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Alotropia Do Ferro
Alotropia Do Ferro
- Pág. 1 / Aula nº 3 -
Tabela I / 3 - Teores limites para vários elementos em aços não ligados
(cf. Euronorma EN 10020 de 1989)
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Fig. 2 / 3 - Corte do diagrama de equilíbrio Fe-C; as linhas a cheio
representam a versão metaestável; as linhas a traço interrompido
representam a versão estável (cf. G. Krauss, "Steels - Heat treatment and
5 processing principles", 1990, ASM International, fig. 1.1, pág. 2).
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Os maiores interstícios das estruturas cúbicas, locais preferenciais de dissolução do
carbono, são os octaédricos e os tetraédricos, cujas dimensões são calculáveis a partir
dos dados fornecidos acima; o respectivo valor encontra-se na tabela II / 3 e a sua
localização pode recordar-se nas figuras 4 / 3 e 5 / 3.
5
Fig. 3 / 3 - Corte do diagrama de equilíbrio Fe-C no lado rico em ferro; as
convenções são as usadas na figura 12 (cf. G. Krauss, "Steels - Heat
treatment and processing principles", 1990, ASM International, fig. 1.4,
pág. 8).
10Os interstícios octaédricos da estrutura CFC são os de maior dimensão, com um raio
de 0,0513 nm, próximo do valor do raio atómico do carbono r C = 0,077 nm; impondo
uma distorção localizada da malha cristalina, os átomos de carbono dissolvem-se
intersticialmente nos locais octaédricos CFC.
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Tabela II / 3 - Raios dos espaços intersticiais octaédricos e tetraédricos
CFC e CCC em função do raio atómico da espécie cristalina
Raio no ferro
(nm)
Estrutura Interstício Raio
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Na estrutura CCC os interstícios de maior dimensão são os tetraédricos com um raio
de 0,0361 nm, pelo que numa primeira análise deveriam ser esse os locais para a
dissolução intersticial do carbono. Porém a localização dos átomos de carbono na
estrutura CCC é favorecida nos interstícios octaédricos, pelo facto de estes terem uma
5disposição mais favorável ao alívio da tensão provocada pela inserção dos átomos
intersticiais; de facto, atendendo a que o interstício octaédrico CCC é irregular,
apresentando um dos eixos menor que os outros dois, uma deslocação de dois átomos
de ferro primeiros vizinhos situados segundo o eixo menor é suficiente para albergar o
átomo de carbono, dado que o raio dos interstícios segundo os eixos maiores do
10octaedro vale 0,078 nm; nos interstícios tetraédricos a dissolução do carbono implica o
afastamento das posições de equilíbrio de quatro átomos de ferro primeiros vizinhos, o
que requer uma maior energia de distorção.
Em resumo, os átomos de carbono dissolvidos no ferro localizam-se nos espaços
octaédricos qualquer que seja a sua estrutura cristalina; na estrutura CFC os átomos
15de carbono possuem um espaço cerca de 2,5 vezes maior do que na estrutura CCC
para se acomodarem, sendo pois previsível uma maior solubilidade do carbono no Fe
do que no Fe .
Esta diferença de solubilidade do carbono nas variedades alotrópicas do ferro e o
crescimento desta com a elevação da temperatura estão na origem dos tratamentos
20térmicos mais importantes aplicados aos aços: sendo elevada a solubilidade do
carbono no domínio do Fe , o arrefecimento da liga desde uma temperatura do
domínio implica uma constante rejeição de carbono, a qual ocorrerá por difusão; esta
exige tempo para se verificar, sendo possível transformar a liga no arrefecimento em
condições próximas do equilíbrio, com arrefecimentos lentos (favorecendo a difusão
25integral do carbono), ou em condições afastadas do equilíbrio, com arrefecimentos
rápidos (impedindo a difusão do carbono), ou ainda em condições intermédias, com
leis de arrefecimento também intermédias (permitindo a difusão parcial do carbono);
conforme o grau de difusão permitido ao carbono, as microestruturas obtidas serão
diferentes, bem como as propriedades mecânicas da liga.
30Enquanto a difusão do carbono no ferro pode ser impedida, dado ocorrer por difusão,
a transformação alotrópica não ocorre por difusão, mas por pequenas movimentações
dos átomos de ferro (da ordem de grandeza da distância inter-atómica), sendo
impossível de impedir através da imposição de leis de arrefecimento rápidas.
Concretizando a noção de arrefecimentos lentos e rápidos referidos atrás, consideram-
35se leis de arrefecimento próximas do equilíbrio as que não excedem alguns graus
Celsius por hora; os arrefecimentos mais rápidos que se conseguem obter na prática
são de algumas centenas de graus Celsius por segundo; ou seja, no limite podem
considerar-se leis de arrefecimento no tratamento térmico desde um mínimo de
1°C/hora até um máximo de 300°C/s ou 300x3600°C/hora, isto é, relações de 1:10 6.
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O diagrama de equilíbrio permite ainda constatar a existência de várias fases sólidas
formadas entre o ferro e o carbono, bem como de três reacções invariantes, que se
estudarão em seguida.
1.3.2.1. As fases sólidas do diagrama de equilíbrio Fe-C
5Lendo o diagrama de equilíbrio no sentido das temperaturas e teores em carbono
crescentes, a primeira fase que se apresenta é uma solução sólida CCC de carbono
no Fe que se designa por ferrite (e se representa abreviadamente por ); foi já
referido que a solubilidade do carbono no ferro é muito baixa, assumindo um máximo
de 0,0218%p ou 0,102%at a 727°C na versão metaestável e de 0,0206%p ou
100,0963%at a 738°C na versão estável.
Com a elevação da temperatura, a ferrite transforma-se numa solução sólida CFC de
carbono no ferro que se designa por austenite (e se representa abreviadamente por
); a solubilidade do carbono é muito mais elevada no Fe do que no Fe variando na
versão metaestável entre 0,77%p ou 3,50%at a 727°C e 2,11%p ou 9,15%at a 1148°C;
15na versão estável a solubilidade varia entre 0,68%p ou 3,10%at a 738°C e 2,08%p ou
9,00%at a 1154°C.
Com nova elevação de temperatura, a austenite volta a transformar-se numa solução
sólida CCC designada por ferrite (representada abreviadamente por ).
Teores em carbono superiores ao permitido pelo limite de solubilidade provocam a
20segregação deste elemento; na versão metaestável, o carbono é segregado na forma
de um composto intermetálico ortorrômbico designado por cementite, com
estequiometria Fe3C; ele apresenta um teor em carbono de 6,67%p ou 25,00%at. Na
versão estável o carbono é rejeitado na forma grafítica.
1.3.2.2. As reacções invariantes do diagrama de equilíbrio Fe-C
25O diagrama de equilíbrio, em qualquer das versões, apresenta três reacções
invariantes ou protótipos, que por ordem crescente da temperatura são: um eutectóide,
um eutéctico e um peritéctico.
A reacção eutectóide, na versão metaestável, ocorre a 727°C e traduz-se por:
(0,77%pC) = (0,0218%pC) + Fe 3C (6,67%pC);
30ao produto desta decomposição chama-se perlite, dada a sua semelhança com a
madre-pérola, após polimento e ataque químico.
Na versão estável, a reacção eutectóide ocorre a 738°C e traduz-se por:
(0,68%pC) = (0,0206%pC) + Cgraf (100%pC).
A reacção eutéctica, na versão metaestável, ocorre a 1148°C e traduz-se por:
35 L (4,30%pC) = (2,11%pC) + Fe 3C (6,67%pC);
ao produto desta decomposição chama-se ledeburite.
Na versão estável, a reacção eutéctica ocorre a 1154°C e traduz-se por:
L (4,26%pC) = (2,08%pC) + Cgraf (100%p C).
A reacção peritéctica ocorre a 1495°C e traduz-se por:
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L (0,53%pC) + (0,09%pC) = (0,17%pC).
Após a apresentação das reacções invariantes do diagrama de equilíbrio, é possível
analisar o diagrama Fe-C com mais pormenor e referir que as linhas de separação
entre os diferentes campos de fases tem um significado importante para os
5tratamentos térmicos.
O domínio da ferrite é limitado à direita pela linha de solvus - lugar geométrico dos
pontos correspondentes a ligas saturadas em carbono; a cada temperatura existe um
teor em carbono que, se ultrapassado, implica a respectiva precipitação.
O domínio da austenite é limitado à direita por uma linha com significado semelhante e
10que se designa por Acm.
A linha correspondente à temperatura eutectóide, a partir da qual se inicia a
transformação da ferrite em austenite, é designada por A1.
A linha que separa o domínio bifásico "ferrite + austenite" () do domínio austenítico
() designa-se por A3.
15A intersecção da linha vertical correspondente a uma dada liga com as linhas A 1 e A3
ou A1 e Acm define os chamados pontos críticos dos aços - as temperaturas às quais se
verificam o início e o fim das transformações de fase da liga em condições de
equilíbrio.
Nas transformações das ligas verificam-se fenómenos de histerese térmica: se uma
20tranformação ocorre sob uma lei de aquecimento ou arrefecimento de não equilíbrio,
ela apresentará um desvio positivo no aquecimento e um desvio negativo no
arrefecimento, desvio esse cuja amplitude será tanto mais elevada quanto mais rápida
a lei de aquecimento ou arrefecimento imposta à liga. Os pontos críticos são pois
função da velocidade de aquecimento ou arrefecimento a que uma dada liga é sujeita
25e determinam-se por técnicas experimentais; a dilatometria e a metalografia, através
da análise de microestruturas e medição de durezas, são os meios mais utilizados
para esse fim.
Deste modo, para além das linhas A1 A3 e Acm correspondentes às transformações em
condições de equilíbrio, definem-se linhas Ac1 Ac3 e Accm para o aquecimento bem como
30Ar1 Ar3 e Arcm para o arrefecimento (os índices c e r vêm dos vocábulos Franceses
chauffage e refroidissement) para as transformações ocorrendo em condições de não
equilíbrio - para cada lei de aquecimento ou arrefecimento existirá pois um par de
famílias de linhas Ac e Ar que definem a temperatura à qual a transformação da liga irá
ocorrer. A figura seguinte ilustra o fenómeno de histerese térmica para uma lei de
35aquecimento e arrefecimento de 0,125°C/minuto.
É importante sublinhar o significado prático da histerese térmica no arrefecimento: leis
de arrefecimento mais rápidas irão diminuir o tempo de permanência da liga a
temperaturas elevadas, diminuindo o tempo disponível para a difusão do carbono; a
inibição da difusão implica que a liga sofra a transformação a temperaturas mais
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baixas ou mesmo a retenção do carbono em sobre-saturação, se a lei de arrefecimento
for suficientemente elevada. A boa prática do tratamento térmico exige pois que cada
liga seja processada com a lei de arrefecimento conveniente para a obtenção da
microestrutura pretendida.
5
Fig. 6 / 3 - Desvio das linhas do diagrama de equilíbrio Fe-C provocado
por leis de aquecimento e arrefecimento de 0,125°C por minuto (cf. E. C.
Bain, H. W. Paxton, "Alloying elements in steels", 1966, ASM, fig. 15, pág.
20).
10Leituras complementares
Técnicas de avaliação de diagramas de equilíbrio e de pontos críticos
Site com conceitos de diagrama Fe-C e soluções sólidas
Auto-avaliação
1. Defina alotropia e refira as variedades alotrópicas do ferro, a respectiva estrutura
15cristalina e o intervalo de temperatura aproximado em que cada variedade alotrópica é
estável.
2. Caracterize as reacções invariantes que ocorrem na versão metastável do diagrama
de equilíbrio Fe-C, indicando para cada uma a designação respectiva, a temperatura
aproximada a que ocorre, a reacção química associada, a natureza das fases
20presentes durante a reacção.
3. Mostre que durante uma reacção invariante na versão metastável do diagrama de
equilíbrio Fe-C a composição fásica do sistema é constante.
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4. Sendo o interstício tetraédrico maior que o octaédrico para as estruturas CCC,
justifique a preferência dos átomos de carbono pelos interstícios octaédricos para se
alojarem.
5. Defina pontos críticos de um aço e justifique a utilização da dilatometria como meio
5experimental por excelência para a respectiva determinação.
6. Refira a importância prática da histerese térmica no tratamento térmico dos aços
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