura gestual e a
descolagem, investiga as relações entre o comportamento dadaísta e o budismo Zen.
Marcel Duchamp é considerado o mestre de todos estes neodadaismos, assim como da arte
conceptual dos anos 70 Francis Picabia é redescoberto com o desenvolvimento da bad painting, já nos
anos 80. Tudo isto mostra que o dadaismo literário e artístico iniciado por Duchamp e Picabia, Tzara e
Haussann, Arp e Schwitters, mantém uma presença forte no vanguardismo.

J0AN MIRÓ

Joan Miró, morreu em Palma de Maiorca a 25-XII-1983 e por sua vontade expressa, tanto o
anúncio do falecimento, como os ofícios fúnebres, foram feitos em língua catalã ou maiorquina.
Classificado pelo poeta Rafael Alberti como o « herói da primeira pintura do século XX » e « uma
grande figura do mundo da arte e da cultura » , J. Miró dedicou toda a sua vida à pintura, à gravura, à
litografia, à escultura e à cerâmica, tendo sido, também, autor de tapeçarias e de trabalhos em vidro, numa
busca contínua de novas expressões criativas.
Depois da guerra civil de Espanha, durante a qual apoiou as forças republicanas, Miró decidiu
fixar-se em Palma de Maiorca, num quase isolamento, somente cortado por algumas viagens, como
aquela que realizou ao nosso Pais na década de 40.
Entre 1954 e 1959, depois de concluir a sua série "Constelações” que iniciara em 1941,
consagra-se às suas Pinturas Lentas e Pinturas Espontâneas. Nesses anos é galardoado, respectivamente,
com o Grande Prémio da Gravura, da Bienal de Veneza e com o Grande Prémio Internacional da
Fundação Guggenheim que distinguiu os frescos 0 Sol e A Lua, executados pelo pintor para a sede da
UNESCO, de Paris.
Sempre muito ligado sentimentalmente a Paris, onde a sua arte começou por ser reconhecida, J.
Miró pintou, na sequência dos acontecimentos de 1968, (que considerou « essa inolvidável rebelião da
juventude », um quadro que intitulou apenas de Maio 68.
Em 1975, num acto de homenagem da Catalunha ao seu pintor, o ex-Centro de Estudos de Arte
Contemporânea de Barcelona, foi transformado na Fundação Miró, dedicada ao conjunto da obra deste
artista.
Mais tarde, esta instituição criou o Prémio Internacional de Desenho e diversas menções
honrosas com o nome de Joan Miró. Tendo trabalhado até ao fim da sua vida com um entusiasmo sempre
renovado, tentou, já com 80 anos de idade, contribuir para o renascimento da arte do vitral, conseguindo
realizar três vitrais para a Capela Real de Saint Frambourg, em Senlis, e em 1981, apesar de se encontrar
quase cego, prosseguia na criação de uma série de cerâmicas, litografias e algumas estátuas, destinadas a
um parque de Barcelona, cidade esta que inaugurou em Abril de 1983, no 90° aniversário do pintor, a sua
última escultura monumental, distinções: Medalha de Ouro da Cidade de Barcelona e Prémio Feltrinelli
de Pintura, ambos em 1978; Medalha de Ouro de Baleares e o doutoramento em bronze, "Donna y Ocell"
(Mulher e Pássaro).
Durante a sua carreira, J.Miró foi considerado Doutor Honoris Causa pela Universidade de
Barcelona, em 1979, enquanto a municipalidade de Madrid decidia dar o nome de Joan Miró a uma rua da
cidade; em 1980, recebera das mãos do rei Juan Carlos de Espanha, a Medalha de Ouro das Belas-Artes.

ABSTRACCIONISMO
Termo geralmente utilizado para designar um movimento moderno iniciado cerca de 1910,
embora os arqueólogos encontrem manifestações abstraccionistas na arte neolitica, cujas formas
geométricas a opõem ao naturalismo mimético do Paleolitico.
0 movimento abstraccionista manifesta-se polemicamente na pintura e na escultura; fortifica
certos valores estéticos da música e da arquitectura, artes que, já antes do séc. XX, são apreciadas sem
que se recorra ao aspecto imitativo; nas suas consequências, arrasta a poesia, a fotografia e o cinema: «
Chamo arte abstracta àquela que não contem nenhuma lembrança, nenhuma evocação da realidade, ainda
que esta realidade seja ou não o ponto de partida do artista».
Portanto, se estamos perante um quadro ou uma escultura para cuja compensação necessitamos
de identificar objectos ou aspectos visíveis da realidade circundante, trata-se de uma obra figurativa; se
não há necessidade dessa identificação, trata-se de uma obra abstracta.
Daqui se depreende que uma compreenção abstraccionista é possível perante a arte figurativa, e,
naturalmente, esse tipo de compreensão sectária foi necessária aos iniciadores, que assim puderam extrair
de alguns mestres das tendências pós-impressionistas um modo seguro de utilizar os elementos da
linguagem plástica, ao nível artístico mais elevado, o que mostra que a evolução da arte de pintar se tem
processado através da sua prática e observação intima.
Assim, os primeiros abstraccionistas devem muito aos fauves, aos cubistas e aos surrealistas,
no que se refere respectivamente à autonomização da linha e da cor, da forma e do espaço, da figura e do
signo. Estes elementos deixam de ser utilizados para imitar o mundo visível, passando a desenvolver um
processo de comunicação intuitivo, através da sua disposição livre no suporte. 0 primado do plano do
suporte afirma-se então: ele é o lugar de uma experiência pictórica concreta. Por isso, alguns dos
abstractos preferem chamar-se «concretistas», pois para eles, pintores ou escultores, não há nada mais
concreto do que a composição no plano ou no espaço, e a obra final é um objecto real, visível e tangível
.« A arte concreta torna visível o pensamento abstracto». Por intermédio da pintura e da escultura
concretas, as composições intelectuais nascem como objectos sensíveis.
Os meios de composição são as cores, a luz, o movimento, o volume, o espaço. Historicamente,
a primeira obra abstracta, conscientemente assumida, como tal é uma aguarela pintada por Kandinsky,
em 1910.
No mesmo ano, este pintor russo, que então vivia em Munique, redigiu o seu ensaio Uber das
Geistige in der Kunst, (Do Espiritual na Arte), onde estabeleceu afinidades entre a pintura e a música.
Outros pintores são por vezes indicados como tendo realizado pinturas abstractas antes de 1910:
o lituano Tchurlianis, em 1907, e o francês Picabia, em 1908. Mas, no primeiro caso, as obras
aproximam-se muito do decorativismo característico da arte nova; e, no segundo, não houve uma
actividade continuada nesse sentido, durante esses anos. 0 português Amadeu de Sousa-Cardoso e o
russo Malevich, contam-se entre os mais importantes.
Perto do abstraccionismo, em 1911, o raionismo dos russos Larionov e Gontcharova representa,
nos seus quadros, não a materialidade dos objectos, mas as irradiações espirituais que produzem entre si,
na imaginação criadora dos pintores. Em 1912, o orfismo dos Delaunay, oriundo do cubismo, utiliza o
contraste simultâneo das cores, dispostas em círculos, de modo a intensificar-lhe a força cromática.
Em 1914, o construtivismo russo (Tatline, Gabo, Pevsner) é inicialmente o desenvolvimento da
colagem dos cubistas, em breve abandonando o plano para criar formas tridimensionais, vindo a ter
influência na escultura, na cenografia, na arquitectura e no design.
Após a guerra de 1939/45, será na América do Sul que se desenvolverá um neoconcretismo que
continua a utilizar as formas da geometria euclidiana.
Mas o pós-guerra viu surgir uma nova forma de abstraccionismo não-geométrico, anunciada nos
primeiros quadros abstractos de Kandinsky. Deriva da violência expressionista e do automatismo
surrealista.
É um aprofundamento da tendência geral para a abstracção, na medida em que rejeita qualquer
modelo de conteúdo intelectivo prévios ao acto de pintar, nem sequer as formas abstractas que possam ser
definiveis previamente, como as da geometria euclidiana. Por isso, se lhe chama muitas vezes
informalismo. Mas também é conhecido por outros nomes, conforme a característica mais evidente ou o
lugar em que surge em França, tachisme, termo derivado da palavra francesa tache (mancha), para
indicar que os pintores se exprimem por meio de manchas lançadas livremente na tela, em gestos
impulsivos e automáticos.
Nos Estados Unidos, criou-se, a propósito da pintura de Pollock e outros, o termo action-
painting (pintura de acção), para indicar que o artista age rapidamente sobre a pintura, exprime-se
instintivamente no próprio acto de realizar a obra, aproveitando os efeitos das livres escorrências das
tintas, das texturas dos materiais aplicados, das marcas dos gestos da execução pictórica, etc.
Outras correntes do abstraccionismo não geométrico: arte outra (Dubuffet), pintura matérica
(Tapies), espacialismo (Fontana), gestualismo (Hartung), etc. Um formalismo pós-impressionista e
pós-cubista tem acompanhado o movimento abstraccionista, mantendo porém sugestões da luz e do
espaço, sendo por vezes designado por neo-impressionismo abstracto (Bissière, Bazaine, Vieira da
Silva).
Entre os portugueses, dois nomes impuseram-se ao consenso geral: Amadeu de Sousa-Cardoso
e Helena Vieira da Silva. Amadeu conta-se entre os pioneiros. Em 1912, enviou para a Galeria der
Sturm, na Alemanha, três quadros abstractos, dois deles próximos das pesquisas sobre a forma e a cor que
Fernand Léger realiza principalmente no ano seguinte; o terceiro pode incluir-se dentro do orfismo.
Quanto a Vieira da Silva, pratica desde 1935 um abstraccionismo com sugestões espaciais
cenográficas, múltiplas prespectivas que interferem umas com as outras, provocando um espectáculo
alucinatório. A obra abstraccionista destes dois pintores deve ser entendida dentro das características da
Escola de Paris, cada um de acordo com a geração a que pertence.
Entre os pintores vivendo e trabalhando em Portugal, devem ser salientados os iniciadores
Fernando Lanhas e Nadir Afonso. 0 primeiro executa desde 1943 composições rigorosas de formas
simples e de cores acinzentadas, dividindo a superfície do quadro com linhas tensas. Os dois pintores
integram-se no abstraccionismo geométrico, e Nadir realizou em 1956 uma obra cinética.
Nas tendências informalistas, por vezes com origens expressionista e surrealista, salientam-se os
pintores Fernando de Azevedo, Vespeira, António Charrua, Eurico Gonçalves, Manuel Baptista,
António Sena, etc. Tanto para Portugal como para o Brasil, Paris teve a influência no desabrochar do
espirito moderno e nos inicios da prática do abstraccionismo.
Posteriormente, outros centros culturais têm atraído a curiosidade dos vanguardistas. No Brasil,
marca-se a arrancada da modernidade, em 1922, com a Semana de Arte Moderna, em São Paulo. Mas é
mais tarde que o abstraccionismo encontra partidários. Cícero Dias, inicialmente surrealista figurativo,
passa a viver em Paris desde 1937, dedica-se ao geometrismo, e, desde os anos cinquenta, ao
informalismo. Em Lula Cardoso Ayres nota-se a inspiração em temas folclóricos. Outros
abstraccionistas dignos de nota: Mílton da Costa, Ivan Serpa, Lfgia Clark, Alofsio Carvão, Manabu
Mabe, António Bandeira, Franz Krajcberg, Camargo e Mira Schendel.

O SURREALISMO

0 Surrealismo ( Fr. surréalisme ) é uma corrente de pensamento que surgiu em França, a seguir
à Primeira Grande Guerra Mundial. 0 adjectivo surrealista (no sentido de superfantástico ) foi adoptado
pela primeira vez por G. Apollinaire, como qualificativo do seu drama Les Mamelles de Tirésias,
apresentando-se como uma tentativa cientifica, experimental, de exploração do inconsciente, onde reside
a sobrerrealidade.
0 surrealismo tem pois a sua origem próxima numa constatação empirica, e, ao mesmo tempo,
numa experiência interior. A constatação é a da existência, afirmada por modernas escolas psicológicas, e
especialmente pela psicanálise, de uma vasta actividade psíquica inconsciente; a experiência é a da
tomada de contacto, efectuada pessoalmente pelos próprios iniciadores do surrealismo, com essa profunda
actividade, que se manifesta principalmente nos sonhos nos estados de sonambulismo., nos automatismos
e no transe medianico.
0 surrealismo continua pois, por um lado, com maior sistematismo e deliberação, por outro
empenhando mais profundamente no património psíquico meta-raciocinio do indivíduo, o esforço evasivo
do dadaismo (Tristan Tzara, em revolta permanente contra a arte, a moral e a sociedade).
Conforme Breton escreveu, tudo leva a crer que existe um ponto do espirito desde o qual a vida e
a morte, o real e o imaginário, o passado e o futuro, o comunicável e o incomunicável, o alto e o baixo,
cessam de ser apercebidos como contradições.
Consoante o surrealismo da duplicidade da sua natureza, a meio caminho entre a espiritualidade
e a animalidade, resultam as duas vias pelas quais pode caminhar o homem que busca o absoluto.
Entre os primeiros surrealistas (1919-20) figuravam além de André Breton, L.Aragon, R. Crevel,
R.Desnor, Paul Eluard, B. Péret,. G. Ribemont -Dessaignes Philipe Soupault; a estes juntaram-se, depois
entre outros, H. Arp, René Char, Salvador Dali, M. Duchamp, Max Ernest, A.Giacometti, G.Hugnet, G.
Limbour, J. Miro, P. Naville, G. Rosey, Y.Tanguy, R.Vitrac. Alguns desses afastaram-se depois, de
maneira mais ou menos retumbante, do movimento.
Em Portugal apareceram ligados ao movimento surrealista os seguintes escritores e artistas:
António Pedro, poeta e pintor ( em actividades para-surrealistas desde 1934; em 1942 publicou apenas
uma narrativa, romance surrealista-automático; expôs pintura surrealista, pela primeira vez em Portugal,
em 1940, em Lisboa. José Augusto França, escritor (pertenceu ao Grupo Surrealista; expôs pintura na
primeira exposição Surrealista, António Dacosta ( pintor expôs com António Pedro em 1940, Cândido
Costa Pinto, pintor (deu a conhecer os seus primeiros quadros surrealistas em 1942, Mário Cesariny
Vasconcelos, poeta (abandonou o grupo Surrealista antes da primeira exposição de 1949 e formou novo
grupo< Os Surrealistas >, Eurico Gonçalves e Dante Julio, pintores, exposeram em 1954 pintura de
parentesco surrealista.
Ambos os grupos podem considerar-se dispersos: “ o Grupo Surrealista de Lisboa” desde 1949.
No século XX, este impulso libertário levou os surrealistas a preconizarem simultaneamente o
marxismo e o freudalismo, ou seja, a libertação económica e a recuperação de todas as capacidades
psíquicas
Assim, o surrealismo surge como um dos movimentos mais capazes de combater a alienação.
Os surrealistas, tendo estado entre os primeiros intelectuais que condenaram Hitler, não deixam
de, mais tarde, condenar também Staline.
0 Surrealismo manifesta-se bruscamente em todo o mundo, a partir dos anos 40, para além do
que as tertúlias literárias e grupos de circunstancia política possam determinar, notando-se em especial
um grande desenvolvimento no domínio de expressão plástica, já que esta se está a tornar mais planetária.
E os movimentos de rebelião juvenil, surgidos nos anos 60, como o de Maio de 68, mobilizam
rapidamente a teoria freudo-marxista que, entretanto, se desenvolvera em Frankfurt, como Adorno
Benjamim e Marcuse, não devendo ser esquecido que, na Alemanha, o dadaísmo se politizara muitíssimo.
0 cariz anti-artístico dos polémicos dádá-surrealistas levou também a que, durante algumas
décadas, a cultura oficial das escolas e dos museus não tivesse reparado na notável proliferação de
técnicas de expressão, entretanto, instauradas.
0 historiador René Passeron, numa recente Histoire de la peintura surréaliste, enumera mais de
trinta técnicas, entre as quais o automatismo da linha e da mancha, a decalcomania, a fottdge, a co-
lagem, o Cadavre-exquis, o objectualismo, o gestualismo, etc.
Enquanto, em Paris, o grupo surrealista se comportava como se vivesse em "catacumbas ", já o
mexicano Octavio Paz, poeta e ensaísta profundo que deu uma amplificação actualizada das implicações
do surrealismo, mostrava que a tarefa de Breton consistiu em anular a noção de pecado original.
A Poesia de Breton, a pintura de Miró, constituindo as manifestações mais puras do surrealismo,
são também as iniciadoras desta via de comportamento e de conhecimento, fora de qualquer complexo de
culpa e de errado sentido do dever.
Aos mitos burgueses de Deus-Pátria-Família, os surrealistas opõem Poesia-Amor-Liberdade.
A tentativa de Eurico Gonçalves para revigorar o movimento surrealista português, expondo em
1954 numa galeria dirigida por José-Augusto França e publicando no catálogo um texto do poeta Mário
Cesariny, não foi suficiente para ultrapassar a cisão de 1948
E à incompatibilidade pessoal, entretanto estabelecida, por aqueles dois teóricos, Eurico,
Cesariny e Cruzeiro Seixas foram, entre os iniciadores, os únicos que permaneceram fieis à ortodoxia
surrrealista, em continuadas actividades individuais, numa atitude criativa e critica que muito veio a
beneficiar a redescoberta de pintores esquecidos, como o expressionista lírico Júlio, e a promoção de
novas tendências, como o automatismo abstracto conducente à pintura de signo, a certo
neofigurativismo e ao objectualismo, onde se revelam artistas mais jovens, como Eduardo Luís,
António Quadros, António Areal, Paula Rego, Mário Américo, Gonçalo Duarte, Lourdes Castro, René
Bértholo, Raul Perez e outros.
0 período surrealista ( 1927-1932) de Cícero Dias conjuga evocações oníricas com a realidade
nordestina.
Ismael Nery, em 1927 travou contacto na Europa com Chagall, e, sob a influência deste e de
Chirico, desenvolve a prática do desenho como forma de < artesanato mental > posto ao serviço de um
sistema filosófico criado pelo pintor - o essencialismo.
A escultura de Maria Martins é um bom exemplo da universalidade do surrealismo e da
capacidade que este movimento moderno tem de desenterrar valores locais. .
0 surrealismo propõe-se, por isso, ser também um surracionalisno, ou < racionalismo alargado
>, tal como propôs o epistemologo Gaston Bachelard, cujos textos de filosofia da ciência e de crftica
literária mobilizam os conceitos básicos da Psicanálise.

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