Você está na página 1de 12

A Lua conta-me Histórias

Um dia, quando olhei para o céu estrelado e admirava a beleza e a grandiosidade da Lua,
ela aproximou-se de mim.

É verdade!

Se não acreditas podes perguntar-lhe.

A lua é muito simpática e tem uma doce voz.

Perguntou-se porque é que todas as noites olhava para ela. Respondi-lhe que isso me
ajudava a adormecer e a sonhar. Ela sorriu, deu-me um beijo e aproveitou para me contar
uma história.

Era assim todas as noites…

Quando me deitava e sentia que os meus pais já dormiam, vinha à janela e chamava pela
Lua.

Gostava muito desse momento. A Lua era uma ótima companhia e parecia que já nos
conhecíamos há muito tempo!

Muitas histórias me contava, mas eu não as podia revelar. Era um segredo só nosso!

Num desses dias contou-me uma história tão bonita que lhe pedi autorização para ta
contar.

Queres ouvir?
Certa noite, a Lua espreitou pela janela da casa do Francisco e do Dinis, dois irmãos muito
traquinas que adoravam aventuras.

O Francisco, de 6 anos, tinha acabado de entrar para a escola e era o mais corajoso, talvez
por causa dos livros que lia e pelas muitas histórias que conhecia de cor e salteado.

O Dinis tinha 4 anos. Apesar de não saber ler, gostava de folhear cada página dos livros e
admirar com muita atenção todas as imagens. Não era tão corajoso como o irmão e, por
isso, nem sempre o acompanhava nas aventuras.

Foi o que aconteceu naquela noite: Enquanto o Dinis dormia u sono profundo, o Francisco
levantou-se da cama, pé ante pé, dirigiu-se ao pote que estava sobre a mesa e num tom
muito baixinho soletrou as palavras mágicas.

POTE, POTINHO, TRANSFORMA-ME EM PEQUENINO

Do pote mágico saíram raios de luz que iluminaram todo o quarto. Já ninguém conseguia
ver o Francisco, tal era o seu tamanho. Estava tão pequeno como um grilo ou até mesmo
uma formiga!

O minúsculo menino saltou, então, para dentro do pote e foi parar a um lugar tão fofinho
que parecia que estava a caminhar sobre as nuvens.

Seria o céu? Só sei que, lá, o Francisco adorava correr, brincar e saltar nas montanhas em
forma de letras.

Estaria, então no país das letras?

Acredito que sim

A, B, C, D e crash/crack,

o E partiu o espelho,
e o F de Francisco,

foi com o G de garrote

ao H de hospital

acompanhar o E que estava mal.

Parece que não foi nada de grave. O Francisco voltou do hospital e continuou a salta, como
um pardal, de letra em letra.

Enquanto saltava, uma canção ouvia.

O I de íbis

O J de javali

O K de koala

Brincam todos aqui

O L de Luís

O M de Manuel

O N de Nuno

A escreverem no papel

O O de Olga

O P de Paula

O Q de Quintino

A abrirem a jaula
O R de rosa

O S de sardinheira

O T de tulipa

Foram juntos à feira

O U de Umblina

O V de Vasco

Tentam os meninos abrir o frasco.

O W, X e o Y

E finalmente o Z

São estas as letras

Que também se leem

Passava tempos infinitos a pular e a ouvir os sons mágicos que as letras tinham para revelar.

Quando chegava a última letra do abecedário voltava ao início e, novamente, escutavam-se


belas melodias

A de

Ana, António, Aurora

André, Afonso e Augusto

Brincam os meninos
No dia do magusto

B de

Borboleta, baleia, búzio

Balde, baci e babete

Estas começam por B

Podes perguntar à Bernardete.

C de

Carlos, Cláudia, Catarina

Camões, Cátia e Carlota

Fogem os meninos

Ao passar a mota.

D é o Dinis

Que não quis

Visitar este país!

De repente, o Francisco lembrou-se que eram horas de regressar a casa.

A correr, dirigiu-se para o P de porta principal e soltou as palavras mágicas

PORTA, PORTINHA, LEVA-ME À MINHA CASINHA


Num segundo regressou ao quarto.

Já n seu tamanho normal tapou o pote e disse baixinho:

- Amanhã, à mesma hora, voltaremos à aventura. Muitos sons tenho ainda para descobrir.

Voltou para a cama cuidadosamente para não acordar o irmão, mas o Dinis não dormia.

Esperava-o para ouvir as suas aventuras.

- Hoje visitei um lugar mágico, com muitas letras – disse o Francisco, sorridente.

- Conheci várias amigas, chamam-se letras, cada uma com um som diferente. Ainda entoam
na minha cabeça…

Nesse lugar

Eu fui encontrar

Muitas e muitas amigas

Para comigo brincar.

São vinte e seis amigas

As letras do abecedário

Do A até ao Z

Qualquer uma se lê.

O A é meu amigo

Se quiseres conhecê-lo

Vem daí comigo

Que é sempre bom revê-lo


O E é engraçado

Sempre todo elegante

Quantas vezes nos engana

Quando lemos elefante

O I é seu vizinho

Vai pelo mesmo caminho

Muitas vezes nos baralha

Quando o E está sozinho

O O é oportunista

E às vezes orgulhoso

Embora sempre redondo

É muito mentiroso

O U coitadinho

tantas vezes o enganam

Anda muito disfarçado

Mas até fica engraçado

São cinco as vogais que conhecemos

Às restantes vinte e uma chamamos consoantes


O dinis ficou d etal forma encantado que nessa noite não conseguia dormir a pensar na
magia das letras.

Dava voltas e mais voltas de tanta agitação.

Imaginava as letras com olhos, boca, braços e pernas, como os meninos da sua idade.

Estava tão ansioso que se levantou e foi acordar o irmão.

- Quero visitar esse país – disse curioso

- Agora temos de dormir. Prometo que amanhã levo-te comigo – respondeu, ensonado, o
Francisco.

O Dinis voltou para a cama e, lentamente, adormeceu.

De manhã, enquanto saboreavam o pequeno almoço, segredavam sobre a noite passada e


faziam planos para a próxima.

- Se eu adormecer, acorda-me – pediu o Dinis.

- Fica combinado. Depois de os pais darem o beijinho de boa noite e de se deitarem, eu


chamo-te – disse o Francisco, muito baixinho, para que os pais não ouvissem.

O dia passou a correr e depressa regressaram a casa. Após terem contado as novidades do
dia, fazerem os trabalhos de casa e brincarem um pouco, quiseram jantar para se deitarem
mais cedo.

A mãe acompanhou-os ao quarto. Vestiram os pijamas, lavaram os dentes e deram um


beijinho de boa noite.

O Dinis foi a correr para a cama enquanto o Francisco arrumava alguns brinquedos
espalhados pelo chão.

Já deitados, apagaram as luzes e esperaram que os pais adormecessem.

Quando a casa ficou em silêncio, o Francisco levantou-se e chamou o irmão.

- Está na hora de partirmos para a ventura.


O Dinis, um tanto receoso, levantou-se e deu a mão ao irmão.

Aproximaram-se do pote e soletraram as palavras mágicas

POTE, POTINHO, TRANSFORMA-NOS EM PEQUENINOS

À entrada do país das letras encontraram uma grande porta em forma de P e, à sua volta,
grandes e frondosas árvores.

Observaram também as montanhas. Umas grandes, outras mais pequenas, mas todas em
forma de letras, Umas paradas, outras a andar, umas sozinhas, outras acompanhadas.

O Francisco aproveitou para apresentar ao Dinis a letra A.

ESTA É A LETRA A,

A PRIMEIRA DO ALFABETO.

SE BRINCARES MUITO COM ELA

VAIS VER QUE FICAS ESPERTO!

Ainda assustado, o Dinis aproximou-se e cumprimentou-a.

- Olá, eu sou o Dinis e quis visitar este país!

- Olá! Eu sou a letra A e estou aqui para te ajudar.

O Dinis começou, então, a pronunciar palavras começadas por A.

Amor, avô, amora, andorinha, avestruz, amarelo, Aurélio, Abílio e aurora.


Vês como consegues! – exclamou, com entusiasmo o Francisco.

- É muito divertido – retorquiu o Dinis.

O Dinis começou a perceber os sons das letras.

A seguir encontraram a letra O e logo que o Francisco os apresentou tornaram-se amigos.

Com o O vou brincar

E os sons ouvir

Quem me escutar

Vai-se partir a rir

O O é de ovo

De olhos e de ovelhas

Se queres aprender

Abre bem as orelhas!

Cantarolava o Dinis. Enquanto isso, o Francisco observava-o orgulhoso.

- Eu gosto deste país – gracejou o Dinis, com um sorriso.

Continuaram o passeio pela paisagem deslumbrante.

À medida que caminhavam, descobriam novas letras e palavras.

-Olha a palavra camaleão – apontou o Francisco.

- CA-MA-LE-ÃO – repetiu o Dinis


- Era uma vez um camaleão, perdeu a cama transformou-se num leão – brincou o Francisco
com a palavra.

O irmão achou muita piada e pediu-lhe que inventasse mais jogos.

- Se encontrares a palavra escolher, tira-lhe a colher para poderes comer – retorquiu o


Francisco

- Como fazes isso? – perguntou o Dinis

- É muito simples. Basta pensar um pouco nas palavras. Encontrarás algumas que, ao parti-
las formam novas palavras. Encontrarás algumas que, ao parti-las, formam novas palavras.
Pensa na palavra camarão.

O Dinis pensou, pensou, mas não conseguiu formar outras palavras.

- Se à palavra CAMARÃO tirares o CA fica Marão, uma serra parecida com aquela em forma
de M – explicou o Francisco.

Nesse momento, ouviram-se aplausos.

Algumas letras escutavam os ensinamentos do Francisco e maravilhadas, pediram para


entrar na brincadeira.

- Boa ideia – disse o Dinis

- Formem a palavra GATO – sugeriu o Francisco – e prestem atenção ao que vou pronunciar:

GATO

Se tiro o G ao GATO, ponho o P fica PATO, ele já não pode miar!

Se tiro o P ao PATO, ponho o R fica RATO, ele já não pode nadar!

Se tiro o R ao RATO, ponho o F fica FATO ele já não pode roer!

Se tiro o F ao FATO, ponho o M fica MATO já não o podemos vestir!


Era ver as letras a saltarem de lugar, ora o P, o R, o F e até o M. Coitado do gato, nunca mais
ninguém o viu!

Toda aquela agitação fez sede ao Dinis. Ao passar a palavra PONTE, o Francisco pediu-lhe
para trocar a letra P pela F para que o Dinis pudesse beber na FONTE.

Era esta magia que enchia aquele país, onde as letras formavam palavras de múltiplos
significados.

Estava na hora de os irmãos regressarem a casa.

Despediram-se e dirigiram-se para a porta de saída.

PORTA, PORTINHA, LEVA-NOS À NOSSA CASINHA.

Já no quarto, olharam um para o outro, trocaram sorrisos e adormeceram. A casa


continuava em silêncio. Durante anos entregaram-se à magia do pote e visitaram vezes sem
conta aquele país. Nunca souberam ao certo o seu nome. Talvez fosse o país das Letras
Encantadas….

Foi esta a história que a Lua me contou e que decidi partilhar contigo.

Você também pode gostar