uma noticia, o resumo de um texto etc.”, o que nos assinala
que esses últimos são socialmente reconhecidos como gêneros, enquanto as narrações não, de modo especial fora do contexto escolar. Nesse último, evidentemente, poderíamos encontrar uma afirmação como “Estou lendo as narrações da prova”2. Entretanto, essa nomeação nem sempre é sistemática e homogênea. Podemos encontrar, por exemplo, um mesmo gênero com nomes diversos, gêneros novos para os quais ainda não há um nome estabelecido etc. Portanto, a identificação dos gêneros apenas pelos nomes que lhes são socialmente atribuídos é problemática, não é transparente, não está aí pronta ou dada de forma indubitável ao analista e/ou ao professor, o que comprovaremos; ao examinar nossos dados referentes aos resumos. Outra dificuldade para o analista e o professor na identificação e caracterização de determinado gênero reside na relação entre os gêneros e os textos que os materializam. Embora sejam definidos como "formas mais ou menos estáveis de enunciados”, os textos pertencentes a eles podem apresentar-se com uma notável heterogeneidade, sobretudo quando pertencentes a gêneros que permitem uma maior liberdade do produtor. Fundamental para sua identificação e caracterização parece- nos ser a análise cuidadosa da situação de ação de linguagem, definida por Bronckart (1997) como um conjunto de representações, interiorizadas pelos agentes, de determinadas representações sociais sobre o mundo físico e sociossubjetivo, que por eles são mobilizadas diante da necessidade de produzirem um texto oral ou escrito. Um primeiro conjunto de representações se constitui como o contexto da produção e um segundo constituirá o conteúdo temático. 2 Para aprofundamento da distinção entre gênero e tipo de texto, ver Marcuschi, neste mesmo volume. 152 Anna Rachel Machado O contexto de produção é constituído pelas representações sobre o local e o momento da produção, sobre o emissor e o receptor considerados do ponto de vista físico e de seu papel social, sobre a instituição social onde se dá a interação é sobre o(s) objetivo(s) ou efeitos que o produtor quer atingir em relação ao destinatario. Como veremos mais tarde, a análise desses parâmetros pode se constituir em um poderoso auxiliar na classificação de um texto como pertencente a um ou outro gênero. Dados esses pressupostos maiores, vejamos a seguir um breve resumo sobre o processo de redução de informação semântica ou sumarização, tal como concebido fundamentalmente nos trabalhos de van Dijk (1976ss.) e de Sprenger-Charolles (1980). Trabalhando com uma tipologia textual, cujo critério básico era a estrutura textual, postulava-se que, durante o processo normal de leitura com compreensão, ocorreria um processo de sumarização, por meio do qual o leitor construiria uma espécie de resumo mental do texto, retendo as informações básicas e eliminando as acessórias, chegando, ao final desse processo, à significação básica do texto. Os leitores utilizariam uma série de regras mais ou menos constantes (posteriormente tratadas como estratégias), que já teriam interiorizado e que aplicariam, deforma inconsciente, no decorrer da leitura. Assim, buscava-se identificar essas regras / estratégias que regeriam o processo de sumarização dos diferentes tipos de textos: descritivos, narrativos, expositivos, argumentativos. Assim, chegou-se, basicamente, a dois conjuntos de regras/estratégias: de apagamento e de substituição. As primeiras seriam seletivas, pois, por meio delas, selecionam- se os conteúdos relevantes do texto, com o apagamento de informações desnecessárias à compreensão de outras proposições ou de informações redundantes. Já as regras/estratégias de substituição seriam construtivas, pois exigem a construção de novas proposições, ausentes do texto original, mas que englobam informações expressas ou pressupostas no texto. Essas regras ainda podem ser divididas em dois tipos: as de generalização e as de construção. Pela primeira delas, a de generalização, o leitor substitui uma série de nomes de seres, de propriedades e de ações por um nome de ser, propriedade ou ação mais geral, que nomeia a classe comum a que esses seres, propriedades e ações pertencem. Por exemplo, cães, gatos, coelhos são denominações particulares de seres que pertencem a uma mesma ciasse, a dos mamíferos, que é, portanto, o termo mais geral que pode englobá-los. Do mesmo modo, lavar REVISITANDO O CONCEITO DE RESUMOS 153 pratos, passar roupa, limpar tapete são ações que pertencem à classe comum trabalhar em serviços domésticos. Por meio da regra/estratégia de construção, substitui-se uma sequência de proposições, expressas ou pressupostas, por uma proposição que é normalmente inferida delas, através da associação de seus significados. Assim, se tivermos uma sequência como: “João tomou um táxi, desceu na rodoviária, comprou uma passagem, esperou o ônibus, entrou, tomou o lugar reservado a ele etc.”, podemos inferir que “João viajou”, podendo essa proposição substituir toda a sequência. Todas essas regras/estratégias teriam um caráter recursivo, podendo ser reaplicadas para a obtenção de um grau maior de sumarização, o que poderia gerar resumos maiores ou menores. Além disso, sua aplicação seria guiada pelo esquema superestrurural típico de cada tipo de texto, que o leitor teria internalizado. Assim, por exemplo, o resumo de um texto narrativo deveria contemplar as categorias do esquema superestrutural desse tipo de texto, que seriam, basicamente, a situação inicial, o conflito e a sua resolução. Finalmente, tratadas como estratégias e não como regras, atribuiu-se à sua utilização um caráter flexível e não rígido e homogêneo, levando-se em conta que sua aplicação estaria condicionada ao objetivo da leitura, ao conjunto de conhecimentos prévios do leitor, ao tipo de situação em que se processa a leitura; enfim, a uma série de fatores contextuais. Entretanto, não se levava em consideração ainda a questão dos gêneros, nem em relação ao processo de sumarização, nem em relação ao texto que era resumido, nem em relação aos resumos produzidos. As pesquisas teóricas levadas a cabo nessa direção logo tiveram repercussão nos trabalhos voltados para a intervenção didática (Kleiman, 1989 e ss.), admitindo-se que práticas que se voltassem para o ensino e consequente interiorização dessas regras/estratégias possibilitariam o desenvolvimento da compreensão em leitura e da capacidade de produção de resumos (Brown & Day, 1983; Sprenger-Charolles, 1980; Paes de Barros, 1989 e 1991). Acreditamos que os trabalhos didáticos que se desenvolvem ainda hoje, tomando a elaboração de resumos como objetivo, seguem ainda essa mesma orientação, mesmo que se trabalhe apenas intuitivamente com essas estratégias. A nosso ver, rever esse posicionamento e essas intervenções com base na noção de gênero pode e deve ser feito para uma melhor compreensão tanto 154 Anna Rachel Machado do processo de sumarização quanto da produção de resumos, tendo em vista um trabalho didático mais eficaz. Para discutir essa afirmação, vejamos alguns exemplos das ocorrências de resumos na mídia impressa e digital. 2.os Resumos na míDia impRessa e DiçitaL Com uma rápida leitura da revista Veja on-line (edição de 06/02/2002), que tomamos como nossa primeira fonte de dados, mesmo sem uma análise mais detalhada, logo verificamos a grande quantidade de textos ou de partes de textos, pertencentes a diferentes gêneros, cuja produção implica a gestão eficaz de operações diversas de sumarização, as quais incidem sobre diferentes objetos verbais e não verbais, como é o caso dos títulos e subtítulos de matérias ou a apresentação concisa de conteúdos de filmes ou de peças teatrais. Mas, para definir com mais precisão o que poderemos identificar como resumos autônomos de textos e, portanto, como exemplares do gênero resumo, mister se faz que tenhamos uma definição inicial com a qual possamos efetuar um levantamento pertinente. Tomando o verbete do “Novo Aurélio — Dicionário de Língua Portuguesa” on line, temos o seguinte: resumo. [Dev. de resumir.] S. m. 1. Ato ou efeito de resumir(rse). 2. Exposição abreviada de uma sucessão de acontecimentos, das características gerais de alguma coisa etc.., tendente a favorecer sua visão global: síntese, sumário, epítome, sinopse: O repórter fez um bom resumo das últimas ocorrências. 3. Apresentação concisa, do conteúdo de um artigo, livro etc., a qual, precedida de sua referência bibliográfica, visa esclarecer o leitor sobre a conveniência de consultar o texto integral. Ao contrário da sinopse (2) (q. v.), o resumo aparece em publicação à parte e é redigido por outra pessoa que não o autor do trabalho resumido. 4. Recapitulação em poucas palavras; sumário: Esta gramática tem um resumo claro no fim de cada capítulo. 5. Fig. Compêndio (3) (http://www.uol.com.br/aurelio). Como podemos verificar, o próprio termo pode gerar confusão no ensino, pois ele serve tanto para indicar o processo mesmo de sumarização (1) quanto o texto produzido que é resultado textual desse processo (3). Veja-se também que, na acepção (3), o resumo é visto como um texto autônomo, com conteúdo específico ("apresentação concisa de um artigo, livro etc.”), com objetivo definido (“esclarecer o leitor sobre a conveniência de consultar o texto integral”), com uma restrição em relação ao enunciador (“outra pessoa que não o autor do REVISITANDO O CONCEITO DE RESUMOS 1^5 trabalho resumido”) e ainda com uma restrição em relação a seu plano global (“precedida de sua referência bibliográfica”), configurando-se aí a possibilidade de que o resumo possa ser identificado, de direito, como um gênero, Curiosamente, entretanto, ao examinar a revista Veja, a primeira observação interessante é a de que não há nenhuma matéria com o título de resumo, o que poderia nos levar a uma conclusão inicial de que não existiria o gênero resumo na mídia impressa. Contudo, indo mais além, verificamos que aparecem matérias com o título de resenha, na seção'“Artes e Espetáculos -Livros;', que apresentarias características estabelecidas pelo “Aurélio” em seu verbete sobre resumo. Entretanto, como resenhas, evidentemente trazem mais que uma simples apresentação concisa dos conteúdos de outro texto. Exemplo típico é a resenha do livro A 600 graus Celsius. Se há aí partes claramente identificáveis de resumo, também aparece muita informação sobre o contexto geral da produção e da divulgação da obra. Não se trata, pois, de um texto pertencente a um possível gênero resumo, mas de uma parte do gênero resenha, tal o definimos em trabalho recente (Machado, no prelo). Com as mesmas características, mas trazendo informações sobre a obra ainda mais Concisas e com interpretações e avaliações mais explícitas sobre os livros em pauta, na seção “Veja recomenda”, aparecem duas pequenas matérias sobre livros recomendados pela revista. Esses dois textos podem, portanto, ser classificados como pertencentes ao gênero resenha e o resumo que neles aparece, como uma parte constitutiva desse gênero, como podemos ver abaixo: Mulher de Pedra, de Tariq Ali (tradução de Maria Alice Máximo; Record; 320 páginas; 32 reais) — Romancista paquistanês radicado na Inglaterra, Tariq Ali dedica-se ao que chama de “desafiar os preconceitos do leitor ocidental” em relação à cultura islâmica. Calma. Não se trata de literatura com objetivos doutrinários. Dono de um belo texto, o escritor apenas conta histórias do ponto de vista de personagens muçulmanos — e não deixa de denunciar tradições caducas. Mulher de Pedra fala da opressão feminina, mas também revela à notável influência que mulheres podem ter no âmbito familiar do Islã. O livro mostra a decadência de uma família turca no fim do século XIX. A mulher de pedra do título é uma estátua à qual a narradora Nilofer se dirige, como tantas de suas ancestrais, para contar sua história (Veja on-line: htt- b://www2.uol.com.hr/veia/ — edição 1737 — 06/02/02). Em outras seções da revista, vão surgindo matérias que, implícita ou explicitamente, trazem trechos com resumos de livros ou artigos. Tal é o caso de inúmeros boxes, que, com a utilização de recursos gráficos distintos, geral 156 Anna Rachel Machado mente trazem mais informações sobre conteúdos do corpo das matérias ou informações adicionais, como por exemplo, um dos boxes da reportagem “A síndrome da casa da sogra”, que, tratando da investigação sobre o assassinato da morte do prefeito de Santo André, traz um resumo do Plano de Segurança Nacional lançado pelo governo. Fazendo parte das reportagens e estando subordinados ao objetivo mais geral das reportagens, a nosso ver, esses resumos não se configuram como pertencentes a um gênero distinto. Em outras matérias, ainda aparecem vários trechos resumidores de textos orais ou escritos, no corpo mesmo das matérias. Às vezes, esses trechos resumidores não abrangem todo o texto resumido, mas apenas parte(s), em uma clara utilização da estratégia de seleção, que é utilizada de acordo com o objetivo geral da matéria. Esse é o caso da matéria intitulada “De volta aos anos 60”, sob a rubrica “Reportagem internacional”. Apesar de chamada de reportagem, a matéria se configura como um autêntico artigo de opinião sobre o discurso de posse do presidente Bush, enfocando, de forma resumida, algumas das partes desse discurso, que servem para o cientista político Sérgio Abranches defender sua tese sobre esse discurso, sintetizada no próprio título da matéria. De novo, o objetivo não é o de “esclarecer o leitor sobre a conveniência de ler" o referido discurso, ficando o resumo subordinado ao objetivo geral da matéria. Se até aqui não encontramos resumos com autonomia, vamos encontrá- -los, entretanto, na seção “Para usar” que, à primeira vista, aparenta não contê-los. Nela, encontram-se quatro pequenos textos, independentes um do outro, que, pelos títulos, parecem ser pequenas notícias ou “fait divers” (“Álcool mata mais mulheres”, “Menos rugas” “Alerta para o uso do piercing", “Para contar no bar: o fim da barriga de cerveja”). Leves, e chamando a atenção do leitor, por tratarem de temas correntes em nossa sociedade, eles não nos índices precisos sobre as pesquisas científicas que sumarizam, como podemos ver, por exemplo, no texto transcrito abaixo: Álcool mata mais mulheres Pesquisa da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, publicada pela revista Neuropsychology, da Associação Americana de Psicologia, revela que as doenças decorrentes de alcoolismo matam proporcionalmente duas vezes mais mulheres que homens que têm o mesmo vício. O trabalho atribuiu essa diferença de vulnerabilidade das mulheres ao fato de o organismo feminino ser menos eficiente que o dos homens na metabolização do álcool. O álcool afeta especialmente as funções motoras, a memória e o raciocínio (http-JhvwwZ. uol. com.br/veja/06Q202/parajLisar.htnil). REVISITANDO O CONCEITO DE RESUMOS 157 Temos aí um texto cujo conteúdo é a apresentação concisa de um artigo, com uma indicação bibliográfica, mesmo que feita de forma genérica, sem a indicação do nome da pesquisa resumida, de seus autores e do número da revista em que ela aparece. Verificamos ainda que não se apresentam dados adicionais nem avaliação do texto resumido. Do ponto de vista das caracte- rísticas discursivas, o texto é constituído por um segmento de discurso teórico (cf. Bronckart, 1997/1999) com uma linguagem em que há ausência de marcas enunciativas e predomínio do presente genérico (matam, têm, afeta), que lhe dão uma “objetividade” aparente, típica dos gêneros jornalísticos.
Esse caráter jornalístico ainda se mostra no objetivo, não
de “esclarecer o leitor sobre a conveniência de consultar o texto integral”, mas no de “tornar o leitor ciente de novas informações científicas que lhe possam ser úteis”, utilidade essa salientada no próprio título dá seção, “Para usar”. Assim, o que temos é o resumo de texto subordinado ao objetivo informativo mais geral dos gêneros jornalísticos, o informativo, e ao contexto de produção desses gêneros, adequando-se a linguagem científica aos destinatários visados, que, para a revista Veja, são leitores de razoável cultura geral, mas não necessariamente especialistas da área do texto resumido. Constituindo-se como um texto autônomo e não como parte de outro, podemos considerar que temos aí exemplo de um texto pertencente a um gênero específico, o resumo jornalístico de textos, mesmo que não venha rotulado como tal e não apresente alguma das características sugeridas pelo Aurélio. Passando para o meio digital, consideramos que esse meio serve às mais variadas formas de atividade existentes na sociedade e que podemos, portanto, com o levantamento dos resumos que nele estão presentes, termos uma boa amostra de sua utilização atual. Assim, com o uso de uma ferramenta de busca, o Radar UOL (http://radaruol.uoI.com.br/?q=resumos). apenas com a introdução da palavra resumo, encontramos nada menos que 82.300 páginas. Visitando as páginas indicadas pela ferramenta de busca, a primeira constatação é que uma diversidade muito grande de textos circula com o nome de resumos, apontando-nos uma confusão terminológica, já sugerida na seção “Pressupostos teóricos”. A segunda constatação é que, desse conjunto, há uma quantidade significativamente maior de textos que se referem a obras literárias. Entretanto, sob esse rótulo comum, encontramos textos que consideramos pertencentes a gêneros diferentes, tais como: 158 Anna Rachel Machado • resumos tipicamente escolares, que têm os estudantes como seus destinatários explícitos, nos quais há o predomínio nítido da apresentação do conteúdo completo de uma obra, de forma concisa, com pouca ou nenhuma interpretação ou comentário crítico. Reproduz-se o discurso de narração da obra resumida, assim como a sua estrutura narrativa, com todas as características típicas desse discurso e dessa estrutura, mas com uma sintaxe e um léxico claramente facilitadores. Veja-se o exemplo abaixo: Resumos Escolas literárias | Biografias | Resumos Literários Fotos \ Links \ Fale conosco | Home Felicidade clandestina — Clarice Lispector A narradora recorda sua infância no Recife. Ela gostava de ler. Sua situação financeira não era suficiente para comprar livros. Por isso, ela vivia pedindo-os emprestados a uma colega filha de dono de livraria. Essa colega não valorizava a leitura e inconscientemente se sentia inferior às outras, sobretudo à narradora. Certo dia, a filha do livreiro informou à narradora que podia emprestar-lhe As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, mas que fosse buscá-lo em casa. A menina passou a sonhar com o livro. Mal sabia a ingênua menina que a colega queria vingar-se: todos os dias, invariavelmente, ela passava na casa e o livro não aparecia, sob a alegação de que já fora emprestado. Esse suplício durou muito tempo. Até que, certo dia, a mãe da colega cruel interveio na conversa das duas e percebeu a atitude da filha; então, emprestou o livro à sonhadora por tanto tempo quanto desejasse. Essa foi a felicidade clandestina da menina. Fazia questão de “esquecer” que estava com o livro para depois ter a "surpresa” de achá-lo. “Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante”(http://www.catar.org. covn.brlhglculturalliteraturalfeli.htm}. • resenhas críticas, nas quais, ao lado dos resumos das obras literárias, apresentam-se interpretações e avaliações; • contracapas3 de livros, como é o caso dos textos de um site em que, conforme explicitado na informação da ferramenta de busca, “são transcritos do resumo feito pela Europa-América na contracapa do respectivo livro”, cujo objetivo, evidentemente, é o de incitar o leitor a comprar e ler o livro e que, com esse objetivo, só traz conteúdos parciais da obra resumida, como se pode ver no texto abaixo: 3 Sobre contracapas ou quartas capas, ver Cristóvão, neste mesmo volume. REVISITANDO O CONCEITO DE RESUMOS 15 A Estrela de Batalha Galáctica Título Original: “Battlestar Galactica” Ano: 19-78 ' Escrito por: Glen A. Larson, Robert Thurston Baseado no episódio: A Estrela de Batalha Galáctica Ver Capa Resumo: Da frota de guerra dos Doze Mundos só restava a estrela de batalha “Galáctica”. Gerações após gerações, ela tinha sido a nave almirante que liderava a guerra de mil anos-contra os alienígenas Cylon. Era imensa como um planeta e o seu poder de fogo só era ultrapassado pelos enxames de caças que podia lançar das suas entranhas. A “Galáctica" iniciava agora a sua derradeira missão: romper o anel de fogo da frota estelar cylon e mergulhar nas profundezas do espaço em busca da última esperança: uma esperança baseada na lenda duma pedra filosofal do universo — o lendário planeta perdido a que os antigos microfilmes chamavam Terra (http:// www.terravista.pt/PortoSanto/173Slresumos-outros.html). O que nos parece ser mais evidente nesses textos referentes a obras literárias é que é apenas nos resumos tipicamente escolares que aparece o resumo da obra completa. Nos outros casos, objetivando-se realmente incitar o leitor a ler a obra, apenas alguns se apresentam de seus elementos centrais. Além desses resumos de obras literárias, encontramos inúmeras páginas dirigidas a diferentes comunidades científicas e que trazem, sob o rótulo de resumo: • resumos de artigos ou obras científicas, produzidos por autor que não o da obra resumida, como podemos ver abaixo: REBOUÇAS, Aldo da C. Água na região Nordeste: desperdício e escassez. Estudos Avançados, São Paulo, v. II, n.29, p. 127- 154, jan./abr. 1997. Resumo: Segundo o autor, o estudo da água de uma dada região não pode se restringir ao balanço entre oferta e demanda, deve abranger os inter-relacionamentos entre os seus recursos hídricos e as demais peculiaridades geoambientais e socioculturais, tendo em vista alcançar e garantir a qualidade de vida da sociedade, a qualidade do desenvolvimento socioeconômico e a conservação das suas reservas de capital ecológico. Recusa o determinismo físico climático que tem servido de justificativa à cultura da crise da agua no mundo ou no Brasil, bem como a cultura da seca na região Nordeste. Acrescenta que o que mais falta no semiárido do Nordeste brasileiro não é água, mas determinado padrão cultural 160 Anna Rachel Machado que agregue confiança e melhore a eficiência das organizações públicas e privadas envolvidas no negocio da água. Dentro desses princípios, o autor aborda as peculiaridades geoambientais e as potencialidades hídricas da região Nordeste e traz um histórico das formas de combate às secas (http://200.219J 32 A!internet/ mfdoclFalando %20nisso/Transposi%C3%A7%C3%A3o/ resumos.htm). • abstracts de artigos científicos e resumos de teses, que originalmente se constituem como parte desses textos e que, portanto, são produzidos por seus próprios autores, em primeira ou terceira pessoa, O que podemos salientar a respeito desses abstracts e resumos de teses é que, sendo eles originalmente produzidos em meio impresso, eles guardam as mesmas características que apresentam nesse meio, mas começam a se fixar como gêneros autônomos, uma vez que aí aparecem desligados dos gêneros a que pertenciam originalmente. Entretanto, sendo seu produtor o próprio autor da obra resumida, acreditamos que podemos considerá-los como pertencentes a uma classe (ou subclasse) diferente da dos resumos até aqui considerados como tais, principalmente quando tratamos de seu enfoque didático. Uma das características mais diferenciadoras desses abstracts e resumos é que estão rigidamente subordinados a normas acadêmico-científicas, frequentemente explicitadas, por exemplo, nas normas de apresentação de resumos de diferentes congressos, em que se pede que os resumos apresentem os objetivos, os pressupostos teóricos, a metodologia, os resultados e as conclusões a que se chegou. Fora da área científica, encontramos ainda resumos completos de diferentes documentos e publicações, dirigidos a membros ele variadas comunidades, jurídicas, comerciais, empresariais, com o claro objetivo de servirem como ferramentas operacionais para os profissionais, diante da enorme quantidade de informações a que deveriam acessar e que deveriam dominar no exercício de sua profissão. Toda essa confusão terminológica acaba por gerar confusão no ensino, o que podemos exemplificar com alguns trechos de texto produzido para a orientação de elaboração de resumos em um site educacional: O resumo deve destacar: (...) • Tipo de texto, o gênero a que se filia (literário, didático, acadêmico). • Resumo do conteúdo: assunto do texto, objetivo, métodos, critérios utilizadas conclusões do autor da obra resumida. REVISITANDO O CONCEITO DE RESUMOS 161 O resumo deve salientar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões do trabalho. Não é desejável que se esqueça de apresentar os objetivos e os assuntos do texto original, bem como os métodos e técnicas de abordagem, mas sempre de forma concisa. Também será objeto do resumo a descrição das conclusões, ou seja, as consequências dos resultados (http://www.rainhadapaz/proietoslproduca- otextos/resumo.htm) Tomando-se como fonte básica das informações sobre resumos, a Norma NBR 6.028, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, acaba-se por tomar exclusivamente os resumos científicos como modelo, dando-se aos alunos a falsa impressão de que os destinatários de resumos são apenas os membros de uma comunidade científica. Afirma-se, por exemplo, que “o resumo abrevia o tempo dos pesquisadores...” e que “deve salientar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões do trabalho”. Entretanto, ao se afirmar que o resumo deve indicar qual é “o tipo de texto (resumido), o gênero a que se filia (literário, didático, acadêmico)”, implicitamente considera-se que ele pode atravessar os muros dessa comunidade, mas reiterando-se que deve conter “assunto do texto, objetivo, métodos, critérios utilizados, conclusões do autor da obra resumida”, norma evidentemente relacionada apenas aos resumos científicos. O estudo que fizemos visou exatamente colaborar para dirimir essa confusão, o que buscaremos com a apresentação de nossas conclusões, que vêm a seguir. 3. concLusões O levantamento e análise — ainda que parcial — de nossos dados, leva- -nos a concluir que: • O processo de sumarização de textos é condição fundamental para a mobilização de conteúdos pertinentes para a produção de textos pertencentes a diferentes gêneros, como resenhas, contracapas e reportagens. • Em alguns desses gêneros, o resumo parcial ou integral de textos constitui uma parte constitutiva de seu plano global, como é o caso das resenhas e das contracapas. • A produção do resumo como parte de outro texto é orientada pelas representações sobre o contexto de produção do texto em que está 162 Anna Racliel Machado inserido; portanto, sobre os destinatários, a instituição social, os objetivos típicos do gênero a que pertence etc. • Quando aparecem de forma autônoma, os resumos guardam todas as características definidoras dos textos em geral. • Textos autônomos que, dentre outras características distintivas, fazem uma apresentação concisa dos conteúdos de outro texto, com uma organização que reproduz a organização do texto original, com o objetivo de informar o leitor sobre esses conteúdos e cujo enunciador é outro que não o autor do texto original, podem legitimamente ser considerados como exemplares do gênero resumo de texto. • Subgêneros de resumos de textos podem ser identificados, de acordo com a instituição social em que são produzidos e em que circulam e, portanto, de acordo com seus destinatários, o que nos permite distinguir entre resumos jornalísticos, científicos etc. • Em decorrência, as características discursivas e linguístico-discursivas dos resumos de textos estão sujeitas a grande variação, diretamente relacionada ao seu próprio contexto de produção. • Dentre essas características, o plano global de organização dos resumos parece-nos estar ligado, não a um possível esquema superestru- tural típico do texto resumido, mas ao plano global típico do gênero a que ele pertence. Como implicações didáticas logicamente derivadas dessas conclusões, podemos afirmar que, distinguindo claramente entre processo de sumarização durante a leitura e a produção de diferentes gêneros que o pressupõem, poderemos deixar mais claro para os alunos qual é o objeto específico de ensino que estaremos enfocando. Além disso, o ensino desses diferentes gêneros será enriquecido com a produção de resumos que se constituem como partes de um determinado gênero, como por exemplo, para a inserção de boxes em reportagens. Em suma, o ensino de resumos stricto sensu deve ser visto como o ensino de um gênero e, como tal, relacionado a uma situação concreta de comunicação, o que, implica, para seu enfoque didático, a especificação clara dessa situação. Em qualquer caso, podemos, evidentemente, trabalhar de forma eficaz com as chamadas estratégias de redução de informação semântica, mas tomando a precaução de não tratá-las de forma genérica, mas sim, como parte de um processo de sumarização que é contextualizado, tanto quanto a produção de textos. 3 “FRases”: caracteRização DO GêneRO e aplicação peDaGóGica CLEIDE EMÍLIA FAYE PEDROSA
s programas escolares, nestes últimos anos, têm progredido em
sua busca por trabalhar novos e diferentes gêneros. Essa postura objetiva atender às sugestões dos PCNs, que apor tam a necessidade de a escola vivenciar gêneros textuais diversi- ficados. Tudo isso leva a crer que os alunos serão grandemente beneficis deis, pois estarão alguns dos gêneros textuais com que também lidam no dia à dia (história em quadrinhos, entrevistas, telefonema, lista de compras etc.) e outros que alguns gostariam de conhecer ou a eles ter acesso (e-mails, chat etc.). Contribuindo com essa proposta, identificaremos e caracterizaremos neste capítulo o gênero textual “frases”, oferecendo algumas sugestões de atividades pedagógicas. i. “FRases”: caRacteRização De um gêneRo '
Depois de Bakhtin (1992), os estudos sobre gêneros têm sido
atualizados com uma classificação (ou listagem, Marcuschi, 2000) mais aberta, pois a noção de gênero tem sido aplicada a todos os conjuntos de produções verbais organizadas, orais ou escritas. Disso resulta que qualquer espécie de texto 148 Angela Paiva Dionisio 4. veRBete e ensino: apenas aLgumas sugestões para se pensaR Pensar sobre a utilização de verbetes no processo de ensino- aprendizagem significa extrapolaros limites das disciplinas destinadas ao ensino de línguas. Não pretendo me ater ao estudo de verbetes em dicionários de língua, mas sim em verbetes de natureza enciclopédica por extrapolarem o linguístico, sem que tal postura desmereça esse nível. Focalizando a inter-relação entre as estratégias de leitura e produção textual, tecerei algumas considerações sobre o uso de verbetes em sala de aula: (a) a organização de verbetes por áreas temáticas pode favorecer a elaboração de projetos interdisciplinares, ao se construir um glossário sobre acidentes geográficos ou fatos históricos, por exemplo; (b) a elaboração de verbetes terminológicos, como em “Escolha sua nova tv”, “E a mãe!” e “Quais os trajes típicos dos países islâmicos e o que representam?”, pode se constituir num recurso de grande utilidade em relatos de experiências e em textos de divulgação científica; (c) a criação de narrativas em que o personagem principal vivencie um episódio que comprove a descrição que lhe foi mencionada pode ser uma atividade de escrita após a leitura de um texto como “A inicial do gato e o amor”. Escolhe-se uma letra e lê-se o perfil. É importante destacar que a descrição será inserida na narrativa, provavelmente como função argumentativa, uma vez que as ações do personagem serão subsidiadas pelos traços comportamentais sugeridos. Em síntese, ler dicionários sempre foi uma bandeira defendida por todos, professores ou não, e quase sempre recusada por nossos alunos, então por que não inserir no elenco de gêneros textuais a serem lidos na escola os verbetes publicados em revistas? Paralelamente, a escrita de verbetes pode se configurar como uma estratégia de compreensão de leitura, uma vez que caberá ao aluno/ autor a transposição do conteúdo de outro texto base para o gênero verbete.