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Aços e seus

tratamentos
térmicos

Elaborado por MsC. Honório A. Cancilieri


Aços e seus tratamentos
térmicos
O que é aço?

Toda matéria é constituída por átomos. Consideramos


o átomo como uma pequeníssima partícula que
possui massa. Cada elemento químico tem o seu
átomo característico, tendo um determinado tamanho
e massa.
Em metalurgia o átomo é considerado como uma
pequena esfera rígida, modelo este que explica
perfeitamente os diversos fenômenos que ocorrem
nos metais.
Aços e seus tratamentos
térmicos
Em química existe uma classificação dos elementos químicos
chamada de classificação periódica dos elementos.
Como exemplo de alguns metais temos o Ferro (Fe), o Níquel
(Ni), o Cromo (Cr), o Cobre (Cu), o Molibdênio (Mn), etc.
Uma infinidade de átomos de ferro se agregam para formar o
metal ferro no estado sólido. Cada metal tem a sua forma de
agregação característica. Por exemplo, o Cobre tem a forma
de agregação como mostra a Figura 1.

Figura 1 – Forma de agregação do cobre:


estrutura cúbica de face centrada.
O ferro, por sua vez, tem as estruturas, denominadas
de cristalinas, cúbica de corpo centrado ou cúbica de
face centrada, dependendo da temperatura em que se
encontra. A estrutura cúbica de corpo centrado (ccc)
tem a forma mostrada na Figura 2.

Figura 2 – Estrutura cúbica de


corpo centrado (ccc).
A figura 3 mostra como variam estas estruturas para o ferro como
função da temperatura em que se encontra.
Temperatura (oC)

Líquido
1538
Ferro 
1394

Ferro  - CFC

912
Não Magnético Ferro  - CCC
770
Magnético Ferro  - CCC

Figura 3 – Diversas formas do ferro


como função da temperatura
O ferro puro não tem muita aplicação na
mecânica, devido às suas propriedades e ao
seu custo de fabricação. Por isso é adicionado
a ele um outro elemento químico, que nem
metal é, para melhorar as propriedades,
formando portanto uma liga metálica. Esse
elemento importante adicionado é o Carbono
(C), o qual se coloca nos pequenos vazios da
estruturas cristalina do ferro, como pode ser
visto na Figura 4.
Como a estrutura cfc tem vazios
maiores, ela pode absorver mais
átomos de carbono do que a
estrutura ccc. Portanto, a
solubilidade do carbono no ferro é
muito maior na estrutura cfc.
Figura 4 – Posição ocupada pelos átomos
de carbono na estrutura cristalina cfc do
ferro
Definições de ações

Aço é uma liga metálica composta por ferro e


carbono, este variando de 0,008%, até 2,11%
em peso. Impurezas estão sempre presentes:
manganês (<1,5%), silício (<0,4%), fósforo
(<0,04%) e enxofre (<0,05%), além de
elementos residuais tais como cromo, níquel,
molibdênio, etc. limitados pelas normas
técnicas. Quando o carbono ultrapassa esse
valor tem-se os ferros fundidos.
Constituintes dos aços
Ferrita
É representada pela letra grega alfa (). É uma
solução sólida de carbono no ferro (c.c.c.). A
solubilidade do carbono no ferro é 0,0218% a
727C e 0,008% na temperatura ambiente. A
ferrita é uma fase tenaz e dúctil. Na temperatura
ambiente apresenta limite de resistência da ordem
de 30 kgf/mm2 (300 MPa), 70% de redução de
área na fratura e dureza entre 50 e 100 Brinell. É
ferromagnética à temperaturas inferiores à 770 ºC
(Ponto Curie).
Austenita

É representada pela letra grega gama (). É


uma solução sólida de carbono no ferro (c.f.c.).
A solubilidade máxima do carbono é 2,11% a
1148º C. As propriedades mecânicas da
austenita dependem da temperatura e da % de
C em solução. E não magnética.
Cementita

É o carboneto de ferro metaestável (Fe3C). Sua


estrutura é ortorrômbica. A cementita é
extremamente dura (650 Brinell) e quebradiça.
É ferromagnética a temperaturas inferiores à
215º C.
Ferrita delta ()

Ocorre acima de 1394º C. É semelhante a


ferrita . Não ocorre normalmente na
temperatura ambiente.
Perlita
A perlita não é uma fase, mas um constituinte
formado por aproximadamente 12,5% de
cementita e 87,5% de ferrita. Apresenta limite de
resistência de 80 kgf/mm2 (830 MPa), alongamento
de aproximadamente 10% em 2” e dureza de 250
a 300 Brinell.
Para uma boa compreensão das transformações
que ocorrem nos aços estuda-se em um diagrama
de equilíbrio, chamado de diagrama de Ferro-
Carbono, mostrado na figura 5.
Estruturas dos aços resfriados lentamente

O estudo dos aços-carbono comuns será feito


a partir do campo austenítico (região
pontilhada do diagrama). Nesta faixa de
temperatura o aço está sólido, com um único
tipo de cristal (grão), na fase gama ().
Aço eutetóide (0,77% C)

Os cristais de austenita transformam-se


unicamente em colônias de perlita (lamelas
justapostas da fase ferrita e da cementita) a
727º C (linha A1).
Aços hipoeutetóides (0,008-0,77% C)

Transformam-se em ferrita entre A3 e A1 nos


contornos de grão da austenita e ao atingir a
linha A1 a austenita remanescente tem a
composição do eutetóide e se transforma em
perlita. Esses aços serão constituídos de ferrita
e perlita.
Aços hipereutetóides (0,77-2,11% C)

Transformam-se em uma fina rede de


cementita entre Acm e A1 nos contornos de grão
da austenita. Ao atingir a linha A1 a austenita
remanescente tem a composição do eutetóide
e se transforma em Perlita. Esses aços serão
constituídos de perlita e rede de cementita. As
transformações ocorridas até a linha A1
permanecem praticamente inalteradas até a
temperatura ambiente. No aquecimento as
transformações ocorrem no sentido inverso.
As quantidades dos constituintes dos aços
(ferrita, perlita e cementita) podem ser
determinadas pela regra da alavanca. Por
exemplo, para um aço com 0,4% tem-se:
0,008 0,4 0,77

100% Ferrita 100% Perlita

0,77  0,4
% de Ferrita  x 100%  48,6
0,77  0,008
0,4  0,008
% de Perlita  x 100%  51,4
0,77  0,008
Figura 5 – Diagrama Ferro – Carbono esquemático
As micrografias da figura 6 mostram os
constituintes dos aços-carbono, quando
atacados com nital.
A perlita quando observada em baixo aumento
apresenta-se escura e em grandes aumentos
sob a forma lamelar. A ferrita apresenta-se sob
a forma de grãos brancos e a cementita sob a
forma de rede branca quando atacados com
nital ou picrato de sódio.

Ferrita Ferrita + Perlita Cementita Perlita + Cementita


Figura 6
Classificação dos Aços

Aços – liga de baixo teor em liga são ligas ferro-


carbono cujo teor total dos elementos de liga não
ultrapassam um valor determinado (3 a 3,5%). Nestes
aços nem a estrutura resultante e a natureza dos
tratamentos térmicos são alteradas profundamente.
Aços – liga de alto teor em liga são aços em que o
teor total dos elementos de liga é no mínimo, de 10 a
12%. Nestes aços a estrutura pode ser
profundamente alterada, como os tratamentos
térmicos, exigindo técnicas e cuidados especiais,
assim como operações múltiplas.
Sistemas de classificação e composição dos aços-
carbono e aços de baixa liga segundo a SAE, AISI
e ABNT para aços trabalhados
A tabela 5 mostra o sistema numérico de classificação
para aços trabalhados (laminados, forjados, etc.). Os
aços-carbono para fundição possuem composições
próximas dos aços carbonos trabalhados e são
designados de forma diferente pelas diversas
entidades.
O sistema de índice numérico identifica a composição
dos aços, isto é, descreve parcialmente a composição do
material. Uma série de quatro números é utilizado para
designar os aços-carbono e os aços de baixa liga
especificando a faixa de composição química. Há certos
tipos de aços baixa liga que são designados por cinco
números.
Os dois últimos dígitos da série de quatro números e os
três dígitos da série de cinco números indicam o valor
médio dos limites de carbono. Os dois primeiros dígitos
da classificação da SAE/AISI indicam as várias classes
de aços baixa liga e aços – carbono.
Família 10  aço-carbono
SAE/AISI 1040
40  0,40% C

Família 43  aço-baixa liga Ni-Cr-Mo


SAE/AISI 4340
40  0,40% C
A letra “H” utilizada após os algarismos indica
aços de temperabilidade assegurada. Para as
demais letras ver as notações no final das
tabelas.
Devido à influência do carbono sobre a dureza
dos aços, costuma-se considerar os seguintes
tipos de aços-carbono:
aço – extra doce  <0,15% C
aço doce  0,15%C – 0,30%C
aço meio-doce  0,30%C – 0,40%C
aço meio-duro  0,40%C – 0,60%C
aço extra duro  0,70%C – 1,2%C
Ainda quanto ao teor de carbono os aços-carbono comuns
podem ser classificados como:

aço baixo carbono  <0,25% C


aço médio carbono  0,25%C – 0,50%C
aço de alto carbono >0,50%C

ABNT  Associação Brasileira de Normas Técnicas


SAE  Society of Automotive Engineers
AISI  American Iron and Steel Institute
Sistema de Classificação segundo SAE/AISI
para aços trabalhados

Designação Tipo de aço

Aços – carbono

10xx Não Ressulfurado, 1,0% máx.Mn

11xx Ressulfurado

12xx Ressulfurado e Refosforado

15xx Manganês > 1,0%


Sistema de Classificação segundo SAE/AISI
para aços trabalhados

Aços – Liga de Baixa Liga


13xx Aços manganês
23xx Aços – Níquel
25xx Aços – Níquel
31xx Aços – Níquel Cromo
32xx Aços – Níquel Cromo
33xx Aços – Níquel Cromo
34xx Aços – Níquel Cromo
40xx Aços – Molibdênio
41xx Aços – Cromo Molibdênio
Sistema de Classificação segundo SAE/AISI
para aços trabalhados

Aços – Liga de Baixa Liga


43xx Aços – Níquel Cromo Molibdênio
44xx Aços – Molibdênio
46xx Aços – Níquel Molibdênio
47xx Aços – Níquel Cromo Molibdênio
48xx Aços – Níquel Molibdênio
50xx Aços – Cromo
51xx Aços – Cromo
51xxx Aços – Cromo
52xxx Aços – Cromo
Sistema de Classificação segundo SAE/AISI para
aços trabalhados

Aços – Liga de Baixa Liga


61xx Aços – Cromo Vanádio
71xxx Aços – Cromo Tungstênio
72xx Aços – Cromo Tungstênio
81xx Aços – Níquel Cromo Molibdênio
86xx Aços – Níquel Cromo Molibdênio
87xx Aços – Níquel Cromo Molibdênio
88xx Aços – Níquel Cromo Molibdênio
92xx Aços – Silício Manganês
93xx Aços – Níquel Cromo Molibdênio
94xx Aços – Níquel Cromo Molibdênio
97xx Aços – Níquel Cromo Molibdênio
98xx Aços – Níquel Cromo Molibdênio
Aços – carbono e aços de baixa liga
xxBxx B indica aços ao Boro
xxLxx L indica aços ao Chumbo
Exemplos de composição de alguns
aços

Aços C Mn Si P máx. S máx. Cr Ni Mo

SAE 1045 0,42-0,50 0,60-0,90 0,10-0,30 0,040 0,050 --- --- ---

SAE 1541 0,36-0,44 1,35-1,65 0,10-0,60 0,040 0,050 --- --- ---

SAE 4140 0,38-0,43 0,75-1,00 0,15-0,30 0,035 0,040 0,80-1,10 --- 015-0,25

SAE 4340 0,38-0,43 0,60-0,80 0,15-0,30 0,035 0,040 0,70-0,90 1,65-2,00 0,20-0,30

SAE 8620 0,18-0,23 0,70-0,90 0,15-0,30 0,035 0,040 0,40-0,60 0,40-0,70 0,15-0,25
Estrutura Policristalina
A grande maioria dos materiais cristalinos em engenharia é
policristalina. O agregado policristalino consiste de
pequenos cristais, denominados de grãos, geralmente da
ordem de microns, arranjado de tal forma que preenchem
todo o espaço, sem deixar vazios. A figura 7 mostra
poliedros de 14 faces como as formas mais comuns de
grãos.

Figura 7 – Forma tridimensional dos grãos


Um grão é nucleado a partir do líquido, ou mesmo
do sólido por meio do surgimento de um pequeno
agrupamento de átomos que se ordena na forma
da estrutura cristalina característica do material.
Outros átomos vão se agrupando a esse núcleo,
mantendo a estrutura cristalina, mas com
orientação espacial ao acaso. A figura 8 ilustra o
crescimento de cristais para produzir a estrutura
cristalina.

Figura 8 – Representação esquemática de crescimento de cristais (grãos)


Os grãos vão crescendo cada um segundo
sua própria orientação, até o ponto de se
justaporem, deixando portanto um desarranjo
final entre eles, pelo desalinhamento das
estruturas. Nessa região existe alta
concentração de energia. Quando um metal é
apenas polido para observação microscópica
essa região não é visualizada. Mas após um
ataque químico adequado, a região de
contorno é corroída preferencialmente,
deixando a superfície toda irregular. Quando
vista sob luz refletida no microscópio ótico, os
contornos aparecem escuros. A espessura do
contorno geralmente varia de 2 a 10
distâncias interatômicas e é nesse local que
nucleia preferencialmente uma nova fase em
processos de transformação de fase. A figura
9 ilustra uma reflexão no microscópio ótico.
Figura 9 – Observação do contorno de grão. O
metal foi polido e atacado. O contorno
corroído não reflete luz através do
microscópio.
Tratamentos térmicos
Definição
Tratamento térmico consiste no
aquecimento de um material a uma dada
temperatura, manutenção por um certo
tempo, seguindo de resfriamento controlado,
com o objetivo de modificar as propriedades
do material tratado.
O tempo, a temperatura, a atmosfera, as
velocidades de aquecimento e resfriamento
tem papéis fundamentais no resultado do
tratamento.
Objetivos

Os tratamentos térmicos tem os seguintes objetivos:


 Remoção de tensões internas ou superficiais, oriundas de
resfriamento desigual, de solda e de trabalhos mecânicos tais como
forjamento, laminação, estampagem, trefilação, endireitamento, etc.
 Aumento ou diminuição da dureza
 Aumento ou diminuição da resistência mecânica
 Melhora da ductilidade
 Melhora da usinabilidade
 Melhora da resistência ao desgaste
 Melhora das propriedades de corte
 Melhora da resistência à corrosão
 Melhora da resistência ao calor
 Modificações das propriedades elétricas e magnéticas.
Alguns cuidados antes do
tratamento térmico

Armazenagem: é muito comum ocorrer


a mistura de materiais, e portanto
fazendo-se o tratamento térmico
inadequado para uma determinada
peça, pode-se até inutilizá-la.
Alguns cuidados antes do
tratamento térmico
Aquecimento: a velocidade de aquecimento
de uma aço pode levar a grandes
problemas se ela for acelerada demais,
pois podem aparecer trincas ou
empenamentos, devido a tensões residuais
existentes provenientes de deformações ou
tratamentos anteriores, ou cantos vivos e
entalhes, como rasgos de chaveta.
Alguns cuidados antes do
tratamento térmico
Tempo na Temperatura: tempos
demasiados na temperatura de tratamento
podem levar a problemas superficiais como
descarbonetação, oxidação e leve
cementação em banhos fracos, e
crescimento de grão do aço. Um gasto de
energia desnecessário também ocorre.
Alguns cuidados antes do
tratamento térmico
Temperatura: cada aço tem a sua faixa de
temperatura determinada à qual deve ser
rigorosamente obedecida para evitar sérios
problemas posteriores, não se atingido as
propriedades esperadas.
Alguns cuidados antes do
tratamento térmico
Resfriamento: a forma que será utilizada para o
resfriamento da peça terá influência decisiva nas
propriedades finais obtidas. Cada meio utilizada imprime
uma determinada velocidade de resfriamento. Os meios
mais comuns são ar, óleo, água, salmoura e banho de sal
aquecido (martêmpera).
Para que não haja muita variação da velocidade de
resfriamento, o meio não pode variar muito de
temperatura, utilizando-se para alguns meios líquidos
formas de resfriamento efetivas.
Alguns cuidados antes do
tratamento térmico
Atmosfera do forno: quanto mais neutra
for a atmosfera do forno menos será a
modificação da superfície da peça. Pode
ocorrer, caso ela não seja protetora,
descarbonetação (perda de carbono na
superfície), cementação (ganho de
carbono na superfície) ou oxidação
(formação de casca de óxido na superfície,
chamada também de carepa).
Alguns cuidados antes do
tratamento térmico
Controle de temperatura: é muito
importante que haja uma aferição, ou
checagem rotineira, dos aparelhos
utilizados para a medição de temperatura.
É óbvio que existindo uma faixa rigorosa
de temperatura para o tratamento
adequado, a temperatura indicada tem que
ser correta.
Diagramas (curvas) de
Transformação Isotérmica
Até agora o estudo das transformações
que ocorreram nos aços-carbono foram
estudadas no diagrama de equilíbrio
ferro-carbono. Este diagrama só é
válido para resfriamentos extremamente
lentos, como num forno desligado, por
exemplo.
Diagramas (curvas) de
Transformação Isotérmica
Quando um aço é aquecido até seu
campo austenítico, estrutura cfc, é
resfriado com velocidades maiores,
dependendo destas velocidades podem
aparecer novas estruturas que são
diferentes das já estudadas ferrita,
perlita e cementita.
Diagramas (curvas) de
Transformação Isotérmica
Para uma melhor compreensão destas
transformações existem diagramas
onde a variável tempo de resfriamento é
também considerada. Estes diagramas,
ou curvas, são denominadas de
Transformação Isotérmica, IT. Nestes
casos, existe um diagrama para cada
aço específico.
Diagramas (curvas) de
Transformação Isotérmica
Assim, ao se estudar o tratamento térmico de um
determinado aço, tem que se ter em mãos seu respectivo
diagrama.
Antes porém de analisarmos estes diagramas, vejamos
quais são as transformações que ocorrem num aço
eutetóide. Se a velocidade é diferente vai ocorrer o
seguinte:
Perlita -
lento

Austenita intermediário
Baianita Dureza
(,cfc)

rápid
o +
Martensita
Diagramas (curvas) de
Transformação Isotérmica
A estrutura cristalina da martensita é
tetragonal de corpo centrado (tcc),
resultante do resfriamento rápido da
austenita. Como o resfriamento é
rápido a estrutura cfc da ausenita não
se transforma em ccc, aparecendo
como resultado então a estrutura tcc.
A figura 10 a seguir mostra como é
essa nova estrutura como também a Figura 10 – Estrutura
posição dos átomos de carbono. cristalina da martensita.
Diagramas (curvas) de
Transformação Isotérmica
A martensita pelo fato de ser tetragonal é muito mais
rígida, não permitindo escorregamento fácil que pode
ocorrer, endurecendo o aço.
Num microscópio óptico, a martensita tem o seguinte
aspecto, após atacada com nital, como pode ser
visto na figura 11.

Figura 11 – Aspectos
da martensita+bainita
Diagramas (curvas) de
Transformação Isotérmica
A bainita tem um aspecto parecido com a martensita, como
pode ser visto na figura 10. Não entraremos mais a fundo a
respeito da bainita, porque foge ao escôpo de nosso objetivo
do curso.
MI  início da
transformação da
austenita em
martensita
Diagrama genérico
Do aço hipoeutetóide MF  final da
transformação da
austenita em
martensita
Principais Tratamentos
Térmicos dos Aços

Recozimento: consiste no aquecimento


de aço até uma dada temperatura,
permanência de um certo tempo nesta
temperatura seguindo de resfriamento
lento.
Principais Tratamentos
Térmicos dos Aços
Objetivos do recozimento:
 aliviar tensões de trabalhos mecânicos a quente ou a
frio.
 diminuir a dureza
 melhorar usinabilidade
 alterar a resistência mecânica.
 aumentar a dutilidade (capacidade de ser deformado)
 eliminar tratamentos anteriores
 modificar as propriedades eletromagnéticas
 ajustar tamanho de grão
 melhorar a estrutura de um fundido
 remover gases.
Principais Tratamentos
Térmicos dos Aços

O aquecimento deve sempre ser


vagaroso e uniforme (~50º C/hora).
As temperaturas utilizadas já são
estipuladas em tabelas e variam de
acordo com cada aço.
Principais Tratamentos
Térmicos dos Aços
Tipo de recozimento:
a) Recozimento pleno  consiste na austenitização
completa do aço seguido de um resfriamento lento (por
exemplo, dentro do forno desligado). A figura 12 ilustra
a curva de resfriamento.

Figura 12 – Diagrama IT com a curva de


resfriamento do recozimento pleno.

Tempo, esc.log.
Principais Tratamentos
Térmicos dos Aços

A estrutura final do recozimento será:


 Perlita grossa para o aço eutetóide,

 Perlita grossa + ferrita para o aço


hipoeutetóide
 Perlita grossa + cementita para o aço
hipereutetóide.
Principais Tratamentos
Térmicos dos Aços
b) Recozimento isotérmico  o
aquecimento é idêntico ao
recozimento pleno, sendo o
resfriamento feito rapidamente até
cerca de 50º C abaixo de A1 e
mantendo-se nesta temperatura até
se completar toda a transformação e
em seguida resfriando-se ao ar.
Este ciclo é mais curto que no caso
anterior e a estrutura é muito mais
uniforme em toda a secção da peça. Figura 13 – Diagrama IT com a curva
Ele é indicado para peças não muito do recozimento isotérmico.
espessas.
Principais Tratamentos
Térmicos dos Aços
c) Recozimento para alívio de tensões 
consiste no aquecimento do aço a uma
temperatura entre 550º a 650º C, mantendo-
se nesta temperatura geralmente de 1 a 2
horas, seguindo-se um resfriamento lento (no
forno, no cal ou mesmo no ar).
Este tratamento tem como objetivo aliviar
tensões existentes no material devido a
conformações mecânicas (forjamento,
estampagem, etc), endireitamento, usinagem,
soldagem, corte por chama, etc.
Principais Tratamentos
Térmicos dos Aços
d) Recozimento para recristalização 
consiste no aquecimento do aço a uma
temperatura entre 550º a 650º C por várias
horas com o objetivo de aliviar o
encruamento (deformação dos grãos)
provocado pela deformação a frio. A dureza
cai e a durabilidade aumenta.
Principais Tratamentos
Térmicos dos Aços
e) Recozimento de esferoidização  este tratamento tem o
objetivo de amolecimento máximo do aço a fim de
proporcionar uma excelente usinabilidade e facilitar
enormemente as condições de conformação a frio em aços
de alto teor de carbono. Um exemplo deste tratamento é em
aços para rolamentos.
A estrutura resultante são esferas de carbonetos numa matriz
ferrítica. Os dois processos mais utilizados são:
 Aquecimento por longos tempos (muitas horas) em
temperatura logo abaixo de A1.
 Aquecimento e resfriamento alternados, logo acima e logo
abaixo de A1.
Principais Tratamentos
Térmicos dos Aços
Normalização  consiste no aquecimento para
completa austenitização, nas temperaturas
recomendadas, seguindo de um resfriamento ao ar
parado.

Figura 14 – Diagrama IT com a curva


da normalização.
Principais Tratamentos
Térmicos dos Aços
O objetivo deste tratamento é uniformizar e refinar a
granulação grosseira existente em peças forjadas ou
laminadas a quente, como também em peças fundidas. A
perlita fina está sempre presente neste tratamento.
Podemos observar na figura 14 como a normalização
diminui a granulação de um’aço SAE 1050.
As operações de conformação mecânica a quente como
forjamento e laminação deixam o aço com um tamanho de
grão muito grande, tornando o aço muito quebradiço (baixa
tenacidade). Neste caso a normalização refina bastante a
granulação melhorando sensivelmente as propriedade
mecânicas.
Principais Tratamentos
Térmicos dos Aços
As propriedades mecânicas de resistência e dureza são
levementes superiores às dos aços recozidos.
A normalização é também indicada como tratamento
preliminar à têmpera, para eliminar empenamentos.
Em aços de alta temperabilidade, o resfriamento ao ar pode
endurecer o material.

Figura 15 – Influência da
normalização na granulação do aço
SAE 1050 (a) laminado a quente –
TG3 ASTM (b) normalizado – TG6
ASTM.
Têmpera

Consiste no aquecimento
do aço até a temperatura
de austenitizaçao, onde
tem-se a estrutura cfc,
seguindo de um
resfriamento rápido, sem
que se toque a curva IT,
para obter-se a estrutura
Figura 16 – Diagrama IT com a curva
martensítica, tcc. de têmpera.
Têmpera

Este tratamento tem como objetivo aumentar a dureza, a


resistência à tração e a resistência ao desgaste do aço. Um
fato negativo da têmpera é aumentar muito a fragilidade
(baixa resistência ao impacto), por isso, todo aço
temperado deve obrigatoriamente ser revenido.
Os meios de resfriamento mais usuais neste tratamento são
a salmoura, a água e óleo, para os aços-carbono e baixa
liga. Cada aço em fundição da sua dimensão tem o seu
melhor meio da têmpera.
Têmpera

As peças a serem temperadas devem estar


limpas, sem cantos vivos, sulcos de usinagem ou
rebarbas. As gravações por puncionamento
podem levar ao aparecimento de trincas no
resfriamento.
Pré-aquecimento é recomendado antes de se
introduzir já no forno na temperatura de
tratamento. Para aços-carbono e baixa liga um
tempo de 10 minutos depois que o núcleo atingir
a temperatura de têmpera, é suficiente para o
sucesso deste tratamento.
Martêmpera

Consiste em aquecer o aço até a temperatura de


austenitização, resfriá-lo em óleo ou banho de sal
até uma temperatura pouco acima de MI (150 a
220o C), mantê-lo nesta temperatura por um
tempo necessário para as temperaturas do núcleo
e superfície se igualarem (alguns minutos) e antes
de se tocar a curva de transformação para bainita,
resfriá-lo moderadamente (geralmente ao ar). Isto
produz uma estrutura martensítica a partir de baixa
temperatura e grande uniformidade de
temperatura na peça.
Martêmpera

O objetivo deste tratamento é


minimizar as tensões respon-
sáveis pelos empenamentos e
trincas.
Devido à fragilidade da marten-
sita, o aço deve ser revenido.
A figura 17 ilustra este
tratamento.
Os aços mais utilizados para
este tratamento, são:
SAE 1090, 4130, 4150, 4340,
4640, 5140, 6150, 8630, 8640,
Figura 17 – Esquema de tratamento
8740, 8745 e os aços de de martêmpera e revenido.
cementação: SAE 3312, 4620,
5120, 8620 e 9310.
Martêmpera modificada

Quando o aço tem maior


dificuldade de ser temperado,
pela composição ou pela
espessura, existe a possibilidade
de se manter o banho de sal ou
óleo de martêmpera a uma
temperatura entre MI e MF.
A figura 18 ilustra este
tratamento.

O revenido posterior também é


necessário.
Figura 18 – Esquema de tratamento
de martêmpera modificada..
Austêmpera

A austêmpera consiste em
austenizar o aço,
igualmente tratamento de
martêmpera, resfriá-lo em
temperaturas superiores a
MI em banho de sais ou
óleos e mantê-los nesses
banhos até se completar a
transformação da
austenita em bainita.
Figura 19 – Tratamento de
austêmpera.
Austêmpera

A bainita é extremamente tenaz e de elevada


dureza (inferior a da martensita),
dispensanso portanto o tratamento de
revenimento, o qua; é obrigatório após a
têmpera e martêmpera.
A tabela a seguir ilustra os resultados de 3
tratamentos diferentes para praticamente a
mesma dureza, para o aço SAE 1095.
Dureza Resistência Alongamento
Tratamento térmico HRC Impacto (Joule) %

Têmpera em água e
revenimento 52,5 1,9 0
Martêmpera e
revenimento 52,8 3,3 0

Austêmpera 52,5 5,5 8


Beneficiamento

Denominação dada aos tratamentos


térmicos de têmpera e subsequente
revenimento em temperaturas que
confiram ao material uma boa tenacidade à
uma boa resistência mecânica.
Beneficiamento

É geralmente aplicado em aços com


carbono acima de 0,25%, ligados ou não, e
o revenimento é feito em temperaturas da
ordem de 450 a 650oC. A martensita torna-
se altamente revenida.
Como exemplo tem-se os pinos das
correntes Fazanaro, que são feitos com o
aço SAE 4140 beneficiado e temperado
por indução.
Revenimento dos Aços

O revenimento é um tratamento térmico que


normalmente se realiza após a têmpera, com a
finalidade de aliviar as tensões internas, diminuir a
dureza excessiva e a fragilidade do material, e
assim, aumentar a dutilidade.

Figura 20
Revenimento dos Aços

No revenimento, alguns dos


cristais de martensita
decompõem-se em ferro- e
cementita.
Isto significa uma redução de
dureza excessiva.
A temperatura do processo pode
ser determinada através do
diagrama, podendo ser
controlada através das cores do Figura 21
revenimento na peça.
Revenimento dos Aços

O diagrama da figura 22
mostra o efeito da
temperatura de revenimento
na dureza e na resistência.
Observação: cada material
possui uma curva
característica.

Figura 22
Têmpera Superficial

Na têmpera superficial, produz-se uma mudança


da estrutura cristalina localizada apenas na
superfície do aço, que adquire as propriedades e
características típicas da estrutura martensítica.
Esse processo tem como objetivo aumentar
consideravelmente a resistência ao desgaste na
superfície e manter a tenacidade do núcleo.
Devem ser empregados aços de 0,3% a 0,6% de
teor de carbono. A têmpera superficial pode ser
realizada por dois processos: chama e indução.
Têmpera por chama

O aquecimento da peça é feito por meio da


incidência de uma chama oxiacetilência na
superfície da peça a uma temperatura acima da
zona crítica.
Uma camada pré-determinada a endurecer, deve
ser atingida pela chama com um posterior
resfriamento por jateamento de água.
Existem vários métodos de aquecimento. As
figuras 23 e 24 mostram os tipo de aquecimento
para têmpera superficial: linear e circular.
Têmpera por chama

Existem vários métodos de aquecimento. As


figuras 23 e 24 mostram os tipo de aquecimento
para têmpera superficial: linear e circular.

Figura 24 – Têmpera superficial circular


Figura 23 – Têmpera pelo método combinado progressivo-
superficial linear giratório
Têmpera Superficial por indução

O calor para aquecer a peça até a


temperatura de austenitização pode ser
gerado na própria peça por indução
eletromagnética.
A peça a ser temperada é colocada dentro
de uma bobina. Um gerador fornece a
corrente elétrica de alta freqüência, que cria
um campo magnético na bobina. Esse
campo magnético provoca um fluxo de
corrente elétrica na peça (Princípio da
indução). O aquecimento da peça é gerado
pela resistência do material ao fluxo da
corrente.
Alcançada a temperatura de têmpera,
resfria-se rapidamente a peça por meio de
um jato de água ou óleo
Figura 25
Cementação

É um processo termoquímico. Os processos


termoquímicos são aplicados nos tgratamentos
superficiais dos aços com baixo teor de carbono
com o objetivo de aumentar a dureza superficial
e a resistência ao desgaste.
Cementação

Absorvendo um elemento endurecedor, o material modifica sua composição


química superficial.
Esse tratamento pode ser feito com substâncias sólidas, líquidas ou gasosas.
A cemetação se aplica e aços com até 0,20% de carbono. O aço é aquecido à
temperatura de austenitização, quando ocorre a difusão do carbono e sua
superfície na forma de CO.
Esse carbono em forma de CO é fornecido pela mistura cementante, e,
absorvido pela matriz ferro (Fe), forma a austenita, que é a estrutura para
têmpera. O resfriamento é o mesmo que o da têmpera.

Figura 26
Cementação

A superfície apresenta as
características de um aço
hipereutetóide, enquanto que
o núcleo possuirá as
características e dutilidade de
um aço hipoeutetóide.
Como processo se dá por
difusão, a camada superficial
apresentará maior saturação
do elemento carbono,
decrescendo em direção ao
núcleo como mostra a figura Figura 27
ao lado.
Têmpera após cementação

As temperaturas de cementação mais elevadas


favorecem a penetração do carbono reduzindo o
tempo, porém, conferem uma granulação mais
grosseira, o que reduz os limites de resistências
à tração, torção, flexão, etc.
Os valores mais usuais de temperatura de
cementação oscilam de 850 a 950º C.
Têmpera direta

Isto é, temperar diretamente da temperatura de


cementação. É recomendado para aços de
granulação fina que ficaram pouco tempo na
temperatura de cementação.
Têmpera simples

Após o esfriamento da peça ao ar, refinado o


grão, ela é novamente aquecida ( 820º C) e
esfriada em água, ou salmoura, ou óleo mineral
ou mesmo em banho de sal a 180º
(martêmpera).
Têmpera dupla

Faz-se uma primeira têmpera para refinar o grão


( 820º C).
Reaquece-se novamente uma temperatura
acima da crítica ( 780º C) fazendo-se nova
têmpera obtendo-se uma dureza alta na
superfície com um núcleo muito tenaz.
Tempo de cementação

O tempo de cementação é
determinado em função
da espessura da camada
cementada desejada, da
temperatura e do meio
cementante. Obviamente,
quanto maior for o tempo
e mais alta a temperatura,
mais profunda será a
camada. Figura 28
Meios de cementação Figura 28

A cementação, quanto aos meios carbonetantes, pode ser:


 sólida (caixa)

 líquida (banho em sais fundidos)

 gasosa (fornos de atmosfera)

Cementação Meios cementantes


Carvão vegetal duro
Sólida Carvão coque 20%
Ativadores 5 a 10%
Cianetos de Sódio
Cianetos de Sódio
Líquida Cianatos de Sódio
Cianatos de Sódio
Outros sais
Gasosa Gás Metano
Gás Propano, etc
Aplicação da cementação

Peças como engrenagens, eixos, parafusos, etc;


que necessitam de resistência mecânica e de
alta dureza na superfície e núcleo dúctil com boa
tenacidade.

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