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Departamento de Engenharia Elétrica

EEL 7107 – Transmissão de Energia Elétrica

Seleção de Condutores

Prof: Mauro Rosa, Ph. D.


(mauro.rosa@ufsc.br)
Autoria: Prof. Flávio Antonio Becon Lemos, Dr. Eng.

Abril 2019
Estrutura da Aula

Princípio para determinação da corrente do condutor


(ampacidade)

Equação de Equilíbrio Térmico

Perda/ganho de calor nos condutores

Corrente térmica de projeto

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Características de Cabos

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Seleção de Condutores
Projeto considerando corrente de carga
• Os condutores representam entre 30 a 50% do custo total de uma LT
• Considerar 2 tipos de corrente:
– Corrente de operação (normal/emergência)
– Corrente de curto-circuito
• Devido à resistência, uma corrente elevada leva a um aquecimento do
condutor, o que pode causar:
– Danos ao condutor (distensão mecânica, etc.)
– Aumento da flecha/Diminuição da distância fase-solo
– Adicionalmente, poderá haver rompimento do limite da elasticidade dos cabos,
levando a deformação plástica e perda de resistência mecânica.
• Desconsiderando restrições operacionais (tensão e estabilidade), a
capacidade de transmissão de energia de uma LT aérea depende apenas do
LIMITE TÉRMICO DOS CONDUTORES, isto é, das temperaturas máximas
permitidas para a operação da LT.

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Princípios para determinação da temperatura do condutor
• Baseado no balanço de calor no condutor (calor gerado no condutor e
calor dissipado no meio) é possível determinar a capacidade de condução
de corrente de um cabo considerando o efeito da temperatura.
• A capacidade de condução de corrente elétrica de uma linha de
transmissão é chamada de AMPACIDADE.
• Quanto maior for a temperatura de um condutor, maior será a corrente
circulante (transportada)
• Para se especificar um condutor deve-se ter um compromisso entre:
– A temperatura de operação do condutor, que determina seu carregamento;
– Perdas;
– Sua vida útil;
– Investimento em estruturas.

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Equação de Equilíbrio Térmico

Qw - Ganho de calor por efeito Joule devidos à


Qi passagem
Qm - Ganho de calor por efeito de
ferromagnético corrente
Qs
Qs - Ganho de calor por radiação solar
Qi – Ganho de calor devido ao efeito
Qe
corona
Qr
Qc - Perda de calor por convecção
Qc
Qr - Perda de calor por radiação
Qe - Perda de calor por evaporação

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Equação de Equilíbrio Térmico
• Sob condições constantes de vento, temperatura, radiação solar e corrente
elétrica, existe um equilíbrio entre o calor gerado no condutor e o calor
dissipado pelo ambiente.
• A equação que rege este equilíbrio é dada por:

𝑄𝑐 + 𝑄𝑟 = 𝑄𝑤 + 𝑄𝑠

Calor Calor
perdido adquirido

Onde
𝑄𝑐 = calor perdido por convecção
𝑄𝑟 = calor perdido por radiação
𝑄𝑤 = calor produzido no condutor por efeito Joule
𝑄𝑠 = calor recebido por radiação solar

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Equação de Equilíbrio Térmico
• A partir destes valores, o balanço de calor pode ser escrito como

𝑑𝑇
𝑚𝑐 𝑐𝑝 = 𝑄𝑤 = 𝑄𝑠 −𝑄𝑐 −𝑄𝑟
𝑑𝑡
Onde
𝑄𝑐 = calor perdido por convecção
𝑄𝑟 = calor perdido por radiação
𝑄𝑤 = calor produzido no condutor por efeito Joule
𝑄𝑠 = calor recebido por radiação solar
𝑚𝑐 = massa do condutor por unidade de comprimento
𝑐𝑝 = calor específico
T = temperatura do condutor
𝑑𝑇
Em regime permanente, a temperatura T no condutor é constante, ou seja, = 0, e
𝑑𝑡
tem-se:
𝑄𝑤 + 𝑄𝑠 = 𝑄𝑐 +𝑄𝑟

Equação do equilíbrio térmico


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Equilíbrio Térmico
• Observações:
– O calor recebido por absorção solar não é tão relevante, sendo contrabalanceado
pelo calor irradiado;
– O principal fator climático que afeta o carregamento dos cabos é o vento.
Portanto, ventos fortes são mais favoráveis ao carregamento do que ausência de
sol;
– Na maior parte do tempo, a LT terá limite de carregamento muito superior aos
limites de projeto, pois estes levam em conta cenários conservadores;
– Normalmente as LTs são construídas para uma determinada temperatura de
projeto, definida por estudos econômicos (custo da LT x Temperatura de projeto) e
em experiências operativas das empresas.
– Alguns valores de referência:
• 35°C a 40°C de temperatura ambiente
• 0,6 a 10 m/s de velocidade do vento
• 900 W/m2 de radiação solar
• 50°C a 80°C de temperatura de projeto
• 50°C a 90°C de temperatura de emergência

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Calor Adquirido por Efeito Joule
O ganho de calor por efeito Joule é dado pela equação

𝑄𝑤 = 𝑘𝑗 𝑅𝑑𝑐 𝐼 2 1 + 𝛽 𝑇𝑐 − 20

Onde

I é a corrente efetiva, em A;
Rdc é a resistência dc a 20°C;
𝑘𝑗 é o fator que contabiliza o aumento da resistência devido ao efeito pelicular;
𝛽 é o coeficiente de variação da resistência com a temperatura e
𝑇𝑐 é a temperatura média da seção do condutor (𝑇𝑐 = (𝑇𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎 +𝑇𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒 )/2)

A resistência ac (Rac) pode ser calculada da seguinte forma

𝑅𝑎𝑐 = 𝑘𝑗 𝑅𝑑𝑐

Para o valor médio de 𝑘𝑗 para condutores de alumínio é sugerido usar 1,0123.

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Perda de Calor por Convecção
• A relação fundamental para perdas de calor por convecção em condutores cilíndricos
aéreos é dada pela expressão:
Esta fórmula é
0,52
𝐷 𝑉 𝜌𝑚 recomendada para um
𝑄𝑐 = 1,005 + 1,351 𝑘𝑚 𝑡𝑐 − 𝑡𝑎
𝜇𝑚 número de Reynolds
entre 1 e 1000
Onde
𝐷 𝑉 𝜌𝑚
( ) - Número de Reynolds
𝜇𝑚

V – Velocidade do vento (m/s)


D - Diâmetro do condutor (m)
𝑘𝑚 – Coeficiente de condutibilidade térmica (W m/m² °C)
m – Viscosidade absoluta do ar na temperatura Tm (kg / ms)
m – massa específica do ar na temperatura Tm (kg/m³)
Tm - Temperatura média do filme de ar que envolve o condutor, sendo Tm = ½(tc – ta)
tc - Temperatura do condutor (°C )
ta - Temperatura do ambiente (°C )
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Perda de Calor por Convecção
• Para valores do número de Reynolds superiores a 1000 a fórmula é
modificada para
0,6
𝐷 𝑉 𝜌𝑚
𝑄𝑐 = 0,754 𝑘𝑚 𝑡𝑐 − 𝑡𝑎
𝜇𝑚

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Perda de Calor por Radiação
• Este é o calor perdido basicamente por radiação infravermelha do material,
dependendo do estado da superfície do material e da temperatura do
condutor.
𝑄𝑟 = 𝐾𝑟 𝐷 𝜀 𝑡𝑐 + 273 4 − 𝑡𝑎 + 273 4

Onde

D - Diâmetro do condutor (m)


𝑡𝑐 - Temperatura do condutor (°C)
𝑡𝑎 – Temperatura ambiente (°C)
𝜀 - coeficiente de emissividade
𝐾𝑟 = 𝜋 ∙ 𝜍 =17,824 x 10-8 , tal que 𝜍 é a constante de Stefan-Boltzmann (𝜍 = 5,6697 10-8 (W/m2K4))

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Perda de Calor por Radiação
O coeficiente de emissividade de condutores muda drasticamente com o passar do
tempo. A maior parte do envelhecimento dos cabos ocorre no primeiro ano de sua
exposição, sendo que algumas referências descrevem que metade desse envelhecimento
ocorre no primeiro mês

A CEMIG usualmente utiliza o coeficiente de emissividade igual a 0,77 - sendo um valor


próximo ao limite inferior da faixa - como um valor conservativo.
Os valores admitidos de coeficiente de emissividade para condutores de alumínio são
entre 0,23 e 0,91.

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Calor Recebido por Radiação Solar
• O total de calor recebido por uma superfície lisa perpendicular aos raios solares e
localizada fora da atmosfera terrestre é de aproximadamente 1300 W/m2.

• Devido à atmosfera terrestre, parte dessa energia é absorvida antes de chegar a


superfície da terra. Por isso, áreas elevadas (≥2.000 m) recebem cerca de 25% mais
radiação do que ao nível do mar.

• O total de energia solar recebido por um condutor depende da altitude sobre o


horizonte e do ângulo efetivo de incidência entre os raios diretos do sol e da
superfície exposta.

• Em adição à radiação direta, há o calor irradiado do céu para o objeto.

• Quando não se tem o valor da intensidade da radiação solar (obtido através de


medição), pode-se calcular o ganho de calor por radiação solar através de
expressões.

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Calor Recebido por Radiação Solar
• A soma de calor recebido do sol e do céu pode ser
A diferença na temperatura do
expressa como: condutor, com e sem sol, será de 5
a 10% (em torno de 5°C, em média)
𝑄𝑆 = 𝑎 𝑄𝐷 𝑠𝑒𝑛𝜓 + 𝑄𝑑 𝐴

Onde
𝑄𝐷 = radiação solar direta (W/m2)
𝑄𝑑 = Radiação do céu (W/m2)
a = Coeficiente de absorção solar, variando entre 0,23 para
condutores novos e 0,97 para condutores envelhecidos
𝐴 = área projetada do condutor (m2/m). Como esta projeção é
igual ao diâmetro e o cálculo é feito por unidade de
comprimento (1 m), o valor de 𝐴 é igual ao diâmetro do
condutor
𝜓 = 𝑐𝑜𝑠 −1 𝑐𝑜𝑠(𝐻𝑠 ) 𝑐𝑜𝑠 𝑍𝑠 − 𝑍𝑐 , tal que:
• Hs = altura do sol sobre o horizonte (graus)
• Zs = azimute do sol (graus)
• Zc = azimute do condutor (graus)

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Calor Recebido por Radiação Solar

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Calor Recebido por Radiação Solar

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Corrente Térmica de Projeto
• Levando em conta os fatores do equilíbrio de calor sob o condutor, a corrente
que o condutor selecionado deve possuir para atender a estes critérios é
Qc = calor perdido por convecção
Qr = calor perdido por radiação
𝑄𝑐 + 𝑄𝑟 − 𝑄𝑠 Qs = calor recebido por radiação solar
𝐼= Tc = temperatura média da seção do condutor
1 + 𝛽 𝑡𝑐 − 20 𝑅
 = é o coeficiente de variação da resistência
com a temperatura
R = Resistência do condutor

• Outra fórmula utilizada, aproximada, é dada pela expressão (atentar para as


unidades)

Rca – resistência dos cabos a CA em ohm/100 pés


3,77 × 104 (𝑄𝑐 + 𝑄𝑟 )𝐷 D – diâmetro dos cabos em pol.
𝐼=
𝑅𝑎𝑐 Qr – perdas por radiação em W/pol2
Qc – perdas por convecção em W/pol2

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Exercício
• Determinar a corrente máxima admissível nos condutores de uma LT com
cabos ACSR tipo Cardinal, quando a temperatura máxima do condutor é de
40°C e com ausência total de vento, admitindo que a temperatura máxima
do condutor não deve ultrapassar 100°C. Os cabos estão enegrecidos pelo
tempo.

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Seleção de Temperatura do Condutor
• Para operação normal dos condutores de LT aérea é selecionado um limite térmico
entre 60 e 80°C. Essa faixa de temperatura assegura que o condutor não perca mais
que 10 a 20% de sua tensão mecânica.
• Uma prática usual é utilizar 75°C, que assegura um limite para a perda de resistência
mecânica do condutor menor que 10% em uma vida útil de 30 anos.
• Em casos especiais onde existe limite de queda de tensão ou outras condições de
segurança, pode-se baixar o limite térmico para 60°C.
• Cada empresa tem seu padrão de projeto de temperatura.
• Em situações especiais e críticas, como grandes carregamentos em LT curta (p. ex.,
centros urbanos), pode-se avaliar um projeto com limite térmico de 80 e 85°C,
considerando, por exemplo, as seguintes características ambientais:
– Sol máximo de meio dia
– Velocidade do vento de 1 m/s
– Temperatura ambiente de 30°C
– Altitude média do local de 600 a 800 m
– Coeficiente de absorção de 0,90
– Coeficiente de emissividade de 0,65
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Tensão Mecânica e Flecha do Condutor

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Tensão Mecânica e Flecha do Condutor
• Supondo que a flecha máxima “d ” ocorra no meio da LT, ou seja, quando x =
l/2, então:
𝑙 2
𝑝 2 𝑝𝑙 2
𝑑= =
2𝑇0 8𝑇0

• Esta expressão é conhecida como aproximação parabólica da catenária.


• A partir desta expressão pode-se calcular a tensão mecânica imposta ao
condutor no ponto de máxima flecha:

𝑝𝑙 2
𝑇0 =
8𝑑

• A expressão que fornece o comprimento do condutor em função do


comprimento do vão e do valor da flecha máxima é dada por:

8 2
𝑆=𝑙+ 𝑑
3𝑙

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Exemplo
• Encontrar a flecha no meio de vão para um condutor ACSR 636MCM, 26/7
Grosbeak, com diâmetro de 25,15 mm, peso de 1,300 kgf/m e apoiado nos
seus extremos por torres com altura de suspensão igual a 26m. O vão
médio é tomado igual a 450 m e a tração imposta ao condutor (To) é de
2123 kgf, desconsiderando a ação do vento e com temperatura de 30°C.

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Exercício

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Bibliografia Adicional
José A. Martins e Hildebrando C. Coelho “Seleção de Condutores – Ampacidade
Estatística” – SALTEE 96 – Seminário Avançado em Linhas de Transmissão de Energia
Elétrica – BH – MG. 1996

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