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2013
INDICE
Página
1.Introdução– qualidade e usos da água 2
2. Características da água (parâmetros indicadores da qualidade da 4
água)
2.1. Características físicas 4
Turbidez 5
Cor 7
Sólidos 8
Condutividade elétrica 10
2.2. Características químicas 11
pH, alcalinidade e acidez 11
Dureza, Ca e Mg 15
Cloretos 19
Ferro e Manganês 19
Nitrogênio 21
Fósforo 25
Oxigênio dissolvido 27
Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO e Demanda Química de 29
Oxigênio - DQO
2.3. Características biológicas 31
Organismos patogênicos e indicadores de contaminação 31
Algas e cianobactérias 37
1. INTRODUÇÃO
Via de regra, os recursos hídricos prestam-se a múltiplos usos, tais como: a geração de
energia, a irrigação, a criação de animais, o abastecimento para consumo humano e fins
industriais, a recreação e a pesca, a composição e harmonia paisagística e até mesmo a
recepção de efluentes domésticos e industriais, desde que de forma controlada.
A cada uso corresponde uma certa demanda de água, em quantidade e qualidade
necessárias e suficientes.
Entretanto, a concentração demográfica, a expansão industrial, as atividades
agropecuárias, enfim, o uso e a ocupação do solo na bacia hidrográfica de um manancial
podem introduzir na água substâncias em “excesso” ou indesejáveis, comprometendo
diversos usos. De forma análoga, a captação de água para suprir uma demanda
específica pode comprometer a oferta de água para outros fins. Portanto, o desequilíbrio
entre a oferta e a demanda de água, ou entre as funções de um recurso hídrico como
CIV442 – Qualidade da Água - Apostila de Aulas Teóricas --2003 1
manancial de abastecimento e corpo receptor, podem fazer dos usos múltiplos, usos
conflitantes.
Para se ilustrar o quão instável é o equilíbrio entre a demanda e a oferta, usos múltiplos
e conflitantes da água, bastam alguns exemplos.
A água cobre três quartos do globo terrestre. Entretanto, cerca de 97,2% são águas dos
mares e oceanos e dos 2,8% restantes, cerca de 2,15% são geleiras e calotas polares,
inacessíveis; apenas 0,65% são águas doces, das quais 0,31% constituem águas
subterrâneas ainda inatingíveis. Portanto, apenas 0,34% da água total existente no
planeta encontram-se disponíveis ao ser humano sob a forma de rios, lagos e
reservatórios subterrâneos acessíveis. O Brasil dispõe de cerca de 8% do total de água
doce do planeta, porém desigualmente distribuídos no território nacional: a Amazônia
detém a maior parte da reserva hídrica do país, para uma população de apenas 15% da
população total brasileira.
A agricultura irrigada é, de longe, a atividade que mais consome água no mundo:
estima-se que a irrigação responda por 80% do consumo de água, enquanto os usos
industrial e humano correspondem a 10-12% e 8-10%, respectivamente. No Brasil, o
consumo de água para irrigação corresponde à cerca de 60% do consumo total.
Segundo dados da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, em 1992,
cerca de 101,6 milhões de habitantes eram atendidos por serviços de abastecimento de
água em nosso país, o que correspondia a 67% da população total e 86% da população
urbana, Porém, estes números escondem detalhes importantes, tais como a intermitência
no abastecimento em diversos municípios brasileiros, fruto muitas vezes da própria
escassez de água. Segundo dados da Associação Nacional dos Serviços Municipais de
Saneamento, em 40% dos sistemas operados por Serviços Municipais existem
problemas de irregularidade no abastecimento de água, devido à redução de vazões dos
mananciais em épocas de estiagem.
Quanto à deterioração da qualidade da água, basta citar as estatísticas disponíveis sobre
a realidade do tratamento de esgotos sanitários no país: apenas cerca de 10% dos
municípios brasileiros dispõem de estação de tratamento de esgotos (ETE’s) e somente
cerca de 15% de todo o volume de esgotos coletados no país recebe algum tratamento
Tais números, per si, revelam uma realidade preocupante em termos de impactos
ambientais e de saúde pública.
• Tratabilidade da água
Em tese, do ponto de vista tecnológico, qualquer água pode ser tratada para qualquer
fim, porém nem sempre a custos acessíveis. Decorre daí, o conceito de tratabilidade da
água, relacionado à viabilidade técnico-econômica do tratamento, ou seja, de dotar a
água de determinadas características que permitam ou potencializem um determinado
uso.
.
2. CARACTERÍSTICAS DA ÁGUA (PARÂMETROS INDICADORES DA
QUALIDADE DA ÁGUA)
1
A legislação brasileira sempre foi muito clara, desde o Código das Águas da década de 30 até a
atual Lei Nacional de Recursos Hídricos: o uso prioritário da água é o abastecimento para consumo
humano.
• Turbidez:
Devida a presença de partículas em estado coloidal, em suspensão, matéria orgânica e
inorgânica finamente dividida, plâncton e outros organismos microscópicos. Expressa a
interferência à passagem de luz através do líquido, portanto, simplificadamente, a
transparência da água. Em geral a turbidez da água bruta de mananciais superficiais
apresenta variações sazonais significativas entre períodos de chuva , o que exige
atenção na operação da Estação de Tratamento de Água (ETA). A turbidez da água
bruta é um dos principais parâmetros de seleção de tecnologia de tratamento e de
controle operacional dos processos de tratamento. Águas represadas usualmente
apresentam turbidez mais reduzida, decorrente da sedimentação das partículas em
suspensão. Na água filtrada a turbidez assume uma função de indicador sanitário e não
meramente estético. A remoção de turbidez por meio da filtração indica a remoção de
partículas em suspensão, incluindo cistos de protozoários. Os critérios reconhecidos
internacionalmente como indicadores da remoção protozoários são: 0,5 UT para de
cistos Giardia ; 0,3 UT para oocistos de Cryptosporidium. A turbidez da água pré-
desinfecção, precedida ou não de filtração, é também um parâmetro de controle da
eficiência da desinfecção, no entendimento de que partículas em suspensão podem
proteger os microrganismos da ação do desinfetante. Para uma eficiente remoção de
vírus, recomenda-se uma turbidez pré-desinfecção de 0,5 UT. Na água distribuída a
turbidez informa sobre a estanqueidade do sistema de distribuição, sendo que a elevação
da turbidez pode indicar infiltrações na rede e riscos de pós-contaminação. No ponto de
consumo a turbidez assume também importância estética-organoléptica, podendo
provocar rejeição ao consumo. O padrão de turbidez para água distribuída é de 5,0 UT.
A percepção visual da turbidez se dá em valores superiores a 7-10 UT.
100
80
Turbidez (UNT)
60
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0
1
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1
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D
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A
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Turbidez média mensal – Ribeirão São Bartolomeu
120
100
80
Turbidez (UNT)
60
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20
0
0
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01
01
1
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ab
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ja
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ag
ag
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m
Os exemplos acima ilustram as variações sazonais de turbidez nos manaciais de abastecimento de água
para consumo humano de Viçosa: um represado - Ribeirão São Bartolomeu, outro não - Rio Turvo. Os
dois apresentam turbidez média relativamente reduzida, portanto, de fácil tratabilidade. Entretanto,
mesmo em casos como estes a atenção cotidiana é indispensável: por exemplo, em janeiro de 2001,
chuvas torrenciais provocaram uma elevação brusca da turbidez, até 1.000 UT
• Cor:
Devida a presença de substâncias dissolvidas, decorrentes da decomposição de matéria
orgânica (plâncton, substâncias húmicas), da presença de substâncias tais como ferro e
manganês, ou da introdução de efluentes industriais. Quando a determinação da cor é
realizada após centrifugação da amostra para se eliminar a interferência de partículas
coloidais e suspensas, obtém-se a cor verdadeira. Caso contrário, tem-se a cor aparente.
Cor é um parâmetro essencialmente de natureza estética e componente do padrão de
aceitação para consumo humano; o valor limite de 15 uC é estabelecido no
entendimento de que é imperceptível a olho nú. Entretanto, a cor devida a substâncias
orgânicas pode indicar a presença de precursores de formação de trihalometanos, um
subproduto tóxico da cloração. Cor elevada no sistema de distribuição pode ainda
contribuir para o consumo do cloro residual. Águas de cor elevada podem também
impor limitações a diversos usos industriais, como a indústria têxtil e de papel.
• Sólidos
Os sólidos presentes na água são usualmente classificados de acordo com suas
características físicas (tamanho e propriedades – sedimentação, filtração) e químicas
(natureza orgânica ou inorgânica).
Sólidos dissolvidos fixos (SDF)
Sólidos dissolvidos totais (SD)
Sólidos dissolvidos voláteis (SDF)
Sólidos totais (ST)
Sólidos em suspensão fixos (SSF)
Sólidos suspensos totais (SS)
Sólidos em suspensão voláteis(SSV)
Águas represadas acumulam os sólidos carreados pelos rios que, sedimentados, tendem
a tornar as águas mais límpidas (menor turbidez). Portanto, os teores de ST, SS e,
principalmente, Sd, são importantes parâmetros de planejamento e projeto de
reservatórios de água, como medida de previsão de assoreamento e vida útil. Por
extensão, ST é também um parâmetro associado à tratabilidade da água, encontrando
particular aplicação no projeto de sistemas de irrigação por aspersão ou gotejamento.
Entretanto, no que diz respeito ao tratamento da água para consumo humano, a turbidez
cumpre papel análogo e mais específico.
Águas superficiais represadas podem apresentar teores de sólidos totais da ordem de 50
– 100 mg/L, ao passo que em águas residuárias podem ser encontrados valores tão altos
quanto 1.000 mg ST/L (esgotos sanitários) ou 10.000 mg ST/L (dejetos de suínos).
ST, SS e particularmente Sd encontram grande aplicação na avaliação da tratabilidade e
seleção de processos de tratamento de águas residuárias, sendo que, em primeiro lugar
indicam as necessidades de tratamento primário (separação física, por exemplo,
• SS: padrão de lançamento de efluentes em corpos receptores (Minas Gerais – 100 mg/L)
• SD
qualidade de água mineral
qualidade da água para consumo humano (padrão de aceitação para consumo-1.000 mg/L)
→
CO + H O H CO
2 2 ← 2 3
→ + −
H CO H + HCO
2 3 ← 3
− → + 2−
HCO H + CO
3 ← 3
10
9.5
9
pH
8.5
7.5
7
L1 L2 L3
O sistema de tratamento do exemplo acima é composto por um reator anaeróbio em escala real, seguido
por três lagoas de estabilização em escala piloto (Unidade Experimental da Violeira, Viçosa –MG). O
funcionamento de lagoas de estabilização é baseado na relação simbiótica que se estabelece entre
bactérias e algas. As bactérias decompõem a matéria orgânica, fornecendo o C02 necessário as algas
para a realização da fotossíntese, que por sua vez produzem o O2 necessário às bactérias para a
decomposição aeróbia da matéria orgânica. Ao longo do sistema de tratamento, a concentração de
35
30
25
20
(mg/L)
15
10
0
ir o
ro
o
ço
o
ho
iro
ril
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nh
ai
br
br
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Ag
M
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Ja
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Fe
Se
D
Alcalinidade da água no ponto de captação da ETA/UFV (Lagoa da Funarbe)
O exemplo acima ilustra bem a capacidade de tamponamento e o equilíbrio do sistema ácido carbônico
no meio aquático.
• alcalinidade:
tratabilidade da água para consumo humano
controle de processos de tratamento de água – coagulação
controle de processos de tratamento de águas residuárias
restrições de usos industriais
Não são conhecidos efeitos deletérios da dureza sobre a saúde. O padrão de potabilidade
brasileiro estabelece como padrão de aceitação para consumo um limite de dureza total
em 500 mg/L, por motivos econômicos e pelo sabor pouco agradável de tais águas.
Tipos de dureza
Além da dureza total, muitas vezes é de interesse, conhecer os tipos de dureza presentes
na água. A dureza pode ser classificada em relação aos íons metálicos (dureza cálcio,
dureza magnésio) ou em relação aos ânions associados aos cátions metálicos (dureza
carbonato ou não-carbonato).
a) Dureza carbonato e não-carbonato
CIV442 – Qualidade da Água - Apostila de Aulas Teóricas --2003 15
A dureza carbonato é quimicamente equivalente à alcalinidade de bicarbonatos e
carbonatos presentes na água. Como alcalinidade e dureza são expressas como CaCO3, e
a alcalinidade é menor que a dureza total, a dureza carbonato é igual à alcalinidade.
Quando a alcalinidade é maior que a dureza total, a dureza carbonato é igual à dureza
total.
Os bicarbonatos são fonte de carbonatos que formam precipitados com os íons cálcio a
elevadas temperaturas, tal como acontece em caldeiras ou durante o processo de
abrandamento. A dureza carbonato foi denominada dureza temporária no passado, pois
pode ser ser removida da água como precipitado de CaCO3 por fervura prolongada:
c) Pseudo-Dureza
Sódio
Sódio (Na) é o sexto elemento mais abundante na terra e está presente na maioria das
águas naturais. Sua concentração pode variar de < 1 mg/L até > 500 mg/L. Na água
para consumo humano, limites de sódio são estabelecidos apenas por razões
organolépticas (sabor). A legislação brasileira estabelece um limite de 200 mg Na/L.
Do ponto de vista econômico, o sódio pode também ser causa de obstrução de
canalizações e equipamentos; uma concentração máxima de 2 a 3 mg/L é recomendada
em águas de alimentação de caldeiras.
Nas águas utilizadas para irrigação o sódio é um dos principais parâmetros de controle.
Em linhas gerais, o sódio produz um efeito dispersante nas partículas finas do solo,
contribuindo para sua obstrução; o cálcio, vice-versa, contribui para uma melhor
estrutura do solo. Além disso, os efeitos do excesso de Na são potencializados quando a
relação Ca/Mg é menor que a unidade; isto porque o excesso de Mg no solo pode
induzir à deficiência de Ca. Assim, a proporção de sódio em relação ao cálcio e
CIV442 – Qualidade da Água - Apostila de Aulas Teóricas --2003 17
magnésio nas águas de irrigação é um fator fundamental na manutenção da boa
capacidade de infiltração do solo. Sódio em excesso é também, em si, tóxico a diversas
culturas.
Principais aplicações como indicador de qualidade da água:
• qualidade da água para consumo humano–padrão de aceitação para consumo (200 mg/L)
• restrições de usos industriais
• qualidade da água para irrigação
Cloretos
Em águas para consumo humano, a concentração de cloretos está diretamente associada
à alteração de sabor e, portanto, à aceitação para consumo. Os cloretos presentes na
água que alteram sabor são os de magnésio e cálcio, em concentrações superiores a
400mg/L e o de sódio, em concentração superior a 200mg/L. No padrão de potabilidade
brasileiro o valor máximo permitido é de 250 mg/L.
O teor de cloretos pode ainda ser um indicativo de poluição por esgoto doméstico, uma
vez que a excreção humana, particularmente a urina, contém cloretos em quantidades
próximas às consumidas em alimentos e água. Muitos águas residuárias industriais
também contêm quantidades apreciáveis de cloreto. Altas concentrações de cloretos
podem ser prejudiciais a tubulações e estruturas metálicas. O teor de cloretos na água é
também um parâmetro de interesse agronômico, pois apresenta efeito tóxico a diversas
culturas
Principais aplicações como indicador de qualidade da água:
• Classificação de águas superficiais (usos)
• qualidade da água para consumo humano–padrão de aceitação para consumo (250 mg/L)
• restrições de usos industriais
• indicador auxiliar de poluição
• qualidade da água para irrigação
• Ferro e Manganês:
A presença de ferro e manganês nas águas naturais pode ser atribuída à dissolução de
rochas e minerais, principalmente óxidos, sulfetos, carbonatos e silicatos que contêm
estes metais, devido à ação do dióxido de carbono (CO2):
Sob condições anaeróbias, como por exemplo no fundo de lagos e nas águas
subterrâneas, o ferro e o manganês encontram-se na forma solúvel (íon ferroso Fe2+ e
Mn2+); quando expostos ao ar, são oxidados à formas insolúveis (íon férrico trivalente e
formas de maior valência de Mn: +3, +4, +7), que conferem à água sabor e uma
coloração que pode provocar manchas em sanitários e roupas.
Salvo casos específicos, em virtude das características geoquímicas das bacias de
drenagem, os teores de ferro e manganês em águas superficiais tendem a ser reduzidos,
devido a presença de oxigênio; as concentrações de ferro e manganês solúveis
raramente ultrapassam, respectivamente, 1,0 mg/L e 0,6 mg/L.
Na água distribuída os problemas mais freqüentes estão relacionados com a corrosão de
tubulações (no caso do ferro) ou a formação de depósitos devido à ação de bactérias
redutoras de ferro e manganês; problema semelhante pode provocar o entupimento de
instalaões de recalque de águas subterrâneas.
Em geral Fe e Mn não estão associadas à problemas de saúde e compõem o padrão de
aceitação para consumo: Fe: 0,30 mg/L; Mn: 0,15 mg/L
O exemplo ilustra a variação do teores de ferro desde a produção de água tratada até os pontos de
extremos na rede de distribuição. Nos pontos PA1e PA2, respectivamente, 76% e 50% das amostras
analisadas apresentaram teores de ferro acima do padrão de potabilidade (padrão de aceitação para
consumo - 0,30 mg/L). Em contrapartida, nos pontos PA3 e PA4 as amostras revelaram teores
sistematicamente reduzidos, permanecendo quase todas dentro do padrão. Os elevados teores de ferro,
muito provavelmente, devem-se a problemas na rede de distribuição, a qual, sabidamente, possui trechos
muito antigos em ferro fundido. Os reduzidos teores de ferro na saída da ETA reforçam esta hipótese
(Min: não-detectável; Max:0,28; Med: 0,16 mg/L). A presença de ferro na água não guarda interesse
sanitário, mas estético, pois pode provocar manchas em instalações sanitárias e roupas. Além disso, teores
elevados podem contribuir para a elevação da turbidez, cor e o consumo do cloro residual, o que de fato
foi verificado.
CIV442 – Qualidade da Água - Apostila de Aulas Teóricas --2003 19
Principais aplicações como indicador de qualidade da água:
• qualidade da água para consumo humano–padrão de aceitação para consumo (Fe: 0,30 mg/L; Mn:
0,15 mg/L)
• restrições de usos industriais e comerciais
Nitrogênio
Em águas naturais, tratadas e residuárias as formas de nitrogênio de maior interesse são,
em ordem de estado de oxidação crescente, o nitrogênio orgânico, a amônia (NH3), o
nitrito (NO2-) e o nitrato (NO3-). Todas essas formas, além do nitrogênio gás (N2), são
conversíveis e fazem parte do ciclo biogeoquímico do nitrogênio. Em ambientes
aeróbios ocorre a nitrificação ou oxidação bioquímica (mineralização) das formas de
nitrogênio, de amõnia a NO3- ; em ambientes anaeróbios a desnitrificação ou redução
das formas de nitrogênio, de NO3- a N2. Todas estas reações são realizadas por bactérias
“especializadas”; por exemplo a nitrificação é realizada por dois gêneros de bactérias
nitrificantes (quimiossintetizantes) que vivem em associação e provocando reações em
série. Um primeiro gênero, as Nitrosomonas, realizam a oxidação da amônia a nitritos,
seguida das Nitrobacter, responsáveis pela oxidação dos niitritos a nitratos.
NH 3 + H + ↔ NH 4 +
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
EB RA L1 L2 L3
O
Ortofosfato O- P O-
O-
O O O O O
Polifosfatos O- P O P O- O- P O P O P O-
O- O- O- O- O-
pirofosfato tripolifosfato
O O-
P
O O
Metafosfatos O O-
P P
O- O
O
trimetafosfato
O
CH2O P OH
Fosfato orgânico O
O
OH
OH OH
OH
glicose-6-fosfato
No exemplo destacam-se
• As diferenças entre as concentrações encontradas nas águas represadas do Ribeirão São Bartolomeu e
Rio Matipó; os teores mais elevados no segundo caso pode ser decorrentes de fontes mais
significativas de poluição ou da decomposição mais acentuada da matéria orgânica vegetal recém
afogada.
• As diferenças entre as concentrações nos esgotos sanitários efluentes de suinocultura.
2
Conhecida com base na pressão total do ar, na proporção em que cada um dos gases entra na mistura e
na solubilidade específica de cada gás, que varia com a temperatura, com a salinidade da água e com a
própria pressão. Um litro de ar contém 210 mg de oxigênio e 790 mg de nitrogênio. A uma temperatura
de 200C e ao nível do mar, o coeficiente de absorção de oxigênio e nitrogênio pela água é de,
respectivamente, 1:32 e 1:65. Nestas condições um litro de água conterá 9,08 mg de oxigênio e 16,8 mg
de nitrogênio..
CIV442 – Qualidade da Água - Apostila de Aulas Teóricas --2003 26
para o teste de DBO, largamente utilizado para a determinação da carga poluidora de
efluentes domésticos e industriais.
30.00
25.00
OD (mg/L)
20.00
15.00
10.00
5.00
0.00
8h 10h 12h 14h 16h 18h
Hora
15 cm 30 cm 45 cm 60 cm 75 cm 90 cm
No exemplo destacam-se
• Os valores de DBO e DQO relativamente baixos do manancial de abastecimento de água, denotando
uma água pouco poluída. A elevada relação DQO/DBO pode ser decorrente da alta densidade de
algas.
• A relação DQO/DBO do esgoto sanitário e do efluente de suinocultura em torno de 2 a 3,
caracterizando uma boa biodegradablidade
• A elevação da relação DQO/DBO nos efluentes tratados, revelando o consumo e a transformação da
matéria de mais fácil degradação em residual em forma recalcitrante.
• A diferença entre a DQO solúvel e filtrada no efluente final do tratamento dos esgotos sanitários,
devida a produção de algas nas lagoas de estabilização.
Com base no exposto, os coliformes totais (CT) carecem de maior significado sanitário na
avaliação da qualidade de águas naturais. O indicador mais preciso de contaminação fecal
é a E. coli. Mesmo em mananciais bem protegidos não se pode desconsiderar a
importância sanitária da detecção de E. coli, pois, no mínimo, indicaria a contaminação de
origem animal silvestre, os quais podem ser vetores de agentes patogênicos ao ser
humano. Não obstante, pelo fato de que a presença de coliformes termotolerantes, na
maioria das vezes, guarda melhor relação com a presença de E. coli, aliado a simplicidade
das técnicas laboratoriais de detecção, seu emprego ainda é aceitável
O grau de contaminação das águas é usualmente aferido com base na densidade de
organismos indicadores, no entendimento de que há uma relação semi-quantitativa entre
estas e a presença de patogênicos; este é, por exemplo, o pressuposto dos limites
estabelecidos para qualidade de águas de irrigação ou critérios de balneabilidade.
Em linhas gerais, bactérias e vírus são inativados ou destruídos por desinfecção, enquanto
protozoários (preponderantemente) e helmintos (quase exclusivamente) são removidos
por processos físicos, tais como a sedimentação e a filtração. Quanto à resistência aos
agentes desinfetantes, também em linhas gerais, em ordem crescente apresentam-se as
bactérias, vírus, protozoários e os helmintos.
Assim sendo, rigorosamente, os coliformes só se prestam como indicadores da inativação
de bactérias patogênicas. Portanto, na aferição da qualidade bacteriológica da água
tratada, a ausência dos coliformes totais é um indicador adequado e suficiente da
eficiência do tratamento, uma vez que apresentam uma taxa de decaimento (inativação)
similar ou inferior à dos coliformes termotolerantes e da E. coli.
No que diz respeito ao tratamento de águas residuárias, há que se levar em conta que os
coliformes apresentam-se usualmente em maiores densidades no esgoto bruto e, via de
regra, a taxa de decaimento da bactérias patogênicas é superior, ou no mínimo similar à
dos coliformes. Conclui-se que a redução dos coliformes a uma certa densidade residual
no efluente, e não necessariamente sua ausência no efluente, pode corresponder à
ausência de bactéria patogênicas. Este é, por exemplo o raciocínio implícito nas
recomendações de critérios de qualidade de esgotos tratados para a irrigação.
Org./100 mL
(coliformes) 107
106
105
104
(salmonela) 103
102
101
T1 T2
TDH
• Clorofila a
Indicador de eutrofização