Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A contra-revolução
na Alemanha. Marx e a
Nova Gazeta Renana
LÍVIA COTRIM
1 . Ver, a esse respeito, CHASIN, J. (1994), Marx 2. MARX, K. (1991), A burguesia e a contra-
Estatuto ontológico e resolução metodológica. revolução, Cadernos Ensaio Pequeno Formato I, São
In: TEIXEIRA, F. Pensando com Marx, São Paulo, Paulo, Ensaio.
Ensaio, e Revista Ensaios Ad Hominem 1 Tomo 3. CLAUDIN, F. (1975), Marx, Engels y la Revo-
III: Política, Santo André, Ad Hominem, 2000. lución de 1848, Madrid, Siglo Veintiuno.
rias, e sim conciliatórias com as forças ção que a burguesia prussiana busca
feudais ou semifeudais e absolutistas, encaminhar para esse problema indica
e não se via empurrada à conquista do sua disposição conciliatória, sua debi-
domínio político por uma necessidade lidade e covardia. Estas se refletem cla-
urgente. O proletariado alemão, por seu ramente na esfera das relações políti-
lado, pouco desenvolvido, não orga- cas, seja na postura dos representantes
nizado, educado em submissão espiri- dessa classe nas duas Assembléias de
tual, mal pressentia seu antagonismo Frankfurt e de Berlim , seja na suces-
de interesses com a burguesia, e conti- são dos diversos ministérios, e prenun-
nuava a ser seu apêndice político. Mas, ciam sua derrota. Como disse Marx do
temendo o que o proletariado alemão ministro Camphausen: Ele semeou a
poderia chegar a ser e o que já era o reação no sentido da burguesia, ele a
proletariado francês, a burguesia viu colherá no sentido da aristocracia e do
sua salvação numa transação covarde absolutismo.8
com a monarquia e a nobreza. Assim, Esse comentário, resultante da aná-
enquanto, na França, a revolução de 48 lise do procedimento da burguesia, in-
desembocava na contraposição do tra- dica também a presença de ilusões
balho ao capital, na Alemanha se confi- politicistas por parte daquela classe.
gurava como uma revolução burguesa. Lançada à frente do poder político por
Todavia, o 1848 alemão, resultado da força de uma insurreição popular, e
debilidade, lentidão e covardia do de- estando disposta desde o início a trair
senvolvimento da burguesia alemã, não seus aliados, a burguesia prussiana su-
era uma revolução de tipo europeu, pôs que a assunção do poder político
mas somente o retardado eco débil de formal pusera as forças do velho esta-
uma revolução européia num país atra- do à sua disposição, uma vez que estas
sado, cuja ambição consistia em for- a apoiaram sem reservas na repressão
mar um anacronismo, já que não se tra- aos trabalhadores. Assim como a re-
tava da instauração de uma nova socie- volução parisiense de fevereiro fora o
dade, mas do renascimento berlinense estopim da revolução prussiana de
da sociedade morta em Paris.7 março, as jornadas de junho parisienses
Índice do atraso do desenvolvimen- e sua derrota dão o sinal para o desen-
to alemão, a unificação nacional era um cadeamento da contra-revolução na
objetivo central da revolução e uma Alemanha, no decorrer da qual, no en-
necessidade para a efetivação do do- tanto, a derrota dos trabalhadores pre-
mínio burguês. Como parte fundamen- figura a da burguesia, em favor das for-
tal dessa problemática, destacava-se a ças mais retrógradas os junkers, o
destruição das relações agrárias de cu- exército e a burocracia prussianas ,
nho feudal ainda subsistentes; a solu- conservando relações feudais no cam-
Recebido em 17/6/2002
Aprovado em 30/10/2002