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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF

INSTITUTO DE ESTUDOS COMPARADOS EM ADMINISTRAÇÃO


INSTITUCIONAL DE CONFLITOS – INEAC

DEPARTAMENTO DE SEGURANÇA PÚBLICA – DSP

CURSO DE SEGURANÇA PÚBLICA

MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA IV – 2017.2

PROFº. DRº. LENIN PIRES

ESTAGIÁRIO DOCENTE MICHAEL BATISTA

RESUMO

5. SOUZA, Amaury. Método e improvisação, ou como conseguir uma entrevista


naquele setor que vai dos fundos da igreja matriz até o córrego e dali às margens da (sic)
– Bahia. In: Rio NUNES, Edson de Oliveira (Org.). A Aventura Sociológica:
objetividade, paixão, improviso e método na pesquisa social. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1978.

Objeto:

Pesquisa de questionário tipo survey e suas problemáticas, tendo neste um tipo de


instrumento de investigação particularmente sensível com aplicação de altos custos.

Objetivos:

Demonstrar que a “pesquisa por amostra” ou “surveys” (1) na América Latina


nada mais representaria do que um “grau de treinamento para a incompetência do cientista
social” (1978, p. 86), haja vista determinadas razões de cariz contextuais, isto é, de
contextos que dificilmente existem em países latino-americanos; porém, sendo através do
improviso que estes e outros limites podem ser superados; demonstrar, ainda, que o
objetivo de uma pesquisa por amostra qual seja o de obter um valor de amostra, isto é,
um valor estatístico que possa servir de estimativa do mesmo valor de uma população, (p.
91) é o que propõe um survey; demonstrar que o objetivo da pesquisa por amostras é fazer
inferências sobre determinada população com base na mensuração das características dos
elementos selecionados para compor a tal amostra.

Desenvolvimento:

Os métodos de pesquisa por amostras demandam um montante e uma variedade


de informações contextuais sobre as comunidades que se quer estudar e que dificilmente
existem em países latino-americanos. O “calvário do pesquisador” começa aqui, diz
Amaury: a documentação sobre as subdivisões censitárias se mostra comumente pobre e
imprecisa, “quase inútil”, se tratando de áreas rurais com processo de crescimento e de
povoamento incógnitas durante períodos intercensos. Então, frente a tais obstáculos, vai
defender o autor, o pesquisador tem algumas escolhas: desistir da pesquisa seria a mais
simples e realista com o objeto que ele se depara. Todavia, lembra que há saídas, isto é,
que há sempre possibilidades como a de optar por uma flexibilidade e de invenção no
trabalho de campo através de métodos complementares de pesquisa (2), podendo o
pesquisador improvisar.

Como, então, improvisar sem perder de vista as margens de erro na pesquisa por
amostra? Pois, onde existe abundância de informações contextuais e sólida infraestrutura
de pesquisa, menores serão os custos da rigorosa implementação dos métodos de seleção
e de entrevista de amostras. Por outro lado, onde o pesquisador tenha que ser o seu próprio
agente censitário, geógrafo, estatístico e cartógrafo, os custos de realização de uma
pesquisa minimamente decente sofrerão limitações. Quase todas as situações reais de
pesquisa, declara o autor, encontram-se a “meio-caminho” entre estes dois extremos.
Existe limitações também para a improvisação, não podendo significar uso desgovernado
de técnicas ‘simplificadoras’ do trabalho de campo. A solução para os problemas
encontrados pelo pesquisador não deve residir na segurança de formas rudimentares de
investigação, mas sim na utilização “realista” e “criteriosa” do acervo de teorias, métodos
e técnicas de survey, declara Amaury de Souza.

Sobre fontes de erros em pesquisa por amostras, assim como sobre surveys e
pesquisa de campo em geral, o autor utiliza os estudos de Eugene A. Havens (1964) e
lembra que, em geral, os cientistas sociais revelam profunda inocência em tudo o que diz
respeito aos erros de inferência e de mensuração inerentes ao conhecimento que ele
próprio produz, consome e transmite em forma de credulidade por meio de números
particularmente extraídos de um censo ou de um registro histórico: “erros de mensuração
e de inferência, não obstante, são componentes intrínsecos e irredutíveis do conhecimento
produzido pela ciência empírica, seja qual for o seu objeto de estudo”, (p. 89). O objetivo
da pesquisa por amostras é fazer inferências sobre determinada população com base na
mensuração das características dos elementos selecionados para compor a amostra (3). O
survey envolve três processos interdependentes: a amostragem ou uma parte da população
de que se quer estudar; a mensuração ou o processo de obtenção de informações sobre os
elementos de uma amostra; e a estimação ou o processo de fazer interferências sobre a
população da qual a amostra foi selecionada (4).

Falar de estimativa é falar de cálculo por aproximação de algum valor, e falar de


aproximação é falar de erros. Na perspectiva por amostras o pesquisador deve especificar
de antemão a magnitude dos erros que ele esteja disposto a tolerar, o que pode ser
viabilizado através da construção de um universo amostral de caráter probabilístico. O
valor de uma amostra deriva de uma estimativa que por sua vez deriva de uma
mensuração, de cada elemento incluído na amostra. Tal como o valor da população, esse
valor está sujeito a erros de mensuração. O próprio processo de seleção dos elementos da
amostra está sujeito a flutuações aleatórias as quais influenciam indiretamente no valor
da estimativa, sendo mera sorte que um valor de estimativa coincida perfeitamente com
o valor da população.

Os valores obtidos em uma pesquisa por amostra estão, consequentemente,


sempre sujeitos tanto a erros de amostragem quanto a erros extra-amostragem. Os
primeiros ocorrem porque apenas parte de uma população é eleita para a mensuração de
uma ou mais características de interesse. Os últimos ocorrem porque os métodos de
observação e de mensuração são imperfeitos. Estes erros extra-amostragem são
classificados em dois grandes tipos, segundo o autor: erros variáveis que são aqueles que
ao longo de todas as suas ocorrências tendem a se anular mutuamente, por exemplo,
através de um registro descuidado de alguma observação; e o viés o qual, ao contrário,
representa o erro sistemático que não é “cancelável” e que afeta o valor observado em
uma única direção. É usual considerar os erros de uma pesquisa de amostra, isto é, de
amostragem e extra-amostral, variáveis ou não, componentes do erro total de amostra.

O dilema que se defronta o pesquisador em relação às margens de erro de


amostragem pode ser superado ou não, vai depender do controle sobre o aumento do
tamanho absoluto da amostra. Sendo o viés o componente principal dos erros extra-
amostragem, por compor um erro insensível ao número de elementos na amostra. Em
contraste com o erro de amostragem, a única forma de controlar o viés é pelo
aperfeiçoamento dos métodos de realização do survey, da seleção da amostra até o
processamento de dados, haja vista a fonte de erro distribuírem-se por todos os estágios
e realização da pesquisa, (p. 95). Pelo exemplo que o autor fala, dos erros de não
observação, daí resultam-se o fato de que segmentos da população são excluídos do
processo de observação. Ao definir a população que será o objeto de pesquisa por
amostra, quase sempre excluímos segmentos da população mais abrangente. A exclusão
de tais elementos pode ocorrer ou porque eles (ou as unidades amostrais às quais eles
pertencem) não foram adequadamente incluídos na cobertura da amostra, ou porque
nenhuma resposta sobre as suas características pode ser obtida. Esta exclusão de
elementos é uma das principais fontes de viés na pesquisa por amostras, pela simples
razão de que os elementos excluídos pertencem desproporcionadamente a determinados
grupos sociodemográficos da população.

Os erros de observação resultam da coleta e do registro incorretos de observações


feitas em uma amostra. Se pode separar os erros das observações feitas em uma amostra.
Se pode separar os erros originários da coleta de dados ou do trabalho de campo daqueles
que resultam do processamento dos dados. Comecemos pelos erros de coleta de dados ou
erros de resposta. Os erros de seleção têm origem nas decisões do enumerador ou do
entrevistador sobre quem será, no final das contas, o universo dos entrevistados. Os erros
de entrevista ou de resposta têm múltiplas origens (5) e uma das fontes vem a ser o próprio
questionário. A formulação de uma pergunta, declara Amaury, pode induzir a uma
resposta enviesada. E uma segunda fonte de erros é o entrevistador, pois, segundo o autor,
a relação social da entrevista é sempre paradoxal, exigindo, por um lado, que o
entrevistador se mantenha suficientemente distante do entrevistado para não perder a sua
objetividade; e, por outro lado, que ele se aproxime suficientemente do entrevistado para
ganhar a sua confiança; a terceira fonte de erros é o próprio entrevistado. Alguns erros de
respostas são deliberados, tais como ocorre com a declaração da renda de entrevistados
de alto nível socioeconômico; outros erros são devidos a lapsos de memória ou
incompreensão do objeto da pergunta.

A forma mais conhecida de viés induzido pelo entrevistado é o chamado ‘conjunto


aquiescente de respostas’. O caso clássico de conjunto aquiescente de respostas é a
mensuração de escalas de autoritarismo em populações pobres e pouco educadas; nesta e
n’outras baterias de questões projetivas, explica o autor, o entrevistado tende a concordar
com tudo que lhe é perguntado: menos por reais predisposições autoritárias do que por
acreditar ser este o comportamento socialmente desejável durante uma entrevista, (p. 99).

Quanto ao desenho amostral face ao problema da não cobertura, (p. 99) este pode
ser melhor avaliado em surveys quando do contexto geral de implementação de projetos
de pesquisa. Lembra Amaury que para fins de exemplo, era de parte de seu artigo a
intenção de selecionar uma amostra probabilística da população de residentes adultos da
região sudeste brasileiro para fins de exemplo de pesquisa por amostra, a qual constituiu-
se pela inclusão do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro (extinto Estado da
Guanabara), São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. De modo que a
amostragem por áreas demonstra que se deve tirar partido do fato de que cada elemento
de uma população humana pode ser identificado com apenas um domicílio; de modo que
a seleção de amostras por áreas é geralmente realizada por quatro estágios: primeiro, a
população deve ser dividida em unidades primárias de amostragem (U.P.A.s); segundo,
uma amostra probabilística das U.P.A.s é selecionada para representar o conjunto inicial
de aglomerados; terceiro, as subamostras de domicílios são selecionadas em cada U.P.A.,
e finalmente, o quarto elemento o qual o autor diz se refere às pessoas selecionadas pelo
pesquisador para serem entrevistadas as quais devem ser selecionadas em cada um dos
domicílios eleitos.

Este primeiro estágio de seleção requer apenas uma lista exaustiva de U.P.A.s de
alguma medida de seus respectivos tamanhos: o tamanho da população residente e/ou o
número de domicílios. Em comparação com outros planos amostrais, a amostragem por
áreas é, segundo Amaury de Souza, mais conveniente e menos dispendiosa. Ainda, uma
segunda vantagem por áreas é a utilização de diferentes métodos de seleção em diferentes
estágios do processo de amostragem. No caso da pesquisa em questão, Amaury de Souza
lembra que a seleção da amostra por áreas foi efetuada por cinco estágios não incluindo
neste a escolha de Estados que representassem a região. Seis Estados, cuja população
conjunta representava em 1970, mais de 90% da população nacional, foram
intencionalmente escolhidos: Espírito Santo, Minas, Rio, Sampa e Rio Grande do Sul, (p.
102). Por sua vez, o segundo estágio consistiria na seleção de um número grande de
setores censitários nas áreas urbanas ou rurais dos municípios selecionados. O setor
censitário serviu de unidade de enumeração do Censo, como espécie de aglomerado com
número bastante variável de habitantes e de domicílios, entre áreas urbanas e rurais, (p.
103).

O quarto estágio consistiria na seleção de domicílios, em que tais seriam definidos


como um tipo de construção permanentemente habitada por uma ou mais pessoas, fosse
esta construção um apartamento, quarto de pensão, barraco de fundos ou alojamento
ocupado pelo vigia de uma fábrica, (p. 105). Por sua vez, nas cidades, as quais o
pesquisador enfrentou dificuldades por conta dos mapas de setores urbanos com
quarteirões, porém, sem informação do número de domicílios em cada um daqueles – o
que levaria o autor, enquanto pesquisador, a recorrer ao improviso no sentido de
determinar o número de endereços a serem visitados em dado setor, etc. – uma vez eleito
os quarteirões, sortear-se-ia a esquina de onde deveria partir o entrevistador: ele deveria
localizar e enumerar todos os domicílios para a entrevista; ao passo que na área rural, o
entrevistador apenas enumerava e escolhia uma unidade domiciliar na fazenda
selecionada. Logo, e finalmente se alcançaria o espaço para a seleção do morador a ser
entrevistado.

A cobertura de uma população refere-se à enumeração completa e acurada de


todos os seus elementos. A identificação e localização de todos os elementos elegíveis
para a inclusão na amostra é a garantia de que eles recebam probabilidades de seleção
diferentes de zero: condição essencial para implementação de modelos probabilísticos de
amostragem. A não-cobertura, por implicação, diz respeito à exclusão acidental de
unidades amostrais elegíveis ou mesmo conjuntos inteiros de tais unidades, sejam de
domicílios, sejam de pessoas correspondentes a quadros amostrais de enumeração e
mapeamento (6), haja vista a não-cobertura ser uma fonte de viés por incidir
desproporcionalmente sobre determinados grupos da população. No caso da pesquisa de
Amaury, não foi possível estimar o montante de não-cobertura por não dispor de
enumerações completas para algum tipo de análise comparada.

Não obstante, vale a pena registrar a suspeita de não-cobertura na amostra e alertar


o leitor para algumas de suas prováveis causas. A não-cobertura, relembra o autor, diz
respeito ou a domicílios ou a residentes ou a ambos. A perda de domicílios, em princípio
elegíveis para inclusão na amostra, é mais relevante para esta discussão. Os domicílios de
difícil acesso (ou localizados em locais e lugares difíceis) têm pois, maiores chances de
serem omitidos na enumeração; por isso, seria prudente separar a tarefa de enumeração
da tarefa de entrevista, submetendo as unidades domiciliares a uma dupla contagem por
diferentes pessoas. A documentação neste caso, imprecisa ou incompleta sobre os
aglomerados de domicílios é uma das principais causas da não-cobertura.
Independentemente de mapas ou descrições, declara Amaury, mas sim dos limites de um
setor censitário: a definição clara e precisa da fronteira entre dois setores evita que os
domicílios aí localizados sejam excluídos da amostra.

Por conseguinte, um certo montante de não respostas, devido a fatores de saúde


de alguém, como a contração de alguma doença ou a mobilidade em sentido de viagem,
é quase sempre inevitável, como também o são as recusas ou a incapacidade em responder
as certas questões no que se refere ao trabalho de campo e ao problema da não-resposta
(7). O problema das não-respostas encontra-se na impossibilidade de se conseguir
qualquer informação sobre determinados elementos da população. Todavia, o montante e
as razões de não-repostas, ao contrário da não-cobertura, podem ser diretamente
estimados pelo pesquisador. De acordo com os estudos de Leslie Kish (1965), Amaury
de Souza classifica as fontes de não-respostas em quatro grupos; visto que a recusa da
entrevista pode ocorrer em dois momentos: a recusa no contato inicial (RCI) e a recusa
pela pessoa selecionada (RPS); um quadro cujo elemento que se distingue em seguida aos
dois primeiros, é a ausência de todos os residentes de um domicílio habitado ou o
nomeado ‘ninguém em casa’ (NEC), por conseguinte da situação em que apenas a pessoas
selecionadas se encontram ausentes (PSA). A não-reposta pode surgir devido à perda da
entrevista como um todo, de modo que tal perda pode surgir a partir de três causas: a
perda literal do questionário pelo entrevistador ou pela administração; pela razão da
mesma se encontrar incompleta; e pela amostra com questionários que venham se
encontrar fraudados pelo administrador, (p. 109).

Se o objetivo da pesquisa é eliminar tanto quanto possível a não-resposta,


questiona Amaury de Souza, por que não aumentar o número mínimo de tentativas
requerido do entrevistador? De modo que o autor instrui que em relação aos
entrevistadores, enquanto regra, estes devem aumentar o número de tentativas a depender
do tipo de não-resposta, sobretudo no caso de ausência prolongada do residente
selecionado. Porém, alerta o autor: quanto maior o número de tentativas, menor a
probabilidade de se conseguir uma entrevista pela seguinte razão: o segmento da
população mais receptivo à entrevista concede ser entrevistado na primeira visita ao seu
domicílio. De maneira que mais de 90% das primeiras visitas resultariam em respostas ao
questionário, lembra Amaury de Souza.
Conclusão:

Os elementos mais receptivos à entrevista são: (a) mulheres requerendo em média


1,5 tentativas; (b) os respondentes analfabetos ou de nível educacional mais baixo com
1,3 tentativas, e (c) os residentes de áreas rurais ou pequenas cidades com 1,1 e 1,4
tentativas. Já os elementos com alta probabilidade de recusar a entrevista são os seguintes:
(a) mulheres; (b) pessoas com 40 anos de idade ou mais, (c) famílias ou residentes de
status socioeconômico mais alto, e (d) habitantes de grandes cidades; de maneira que 43%
daqueles que se recusaram a ser entrevistados manifestaram medo ou suspeita quanto ao
entrevistador ou à entrevista, ou a ambos. Já a não-resposta por ausência prolongada é
típica de (a) homens; (b) pessoas mais jovens; (c) famílias ou residentes de status
socioeconômico médio e (d) habitantes de cidades menores, de cidades-dormitório nas
cercanias de áreas metropolitanas, e seriam o número de 2% destes não-respondentes que
manifestariam medo e suspeita da entrevista. Enfim, das pessoas incapacitadas para a
entrevista, destaca Amaury, seriam, em geral, (a) mulheres, (b) pessoas com 40 anos ou
mais de idade, (c) residentes de status socioeconômico baixo; e (d) habitantes de cidades
maiores.

Os homens, os jovens, as pessoas de status socioeconômico mais baixo e os


habitantes de pequenas cidades e áreas rurais, lembra Amaury de Souza, são os elementos
mais difíceis de serem encontráveis em casa. As mulheres, os velhos, as pessoas de status
socioeconômico mais alto e os habitantes de cidades maiores seriam os elementos mais
propensos a se recusarem a ser entrevistados. Quanto aos incapacitados, os resultados são
claros: na maioria são mulheres, pessoas senis e/ou inválidas, gente mais velha e
sobretudo gente pobre e pouco educada. Lembra Amaury de Souza que o pesquisador
dificilmente encontrará procedimentos para o contato e entrevista que reduzam a
proporção de não-respondentes nesse grupo. Portanto, conclui Amaury de Souza que, a
entrevista desses elementos, para todos os efeitos práticos, seria impossível.

NOTAS:

(1) A expressão “pesquisa por amostra” parece ser melhor traduzida por enquete
par sondage, encuesta ou sample survey, segundo diz o autor. A expressão diz
respeito à investigação das características de uma população através da
observação destas em uma amostra dos elementos desta população. O método
de observação em surveys de populações humanas é quase sempre a entrevista
baseada em um questionário de uma amostra de elementos, (p. 86).
(2) Lembra Amaury de Souza que os métodos antropológicos de observação
direta e de observação participante são particularmente relevantes para a
pesquisa por amostra.
(3) O uso da amostra, conforme nos provoca o autor, para o estudo de alguma
característica do interesse do pesquisador, é recomendável porque é muito
mais barato (em termos de dispêndio de tempo, energia e dinheiro) coletar
informações sobre um universo amostral do que sobre toda uma população.
Uma outra razão, vai defender Amaury de Souza, é que a observação ou a
mensuração destas características quase sempre pode ser feita de maneira mais
acurada em uma amostra do que em uma população, visto que os erros
sistemáticos de observação ou vieses, de controle mais difíceis em censos do
que em surveys, em geral, causam mais prejuízos do que os erros das
estimativas derivadas de uma amostra, infere o autor, (p. 90).
(4) O autor prefere limitar população a um conjunto finito de elementos definido
pelo pesquisador em função de seus interesses teóricos e substantivos. A
definição do que seja uma população é, portanto, sempre arbitrária. Segundo
Amaury de Souza, o pesquisador pode, por exemplo, definir como populações
todos os operários de uma fábrica, todos os operários de um ramo industrial
ou todos os operários do país. Em contraste, o termo universo denotaria um
conjunto infinito de elementos gerado por um modelo teórico, (p. 90).
(5) Amaury de Souza alerta que sobre os erros de repostas ou de entrevistas existe
uma literatura sobre estas questões, em princípio recomendando os trabalhos
de Canell e Kahn (1968) e Sudman e Bradburn (1974).
(6) Amaury de Souza fala aqui, também, como complemento, de supercobertura,
a ver, quando os elementos inelegíveis de uma pesquisa são incluídos na
amostra.
(7) É costumeiro, preconiza Amaury de Souza, se distinguir entre a recusa em
responder uma questão e a não-resposta por falta de informação ou de opinião
(“não sabe”). A natureza, a incidência e os correlatos de não-respostas a certas
questões são discutidos por Coombs (1976) e por Converse (1976), cita o
autor. Evidentemente, sempre existe a possibilidade de que uma certa
proporção das respostas do tipo “não sabe” consista, na verdade, em recusas
em responder às questões. Com base nos dados do projeto de pesquisa de
Amaury, este cita Cohen (1976), o qual elaborou um modelo estrutural para
estimar os efeitos da situação de entrevista sobre estas não-respostas, bem
como as relações entre recusas explícitas e recusas camufladas como “não
sabe”.

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