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Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP]
Roxane Rojo [Unicamp]
Salma Tannus Muchail [PUC-SP]
Stella Moris Bortoni-Ricordo [UnB]
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EDITORES DE LIVROS, RJ
G29
Gêneros textuais e ensino / Angela Paiva Dionisio, Anna
Rache! Machado, Maria Auxiliadora Bezerra, (organizadoras). -
São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
(Estratégias de ensino; 18)
Inclui bibliografia ISBN 978-85-7934-021-5
1 .Linguagem e línguas - Estudo e ensino.2. Análise do
discurso. 3. Professores de linguas - Formação. 4. Prática de
ensino. I. Dionisio, Angela Paiva. II. Machado,Anna
Rachel.lll. Bezerra,Maria Auxiliadora.lV.Série.
10-2407. CDD:407
CDU 800.7
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ISBN: 978-85-7934-021-5
1ª edição pela Parábola Editorial | 2a reimpressão - conforme
novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa
©2002 by Angela Paiva Dionisio, Anna Rachel Machado e Maria
Auxiliadora Bezerra ©desta edição: Parábola Editorial, São
Paulo, junho de 2010
sumáRio
7
9
Nota do Editor
APRESENTAÇÃO
Angela B. Kleiman
PARte I suportes teóricos e práticas De ensino
19
39
51
63
81
95
105
1. GÊNEROS TEXTUAIS: DEFINIÇÃO E FUNCIONALIDADE
Luiz Antônio Marcuschi
z. Ensino de língua portuguesa e contextos
TEÓRICO-METODOLÓGICOS
Maria Auxiliadora Bezerra
3.GÊNEROS DISCURSIVOS E ENSINO DE LÍNGUA INGLESA Abuêndia
Padilha Pinto
4.Gêneros jornalísticos no letramento escolar inicial Lusinete
Vasconcelos de Souza
5. Elaboração de material didático para o Ensino de francês
Eliane Gouvêa Lousada
6.O CHAT EDUCACIONAL: O PROFESSOR DIANIE DESSE GÊNERO
EMERGENTE Lília Santos Abreu-Tardelli
7.O GÊNERO QUARTA CAPA NO ENSINO DE INGLÊS Vera Lúcia Lopes
Cristóvão
148
Angela Paiva Dionisio
4. VeRBete e ensino: apenas aLgumas sugestões paRa se pensaR
Pensar sobre a utilização de verbetes no processo de ensino-
aprendizagem significa extrapolar os limites das disciplinas
destinadas ao ensino de línguas. Não pretendo me ater ao
estudo de verbetes em dicionários de língua, mas sim em
verbetes de natureza enciclopédica por extrapolarem o
linguístico, sem que tal postura desmereça esse nível.
Focalizando a inter-relação entre as estratégias de leitura e
produção textual, tecerei algumas considerações sobre
o uso de verbetes em sala de aula:
(a) a organização de verbetes por áreas temáticas pode
favorecer a elaboração de projetos interdisciplinares, ao se
construir um glossário sobre acidentes geográficos ou fatos
históricos, por exemplo;
(b) a elaboração de verbetes terminológicos, como em “Escolha
sua nova tv”, “É a mãe!” e “Quais os trajes típicos dos
países islâmicos e o que representam?”, pode se constituir
num recurso de grande utilidade em relatos de experiências e
em textos de divulgação científica;
(c) a criação de narrativas em que o personagem principal
vivencie um episódio que comprove a descrição que lhe foi
mencionada pode ser uma atividade de escrita após a leitura
de um texto como “A inicial do galo e o amor”. Escolhe-se
uma letra e lê-se o perfil. É importante destacar que a
descrição será inserida na narrativa, provavelmente como
função argumentativa, uma vez que as ações do personagem
serão subsidiadas pelos traços comportamentais sugeridos.
Em síntese, ler dicionários sempre foi uma bandeira
defendida por todos, professores ou não, e quase sempre
recusada por nossos alunos, então por que não inserir no
elenco de gêneros textuais a serem lidos na escola os verbetes
publicados em revistas? Paralelamente, a escrita de verbetes
pode se configurar como uma estratégia de compreensão de
leitura, uma vez que caberá ao aluno/ autor a transposição do
conteúdo de outro texto base para o gênero verbete.
2
Revisitando o conceito de Resumos
ANNA RACHEL MACHADO
no final da década de 1970 e início dos anos 1980, inúmeros
pesquisadores, do exterior e do Brasil, concentraram-se na
questão da sumarização e do ensino da produção de resumos como
sendo essenciais para o desenvolvimento da compreensão de
leitura. A grande maioria dos trabalhos tinha como inspiração
pressupostos teóricos oriundos da linguística textual (como
por exemplo, van Dijk [1976 e ss.], ou van Dijk & Kintsch
[1983]).
Atualmente, entretanto, poucos estudos têm-se dedicado a
essa questão, que continua sendo de primeiríssima necessidade
no campo didático. Uma vez que admitimos que os usos sociais
dos resumos de texto, tanto em contexto escolar quanto não
escolar, são os mais diversos e em quantidade significativa,
eles se constituem como um objeto de ensino pertinente e, para
que esse ensino seja eficaz, é necessário que aprofundemos
nossas reflexões sobre sua produção. É esse o objetivo deste
capítulo, no qual buscaremos retomar algumas das posições da
linguística textual sobre o processo de sumarização e de
produção de resumos, mas buscando dar a elas uma nova
perspectiva, lançando mão, para isso, da noção bakhtiniana de
gênero.
Particularmente em relação ao ensino-julgamos necessário
distinguir claramente entre processo de sumarização
desenvolvido durante a leitura e os textos produzidos como
resumos; examinar a confusão terminológica que os
Anna Rachel Machado
cerca, definindo claramente a que nos referimos ao usar o
termo, discutir a possibilidade de tratá-los como gênero
distinto dos demais e analisar as características do seu
contexto de produção.
Assim, para alcançar nossos objetivos, exporemos, em um
primeiro momento, os pressupostos teóricos que guiam nossa
discussão, particularmente a noção de gênero e de contexto de
produção, assim como faremos um breve resumo das regras (ou
estratégias) de redução de informação semântica propostas por
diferentes autores que trataram da questão. A seguir,
exporemos e discutiremos os resultados de análise das
ocorrências de resumos na revista Veja, de 06/02/2002, e nas
páginas da Web, para, finalmente, chegar às conclusões de
ordem didática daí decorrentes.
1.Pressupostos teóricos
Como base teórica nuclear, tomamos as posições do chamado
interacionismo sociodiscursivo, tal como exposto por Bronckart
(1997), em obra síntese dos fundamentos teóricos desenvolvidos
pela equipe do Serviço de Didática de Línguas da Universidade
de Genebra, na qual se destacam os trabalhos de Dolz e
Schneiiwly (1998), além dos do próprio Bronckart1.
Tal como posta por esse autor, assumimos a noção bakhtiniana
de gênero do discurso, segundo a qual as diferentes esferas
das atividades humanas, no decorrer da história, elaboram
“tipos relativamente estáveis de enunciados” (Bakhtin,
1992:279), os gêneros de discurso, que se caracterizam por
apresentarem tema, construção composicional e estilo
específicos. Retomando a afirmação de Bakhtin de que sempre
nos comunicamos com base em um gênero e que, sem eles, a
comunicação humana seria praticamente impossível, Schneuwly
(1994:160-162) defende a tese de que, nas atividades de lin-
guagem, os gêneros se constituem como verdadeiras ferramentas
semióticas complexas que nos permitem a produção e a
compreensão de textos.
Em decorrência, defende-se a tese de que o ensino de
produção e compreensão de textos deve centrar-se no ensino de
gêneros, sendo necessário,
Para maior desenvolvimento, ver Machado (1998 e ss.). Seguem
essa mesma orientação teórica os capítulos de Abreu,
Cristóvão, Lomada e Vasconcelos, neste mesmo volume,
integrantes de grupo de pesquisa do LAEL, da PUC/SP, voltado
para a análise de diferentes gêneros com objetivos didáticos,
assim como para a formação de professores (Liberalli, 1999;
Magalhães, 1999).
REVISITANPO O CONCEITO DE RESUMOS
para isso, que se construa, previamente, um modelo didático do
gênero, que defina, com clareza, tanto para o professor quanto
para o aluno, o objeto que está sendo ensinado, guiando,
assim, as intervenções didáticas. ¡
O primeiro passo seria, obviamente, identificar os gêneros
existentes em nossa sociedade. Para isso, podemos servir-nos
de uma de suas particularidades, que é o fato de que são mais
ou menos conhecidos e nomeados socialmente. Compreendendo essa
característica, podemos iniciar com esse primeiro critério
para sua identificação. Por exemplo, não encontraremos
afirmações como “Estou lendo uma narração”, mas sim, “Estou
lendo um romance, um conto,

uma noticia, o resumo de um texto etc.”, o que nos assinala


que esses últimos são socialmente reconhecidos como gêneros,
enquanto as narrações não, de modo especial fora do contexto
escolar. Nesse último, evidentemente, poderíamos encontrar uma
afirmação como “Estou lendo as narrações da prova”2.
Entretanto, essa nomeação nem sempre é sistemática e
homogênea. Podemos encontrar, por exemplo, um mesmo gênero com
nomes diversos, gêneros novos para os quais ainda não há um
nome estabelecido etc. Portanto, a identificação dos gêneros
apenas pelos nomes que lhes são socialmente atribuídos é
problemática, não é transparente, não está aí pronta ou dada
de forma indubitável ao analista e/ou ao professor, o que
comprovaremos; ao examinar nossos dados referentes aos
resumos.
Outra dificuldade para o analista e o professor na
identificação e caracterização de determinado gênero reside na
relação entre os gêneros e os textos que os materializam.
Embora sejam definidos como "formas mais ou menos estáveis de
enunciados”, os textos pertencentes a eles podem apresentar-se
com uma notável heterogeneidade, sobretudo quando pertencentes
a gêneros que permitem uma maior liberdade do produtor.
Fundamental para sua identificação e caracterização parece-
nos ser a análise cuidadosa da situação de ação de linguagem,
definida por Bronckart (1997) como um conjunto de
representações, interiorizadas pelos agentes, de determinadas
representações sociais sobre o mundo físico e sociossubjetivo,
que por eles são mobilizadas diante da necessidade de
produzirem um texto oral ou escrito. Um primeiro conjunto de
representações se constitui como o contexto da produção e um
segundo constituirá o conteúdo temático.
2
Para aprofundamento da distinção entre gênero e tipo de
texto, ver Marcuschi, neste mesmo volume.
152
Anna Rachel Machado
O contexto de produção é constituído pelas representações
sobre o local e o momento da produção, sobre o emissor e o
receptor considerados do ponto de vista físico e de seu papel
social, sobre a instituição social onde se dá a interação é
sobre o(s) objetivo(s) ou efeitos que o produtor quer atingir
em relação ao destinatario. Como veremos mais tarde, a análise
desses parâmetros pode se constituir em um poderoso auxiliar
na classificação de um texto como pertencente a um ou outro
gênero.
Dados esses pressupostos maiores, vejamos a seguir um breve
resumo sobre o processo de redução de informação semântica ou
sumarização, tal como concebido fundamentalmente nos trabalhos
de van Dijk (1976ss.) e de Sprenger-Charolles (1980).
Trabalhando com uma tipologia textual, cujo critério básico
era a estrutura textual, postulava-se que, durante o processo
normal de leitura com compreensão, ocorreria um processo de
sumarização, por meio do qual o leitor construiria uma espécie
de resumo mental do texto, retendo as informações básicas e
eliminando as acessórias, chegando, ao final desse processo, à
significação básica do texto.
Os leitores utilizariam uma série de regras mais ou menos
constantes (posteriormente tratadas como estratégias), que já
teriam interiorizado e que aplicariam, deforma inconsciente,
no decorrer da leitura. Assim, buscava-se identificar essas
regras / estratégias que regeriam o processo de sumarização
dos diferentes tipos de textos: descritivos, narrativos,
expositivos, argumentativos.
Assim, chegou-se, basicamente, a dois conjuntos de
regras/estratégias: de apagamento e de substituição. As
primeiras seriam seletivas, pois, por meio delas, selecionam-
se os conteúdos relevantes do texto, com o apagamento de
informações desnecessárias à compreensão de outras proposições
ou de informações redundantes. Já as regras/estratégias de
substituição seriam construtivas, pois exigem a construção de
novas proposições, ausentes do texto original, mas que
englobam informações expressas ou pressupostas no texto. Essas
regras ainda podem ser divididas em dois tipos: as de
generalização e as de construção.
Pela primeira delas, a de generalização, o leitor substitui
uma série de nomes de seres, de propriedades e de ações por um
nome de ser, propriedade ou ação mais geral, que nomeia a
classe comum a que esses seres, propriedades e ações
pertencem. Por exemplo, cães, gatos, coelhos são denominações
particulares de seres que pertencem a uma mesma ciasse, a dos
mamíferos, que é, portanto, o termo mais geral que pode
englobá-los. Do mesmo modo, lavar
REVISITANDO O CONCEITO DE RESUMOS
153
pratos, passar roupa, limpar tapete são ações que pertencem à
classe comum trabalhar em serviços domésticos.
Por meio da regra/estratégia de construção, substitui-se uma
sequência de proposições, expressas ou pressupostas, por uma
proposição que é normalmente inferida delas, através da
associação de seus significados. Assim, se tivermos uma
sequência como: “João tomou um táxi, desceu na rodoviária,
comprou uma passagem, esperou o ônibus, entrou, tomou o lugar
reservado a ele etc.”, podemos inferir que “João viajou”,
podendo essa proposição substituir toda a sequência.
Todas essas regras/estratégias teriam um caráter recursivo,
podendo ser reaplicadas para a obtenção de um grau maior de
sumarização, o que poderia gerar resumos maiores ou menores.
Além disso, sua aplicação seria guiada pelo esquema
superestrurural típico de cada tipo de texto, que o leitor
teria internalizado. Assim, por exemplo, o resumo de um texto
narrativo deveria contemplar as categorias do esquema
superestrutural desse tipo de texto, que seriam, basicamente,
a situação inicial, o conflito e a sua resolução.
Finalmente, tratadas como estratégias e não como regras,
atribuiu-se à sua utilização um caráter flexível e não rígido
e homogêneo, levando-se em conta que sua aplicação estaria
condicionada ao objetivo da leitura, ao conjunto de
conhecimentos prévios do leitor, ao tipo de situação em que se
processa a leitura; enfim, a uma série de fatores contextuais.
Entretanto, não se levava em consideração ainda a questão dos
gêneros, nem em relação ao processo de sumarização, nem em
relação ao texto que era resumido, nem em relação aos resumos
produzidos.
As pesquisas teóricas levadas a cabo nessa direção logo
tiveram repercussão nos trabalhos voltados para a intervenção
didática (Kleiman, 1989 e ss.), admitindo-se que práticas que
se voltassem para o ensino e consequente interiorização dessas
regras/estratégias possibilitariam o desenvolvimento da
compreensão em leitura e da capacidade de produção de resumos
(Brown & Day, 1983; Sprenger-Charolles, 1980; Paes de Barros,
1989 e 1991). Acreditamos que os trabalhos didáticos que se
desenvolvem ainda hoje, tomando a elaboração de resumos como
objetivo, seguem ainda essa mesma orientação, mesmo que se
trabalhe apenas intuitivamente com essas estratégias.
A nosso ver, rever esse posicionamento e essas intervenções
com base na noção de gênero pode e deve ser feito para uma
melhor compreensão tanto
154
Anna Rachel Machado
do processo de sumarização quanto da produção de resumos,
tendo em vista um trabalho didático mais eficaz. Para discutir
essa afirmação, vejamos alguns exemplos das ocorrências de
resumos na mídia impressa e digital.
2.os Resumos na míDia impRessa e DiçitaL
Com uma rápida leitura da revista Veja on-line (edição de
06/02/2002), que tomamos como nossa primeira fonte de dados,
mesmo sem uma análise mais detalhada, logo verificamos a
grande quantidade de textos ou de partes de textos,
pertencentes a diferentes gêneros, cuja produção implica a
gestão eficaz de operações diversas de sumarização, as quais
incidem sobre diferentes objetos verbais e não verbais, como é
o caso dos títulos e subtítulos de matérias ou a apresentação
concisa de conteúdos de filmes ou de peças teatrais.
Mas, para definir com mais precisão o que poderemos
identificar como resumos autônomos de textos e, portanto, como
exemplares do gênero resumo, mister se faz que tenhamos uma
definição inicial com a qual possamos efetuar um levantamento
pertinente. Tomando o verbete do “Novo Aurélio — Dicionário de
Língua Portuguesa” on line, temos o seguinte:
resumo. [Dev. de resumir.] S. m. 1. Ato ou efeito de
resumir(rse). 2. Exposição abreviada de uma sucessão de
acontecimentos, das características gerais de alguma coisa
etc.., tendente a favorecer sua visão global: síntese,
sumário, epítome, sinopse: O repórter fez um bom resumo das
últimas ocorrências. 3. Apresentação concisa, do conteúdo de
um artigo, livro etc., a qual, precedida de sua referência
bibliográfica, visa esclarecer o leitor sobre a conveniência
de consultar o texto integral. Ao contrário da sinopse (2) (q.
v.), o resumo aparece em publicação à parte e é redigido por
outra pessoa que não o autor do trabalho resumido. 4.
Recapitulação em poucas palavras; sumário: Esta gramática tem
um resumo claro no fim de cada capítulo. 5. Fig. Compêndio (3)
(http://www.uol.com.br/aurelio).
Como podemos verificar, o próprio termo pode gerar confusão no
ensino, pois ele serve tanto para indicar o processo mesmo de
sumarização (1) quanto o texto produzido que é resultado
textual desse processo (3). Veja-se também que, na acepção
(3), o resumo é visto como um texto autônomo, com conteúdo
específico ("apresentação concisa de um artigo, livro etc.”),
com objetivo definido (“esclarecer o leitor sobre a
conveniência de consultar o texto integral”), com uma
restrição em relação ao enunciador (“outra pessoa que não o
autor do
REVISITANDO O CONCEITO DE RESUMOS
1^5
trabalho resumido”) e ainda com uma restrição em relação a seu
plano global (“precedida de sua referência bibliográfica”),
configurando-se aí a possibilidade de que o resumo possa ser
identificado, de direito, como um gênero,
Curiosamente, entretanto, ao examinar a revista Veja, a
primeira observação interessante é a de que não há nenhuma
matéria com o título de resumo, o que poderia nos levar a uma
conclusão inicial de que não existiria o gênero resumo na
mídia impressa. Contudo, indo mais além, verificamos que
aparecem matérias com o título de resenha, na seção'“Artes e
Espetáculos -Livros;', que apresentarias características
estabelecidas pelo “Aurélio” em seu verbete sobre resumo.
Entretanto, como resenhas, evidentemente trazem mais que uma
simples apresentação concisa dos conteúdos de outro texto.
Exemplo típico é a resenha do livro A 600 graus Celsius. Se há
aí partes claramente identificáveis de resumo, também aparece
muita informação sobre o contexto geral da produção e da
divulgação da obra. Não se trata, pois, de um texto
pertencente a um possível gênero resumo, mas de uma parte do
gênero resenha, tal o definimos em trabalho recente (Machado,
no prelo).
Com as mesmas características, mas trazendo informações
sobre a obra ainda mais Concisas e com interpretações e
avaliações mais explícitas sobre os livros em pauta, na seção
“Veja recomenda”, aparecem duas pequenas matérias sobre livros
recomendados pela revista. Esses dois textos podem, portanto,
ser classificados como pertencentes ao gênero resenha e o
resumo que neles aparece, como uma parte constitutiva desse
gênero, como podemos ver abaixo:
Mulher de Pedra, de Tariq Ali (tradução de Maria Alice Máximo;
Record; 320 páginas; 32 reais) — Romancista paquistanês
radicado na Inglaterra, Tariq Ali dedica-se ao que chama de
“desafiar os preconceitos do leitor ocidental” em relação à
cultura islâmica. Calma. Não se trata de literatura com
objetivos doutrinários. Dono de um belo texto, o escritor
apenas conta histórias do ponto de vista de personagens
muçulmanos — e não deixa de denunciar tradições caducas.
Mulher de Pedra fala da opressão feminina, mas também revela à
notável influência que mulheres podem ter no âmbito familiar
do Islã. O livro mostra a decadência de uma família turca no
fim do século XIX. A mulher de pedra do título é uma estátua à
qual a narradora Nilofer se dirige, como tantas de suas
ancestrais, para contar sua história (Veja on-line: htt-
b://www2.uol.com.hr/veia/ — edição 1737 — 06/02/02).
Em outras seções da revista, vão surgindo matérias que,
implícita ou explicitamente, trazem trechos com resumos de
livros ou artigos. Tal é o caso de inúmeros boxes, que, com a
utilização de recursos gráficos distintos, geral
156
Anna Rachel Machado
mente trazem mais informações sobre conteúdos do corpo das
matérias ou informações adicionais, como por exemplo, um dos
boxes da reportagem “A síndrome da casa da sogra”, que,
tratando da investigação sobre o assassinato da morte do
prefeito de Santo André, traz um resumo do Plano de Segurança
Nacional lançado pelo governo. Fazendo parte das reportagens e
estando subordinados ao objetivo mais geral das reportagens, a
nosso ver, esses resumos não se configuram como pertencentes a
um gênero distinto.
Em outras matérias, ainda aparecem vários trechos
resumidores de textos orais ou escritos, no corpo mesmo das
matérias. Às vezes, esses trechos resumidores não abrangem
todo o texto resumido, mas apenas parte(s), em uma clara
utilização da estratégia de seleção, que é utilizada de acordo
com o objetivo geral da matéria. Esse é o caso da matéria
intitulada “De volta aos anos 60”, sob a rubrica “Reportagem
internacional”. Apesar de chamada de reportagem, a matéria se
configura como um autêntico artigo de opinião sobre o discurso
de posse do presidente Bush, enfocando, de forma resumida,
algumas das partes desse discurso, que servem para o cientista
político Sérgio Abranches defender sua tese sobre esse
discurso, sintetizada no próprio título da matéria. De novo, o
objetivo não é o de “esclarecer o leitor sobre a conveniência
de ler" o referido discurso, ficando o resumo subordinado ao
objetivo geral da matéria.
Se até aqui não encontramos resumos com autonomia, vamos
encontrá- -los, entretanto, na seção “Para usar” que, à
primeira vista, aparenta não contê-los. Nela, encontram-se
quatro pequenos textos, independentes um do outro, que, pelos
títulos, parecem ser pequenas notícias ou “fait divers”
(“Álcool mata mais mulheres”, “Menos rugas” “Alerta para o uso
do piercing", “Para contar no bar: o fim da barriga de
cerveja”). Leves, e chamando a atenção do leitor, por tratarem
de temas correntes em nossa sociedade, eles não nos índices
precisos sobre as pesquisas científicas que sumarizam, como
podemos ver, por exemplo, no texto transcrito abaixo:
Álcool mata mais mulheres
Pesquisa da Universidade Stanford, nos Estados Unidos,
publicada pela revista Neuropsychology, da Associação
Americana de Psicologia, revela que as doenças decorrentes de
alcoolismo matam proporcionalmente duas vezes mais mulheres
que homens que têm o mesmo vício. O trabalho atribuiu essa
diferença de vulnerabilidade das mulheres ao fato de o
organismo feminino ser menos eficiente que o dos homens na
metabolização do álcool. O álcool afeta especialmente as
funções motoras, a memória e o raciocínio (http-JhvwwZ. uol.
com.br/veja/06Q202/parajLisar.htnil).
REVISITANDO O CONCEITO DE RESUMOS
157
Temos aí um texto cujo conteúdo é a apresentação concisa de
um artigo, com uma indicação bibliográfica, mesmo que feita de
forma genérica, sem a indicação do nome da pesquisa resumida,
de seus autores e do número da revista em que ela aparece.
Verificamos ainda que não se apresentam dados adicionais nem
avaliação do texto resumido. Do ponto de vista das caracte-
rísticas discursivas, o texto é constituído por um segmento de
discurso teórico (cf. Bronckart, 1997/1999) com uma linguagem
em que há ausência de marcas enunciativas e predomínio do
presente genérico (matam, têm, afeta), que lhe dão uma
“objetividade” aparente, típica dos gêneros jornalísticos.

Esse caráter jornalístico ainda se mostra no objetivo, não


de “esclarecer o leitor sobre a conveniência de consultar o
texto integral”, mas no de “tornar o leitor ciente de novas
informações científicas que lhe possam ser úteis”, utilidade
essa salientada no próprio título dá seção, “Para usar”.
Assim, o que temos é o resumo de texto subordinado ao objetivo
informativo mais geral dos gêneros jornalísticos, o
informativo, e ao contexto de produção desses gêneros,
adequando-se a linguagem científica aos destinatários visados,
que, para a revista Veja, são leitores de razoável cultura
geral, mas não necessariamente especialistas da área do texto
resumido. Constituindo-se como um texto autônomo e não como
parte de outro, podemos considerar que temos aí exemplo de um
texto pertencente a um gênero específico, o resumo
jornalístico de textos, mesmo que não venha rotulado como tal
e não apresente alguma das características sugeridas pelo
Aurélio.
Passando para o meio digital, consideramos que esse meio
serve às mais variadas formas de atividade existentes na
sociedade e que podemos, portanto, com o levantamento dos
resumos que nele estão presentes, termos uma boa amostra de
sua utilização atual. Assim, com o uso de uma ferramenta de
busca, o Radar UOL (http://radaruol.uoI.com.br/?q=resumos).
apenas com a introdução da palavra resumo, encontramos nada
menos que 82.300 páginas. Visitando as páginas indicadas pela
ferramenta de busca, a primeira constatação é que uma
diversidade muito grande de textos circula com o nome de
resumos, apontando-nos uma confusão terminológica, já sugerida
na seção “Pressupostos teóricos”. A segunda constatação é que,
desse conjunto, há uma quantidade significativamente maior de
textos que se referem a obras literárias. Entretanto, sob esse
rótulo comum, encontramos textos que consideramos pertencentes
a gêneros diferentes, tais como:
158 Anna Rachel Machado
• resumos tipicamente escolares, que têm os estudantes como
seus destinatários explícitos, nos quais há o predomínio
nítido da apresentação do conteúdo completo de uma obra, de
forma concisa, com pouca ou nenhuma interpretação ou
comentário crítico. Reproduz-se o discurso de narração da
obra resumida, assim como a sua estrutura narrativa, com
todas as características típicas desse discurso e dessa
estrutura, mas com uma sintaxe e um léxico claramente
facilitadores. Veja-se o exemplo abaixo:
Resumos Escolas literárias | Biografias | Resumos
Literários Fotos \ Links \ Fale conosco | Home
Felicidade clandestina — Clarice Lispector
A narradora recorda sua infância no Recife. Ela gostava de
ler. Sua situação financeira não era suficiente para comprar
livros. Por isso, ela vivia pedindo-os emprestados a uma
colega filha de dono de livraria. Essa colega não valorizava a
leitura e inconscientemente se sentia inferior às outras,
sobretudo à narradora. Certo dia, a filha do livreiro informou
à narradora que podia emprestar-lhe As reinações de Narizinho,
de Monteiro Lobato, mas que fosse buscá-lo em casa. A menina
passou a sonhar com o livro. Mal sabia a ingênua menina que a
colega queria vingar-se: todos os dias, invariavelmente, ela
passava na casa e o livro não aparecia, sob a alegação de que
já fora emprestado. Esse suplício durou muito tempo. Até que,
certo dia, a mãe da colega cruel interveio na conversa das
duas e percebeu a atitude da filha; então, emprestou o livro à
sonhadora por tanto tempo quanto desejasse.
Essa foi a felicidade clandestina da menina. Fazia questão de
“esquecer” que estava com o livro para depois ter a "surpresa”
de achá-lo. “Não era mais uma menina com um livro: era uma
mulher com seu amante”(http://www.catar.org.
covn.brlhglculturalliteraturalfeli.htm}.
• resenhas críticas, nas quais, ao lado dos resumos das obras
literárias, apresentam-se interpretações e avaliações;
• contracapas3 de livros, como é o caso dos textos de um site
em que, conforme explicitado na informação da ferramenta de
busca, “são transcritos do resumo feito pela Europa-América
na contracapa do respectivo livro”, cujo objetivo,
evidentemente, é o de incitar o leitor a comprar e ler o
livro e que, com esse objetivo, só traz conteúdos parciais
da obra resumida, como se pode ver no texto abaixo:
3 Sobre contracapas ou quartas capas, ver Cristóvão, neste
mesmo volume.
REVISITANDO O CONCEITO DE RESUMOS 15
A Estrela de Batalha Galáctica Título Original: “Battlestar
Galactica”
Ano: 19-78 '
Escrito por: Glen A. Larson, Robert Thurston Baseado no
episódio: A Estrela de Batalha Galáctica Ver Capa Resumo:
Da frota de guerra dos Doze Mundos só restava a estrela de
batalha “Galáctica”. Gerações após gerações, ela tinha sido a
nave almirante que liderava a guerra de mil anos-contra os
alienígenas Cylon. Era imensa como um planeta e o seu poder de
fogo só era ultrapassado pelos enxames de caças que podia
lançar das suas entranhas.
A “Galáctica" iniciava agora a sua derradeira missão: romper o
anel de fogo da frota estelar cylon e mergulhar nas
profundezas do espaço em busca da última esperança: uma
esperança baseada na lenda duma pedra filosofal do universo —
o lendário planeta perdido a que os antigos microfilmes
chamavam Terra (http://
www.terravista.pt/PortoSanto/173Slresumos-outros.html).
O que nos parece ser mais evidente nesses textos referentes
a obras literárias é que é apenas nos resumos tipicamente
escolares que aparece o resumo da obra completa. Nos outros
casos, objetivando-se realmente incitar o leitor a ler a obra,
apenas alguns se apresentam de seus elementos centrais.
Além desses resumos de obras literárias, encontramos
inúmeras páginas dirigidas a diferentes comunidades
científicas e que trazem, sob o rótulo de resumo:
• resumos de artigos ou obras científicas, produzidos por
autor que não o da obra resumida, como podemos ver abaixo:
REBOUÇAS, Aldo da C. Água na região Nordeste: desperdício e
escassez. Estudos Avançados, São Paulo, v. II, n.29, p. 127-
154, jan./abr. 1997.
Resumo: Segundo o autor, o estudo da água de uma dada região
não pode se restringir ao balanço entre oferta e demanda, deve
abranger os inter-relacionamentos entre os seus recursos
hídricos e as demais peculiaridades geoambientais e
socioculturais, tendo em vista alcançar e garantir a qualidade
de vida da sociedade, a qualidade do desenvolvimento
socioeconômico e a conservação das suas reservas de capital
ecológico. Recusa o determinismo físico climático que tem
servido de justificativa à cultura da crise da agua no mundo
ou no Brasil, bem como a cultura da seca na região Nordeste.
Acrescenta que o que mais falta no semiárido do Nordeste
brasileiro não é água, mas determinado padrão cultural
160
Anna Rachel Machado
que agregue confiança e melhore a eficiência das organizações
públicas e privadas envolvidas no negocio da água. Dentro
desses princípios, o autor aborda as peculiaridades
geoambientais e as potencialidades hídricas da região Nordeste
e traz um histórico das formas de combate às secas
(http://200.219J 32 A!internet/ mfdoclFalando
%20nisso/Transposi%C3%A7%C3%A3o/ resumos.htm).
• abstracts de artigos científicos e resumos de teses, que
originalmente se constituem como parte desses textos e que,
portanto, são produzidos por seus próprios autores, em
primeira ou terceira pessoa,
O que podemos salientar a respeito desses abstracts e
resumos de teses é que, sendo eles originalmente produzidos em
meio impresso, eles guardam as mesmas características que
apresentam nesse meio, mas começam a se fixar como gêneros
autônomos, uma vez que aí aparecem desligados dos gêneros a
que pertenciam originalmente. Entretanto, sendo seu produtor o
próprio autor da obra resumida, acreditamos que podemos
considerá-los como pertencentes a uma classe (ou subclasse)
diferente da dos resumos até aqui considerados como tais,
principalmente quando tratamos de seu enfoque didático.
Uma das características mais diferenciadoras desses
abstracts e resumos é que estão rigidamente subordinados a
normas acadêmico-científicas, frequentemente explicitadas, por
exemplo, nas normas de apresentação de resumos de diferentes
congressos, em que se pede que os resumos apresentem os
objetivos, os pressupostos teóricos, a metodologia, os
resultados e as conclusões a que se chegou.
Fora da área científica, encontramos ainda resumos completos
de diferentes documentos e publicações, dirigidos a membros
ele variadas comunidades, jurídicas, comerciais, empresariais,
com o claro objetivo de servirem como ferramentas operacionais
para os profissionais, diante da enorme quantidade de
informações a que deveriam acessar e que deveriam dominar no
exercício de sua profissão.
Toda essa confusão terminológica acaba por gerar confusão no
ensino, o que podemos exemplificar com alguns trechos de texto
produzido para a orientação de elaboração de resumos em um
site educacional:
O resumo deve destacar: (...)
• Tipo de texto, o gênero a que se filia (literário,
didático, acadêmico).
• Resumo do conteúdo: assunto do texto, objetivo, métodos,
critérios utilizadas conclusões do autor da obra resumida.
REVISITANDO O CONCEITO DE RESUMOS
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O resumo deve salientar o objetivo, o método, os resultados e
as conclusões do trabalho. Não é desejável que se esqueça de
apresentar os objetivos e os assuntos do texto original, bem
como os métodos e técnicas de abordagem, mas sempre de forma
concisa. Também será objeto do resumo a descrição das
conclusões, ou seja, as consequências dos resultados
(http://www.rainhadapaz/proietoslproduca- otextos/resumo.htm)
Tomando-se como fonte básica das informações sobre resumos,
a Norma NBR 6.028, da Associação Brasileira de Normas
Técnicas, acaba-se por tomar exclusivamente os resumos
científicos como modelo, dando-se aos alunos a falsa impressão
de que os destinatários de resumos são apenas os membros de
uma comunidade científica.
Afirma-se, por exemplo, que “o resumo abrevia o tempo dos
pesquisadores...” e que “deve salientar o objetivo, o método,
os resultados e as conclusões do trabalho”. Entretanto, ao se
afirmar que o resumo deve indicar qual é “o tipo de texto
(resumido), o gênero a que se filia (literário, didático,
acadêmico)”, implicitamente considera-se que ele pode
atravessar os muros dessa comunidade, mas reiterando-se que
deve conter “assunto do texto, objetivo, métodos, critérios
utilizados, conclusões do autor da obra resumida”, norma
evidentemente relacionada apenas aos resumos científicos.
O estudo que fizemos visou exatamente colaborar para dirimir
essa confusão, o que buscaremos com a apresentação de nossas
conclusões, que vêm a seguir.
3. concLusões
O levantamento e análise — ainda que parcial — de nossos
dados, leva- -nos a concluir que:
• O processo de sumarização de textos é condição fundamental
para a mobilização de conteúdos pertinentes para a produção
de textos pertencentes a diferentes gêneros, como resenhas,
contracapas e reportagens.
• Em alguns desses gêneros, o resumo parcial ou integral de
textos constitui uma parte constitutiva de seu plano global,
como é o caso das resenhas e das contracapas.
• A produção do resumo como parte de outro texto é orientada
pelas representações sobre o contexto de produção do texto
em que está
162
Anna Racliel Machado
inserido; portanto, sobre os destinatários, a instituição
social, os objetivos típicos do gênero a que pertence etc.
• Quando aparecem de forma autônoma, os resumos guardam todas
as características definidoras dos textos em geral.
• Textos autônomos que, dentre outras características
distintivas, fazem uma apresentação concisa dos conteúdos de
outro texto, com uma organização que reproduz a organização
do texto original, com o objetivo de informar o leitor sobre
esses conteúdos e cujo enunciador é outro que não o autor do
texto original, podem legitimamente ser considerados como
exemplares do gênero resumo de texto.
• Subgêneros de resumos de textos podem ser identificados, de
acordo com a instituição social em que são produzidos e em
que circulam e, portanto, de acordo com seus destinatários,
o que nos permite distinguir entre resumos jornalísticos,
científicos etc.
• Em decorrência, as características discursivas e
linguístico-discursivas dos resumos de textos estão sujeitas
a grande variação, diretamente relacionada ao seu próprio
contexto de produção.
• Dentre essas características, o plano global de organização
dos resumos parece-nos estar ligado, não a um possível
esquema superestru- tural típico do texto resumido, mas ao
plano global típico do gênero a que ele pertence.
Como implicações didáticas logicamente derivadas dessas
conclusões, podemos afirmar que, distinguindo claramente entre
processo de sumarização durante a leitura e a produção de
diferentes gêneros que o pressupõem, poderemos deixar mais
claro para os alunos qual é o objeto específico de ensino que
estaremos enfocando. Além disso, o ensino desses diferentes
gêneros será enriquecido com a produção de resumos que se
constituem como partes de um determinado gênero, como por
exemplo, para a inserção de boxes em reportagens.
Em suma, o ensino de resumos stricto sensu deve ser visto
como o ensino de um gênero e, como tal, relacionado a uma
situação concreta de comunicação, o que, implica, para seu
enfoque didático, a especificação clara dessa situação. Em
qualquer caso, podemos, evidentemente, trabalhar de forma
eficaz com as chamadas estratégias de redução de informação
semântica, mas tomando a precaução de não tratá-las de forma
genérica, mas sim, como parte de um processo de sumarização
que é contextualizado, tanto quanto a produção de textos.
3
“FRases”: caracteRização DO GêneRO e aplicação peDaGóGica
CLEIDE EMÍLIA FAYE PEDROSA

s programas escolares, nestes últimos anos, têm progredido em


sua busca por trabalhar novos e diferentes gêneros. Essa
postura objetiva atender às sugestões dos PCNs, que apor tam a
necessidade de a escola vivenciar gêneros textuais diversi-
ficados. Tudo isso leva a crer que os alunos serão grandemente
beneficis deis, pois estarão alguns dos gêneros textuais com
que também lidam no dia à dia (história em quadrinhos,
entrevistas, telefonema, lista de compras etc.) e outros que
alguns gostariam de conhecer ou a eles ter acesso (e-mails,
chat etc.).
Contribuindo com essa proposta, identificaremos e
caracterizaremos neste capítulo o gênero textual “frases”,
oferecendo algumas sugestões de atividades pedagógicas.
i. “FRases”: caRacteRização De um gêneRo '

Depois de Bakhtin (1992), os estudos sobre gêneros têm sido


atualizados com uma classificação (ou listagem, Marcuschi,
2000) mais aberta, pois a noção de gênero tem sido aplicada a
todos os conjuntos de produções verbais organizadas, orais ou
escritas. Disso resulta que qualquer espécie de texto
148
Angela Paiva Dionisio
4. veRBete e ensino: apenas aLgumas sugestões para se pensaR
Pensar sobre a utilização de verbetes no processo de ensino-
aprendizagem significa extrapolaros limites das disciplinas
destinadas ao ensino de línguas. Não pretendo me ater ao
estudo de verbetes em dicionários de língua, mas sim em
verbetes de natureza enciclopédica por extrapolarem o
linguístico, sem que tal postura desmereça esse nível.
Focalizando a inter-relação entre as estratégias de leitura e
produção textual, tecerei algumas considerações sobre o uso de
verbetes em sala de aula:
(a) a organização de verbetes por áreas temáticas pode
favorecer a elaboração de projetos interdisciplinares, ao se
construir um glossário sobre acidentes geográficos ou fatos
históricos, por exemplo;
(b) a elaboração de verbetes terminológicos, como em “Escolha
sua nova tv”, “E a mãe!” e “Quais os trajes típicos dos
países islâmicos e o que representam?”, pode se constituir
num recurso de grande utilidade em relatos de experiências e
em textos de divulgação científica;
(c) a criação de narrativas em que o personagem principal
vivencie um episódio que comprove a descrição que lhe foi
mencionada pode ser uma atividade de escrita após a leitura
de um texto como “A inicial do gato e o amor”. Escolhe-se
uma letra e lê-se o perfil. É importante destacar que a
descrição será inserida na narrativa, provavelmente como
função argumentativa, uma vez que as ações do personagem
serão subsidiadas pelos traços comportamentais sugeridos.
Em síntese, ler dicionários sempre foi uma bandeira
defendida por todos, professores ou não, e quase sempre
recusada por nossos alunos, então por que não inserir no
elenco de gêneros textuais a serem lidos na escola os verbetes
publicados em revistas? Paralelamente, a escrita de verbetes
pode se configurar como uma estratégia de compreensão de
leitura, uma vez que caberá ao aluno/ autor a transposição do
conteúdo de outro texto base para o gênero verbete.

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