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Disciplina CCE0766 – Transmissão de

energia elétrica II – Aula 8

Professor Bruno Sampaio Andrade


Cálculos nos cabos de LT

Temperatura na superfície dos condutores


Temperatura na superfície do condutor
 O conhecimento da temperatura de trabalho dos condutores de uma LT
está diretamente relacionada com o conhecimento de sua ampacidade.
Ampacidade é a capacidade de condução de corrente de determinado
condutor elétrico.
 O aumento do fluxo de potência sendo transportado, sem os investimentos
em aumento de circuitos e/ ou a construção de novas LT pode ser viável,
dependendo de estudos e análise de sua temperatura de trabalho.
 A temperatura de trabalho dos condutores está diretamente relacionada
de sua capacidade de troca de calor com o seu ambiente de instalação.
 Sua capacidade de troca de calor, ou de “entregar” ao ambiente o calor
recebido ou aportado por meio das diversas fontes existentes.
 Sua temperatura de trabalho irá depender do equilíbrio térmico resultante
entre o aporte de calor proveniente dessas fontes de calor e sua
capacidade de troca de calor com o ambiente onde estão instalados.
 Dentre essas fontes de calor pode-se citar:
 As perdas por efeito joule decorrentes da circulação de corrente elétrica;
 A radiação solar.
Temperatura na superfície do condutor
 A troca de calor do condutor e o meio ambiente pode se dar por:
 Condução;
Convecção; e/ou
 Radiação
 Após o equilíbrio térmico, a temperatura do condutor deverá ser inferior à:
 Temperatura de recozimento do material de que é construída, evitando
que ocorram alterações em sua estrutura microcristalina que poderiam
afetar suas propriedades físicas (resistências elétrica e mecânica).
Temperatura que faria que o ponto mais baixo da catenária formada pelo
condutor ficasse abaixo da altura mínima em relação ao solo definida por
sua classe de tensão.
 A ampacidade dos condutores irá definir suas temperaturas de trabalho,
máxima e mínima, permitindo o dimensionamento das características
mecânicas de uma LT.
 Características como a tensão mecânica a ser imposta aos condutores de
maneira que a flecha da catenária respeite os distanciamentos mínimos
para o solo, é claro, a altura e resistência mecânica das estruturas da LT.
Temperatura na superfície do condutor

Variação da flecha com a temperatura de trabalho de uma linha de transmissão.


Fonte: http://circuitglobe.com/sag-and-tension.html (editada)
Temperatura na superfície do condutor
Troca de calor por condução
 Esse processo de troca de calor depende da colisão entre partículas de um
meio, sendo por isso mais evidente em meios sólidos ou líquidos. Em
meios gasosos, as moléculas estão mais afastadas umas das outras e,
portanto pouca interação existe dentre elas.
 Nesse processo, as moléculas com maior quantidade, fornecem energia
para aquelas com menor quantidade.
 A energia de uma molécula é proporcional à sua temperatura. O processo
de condução irá depender da existência de um gradiente de temperatura,
que faz com que a energia transferida das regiões mais quentes para as
mais frias do meio.
 A troca de calor por condução nos condutores de uma LT irá ocorrer com a
transferência de calor de suas porções mais quentes para aquelas mais
frias.
 Essas porções da LT, com diferentes temperaturas, podem existir devido à
diferença de topografia e dos microclimas existentes pelas regiões de sua
passagem.
Temperatura na superfície do condutor
Troca de calor por convecção
 Esse processo de troca de calor, diferentemente daquele por condução
que depende de movimentos microscópicos do material, é dependente do
movimento macroscópico de fluidos.
 De acordo com Halliday e Resnick (2010) o processo de convecção pode ser
dividido em convecção natural ou convecção forçada, sendo que:
 Convecção natural, que depende do empuxo formado a partir do
gradiente de densidades gerado pelo diferencial de temperatura; e
 Convecção forçada, que depende de um mecanismo externo de
bombeamento de fluido como uma bomba d’água ou um ventilador.
 No caso do condutores de uma LT o processo de convecção se dá pela ação
dos ventos, agindo como fluido refrigerante. A Eficiência do processo irá
depender de fatores como a velocidade do vento, umidade relativa e
densidade do ar, altitude dentre outros.
Temperatura na superfície do condutor
Troca de calor por irradiação
 Nesse processo de troca de calor não há a necessidade de um meio
material para propagação. A energia térmica é transmitida por meio de
ondas eletromagnéticas emitidas e absorvidas pela superfície do material.
 Todos os corpos com temperatura diferente de zero, emitem calor por
radiação e, como consequência, estão sujeitos à incidência de radiação de
corpos próximos.
 Para o entendimento do processo de radiação, é necessário a definição de
Corpos Negros:
 Corpos negros são definidos como representações teóricas cuja superfície
absorve toda a energia sobre ela incidente e emite a maior energia possível
por unidade de área.
 Segundo BIRD et al, corpos negros podem ser interpretados como a
representação dos limites superiores teóricos para a energia radiante
emitida e absorvida por uma superfície de um objeto real.
Temperatura na superfície do condutor
 Em um corpo negro, de acordo com a lei de Stephan-Boltzman, a energia
radiada por unidade de área é proporcional à sua temperatura elevada à
quarta potência.
 Objetos reais absorvem e/ou emitem apenas uma fração da capacidade de
um corpo negro. Pode-se definir as propriedades emissividade e
absortividade que representam essa parcela de energia.
 De acordo com USAMENTIAGA et al (2011), esses parâmetros são
dependentes das características superficiais dos materiais.
Esses parâmetros aumentam com o aumento da temperatura (salvo raras
exceções). Em metais aumentam com o grau de oxidação e podem ser
reduzidos com polimento, de acordo com MAKINO (1983).
 Quanto mais escura for a superfície do material maior será sua
emissividade/absortividade. É sugerido que seja usado o valor 0,3 para
materiais polidos e/novos.
 Materiais com a superfície desgastada deve-se usar valores de
emissividade/absortividade próximos a 0,8.
Temperatura na superfície do condutor
 Para o cálculo do equilíbrio térmico em um condutor em regime
permanente, tem-se :
Qjoule + Qsolar = Qconvecção + Qirradiação [W/m]
 Radiação Solar - Qsolar
 O aporte de energia térmica pela incidência de radiação solar depende do
parâmetro absortividade, característico do material e de seu estado de
degradação. A absortividade determina qual parcela da energia incidente
será absorvida.
 O ganho de calor devido à incidência de radiação solar em [W/m] pode
ser calculado por:
Qsolar = α . Qs . D0 [W/m]
 Onde: α - absortividade, número adimensional
Qs – intensidade de radiação solar incidente sobre o cabo [W/m2]
D0 – diâmetro do cabo [m]
Temperatura na superfície do condutor
 Irradiação - Qirradiação
 De acordo com a Lei de Stephan-Boltzman, Todos os corpos com
temperatura acima da ambiente emitem radiação proporcional à sua
temperatura e a do ambiente.
 O parâmetro emissividade, de maneira similar à absortividade, interfere
na quantidade de energia irradiada. A equação abaixo estabelece a
quantidade de calor irradiado:

[W/m]

 Onde: ε – emissividade, número adimensional


D0 – diâmetro do cabo [m]
Ts – temperatura do cabo [oC]
Ta – temperatura ambiente [oC]
Temperatura na superfície do condutor

Ensaios para determinação da emissividade térmica dos cabos


Fonte: FMA Salas et al (2009) - CEPEL

Fotos das superfícies dos cabos Termografia dos cabos


Fonte: FMA Salas et al (2009) - CEPEL Fonte: FMA Salas et al (2009) - CEPEL
Temperatura na superfície do condutor
 Convecção - Qconvecção
 A troca de calor com o ambiente por convecção pode se dar:
 Natural: o ar quente em contato com o condutor e com densidade
reduzida, sobe sendo substituído por uma massa de ar frio; ou
 Forçada: através da ação do vento.
 Cálculo do calor perdido pelo condutor através da convecção natural:
[W/m]
 O calor perdido pelo condutor através da convecção forçada a baixas
velocidades pode ser calculado por:
[W/m]
 O calor perdido pelo condutor através da convecção forçada a altas
velocidades pode ser calculado por:
[W/m]
 De acordo com CARVALHO (2017), deve-se utilizar as três fórmulas e
considerar o maior valor obtido.
Temperatura na superfície do condutor
 Dos fatores presentes nas equações de perda de calor por convecção
acima apresentadas, Nre é o número de Reynolds e Ka é a direção do
vento. Esses dois fatores são calculados por:
µf e 𝐾𝑎 = 1,194−cos(𝜑)+0,194cos(2𝜑)+0,368 sen (2𝜑)
 Os demais fatores / grandezas são:
Grandeza Significado Valor utilizado
Kf Condutividade térmica do ar 0,03 W/moC
Ts Temperatura do condutor Variável
Ta Temperatura ambiente Variável
D0 Diâmetro do condutor Variável
ρf Densidade do ar 1,03 Kg/m2
VW Velocidade do vento Variável
µf Viscosidade do ar 2,04 x 10-5 kg/m.s
𝜑 Ângulo de incidência do vento variável
Temperatura na superfície do condutor
 Efeito Joule - QJoule
 O aporte de calor em um condutor percorrido por uma corrente elétrica
pode ser calculado por:
[W/m]
 Onde I é a corrente elétrica que percorre o condutor e R’(T) é a resistência
elétrica por unidade de comprimento do condutor em função da
temperatura. R’(T) pode ser calculada por:

[Ω/m]

 Onde: T – temperatura do cabo;


R(20) – Resistência elétrica do condutor na temperatura de 20oC;
R(75) – Resistência elétrica do condutor na temperatura de 75oC;
Obs. – Os valores da R(T) são fornecidos pelo fabricante do cabo.
Temperatura na superfície do condutor
 O efeito pelicular ou efeito skin, ao provocar uma distribuição não
uniforme da corrente elétrica na seção reta do condutor, faz com que os
elétrons passem a fluir preferencialmente em regiões próximas à periferia
do condutor proporcionalmente à frequência do sistema.
 Com essa “migração” da corrente elétrica para a periferia do condutor,
menor área de seção reta para a passagem da corrente elétricas e, como
R = ρ.L/A, menor a área, maior a resistência.
 Maior a resistência, maior o aporte de calor devido à perda Joule e,
portanto maior a temperatura do condutor quando o equilíbrio térmico
vir a ocorrer.
 Após o equilíbrio térmico, as regiões com menor fluxo de corrente
elétrica estarão sujeitas a menores temperaturas de trabalho.
 Os gráficos apresentados a seguir mostram o resultado de experiência
realizada por Salas et al (2009), apresentados no XX Seminário Nacional
de Produção e Transmissão de Energia Elétrica e realizado nos
laboratórios do Cento de Pesquisas de Energia elétrica - CEPEL
Temperatura na superfície do condutor
Para a coleta dos dados de temperatura, foram inseridos termopares em
seções transversais distintas de um cabo do tipo ACSR. O termopar entre a
alma e a primeira camada será nomeado de T1, entre a primeira e a
segunda de T2, entre a segunda e a terceira de T3 e o da superfície de T4.
A experiência foi realizada em laboratório com a temperatura controla
(25oC) sem a presença de ventos que pudessem realizar a troca de calor por
convecção forçada.
Na primeira fase da experiência, a corrente elétrica imposta ao condutor
variou em estepes de valores (500, 700 e 900 A) com intervalos de tempo
suficientes para que ocorresse a estabilização da temperatura.
Temperatura na superfície do condutor
 Foram obtidos os seguintes gráficos de temperatura versus o tempo para
os três valores de corrente e um zoom na corrente de 900 A.

Temperatura versus tempo - 03 valores de corrente


Fonte: Sales (2009)
Temperatura na superfície do condutor

Temperatura versus tempo a 900 A


Fonte: Sales (2009)
Temperatura na superfície do condutor
 Pode-se ver que em regime constante, as temperaturas mais externas são
mais elevadas que as mais internas. A diferença de temperatura dos dois
termopares mais externos (T3 e T4) para a dos mais internos atinge 5oC.
 Deve-se salientar que a troca de calor por convecção está limitada à
convecção natural, pois não existem ventos no local da experiência.
 Certamente a temperatura de T4 (superfície do condutor) seria menor
que a de T3 (termopar instalado sob a primeira camada de alumínio) se o
cabo estivesse instalado ao ar livre, provocado pela convecção forçada
pela ação dos ventos
 A temperatura da camada intermediária (termopar T2), se evidencia das
demais em situações de transitórios de corrente.
 Essa afirmativa pode ser comprovada em uma segunda experiência
realizada pelos mesmos autores, quando impuseram uma corrente
elétrica de 350 A, mantendo-a até a estabilização da temperatura quando
aumentaram a corrente para 2000 A, que foi mantida por 2 minutos,
retornando então aos 350 até a temperatura de estabilização de novo.
Temperatura na superfície do condutor

Temperatura versus tempo – Transitório


Fonte: Sales (2009) adaptado
Temperatura na superfície do condutor

Temperatura versus tempo - intervalo subida da corrente


Fonte: Sales (2009)
Temperatura na superfície do condutor
 Um terceiro ensaio foi realizada com corrente inicial de 650 A com a
aplicação de correntes transitórias de 1600 e 2000 A durante um período
de 1 minuto. Os resultados corroboram com aqueles observados nos
ensaios anteriores, porém com um aumento entre a diferença entre as
temperaturas verificadas pelos 3 termopares chegando a atingir pouco
mais que 20% para a corrente de 2000 A.
 Esse aumento da diferença entre as temperaturas dos termopares 2, 3 e 4
se deve tanto ao efeito skin quanto à inexistência da troca de calor por
convecção forçada, já que não havia vento no ambiente de ensaios.
Temperatura na superfície do condutor

Temperatura versus tempo – icorrente transitória 1600 A


Fonte: Sales (2009)
Temperatura na superfície do condutor

Temperatura versus tempo – icorrente transitória 2000 A


Fonte: Sales (2009)
Temperatura na superfície do condutor
Temperatura na superfície do condutor
 Monitoramento on-line de linhas de transmissão
 Diversas possibilidade de monitoramento on line das grandezas físicas
das LT estão disponíveis no Mercado. São alternativas para os métodos
preditivos de estimativa da ampacidade das LT, como por exemplo:
Power donuts.
 Os “Power Donuts” ou PD, já na sua terceira versão, podem ser instalados
com a linha viva e com tensões de até 750 kV. Esses equipamentos não
necessitam de fontes extras já que são alimentados pelo fluxo magnético
do próprio condutor onde está instalado.
 Os PD-3 podem medir Tensão RMS, corrente RMS, Mw, Mvar,
temperatura na superfície, além da vibração e ângulo de curvatura do
condutor. Possui um receptor de GPS para que sinais precisos de
sincronização de tempo sejam disponibilizados.
 Podem armazenar até 100 ciclos da forma de onda de tensão ou de
correntes de falta. A transmissão de dados pode ser realizada através das
tecnologias de wireless 2G, 3G ou 4G, ou por meio de um transceptor de
radio de radio interno de 2,4 Ghz.
Temperatura na superfície do condutor

Power Donut
Fonte:
http://www.usi-power.com/wp-content/uploads/2016/12/PD3_Instrume
ntation_Platform_brochure.pdf
Pesquisado em 25MAI2020 às 11:30 horas
Temperatura na superfície do condutor
Sistema CAT-1
 Esse sistema monitora a tensão mecânica de estiramento do cabo. A
tensão mecânica é medida através de uma célula de carga.
 Com a medição da tensão mecânica é definido o valor da flecha da
catenária do condutor e, por consequência verifica-se se a distância do
condutor mais próximo ao solo está dentro dos valores estabelecidos de
segurança.
 O sistema CAT-1 é alimentado por baterias chumbo-ácido carregadas por
células fotovoltaicas.
 A transmissão de dados é realizada por dois sistemas: o primeiro sistema
realiza a transmissão das informações entre a estação remota local e a
aquela de coleta de dados via rádio e o segundo sistema que faz a
automação para integrar os protocolos de comunicação empregados na
rede
Temperatura na superfície do condutor

Sistema CAT-1
Fonte: Nazaré (2010)
 Existem ainda outros sistemas como o Sistema Sonar que mede a altura
do condutor ao solo com sensor que usa ondas sonoras para tal e a
medição direta da flecha com o uso de sensores óticos.
 A seleção do sistema mais adequado irá sempre depender de uma análise
técnica e econômica e deverá ter como objetivo a definição da
ampacidade dos condutores da LT para uma operação otimizada e segura.
TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA II
Temas de trabalhos para AV2 – 2020-1

 Perdas elétricas em estações conversoras de linhas em CC s.

 Custos de instalação da linha e das perdas de energia da linha.

 Custos de manutenção e de operação da linha


Restará sempre muito o que
saber!!

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