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06/03/2018 Estudo Sobre a Epístola de Judas – Verdade-VIVA

Introdução

A epístola que temos diante de nós, embora breve, abrange um vasto período histórico.
Apresenta-nos a apostasia do cristianismo, desde os primeiros fundamentos do mal – que se
introduziram entre os crentes já no tempo dos apóstolos – até o dia em que o juízo definitivo caia
sobre a cristandade. Esta epístola nos mostra a forma em que a Igreja, abandonando as verdades
que Deus lhe confiou, tem progredido na impiedade, a que terá seu auge na negação do Pai e do
Filho. Nesta época, ainda futura, as trevas morais substituirão a luz do Evangelho que atualmente
ainda ilumina o mundo. Todavia, vemos já em ação, nos dias de hoje, todos os fundamentos que
caracterizam essa apostasia. E a epístola de Judas nos ensina qual é a atitude que todo crente
deve adotar em nossos tempos em relação ao mal e como pode glorificar a Deus nestas tristes
circunstâncias. Pois não nos esqueçamos: num tempo de ruína o crente pode glorificar a Deus de
uma maneira tão completa como nos dias mais prósperos da Igreja primitiva. As circunstâncias
mudaram, sem dúvida, mas ainda Deus pode ser honrado pelos seus, de outras maneiras, porém,
de forma tão real como quando o Espírito caiu sobre os discípulos em Pentecostes. Atualmente
Deus não nos pede que reedifiquemos o estado de coisas que está arruinado por nossa culpa, nem
que nos comportemos no meio da cristandade como se tudo estivesse em ordem, fechando os
olhos diante da decadência, mas mostra o caminho que nos guia entre as ruínas, uma vereda
aprovada e conhecida por Ele, uma vereda que o olho da águia não conseguiu jamais descobrir,
mas que a fé ensina a discernir.

Versículos 1-2:
“Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago, aos chamados, amados em Deus
Pai e guardados em Jesus Cristo, a misericórdia, a paz e o amor vos sejam multiplicados”.

Notemos em primeiro lugar a forma geral em que Judas caracteriza os crentes aos quais escreve.
As outras epístolas se dirigem a eles com palavras muito diferentes; é certo que nelas por duas
vezes são nomeados “santos chamados”, quer dizer, santos por vocação, porém somente
“chamados” não ocorre nem uma vez, exceto aqui. Quando Deus quer adquirir uma alma para Si
começa por chamá-la. Foi o que fez com Abraão, o pai dos crentes, e não podia dar aos filhos de
Deus um caráter mais geral que este. Abrange a todos, pois são “chamados”, sem nenhuma
exceção. Não encontramos acaso uma evidente advertência nisso? Esta epístola, que trata do
tempo atual, se dirige a todos os filhos de Deus, sem excluir nenhum, não considerando o modo
de andar ou os conhecimentos e sem ter em conta o que poderia dividi-los. Todos, pois, são
responsáveis por escutá-la e adequar-se a ela; daí esse termo chamados, tão amplo e individual
ao mesmo tempo. Quando um apóstolo se dirigia a uma assembleia local, mais de um crente que
não fosse parte dela poderia (sem dúvida, com pouquíssimo conhecimento a respeito) considerar-
se sem obrigações de cumprir todo o conteúdo da epístola; com Judas, uma ideia semelhante
seria imperdoável. Cada um dos membros da família de Deus, neste mundo, deve dizer: “Aqui o
Senhor se dirige pessoal e individualmente a mim”. Podemos notar que duas coisas dão a esses
“chamados” uma certeza absoluta no que se refere a suas relações com Deus. São “amados em
Deus Pai e guardados em Jesus Cristo”. Jamais deveria haver na grande família de Deus
nenhuma só alma que duvidasse de suas relações com o Pai e que não tivesse a certeza de sua
salvação. Os que duvidam d’Ele, que meditem nestas palavras. O amor do Pai por nós é tão
perfeito como seu amor para Jesus Cristo, seu Amado; por isso nos disse: “Amados em Deus
Pai”. Nossa segurança é tão perfeita como a de Jesus Cristo; pelo que também nos disse:
“Guardados em Jesus Cristo”. Se a salvação dos chamados dependesse de fidelidade, nenhum
deles chegaria ao fim de sua carreira. Assim como não podemos nos salvar, tampouco podemos
nos manter. Nossa segurança eterna está garantida, não porque sejamos fiéis, mas porque o Deus
de amor nos vê como vê a Cristo.

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Misericórdia e testemunho individual

A saudação do apóstolo tem grande importância. Nas epístolas dirigidas a Timóteo, a palavra
“misericórdia” faz parte da saudação, mas em nenhuma epístola dirigida a um grupo de crentes
existe esta palavra. É que a misericórdia é uma coisa necessária, não a uma coletividade, mas a
cada crente individualmente. Eu sou um pobre ser débil, falho de muitas formas, exposto a
contínuos perigos. Meu estado desperta a piedade divina, a que vem em meu socorro, me adverte
e se interessa por todos os detalhes do meu andar aqui na terra. Tal é o caráter da misericórdia.
Porém aqui, uma epístola coletiva, dirigida sem distinção a todos os chamados, invoca sobre eles
a misericórdia. Como explicar este fato incomum? Por uma séria razão de que, em um tempo de
ruína, o testemunho cristão toma um caráter cada vez mais individual. Isto não significa de
maneira alguma, como se ouve dizer às vezes de crentes desanimados diante da rápida invasão
do mal, que o testemunho cristão não pode ter mais o caráter coletivo de uma reunião de santos.
Os que assim falam estão em um grande erro, e a epístola de Judas o prova. Ela menciona
pessoas que se introduziram encobertamente entre os fiéis e que são manchas no meio deles; isso
indica, pois, que existe uma reunião de santos. Porém, o ensino que recebemos aqui é que nós
somos chamados, na presença do terrível estado moral da cristandade, a sermos mais e mais fiéis
em nosso testemunho individual, pois Deus toma conta dele de maneira especial. Sem dúvida é
um privilégio imenso, para o coração de crentes inteligentes, poder, em comunhão, gozar da
mesa do Senhor, sinal por excelência do testemunho coletivo e proclamação da unidade do
Corpo de Cristo em um tempo em que esta unidade está esmagada na cristandade professante.
Que este testemunho se encontra na atualidade em um estado de debilidade extrema, comparado
com o que foi no passado, não é preciso dizer, mas, no entanto, Deus toma conta dele, pois tudo
o que existe de mais elevado no cristianismo, o culto, se relaciona com a reunião de seus filhos
em separação do mundo. Porém, sobre o que insistimos é que, se nosso testemunho coletivo
pode ser de tal maneira empobrecido que se restrinja à reunião de dois ou três ao redor do
Senhor, o testemunho individual não deveria sofrer tais obstáculos. Pode ser tão poderoso como
quando o Espírito Santo enchia individualmente aos cristãos no alvorecer da Igreja. O poder do
Espírito Santo no indivíduo não está agora mais limitado que naquele tempo, sempre que
cuidamos de não contristar este hóspede divino em nosso andar, em momentos em que o caráter
mundano e a infidelidade da Igreja – em uma palavra, sua ruína – restringem necessariamente a
operação do Espírito na Assembleia. Um testemunho individual mantido com fidelidade no
tempo presente e uma santa separação do mal em todas as suas formas são tanto mais necessários
quando, por causa da iniquidade dominante na Igreja, não podemos encontrar muito apoio e
socorro em nossos irmãos. Porém, sempre nos permanece o Senhor e podemos contar por inteiro
com ele.

Sobre a apostasia

Aqui muitos cristãos se sentirão tentados a me interromper. Nos fala – dirão – dos progressos do
mal, do estado de ruína da cristandade, da proximidade do juízo. Parece que de propósito aparta
os olhos de todo bem que se realiza a seu redor, da atividade de nossas igrejas, do esforço
considerável de amor e solidariedade que atualmente caracteriza o mundo cristão, das imensas
somas empregadas para antecipar o reino de Deus. Encontro-me longe de negar tudo o que a fé
produz nos filhos de Deus, porém Deus não considera o estado da cristandade como vocês e o
mundo consideram. Ele julga o estado dos homens segundo o comportamento deles com relação
a Seu Filho e às escrituras que O revelam, e não seriam vocês sinceros se pretendessem negar
que o ambiente professante do qual fazem parte se encaminha rapidamente para o abandono da
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Palavra e a negação do Filho de Deus. Este caráter do juízo de Deus se afirma desde o princípio
até o fim das Escrituras. É o estado moral do mundo frente a Deus o que nos dá a medida do Seu
juízo; não são seus progressos materiais nem a avaliação que de si mesmo têm, nem o grau de
consagração que se atribui. A apostasia completa consiste na negação do Pai e do Filho e é o
que, entre outras, a epístola de Judas, a segunda de Pedro e a primeira de João põem em
evidência. Satanás tem mil maneiras de separar os homens de Deus, iludindo-os, nutrindo seu
orgulho e ocupando-os com seu próprio progresso.

Paz, amor e graça em atividade

“A paz e o amor vos sejam multiplicados” (v. 2). Queridos irmãos e irmãs, eis aqui o desejo do
apóstolo para todos nós. Aqui não fala da paz com Deus e de Seu amor, aos quais nada há que
acrescentar, mas que deseja que na prática os experimentemos. Conhece as dificuldades dos
crentes nestes últimos dias, nos quais o mundo está caracterizado, de uma parte, por uma
crescente e perpétua agitação e, de outra pela frieza de todos os afetos legítimos e pelo egoísmo
que prevalece sobre todas as outras considerações. “O amor vos seja multiplicado”. Eu creio,
queridos amigos, que se nos dias atuais os “chamados” do Senhor recebessem em seus corações
o que o Espírito de Deus lhes deseja aqui, todos seriam boas testemunhas de Jesus Cristo. O
inimigo procura esfriar a todo custo o amor que é o vínculo entre os filhos de Deus. Não deve
conseguir! Não nos é muito difícil ver o mal, mostrá-lo, detalhá-lo nos outros; porém, mostrar o
mal é um remédio? Não, é o amor que cura, o que levanta e ergue a nossos irmãos na marcha. A
graça ganha o coração. A severidade pode reprimir o mal, porém jamais alcançou alguém. Se for
assim para com nossos irmãos, o mesmo é para o Evangelho anunciado ao mundo. A graça atrai,
atua sobre a consciência, produz o arrependimento, conduz para Cristo e, se é necessário dizer ao
homem a verdade e fazê-lo compreender seu estado de afastamento de Deus, é ainda a graça que
põe a descoberto este estado para corrigi-lo, pois a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.
Em um tempo no qual o amor de um grande número de cristãos se esfriou e a iniquidade
prevalece, não temos necessidade de que o amor nos seja multiplicado?

Versículo 3:“Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa


comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a
batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos”.

Agora o Apóstolo aborda o tema de sua epístola. Não nos surpreende a seriedade e a solenidade
deste início? Seu primeiro intento havia sido pegar a pena, cheio como estava do grande desejo
de apresentar-lhes um tema que sempre será motivo de gozo para os resgatados: “a comum
salvação”. Antes de tudo ele quis que os crentes gozassem, em comunhão uns com os outros, das
maravilhas da obra do Salvador…, porém, a pena cai de suas mãos. O que aconteceu? Surgiram
perigos, e aqueles pobres cristãos talvez não se deram conta. Era urgente adverti-los, a fim de
que não dormissem numa perigosa inércia. O apóstolo abandonou, pois, seu primeiro intento,
tomou de novo a pena e os exortou a combater pela fé.

Manter uma doutrina imutável

Amados irmãos! Esta exortação é hoje mais atual do que era então. A guerra está declarada, o
inimigo está em campanha. Os perigos ameaçam vocês em todo lugar. Toda sorte de ciladas lhes
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é estendida, a falsidade os rodeia. Pode ser que as ovelhas do Senhor não estejam em guarda
contra os estranhos que vêm a elas com discursos perfeitos e palavras lisonjeiras com intenção
de destruir os fundamentos de sua fé. Pode ser que não tenham o coração suficientemente
simples para estarem sujeitos unicamente à voz do Bom Pastor. O apóstolo decidiu nos escrever.
Trata de nos despertar, de nos levantar, de combater contra o poder do mal que nos rodeia. Qual
é o estandarte que devemos levantar? “A fé que uma vez por todas foi dada aos santos”.

Em uma quantidade de passagens que seria longo enumerar, vemos que “a fé” nos é aqui o dom
de Deus situado no coração e que nos faz capaz de alcançar a salvação: A fé é o conjunto de
doutrinas cristãs ensinadas aos santos, doutrinas das quais se apropriam pela própria fé. Nesse
contexto, o que caracteriza o mal, nos últimos dias, é o abandono destas doutrinas.

Notem bem estas palavras: uma vez. Este ensino tem lugar uma vez; é imutável, isto é, não tem
sofrido nenhuma modificação. Quando Judas escrevia, falava desse ensino como pertencente ao
passado; tratava-se do que havia aprendido os primeiros cristãos pela palavra dos apóstolos.
Temos esse ensino agora na Palavra. Deus tem tido o cuidado de registrá-la para nós nas Santas
Escrituras e fora dela não existe nada em nenhum outro lugar. Quanto desejaria poder convencê-
los, amados, que o grande trabalho que nos cabe hoje é manter com mão firme a bandeira que
nos foi confiada, ao redor da qual devem agrupar-se todos os “chamados”, sem exceção, divisa
sobre a qual estão escritos dois nomes que formam só um: a palavra de Deus e o Senhor Jesus
Cristo.

Reter firmemente os ensinamentos originais

Quando nos encontramos em luta contra o mal moral que aumenta a cada instante no mundo, que
estende por todos os lugares a infidelidade e a incredulidade e, o que é até mais perigoso, que
invoca a razão para destruir a verdade, não pensem que seja preciso nos empenhar em muitas
discussões. Somos demasiadamente inaptos para semelhante tarefa, e estou convencido que, em
nosso estado de fraqueza, não somos mesmo capazes disso. Nos tempos da Reforma, e até no
século passado, a discussão, sem convencer aos adversários, podia fortificar as almas dos crentes
nas lutas contra o inimigo, mas em vista de nossa pouca força, nosso papel atual é, diante de
tudo, não nos deixarmos desviar das coisas que têm sido ensinadas uma vez aos santos e retê-las
firmemente. Nisto consistia a luta de Filadélfia: “Guarda o que tens”, disse o Santo, o Verdadeiro
(Apocalipse 3:11). Não pense você que isto exige amplos conhecimentos e inteligência; só se
precisa uma coisa muito simples: o amor por Cristo, e o mais ignorante entre nós pode possuí-lo.
Se o Senhor ocupa, em nossos corações, o lugar que Lhe é devido, por certo conseguiremos a
vitória, pois Satanás nada pode contra ELE e manteremos a fé que tem sido dada uma vez aos
santos, pois só ela tem ao Senhor por objeto. Podemos ver por esta epístola que, no tempo em
que o apóstolo escrevia, a divisão, que já moralmente estava presente na Igreja, não era ainda
fato consumado. Ela só teve lugar depois do desaparecimento do último apóstolo, porém, Judas
prevê e anuncia o que ia suceder e adverte, como o temos visto, ao conjunto da família de Deus,
tanto em seu aspecto mais restrito como no mais amplo, a fim de que nem um só crente possa
esquivar-se de seu dever quando se trata de repelir os ataques contra a fé. Devemos notar que o
estado dos crentes, aos quais o apóstolo escrevia, estava muito longe de responder ao que deveria
ter sido. Assim disse: “Quero, pois, lembrar-vos, embora já estejais cientes de tudo uma vez por
todas”. Encontravam-se a ponto de esquecer estas coisas em outro tempo muito conhecidas e
que lhes haviam sido ensinadas uma vez no princípio. Haviam recebido a unção do Espírito
Santo, pela qual sabiam todas estas coisas, porém, sua fé estava debilitada, seus pensamentos
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haviam se desviado para o mundo; por isso Judas sentia a necessidade de lembrar-lhes a que se
referia a cena para a qual dirigiam seus olhares de concupiscência. Deste modo o apóstolo Pedro,
em sua segunda epístola, sentia a necessidade de despertar os crentes descuidados, lembrando-
lhes estas coisas (2 Pedro 1:13). E nós? Pensamos acaso que não é tempo de que nos sejam
lembradas? Temos despertado de nosso sono? A trombeta para ir ao combate faz tempo que
soou. Para nos reunir ao redor da bandeira esperaremos que o inimigo nos surpreenda indefesos e
nos derrube, para vergonha do glorioso Chefe que nos conduz? Queira Deus que as palavras do
apóstolo penetrem em nossos ouvidos: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos,
e Cristo te iluminará” (Efésios 5:14).

Resistir ao mal

A segunda parte da epístola de Judas (versículos 5-16), nos descreve o mal que caracteriza os
últimos dias. Sinto na alma que o tema que nos ocupa não seja nem edificante nem nos traga
gozo, porém em certos momentos, Deus nos conduz à beira de um precipício e nos convida a dar
uma olhada. Esta olhada é muito saudável, quando, como Ló, temos sido seduzidos pela
aparência perfeita das planícies do Jordão. Recordemos somente que se trata de resistir ao mal,
nada nos capacita tanto para refletir. Veremos que “toda a armadura de Deus” (Efésios 6:11),
para resistir no dia mal, consiste, diante de tudo, em um bom estado da alma e que a vitória
depende por inteiro disto. As simples palavras não conduzem à vitória, mas sim uma vida
consagrada a Cristo e passada em sua comunhão.

Versículo 4:“Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito,
foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam
em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”.

Estes homens haviam se infiltrado entre os irmãos e introduziram “heresias destruidoras” (2


Pedro 2:1). Porém, a palavra nos revela em relação a eles que em tempos antigos, estes homens,
que apareceram muito tempo depois, “haviam sido destinados para esta condenação”. Este termo
não significa de maneira alguma que Deus os houvera predestinado à condenação eterna, grave
erro que formava parte da doutrina de Calvino. Esta passagem quer dizer que Deus havia falado
de antemão destes homens maus do fim e havia proclamado desde a antiguidade a carga que
pesaria sobre os mesmos, a eterna condenação. A primeira vez que um profeta (Enoque) foi
trazido à vida no mundo, anunciou que uma acusação recairia sobre os malvados de nossos dias,
a qual traria a eterna condenação de um terrível juízo sobre os tais. Tomara que abram em tempo
os olhos para que possam notar a sorte que os ameaça e conhecer o horror que Deus tem das
doutrinas que têm inventado, horror provado pelo fato de que já desde o princípio do mundo,
antes do dilúvio, condenou estes ensinamentos nocivos que tão amplamente vemos divulgados
em nossos dias.

Duas características do mal

Estes homens são “ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o
nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”. Duas características do mal são assinaladas aqui,
para que possamos conhecê-las facilmente. Estes ímpios dos quais fala o apóstolo, são os
homens de nossos dias que não nasceram sob o regime da lei, mas sob a graça. O que fazem
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estas pessoas com tal graça? A menosprezam e não consideram as obrigações morais que lhes
impõem e aproveitam a mesma para se entregarem a uma corrupção desenfreada. A segunda
característica dos ímpios é que “e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”. Este
termo se repete várias vezes no curso desta epístola. A Palavra não nos diz que os ímpios
neguem a pessoa de Cristo, mas que negam o Seu domínio, quer dizer, não aceitam Sua
autoridade, e isto é o que caracteriza a cristandade antes do desenrolar final da apostasia. Estes
homens só buscam a autoridade em si mesmos e no que chamam sua consciência. É a
“iniquidade” de que fala I João 3:4, a vontade própria ou a rejeição de toda a lei fora de si
mesmo, já que cada qual é a lei para si.

Os direitos de Cristo são assim pisoteados. Sua Palavra não serve de regra. Cada qual é livre para
julgá-la, tomar dela o que lhe convém e rejeitar o que não lhe convém. Não nos esqueçamos que
estes “ímpios” professam frequentemente a maior admiração e o mais profundo respeito pela
pessoa de Cristo, embora rejeitem Seu senhorio. Diante da Palavra que O revela, se reservam o
direito e a autoridade de julgar, coisa que somente corresponde a Deus. Sua religião é, pois, a
exaltação do homem e o será cada vez mais, até o dia em que se revele “homem da iniquidade…
a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (II
Tessalonicenses 2:3-4).

Versículo 5:
“Quero, pois, lembrar-vos, embora já estejais cientes de tudo uma vez por todas, que
o Senhor, tendo libertado um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu, depois, os que não
creram”.

Depois de haver mostrado as duas características dos ímpios – o abandono da graça e a rejeição
da autoridade do Senhor – o apóstolo passa ao juízo do mal, porém, estabelece em primeiro lugar
que, da parte de Deus, nenhum recurso havia faltado ao homem. A história do povo de Israel
dava testemunho disso; Deus o havia livrado da terra do Egito mediante a redenção; por que,
pois, este povo foi destruído no deserto? Porque não tinha crido; a falta de fé era a causa de seu
juízo, pois não há benção real separada da fé.

Versículo 6 -7:
“e a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu
próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia;
como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregado à prostituição
como aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo do fogo eterno, sofrendo
punição”.

Da mesma forma que foi para Israel, a incredulidade da cristandade professante é o motivo de
seu juízo; porém, antes de tudo, o apóstolo quer caracterizar a apostasia, consequência desta
incredulidade e os juízos que a esperam. Seja como for, o abandono de nossa origem é a
apostasia. O apóstolo faz referência a acontecimentos misteriosos relatados em Gênesis e que a
Palavra deixa ocultos na escuridão, como os anjos caídos que os têm provocado. Não cabe a nós
levantar este véu, porém o que sabemos é que o juízo do grande dia alcançará a estes espíritos
corrompidos, como o juízo do fogo alcançou às cidades profanas de Sodoma e Gomorra que
haviam agido da mesma maneira que eles. Encontramos aqui, pois, duas classes de juízo: um
futuro e outro imediato e definitivo; um sob a escuridão, em cadeias, para alcançar a sentença do
tribunal divino, outro atual, pelo fogo, que é eterno.

Versículos 8 – 9:
“Ora, estes, da mesma sorte, quais sonhadores alucinados, não só contaminam a
carne, como também rejeitam governo e difamam autoridades superiores. Contudo, o arcanjo

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Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu
a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse: O Senhor te repreenda!”.

Judas passa agora aos malvados que viviam em seu tempo e cujo caráter irá piorando cada vez
mais até o juízo final. Os chama de “sonhadores”, pessoas que, ao invés de serem conduzidas
pela verdade o são por uma imaginação que não conhece regras. A partir do momento em que o
homem abandona a Palavra de Deus não há nenhuma razão impedindo que ele se entregue à
injustiça e às fábulas. Esses sonhadores têm duas características já mencionadas no versículo 4:
censuram a carne, menosprezam e criticam as autoridades superiores. O menosprezo do Senhorio
de Cristo tem por consequência fatal uma atitude injuriosa a respeito das autoridades, enquanto
que o cristão, que reconhece a autoridade do Senhor, não tem nenhum problema em submeter-se
àqueles que são instituídos por Ele. Assim, sejam estes homens juízes sem moralidade ou tiranos
sanguinários, o crente se submete a eles, a não ser naquilo que a obediência a Deus tenha
primazia sobre aquela que é devida aos homens. Mesmo o Arcanjo Miguel não ousou proferir
juízo de maldição contra Satanás, que queria apoderar-se do corpo de Moisés, sem dúvida para
seduzir novamente o povo conduzindo-o à idolatria.

Versículos 10-11:
“Estes, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o
que compreendem por instinto natural, como brutos sem razão, até nessas coisas se corrompem.
Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram
no erro de Balaão, e pereceram na revolta de Coré”.

A Palavra “estes” ocupa um lugar muito importante nesta curta epístola. Caracteriza os homens
que se levantam contra Deus, nos dias de Judas, nos nossos e até o momento da vinda do Senhor
em juízo. Estes homens, pois, existem em nossos dias. Pedro, em sua segunda epístola, os
qualifica da mesma maneira: “Esses, todavia, como brutos irracionais, naturalmente feitos para
presa e destruição, falando mal daquilo em que são ignorantes, na sua destruição também hão de
ser destruídos” (capítulo. 2:12).

Com que termos de menosprezo o Espírito de Deus trata àqueles que ousam levantar-se contra
Deus, àqueles que se orgulham de sua inteligência e se rebaixam ao nível de animais irracionais,
pois os insensatos supõem que o homem que evita a Deus pode ser inteligente!

Ai deles!

O apóstolo acrescenta: “Ai deles!”, pois por um lado provocam o menosprezo de Deus e por
outro trazem juízo contra si. O Senhor pronunciou ais contra os habitantes de Jerusalém e contra
as cidades da Galileia: todos os profetas do Antigo Testamento também o fizeram contra o povo
judeu e as outras nações; porém aqui, como em Apocalipse 8:13, o ‘ai’ é pronunciado a respeito
da cristandade. É um “ai” mais terrível que o de outros tempos, pelo motivo dos superiores
privilégios concedidos às nações cristãs. O que lhe parece? Você crê nisso? Há sentido na
desgraça que pesa sobre este mundo cristianizado no meio do qual você vive? “Ai deles! Porque
prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão,
e pereceram na revolta de Coré”. Encontramos neste versículo três exemplos que nos descrevem
o progresso do mal desde seu início até a apostasia, três passos que conduzem o homem à
rebelião final contra Deus e contra Cristo.

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Caim: a justificação pelas obras

O primeiro caso é o de Caim. A religião de Caim não admite que a maldição de Deus pese sobre
o homem e sobre o mundo por causa do pecado. Caim se apresenta diante de Deus com a ideia
ilusória de que um pecador pode por si mesmo agradar a Deus. Por isso apresenta seu melhor
trigo, fruto do seu trabalho e de seus esforços, como um sacrifício a Deus. Esta religião natural,
princípio da apostasia, em nada difere da dos homens de hoje em dia, pois destes fala o apóstolo
quando diz que “prosseguiram pelo caminho de Caim”. A religião destes consiste em tentar
agradar a Deus através de suas obras. Sem considerar a Palavra de Deus, afastam da consciência
a ideia de um juízo inevitável. Porém, o exemplo de Caim tem outro alcance. O fiel testemunho
de Abel quanto à justificação pela fé, dá lugar ao ódio de Caim contra seu irmão, imagem
também do ódio do povo judeu contra Cristo. Esse ódio contra o que é nascido de Deus
caracteriza particularmente os últimos tempos em todo o Apocalipse.

Balaão: uma religião perversa

Se Caim representa o estado de todo o mundo religioso, o caso de Balaão tem um alcance mais
restrito. É, se me atrevo a expressar assim, o mal eclesiástico. Já sabem quem era Balaão: um
profeta; não um falso profeta, pois seus dons haviam sido recebidos de Deus, porém os unia a
práticas idólatras: saía ao “encontro de maus presságios”. Presumia conhecer a vontade de Deus,
de propósito ensinava erros. Com que finalidade? Por dinheiro! Cobrava por isso; obtinha um
salário pelo ensino destinado a aniquilar o povo de Deus. Pouco importava a Balaão que Satanás
estivesse por traz de tudo aquilo, seu intuito era enriquecer através disso. “Amou” – disse Pedro
– “o prêmio da injustiça” (II Pedro 2:15). O Apocalipse nos revela um segundo caráter de
Balaão, consequência forçosa do primeiro. Fala da “doutrina de Balaão, o qual ensinava a
Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e
praticarem a prostituição” (capítulo 2:14). Por isto sabemos o que o livro de Números nos diz:
que Balaão, vendo que perdia a sua recompensa, aconselhou a Balaque que seduzisse Israel por
meio das filhas de Moabe, para fazê-lo curvar-se diante de Baal-Peor (Números 25:1-4). É triste
ter que comprovar, queridos irmãos, que ensinar erros em troca de recompensa é uma das
características da apostasia e que corresponde ao cristianismo de nossos dias. Vê-se ocupar o
púlpito homens que negam as mais importantes verdades da fé e que ensinam o erro ocultando-o
sob palavras destinadas a enganar aos ingênuos com o veneno que elas contêm. Esse erro não é
algo futuro, pois, começava já a manifestar-se nos dias de Judas. Existe hoje também, e a palavra
de Deus pronuncia o “ai” sobre quem o propaga.

Coré: um desafio aberto à autoridade divina

Encontramos, no caso de Coré, um último passo no caminho do mal: “e pereceram na revolta de


Coré”. Coré era um levita que ambicionava usurpar a dignidade de Aarão no seu sacerdócio.
Queria dominar o povo de Deus apoderando-se de um ofício atribuído numa ocasião ao irmão de
Moisés e conferido na atualidade a Cristo. Lemos também, no livro de Números, que Coré havia
se associado a Datã e Abirão rubenitas, os quais se levantaram contra Moisés e se recusaram a
obedecê-lo. Moisés era, no seu tempo, o verdadeiro rei de Israel (Deuteronômio: 33.5). Na
atualidade, este verdadeiro rei é Cristo, a Quem tem sido confiada a autoridade da parte de Deus.
Coré, Datã e Abirão lhe negam obediência. É figura da aberta rebelião contra Cristo, o último
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06/03/2018 Estudo Sobre a Epístola de Judas – Verdade-VIVA

caráter, em parte ainda futuro, da apostasia. Aproxima-se o dia em que a cristandade não desejará
saber mais nada Dele, nem como sacerdote, nem como Rei, nem como Deus. Negará ao Pai e ao
Filho. Este último caráter, a apostasia de Coré, é o pior de todos. Vemos, pelos juízos que caem
sobre estes diversos personagens, de que forma Deus avalia as ações deles. Caim, amaldiçoado
por Deus, caminha errante e vagabundo pela Terra; Balaão cai sob a espada de Israel juntamente
com os reis de Midiã; a terra traga Coré e seus parentes, que descem vivos ao sepulcro, como
precursores de seu último representante, o Anticristo, que terá a mesma sorte no lago de fogo.
Tal é, queridos irmãos, os esclarecimentos dos princípios do mal. É necessário que todos nos
demos conta do que é o mundo em sua relação com Deus e a sorte que o espera, e se isto é assim,
seu futuro nos encherá de uma profunda piedade para com ele – como veremos no final desta
epístola – de um zelo mais ardente para salvar as almas que fazem parte deste sistema. Porém,
por outro lado, não podemos buscar sua amizade, já que o juízo pesa sobre sua cabeça. Moisés
disse ao povo, quando houve a rebelião de Coré: “Desviai-vos, peço-vos, das tendas destes
homens perversos” (Números 16:26). Um Israelita teria sido obediente à palavra do Senhor se
houvesse ido apertar as mãos dos ímpios lhes declarando amizade? Esta desobediência, pelo
contrário, não teria feito o israelita correr o risco de compartilhar da sorte deles?

Versículos 12-13:“Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade,
banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens
sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas,
duplamente mortas, desarraigadas; ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias
sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre”

Todos estes exemplos do fim, assim como as palavras saídas em outro tempo da boca do profeta
Enoque, se relacionam com “estes”, quer dizer, com os homens dos últimos tempos, e estes
tempos são, para nós, os atuais. O apóstolo acrescenta ainda a esse quadro uma ruptura geral, na
qual reconheceremos o mundo atual: a iniquidade contínua e a agitação sem trégua. São, disse,
“nuvens sem água impelidas pelos ventos… ondas bravias do mar”. Isaías expressa o mesmo
pensamento: “Mas os perversos são como o mar agitado, que não se pode aquietar, cujas águas
lançam de si lama e lodo” (capítulo 57: 20). Se por casualidade parecem lançar raízes, são
“árvores… duplamente mortas, desarraigadas”. Sim, o mundo atual está em contínuo movimento
e sua marcha cada vez se acelera mais. Como seus trens, automóveis, aviões, etc… precipita-se
para o abismo, temendo, ao pensar em conceder um só instante à reflexão, nesta corrida
vertiginosa, para perguntar aonde vai e pensar seriamente em seu futuro. Lamentavelmente,
como estrelas errantes, desaparecerão nas trevas eternas. Somente o cristão possui o repouso
neste mundo, porque seu repouso está em Cristo. Seu coração e sua consciência têm edificado
sobre a rocha dos séculos, eterno fundamento da fé.

A profecia de Enoque

Versículos 14-16:
“Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão,
dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer juízo contra todos e para
fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e
acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele. Os tais são
murmuradores, são descontentes, andando segundo as suas paixões. A sua boca vive propalando
grandes arrogâncias; são aduladores dos outros, por motivos interesseiros”

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Enoque profetizou antes do dilúvio. Evidentemente sua visão de profeta advertia sobre o juízo
que séculos mais tarde cairia sobre o mundo por meio do dilúvio, porém, olhava muito mais
longe, no futuro. Sua profecia, através de milhares de anos, chega aos nossos dias, pois ela nos
fala da vinda de Cristo em juízo com seus milhares de santos. Enoque não esperava o dilúvio – o
qual não o alcançou – mas ao Senhor. Por isso, sua esperança se viu satisfeita, já que foi
arrebatado sem passar pela morte e voltará com Cristo quando Ele vier acompanhado pelo
exército celestial para executar vingança contra os homens ímpios de nossos dias. Depois de
haver pintado o quadro dos ímpios em suas relações com Deus, o apóstolo considera ainda o
caráter moral dos mesmos. Este exame é da maior importância, pois com frequência, quando
falamos da horrível condição dos ímpios, pessoas bem intencionadas nos respondem: “Sem
dúvida é angustiante que haja outro modo de pensar que o nosso sobre estes assuntos, porém são
pessoas honradas, firmes e irrepreensíveis quanto à conduta, etc”. É assim que a Palavra se refere
a eles? Ouçamos o que nos diz: “Os tais são murmuradores, são descontentes, andando segundo
as suas paixões. A sua boca vive propalando grandes arrogâncias; são aduladores dos outros, por
motivos interesseiros”.

“Murmuradores” (ou queixosos de sua sorte): Não é acaso o que cada vez mais caracteriza ao
mundo que vive sem Deus? Um véu de descontentamento e de amarga tristeza se estende por
todos os lugares sobre os espíritos; procura-se fugir disso por meio de uma agitação febril,
porém, em vão. Podemos encontrar alguém feliz no mundo? Ainda, o pensamento de que outro
alcançou o que desejava faz nascer ciúmes no coração: “queixosos de sua própria sorte”. O
apóstolo acrescenta que “andando segundo as suas paixões. A sua boca vive propalando grandes
arrogâncias”. O orgulho, a satisfação própria, a pretensão do poder, andam em concordância com
a busca de secretos desejos do coração. Enfim “são aduladores dos outros, por motivos
interesseiros”. Não é este o costume do mundo? Professam admiração pelos demais, dizem
palavras agradáveis pela vantagem que levarão nisso. Temos seguido até o fim desta triste
enumeração dos elementos do mal, já amplamente desenvolvido em nossos dias e que estão às
vésperas de precipitar essa corrida de uma forma que não se possa reprimir. A apostasia é como
essas avalanches que vemos formar-se nas montanhas. A princípio não são senão alguns
fragmentos de neve que vão rolando pelo declive da cobertura de neve. Estes fragmentos de neve
arrastam a outros e, de repente, com uma rapidez desvairada, esta torrente sólida se precipita,
arrasando tudo o que encontra pela frente, até que enche o vale com seus restos. O mundo atual
pode esperar este desastre moral do fim de um momento para outro.

Exortações finais

Versículos 17-18:
“Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras anteriormente proferidas pelos
apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais vos diziam: No último tempo, haverá
escarnecedores, andando segundo as suas ímpias paixões”.

Acabamos de ver o estado da cristandade e o juízo que lhe espera. Agora o apóstolo se dirige aos
fiéis – a todos vocês, amados de Jesus Cristo – para exortá-los. Esta expressão “Vós, porém” é a
contrapartida de “estes”. A vocês, filhos de Deus, o Espírito Santo ensina o que têm que fazer e
qual a salvaguarda na presença do mal que aumenta. Ele (o Espírito) os conduz à Palavra de
Deus tal como lhes tem sido transmitida no Novo Testamento pelos apóstolos de nosso Senhor
Jesus Cristo. A segunda epístola de Pedro, a qual contém a mesma exortação, acrescenta ao
Novo Testamento o conteúdo do Antigo: “para que vos recordeis das palavras que,
anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e
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Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos” (capítulo 3:2). Da mesma forma, o versículo 18 de
nossa epístola corresponde a 2 Pedro 3:3 “tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias,
virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões”. Temos de
recordar que “nos últimos dias” ou nos “últimos momentos”, sobrevirão escarnecedores. Sua
atual aparição nos prova que temos chegado certamente a estes últimos tempos. Por um lado
encontramos grande alívio ao pensar que, dentro de muito pouco tempo, todo este mal haverá
terminado de desenvolver-se e seremos introduzidos na glória de nosso Senhor Jesus Cristo:
porém, por outro lado a comprovação desta última forma do mal é a mais séria e deve nos
colocar em guarda. O capítulo 3 da segunda epístola de Pedro descreve detalhadamente estes
enganadores: “andando segundo as próprias paixões, e dizendo: Onde está a promessa da sua
vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio
da criação”. Estas pessoas não são, como se poderia pensar, daquelas que tudo levam na
brincadeira e que pretendem ridicularizar as coisas divinas: esta maneira de ser estava na moda
há mais de um século e meio. Os enganadores dos últimos dias são enganadores formais e sérios
que rejeitam a Palavra de Deus em nome da ciência e da razão e estimam que só é digno de ser
crido o que se vê. Creem na eternidade da matéria, pois “as coisas permanecem como desde o
princípio da criação”. Se professam uma alta estima pela pessoa de Jesus Cristo como
personagem histórico e autêntico, sua carreira, na opinião dos mesmos, terminou na cruz.
Portanto, rejeitam a promessa de sua vinda.

Versículo 19: “São estes os que promovem divisões, sensuais, que não têm o Espírito”.

Quando Judas escrevia, a Assembleia cristã subsistia ainda como um todo, tendo em seu seio
gente “que promove divisões”. Não esqueçam amados leitores que existem duas classes de
separação: uma aprovada por Deus, outra condenada por Ele. A primeira é a separação do
mundo, segundo está escrito: “Retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis
em coisas impuras; e eu vos receberei, e serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz
o Senhor Todo-Poderoso” (II Coríntios 6: 17,18). A outra consiste em separar-se destes homens
“sensuais que não têm o Espírito”, quero dizer, a separação em meio à cristandade. Tais homens
haviam falhado entre os fiéis, sem ser deles, e formavam no meio deles “heresias ou seitas de
perdição”, tomando parte em suas provocações e corrompendo aqueles que não deveriam tê-los
recebido. A primeira epístola de João nos mostra uma segunda fase da separação destes homens.
“Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam
permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos”
(1 João 2:19). O dever de todo cristão, em nossos dias, consiste em separar-se deles, em não
admiti-los na Assembleia dos crentes e não se juntar a eles no terreno que ocupam. Procede-se
assim? Não! Lamentável! A influência nociva dos homens “sensuais, que não têm o Espírito” é
tolerada e aceita hoje em meio à profissão cristã!

Versículos 20-21:
“Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito
Santo, guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo,
para a vida eterna”

Depois de nos haver prevenido, a Palavra de Deus nos exorta e enumera nossos recursos em
meio a este estado de coisas. Voltamos a encontrar aqui uma verdade muito preciosa da qual já
temos falado, e é que Deus pode ser perfeitamente glorificado pelos seus no meio de uma
cristandade arruinada.

A primeira exortação é que nos edifiquemos sobre nossa santíssima fé, a fé “que uma vez por
todas foi entregue aos santos” (v 3). Como temos dito, é evidente que não podemos edificar-nos
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sobre o pobre fundamento do que se encontra em nosso coração, enquanto que esta fé – a
doutrina cristã – contida na Palavra que nos tem sido confiada, é santíssima, porque por ela o
Senhor quer nos separar eternamente do mundo, para Ele: “Santifica-os em tua verdade; a tua
Palavra é a verdade” (João 17:17). A Palavra é, pois, nosso recurso para glorificar ao Senhor.

A segunda exortação é: “orando no Espírito Santo”. Se bem que Deus nos santifica para Ele, por
meio das Sagradas Escrituras, também o faz pela oração. A oração manifesta nossa dependência
em relação a Deus. Por ela nos aproximamos Dele e apresentamos nossas necessidades. Assim,
entramos em relação direta com Ele em nossa vida cotidiana; porém, para que seja eficaz, a
oração deve ser feita pelo Espírito Santo. De modo que sejamos santificados, separados para
Deus, primeiro pela Palavra, e também pelo exercício habitual da oração. A terceira exortação é
da maior importância: “Guardai-vos no amor de Deus”. O Espírito Santo tem derramado este
amor em nossos corações e devemos conservar-nos nele, vigiando para que não haja em nossas
almas a menor coisa que possa perturbar o gozo deste amor. A quarta exortação é: esperar “a
misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo” (v. 21). É a esperança cristã. Esses versículos
contêm, pois, os três sinais característicos do filho de Deus, tão frequentemente mencionados no
Novo Testamento: a fé, o amor e a esperança. Essa última é tão importante como as outras duas;
espera a vida eterna na qual só a misericórdia de Deus pode nos introduzir. Aqui, a vida eterna
não é – como nos escritos de João – a que o cristão possui, mas aquela na que vai entrar,
enquanto desfruta dela imperfeitamente aqui embaixo. Note que nestes versículos (20 e 21)
nossos recursos consistem em nossas relações com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Versículos 22-23:
“E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os, arrebatando-os do
fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada
pela carne”.

Temos também, como cristãos, deveres para com os que são contenciosos e deveres para com
nossos irmãos. Enquanto os enganadores que disputam (como Satanás, seu amo, disputava com o
arcanjo Miguel) temos que repreendê-los dizendo-lhes também: “O Senhor te repreenda!” Já não
é tempo de tratar de persuadi-los. Estamos no tempo a respeito do qual nos é dito: “Quem é
injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e
quem é santo seja santificado ainda” (Apocalipse. 22:11). Porém, as almas de nossos irmãos
podem deixar-se seduzir por aqueles faladores e por suas falsas doutrinas que criticam a Palavra
de Deus e a pessoa do Salvador. Que temos que fazer por eles? Salvá-los com temor, arrancando-
os do fogo. Um cristão comparou a epístola de Judas com uma casa incendiada. É preciso salvar
a todo o custo os moradores, inclusive arriscando a nossa vida: nenhum esforço deve ser medido,
pois conhecemos o valor de suas almas. É preciso que se deem conta dos perigos iminentes no
qual se encontram. Vamos salvá-las com temor. Tal é nosso objetivo principal ao dirigir aos
cristãos a grave advertência contida nestas páginas. Assim, no que nos diz respeito, se queremos
ser úteis aos demais, aprendamos a detestar até “a roupa contaminada pela carne”, a evitar todo o
contato com quem professa impureza (a roupa é o símbolo da profissão) da qual nos fala esta
epístola, chamando-a contaminação ou sociedade da carne (veja Apocalipse. 3:4). Da mesma
maneira, na segunda epístola aos Coríntios, o apóstolo, depois de haver falado da obrigação
imperiosa, para a família de Deus, de separar-se do mundo, acrescenta, quanto ao nosso
testemunho individual: “purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando
a santificação no temor de Deus” (2 Coríntios 7:1). Queira Deus ajudar a todos os Seus filhos a
colocar em prática estas coisas e a cada um deles ajudar a perguntar-se: você manifesta de forma
prática as características recomendáveis por esta epístola para os tempos atuais? Se não podemos
responder com um sim de maneira positiva, não deveríamos nos sentir profundamente
humilhados ao ver que manifestamos tão pouco o que o Senhor nos recomenda?
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Doxologia

Versículo 24:
“Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com
exultação, imaculados diante da sua glória”.

Diante disso, se não sabemos nos guardar das influências nocivas que nos rodeiam, temos um
recurso: a ajuda de Deus! Só Ele é capaz de nos guardar. Confiemos Nele, pois, bem o sabemos,
não podemos ter confiança em nós mesmos. Não é maravilhoso que esta epístola – que é um
quadro do desenvolvimento irresistível do mal nos últimos dias – nos ensine ao mesmo tempo
como podemos ser guardados de deslizes em um caminho cheio de obstáculos e emboscadas?

Nos anima por meio da certeza de que Deus é capaz de cumprir perfeitamente o que somos
incapazes de fazer, e de nos colocar, pela eternidade, irrepreensíveis diante de sua glória, com
gozo abundante. Que vigor nos inspiram essas palavras! Quão precioso é que sejam dirigidas
para o tempo atual, e não para um tempo no qual tudo estava relativamente em ordem! Quão
alentador é pensar que o poder de Deus não mudou, nem se deixa mudar pelas circunstâncias e
se glorifica tanto mais quanto se manifesta num tempo de desolação moral e de ruína! Quanto
mais vai crescendo a apostasia, mais indispensável é que não tenhamos confiança em nós
mesmos e que nos apoiemos Naquele que quer nos guardar e nos introduzir no gozo eterno de
sua glória.

Versículo 25:“ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória,
majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém!”.

Não encontramos uma só epístola do Novo Testamento na qual o louvor ao Deus Salvador seja
derramado tão ricamente como nesta epístola de Judas. Não somente nossa marcha pode
glorificar a Deus nestes tempos maus, mas apreciaremos tanto mais sua glória quanto mais
difíceis sejam as circunstâncias em que nos encontremos. Só o fato de reter o nome de nosso
Senhor Jesus Cristo e de não negá-Lo quando é atacado por todos os lados, nos qualifica para
compreender esta glória e celebrá-la, e nos faz provar antecipadamente da grande reunião
celestial na qual serão pronunciadas ao redor do trono palavras semelhantes a estas: “Digno és,
Senhor, de receber glória, e honra, e poder”! (Apocalipse 4:11).

“Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra,
e glória, e ações de graças… Ao que está sentado no trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a
honra, e a glória, e o domínio, pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 5:9, 13).

Amados irmãos e irmãs, que Deus nos ajude a enfrentar estas coisas, a não nos iludirmos acerca
dos sinais dos dias que atravessamos, mas ouvir as exortações desta epístola.

Assim, em vez de manifestar uma culpável indiferença para o mal, ou de desanimarmos,


andaremos cada vez mais firmes, tendo à nossa disposição o poder de Deus, sempre pronto a nos
conduzir, nos sustentar e a nos guardar das quedas até a vinda gloriosa de nosso Senhor Jesus
Cristo. Amém.

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